Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Células e tecidos - do sistema imune - As células do sistema imune estão, normalmente, apresentadas como células circulantes do sangue periférico, capazes de migrar até o tecido linfático - característica essa que tem alta significância para a geração da resposta imune. A capacidade do sistema imune de superar alguns desafios - reconhecimento de antígeno, montagem de uma resposta efetiva, migração para os tecidos, etc - e desempenhar o seu papel defensor, é dependente da variedade de células imunes, da maneira que essas células estão arranjadas no tecido linfóide e suas habilidades de migração. Órgãos linfóides periféricos concentram os antígenos que são introduzidos por meio dos portais comuns (pele, trato gastrointestinal) e linfócitos inativos ( naive) migram através desses órgãos, onde reconhecem antígenos e iniciam resposta imunológica. Linfócitos de memória e efetores circulam no sangue, dirigem-se aos locais por onde os antígenos entram e são eficazmente retidos. Células do sistema imune ~ Existe uma variação celular de acordo com o tipo de resposta imunológica. Na resposta imune inata estão presente os granulócitos (neutrófilo, basófilo e eosinófilo), assim como as células natural killer (ou NK) - a última que também tem papel na imunidade adquirida. Já os linfócitos, macrófagos e células dendríticas participam da resposta imune adaptativa (ou adquirida). Cada uma dessas células exerce papel fundamental para a montagem da resposta imune. Linfócitos - únicas células do corpo capazes de reconhecer de maneira específica diversos tipos de determinantes antigênicos (epítopos) e são, concomitantemente, responsáveis por duas características da resposta imune adquirida: especificidade e memória. MORFOLOGIA: linfócitos inativos (ou naives) são chamados de pequenos linfócitos (possuem aproximadamente o mesmo tamanho de um eritrócito), com cromatina muito densa e alta relação núcleo/citoplasma. Antes da estimulação antigênica, os linfócitos pequenos estão estagnados na fase G0 do ciclo celular (ou em estado de repouso); com a estimulação de um antígeno, os linfócitos entram na fase G1 do ciclo celular e aumentam de tamanho - maior quantidade de citoplasma e núcleo mais volumoso, ainda mantendo a relação entre núcleo/citoplasma alta. Há aumento de RNA citoplasmático. Esses linfócitos aumentados de tamanho são chamados grandes linfócitos. Gabriela Lagreca CLASSE DE LINFÓCITOS: embora as funções e os produtos proteicos sejam divergentes dentre os tipos de linfócitos, morfologicamente essas células são indistintas. Os linfócitos são, portanto, divididos em: ● Linfócito B - quando diferenciados em plasmócitos, produzem imunoglobulinas; quando mantido como linfócito B, atua como célula apresentadora de antígeno (APC); ● Linfócito T - mediador da imunidade celular; desenvolve-se no timo (daí o “T”). Basicamente é constituídos em dois tipos: linfócito T auxiliar (ou helper) e linfócito T citolítico (ou citotóxico). Na tabela abaixo são exibidas as principais classes de linfócitos, suas funções e as moléculas que compõem a superfície da célula. Alguns linfócitos T podem ser reguladores (Treg; não incluídos na tabela) e inibem respostas imunológicas; tanto o fenótipo quanto a função diferem das outras células T. Pequenas populações de linfócito, como células NK-T eγδT, também não foram incluídas. Gabriela Lagreca As proteínas de membrana podem ser usadas como marcadores fenotípicos para distinguir as diferentes populações de linfócitos. A maioria das células T helper apresenta em sua superfície uma molécula denominada de CD4; por isso o LT helper também é denominado LTCD4. As células T citotóxicas, por outro lado, apresentam a proteína CD8, e então também podem ser denominadas LTCD8. → o sistema CD ( cluster of differentiation ) fornece uma maneira uniforme de identificar as moléculas na superfície dos linfócitos, das APCs e de outros tipos celulares do sistema imunológico. DESENVOLVIMENTO DOS LINFÓCITOS: os linfócitos têm origem na medula óssea, a partir de uma célula-tronco hematopoiética. Os LB completam seu desenvolvimento na medula óssea, enquanto os LT são direcionados ao timo e lá terminam sua maturação. O tamanho da população de linfócitos inativos se mantém constante mediante ao equilíbrio entre a geração de novas células pelos progenitores, na M.O., e a morte das células que não entram em contato com nenhum antígeno. Gabriela Lagreca ATIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS: logo após a estimulação de seu antígeno específico, os linfócitos começam a transcrever genes que estavam dormentes e a sintetizar uma grande variedade de novas proteínas. Essas proteínas incluem citocinas, que estimulam o crescimento e a diferenciação dos próprios linfócitos e de outras células efetoras; receptores de citocinas, que tornam os linfócitos mais sensíveis a ação dessas moléculas, e outras proteínas envolvidas na transcrição e divisão celular. ● Proliferação celular - em resposta ao antígeno e aos fatores de crescimento produzidos por linfócitos já estimulados, ocorre a divisão por mitose do linfócito específico para determinado antígeno. Isso resulta na expansão clonal: processo no qual ocorre a proliferação linfocitária e o aumento do clone específico para o antígeno em questão. Gabriela Lagreca ● Ativação em células efetoras - uma parte da prole de linfócitos estimulados tornam-se efetores, isto é, responsáveis pelo combate ao antígeno. Os linfócitos efetores incluem células T auxiliares, células T citotóxicas e plasmócitos (células B secretoras de imunoglobulinas). Células T auxiliares expressam proteínas em sua superfície que interagem com ligantes em outras células, além de secretarem citocinas ativadoras. Células T citotóxicas desenvolvem grânulos contendo proteínas (perforinas e granzimas) que destroem células infectadas por vírus e células tumorais. Células B se diferenciam em plasmócitos, visivelmente identificáveis em um esfregaço, que secretam anticorpos. A maioria dos linfócitos efetores diferenciados sobrevive por pouco tempo e não se renova. ● Diferenciação em células de memória - uma outra parte da prole, que não se diferenciou em célula efetora, tornar-se-á em célula de memória. Linfócitos B e T de memória agem como intermediários nas respostas rápidas e acentuadas a exposições subsequentes ao mesmo antígeno. As células de memória podem sobreviver em um estado funcionalmente dormente ou de ciclo lento por muitos anos após a eliminação do antígeno. As células de memória possuem proteínas em sua superfície celular que as diferem de células efetoras e células inativas, mas ainda não está elucidado quais são os marcadores definitivos dessas populações. Na tabela abaixo a compreensão dos epítopos está facilitada: Gabriela Lagreca Células Apresentadoras de Antígeno (APCs) - por convenção, geralmente se refere a células que possuem antígenos para linfócitos T. São células especializadas em capturar microrganismos, apresentá-los aos linfócitos e fornecer sinais que estimulam a proliferação e diferenciaçãodos linfócitos. São elas: CÉLULAS DENDRÍTICAS: principal tipo de APC responsável por iniciar o processo de resposta das células T. São encontradas sob o epitélio da maioria dos órgãos onde sua função é a captura de antígenos estranhos e seu transporte para órgãos linfóides periféricos. CÉLULAS FAGOCITÁRIAS MONONUCLEARES: o sistema fagocitário mononuclear consiste em células que apresentam uma linhagem comum e cuja função primária é a fagocitose. As células deste sistema se originam na medula óssea, circulam pelo sangue, amadurecem e são ativadas em diferentes tecidos. O primeiro tipo celular, que entra no sangue periférico, é o monócito. Quando amadurecido, nos tecidos, Gabriela Lagreca transforma-se em macrófago - este pode variar em sua forma, dependendo diretamente do estímulo realizado pelo microrganismo. Macrófagos ativados podem se fundir para formar células gigantes multinucleadas. Macrófagos contendo microrganismos ingeridos apresentam esses antígenos microbianos para as células T efetoras, que ativam os macrófagos para a eliminação do patógeno. As células fagocitárias mononucleares também são células efetoras importantes tanto na imunidade inata quanto na adquirida. Suas funções na imunidade natural incluem fagocitose e produção de citocinas que recrutam outras células inflamatórias; quanto na resposta adquirida, destruição de patógenos fagocitados, na imunidade humoral a opsonização de antígenos pelos anticorpos induz a fagocitose por meio dos macrófagos. Anatomia e função dos tecidos linfóides ~ Os tecidos linfóides são classificados em 1) primários, onde os linfócitos expressam inicialmente os receptores de antígenos e atingem a maturidade fenotípica e funcional, e 2) secundários, onde as respostas dos linfócitos aos antígenos são iniciadas e desenvolvidas. Gabriela Lagreca Os órgãos linfóides primários, ou geradores, são: MEDULA ÓSSEA: onde são geradas todas as células sanguíneas (hematopoese). Partem de um progenitor comum até atingirem unidades formadoras de colônia, que darão origem às linhagens mielóide e linfóide. A proliferação e o desenvolvimento das células na M.O. são estimuladas por citocinas; muitas destas chamadas de fatores de estimulação de colônias. As citocinas hematopoiéticas são produzidas por células do estroma e macrófagos residentes da medula óssea. Linfócitos B terminam seu amadurecimento na M.O., correm o sistema sanguíneo e linfático na busca de seu antígeno, então quando plasmócitos, retornam à medula óssea, onde podem sobreviver e produzir anticorpos por muitos anos. Na imagem da próxima página está esquematizada hematopoese de modo a compreender em quais locais (medula, sangue ou tecido) ocorrem suas diferenciações. TIMO: é o local de desenvolvimento das células T. É um órgão formado por dois lobos, situados no mediastino anterior; cada lobo é dividido em múltiplos lóbulos por septos fibrosos e cada um desses lóbulos consiste em um córtex externo e uma medula interna. O córtex contém uma densa coleção de linfócitos T, enquanto a medula possui uma população mais esparsa. Ainda na medula , existem estruturas denominadas Corpúsculos de Hassal, que são compostos de espirais compactadas de células epiteliais que podem ser remanescentes de células em degeneração. O timo tem um suprimento vascular abundante e vasos linfáticos que drenam para os linfonodos do mediastino. Os linfócitos T no timo, também chamados de timócitos, encontram-se em vários estágios de desenvolvimento. Geralmente, as células mais imaturas da linhagem T entram no órgão pelo córtex da glândula através dos vasos sanguíneos. O desenvolvimento começa no córtex e, conforme os timócitos vão se desenvolvendo, migram para a medula - de forma que a medula contém principalmente células T desenvolvidas, que são as células que deixam o timo e entram na circulação linfática. Gabriela Lagreca Hematopoese Tratando-se dos órgãos linfóides secundários, temos: LINFONODOS E SISTEMA LINFÁTICO : linfonodos são pequenos agregados de tecidos ricos em linfócitos localizados em toda a extensão do canal linfático. Um linfonodo consiste em um córtex externo e uma medula interna - a linfa é filtrada pelo córtex e entra nos seios medulares e sai do linfonodo através da veia linfática eferente do hilo. A camada mais externa do córtex contém agregados celulares chamados de folículos (alguns possuem área central mais clara, dita centro germinativo; folículos sem centro germinativo são chamados de primários) - que são as zonas de células B do linfonodo. Folículos primários contém linfócitos B desenvolvidos, porém inativos; os centros germinativos são responsáveis pela resposta à estimulação antigênica e é onde ocorre a proliferação acentuada, seleção e produção de células B de memória. Os linfócitos T, por sua vez, ficam espalhados pelo córtex, entre os folículos. Cerca de Gabriela Lagreca 70% são do tipo helper, enquanto o resto é citotóxico. Essa segregação anatômica das diferentes classes de linfócitos depende das citocinas estimulatórias. Linfócitos B e T entram no linfonodo através de uma artéria. Essas células deixam a circulação e entram no estroma do linfonodo através de vasos especializados (vênulas endoteliais). CT inativas expressam CCR7, receptor que reconhece quimiocinas produzidas somente na zona de células T (no córtex) e atraem as células T inativas para essa região; células dendríticas possuem o mesmo receptor, por isso também migram para a mesma região. Células B inativas, por sua vez, expressam CXCR5, que reconhece uma quimiocina produzida somente nos folículos. Uma outra citocina, chamada linfotoxina , pode estimular a produção de quimiocinas em diferentes regiões do linfonodo, especialmente nos folículos. A segregação anatômica dos linfócitos assegura que cada população esteja em contato íntimo com as APCs apropriadas. Além disso, devido a essa divisão precisa, as populações de linfócitos são mantidas separadas até que chegue a hora de interagirem de maneira funcional. Em relação aos antígenos, eles são transportados para os linfonodos principalmente pelos vasos linfáticos. O líquido intersticial (linfa) absorvidos de diversos órgãos, por meio dos capilares linfáticos, flui até vasos convergentes, progressivamente maiores, até atingirem um grande vaso linfático chamado de duto torácico. A linfa do duto torácico é drenada para a veia cava superior, caindo na corrente sanguínea. No caso de uma infecção ou inflamação aguda, os microrganismos presentes são filtrados para o linfonodo mais próximo e a resposta imunológica é iniciada. Na figura abaixo está colocada a drenagem da linfa e apresentação de antígenos no linfonodo: Gabriela Lagreca BAÇO: é o principal local de respostas imunológicas de antígenos provenientes do sangue. É suprido por uma única artéria esplênica que perfura a cápsula na região do hilo e se divide progressivamente em ramos menores que permanecem cercados por trabéculas fibrosas para sua sustentação e proteção. Pequenas arteríolas são cercadaspor bainhas de linfócitos que representam a região de células T. Os folículos linfóides, alguns dos quais contêm centros germinativos, estão ligados às zonas de células T; semelhantemente ao que ocorre nos linfonodos, os folículos são as zonas de células B. Assim como ocorre nos linfonodos, as diferentes classes de linfócitos são segregadas no baço e os mecanismos são semelhantes. O baço também é um importante filtro sanguíneo. Os macrófagos de sua polpa vermelha retiram microrganismos e outras partículas do sangue e o baço também é o principal local de fagocitose de microrganismos recobertos de anticorpos (opsonizados). SISTEMA IMUNOLÓGICO CUTÂNEO: a pele é uma importante barreira física entre um organismo e seu ambiente externo. Além disso, a pele participa ativamente na defesa do hospedeiro, com sua habilidade de gerar e manter reações imunológicas e inflamatórias locais. Os principais Gabriela Lagreca tipos de células da epiderme são os queratinócitos, os melanócitos, as células de Langerhans da epiderme e as células T intra-epiteliais (majoritariamente células TCD8). A derme contém linfócitos T (helper e citotóxico) em sua maioria perivasculares, e macrófagos espalhados. SISTEMA IMUNOLÓGICO ASSOCIADO À MUCOSAS (MALT): as superfícies mucosas do trato gastrointestinal e respiratório são colonizadas por linfócitos e APCs que iniciam a resposta imunológica contra antígenos ingeridos e inalados. Na mucosa do trato gastrointestinal, os linfócitos estão arranjados em grandes quantidades em três regiões principais: 1) na camada epitelial, 2) espalhados pela lâmina própria e 3) em coleções na lâmina própria (placas de Peyer). As células de cada região apresentam características fenotípicas e funcionais distintas. Gabriela Lagreca Homing de linfócitos ~ O movimento dos linfócitos entre o tecido linfóide periférico, corrente sanguínea e locais de inflamação é chamado de recirculação linfocitária. Esse processo permite que o número limitado de linfócitos de uma pessoa que são específicos para aquele antígeno procure pelo patógeno por todo o corpo. Permite, também, que determinados tipos de linfócitos sejam levados a determinados microambientes teciduais onde sejam necessários para a resposta imunológica adquirida. A recirculação de linfócitos e a migração para determinados tecidos são mediadas por moléculas de adesão nos linfócitos, células endoteliais e matriz extracelular, e por quimiocinas produzidas no endotélio e nos tecidos. ● Recirculação dos linfócitos T inativos pelos órgãos linfóides - Os antígenos estão concentrados no linfonodo e no baço onde são apresentados por células APCs, preferencialmente células dendríticas maduras (que estão em melhores condições de estimular a resposta), a células T naive. Os linfócitos naive do sangue que entram no linfonodo deixam a circulação e migram para o estroma seletivamente pelas vênulas especializadas do endotélio alto (HEVs); quando deixam as HEVs, os linfócitos migram na direção do gradiente de quimiocina. As células T naive podem ser ativadas no linfonodo por antígenos que são transportados para ele. Algumas horas após a exposição do antígeno, o fluxo sanguíneo no linfonodo pode aumentar mais de 20 vezes, permitindo que um número maior de linfócitos inativos tenha acesso ao local em que os antígenos estão concentrados. ● Migração dos linfócitos efetores e de memória para os locais de inflamação - A diferenciação das células T naive em células efetoras envolve diversas mudanças em moléculas de adesão, assim como deixam de expressar o receptor de quimiocina CCR7. Como resultado, as células efetoras não são mais obrigadas a permanecerem nos linfonodos e caem na circulação sanguínea. Nos locais de infecção ocorre uma resposta imunológica natural e várias citocinas são produzidas; a partir disso as células T efetoras são atraídas e exercem seu papel. Algumas células de memória migram para tecidos mucosos e pele, e moléculas de adesão especiais podem estar envolvidas nesse processo (Alfa4-Beta6, MadCAM-1, etc). Gabriela Lagreca Gabriela Lagreca Gabriela Lagreca
Compartilhar