Prévia do material em texto
Manejo da TCC em situações de pandemia O foco na pandemia em um primeiro momento e posteriores acaba sendo no risco biológico, que o COVID-19 pode causar, como tratar a doença e nas orientações básicas de saúde como ação preventiva, deixando uma lacuna nas estratégias de enfrentamento na saúde mental e aumentando a carga de doenças associadas. Este cenário gera insegurança e medo na população, onde podemos nos questionar se há, ao mesmo tempo, uma pandemia de medo e estresse (ORNELL, SCHUCH, SORDI, KESSLER, 2020). Estudos apontam que o medo causado pela pandemia pode aumentar o nível de estresse e ansiedade em indivíduos saudáveis e intensificá-los nos que apresentam algum transtorno. Em catástrofes anteriores, pode ser observado que o impacto na saúde mental pode durar mais tempo e ter maior prevalência que a própria tragédia, ou como no caso, que a própria pandemia. (ORNELL, SCHUCH, SORDI, KESSLER, 2020). Com o fácil acesso à internet, variando os meios de comunicação e obtenção de informações, as notícias sensacionalistas, imprecisas ou falsas podem aumentar as reações sociais negativas, gerando raiva e um comportamento agressivo na população. Algumas redes sociais, como exemplo o Facebook, tomou medidas para impedir a circulação de “fake news” na plataforma. O Governo de São Paulo disponibilizou um site com informações seguras sobre o Estado de São Paulo e sanando dúvidas à respeito do novo Coronavírus (ORNELL, SCHUCH, SORDI, KESSLER, 2020). Pacientes com suspeita de COVID-19 ou confirmados tendem a apresentar diversas reações emocionais e comportamentais, como medo, tédio, solidão, ansiedade, insônia, raiva, podendo até evoluir para transtornos depressivos, de ansiedade, TEPT, e ataques de pânico. Os pacientes que apresentam sintomas de gripe, que são semelhantes às condições do vírus, também são alvos de sofrimento mental, onde pode vir a ocorrer rejeição social, xenofobia e discriminação, agravando os sintomas psiquiátricos. Casos psiquiátricos podem ter um aumento significativo, sobrecarregando o serviço de emergência e o sistema de saúde (ORNELL, SCHUCH, SORDI, KESSLER, 2020). No Manual de Diretrizes para Atenção Psicológica nos Hospitais em tempos de combate ao COVID-19, a indicação é a suspensão dos atendimentos presenciais, onde será disponibilizado o atendimento virtual, em uma sala com equipamentos para fazer a comunicação, atendendendo apenas aos pedidos de consulta. Também lista indicações para receber o atendimento em tempos de pandemia, sendo eles os profissionais de saúde que estão expostos ao vírus, apresentando elevados níveis de estresse e TEPT, familiares que perderam alguém ou com crianças hospitalizadas pelo COVID-19, indivíduos que ainda não receberam confirmação do teste e estão em sofrimento (Serafim, Do Bú, Lima-Nunes, 2020). Xiang et al. considera três fatores essenciais no desenvolvimento de uma estratégia de saúde mental, sendo eles uma equipe multidisciplinar de saúde mental, estabelecimento de uma comunicação clara e atualizações precisas sobre o COVID-19, e serviços seguros para os atendimentos, como aplicativos próprios para isto (ORNELL, SCHUCH, SORDI, KESSLER, 2020). São apontadas alguns elementos básicos para a atenção psicológica hospitalar no contexto da pandemia, onde a indicação é manter a proximidade afetiva, para restabelecer a sensação de segurança e confiança em relação ao ambiente; ouvir com atenção, encorajando as tomadas de decisões e gerando tomadas de consciência quando necessário; uma postura de aceitação e acolhimento das emoções, onde não se deve insistir na modelação de crenças ou seus pensamentos e percepções disfuncionais, aceitando, de forma ativa, a interpretação das pessoas diante dos acontecimentos (Serafim, Do Bú, Lima-Nunes, 2020). De acordo com a Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia, é sugerido manter a acomodação e negociação, ou seja, o que não é possível mudar, é melhor aceitar, mas aceitar de uma forma ativa, aceitando a situação de forma realista, sem fazer nenhum tipo de julgamento, questionando os pensamentos que podem estar atrapalhando, sendo criativo nas formas de solucionar problemas (Weide, Vicentini, Araujo, Machado, Enumo, 2020). Pode ser utilizada a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), onde a intervenção busca uma flexibilidade psicológica, envolvendo processos de mudança de comportamento e compromisso e processos de conscientização e aceitação. São seis os processos de intervenção: a aceitação, onde busca o envolvimento ativo e consciente dos eventos pessoais sem tentativas de mudança na sua forma ou frequência; a desfusão cognitiva, que procura alterar os pensamentos indesejáveis, não de alterar sua forma, frequência ou sensibilidade; o estar presente, para que o paciente possa experienciar o mundo mais diretamente, flexibilizando seus pensamentos e deixando as ações mais conectadas com seus valores; o eu como contexto, mantendo o paciente consciente do fluxo de suas experiências sem, necessariamente, estabelecer um vínculo com elas; os valores, utilizando uma série de exercícios para alcançar e estar cada vez mais perto do que valoriza em sua vida, sem fazer julgamentos ou validá-los; e a ação de compromisso, que estimula o desenvolvimento de padrões que abarcam ações efetivas com seus valores escolhidos (HAYES, PISTORELLO, BIGLAN, 2008). Também pode ser utilizadas técnicas de de relaxamento, mindfulness, técnicas de empatia, autocompaixão. O foco principal se resume na aceitação dos pensamentos diante dos acontecimentos gerados pela pandemia e a busca pela resolução de problemas apesar deste sofrimento, não excluindo-o ou tentando modificá-lo, mas compreendendo e aceitando que ele existe. REFERÊNCIAS HAYES, Steven C.; PISTORELLO, Jacqueline; BIGLAN, Anthony. Terapia de Aceitação e Compromisso: modelo, dados e extensão para a prevenção do suicídio. Rev. bras. ter. comport. cogn., São Paulo , v. 10, n. 1, p. 81-104, jun. 2008 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-5545200800010 0008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 abr. 2020. ORNELL, Felipe; SCHUCH, Jaqueline B.; SORDI, Anne O.; KESSLER, Felix H.P. Pandemia de medo e COVID-19: impacto na saúde mental e possíveis estratégias. Rev. debates em psychiatry, Editorial, 2020. Serafim, Roseane Christhina Da Nova & Do Bú, Emerson & Lima-Nunes, Aline. (2020). Manual de Diretrizes para Atenção Psicológica nos Hospitais em Tempos de Combate ao COVID-19. 8. 1-44. 10.35572/rsc.v8i2.876. Weide, J. N., Vicentini, E. C. C., Araujo, M. F., Machado,W. L., & Enumo, S. R. F. (2020). Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia. Porto Alegre: PUCRS/ Campinas: PUC-Campinas. Trabalho gráfico : Gustavo Farinaro Costa.