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Geografia Regional
Os Processos de Regionalização após a Segunda Guerra Mundial
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Eduardo Augusto Wellendorf Sombini
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
• Introdução;
• A Regionalização do Espaço Mundial;
• A Ascensão dos EUA;
• A Modernização Conservadora dos Países Periféricos;
• O Caso das Zonas de Processamento para Exportação (ZPEs).
 · Analisar as características do espaço mundial após a Segunda 
Guerra Mundial;
 · Evidenciar a modernização conservadora do EUA; 
 · Explicar o que significam as Zonas de Processamento para 
Exportação (ZPEs).
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Os Processos de Regionalização 
após a Segunda Guerra Mundial
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Os Processos de Regionalização após a Segunda Guerra Mundial
Introdução
Nesta unidade, vamos tratar da regionalização após a Segunda Guerra Mundial, 
evidenciando alguns eventos do período e suas situações, bem como algumas 
teorias que abordam e procuram compreender estes processos da regionalização 
do espaço mundial.
A Regionalização do Espaço Mundial
A regionalização do espaço mundial teve como fundamento teórico, principal-
mente, o modelo centro-periferia. Essa interpretação enfatiza os vínculos de do-
minação que certos países hegemônicos do sistema mundial (do ponto de vista 
econômico, político e militar) construíram, historicamente para subordinar outras 
áreas do planeta.
Além disso, essa produção de hierarquias no sistema mundial se realizou por meio 
de estratégias variadas e, muitas vezes combinadas, que incluíram a colonização, a 
expansão imperialista e, no caso de países independentes, a subordinação econômica.
Independentemente das formas concretas de realização, essas estratégias de 
controle dos países periféricos criaram obstáculos estruturais ao desenvolvimento 
econômico autônomo desses Estados nacionais. Partindo do modelo centro-
periferia, diversas propostas clássicas de regionalização do espaço mundial surgiram. 
Entre elas, a divisão entre países do Norte (desenvolvidos) e do Sul (subdesen-
volvidos) vem sendo a mais influente e duradoura nas últimas décadas. Essa clas-
sificação partiu inicialmente de uma divisão internacional do trabalho, na qual os 
países do Sul eram exportadores de bens primários e importadores de mercadorias 
industrializadas, produzidas nos países do Norte. 
Essa divisão internacional do trabalho, primeiramente, está associada aos desdo-
bramentos da Revolução Industrial na Inglaterra e sua difusão para outros países da 
Europa Ocidental e para os Estados Unidos da América, em um período posterior. 
Com isso, para garantir o fornecimento de matérias-primas e mercados consumi-
dores, as potências europeias colocaram em prática estratégias imperialistas de 
forma mais acentuada no caso da África. 
O imperialismo do fim do século XIX e início do século XX combinou, portanto, 
o expansionismo dos mercados capitalistas e o aumento do poder político dos 
Estados nacionais europeus. Porém, como lembra David Harvey (2014), as lógicas 
imperialistas permaneceram como um elemento essencial para a compreensão das 
dinâmicas do sistema mundial, mesmo após o fim da era dos impérios europeus. 
8
9
A base do imperialismo pode ser encontrada nas desigualdades de poder econô-
mico e político, historicamente, produzidas entre os diversos países. Essas desigual-
dades criam, por exemplo, relações comerciais desfavoráveis aos países periféricos 
que, por falta de alternativas concretas de crescimento econômico, tendem a se 
submeter às condições impostas pelos países centrais que ocupam posições hierar-
quicamente superiores.
Isso faz com que os benefícios da exploração econômica desses países não se 
convertam, como poderiam, em melhorias das condições de infraestrutura dos 
territórios e na formulação de políticas sociais para essas populações. Essas assi-
metrias de poder tendem, dessa forma, a aumentar os vínculos de dependência dos 
países periféricos em relação ao centro do sistema. 
O geógrafo David Harvey (2014, p. 35) explica este processo do imperialismo:
As práticas imperialistas, do ponto de vista da lógica capitalista, referem-
-se tipicamente à exploração das condições geográficas desiguais sob as 
quais ocorre a acumulação do capital, aproveitando-se igualmente do que 
chamo de as “assimetrias” inevitavelmente advindas das relações espa-
ciais de troca. Estas últimas se expressam em trocas não-leais e desiguais, 
em forças monopolistas espacialmente articuladas, em práticas extorsivas 
vinculadas com fluxos de capital restritos e na extração de rendas mono-
polistas. A condição de igualdade costumeiramente presumida em mer-
cados de funcionamento perfeito é violada, e as desigualdades resultantes 
adquirem expressão espacial e geográfica específica. A riqueza e os bem-
-estar de territórios particulares aumentam à custa de outros territórios.
Podemos afirmar, portanto, que as relações econômicas e políticas entre países 
centrais e periféricos vêm, historicamente, reproduzindo as desigualdades existentes 
no sistema mundial.
 A própria ideia de livre fluxo internacional de mercadorias, que costuma ser mo-
bilizada para legitimar a expansão de acordos comerciais, não se realiza sem a me-
diação das formações sócio espaciais e, portanto, dos Estados nacionais com suas 
características específicas. Então, cada país com base em seus atributos competi-
tivos, busca criar condições para se beneficiar nas relações com os demais países.
Como em outras arenas de disputa econômica e política, os agentes que reúnem 
as condições mais vantajosas tendem a assumir a liderança das negociações 
coletivas, influenciando diretamente o processo de tomada de decisões. 
Consequentemente, os resultados são, em geral, o fortalecimento da posição 
dos agentes hegemônicos do sistema mundial, em detrimento dos territórios e das 
populações dos países periféricos que, por não possuírem os mesmos recursos 
econômicos, políticos e militares, dificilmente têm condições de romper os vínculos 
de dependência. 
9
UNIDADE Os Processos de Regionalização após a Segunda Guerra Mundial
A Ascensãodos EUA
Como sabemos, os Estados Unidos da América vem sendo, nas últimas décadas, 
o país hegemônico no sistema mundial. Há diversas interpretações sobre a evolução 
do poder internacional dos EUA, como aquelas propostas por Giovanni Arrighi 
(2012) e David Harvey (2014), entre outras. 
Para sintetizar esse debate, é importante assinalar que a construção de 
hegemonias na escala global está relacionada a duas estratégias complementares: 
a liderança consentida, isto é, uma situação, em que os demais países reconhecem 
a supremacia da potência mundial como benéfica para a manutenção de relações 
internacionais estáveis; e a coerção direta, que diz respeito aos casos, em que o 
país hegemônico impõe seus interesses aos demais, frequentemente com a ameaça 
ou o uso efetivo do seu aparato bélico. 
Durante a Guerra Fria, a posição internacional dos EUA era constantemente 
ameaçada pela URSS, a outra superpotência que delimitava os contornos da 
geopolítica bipolar do período posterior à Segunda Guerra Mundial. 
Enquanto a URSS esteve envolvida diretamente nos conflitos na Europa durante 
a guerra, o que significou altos custos para o país, os EUA se adiantaram na formu-
lação da nova ordem mundial que passou a vigorar com o encerramento da guerra.
David Harvey (2014, p. 48) comenta:
Os Estados Unidos saíram da Segunda Guerra Mundial como, de longe, 
a potência mais dominante. Eram líderes na tecnologia e na produção. 
O dólar (apoiado por boa parte do estoque de ouro do mundo) reinava 
supremo, e o aparato militar do país era bem superior a qualquer outro. 
Seu único oponente digno de nota era a União Soviética, que, no entanto, 
perdera vastos contingentes de sua população e sofrera uma terrível 
degradação de sua capacidade industrial e militar em comparação com 
os Estados Unidos.
Por conta dessa posição privilegiada, os EUA estiveram à frente da construção 
de uma nova estrutura de poder internacional que correspondia diretamente aos 
interesses do país. Em 1944, o país convocou a Conferência de Bretton Woods, 
que reuniu 44 países do mundo capitalista com o intuito de criar uma nova ordem 
monetária internacional. 
Desse modo, a moeda dos Estados Unidos, o dólar, tornou-se a moeda comum 
das transações internacionais, atrelado às reservas de ouro do país. Além disso, os 
acordos de Bretton Woods criaram o Fundo Monetário Internacional (FMI), com 
o intuito de regular os fluxos financeiros internacionais e supervisionar a ação dos 
Estados nacionais, e o Banco Interamericano de Reconstrução e Desenvolvimento 
(BIRD, atual Banco Mundial), com o objetivo de oferecer empréstimos internacionais 
aos países afetados pela guerra. 
10
11
Figura 1 – O Hotel Mount Washington, em Bretton Woods, 
New Hampshire, local da histórica Conferência de 1944.
Fonte: Wikimedia Commons
Nas décadas subsequentes, as políticas do FMI e do Banco Mundial foram 
reorientadas, mas se mantiveram associadas às principais diretrizes dos Estados 
Unidos. A nova ordem monetária internacional criada em Bretton Woods foi, 
desde o início, fortemente orientada pelos EUA que passou a ter condições de 
submeter as políticas econômicas de outros países aos seus interesses específicos, 
por meio de instituições internacionais que supostamente buscariam preservar o 
interesse coletivo do sistema internacional.
Ascensão dos EUA, pós-Segunda Guerra Mundial
O sistema econômico internacional que surgiu sob a hegemonia norte-americana promoveu 
a integração dos mercados dos países centrais (EUA, Europa e Japão), dinamizando o 
crescimento desses países num contexto de expansão contínua do mercado mundial 
capitalista. Papel decisivo nesse processo foi cumprido pelas corporações norte-americanas, 
que, ao se projetarem internacionalmente, difundiram seus padrões de organização, 
produção, distribuição, � nanciamento e consumo, transformando-se no modelo de empresas 
para europeus e japoneses. Nesse período, o êxito dos EUA na contenção ao comunismo 
e na expansão de seu capitalismo corporativo passava pela recuperação econômica da 
Europa e do Japão, levando os norte-americanos a promoverem uma gestão multilateral 
e cooperativa de sua hegemonia, marcada pela ajuda econômica e política aos seus 
aliados e concorrentes capitalistas. Cabe reconhecer, no entanto, que ao longo do período 
expansionista pós-1945, foram sendo gestadas as condições que trariam novamente as 
crises econômicas e as competições interestatal e intercapitalista, inerentes ao capitalismo. 
Primeiro que, mesmo em um período de “hegemonia benevolente”, os EUA mantiveram um 
permanente expansionismo do seu poder no sistema internacional, passando a encontrar 
limites na própria ordem internacional montada no pós-guerra. Segundo que, aos poucos, 
os parceiros econômicos dos EUA começaram a retomar seus projetos nacionais de expansão 
territorial e econômica, competindo com ele por mercados e territórios. A recuperação 
econômica da Europa Ocidental e do Japão permitiu a formação de poderosas corporações 
transnacionais nesses países, sobretudo na Alemanha e no Japão, que passaram a disputar os 
mercados internos e externos com as corporações norte-americanas. Com salários inferiores 
aos padrões norte-americanos, desenvolvimento tecnológico e uma produtividade maior 
do que a média norte-americana em alguns setores, as corporações japonesas e alemãs 
conseguiram baixar os preços de seus produtos no mercado mundial, tornando-se líderes 
em setores importantes da economia mundial.
Ex
pl
or
Fonte: Texto literal extraído de SANTOS, Marcelo. A supremacia dos EUA no pós-Guerra Fria. Perspectivas, São Paulo, 29: 37-66, 2006. 
Disponível em: http://seer.fclar.unesp.br/perspectivas/article/viewFile/32/25. Acesso em 31 de jul de 2017.
11
UNIDADE Os Processos de Regionalização após a Segunda Guerra Mundial
Já que o governo dos EUA controla o dólar, que se tornou a moeda de referên-
cia do mundo, o país ganhou enormes poderes sobre os fluxos monetários interna-
cionais, que são impensáveis para os demais países. Essa é, certamente, uma das 
expressões mais incontestáveis da hegemonia dos EUA no sistema mundial e uma 
das características gerais das potências mundiais.
Fiori (2009, p. 172) comenta: 
Depois do século XVI, foram sempre os “Estados-economias nacionais” 
que lideraram a expansão capitalista e sempre foram os Estados 
expansivos ganhadores que lideraram a acumulação de capital, em escala 
mundial. E a “moeda internacional” sempre foi a moeda do “Estado-
economia nacional” mais poderoso, numa determinada região e durante 
um determinado tempo.
Elevados à categoria de potência inquestionável do mundo capitalista, os EUA 
aprofundaram as lógicas imperialistas por meio de suas políticas externas, buscando 
ampliar as áreas de influências que detinham nas periferias do sistema mundial 
para garantir mercados para suas corporações e poder político para seu Estado.
A Modernização Conservadora 
dos Países Periféricos
As questões do subdesenvolvimento passaram a ser consideradas mais intensa-
mente no debate internacional nesse período e as teorias conservadoras da moder-
nização foram formuladas e difundidas nos países periféricos. O traço primordial 
dessas teorias era considerar o subdesenvolvimento como uma etapa transitória 
que poderia ser superada com a adoção de políticas de modernização da econo-
mia, do território e da sociedade dos países considerados “atrasados”. 
Preocupados com o avanço das propostas políticas socialistas, os Estados Unidos 
ofereceram amplos montantes financeiros em programas de “ajuda internacional” 
para que os países do Sul importassem as tecnologias industriais e os padrões da 
sociedade de consumo norte-americana, entre outras questões. 
Para Milton Santos (2003), trata-se de uma ilusão de melhoria das condições 
dos países periféricos que tem como consequência, ao contrário, o aumento da 
dependência externa e dos vínculos de subordinação. Esse tipo de modernização, 
portanto, difunde do centro para a periferia do sistemamundial as inovações 
técnicas e os modelos de consumo existentes nos países desenvolvidos, mas como 
as amarras do subdesenvolvimento não são, de fato, enfrentadas nos países do Sul, 
a pobreza e as desigualdades não têm perspectivas de ser superadas. 
12
13
Milton Santos (2003, p. 29) afirma:
De ora em diante, dever-se-á dar aos pobres a impressão, e não somente a 
esperança, de que estão emergindo da pobreza. Eles passarão, portanto, 
a testemunhar um aumento em termos absolutos de sua renda, isto é, de 
seu consumo de bens e serviços. Mas como está fora de questão reduzir 
as taxas de acumulação e de desigualdade, o que significaria a morte do 
sistema, a pobreza não será eliminada, apenas mascarada.
Essas propostas de modernização conservadora foram amplamente difundidas 
entre as décadas de 1950 e 1970 e adotadas por boa parte dos países da periferia 
do mundo capitalista. Por outro lado, também, surgiram propostas que buscavam 
promover o desenvolvimento econômico autônomo desses países, rompendo com 
os obstáculos estruturais das condições históricas do subdesenvolvimento. 
O pensamento formulado pela Comissão Econômica para a América Latina e o 
Caribe (CEPAL) é, certamente, um dos mais importantes nesse contexto. Fundada 
em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU), a CEPAL formulou uma 
interpretação a respeito do subdesenvolvimento dos países da região a partir da 
década de 1950, que o considerava um processo histórico particular, associado à 
herança colonial dos países latino-americanos e à inserção subordinada que tive-
ram na divisão internacional do trabalho. 
Uma das questões norteadoras do pensamento cepalino diz respeito à desigual-
dade das trocas econômicas entre os países da América Latina e as economias 
desenvolvidas. 
Os primeiros, por terem sido constituídos em grande medida como exportadores 
de bens primários, não puderam reter a riqueza gerada nos circuitos espaciais 
produtivos de alcance internacional. Como a industrialização das matérias-
primas era realizada, principalmente, nos países centrais, a maior parte do valor 
adicionado nesse processo se mantinha aí, enquanto os países da América Latina 
eram obrigados a importar os produtos industriais. 
Por conta da baixa geração de riqueza nacional, círculos viciosos de dependência 
econômica entrariam em vigor, já que esses países não possuíam recursos suficientes 
para fazer frente às importações por conta da exportação de mercadorias de baixo 
valor agregado. 
Como consequência dessa inserção subordinada na divisão internacional do 
trabalho, haveria nos países periféricos heterogeneidades estruturais. Isso quer dizer 
que a economia, o território e a sociedade seriam marcadas por fortes polarizações 
e desigualdades, fundadoras desses países: algumas atividades econômicas seriam 
integradas aos circuitos globais de acumulação (como no caso da exportação de 
bens primários para os países centrais), enquanto boa parte do sistema econômico 
se realizaria com lógicas de subsistência ou não capitalistas. 
13
UNIDADE Os Processos de Regionalização após a Segunda Guerra Mundial
Essas questões foram desenvolvidas por diversos intelectuais latino-americanos, 
entre os quais se inclui Celso Furtado. O autor foi um dos expoentes da chamada 
escola histórico-estrutural latino-americana, que buscou compreender a formação 
econômica desses países a partir de suas especificidades e não por meio de 
formulações importadas dos países
Para o autor, o subdesenvolvimento pode ser entendido como uma: 
[...] situação estrutural que reproduz permanentemente a assimetria entre 
o padrão de consumo cosmopolita de uns poucos (os modernos e moder-
nizantes) que estão de fato integrados no mundo desenvolvido e as de-
bilidades estruturais do capitalismo periférico (FURTADO,1984, p.110).
Celso Furtado considerou que a subordinação da América Latina estava dire-
tamente relacionada à absorção de valores e referências culturais do centro do 
sistema mundial, descolados das realidades regionais e nacionais. As elites latino-
-americanas, para o autor, se identificavam com a cultura europeia e, a partir do 
século XX, norte-americana, se abdicavam da formulação de um projeto original 
de desenvolvimento desses países.
Dessa forma, a dependência econômica seria também cultural, já que os valores 
dominantes das sociedades latino-americanas estariam muito mais próximos dos 
países centrais que dos repertórios culturais populares de cada país.
A ação de romper os obstáculos estruturais do subdesenvolvimento dessa pers-
pectiva estaria associada à construção de um projeto nacional de desenvolvimento, 
que permitisse a industrialização dos países latino-americanos. Esta é a grande 
ênfase das análises econômicas da CEPAL: 
A criação de circuitos industriais internos aos países latino-americanos permitiria 
um crescimento econômico sustentado, com maior grau de autonomia diante das 
práticas de subordinação dos países centrais e dos EUA, em particular.
Para Celso Furtado, seria necessário que o Brasil assumisse o controle sobre o 
futuro de suas dinâmicas econômicas, por meio da criação de centros internos de 
acumulação que permitissem que os excedentes da atividade produtiva não fossem 
direcionados para os países industriais desenvolvidos, mas que permanecessem no 
interior dos territórios nacionais.
 Esse pensamento econômico influenciou fortemente diversas ações de cunho 
desenvolvimentista dos Estados latino-americanos e, em especial, do governo bra-
sileiro. O caso mais emblemático dessa estratégia foi o Plano de Metas de Juscelino 
Kubitschek: realizado entre 1956 e 1960. Esse plano buscava promover a indus-
trialização pesada do país e fazer a economia brasileira crescer 50 anos em 5.
Por meio de um amplo programa de investimentos em infraestruturas de trans-
portes e energia e a construção da nova capital do país, Brasília – considerada a 
“meta-síntese” do plano – o governo federal buscou acelerar os investimentos ne-
14
15
cessários para completar a industrialização brasileira, que vinha se realizando nas 
décadas anteriores em ritmos mais lentos.
O principal objetivo era ampliar, no Brasil, as indústrias de base (aquelas que 
fornecem insumos para as demais atividades produtivas) e permitir, dessa forma, o 
desenvolvimento industrial acelerado das indústrias de bens de consumo duráveis 
(como a indústria automobilística) e as indústrias de bens de consumo não-duráveis.
Esses três setores compõem o chamado “tripé” da industrialização do período na-
cional desenvolvimentista, de responsabilidade conjunta entre três principais agentes:
• As indústrias de base (como a mineração, a siderurgia, a metalurgia e o setor 
de petróleo) passaram a ser uma prerrogativa do Estado;
• As indústrias de bens de consumo duráveis foram articuladas junto às corpora-
ções internacionais, que detinham as tecnologias apropriadas desses setores;
• E, as indústrias de bens de consumo não-duráveis, menos dependentes de 
tecnologia externa, ficaram concentradas no capital nacional.
Esse esquema geral da industrialização brasileira tinha como principal pressu-
posto a substituição de importações, isto é, a ideia de que o Brasil deveria passar a 
produzir internamente os produtos industriais importados do exterior, como forma 
de reduzir a dependência externa e as desigualdades das trocas comerciais com os 
países industrializados. A mesma estratégia foi aplicada em diversos outros países 
da periferia do sistema mundial sem, contudo, conseguir romper as amarras do 
subdesenvolvimento.
Esse processo pode ser explicado por diversos motivos. O primeiro deles é que 
a dependência tecnológica persistiu, apesar da industrialização de diversos países 
da periferia do sistema mundial. 
A indústria automobilística, por exemplo, ao chegar no Brasil e em outros 
países, não instalou as plantas industriais e os processos produtivos mais avançados 
tecnologicamente, mas trouxe linhas de produção que estavam sendo substituídas 
em seuspaíses de origem, para maximizar o tempo de vida desses equipamentos e 
ampliar a rentabilidade do capital investido.
Ao mesmo tempo, as atividades de pesquisa e desenvolvimento e a aplicação 
de inovações tecnológicas permaneceram intensamente concentradas nos países 
centrais que sediam essas corporações transnacionais. A maior parte dos países 
periféricos, dessa forma, não se apropriaram, de fato, das tecnologias de ponta que 
permitiriam a assimilação dos avanços tecnológicos prévios e o desenvolvimento 
interno de processos e produtos inovadores.
Além disso, a dependência externa de capitais e investimentos, também, foi 
acentuada, apesar da industrialização desses países. O sistema monetário inter-
nacional, dirigido pelos EUA, colocou diversos freios a fluxos de capitais menos 
desiguais entre o centro e a periferia, minando possibilidades de desenvolvimento 
econômico endógeno nos países do Sul.
15
UNIDADE Os Processos de Regionalização após a Segunda Guerra Mundial
Na década de 1970, os EUA quebraram unilateralmente o acordo de Bretton 
Woods, inaugurando um período de economia financeirizada. Lembremos que o 
dólar era garantido por reservas de ouro e esse compromisso foi quebrado em 
1971 pelo, então, presidente dos EUA, Richard Nixon. 
Com isso, os fluxos financeiros deixaram de ter um componente “material” de 
riqueza, abrindo espaço para diversas formas de especulação financeira, o que 
tornou os países mais frágeis do sistema mundial ainda mais vulneráveis ao capital 
internacional.
O Caso das Zonas de Processamento 
para Exportação (ZPEs)
As possibilidades de regulação econômica no interior de cada Estado nação se 
tornaram ainda menores, dadas as novas condições desse período. De toda forma, 
diversos países, por conta de conjunturas nacionais próprias, tentaram se proteger 
desses eventos globais e criar caminhos alternativos de crescimento econômico. 
O caso mais citado é, certamente, o da China, que devido ao regime socialista e 
da economia planificada não foi tão diretamente afetada por essas transformações 
no sistema econômico mundial. A partir do final da década de 1970, sob a liderança 
de Deng Xiaoping, o país promoveu uma série de reformas, que visavam promover 
a abertura econômica do país e a adoção de princípios da economia de mercado. 
Ao contrário das rápidas transformações impostas externamente a que outros 
países periféricos estiveram submetidos entre as décadas de 1970 e 1980, o forte 
controle exercido pelo governo central chinês fez com que a abertura econômica 
fosse gradual. 
Até hoje, a economia chinesa tem um regime particular, já que participa 
diretamente das esferas de acumulação de capital – produzindo boa parte dos 
bens manufaturados do planeta e possuindo uma posição elevada na hierarquia 
do comércio internacional, entre outros aspectos –, ao mesmo tempo em que 
permanece estritamente controlada pelo governo central do país, que impõe um 
conjunto de condições para a instalação e a operação de corporações estrangeiras, 
por exemplo. 
Dessa forma, o território nacional chinês permanece, no geral, fortemente 
fechado às influências da globalização, enquanto algumas áreas específicas do país 
estão diretamente integradas aos circuitos espaciais produtivos de escala global. 
Trata-se das Zonas de Processamento para Exportação (ZPEs) ou as Zonas 
Econômicas Especiais (ZEE), instaladas a partir da década de 1980 no litoral do 
país, com o objetivo de atrair investimentos externos e corporações internacionais. 
As ZPEs possuem políticas específicas, orientadas de acordo com os princípios 
16
17
da economia de mercado e foram pensadas como plataformas industriais de 
exportação no território chinês. A atração de capitais externos segue princípios 
mais flexíveis, mas, ainda assim, o governo chinês mantém uma clara orientação 
dos papeis que desempenham. 
Figura 2
Fonte: Wikimedia Commons
As corporações transnacionais se beneficiam dos baixos custos oferecidos pela 
força de trabalho abundante e pela infraestrutura instalada nessas ZPEs, ao mesmo 
tempo em que o Estado chinês impõe compensações, como a assimilação de 
tecnologias. Trata-se, portanto, de uma trajetória particular de industrialização na 
escala mundial, por conta das particularidades do país. 
Arrighi (2012, p. 42) explica a política das ZPEs na China:
Graças ao tamanho continental e à imensa população do país, essas 
políticas permitiram ao governo chinês combinar as vantagens da 
industrialização voltada para a exportação, induzida em grande parte 
pelo investimento estrangeiro, com as vantagens de uma economia 
nacional centrada em si mesma e protegida formalmente pelo idioma, 
pelos costumes, pelas instituições e pelas redes, aos quais os estrangeiros 
só tinham acesso por intermediários locais. Uma boa ilustração dessa 
combinação são as imensas ZPEs que o governo chinês ergueu do nada e 
que hoje abrigam dois terços do total mundial de trabalhadores em zonas 
desse tipo.
As experiências citadas nesta unidade permitem concluir que a industrialização 
dos países periféricos se realizou de formas particulares, devido às características 
próprias de cada formação sócio espacial e dos papeis desempenhados na divisão 
internacional do trabalho e no sistema mundial.
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UNIDADE Os Processos de Regionalização após a Segunda Guerra Mundial
Assim, o que nos importa reter é que os processos de industrialização e trans-
formação econômica dos países periféricos está relacionada a uma complexifica-
ção da divisão internacional do trabalho e uma redefinição da regionalização do 
espaço mundial. 
Com esse processo, a hegemonia dos países centrais, sobretudo dos EUA, tam-
bém, transforma-se e ascendem potências econômicas e políticas que têm condi-
ções de rivalizar com a liderança dos Estados Unidos, como é o caso da China.
Outros países, como Brasil, Índia e China, também, conquistam novos papéis 
nas hierarquias urbanas mundiais, ainda que em um patamar inferior. É preciso levar 
em conta, portanto, que o sistema mundial está em permanente transformação e 
as políticas nacionais de desenvolvimento são essenciais para o reposicionamento 
dos países nas conjunturas mundiais. 
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
O Choque das Civilizações e a Recomposição da Nova Ordem Mundial
HUNTINGTON, Samuel. O choque das civilizações e a recomposição da nova 
ordem mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.
 Leitura
Processamento de Exportações: Um Instrumento Defasado?
MORAES, Bruno de Paula. Zonas de Processamento de Exportações: Um instru-
mento defasado? Brasília, UNB, 2015.
https://goo.gl/6STzAE
A Supremacia dos EUA no Pós-Guerra Fria
SANTOS, Marcelo. A supremacia dos EUA no pós-Guerra Fria. Perspectivas, São 
Paulo, 29: 37-66, 2006.
https://goo.gl/ADeYpM
Entra em Operação a Primeira Zona de Processamento de Exportação do Brasil
BRASIL. Entra em operação a primeira Zona de Processamento de Exportação 
do Brasil. Brasília, Portal Brasil, 30/08/2013.
https://goo.gl/Q6gKG5
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Referências
ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. 
FURTADO, Celso. Cultura e desenvolvimento em época de crise. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1984.
HARVEY, David. O novo imperialismo. São Paulo: Loyola, 2014. 
ISNARD, Hildebert. O espaço geográfico. Coimbra: Almedina, 1982. 
SANTOS, M. Planejando o subdesenvolvimento e a pobreza. In: SANTOS, Milton. 
Economia espacial: críticas e alternativas. São Paulo: Edusp, 2003.
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