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Geografia Regional
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Me. Eduardo Augusto Wellendorf Sombini
Revisão Técnica:
Prof.ª Dr.ª Vivian Fiori 
Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
Região e Regionalização na Geografia
• Introdução;
• A Evolução dos Conceitos de Região;
• A Nova Geografia – “New Geography”;
• A Visão da Geografia Crítica;
• Os Processos de Regionalização.
 · Discutir os diferentes conceitos para a categoria região;
 · Analisar teorias sobre região e processos de regionalização. 
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Região e Regionalização na Geografi a
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas:
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você 
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Região e Regionalização na Geografia
Introdução
Nesta unidade vamos tratar dos conceitos de região e regionalização na Geogra-
fia, abordando algumas concepções teóricas e autores da Geografia que discutiram a 
questão. O objetivo desta unidade é compreender os principais marcos da evolução 
do termo região na história do pensamento geográfico, desde a institucionalização 
da disciplina em meados do século XIX.
O termo região é empregado com diversos sentidos em outras disciplinas acadêmicas, 
em órgãos públicos e empresas privadas de planejamento e no vocabulário do senso 
comum, entre muitos outros campos. É necessário, em primeiro lugar, ter em mente 
que o termo não está restrito ao vocabulário dos geógrafos e considerar os diversos 
entendimentos atribuídos à região, de acordo com os usos variados do termo. 
É fundamental conhecer o desenvolvimento das categorias e dos conceitos de cada 
disciplina, para que o ensino e a pesquisa observem de forma rigorosa os princípios de 
método que orientem a produção acadêmica dos diversos campos do conhecimento. 
Como veremos adiante, a descrição detalhada de regiões e paisagens singulares 
ou a utilização de técnicas estatísticas distantes de propostas teóricas sólidas, foram 
durante décadas os principais procedimentos da Geografia Regional, que recebeu 
fortes críticas por conta dessas práticas, vindas tanto de pesquisadores da Geografia 
como de profissionais de outras áreas. 
Para que a Geografia possa contribuir efetivamente para a compreensão das 
questões territoriais do período histórico atual, é necessário que os princípios de 
método e as ferramentas conceituais da disciplina sejam empregados de forma pre-
cisa. Se partirmos da premissa de que o espaço geográfico é socialmente produzido 
por um conjunto de diferentes agentes sociais dotados de concepções de futuro 
que moldam a transformação do meio geográfico existente de acordo com essas 
intencionalidades, o uso de metáforas espaciais tem como consequência esvaziar as 
possibilidades interpretativas da Geografia.
No caso específico da Geografia Regional, é necessário conhecer a evolução e 
os significados atuais de região e regionalização, além de outros conceitos relacio-
nados aos estudos regionais. O termo região, por ser empregado cotidianamente, 
merece uma atenção especial para que não seja utilizado sem reflexão.
8
9
A Evolução dos Conceitos de Região
A primeira constatação a ser feita diz respeito à gênese da ideia de região. O co-
nhecimento geográfico existente nas civilizações da Antiguidade Clássica, sobretudo 
na Grécia e no Império Romano, já incorporava o entendimento de que o espaço era 
compartimentado em unidades menores que apresentavam características próprias. 
A preocupação com a diferenciação regional nas primeiras proposições do saber geo-
gráfico demonstra a centralidade do tema para a compreensão do espaço geográfico.
Como explica a geógrafa Sandra Lencioni (2003, p. 35):
Aos gregos pode ser creditada a primeira regionalização, por ter sido con-
cebida com algum método. As descrições passaram a ter forma ordenada, 
sugerindo comparações. Sínteses e explicações foram elaboradas acerca dos 
lugares e itinerários. Foram eles que criaram a palavra Geografia, em que 
geo significa Terra e grafia, descrever. Concebiam uma Geografia em que 
cada ponto era considerado em relação ao mundo habitado e denominavam 
de corografia as descrições das diferenças e contrastes da Terra. 
O termo região, por sua vez, foi formulado para designar as diferentes áreas que esta-
vam subordinadas à Roma: “[...] o termo região deriva do latim regio, que se refere à uni-
dade político-territorial em que se dividia o Império Romano” (CORRÊA, 1995, p. 21). 
Na origem do termo há, portanto, uma ênfase na dimensão política: as regiões 
correspondiam a áreas com relativa autonomia do ponto de vista político-adminis-
trativo, econômico e cultural, mas que estavam submetidas às estruturas do poder 
central de Roma, como o cumprimento das leis e o recolhimento de impostos para 
o Império. Apesar da subordinação ao Império Romano, a constituição das regiões 
na Europa desse período estava diretamente relacionada ao exercício de um poder 
nesse recorte territorial, isto é, havia possibilidades de controle de diversos processos 
que afetavam o futuro de cada região. Boa parte da produção necessária à reprodu-
ção social provinha das próprias regiões, já que as trocas econômicas eram, no geral, 
bastante restritas.
Os aspectos culturais – como a língua e a alimentação – também eram traços distin-
tivos de cada região, que as particularizavam em relação às demais. Em resumo, cada 
entidade regional apresentava um grau considerável de autonomia, já que os vínculos 
de complementariedade inter-regional eram frágeis ou até mesmo inexistentes. 
Esse caráter autárquico, ou seja, de autonomia de poder de cada das entidades 
regionais da Europa Ocidental permaneceu inalterado, em grande medida, durante 
séculos. A constituição dos Estados nacionais modernos foi um dos primeiros pro-
cessos que culminaram com o enfraquecimento dessa situação.
9
UNIDADE Região e Regionalização na Geografia
A partir da paz de Westphalia (1648) ou Tratado de Westphalia foram conforma-
dos os Estados territoriais soberanos: a cada país seria assegurado o direito de auto-
determinação em seus assuntos internos, ao mesmo tempo em que a interferência 
nos assuntos dos demais países deveria cessar. Esses dois princípios estão na base do 
sistema interestatal moderno até o presente. 
A constituiçãodos Estados e dos territórios nacionais é, portanto, concomitante. 
Para assegurar o princípio abstrato da soberania nacional, os Estados passaram a 
colocar em prática um conjunto de medidas para garantir o controle sobre seus 
territórios nacionais, delimitados por fronteiras claras, ou seja, para proteger a so-
berania nacional frente às ameaças externas, os Estados buscaram o fortalecimento 
interno de seus territórios e promovem a coesão econômica, política e cultural na 
escala nacional. 
Essas primeiras tentativas de integração dos territórios e constituição de mercados 
nacionais significaram a revisão do caráter relativamente autônomo que cada região 
possuía. A constituição de mercados nacionais trouxe uma nova escala de funciona-
mento do sistema econômico, não mais restrito às barreiras regionais, mas integrado 
na escala dos territórios nacionais. Os governos centrais dos países europeus começa-
ram a instalar sistemas de infraestrutura de transportes e comunicações para estimular 
a divisão territorial do trabalho na escala nacional e promover trocas econômicas 
entre as diversas regiões dos países. 
A lógica territorial dos Estados nacionais passou a estar crescentemente relaciona-
da à articulação interna, comandada pelo poder central. A regulação da economia, 
da sociedade e do território deixou, pouco a pouco, de ser realizada por centros de 
decisão locais e regionais e concentrou-se nas capitais dos Estados nacionais – muitas 
delas, cabe lembrar, também eram sede do poder sobre extensas áreas submetidas à 
exploração colonial europeia. 
Outro aspecto que se destaca na formação dos primeiros Estados nacionais é a 
integração de todo o território por meio da expansão das vias de transporte, das 
novas formas de comunicação e, mais tarde, da produção de energia elétrica, entre 
outras infraestruturas. 
Como explica Ricardo Antas Jr: “Fosse para nutrir as necessidades do sistema eco-
nômico, cuja estruturação capitalista era bem mais evidente com a grande indústria, 
fosse por objetivos de controle mais rígido das fronteiras e de todos os conteúdos do 
território, a comunicação das várias partes com o centro de comando era essencial no 
tocante à regulação (ANTAS JR, 2005, p. 117)”. 
Esse processo realizou-se de forma lenta e gradual nos países da Europa Ocidental, 
sobretudo entre os séculos XVIII e XIX. A modernização e a integração dos territórios 
nacionais em curso no período, por sua vez, não fizeram com que as regiões per-
dessem importância no quadro explicativo da Geografia, que se institucionalizou em 
meados do século XIX.
10
11
Ao contrário, a região foi colocada no centro de todo o debate da Geografia no pe-
ríodo de sua constituição como disciplina científica. Não é possível retomar em deta-
lhes as discussões a respeito da construção da Geografia como ciência nesse período.
 Lembremos, porém, que a Alemanha e a França foram os principais países eu-
ropeus à frente da institucionalização acadêmica da Geografia. Na história do pen-
samento geográfico, comumente se associa a Geografia alemã ao paradigma do 
determinismo ambiental, tributário das teorias evolucionistas das ciências biológicas 
em desenvolvimento no período. De forma bastante simplificada, essa corrente do 
pensamento geográfico defende que as características naturais de cada área do pla-
neta – como clima, relevo, solo, vegetação e hidrografia – determinam o desenvolvi-
mento das sociedades. 
O determinismo ambiental teve forte ligação com as estratégias imperialistas 
da Alemanha e de outros países e foi utilizado para justificar a exploração colo-
nial. O conceito de “espaço vital”, de Friedrich Ratzel (1844 – 1904), que fazia 
referência às necessidades territoriais de cada Estado, em relação aos diferentes 
graus de desenvolvimento técnico, buscava justificar cientificamente as aspirações 
expansionistas da Alemanha. 
Outro exemplo claro são os discursos que, com base em supostas condições cli-
máticas mais favoráveis dos países europeus em relação aos trópicos, defendiam a 
superioridade da população dos países metropolitanos e buscavam legitimar, por-
tanto, a dominação sobre os povos subordinados à colonização. Dessa corrente, 
nasceu a ideia de região natural: a compartimentação do espaço terrestre teria como 
fundamento as características naturais de cada área. As diferentes combinações de 
clima, relevo e vegetação, entre outros aspectos, criariam a diferenciação regional do 
planeta, a despeito das ações da sociedade.
Roberto Lobato Corrêa (1995, p. 22) explica o conceito de região natural: 
A região natural é concebida como uma porção da superfície terrestre identi-
ficada por uma específica combinação de elementos da natureza, como, so-
bretudo, o clima, a vegetação e o relevo, combinação que vai se traduzir em 
uma específica paisagem natural: as áreas de cerrado e de floresta equatorial 
são exemplos de regiões naturais. Para aqueles geógrafos, a região natural 
constitui-se no recorte espacial mais relevante para os seus propósitos.
Por sua vez, a Geografia que se desenvolveu na França foi chamada de possi-
bilista, por refutar a ideia de determinação do meio natural sobre as sociedades. 
De caráter historicista, a escola francesa de Geografia teve como grande expoente 
Paul Vidal de La Blache (1845-1918). 
La Blache, como fundador da Geografia acadêmica, teve enorme influência na evo-
lução do pensamento geográfico: “com ele é que a Geografia atinge um status indepen-
dente e se consagra como um ramo específico da ciência” (LENCIONI, 2003, p. 102). 
11
UNIDADE Região e Regionalização na Geografia
A escola francesa de Geografia considera que as paisagens e regiões são historicamente 
construídas pela relação entre o meio e a sociedade. O meio natural, portanto, não é 
tratado como um elemento que subordina a ação social e determina a evolução histórica. 
No esquema explicativo lablacheano, os homens transformam os meios existentes 
de acordo com as possibilidades oferecidas por esses e, nesse processo, constituem 
gêneros de vida e constroem paisagens. Há, para a geografia regional francesa, um 
permanente vínculo entre os homens e o meio geográfico. 
Para CORRÊA (1995, p. 13), “[...] a natureza foi considerada como fornecedora 
de possibilidades para que o homem a modificasse: o homem é o principal agente 
geográfico”. La Blache mobiliza o conceito de gênero de vida – um conceito empre-
gado em outras disciplinas, como a Antropologia e a Sociologia, no período – para 
sustentar sua proposta de geografia regional. 
De acordo com Milton Santos (2003, p. 55), “[...] o gênero de vida resulta de 
uma acomodação entre um grupo e o conjunto natural, da descoberta das formas 
de exploração, de tirar proveito das condições do entorno do modo de produção”. 
O gênero de vida faz referência, portanto, às relações historicamente construídas 
entre um grupo social e um meio específico, construídas na longa duração. 
Figura 1 - Região Agricola do Começo Século XX
Fonte: ufrb.edu.br
Podemos tratar o conceito de gênero de vida como um repertório de técnicas e 
valores culturais construídos por conta da relação de longo prazo entre sociedades e 
meio geográfico, em compartimentos regionais próprios. Os camponeses da Breta-
nha, por exemplo, depois de séculos lidando com os aspectos naturais dessa região 
(elementos geológicos, climáticos, geomorfológicos, pedológicos, biogeográficos, en-
tre outros) teriam desenvolvido técnicas, formas de organização social e referências 
culturais particulares, por conta desse contato íntimo estabelecido, sem rupturas, com 
esse meio geográfico específico. 
Mais que simples adaptação da sociedade ao meio existente, interessaria à Geo-
grafia, sobretudo, descrever os ajustes mútuos entre meio geográfico e sociedade, 
que tenderia a um suposto equilíbrio entre os dois polos.
12
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Para La Blache, então, a relação estabelecida entre meio geográfico e sociedade 
seria marcada pela harmonia com que se acomodam as duas esferas. Nesse ponto,fica claro o distanciamento do autor em relação às propostas de teorização em curso 
em outras ciências sociais no período. A estabilidade dessas relações estaria na base 
da produção de paisagens singulares em cada região: as técnicas agrícolas e os mé-
todos construtivos, por exemplo, seriam diferentes em cada região, por conta dos 
recursos naturais disponíveis e pelas técnicas desenvolvidas em cada área. 
As relações entre sociedade e meio geográfico seriam tão profundas que as regi-
ões poderiam ser apreendidas pelos hábitos alimentares de seus habitantes: os quei-
jos e vinhos típicos de cada região francesa, por exemplo, seriam um indicativo de 
que o clima, o relevo e os solos regionais influenciavam profundamente as práticas 
sociais e culturais de cada área. Isto quer dizer que, na interpretação lablacheana, os 
gêneros de vida, as paisagens e as regiões são variáveis interdependentes: não ha-
veria região sem valores culturais próprios ou paisagens que não fossem produzidas 
por gêneros de vida.
Região para a Escola Francesa
“O objetivo fi nal é encontrar, para cada região, uma personalidade, uma forma de ser diferente 
e particular. De fato, neste caso, não se pode identifi car a priori os traços distintivos responsáveis 
pela unidade regional; pode ser o clima, a morfologia, ou qualquer outro elemento, a partir do 
qual uma comunidade territorial cria uma forma diversa de se adaptar, um gênero de vida. 
A geografi a regional francesa nos ensinou, por exemplo, que, na identifi cação da Borgonha, o 
fundamental é o quadro histórico; nos Pirineus mediterrânicos, o clima; na Picardia, o relevo; 
e assim sucessivamente. O fundamental é que estamos diante de um produto único, sintético, 
formado pela inter-relação destes fatores combinados de forma variada” (GOMES, 2006, p. 56).
Ex
pl
or
A associação entre esses três conceitos fundamentais leva a região geográfica a 
ser conceituada como “[...] área de ocorrência de uma mesma paisagem cultural” 
(CORRÊA, 1995, p. 22) e ser entendida como uma entidade concreta, cuja existência 
independe do pesquisador. A região, de acordo com essa conceituação, é tratada 
como um dado evidente da realidade, não uma construção intelectual resultante 
da mediação entre o trabalho acadêmico e os processos territoriais. O trabalho do 
geógrafo, portanto, seria o de “encontrar” regiões já existentes e descrevê-las em 
longas monografias regionais, sem necessidade de estabelecer leis ou critérios gerais 
que validassem a análise regional. 
As propostas da escola francesa de Geografia constituíram o paradigma hege-
mônico da disciplina na primeira metade do século XX e tornaram-se, dessa forma, 
o método de trabalho dos geógrafos por excelência. Esses fundamentos orientaram 
a constituição da Geografia acadêmica brasileira e influenciaram, durante décadas, 
o pensamento geográfico do país em universidades e órgãos de pesquisa e plane-
jamento territorial.
13
UNIDADE Região e Regionalização na Geografia
O ensino no Brasil também foi, durante décadas, baseado nos pressupostos da 
Geografia regional francesa e diversos traços ainda permanecem presentes nas con-
cepções e práticas da disciplina. O formato das monografias regionais – descrição de 
uma região começando pela localização espacial e pelos aspectos naturais (geologia, 
geomorfologia, clima, pedologia, vegetação, hidrografia, entre outros), para tratar 
em seguida do “homem” (demografia, industrialização, urbanização, entre outros) – 
ainda é recorrente em diversos trabalhos de Geografia. 
Essa abordagem começou a sofrer duras críticas a partir, sobretudo, da década 
de 1950. Como dissemos anteriormente, as regiões analisadas por La Blache já 
estavam se transformando profundamente desde meados do século XIX, com a inte-
gração dos territórios nacionais e a industrialização acelerada que ocorria na Europa, 
associada à difusão da Revolução Industrial a partir da Inglaterra. 
As pequenas comunidades rurais do interior da França passaram a ser violen-
tamente submetidas às lógicas do capitalismo industrial e do poder do governo 
central. A constituição das redes ferroviárias e, em seguida, das redes bancárias no 
território francês na segunda metade do século XIX fez com que os antigos vínculos 
de solidariedade no interior de cada região fossem enfraquecidos. 
A formação da rede urbana francesa, permitida pela expansão das redes de 
transportes e comunicações, hierarquizou áreas rurais, vilas e pequenas cidades 
que constituíam o suporte das regiões descritas por La Blache. Essas áreas, histo-
ricamente detentoras de níveis de autonomia, foram colocadas sob o comando dos 
capitais e das elites de poucas metrópoles regionais e, sobretudo, de Paris. 
Por meio dessa hierarquia urbana, as modernizações urbano-industriais eram di-
fundidas e alcançavam todo o território francês, enfraquecendo, gradualmente, as 
lógicas de funcionamento que sustentavam as regiões geográficas auto-referidas de 
Vidal de La Blache. A obra lablacheana, por sua vez, preferiu enfatizar a permanên-
cia do funcionamento das regiões tratando preferencialmente das pequenas comuni-
dades rurais francesas. 
Para Yves Lacoste (1988, p. 60), que formulou uma crítica profunda à Geografia 
tradicional, Vidal de La Blache “[...] baniu, em suas descrições, tudo que decorre da 
evolução econômica e social recente, de fato, tudo que tinha menos de um século 
e traduzia os efeitos da revolução industrial”. 
A Nova Geografia – “New Geography”
As críticas à Geografia tradicional foram se avolumando e tentativas de renova-
ção do quadro teórico da disciplina começaram a se esboçar a partir da década de 
1950. Uma das principais correntes a tentar romper com os postulados tradicio-
nais da disciplina foi a New Geography de origem norte-americana, conhecida no 
Brasil como Geografia teorética ou quantitativa.
14
15
Baseada em pressupostos lógico-positivistas, a Geografia quantitativa tinha como 
propósito dotar a disciplina de um estatuto inquestionavelmente científico, com teo-
rias gerais e procedimentos metodológicos replicáveis, afastando o empirismo. 
A região, para essa perspectiva, passou a ser tratada como uma classe de área, 
isto é, “[...] um conjunto de unidades de área, como os municípios, que apresen-
tam grande uniformidade interna e grande diferença em face de outros conjuntos” 
(CORRÊA, 1995, p. 22). 
P ara mensurar as similaridades e diferenças entre as áreas, os procedimentos 
metodológicos empregados passaram a se basear, fundamentalmente, em técnicas 
estatísticas e mais recentemente em Sistemas de Informações Geográficas (SIG).
A região é tratada como uma entidade abstrata, definida a partir do uso de técnicas 
quantitativas por pesquisadores. 
A região, portanto, deixa de ser considerada como uma circunscrição territorial 
concreta, historicamente definida e portadora de uma personalidade. 
Ao contrário de “encontrar” regiões evidentes, os geógrafos deveriam produzir 
regionalizações a partir de um conjunto de técnicas estatísticas e fontes de dados 
cientificamente validadas. Como consequência, o número de possíveis regiões é vir-
tualmente infinito.
Essa perspectiva previu a existência de dois tipos fundamentais de região: as 
regiões homogêneas e as regiões funcionais ou polarizadas. As primeiras eram ca-
racterizadas pela contiguidade de áreas com características semelhantes – dinâmica 
demográfica, produção agropecuária e processos de urbanização similares, por 
exemplo. As segundas reuniriam áreas com atributos diferenciados, que formariam 
uma unidade por conta da coesão criada por redes e fluxos hierárquicos. 
As redes urbanas são o principal exemplo de regiões polarizadas: cada cidade ou 
metrópole polarizaria áreas mais ou menos extensas – chamadas de hinterlândias 
– de acordo com o seu poder de influência, definido pela oferta de bens e serviços 
escassos em outros pontos do território nacional. 
Essa ideia de redes de cidades hierarquicamente organizadas foi proposta por 
Walter Christaller,que formulou a teoria dos lugares centrais em 1933, e ganhou 
forte impulso com o interesse da Geografia quantitativa na análise das regiões fun-
cionais ou polarizadas. 
As pesquisas sobre redes urbanas inspiraram um conjunto de iniciativas de 
planejamento territorial, que buscavam compreender o funcionamento das regiões 
de influências de cidades para propor planos de desenvolvimento regional. Paulo 
Cesar da Costa Gomes (2006, p. 64) lembra que “[...] a interpretação das regiões 
funcionais se fez predominantemente de uma forma tributária da interpretação 
macroeconômica de inspiração neoclássica”. 
15
UNIDADE Região e Regionalização na Geografia
A Geografia quantitativa passou a sofrer numerosas críticas, que acusavam seus 
métodos de ignorar a dimensão histórica do espaço geográfico e de fornecer sub-
sídios e legitimar cientificamente a expansão dos mercados capitalistas. É possível 
afirmar que a maior parte dos trabalhos da New Geography (Nova Geografia) buscou 
entender, a partir de modelos matemáticos, a localização das atividades econômicas 
no espaço e as regionalizações decorrentes desse processo, desconsiderando o espa-
ço como instância que interveem na configuração dos processos econômicos. 
As análises realizadas oferecem um retrato desses processos em um momento 
determinado, mas têm dificuldade em oferecer uma compreensão dos processos que 
produzem e transformam as situações geográficas estudadas. Esse é um dos pontos 
da crítica formulada por Milton Santos (2002, p. 74) à Geografia quantitativa:
O maior pecado, entretanto, da intitulada geografia quantitativa é que ela 
desconhece totalmente a existência do tempo e suas qualidades essenciais. 
A aplicação corrente das matemáticas à geografia permite trabalhar com 
estágios sucessivos da evolução espacial, mas é incapaz de dizer alguma 
coisa sobre o que se encontra entre um estágio e outro. Temos, assim, 
uma reprodução de estágios em sucessão, mas nunca a própria sucessão. 
Em outras palavras, trabalha-se com resultados, mas os processos são omi-
tidos, o que equivale a dizer que os resultados podem ser objeto não pro-
priamente de interpretação, mas de mistificação. (SANTOS, 2002, p. 74) 
A partir da década de 1970, o movimento de renovação crítica da Geografia 
estabeleceu-se inspirado pelo paradigma do materialismo histórico. As propostas 
originadas nesse debate buscaram superar os princípios tanto da Geografia tradi-
cional quanto da New Geography, refundando a disciplina a partir da aproximação 
com a teoria social crítica, sobretudo do campo marxista. 
A Visão da Geografia Crítica
Os livros de Yves Lacoste (1988) e Milton Santos (2002) estão entre as mais 
influentes obras do período de constituição da Geografia crítica. Diversas interpre-
tações foram mobilizadas para reconceituar a região no pensamento geográfico. 
As propostas tributárias das ferramentas da economia política conformaram o que 
Anne Gilbert (1988) chamou o entendimento de “região como resposta local aos 
processos capitalistas”. 
Anne Gilbert (1988, p. 209) explica o conceito de região para a Geografia Crítica:
Refere-se à região como a organização espacial dos processos sociais associa-
dos com o modo de produção: a regionalização da divisão social do trabalho; 
a regionalização do processo de acumulação de capital, organizado como 
uma rede de processos de acumulação entrelaçadas parciais que definiram 
bases territoriais; a regionalização da reprodução da força de trabalho, cuja 
16
17
lógica se relaciona a região dos mercados de trabalho para a organização 
espacial da população; e a regionalização dos processos políticos e ideo-
lógicos de dominação usado para manter as relações sociais de produção.
Para essa perspectiva, as regiões seriam resultado das múltiplas determinações 
do modo de produção capitalista, que comandaria os processos de regionalização. 
A s regiões passaram a ser conceituadas, portanto, como um recorte territorial fun-
cional à reprodução do capitalismo, em constante redefinição para corresponder às 
necessidades do modo de produção. 
O conceito de divisão territorial do trabalho ganhou, nessa abordagem, forte im-
portância como fundamento da compartimentação regional, como no caso da obra 
de Doreen Massey (1984). Outras propostas teóricas inspiradas pelo marxismo, por 
sua vez, distanciaram-se dos legados da Geografia regional. Neil Smith (1988), por 
exemplo, privilegiou três escalas na análise do desenvolvimento desigual e combinado 
do sistema capitalista: o espaço urbano, o Estado nacional e o mundo. 
O primeiro seria resultado da “centralização do capital produtivo” (SMITH, 1988, 
p. 197) e o último, a expressão por excelência da propensão expansiva do capitalismo. 
O Estado nacional, por sua vez, foi tratado como uma escala de menor importância, 
associado à proteção contra outros capitais nacionais e o controle da luta de classes. 
Outros princípios de método, por sua vez, foram propostos para atualizar o con-
ceito de região às variáveis do período da globalização. Os nexos econômicos têm 
um papel fundamental a desempenhar nesses esquemas explicativos, mas q uestões 
de ordem política, social e cultural são levadas em conta para analisar o mosaico 
regional como um conjunto de tramas territoriais particulares que devem ser enten-
didas como parte de um movimento permanente de mediação entre o mundo, os 
Estados nacionais e as regiões. 
Os Processos de Regionalização
A regionalização se refere ao processo de conformação regional, isto é, de consti-
tuição de áreas no interior dos países com características econômicas, sociais, cultu-
rais e territoriais particulares, que as tornaram diferentes das demais.
Desse ponto de vista, as regiões seriam, territorialmente, mais abrangentes que 
os municípios, por exemplo, e estariam contidas nas fronteiras de um Estado na-
cional. Ainda que haja interpretações divergentes dessa proposta, esse é o entendi-
mento, comumente, adotado pelos estudos da Geografia Regional. 
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UNIDADE Região e Regionalização na Geografia
Os processos de regionalização, contudo, também atuam em outras escalas, já que 
a diferenciação espacial não está restrita à escala dos territórios nacionais. É possível, 
portanto, falar de regionalização do espaço mundial (escala global) ou de regionaliza-
ção urbana (escala local). A diferença fundamental é que esses processos de regiona-
lização criam compartimentações do espaço geográfico que não são propriamente 
regiões, no sentido correntemente atribuído ao termo pela Geografia. 
Essa interpretação se justifica fundamentalmente pelo fato dessas divisões territoriais 
não possuírem vínculos de coesão interna suficientemente fortes. Como resultado, 
não há, de fato lógicas de funcionamento solidário entre as partes constitutivas desses 
recortes territoriais, ou seja, as parcelas que estão aí contidas não estão funcionalmente 
articuladas na mesma medida que as regiões internas aos países. 
Pensemos, por exemplo, no BRICS, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China 
e África do Sul. Trata-se, certamente, de um recorte do espaço mundial associado a 
uma proposta de regionalização que ressalta a ascensão econômica e política desses 
países, constituídos historicamente no âmbito da periferia do sistema capitalista global. 
Seria controverso, porém, sustentar que o BRICS constitui uma região, no entendi-
mento construído na história do pensamento geográfico.
BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
O que faz o BRICS?
Desde a sua criação, o BRICS tem expandido suas atividades em duas principais vertentes: (i) a 
coordenação em reuniões e organismos internacionais; e (ii) a construção de uma agenda de 
cooperação multissetorial entre seus membros.
Com relação à coordenação dos BRICS em foros e organismos internacionais, o mecanismo privile-
gia a esfera da governança econômico-financeira e também a governança política. Na primeira, a 
agenda do BRICS confere prioridade à coordenação no âmbito do G-20, incluindoa reforma do FMI. 
Na vertente política, o BRICS defende a reforma das Nações Unidas e de seu Conselho de Segurança, de 
forma a melhorar a sua representatividade, em prol da democratização da governança internacional. 
Em paralelo, os BRICS aprofundam seu diálogo sobre as principais questões da agenda internacional.
Fonte: Texto literal extraído de MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Brasília, Itamaraty, 2017. Disponível em: 
http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/mecanismos-inter-regionais/3672-brics 
Ex
pl
or
Os países integrantes do bloco exercem a soberania nacional em um amplo con-
junto de políticas, fazendo com que as lógicas de funcionamento solidário entre esses 
territórios sejam sempre mediadas pelos respectivos Estados nacionais. Cada um 
desses países possui variáveis políticas, econômicas, culturais e territoriais muito dis-
tintas que, apesar dos esforços recentes de integração – como a criação de uma nova 
agência multilateral de financiamento (o Novo Banco de Desenvolvimento) e um 
conjunto de acordos de cooperação entre os países - não suprimem as características 
históricas particulares de cada território nacional.
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 No período da globalização, os Estados nacionais continuam desempenhan-
do um papel fundamental na regulação do território, da economia e da socie-
dade e, portanto, permanecem como agentes centrais no entendimento do 
processo de regionalização. 
Para sistematizar essa discussão, propomos que a região seja entendida, no atual 
período histórico, como um recorte no interior dos territórios nacionais, caracteri-
zados por um acontecer solidário, como propõe Milton Santos (2006). O autor, ao 
buscar atualizar as categorias e os conceitos da Geografia às características do perío-
do histórico atual, estabelece um conjunto de princípios de método para a disciplina. 
A ideia de acontecer solidário faz referência a áreas que possuem lógicas de fun-
cionamento comuns e, por isso, se diferenciam das demais e se tornam particulares 
na escala nacional. Como comenta Milton Santos (2003, p. 61): 
O que é a região hoje? Qual a nossa proposta? A região aparece como a área 
onde se realiza o que estamos chamando de acontecer solidário. E a palavra 
solidariedade deve ser aqui entendida na acepção de Durkheim, sem nenhuma 
conotação moral, mas no sentido da realização compulsória de tarefas comuns 
de todos os que estão nessa área, uns sendo explorados e outros exploradores, 
uns comandando e outros obedecendo, mas todos num fazer comum. Mas, 
este fazer comum hoje tem como centro último o chamado mundo da globa-
lização, isto é, o que se dá nos lugares é resultado da combinação de vetores 
locais, regionais, nacionais e mundiais impactando ao mesmo tempo.
Em primeiro lugar, como exposto pelo autor, a ideia de solidariedade não correspon-
de à utilização corrente no senso comum, mas está vinculada à discussão sociológica 
sobre a organização social. A solidariedade, desse ponto de vista, pode ser entendida 
como a cooperação necessária que permite a realização da vida coletiva e resulta das 
divisões técnica, social e territorial do trabalho. 
Ao recorrer a esse conceito amplo para embasar o entendimento do fenômeno 
regional, Milton Santos busca renovar as propostas anteriores de região e regionali-
zação que haviam sido duramente criticadas. Trata-se, na verdade, de uma proposta 
de refundação da região no pensamento geográfico. Em primeiro lugar, porque hou-
ve, durante as décadas de 1980 e 1990, a propagação da ideia de que a globalização 
promoveria uma homogeneização do espaço mundial, dissolvendo a importância das 
regiões e mesmo dos territórios nacionais. 
Neil Smith (2000), por exemplo, assume a possibilidade de movimentos sociais 
progressistas associados aos regionalismos, mas enfatiza o caráter predominan-
temente conservador dos movimentos regionais. Se, por um lado, essa postura 
descreve precisamente as características de boa parte das reivindicações regionais 
no mundo todo, por outro tende a rebaixar a escala regional como uma arena se-
cundária de disputa política. 
A região, consequentemente, não é suficientemente tratada como um recorte 
dos territórios nacionais que abriga formas espaciais e conteúdos sociais particula-
res e, portanto, agentes sociais e conjunturas políticas específicas. 
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UNIDADE Região e Regionalização na Geografia
A região não aparece, nessa perspectiva, como portadora de dinâmicas próprias 
que influem a definição do futuro da vida social e, assim, mereça ser desvendada 
academicamente e disputada politicamente.
Neil Smith (2000, p. 153) comenta sua concepção sobre os regionalismos no 
atual momento da globalização: 
Os movimentos políticos regionais podem ser altamente defensivos, comba-
tendo alguma invasão externa. [...]. Os mais defensivos de todos, os mais po-
liticamente variados e, com frequência, os mais voláteis, são os movimentos 
regionais baseados menos em demandas econômicas e políticas e mais em 
reivindicações históricas, culturais e possivelmente românticas, que buscam 
transformar certas regiões em Estados-nações separados. A diferença regio-
nal e o chauvinismo funcionam, nesse caso, para conter as lutas de classe e 
outras batalhas regionais dentro de limites territoriais. No pior das hipóteses, 
o regionalismo pode dar vazão ao racismo e a outras formas de localismo 
geradas em escalas espaciais menores.
Diversos trabalhos com essa perspectiva ignoraram, dessa forma, a importância 
da diferenciação regional como processo histórico de relevância na análise das di-
nâmicas econômicas e sociais. O mosaico regional é tratado, por muitos autores, 
como um reflexo das transformações do modo de produção capitalista: as regiões 
são vistas, portanto, como subespaços que acolhem indiscriminadamente, sem me-
diações ou resistências, as determinações do sistema econômico. 
E, como o capitalismo tende a ampliar a divisão do trabalho e a cooperação em 
escala global, muitas interpretações dessa corrente enfatizam as tendências à homo-
geneização do espaço nas mais diversas escalas. Com uma visão mais economicista 
da região, Oliveira (2008, p. 146) explica: 
Num sistema econômico de base capitalista, existe uma tendência para a com-
pleta homogeneização da reprodução do capital e de suas formas, sob a égide 
do processo de concentração e centralização do capital, que acabaria por fazer 
desaparecer as “regiões”, no sentido proposto por esta investigação. Tal ten-
dência quase nunca chega a materializar-se de forma completa e acabada, pelo 
próprio fato de que o processo de reprodução do capital é por definição desi-
gual e combinado, mas em alguns espaços econômicos do mundo capitalista, 
de que talvez a economia norte-americana seja o exemplo mais completo, é 
inegável o grau de homogeneização propiciado pela concentração e centraliza-
ção do capital, de forma a quase borrar por inteiro as diferenças entre os vários 
segmentos do território nacional norte-americano.
As críticas mais usuais às abordagens marxistas sobre o espaço geográfico e a 
diferenciação regional ressaltam o economicismo que parte desses trabalhos carre-
ga. Nesse caso, a variável fundamental para a explicação da regionalização seria a 
dinâmica do sistema econômico capitalista e as demais questões – culturais, políticas 
e territoriais – seriam subordinadas à primeira. Além disso, há também a ênfase em 
desconsiderar o espaço geográfico como uma instância que influencia, de forma ex-
pressiva, as dinâmicas econômicas. 
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É o caso, por exemplo, das interpretações que associam a globalização ao desa-
parecimento das regiões. É preciso ressaltar que, ao contrário das explicações mais 
difundidas, a globalização não leva à homogeneização do espaço geográfico. 
Do ponto de vista econômico, a constituição de circuitos espaciais produtivos e cír-
culos de cooperação no espaço (SANTOS & SILVEIRA, 2001) de alcance global faz 
com que os lugares e as regiões que participam dessas redes tendem a se especializardo ponto de vista produtivo e se diferenciar dos demais lugares e regiões. 
A economia global, portanto, não prescinde das particularidades dos lugares e das 
regiões: pelo contrário, há uma exploração deliberada das potencialidades que cada 
ponto ou área do planeta oferecem à realização da acumulação capitalista. Como o 
espaço geográfico não pode ser analisado somente a partir das variáveis econômicas, 
as mesmas dinâmicas de individualização podem ser observadas a partir de diversos 
outros processos.
É o caso, por exemplo, de casos de renovação de identidades regionais, associa-
das às ameaças de perda de referências culturais por conta da globalização em curso. 
É necessário, portanto, levar em conta que as tendências à homogeneização que a 
globalização carrega são apenas uma das faces do processo. A constituição de nexos 
globais tem como par o aprofundamento dos processos de particularização das regi-
ões. Dessa forma, é preciso, atualmente, mais que em outros períodos compreender 
os fundamentos da regionalização e as características da região. 
A globalização conduz à generalização do fato regional. Ela tem como seu 
avesso a fragmentação, com a personalidade dos lugares, levantando-se com 
muito mais força do que no passado. Neste período, aumenta exponencial-
mente, de um lado, o número das variáveis que entram em jogo para formar a 
história e, de outro, a velocidade com que a história se realiza. Com estes dois 
dados juntos, a aceleração contemporânea multiplica, também, o número de 
subespaços dentro do espaço globalizado. Poderíamos dizer, didática e peda-
gogicamente, que chegamos a um momento da história onde a regionalização 
é absoluta (SANTOS, 2003, p. 58).
Assim, os processos de diferenciação regional se tornam ainda mais presentes e 
complexos. Além disso, as regiões adquirem novas características com a globalização. 
Daí decorre a necessidade de atualizar os conceitos da Geografia Regional. Uma das 
transformações mais vigorosas é, certamente, a continuidade do processo de esvazia-
mento da autonomia política e econômica das regiões. 
As regiões, no atual período, estão cada vez mais articuladas a redes nacionais e 
internacionais e não podem ser compreendidas se essas interações com processos 
externos as suas fronteiras e as dos territórios nacionais não forem consideradas. 
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UNIDADE Região e Regionalização na Geografia
Como explica Milton Santos (2003, p. 59) sobre a regionalização no atual pe-
ríodo de globalização: 
A região não acabou, ela se impõe como um dado central da história do 
presente. No mundo de hoje, talvez não haja mais coincidência entre região 
e régio. A região deixa de ser a sede do poder, do seu próprio comando, do 
seu comando total e absoluto, mas não deixa de existir. O desafio é guardar a 
palavra e redefini-la. 
Para redefinir o conceito de região de acordo com as características do atual perí-
odo histórico, há diversas perspectivas. Apresentamos, aqui, as possibilidades ofere-
cidas pelo entendimento de região a partir da ideia de acontecer solidário. Essa pro-
posta permite enfrentar parte das limitações colocadas às conceituações anteriores 
e ter à disposição um conjunto de instrumentos de análise que levem em conta as 
variáveis associadas à globalização.
Esse acontecer solidário das regiões, como vimos, não descarta as interações 
com processos associados a outras escalas espaciais. Pelo contrário, essa conceitu-
ação de região a coloca como parte integrante da realização dos processos globais. 
Por isso, os recortes regionais comportam duas dimensões que se entrecruzam e 
redefinem, continuamente, as formas e os conteúdos das regiões: as horizontalida-
des e as verticalidades (SANTOS, 2006). 
As horizontalidades estão associadas à lógica da contiguidade territorial, isto é, de 
áreas articuladas por conta da proximidade e do cotidiano. É o caso, por exemplo, das 
relações entre cidades no interior de uma região metropolitana, que estão vinculadas 
por conta da vizinhança. 
As verticalidades, por sua vez, dizem respeito à lógica das redes: pontos geometri-
camente distantes, mas articulados por fluxos materiais e imateriais. Essa é a dimen-
são que permite que determinadas regiões se subordinem às informações e às ordens 
produzidas em lugares distantes. 
Pensemos, por exemplo, em uma região agrícola especializada em commodities 
para exportação: a maior parte dos fatores que influenciam a produção regional está 
relacionada à dinâmica dos mercados internacionais e, portanto, as informações que 
orientam a produção nesse subespaço são produzidas e difundidas, sobretudo, a partir 
de centros de decisão localizados em outros países. 
As regiões, no entanto, não se constituem por meio de horizontalidades ou de ver-
ticalidades, isoladamente. A conformação regional se realiza, ao contrário, a partir de 
combinações específicas entre as duas dimensões. Esse fato reforça a persistência dos 
processos de regionalização, já que os arranjos entre horizontalidades e verticalidades 
são sempre específicos e provisórios – por isso, a cada novo período histórico, há uma 
reconfiguração das formas e dos conteúdos das regiões.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Geografia: Conceitos e Temas
GOMES, Paulo César da Costa. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, Iná Elias de 
et all. (orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2006, p. 49-76.
 Leitura
Considerações a Respeito da Geografia Neopositivista no Brasil
CAMARGO, José Carlos Godoy; REIS JÚNIOR, Dante Flávio da Costa. Considerações a 
respeito da Geografia neopositivista no Brasil. Rio Claro, Geografia, v. 29, n. 3, set/dez 
2004, p. 355-382.
https://goo.gl/44XjcF
Região, Regionalização e Regionalidade: Questões Contemporâneas
HAESBAERT, Rogério. Região: Diversidade territorial e globalização. In: GEOgraphia – Revista 
do Departamento de Geografia UFF, Ano 1, nº 1, 1999 (p.15-39).
https://goo.gl/18wB7B
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UNIDADE Região e Regionalização na Geografia
Referências
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material e não-formal do direito. São Paulo: Humanitas, 2005. 
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grafia, Rio de Janeiro, v. 57, n. 3, p. 21-28, jul/set 1995. 
GILBERT, A. The new regional geography in English and French-speaking countries. 
Progress in Human Geography, v. 12, n. 2, p. 208–228, 1988. 
GOMES, Paulo César da Costa. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, 
Iná; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato. Geografia: concei-
tos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. 
HAESBAERT, Rogério. Regional-global: dilemas da região e da regionalização na 
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Campinas: Papirus, 1988. 
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MASSEY, Doreen. Spatial divisions of labour: social structure and the geography 
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RIBEIRO, Ana Clara Torres. Regionalização: fato e ferramenta. In: LIMONAD, 
Ester; HAESBAERT, Rogério; MOREIRA, Ruy. Brasil, século XXI: por uma nova 
regionalização. São Paulo: Max Limonad, 2004, p. 194 – 212. 
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SANTOS, Milton. Nação, Estado e território. In: MENDONÇA, Sonia Regina de; 
MOTTA, Marcia Maria Menendes (Org.). Nação e poder: as dimensões da história. 
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Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988. 
THRIFT, Nigel. Visando o âmago da região. In: Gregory, Derek; MARTIN, Ron; 
SMITH, Graham (Orgs.) Geografia Humana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
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Outros materiais