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APOSTILA - LITERATURA BRASILEIRA (UNIFCV) (1)

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Prévia do material em texto

Literatura 
Brasileira
Professor Me. Bruno Alexandre Matsushita 
AUTOR
 Prof. Me. Bruno Alexandre Matsushita
●	 Graduação em Letras Português-Inglês e Literaturas Correspondentes (UEM)
●	 Mestrado em Teorias Literárias (UEM)
●	 Doutorando em Teorias Literárias (UEL)
●	 Professor universitário em Instituto Federal do Paraná
●	 Atua na área de Literatura, Inglês Instrumental para engenharias, Leitura e Pro-
dução de Gêneros Acadêmicos e orientação de TCCs e dissertações
●	 http://lattes.cnpq.br/4791172604142301
 Bruno Alexandre Matsushita é graduado em Letras Português-Inglês e Litera-
turas Correspondentes pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), possui mestrado 
em Letras com ênfase em Teorias Literárias pela mesma universidade e, atualmente, é 
doutorando em Teorias Literárias na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Desde a 
graduação, desenvolve pesquisa acadêmica sobre letramento literário e Literatura, é autor 
de diversos artigos e materiais didáticos publicados sobre Literatura e gêneros textuais, 
além de livros sobre terapias alternativas. Sua área de interesse em pesquisa acadêmica 
é Clarice Lispector e literaturas com viés existencialista, religiosidade neopagã, Bruxaria e 
Wicca.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a)!
Convido você a entrar comigo neste universo da Literatura Brasileira e aprender 
mais sobre a literatura, o que é arte, seus aspectos culturais, características do texto literá-
rio e não literário, as manifestações literárias e os principais expoentes de nossa literatura.
Na	Unidade	I,	discorrerei	sobre	o	papel	do	texto,	o	que	é	literatura,	o	que	configura	
um	texto	literário,	os	recursos	necessários	para	identificar	e	catalogar	um	texto	como	literá-
rio,	as	formas	literárias,	e	como	eles	influenciaram	a	construção	de	nossa	cultura	folclórica	
e apresentarei um roteiro bem detalhado de como realizar uma análise de textos literários.
Na Unidade II, apresentarei a você as diferentes formas de representações literá-
rias, falaremos sobre falaremos sobre as principais manifestações na Literatura Brasileira e 
seus principais autores, falaremos também sobre literatura escrita por mulheres, literatura 
escrita por minorias e classes mais vulneráveis como forma de libertação e expressão 
dessa cultura.
Já na Unidade III, abordaremos as modalidades clássicas de textos literários e 
discorreremos sobre as particularidades da Literatura Brasileira, falaremos também sobre o 
cânone literário e como se dá o processo de escolha de livros e materiais para o ensino de 
literatura, por meio das teorias sobre letramento literário.
Por	fim,	na	Unidade	IV,	abordaremos	as	práticas	literárias,	como	orientar	e	planejar	
oficinas	pedagógicas	 sobre	 contação	de	histórias,	 o	papel	 do	professor	 como	mediador	
da leitura literária e os processos de formação do leitor de textos literários e outros, como 
vídeos,	HQs,	cinema,	televisão,	pinturas	e	fotografias.
Espero que você aproveite este curso e que ele possa expandir seus conhecimen-
tos sobre o universo da Literatura Brasileira. É um prazer poder contribuir em sua jornada 
rumo ao conhecimento! Um abraço e bom estudo!
Bruno Alexandre Matsushita
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 6
O Papel do Texto
UNIDADE II ................................................................................................... 34
Representações Literárias
UNIDADE III .................................................................................................. 72
Letramento Literário
UNIDADE	IV .................................................................................................. 90
Práticas Literárias
5
Plano de Estudo:
●	 Conceito de literatura
●	 Tipos de texto: literário e não-literário
●	 Gêneros e formas literárias: prosa e poesia
●	 Recursos estilísticos do texto literário
●	 Leitura e interpretação de textos literários
Objetivos da Aprendizagem
●	 Conceituar o que é literatura e porque ela é 
compreendida como uma expressão artística e cultural
●	 Discernir	um	texto	literário	e	um	texto	não-literário	por	meio	da	identificação	dos	
recursos estilísticos, formas e gêneros literários
●	 Operar os recursos necessários paraa interpretação de textos literários
UNIDADE I
O Papel do Texto
Professor Me. Bruno Alexandre Matsushita
6UNIDADE I O Papel do Texto
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), vamos iniciar nosso curso de Literatura Brasileira discorrendo 
sobre	o	que	é	literatura	e	sua	difícil	definição,	pois	veremos	que	é	um	conceito	construído	
culturalmente	por	um	processo	histórico.	Aprenderemos	também	sobre	os	elementos	que	
tornam	um	texto	literário	ou	não,	como	a	forma,	as	figuras	de	linguagens	podem	tornar	o	
texto literário e também discorreremos sobre os operadores de leitura dos textos literários, 
principalmente	dos	gêneros	narrativo	e	lírico.	Embora	este	seja	um	capítulo	bastante	teórico	
e	com	muitas	conceituações,	vamos	exemplificar	sempre	que	possível	para	que	você	se	
sinta mais confortável e consiga compreender todos esses conceitos! Boa leitura! 
7UNIDADE I O Papel do Texto
1. O QUE É LITERATURA ?
Quando pensamos em literatura, logo nos vem à mente textos rebuscados, por ve-
zes de difícil compreensão e alguns títulos como Dom Casmurro, Grande Sertão: Veredas 
e Marília de Dirceu,	mas,	afinal,	o	que	é	Literatura?	Antes	de	respondermos	essa	pergunta,	
precisamos atentar para o processo de construção do que entendemos hoje como literário.
De acordo com Zappone e Wielewicki (2009, p. 19), 
esse processo mental de associação entre a palavra literatura e esse rol 
específico	 de	 textos	 parece-nos	muito	 natural	 e	 imediato,	 de	 forma	 que	 o	
próprio	conceito	de	 literatura	 imiscui-se,	mistura-se	com	a	descrição	desse	
determinado	conjunto	de	textos.	E,	assim,	ficamos	com	a	impressão	de	falar	
de um objeto, a literatura, como um fato concreto, imediato, pronto e acabado, 
como se sempre tivesse sido assim. [...] Como comenta Williams (1979), ao 
falar desse processo de associação entre conceito e descrição da literatura, 
“esse é um sistema de abstração poderoso, e por vezes proibitivo, no qual 
o	conceito	de	‘literatura’	é	ativamente	ideológico”	(WILLIAMS,	1979,	p.	51).	
E	o	aspecto	 ideológico	dessa	associação	 reside	no	 fato	de	ele	apagar	ou	
encobrir	para	todos	nós	a	ideia	de	que	o	conceito	de	literatura	construiu-se	e	
constrói-se	através	de	um	processo	que	é	social	e	histórico	ao	mesmo	tempo.
Ou seja, o que entendemos hoje como literatura é construção de um processo 
histórico,	social	e	cultural.	O	que	conhecemos	hoje	como	literatura,	uma	arte	diferente	da	
música, pintura e cinema, por exemplo, é fruto de um processo que começou a desenvol-
ver-se	após	metade	do	século	XVIII	e	concretizou-se	no	século	XIX.	O	termo	“literatura”,	no	
passado,	era	utilizado	para	referir-se	a	qualquer	estudo	de	área	específica,	era	mais	uma	
característica de alguém que sabia ler e escrever, em tempos em que pouquíssimas pes-
soas	eram	dotadas	de	tais	habilidades,	do	que	do	objeto	por	si	mesmo.	Vemos	resquícios
8UNIDADE I O Papel do Texto
	disso	quando	nos	deparamos	com	expressões	como	“literatura	médica”.	Ainda	de	
acordo com Zappone e Wielewicki (2009, p.20), “mesmo no sentido inicial de seu emprego, a 
saber,	como	uma	condição	cultural	(muito	próxima	ao	conceito	atual	de	letramento), a literatu-
ra	especificava	uma	distinção	social	particular,	ligando-a,	portanto,	às	classes	privilegiadas”. 
Após	a	segunda	metade	do	século	XVIII	é	que	a	palavra	literatura	passou	a	abarcar	outras	
significações,	além	de	“conhecimento”	e	“erudição”,	como	um	fenômeno	estético	e	artístico	
relacionado	à	uma	ideia	de	“gosto”	e	“sensibilidade”.	É	importante	ressaltar	que	a	literatura	
era privilégio de uma classe abastada, logo,
as ideias de gosto, de beleza e de sensibilidade, através das quais se de-
fendeu o argumento estético da literatura,foram, sem dúvida, o resultado da 
atividade	de	setores	dominantes	que	exerceram	a	própria	atividade	do	gosto	
como forma de disseminar seus valores. Esse gosto, exercido como algo 
objetivo,	desempenhou,	em	termos	de	valores	de	classe,	um	papel	suficien-
temente	hegemônico	para	que	 fosse	aceito,	 tanto	pelos	 “amadores	cultos”	
que o exerciam, quanto pelo público leitor que paulatinamente se ampliava. 
Williams	(1979),	chama	atenção	para	o	fato	de	esse	“gosto”,	que	passou	a	
aquilatar como literário certos textos, possuir uma base caracteristicamente 
burguesa e subjetiva (ZAPPONE; WIELEWICKI, 2009, p. 21).
Como podemos observar, com o passar do tempo, foram sendo atribuídos diversas 
características	ao	termo	literatura.	Foi	apenas	no	final	do	século	XIX	e	início	do	século	XX	
que	os	teóricos	e	filósofos	passaram	a	definir	a	literatura	como	um	fato	concreto	e	obser-
vável, antes pautado nas impressões subjetivas e sensíveis, agora mais voltadas a um 
método	mais	objetivo.	Ou	seja,	os	textos	deveriam	possuir	características	muito	específicas	
que comprovariam sua literariedade e, por consequência, os diferenciariam de outros tex-
tos, tidos como não-literários. Essa corrente foi extremamente popular na época e algumas 
escolas reproduzem seu discurso, como a do Formalismo Russo e a do New Criticism. 
Essas escolas textualistas acreditam que o texto literário possui características que o tor-
nam literário.
9UNIDADE I O Papel do Texto
SAIBA MAIS
Basicamente e de forma sumária, podem ser consideradas como marcas textuais de 
literariedade: 1) a oposição da linguagem literária à linguagem comum, sendo a litera-
tura	uma	forma	textual	que	coloca	em	primeiro	plano	a	própria	linguagem,	ou	seja,	há	
ênfase na função poética dessa linguagem; 2) a integração da linguagem como organi-
zação	especial	de	palavras	e	estruturas	que	estabelecem	relações	específicas	entre	si,	
potencializando o sentido dos textos; 3) a distinção entre o caráter referencial dos textos 
não-literários	e	o	caráter	ficcional	dos	textos	literários,	ou	seja,	a	literatura	abarcaria	tex-
tos	que	criam	uma	relação	especial	com	o	mundo:	uma	relação	ficcional	onde	o	mundo,	
os eventos e os seres evocados não precisam, necessariamente, ser reais, mas criados 
ou	imaginados;	4)	os	textos	literários	teriam	um	fim	em	si	mesmos,	pois,	ao	colocar	a	
própria	linguagem	em	primeiro	plano,	estariam	operando	seu	caráter	estético,	que	oca-
sionaria, por sua vez, o prazer nos receptores desse texto. 
(ZAPPONE; WIELEWICKI, 2009, p. 22 - 23).
Já	na	década	de	60,	no	século	XX,	alguns	teóricos	passam	a	atentar	ao	fato	que	
as	“características	literárias”	podem	ser	encontradas	também	em	textos	referenciais,	tidos	
como	não-literários.	Vejamos	o	exemplo	abaixo:
ASSASSINATO NA RUA DA CONSTITUIÇÃO
O funcionário do Ministério da Fazenda, Misael, 63, matou a tiros a ex-prostituta Maria 
Elvira, com quem vivia há três anos. O crime ocorreu na rua da Constituição, Rio de Ja-
neiro, motivado, ao que parece, por uma série de traições da mulher. Ao que tudo indica, 
os amantes mudavam-se de bairro toda vez que Misael, avesso a escândalos, descobria 
uma traição de Maria Elvira. A polícia encontrou a vítima em decúbito dorsal, com marcas 
de seis tiros no corpo.
(ARNALDO	JUNIOR,	2009,	p.	35)
10UNIDADE I O Papel do Texto
TRAGÉDIA BRASILEIRA
(Manuel Bandeira)
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.Conheceu Maria Elvira na Lapa 
-	 prostituída,	 com	sífilis,	 dermite	 nos	 dedos,	 uma	aliança	 empenhada	e	 os	 dentes	 em	
petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, 
pagou médico, dentista, manicura...Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se 
apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia 
dar	uma	surra,	um	tiro,	uma	facada.	Não	 fez	nada	disso:	mudou	de	casa.Viveram	três	
anos assim.Toda vez que Maria Elvira arranjava um namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, 
Bom	Sucesso,	Vila	Isabel,	Rua	Marquês	do	Sapucaí,	Niterói,	Encantado,	Rua	Clapp,	outra	
vez	no	Estácio,	Todos	os	Santos,	Catumbi,	Lavradio,	Boca	do	Mato,	Inválidos...Por	fim,	na	
Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis 
tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
(BANDEIRA, 1973, p. 146 - 7)
Observe que os dois textos abarcam a mesma temática, uma mulher assassinada a tiros 
por um homem que fora traído, mas, individualmente, cada texto suscita emoções dife-
rentes no leitor. O primeiro, Assassinato na Rua da Constituição, tem caráter descritivo, 
objetivo, aparentemente descompromissado com a construção da estética e recepção 
do texto, tendo como único objetivo informar o ocorrido e podendo ser veiculado, muito 
provavelmente, em um jornal. O segundo, por sua vez, Tragédia Brasileira, cria uma at-
mosfera	que	ambienta	o	leitor	sobre	a	história	narrada,	há	uma	preocupação	estética	por	
parte	do	narrador	em	como	o	 texto	vai	ser	 recebido	pelo	seu	 leitor.	Ante	o	exposto,	fica	
evidente que, diferentemente do primeiro texto, o segundo tem características literárias. 
Se o texto literário nem sempre tem marcas em si mesmo de sua literariedade, é a par-
tir	da	década	de	60	que	os	teóricos	passam	a	considerar	o	 leitor	no	processo	de	defini-
ção do que é literatura. “Assim, o ponto de discussão sobre o que é literatura desloca-se 
da esfera do texto e de suas ‘propriedades peculiares’ e passa para a esfera do leitor, 
uma	vez	que	o	 texto	só	existiria	a	partir	do	ato	de	 leitura	dos	 leitores	e	o	seu	significa-
do	só	emergiria	através	de	um	ato	interpretativo”	(ZAPPONE;	WIELEWICKI,	2009,	p.	23).	
Todos os escritores, no momento em que escrevem, têm presente um público 
para	além	deles	próprios.	Uma	coisa	não	está	inteiramente	dita	até	que	é	dita	
a alguém: isto é, como vimos, o sentido do acto da publicação. Mas podemos 
igualmente	afirmar	 que	uma	coisa	apenas	pode	 ser	 dita	 a	 alguém	 (isto	 é,	
publicada)	se	for	dita	por	alguém.	Os	dois	“alguém”	não	têm	forçosamente	
que coincidir. É mesmo raro que tal aconteça. Por outras palavras, existe um 
público-interlocutor	na	própria	origem	da	criação	literária	(ESCARPIT,	1969,	
p.	165).
11UNIDADE I O Papel do Texto
Nessa	nova	fase	de	definição	da	literatura,	com	uma	abordagem	mais	sociológica,	
o	caráter	literário	do	texto	é	definido	por	sua	recepção,	das	relações	entre	texto/autor	e	o	
público	leitor.	Essa	visão	com	abordagem	sociológica	influenciou	Cândido	(1981)	em	sua	
elaboração de um sistema literário.
[...] convém principiar distinguindo manifestações literárias, de literatura 
propriamente dita, considerada aqui um sistema de obras ligadas por deno-
minadores comuns, que permitem reconhecer as notas dominantes de uma 
fase. Estes denominadores são, além das características internas (língua, 
temas, imagens), certos elementos de natureza social e psíquica, embora 
literariamente organizados, que se manifestam historicamente e fazem da 
literatura aspecto orgânico da civilização. Entre eles se distinguem: a exis-
tência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes 
do seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de 
público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor (de modo 
geral, uma linguagem traduzida em estilos), que liga uns a outros (CANDIDO, 
1981,	p.	23).
Esse sistema literário	apresentado	por	Antonio	Candido	em	1959,	no	livro	A Forma-
ção da Literatura Brasileira,	reafirma	a	tríade	autor-obra-público,	como	caráter	fundamental	
para que a literatura possa existir. Para Cândido, quando os elementos supracitados no 
excerto	não	estão	articulados,	não	se	pode	afirmar	que	há	literatura,	e	sim	manifestações	
literárias.
De	acordo	com	Zappone	e	Wielewicki	(2009,	p.	25),
se literatura é comunicação e se erige pelos espaços que unem autor-obra-
-público, o conceitode sistema literário de Candido pode ser produtivo como 
explicação	teórica	do	funcionamento	e	construção	da	literatura.	O	conheci-
mento de como esses elementos se relacionam dinamicamente no tempo 
pode ajudar a compreender os caminhos através dos quais a literatura vai se 
construindo e se constituindo, enquanto expressão de uma sociedade.
De	acordo	com	Fish	(1980,	p.10	-	11),
literatura, é meu argumento, é uma categoria convencional. Aquilo que será, 
a qualquer tempo, reconhecido como literatura é função de uma decisão co-
mum sobre aquilo que contará como literatura. Todos os textos têm potencial 
para isso, naquilo que é possível considerar qualquer trecho de linguagem de 
tal forma que ele revelará aquelas propriedades presentemente entendidas 
como literárias. [...] A conclusão é que enquanto literatura é ainda uma cate-
goria,	é	uma	categoria	aberta,	não	definida	por	ficcionalidade,	ou	por	descaso	
com	uma	verdade	proposicional,	ou	por	uma	predominância	de	tropos	ou	fi-
guras, mas simplesmente por aquilo que decidimos colocar ali. E a conclusão 
dessa	conclusão	é	que	o	leitor	é	quem	“faz”	a	literatura.	[...]	Assim,	o	ato	de	
reconhecer literatura não é compelido por algo no texto, nem emerge de uma 
vontade independente e arbitrária; em lugar disso, procede de uma visão 
coletiva acerca do que contará como literatura, uma decisão que estará em 
vigor somente enquanto uma comunidade de leitores ou crentes continuar a 
sustentá-la.
A	visão	de	Fish	(1980)	acerca	do	que	é	literatura	também	está	centrada	no	receptor	
da obra, o leitor, há uma instituição que valida o que é aceito como literário ou não. Pode-
mos citar ainda Cereja e Magalhães (1997, p. 4): “A literatura, como os demais campos da 
12UNIDADE I O Papel do Texto
cultura	e	da	arte,	não	é	um	fenômeno	isolado.	Ela	influencia	e	é	influenciada	por	escritores	
do passado e do presente, por outras artes, por fatores políticos e sociais, por modismos, 
movimentos	culturais,	etc”.	
REFLITA
“A	arte,	e	portanto	a	literatura,	é	uma	transposição	do	real	para	o	ilusório	por	meio	de	
uma estilização formal, que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, 
os sentimentos. Nela se combinaram um elemento de vinculação à realidade natural 
ou	social,	é	um	elemento	de	manipulação	técnica,	indispensável	à	sua	configuração,	e	
implicando uma atitude de gratuidade. Gratuidade tanto do criador, no momento de con-
ceber	e	executar,	quanto	do	receptor,	no	momento	de	sentir	e	apreciar.”
Fonte: CANDIDO, Antonio. Estímulos da criação literária. In: Literatura e Sociedade. 3a. Ed. Rev. São 
Paulo:	Nacional,	1973,	p.	53.
Observamos até aqui, caro(a) aluno(a), que os conceitos de literatura foram sendo 
atualizados	com	o	passar	do	tempo:	desde	o	século	XVIII,	quando	abrangia	textos	valoriza-
dos	pela	sociedade	abastada	da	época	(filosofia,	medicina,	história,	dentre	outros),	até	às	
impressões	sensíveis	de	seus	leitores.	Portanto,	as	relações	de	poder	e	o	contexto	histórico	
é que determinam o que vem sendo expressão de literatura ou não, em cada época, sendo 
parciais	todas	as	definições	apresentadas	até	aqui,	uma	vez	que	o	termo	ainda	está	em	
devir, em construção.
13UNIDADE I O Papel do Texto
2. TIPOS DE TEXTO: LITERÁRIO OU NÃO-LITERÁRIO?
Como mensurado anteriormente, algumas correntes textualistas, como o For-
malismo Russo e o New Criticism,	buscam	no	próprio	texto	marcas	de	sua	literariedade,	
desconsiderando nesse processo de reconhecimento o leitor e suas impressões. É preciso 
entender que o que consideramos hoje como texto literário nem sempre o foi, por exemplo, 
Os Sermões,	 do	Padre	Antônio	Vieira,	 tinha	 um	 caráter	 extremamente	 doutrinário,	 com	
fins	 religiosos;	Os Sertões, de Euclides da Cunha, embora seja um texto literário, tem 
um	forte	apelo	científico	e	histórico	que	muitas	vezes	não	é	percebido	pelo	leitor	comum. 
É	 importante	 ressaltar	 que	 o	 texto	 literário	 é	 mimético	 e	 ficcional.	 Míme-
sis vem do grego μίμησις	 e	 significa	 imitação,	 o	 espaço	 descrito	 em	 uma	
obra pode corresponder a espaços físicos reais, mas não o são de fato, ele 
é	 uma	 imitação,	 uma	 representação,	 desses	 espaços	 reais;	 logo,	 é	 ficcional. 
Então, podemos dizer que para um texto ser considerado literário ou não, além das mar-
cas	textuais	que	apresentaremos	a	seguir,	nos	próximos	tópicos	deste	capítulo,	e	também	
marca	de	ficcionalidade,	ele	precisa	ser	avalizado	por	uma	instituição,	geralmente	acadê-
mica, ou legitimada por um público leitor que o considera como tal.
14UNIDADE I O Papel do Texto
3. GÊNEROS E FORMAS LITERÁRIAS: PROSA E POESIA
O	filósofo	grego	Aristóteles	classificou	os	textos	literários/ficcionais	em	três	grandes	
categorias: épico, lírico e dramático. Por meio das transformações culturais e de gosto da 
sociedade	em	que	estamos	inseridos,	atualmente,	teóricos	preferem	classificar	os	textos	
literários em: narrativo, lírico e dramático. Focaremos, neste momento, apenas nos gêneros 
narrativo (prosa) e lírico (poesia).
SAIBA MAIS
Para	 saber	mais	 sobre	 a	 classificação	 da	 poética	 de	Aristóteles,	 a	 classificação	 dos	
gêneros	e	como	elas	foram	se	modificando	com	o	tempo,	recomendamos	a	leitura	do	
ensaio A Teoria dos Gêneros de Aristóteles, Boileau e Victor Hugo, de Nicole Ayres, cuja 
leitura pode ser feita através do linque: 
<https://homoliteratus.com/teoria-dos-generos-de-aristoteles-boileau-e-victor-hugo/>, 
Acesso em 24 jan. 2021.
3.1 Gênero narrativo
O gênero narrativo é o gênero que mais estamos familiarizados no ocidente, pois é 
um texto contínuo, corrente, que conta sobre determinados fatos. Em Língua Portuguesa, 
convencionou-se escrever este gênero da esquerda para a direita, de cima para baixo. O
https://homoliteratus.com/teoria-dos-generos-de-aristoteles-boileau-e-victor-hugo/
15UNIDADE I O Papel do Texto
 gênero narrativo se concretiza em diversos subgêneros, como: romance, conto, 
crônica	e	até	mesmo	gêneros	híbridos,	como	o	romance	lírico.
3.2 Gênero lírico
O gênero lírico é o gênero que prioriza a subjetividade e se realiza, prin-
cipalmente, por meio da poesia. A poesia se concretiza em um poema, um tex-
to escrito em versos e que tem ritmo, cadência. Há, basicamente, duas formas 
de se construir o ritmo em um poema: por meio da rima e por meio da métrica. 
Precisamos atentar ao fato de que o elemento distintivo entre um gênero e outro é a forma, 
e não o seu conteúdo, uma vez que há também textos narrativos, em prosa, que têm alto 
grau de subjetividade, assim como há poemas que não possuem marca alguma de subje-
tividade. O discurso da poesia é o verso, enquanto o da prosa é o da ausência do verso; 
o discurso da poesia está subordinado às questões rítmicas, o discurso da prosa, embora 
também possa apresentar marcas de ritmo, não. Por exemplo:
Poema tirado de uma notícia de jornal
(Manuel Bandeira)
João	Gostoso	era	carregador	de	feira	livre	e	morava	no	morro	da	Babilônia	num	barracão	
sem número.
Uma	noite	ele	chegou	no	bar	Vinte	de	Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(BANDEIRA, 1973)
Percebemos que se trata de um poema, por conta de sua forma, estruturado em versos, mas 
é um poema de caráter denotativo, referencial, provavelmente um decalque de algum jornal. 
Por hora, é importante que você saiba distinguir um texto narrativo, como um conto, de um 
texto lírico/poético, um poema, por exemplo. Adiante, vamos explorar mais essas caracte-
rísticas e aprenderemos a fazer uma leitura literária de ambos gêneros.
16UNIDADE I O Papel do Texto
4. RECURSOS ESTILÍSTICOS DO TEXTO LITERÁRIO
Já	vimos	anteriormente	que	o	texto	literário	é	mimético	e	ficcional	e	tem	um	forte	
apelo	 estético	 que	 se	 dá	 principalmente	 por	meio	 da	 linguagem.	 Vimos	 também	 que	 a	
linguagem literária é mais evidente no gênero lírico, uma vez que a poesia é subjetiva, com 
linguagem	carregada	ao	máximo	de	significação.	Assim,	o	que	diferenciaum	poema	de	um	
simples desabafo é sua articulação verbal, já que ambas possuem subjetividade. Por isso, 
nenhum outro gênero depende tanto da linguagem quanto do lírico. 
Por sua concentração semântica, por seu ritmo e musicalidade, pela procura 
dos	efeitos	sugestivos	e	simbólicos	das	palavras,	pela	fuga	de	tudo	aquilo	que	
representa lugar-comum ou obviedade linguística, pela tentativa de criação 
de uma unidade de efeito, em que deve prevalecer a impressão de beleza e 
harmonia,	a	 lírica	obrigatoriamente	 transforma	a	 linguagem	na	sua	própria	
essência. Daí que a linguagem de um poema seja sempre palpável, opaca e 
insubstituível	(GONZAGA,	2009,	p.	35).
Dessa forma, é muito difícil encontrar bons poemas traduzidos, já que cada língua 
possui suas peculiaridades, como o ritmo, a sonoridade, as possibilidades linguísticas e 
a precisão vocabular; veremos adiante que uma das formas de se fazer análise de um 
poema é por meio da escansão, a contagem de sílabas métricas, e na transposição de uma 
língua para outra, o texto pode ser danado. A tradução é mais comum e possível em outros 
gêneros, como o narrativo e o dramático.
17UNIDADE I O Papel do Texto
Para Ezra Pound, além da sonoridade, do ritmo e da intensidade semântica, o 
gênero lírico se caracteriza também pelo valor visual e emotivo das imagens. Quando 
lemos um poema, logo nos vem à mente alguma imagem que nos incitam a sentir o que é 
proposto pelo poema, como, por exemplo, neste poema de Olavo Bilac:
ÚLTIMA PÁGINA
Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos
Numa	palpitação	de	flores	e	de	ninhos.
Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos 
(Lembras-te,	Rosa?)	e	ao	sol	de	outubro	nos	amamos.	
Verão.	(Lembras-te,	Dulce?)	À	beira-mar,	sozinhos
Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos; 
E o outono desfolhava os roseirais vizinhos, 
Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos... 
Veio	o	inverno.	Porém,	sentada	em	meus	joelhos,
Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos, 
(Lembras-te,	Branca?)	ardia	a	tua	carne	em	flor...	
Carne,	que	queres	mais?	Coração,	que	mais	querer?
Passam as estações e passam as mulheres...
E eu tenho amado tanto! E não conheço o Amor!
Com a primavera, o sol dourando a areia, o verão, as roseiras etc., vemos que 
as	próprias	imagens	utilizadas	pelo	autor	evocam	uma	atmosfera	de	realização	amorosa.	
A produção dessas imagens está relacionada aos recursos linguísticos, especialmente a 
metáfora;	esses	recursos	linguísticos	também	são	conhecidos	como	figuras	de	linguagem	e	
ajudam os escritores a expressarem suas ideias com energia, beleza, vivacidade e colorido; 
dentre as principais, listamos: 
Metáfora: é o emprego de um termo num sentido diferente do habitual, é uma 
comparação implícita sem o uso de partículas conectivas (sendo a mais comum a partícula 
como). Podemos citar como exemplo a música Gita, de Paulo Coelho e Raul Seixas: “Eu 
18UNIDADE I O Papel do Texto
sou a luz das estrelas / Eu sou a cor do luar / Eu sou as coisas da vida / Eu sou o medo de 
amar...”.	Notamos	que	o	eu-lírico	faz	muitas	afirmações	comparativas	sobre	o	que	ele	é,	
mas sem utilizar-se da partícula como, assim, poderíamos dizer que o eu-lírico é como a 
luz das estrelas, é como a cor do luar, é como as coisas da vida e é como o medo de amar.
Símile: é o emprego de um termo no sentido diferente do habitual, como a metá-
fora, mas com o uso de partículas conectivas (exemplos: como, do qual, assim como). Por 
exemplo: Ele é tão esperto como uma raposa.
Metonímia:	é	a	ampliação	de	âmbito	de	significação	de	uma	palavra	ou	expressão,	
partindo	de	uma	relação	objetiva	entre	a	significação	própria	e	a	figura.	Há	vários	tipos	de	
metonímia, alguns exemplos:
O autor pela obra: Eu leio Guimarães Rosa.
O efeito pela causa: As cãs1 merecem respeito.
O continente pelo conteúdo: Bebi um copo de água.
A parte pelo todo: Moro no Brasil.
O material pelo objeto: O bronze2 repicava alegremente.
A marca pelo produto: Cortei-me com a Gilette.
Anáfora: é a repetição da mesma palavra ou expressão no início das frases, pe-
ríodos ou versos, como no trecho de A Canção de Romeu, de Olavo Bilac: Tudo é silêncio, 
tudo calma, tudo mudez.
Pleonasmo: é o uso de palavras redundantes que avivam a elocução dando ênfase 
ao que o autor quer ressaltar. Citamos como exemplo um trecho do poema de Fernando 
Pessoa, Mar Português:	 “Ó	mar	salgado,	quanto	do	teu	sal	 /	São	 lágrimas	de	Portugal”.	
Pode-se notar nesse trecho quantas palavras o eu-lírico utilizou para ressaltar a salinidade 
do mar português: o adjetivo salgado e os substantivos sal e lágrimas.
Polissíndeto: é a repetição dos conectivos, em especial da conjunção aditiva e, 
dando maior dinamismo ao texto. Isso pode ser percebido no trecho do poema A um Poeta, 
de	Olavo	Bilac:	“Trabalha,	e	teima,	e	lima,	e	sofre,	e	sua!”	
1 Cãs: substantivo feminino plural que se refere às mulheres de cabelos brancos, geralmente anciãs. 
2 O bronze nessa frase faz referência ao sino que é feito do mesmo material.
19UNIDADE I O Papel do Texto
Assíndeto: é a omissão das conjunções, principalmente a aditiva e, conferindo 
uma ideia de monotonia ao texto. O trecho de Joaquim Nabuco ilustra essa situação: “Eu 
tinha	a	fama,	a	palavra,	a	carreira	política....”
Elipse: é a omissão de palavras ou expressões facilmente subentendidas pelo 
contexto e pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. 
No	 trecho	 de	Rubem	Braga:	 “Veio	 sem	 pinturas,	 em	 vestido	 leve,	 sandálias	 coloridas”,	
notamos que há a supressão do pronome ela (ela veio) e também da preposição de (de 
sandálias coloridas). 
Zeugma: é	a	omissão	de	palavras	expressas	anteriormente,	ficando	subentendida	
sua repetição, como no trecho de Camilo Castelo Branco: “Foi saqueada a vila, e assassi-
nados	os	partidários	dos	Filipes”,	em	que	há	zeugma	de	verbo,	sem	esse	zeugma,	a	frase	
ficaria:	Foi	saqueada	a	vila,	e	foram	assassinados	os	partidários	dos	Filipes.	
Hipérbato: ocorre quando há uma inversão na ordem natural dos termos da oração 
(sujeito + verbo + complemento), como no trecho de Carlos Drummond de Andrade: “Pas-
seiam,	à	tarde,	as	belas	na	Avenida”,	sem	a	utilização	de	hipérbato,	a	frase	ficaria:	As	belas	
passeiam na Avenida à tarde.
Aliteração: é a incidência de fonemas consonantais idênticos, como no famoso 
Violões que Choram,	de	Cruz	e	Sousa:	 “Vozes	veladas,	veludosas	vozes,	 /	Volúpias	de	
violões,	vozes	veladas,	/	Vagam	nos	velhos	vórtices	velozes	/	Dos	ventos,	vivas,	vãs,	vul-
canizadas”.	Notamos	a	incidência	de	palavras	com	sons	de	v, atribuindo ao poema uma 
atmosfera de silêncio e sussurro.
Assonância: ocorre quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso 
ou poema, como na música Ana de Amsterdam, de Chico Buarque e Ruy Guerra: “Sou Ana, 
da	cama	/	da	cana,	fulana,	bacana	/	Sou	Ana	de	Amsterdam”	em	que	a	repetição	da	vogal	
a causa assonância no trecho supracitado. 
Onomatopéia: ocorre quando uma palavra ou conjunto de palavras imitam um som 
ou ruído, como uau para designar alegria, ufa para esforço físico, miau para o som emitido 
pelo gato, dentre outros.
20UNIDADE I O Papel do Texto
Sinestesia: é a fusão de diversas sensações sensoriais no texto. É o entrecruza-
mento	de	dois	ou	mais	órgãos	dos	sentidos	dando	uma	sensação	secundária	(sensação	
primária + sensação primária = sensação secundária). Assim, temos como exemplo um 
trecho do poema Violões que Choram,	de	Cruz	e	Sousa:	“Vozes	veladas,	veludosas	vozes”.	
Em vozes veludosas temos duas sensações primárias, a audição (vozes) e o tato (veludo-
sas), que geram uma sensação secundária (vozes doces, calmas, serenas). 
Antítese: ocorre quando se emprega juntas palavras ou expressões de sentidos 
opostos, contrários, como em O Voo do Gênio, de Castro Alves: “Abaixo via a terra abismo 
em	treva!	/	Acima	o	firmamento	abismo	em	luz!”,	em	que	as	palavras	abaixo	e	acima	são	
antônimas.	
Hipérbole:	 é	 a	 figura	que	engrandece	ou	diminui	 exageradamentea	 verdade	a	
fim	de	causar	no	leitor	uma	imagem	emocionante	ou	impacto,	como	no	trecho	de	Emiliano	
Perneta:	“São	horas	de	sofrer.	Que	a	dor	me	despedace”.
Prosopopeia: é a atribuição de ações ou qualidades humanas a seres inanimados, 
irracionais ou abstratos, como no poema Noturno, de Raul de Leoni: “Os pinheiros pensa-
vam coisas longas, / Nas alturas dormentes e desertas... / O aroma nupcial dos jasmins 
delirantes, / Diluindo um cheiro acre de resinas, / Espiritualizava e adormecia / O ar meigo 
e	silencioso”.
Antes	de	encerrarmos	este	tópico,	devemos	ressaltar	que	muitos	poetas	contem-
porâneos não se utilizam do recurso imagético e também de metáforas em suas obras, 
utilizando uma linguagem mais rígida e quase sem musicalidade. Mesmo assim, é inegável 
a	beleza	e	qualidade	de	suas	obras	líricas,	demonstrando,	dessa	forma,	que	não	há	fórmu-
las ou cânone universal para produções artísticas.
21UNIDADE I O Papel do Texto
5. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS
Vimos	até	aqui	que	o	conceito	de	literatura	é	construído	de	acordo	com	o	tempo	e	a	
sociedade, assim como o que é tido como literário ou não e também as formas adequadas 
de ler esses textos. Quando nos propomos a analisar um objeto literário, é preciso seguir 
algumas convenções de análise dessa esfera. É esperado que, de um texto literário, seja 
feita uma leitura literária. De acordo com Hansen,
para	que	uma	leitura	se	especifique	como	leitura	literária,	é	consensual	que	
o	 leitor	 deva	 ser	 capaz	 de	 ocupar	 a	 posição	 semiótica	 do	 destinatário	 do	
texto, refazendo os processos autorais de invenção que produzem o efeito de 
fingimento.	Idealmente,	o	leitor	deve	coincidir	com	o	destinatário	para	receber	
a informação de modo adequado. Essa coincidência é prescrita pelos mo-
delos dos gêneros e pelos estilos, que funcionam como reguladores sociais 
da	recepção	compondo	destinatários	específicos	dotados	de	competências	
diversificadas	(HANSEN,	2005,	p.	20).
Como	se	nota	na	fala	de	Hansen	(2005),	para	que	o	leitor	interaja	de	forma	ade-
quada com o texto literário, faz-se necessário que ele conheça as convenções que regem 
a escrita literária em seus diferentes gêneros (lírico, dramático, narrativo e épico) e também 
dos estilos de época que regulavam essa escrita. Assim, entende-se que a leitura literária 
supõe	um	leitor	que	tenha	uma	formação	muito	específica,	que	lhe	permita	depreender	tais	
convenções	de	escrita	ficcional	e	 tal	 formação,	quase	sempre,	 se	concretiza	na	escola,	
lugar	privilegiado	para	o	ensino.	Uma	das	finalidades	do	ensino	da	linguagem,	 inclusive,	
que compõem os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio é: “Analisar, 
interpretar e aplicar os recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus 
22UNIDADE I O Papel do Texto
contextos, mediante a natureza, função, organização das manifestações, de acordo com as 
condições	de	produção	e	recepção”	(BRASIL,	2002,	p.	127).
Ainda	retomando	os	conceitos	de	Hansen	(2005),	essa	leitura	literária	implica	em	
refazer	o	processo	de	fingimento	 idealizado	pelo	autor	de	determinada	obra.	Nesse	pro-
cesso, deve ser analisado o narrador, o tempo, espaço, personagens e a diegese, levando 
em conta também o contexto sociocultural do momento em que a obra foi escrita. E para 
que essa leitura literária aconteça fazem-se necessários alguns protocolos de leitura a 
serem	seguidos,	o	que	Aguiar	(2000,	p.21)	chama	de	“operações	fundamentais”,	para	que	
ocorra	uma	“aproximação	crítica	de	uma	obra	literária”.	Tais	operações	estão	relacionadas	
à: paráfrase; análise; interpretação e comentário. Das citadas, nos ateremos à análise, 
entendida pelo autor como “a caracterização da forma particular de uma obra, através da 
consideração	de	seus	elementos	internos	e	das	relações	que	mantêm	entre	si”	(AGUIAR,	
2000, p. 22), e nesse sentido, tem-se como exemplo o romance, que apresenta: tempo, 
espaço, personagens, foco narrativo, ponto de vista, natureza da ação, quando há ação, 
“pois	há	ficções,	e	não	só	contemporâneas,	que	se	caracterizam	pela	sua	falta	ou	impossi-
bilidade”	(ibidem).
Apresentamos abaixo os operadores da leitura de textos narrativos e líricos.
5.1 Operadores da leitura de textos narrativos
Ao ler um texto narrativo, devemos atentar para as seguintes marcas:
Narrador –	É	quem	conta	a	história	narrada,	com	 focalização	 interna	 (mostra	o	
ponto de vista de uma personagem) ou externa (tem acesso apenas ao mundo exterior). 
Ele pode ser:
●	 Onisciente: tem focalização externa, a narrativa é em terceira pessoa e o narrador 
tem conhecimento de todos os fatos, inclusive acesso ao mundo interior das personagens.
●	 Participante:	a	narrativa	é	em	primeira	pessoa	e	o	narrador	participa	da	história,	
interpretando os fatos à sua maneira e vivência.
●	 Observador: o narrador tem uma participação leve da narrativa, ele pode proferir 
seu testemunho sobre os fatos da narrativa, mas não chega a ter onisciência.
Personagens	–	As	personagens	são	definidas	por	meio	do	papel	que	desempe-
nham dentro da narrativa, a saber:
●	 Protagonista: personagem central/principal da narrativa, não necessariamente ética.
23UNIDADE I O Papel do Texto
●	 Antagonista: personagem que se opõe a personagem protagonista, criando a 
tensão da narrativa, não necessariamente antiética.
●	 Secundárias: personagens de menor importância dentro da narrativa.
Vale	ressaltar	que	uma	personagem	pode	assumir	várias	 funções	na	narrativa	e	
algumas dessas funções podem ser assumidas por entidades inanimadas, como em Vidas 
Secas, de Graciliano Ramos, em que a aridez do sertão é uma personagem antagonista. 
As	personagens	também	podem	ser	classificadas	como:
●	 Planas:	elas	são	definidas,	fixas,	não	mudam	no	decorrer	da	narrativa.
●	 Esféricas:	elas	não	são	definidas,	vão	sendo	caracterizadas	no	decorrer	da	nar-
rativa, causando, muitas vezes, surpresa ao leitor com sua evolução.
Tempo	–	Há	basicamente	três	classificações	nessa	categoria:
●	 Histórico:	a	época	aproximada	em	que	os	fatos	da	narrativa	aconteceram	(por	
exemplo,	“a	narrativa	se	passa	no	século	XXI”	ou	“nos	anos	2000”	etc.).
●	 Cronológico:	é	o	tempo	exato,	que	se	conta	no	relógio,	o	tempo	de	duração	da	
narração	(por	exemplo,	“a	história	narrada	dura	cerca	de	um	dia”	ou	“cerca	de	12	horas”	
etc.).
●	 Psicológico:	é	o	 tempo	que	decorre	numa	ordem	determinada	pelo	desejo	ou	
imaginação da personagem ou do narrador, é um tempo que altera a ordem natural dos 
acontecimentos, sendo marcado pela percepção individual, logo não pode ser precisado.
Espaço – é o local onde as ações acontecem, é fundamental para o gênero narrati-
vo,	pois,	muitas	vezes,	é	no	espaço	que	se	dá	a	evolução	da	própria	narrativa,	por	exemplo,	
quando uma personagem se desloca de um espaço aberto para um fechado, isso pode 
criar a tensão da obra. Os espaços podem ser: urbano, rural, interior, exterior, imaginário, 
aberto, fechado, dentre outros.
Para ver na prática como funciona uma análise literária, solicitamos que você faça 
a leitura do conto Uma Vela para Dario, de Dalton Trevisan:
24UNIDADE I O Papel do Texto
Uma Vela para Dario
(Dalton Trevisan)
Dario vem apressado, guarda-chuva no braço esquerdo. Assim que dobra a esqui-
na, diminui o passo até parar, encosta-se a uma parede. Por ela escorrega, senta-se na 
calçada, ainda úmida de chuva. Descansa na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes à sua volta indagam se não está bem. Dario abre a boca, 
move os lábios, não se ouve resposta. O senhor gordo, de branco, diz que deve sofrer de 
ataque.
Ele reclina-se mais um pouco, estendido na calçada, e o cachimbo apagou. O rapaz 
de	bigode	pede	aos	outros	se	afastem	e	o	deixem	respirar.	Abre-lhe	o	paletó,	o	colarinho,	
a gravata e a cinta. Quando lhe tiram os sapatos, Dario rouqueja feio, bolhas de espuma 
surgem no canto da boca.
Cada pessoa que chega ergue-se na ponta dos pés, não o pode ver. Os moradores 
da rua conversam de uma porta aoutra, as crianças de pijama acodem à janela. O senhor 
gordo repete que Dario sentou-se na calçada, soprando a fumaça do cachimbo, encostava 
o guarda-chuva na parede. Mas não se vê guarda-chuva ou cachimbo a seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. Um grupo o arrasta 
para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protesta o motorista: quem pagará 
a	corrida?	Concordam	em	chamar	a	ambulância.	Dario	é	conduzido	de	volta	e	recostado	à	
parede	-	não	tem	os	sapatos	nem	o	alfinete	de	pérola	na	gravata.
Alguém informa da farmácia na outra rua. Não carregam Dario além da esquina; a 
farmácia	no	fim	do	quarteirão	e,	além	do	mais,	muito	peso.	É	largado	na	porta	de	uma	pei-
xaria. Enxame de moscas lhe cobrem o rosto, sem que façam um gesto para espantá-las.
Ocupado	o	café	próximo	pelas	pessoas	que	apreciam	o	incidente	e,	agora,	comen-
do e bebendo, gozam as delícias da noite. Dario em sossego e torto no degrau da peixaria, 
sem	o	relógio	de	pulso.
25UNIDADE I O Papel do Texto
Um terceiro sugere lhe examinem os papéis, retirados - com vários objetos - de 
seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficam sabendo do nome, idade, sinal de 
nascença. O endereço na carteira é de outra cidade.
Registra-se correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam toda a rua 
e	as	calçadas:	é	a	polícia.	O	carro	negro	investe	a	multidão.	Várias	pessoas	tropeçam	no	
corpo de Dario, pisoteado dezessete vezes.
O	guarda	aproxima-se	do	cadáver,	não	pode	identificá-lo	-	os	bolsos	vazios.	Resta	
na	mão	esquerda	a	aliança	de	ouro,	que	ele	próprio	-	quando	vivo	-	só	destacava	molhando	
no sabonete. A polícia decide chamar o rabecão.
A última boca repete - Ele morreu, ele morreu. A gente começa a se dispersar. 
Dario	levou	duas	horas	para	morrer,	ninguém	acreditava	estivesse	no	fim.	Agora,	aos	que	
alcançam vê-lo, todo o ar de um defunto.
Um	senhor	piedoso	dobra	o	paletó	de	Dario	para	 lhe	apoiar	a	cabeça.	Cruza	as	
mãos no peito. Não consegue fechar olho nem boca, onde a espuma sumiu. Apenas um 
homem	morto	e	a	multidão	se	espalha,	as	mesas	do	café	ficam	vazias.	Na	janela	alguns	
moradores com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço vem com uma vela, que acende ao lado do cadáver. 
Parece morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está Dario à espera do 
rabecão.	A	cabeça	agora	na	pedra,	sem	o	paletó.	E	o	dedo	sem	a	aliança.	O	toco	de	vela	
apaga-se às primeiras gotas da chuva, que volta a cair.
26UNIDADE I O Papel do Texto
Análise: Dalton Trevisan é um escritor contemporâneo curitibano que escreve 
contos curtos, com linguagem concisa e expressiva. No conto Uma Vela para Dario, o 
narrador	conta	a	história	de	uma	pessoa	provavelmente	epilética	que	morre	como	indigente	
em	uma	grande	metrópole.	O	narrador	é	onisciente,	pois	não	analisa	os	fatos,	apenas	apre-
senta-os ao leitor. Das personagens, a personagem protagonista é Dario; a personagem 
antagonista é a chuva que atrapalhava o processo de salvamento de Dario e a polícia que 
espantou a multidão, afastando Dario ainda mais de seu desejo, sobreviver; e as persona-
gens secundárias são o rapaz de bigode, a velhinha e o menino de cor. O espaço é aberto, 
urbano,	a	rua	de	uma	grande	cidade.	Do	tempo,	temos	o	tempo	histórico,	provavelmente,	
século	XX	e	também	o	tempo	cronológico,	toda	a	história	deve	ter	durado	cerca	de	5	horas	
para acontecer.
REFLITA
Toda a obra de um homem, seja em literatura, música, pintura, arquitetura ou em qual-
quer outra coisa, é sempre um autorretrato; e quanto mais ele se tentar esconder, mais 
o seu caráter se revelará, contra a sua vontade. 
(Samuel Butler).
5.2 Operadores da leitura de poesia
Vimos	que	a	poesia	preza	pelo	ritmo	e	musicalidade,	obtidos	por	meio	da	métrica	e	
das	rimas.	A	poesia,	por	ser	linguagem	carregada	ao	máximo	de	significado,	também	evoca	
muitas imagens e signos complexos, por isso, é muito importante fazer diversas leituras do 
poema, para que consigamos abstrair ao máximo a essência do poema.
Ao ler uma poesia, devemos atentar para:
Versos – Os poemas possuem versos e a junção dos versos são chamadas de 
estrofes.
Dito	de	maneira	bastante	simplória,	o	verso	é	uma	linha	de	poema.	Difere	da	
linha prosaica porque se sujeita, na poesia tradicional, a certa regularidade 
métrica e rítmica. Seu variado modo de ser impõe uma vasta terminologia. 
Verso	branco é aquele destituído de segmento rimante, verso agudo é aquele 
terminado em forma oxítona; verso decassílabo é aquele constituído de dez 
sílabas. A poesia moderna, desprezando a regularidade da métrica, devotou 
especial apreço ao verso livre, aquele descompromissado com a medida 
dos outros versos do poema, normalmente também livres. [...] O verso se 
mede pelo número de sílabas que abriga. Pode ser, na ordem: monossílabo, 
27UNIDADE I O Papel do Texto
dissílabo, trissílabo, tetrassílabo, pentassílabo, heptassílabo, octossílabo, 
eneassílabo, decassílabo, endecassílabo, dodecassílabo (ou alexandrino). 
Alguns versos recebem nomes especiais: o de cinco sílabas é chamado de 
redondilha menor e o de sete, de redondilha maior. (CORTEZ; RODRIGUES, 
2009, p. 63 - 4).
Para analisarmos um poema, precisamos analisar os versos, atentar para as sílabas 
que	compõem	esse	verso,	esse	processo	é	chamado	de	metrificação	ou	escansão.	Neste	
momento, é preciso entender a diferença entre sílabas gramaticais e sílabas métricas/
poéticas.	Veja	o	exemplo	“Dado	o	avanço	da	hora”:
TABELA 1 - METRIFICAÇÃO
(LETRANDO, on-line, 2020)
No exemplo acima, na contagem das sílabas gramaticais, temos dez sílabas, en-
quanto	 na	 contagem	 das	 sílabas	métricas/poéticas,	 temos	 sete	 sílabas,	 configurando	 o	
verso	como	redondilha	maior	ou	heptassílabo	(veremos	essa	classificação	logo	adiante).	
De acordo com Zambrini (2020, on-line),
as sílabas poéticas são mais relacionadas com os sons (já que os poemas 
têm uma preocupação grande com o ritmo, pois, quando esse gênero foi 
inventado, ele era lido em voz alta ou cantado), e por isso, a última sílaba 
tônica	do	verso	sempre	vai	 indicar	o	fim	da	escansão.	E	em	alguns	casos	
pode haver união fonética, pois os sons são lidos como juntos quando lemos 
em voz alta.
Dicas para fazer a escansão:
●	 Não	se	contam	as	sílabas	poéticas	que	estejam	após	a	última	sílaba	tônica	do	
verso,	ou	seja,	a	escansão	termina	quando	temos	uma	última	sílaba	tônica.
●	 Ditongos	têm	valor	de	uma	só	sílaba	poética.
28UNIDADE I O Papel do Texto
●	 Duas	 ou	mais	 vogais,	 átonas	 ou	 tônicas,	 podem	 fundir-se	 entre	 uma	palavra	
e	outra,	formando	uma	só	sílaba	poética,	pois	se	as	lêssemos	em	voz	alta	os	sons	delas	
sairiam grudadinhos.
Vamos	ver	alguns	exemplos	mais	simples	para	vermos	como	isso	funciona:
Mi / nha / ter / ra / tem / pal / mei / ras – 7 sílabas poéticas
Nesse	caso,	vamos	contar	apenas	até	“mei”,	que	é	a	última	sílaba	tônica,	já	que	a	
seguinte	(“ras”)	é	muito	mais	fraca,	e	deve	ser	excluída	da	contagem.
Es / as / que-es / tou / a / man / do – 6 sílabas poéticas
Nesse	caso,	vamos	contar	apenas	até	“man”,	pois	é	a	última	sílaba	tônica	do	verso.	
Além	 disso,	 é	 importante	 notarmos	 que,	 na	 terceira	 sílaba	 poética,	 o	 “que”	 e	 o	 “es”	 se	
juntaram	numa	sílaba	só,	porque	temos	duas	vogais	juntas.
Rimas – As rimas são responsáveis por conferir ritmo e musicalidade ao poema. 
Vimos	que	há	figuras	de	linguagem,	como	a	aliteração	(repetição	de	fonemas	consonantais	
idênticos) e assonância (repetição de fones vocálicos idênticos), que auxiliam na execução 
de rimas. Entre as principais formas de rima, temos:
●	 Alternadas: esquematizadas em ABAB
●	 Cruzadas: esquematizadas em ABBA
●	 Emparelhadas: esquematizadas em AABB
Como exemplo, apresentamos o poema A Doce Canção, de Cecília Meireles:
Pus-me a cantar minha pena
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade– e não pena.
Por assim tão docemente
meu mal transformar em versos
29UNIDADE I O Papel do Texto
oxalá Deus não o aumente
para trazer o Universo
de	pólo	a	pólo	contente.
Neste exemplo, observamos que o esquema de rimas é: ABABA / ABABA.
Forma	–	Após	a	análise	das	rimas	e	métrica	do	poema,	é	preciso	atentar	à	sua	
forma.	Há	formas	fixas	dentro	do	gênero	lírico,	as	principais	são:
●	 Soneto: É uma das estruturas mais conhecidas do gênero lírico. É formado por 
dois quartetos de quatro versos cada um e dois tercetos de três versos cada um, totalizando 
quatorze versos, rimados.
●	 Haicai: É um poema que possui três versos, sendo o primeiro e terceiro redondi-
lhas menores (versos de cinco sílabas) e o segundo verso em redondilha maior (verso de 
sete sílabas).
●	 Limerique: É um poema curto, com quatro ou cinco versos e ritmo regular de 
rimas AABBA.
●	 Elegia:	É	um	poema	classificado	por	sua	temática,	sendo	triste,	melancólico	e,	
geralmente, composto como um lamento de morte, fúnebre.
●	 Verso	livre:	São	compostos	por	versos	que	não	seguem	nenhum	padrão	métrico	
pré-estabelecido, tornando-se irregulares.
Temática – Ao escrever um poema, o autor, por meio do eu-lírico, tenta eternizar um 
momento,	presentificando-o	por	meio	da	linguagem.	Atente	para	a	temática	do	poema	e	o	uso	
dos substantivos e adjetivos empregados pelo autor para sua construção, as vogais que mais 
aparecem...	Por	exemplo,	poemas	com	uma	temática	triste	e	melancólica	tendem	a	ter	muitas	
palavras com as letras O e U, que passam uma ideia de enclausuramento, angústia e tristeza. 
Uma	particularidade	do	gênero	lírico	é	que,	diferentemente	do	narrativo,	em	que	a	história	
é	contada	por	um	narrador,	no	gênero	lírico	quem	“conta	a	história”	em	um	determinado	
poema é denominado eu-lírico. A terminologia eu-poemático é utilizada para se referir às 
características gerais de um determinado autor, por exemplo, “o eu-poemático de Cruz e 
Sousa	é	marcado	por	um	pessimismo	e	 também	misticismo”,	pois	estamos	 falando	das	
características	gerais	do	autor,	que	aparecem	em	seu	conjunto	de	obras,	e	não	especifica-
mente de um único poema.
30UNIDADE I O Papel do Texto
Como modelo de análise de um poema, sugerimos a leitura de Mar Português, de 
Fernando Pessoa:
Mar Português
(Fernando Pessoa)
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos	filhos	em	vão	rezaram!
Quantas	noivas	ficaram	por	casar
Para	que	fosses	nosso,	ó	mar!
Valeu	a	pena?	Tudo	vale	a	pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Análise: Fernando Pessoa é um dos escritores portugueses mais conhecidos e 
importantes da literatura moderna. O eu-lírico no poema Mar Português versa sobre o mar 
de	Portugal,	que	conferiu	glórias,	mas	também	desgraças,	ao	povo	português.	Quanto	à	
estrutura compositiva, o poema apresenta duas estrofes com seis versos cada uma; dos 
versos, quanto às sílabas métricas, apresentam o seguinte esquema: os versos ímpares 
são decassílabos e os versos pares, octossílabos; quanto à disposição das rimas no poe-
ma, elas são emparelhadas nas duas estrofes, seguindo o esquema: AABBCC / DDEEFF.
Atenção, querido(a) aluno(a)! Independentemente de estar fazendo a leitura de um 
texto narrativo ou de um poema, é preciso relacioná-lo ao momento em que ele foi escrito, 
às características principais da escola literária a qual o texto pertence e/ou às característi-
cas individuais do autor, ressaltando-as em sua análise. Aprenderemos sobre as principais 
características	de	cada	período	literário	em	nosso	próximo	capítulo.
31UNIDADE I O Papel do Texto
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos	ao	final	de	nosso	primeiro	capítulo	e	espero	que	você	esteja	gostando	
dessa	nossa	conversa	sobre	o	que	é	literatura.	Vimos	até	aqui	que	o	conceito	de	literatura	
é	 instável,	 fluido,	pois	depende	do	momento	histórico	e	cultural	em	que	estão	 inseridos	
os	indivíduos	que	desejam	classificá-la.	Apesar	de	difícil	classificação,	há	alguns	gêneros	
literários estáveis, aprendemos neste capítulo sobre os dois principais: o gênero narrativo 
e o gênero lírico; vimos suas principais características e como fazer uma leitura adequada 
desses	gêneros	utilizando	os	operadores	 literários	corretos.	No	próximo	capítulo,	discor-
reremos sobre as principais escolas literárias e escritos literários associados aos estudos 
culturais. Aguardo você!
32UNIDADE I O Papel do Texto
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título:	Teoria	Literária:	Abordagens	históricas	e	 tendências	con-
temporâneas
Autor: Thomas Bonnici; Lúcia Osana Zolin (organizadores)
Editora: EDUEM
Sinopse:	Livro	de	referência	para	reflexões	acerca	da	teoria	lite-
rária.	Cada	capítulo	 versa	sobre	um	 tópico	que	contribui	 para	a	
formação do leitor literário, como: o que é literatura; operadores 
da leitura de textos narrativos, líricos e dramáticos; crítica literária 
contemporânea; literatura e estudos culturais; literatura e outras 
artes;	dentre	outros	tópicos	importantes	para	leitores	em	formação	
e leitores já letrados que desejam expandir seus conhecimentos 
sobre a arte da literatura.
VÍDEO
Título: Literatura	Brasileira:	Missão	ou	entretenimento?
Autor: João Cezar Castro Rocha
Sinopse: A literatura é uma maneira de entender o Brasil. Escrito-
res como Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Jorge Amado e 
Clarice Lispector foram intérpretes privilegiados da nossa realida-
de.	História,	sociologia,	economia...	Tudo	isso	pode	ser	encontrado	
em um passeio na companhia de grandes escritores. Neste Café 
Filosófico,	o	professor	de	literatura	João	Cezar	Castro	Rocha	fala	
sobre	 os	 80	 anos	 de	 literatura	 brasileira.	A	 partir	 de	 leituras	 de	
trechos das grandes obras, ele mostra como suas páginas servem 
como	um	espelho	que	reflete	o	país.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TJF8h6d-
dHOI>, acesso em 24 jan. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=TJF8h6ddHOI
https://www.youtube.com/watch?v=TJF8h6ddHOI
33
Plano de Estudo:
●	 Escolas Literárias
●	 Literatura e Estudos Culturais
Objetivos da Aprendizagem:
●	 Compreender as principais manifestações literárias no Brasil e seus 
principais expoentes, desde o romantismo até a contemporaneidade
●	 Compreender o caráter mimético da literatura como 
representante de uma cultura
●	 Compreender os processos literários que dão voz às classes minoritárias, como a 
literatura de autoria feminina, negra e LGBTQI+
●	 Compreender o papel das classes minoritárias na literatura como forma de represen-
tatividade, liberdade e expressão
UNIDADE II
Representações Literárias
Professor Me. Bruno Alexandre Matsushita
34UNIDADE II Representações Literárias
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), estamos de volta para mais uma aula sobre Literatura Brasi-
leira! Neste capítulo, discorreremos sobre as escolas literárias e seus principais expoentes, 
explanando sobre as características principais de cada um dos movimentos literários e de 
seus principais autores. Daremos atenção especial ao movimento Modernismo e como ele 
influenciou	o	nosso	gosto	contemporâneo	para	o	que	é	tido	como	literário,	seja	na	produ-
ção ou na recepção desses textos pelo público. Conversaremos também sobre a relação 
entre literatura e os estudos culturais, sobre como a literatura pode ser voz de classes 
marginalizadas pela sociedade fálica e patriarcal, sendo instrumento de denúncia e crítica 
social. Falaremos sobre literatura produzida por mulheres, negros e LGBTQI+. Espero que 
possamos construir juntos novos conhecimentos sobre a literatura e seus representantes! 
Boa leitura!
35UNIDADE II Representações Literárias
1. ESCOLAS LITERÁRIAS
Como vimos no primeiro capítulo deste curso, o conceito de literatura e 
textos	 considerados	 literários	 foram	 sendo	 construídos	 e	 ressignificados	 com	 o	
passar do tempo e cultura e, por conta disso, convencionou-se dividi-los em perío-
dos	 com	 características	 específicas,	 períodosestes	 tidos	 como	 escolas literárias. 
 Por conta de os textos literários prezarem pelo escrito, a primeira escola literá-
ria	no	Brasil	 aconteceu	apenas	no	século	XVI,	 com	a	vinda	dos	portugueses	para	nos-
so país. Essa primeira escola é conhecida como Quinhentismo e seus escritores eram 
cronistas, narrando as adversidades e conquistas de suas viagens. No Brasil, que 
inicialmente possuía uma cultura de exploração, e não de colonização, a cultura era dei-
xada de lado, por isso o desenvolvimento literário em terras tupiniquins foi muito lento. 
 Basicamente, podemos dividir as escolas literárias em dois grandes grupos: da era 
colonial	(quando	ainda	éramos	colônia	de	Portugal	e,	consequentemente,	com	gosto	muito	
influenciado	por	nosso	colonizador)	e	da	era	nacional	(quando	se	deu	a	emancipação	política	
do	Brasil).	É	apenas	na	era	nacional	que	a	literatura	se	firma	como	verdadeiramente	nacional,	
brasileira, pois ganha uma autonomia quanto às expressões culturais, sociais e linguísticas. 
Abaixo, falaremos sobre as características de cada uma das escolas literárias e seus prin-
cipais expoentes.
36UNIDADE II Representações Literárias
1.1 Quinhentismo
O	Quinhentismo	é	um	movimento	literário	que	se	inicia	em	1500,	com	a	chegada	
das	naus	de	Pedro	Álvares	Cabral	na	Ilha	de	Vera	Cruz,	em	22	de	abril	de	1500.	Foram	
produzidos	nesse	período	cartas,	crônicas	e	sermões,	o	que	gera	bastante	crítica	dos	es-
pecialistas, por conta de os materiais escritos não terem como objetivo o entretenimento, 
serem	miméticos	e	ficcionais,	 características	necessárias	para	o	 texto	 literário,	mas	sim	
relatar	 as	 dificuldades	 e	 conquistas	 durante	 as	 expedições	 e	 a	 cultura	 dos	 nativos.	Os	
textos possuem muitos adjetivos, já que tinham como objetivo, informar Portugal sobre a 
fauna,	flora	e	o	povo	que	aqui	habitava.
Este movimento divide-se em: literatura de informação e literatura de formação/catequese. 
 Enquanto literatura de informação, temos os primeiros relatos da terra recém-des-
coberta pelos portugueses, os textos têm caráter descritivo e são repletos de fantasia, 
uma vez que são moldados pela visão medieval de seu escritor (como, por exemplo, a 
questão do canibalismo por parte do indígena nativo, fato amplamente divulgado nas cartas 
escritas	nessa	época,	mas	que	até	hoje	não	há	evidências	antropológicas	e	históricas	que	
comprovam tal informação), mas não possuíam intenção literária. O tema recorrente era o 
elemento civilizador com seus problemas e dramas na nova terra. Esses textos foram im-
portantes para escritores de outros movimentos literários, como o Romantismo e o Moder-
nismo, que recorreram aos escritos para buscar informações sobre o primeiro povo que aqui 
habitava, seus hábitos e costumes, buscando uma identidade verdadeiramente nacional. 
 Já na literatura de formação/catequese, temos também a descrição e conhecimento 
dos hábitos dos nativos da nova terra, mas, por serem escritos pelos jesuítas, o objetivo 
principal era prestar assistência moral e religiosa e catequizar o indígena nativo, sendo os 
textos	com	cunho	pedagógico	e	moral.
Os principais textos desse período são:
●	 Carta,	de	Pero	Vaz	de	Caminha,	1500
●	 Diálogo sobre a Conversão do Gentio,	de	Manoel	da	Nóbrega,	1557
●	 Duas Viagens ao Brasil,	de	Hans	Stadens,	1557
●	 Tratado da Província do Brasil e Tratado da Terra do Brasil, de Pero Magalhães 
Gândavo,	1576
●	 Viagem à Terra do Brasil,	de	Jean	de	Léry,	de	1578
●	 Tratado da Terra e Gente do Brasil,	de	Fernão	Cardin,	1583
●	 Tratado Descritivo do Brasil,	de	Gabriel	Soares	de	Souza,	1587
●	 Diálogo das Grandezas do Brasil,	de	Ambrósio	F.	Brandão,	1618
37UNIDADE II Representações Literárias
FIGURA 1 - A PRIMEIRA MISSA NO BRASIL
Fonte: Victor	Meirelles,	1861
A Carta,	de	Pero	Vaz	de	Caminha,	é	o	principal	 texto	desse	período,	é	um	texto	
corrido	 que	 ocupa	originalmente	 27	 laudas	 com	começo,	meio	 e	 fim	e	 ficou	 inédita	 até	
1817.	Pero	Vaz	de	Caminha	era	o	escrivão-mor	da	esquadra	de	Pedro	Álvares	Cabral.	
A carta não tinha objetivo literário, e sim noticiar os costumes e características da nova 
terra, sendo, praticamente, um diário. Por meio da descrição dos fatos, é possível notar um 
entusiasmo por meio do autor em relação à terra e ao povo que aqui habitava, quase que 
um deslumbramento edênico; por conta das riquezas naturais e os nativos andarem nus 
“sem	nenhuma	vergonha”	e	os	narizes	“bem	feitos”,	acreditavam	que	o	Brasil	era	o	paraíso	
terrestre (as únicas coisas que destoavam disso, para a época, eram os costumes poligâ-
micos	e	antropofágicos	dos	nativos).	Os	textos	misturam	o	registro	oficial	com	a	agitação	
íntima do escritor, comprometendo em alguns momentos a credibilidade dos escritos, se as 
informações	ali	descritas	aconteceram	realmente	ou	foram	infladas	pela	euforia	do	autor,	
quase que como uma literatura fantástica. 
Vale	lembrar	que	os	escritos	tinham	como	função	informar	sobre	a	terra	e	o	povo	
que aqui vivia, então os autores desse período não demonstram nenhuma condescendência 
com o indígena e desprezam a cultura e religião do nativo, não se atinavam com a riqueza 
cultural desses povos.
38UNIDADE II Representações Literárias
SAIBA MAIS
A Carta,	de	Pero	Vaz	de	Caminha,	pode	ser	lida	integralmente	em:	
<	http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000283.pdf>
1.2 Barroco
De acordo com Coutinho (2001), o Barroco compreende as produções literárias 
entre	os	séculos	XVII	e	XVIII.	O	Barroco	é	um	movimento	artístico	que	influenciou	a	litera-
tura, pintura, arquitetura e música. O Barroco surge num período em que a arte passa a ser 
valorizada pelas classes dominantes e uma de suas características principais é o dualismo, 
principalmente no que diz respeito à razão e à fé, gerando muitas antíteses e contradições, 
assim	 como	 extravagâncias	 e	 riqueza	 de	 detalhes	 em	 seus	 textos.	 Surgido	 no	 final	 do	
Renascimento,	 neste	período,	 também	circulavam	 textos	de	movimentos	 filosóficos	que	
suscitavam	reflexões	sobre	a	existência	do	ser	e	 isso	gerou	alguns	conflitos	existenciais	
que culminaram em escritos sobre essas indagações. Esta escola literária surge com a 
necessidade de revisitar a fé do ser humano e questioná-la.
De	acordo	com	o	site	especializado	em	literatura	Só	Literatura	(2020,	on-line),	
todo	 o	 rebuscamento	 presente	 na	 arte	 e	 literatura	 barroca	 é	 reflexo	 dos	
conflitos	dualistas	entre	o	terreno	e	o	celestial,	o	homem	(antropocentrismo)	
e Deus (teocentrismo), o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o 
paganismo presente no período renascentista. [...] O estilo barroco apre-
senta forma conturbada, decorrente da tensão causada pela oposição entre 
os princípios renascentistas e a ética cristã. Daí a frequente utilização de 
antíteses,	 paradoxos	 e	 inversões,	 estabelecendo	 uma	 forma	 contraditória,	
dilemática. Além disso, a utilização de interrogações revela as incertezas do 
homem barroco frente ao seu período e a inversão de frases a sua tentativa 
na conciliação dos elementos opostos.
FIGURA 2 - A CEIA DE EMAÚS
Fonte: A Ceia de Emaús (1601), de Caravaggio, é uma pintura 
barroca, com temática religiosa, retrata o contraste entre luz e sombra 
39UNIDADE II Representações Literárias
O cultismo e o conceptismo são duas características do Barroco. O cultismo é o 
culto	da	forma	do	texto	e	busca	enfatizar	a	expressividade	por	meio	do	uso	de	figuras	de	
linguagem. Ou seja, o cultismo valoriza a forma e a imagem construída no texto através do 
jogo	de	palavras.	Já	o	conceptismo	busca	o	racionalismo	e	a	retórica	por	meio	de	imposição	
de	conceitos	definidos	por	raciocínio	lógico.	Enquanto	o	cultismo	pode	ser	entendido	como	
um	 “jogo	 de	 palavras”,	 o	 conceptismo	pode	 ser	 entendido	 como	um	 “jogo	 de	 ideias”.	A	
característica	principal	do	Barroco	é	um	jogo	entre	palavras	e	ideias,	por	meio	de	figuras	de	
linguagem como metáforas, hipérboles e antíteses.
Os principaisexpoentes literários desse período são:
●	 Padre	Antônio	Vieira	(1608-1697)
●	 Gregório	de	Matos	(1623-1696)
Gregório	 de	Matos	 é	 um	 dos	 principais	 expoentes	 do	movimento	 barroco.	 Bosi	
(2006,	 p.	 42)	 afirma	 que	 a	 produção	 de	 Gregório	 de	 Matos	 “interessa	 não	 só	 como	
documento da vida social brasileira dos seiscentos, mas também pelo nível artísti-
co	 que	 atingiu”.	 Os	 poemas	 compilados	 no	 livro	 Antologia comprovam a importância 
deste	 autor	 para	 a	 literatura.	 Conhecido	 como	 “Boca	 do	 Inferno”,	 por	 conta	 de	 seus	
poemas	 satíricos	 que	 criticavam	 o	 clero	 e	 a	 sociedade	 baiana	 da	 época,	 Gregório	 de	
Matos	 escreveu	 poemas	 amorosos,	 religiosos,	 eróticos	 e	 outros	 até	 pornográficos. 
	 	 Os	 poemas	 de	 Gregório	 de	 Matos	 podem	 ser	 classificados	 em:	 poesia	 lí-
rico-amorosa, poesia lírico-religiosa ou sacra, poesia satírica e poesia burlesca. 
	 				A	poesia	lírico-amorosa	de	Gregório	de	Matos	versa	sobre	questões	amorosas	e	tem	
características essencialmente barrocas, como a atração e aversão pelo objeto de desejo, 
a mulher amada. “A noção de pecado é muito forte, a mulher é, por um lado, um anjo e por 
outro,	demoníaca”	(SOUZZA,	2020,	on-line).	Assim,	o	autor	insiste	na	imagem	proposta	pela	
ideologia	católica	da	época,	retratando	o	amor	como	fonte	de	prazer	e,	ao	mesmo	tempo,	
de sofrimento, pois a mulher é quem desperta o desejo carnal e, por conseguinte, o pecado. 
 A poesia lírico-religiosa se divide entre pecado e sentimentos de culpa e 
virtude, pela busca da salvação. O autor vê o pecado como um sentimento huma-
no, por outro lado, como a única maneira de Deus exercitar o ato do perdão. De 
acordo com Souzza (2020, on-line), utilizando trechos da Bíblia, “o eu-lírico, mui-
tas	 vezes,	 se	 comporta	 como	 advogado	 que	 faz	 a	 própria	 defesa	 diante	 de	 Deus”. 
	 	 	A	poesia	satírica	de	Gregório	de	Matos	 foi	bastante	profícua.	Toda	a	sociedade	
da	época	foi	vítima	da	poesia	do	“Boca	do	Inferno”:	ricos,	pobres,	negros,	brancos,	mula-
40UNIDADE II Representações Literárias
tos, padres, freiras, autoridades civis e religiosas, amigos e inimigos... Todos eram objeto 
de sua lira maldizente. Para Souzza (2020, on-line), “o melhor de sua sátira não é esse 
tipo de zombaria, engraçada e maldosa, mas a crítica de cunho geral aos vícios da so-
ciedade”,	entre	eles	a	exploração	de	sua	terra,	a	Bahia,	pelos	negociantes	estrangeiros. 
	 A	poesia	burlesca	de	Gregório	de	Matos	retrata	pequenos	acontecimentos	da	vida	
cotidiana	da	cidade	e	dos	engenhos.	É	a	poesia	mais	circunstancial	de	Gregório,	sendo	es-
crita,	em	sua	maior	parte,	em	um	período	de	decadência	de	sua	vida	pessoal	e	profissional,	
nos últimos anos de vida do escritor.
SAIBA MAIS
A Antologia	de	Gregório	de	Matos	pode	ser	lida	em:	
< http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000119.pdf >
1.3 Arcadismo
O Arcadismo é a escola literária que pregava a simplicidade por meio da 
exaltação do natural, bucolismo e da vida no campo, afastada dos grandes cen-
tros urbanos. Esta escola literária refutava todos os conceitos da escola anterior, 
o Barroco, e suas características principais: complexidade, exageros e excessos. 
 No Brasil, o Arcadismo chega num período em que os ecos de liberdade vindos 
da Europa e dos Estados Unidos provocam um verdadeiro furor entre os intelectuais. A 
independência	das	treze	colônias	estadunidenses	desencadeia	a	Inconfidência	Mineira,	em	
1789,	e	é	neste	contexto	que	surge	o	Arcadismo	(muitos	dos	poetas	árcades	foram	inconfi-
dentes mineiros, alguns foram presos, desterrados, processados e até mesmo exilados). O 
marco inicial dessa escola literária é a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da 
Costa,	em	1768.	As	produções	desse	período	apresentam	poemas	líricos,	épicos	e	satíri-
cos	e	seus	escritores	muitas	vezes	utilizavam	pseudônimos	para	escrever,	assumindo	uma	
identidade outra nos escritos. O Arcadismo visa o resgate da cultura clássica e buscava 
reconectar	o	ser	à	natureza	por	meio	da	arte.	A	poesia	árcade	não	é	carregada	de	figuras	de	
linguagem,	visto	que	busca	a	simplicidade	da	forma.	As	figuras	mais	comuns	são	alusões	
às musas e deuses da mitologia.
Os principais expoentes desse período são:
●	 Tomás Antônio Gonzaga
●	 Cláudio Manoel da Costa
41UNIDADE II Representações Literárias
FIGURA 3 - NINFA ADORMECIDA GUARDADA POR UM PASTOR
Fonte: Ninfa adormecida guardada por um pastor,	de	Angelika	Kauffmann,	1780,		retrata	o	bucolismo	árcade
Tomás	Antônio	Gonzaga	é	considerado	o	poeta	mais	árcade	deste	período,	nasceu	
em	1744,	na	cidade	do	Porto,	em	Portugal,	filho	de	pai	brasileiro	e	mãe	portuguesa.	Passou	
a maior parte de sua infância no Brasil e retornou à Portugal, na adolescência, para termi-
nar	seus	estudos,	retornando	ao	Brasil	em	1781,	quando	ocupou	o	cargo	de	Ouvidor	Geral	
na	comarca	de	Vila	Rica	(atual	Ouro	Preto,	Minas	Gerais).	Nesta	época,	Tomás	Antônio	
Gonzaga, aos 40 anos, dedica poesias à Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, que tinha 
apenas 17 anos, e que posteriormente seria inspiração para o livro Marília de Dirceu. Em 
1789,	Tomás	Antônio	Gonzaga	foi	acusado	de	participar	da	Inconfidência	Mineira,	foi	detido	
e enviado à Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, e depois para Moçambique, onde se casou 
com	a	filha	de	um	próspero	comerciante	de	escravos.	Faleceu	no	exílio	em	dia	desconhe-
cido,	no	mês	de	fevereiro	de	1810.
Tomás	Antônio	Gonzaga,	cujo	nome	arcádico	é	Dirceu,	escreveu	poesias	líricas	com	
temas pastoris e de galanteio, dirigidas à sua amada, Marília. As liras do livro Marília de Dirceu 
refletem	a	trajetória	do	poeta:	antes	da	prisão,	apresentam	a	ventura	do	amor	e	a	satisfação	
com o momento presente, depois da prisão apresentam o infortúnio, a força da justiça e do 
destino.	Coutinho	(1980)	considera	Marília de Dirceu a expressão máxima do Arcadismo. 
 Marília de Dirceu foi publicado em 1792 e é dividido em liras. Nesta obra há uma 
42UNIDADE II Representações Literárias
refinada	simplicidade	neoclássica:	as	liras	estão	repletas	de	imagens	graciosas	e	alegorias	
mitológicas,	possuem	ritmo	agradável,	com	versos	curtos,	alternando	decassílabos	e	he-
xassílabos,	além	do	uso	de	refrão	e	versos	brancos.	De	acordo	com	Teotônio	Filho	(2020),	
a obra do poeta se divide em duas partes: na primeira, há os poemas escritos na época 
anterior	à	prisão	de	Tomás	Antônio	Gonzaga	e	há	predomínio	das	composições	convencio-
nais, o pastor Dirceu celebra a beleza de Marília, em algumas liras é possível perceber que 
as	convenções	mal	disfarçam	a	confissão	amorosa	(a	ansiedade	de	um	quarentão	apaixo-
nado por uma adolescente), a necessidade de mostrar que ele não é qualquer um e que 
merece sua amada por poder proporcionar uma vida futura estável, sossegada e rodeado 
de	filhos.	Na	segunda	parte,	escrita	na	prisão	da	Ilha	das	Cobras,	durante	o	exílio	de	Tomás	
Antônio	Gonzaga,	os	poemas	exprimem	a	solidão	de	Dirceu,	saudoso	de	Marília.	Nesta	
segunda parte, encontramos sua melhor poesia. As convenções, embora ainda presentes, 
não sustentam o equilíbrio neoclássico. O tom confessional e o pessimismo prenunciam o 
apelo à emoção do Romantismo.
SAIBA MAIS
A obra Marília de Dirceu pode ser lida integralmente em: 
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000301.pdf>
1.4 Romantismo
De acordo com Marinho (2020, on-line), o “Romantismo foi um movi-
mento	 estético	 e	 cultural	 que	 revolucionou	 a	 sociedade	 nos	 séculos	 XVIII	 e	 XIX,	
deixando	 para	 trás	 valores	 clássicos	 e	 inaugurando	 a	 modernidade	 nas	 artes”,	
de forma que as obras românticas agora “baseavam-se em valores da burgue-
sia,	 classe	 social	 que	 substituía	 a	 elite	 absolutista	 em	 diversos	 países”	 (idem). 
 O Romantismo é a escola literária em que os escritores passam a ter maior auto-
nomia	em	relação	a	sua	escrita,	não	dependendo	mais	dos	“modelos”	vindos	da	Europa.	
O Romantismo preza a valorização dos sentimentos,principalmente a idealização do amor 
e da mulher, sendo muito comum a dualidade amor versus sofrimento, há um sentimento 
de	nacionalismo	(uma	busca	por	uma	identidade	nacional,	patriótica,	com	exaltação	dos	
heróis	nacionais),	marcas	de	medievalismo,	individualismo	(egocentrismo)	e	pessimismo. 
 Os críticos literários separam o Romantismo em três grandes períodos: os autores 
do primeiro período (literatura indianista) conservavam um apego à forma clássica de pro-
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000301.pdf
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dução, atentando aos escritos literários já consolidados; os autores do segundo período 
(literatura ultrarromântica) tem com marca a subjetividade e as emoções individuais, como 
o	ócio,	sonhos	e	desejo	de	morte;	os	autores	do	terceiro	período	(literatura	condoreira)	já	
deixam de lado a subjetividade e as emoções individuais, características do segundo perío-
do, para escrever sobre questões sociais e políticas da época, antecipando o Realismo, a 
próxima	escola	literária,	na	ordem	sucessiva	que	estamos	apresentando	a	você.
Principais expoentes desse movimento literário:
●	 Gonçalves Dias (primeira geração)
●	 José de Alencar (primeira geração)
●	 Álvares de Azevedo (segunda geração)
●	 Castro Alves (terceira geração)
Gonçalves	Dias	nasceu	em	Caxias,	Maranhão,	em	1823,	da	união	entre	um	comer-
ciante	português	e	uma	cafuza	brasileira,	e	morreu	afogado	no	litoral	do	Maranhão,	em	1864,	
dentro do navio Ville de Boulogne. Sua poesia, surgida num contexto em que os escritores 
ansiavam por uma literatura genuinamente nacional (principalmente porque o Brasil já se 
encontrava independente politicamente de Portugal), volta-se ao passado da nação e o índio, 
entendido como símbolo nacional pelo fato de ser natural das terras brasileiras, torna-se o 
herói	máximo	da	pátria.	A	respeito	de	Gonçalves	Dias,	Cândido	(1999,	p.41)	afirma	categori-
camente	que	se	trata	do	“único	indianista	de	interesse	da	nossa	poesia”.	Os	dias	atuais,	tanto	
quanto	os	anos	de	vida	do	escritor	não	desmentem	tal	afirmativa,	pois	Gonçalves	Dias	é	de	fato	
um dos poetas de todo o Romantismo mais conhecidos e admirados pelo público em geral. 
	 		José	Martiniano	de	Alencar	nasceu	em	Messejana,	no	Ceará,	em	1829.	Antes	de	
iniciar sua carreira literária, atuou como advogado, jornalista e político. Ainda acadêmico, 
começou sua atividade literária publicando, aos 26 anos, sua primeira obra, Cinco Minutos. 
Coutinho	(1980)	afirma	que	Alencar	se	sobressai	no	movimento	romântico	e	na	literatura	
brasileira como um todo, sendo um dos maiores representantes do movimento romântico 
indianista.	José	de	Alencar	morreu	aos	48	anos	de	idade.	A	sua	visão	de	mundo	é	baseada	
na	emoção	e	no	mundo	urbano	com	seus	problemas	políticos	e	econômicos.	Suas	obras	
procuram retratar um Brasil e personagens mais ideais que reais, mais como ele gostaria 
que fossem (românticos e moralistas) que objetivamente eram.
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SAIBA MAIS
A obra de José de Alencar pode ser acessada como veio à público pela primeira vez pelo 
site da Brasiliana, da USP, através do linque: 
<https://digital.bbm.usp.br/simple-search?query=gon%C3%A7alves+dias&sort_by=score&or-
der=desc&rpp=10&etal=0&filtername=author&filterquery=Alencar%2C+Jos%C3%A9+de%-
2C+1829-1877&filtertype=equals>
1.5 Realismo
O Realismo é a primeira escola que aponta que o ser é fruto do meio em que 
está inserido, fazendo críticas ao social, ao cultural e ao capital. É um período em 
que os autores buscavam descrever a realidade e o ser como são, com suas qualida-
des e defeitos. Portanto, trata-se de uma espécie de negação do idealismo presente 
na escola literária anterior, o Romantismo. Assim, o escritor realista se aproxima do 
cientista,	 pelo	 fato	 de	 que	 o	 artista	 passa	 a	 observar	 e	 a	 verificar	 a	 experiência	 em	
sua escrita, usando, para isso, princípios como o materialismo e a objetividade. 
 O Realismo apresenta reminiscências dos ideais da Revolução Francesa, e do 
enciclopedismo, almejando o progresso por meio da razão, expressa no experimentalis-
mo, na observação e na apreciação do fato. Em vista disso, o movimento rompia com 
os	dogmas	e	o	pensamento	estritamente	 teológico.	O	período	 realista-naturalista	 (expli-
caremos no SAIBA MAIS a relação entre o Realismo e o Naturalismo) foi impregnado de 
racionalidade e pregava uma arte engajada, responsável. Esse período é consequência 
do fortalecimento do poder da burguesia na política. Assim, buscava a aproximação da 
realidade artística e a realidade social, submetendo a arte, o texto artístico, à realida-
de, à observação e à experiência empírica, pois estas eram tidas como a única forma 
do conhecimento. O que há no Realismo são autores que buscam a representação 
artística	 do	mundo	 objetivo,	 tendo	 por	 foco	 o	 cotidiano.	 Com	 a	 finalidade	 de	 represen-
tar a realidade, os escritores do período recorrem ao típico, ou seja, a personagens ou 
situações	que	 fossem	capazes	de	serem	representativas	de	 todo	um	contexto	histórico. 
	 		No	Brasil,	o	Realismo	tem	início	em	1881,	com	a	publicação	de	O Mulato, de Aluísio 
de Azevedo, considerado o primeiro romance naturalista do Brasil, e Memórias Póstumas 
de Brás Cubas, primeiro romance realista, escrito por Machado de Assis. 
45UNIDADE II Representações Literárias
SAIBA MAIS
Nesse momento, convém ressaltar que o Realismo é a expressão genérica para três 
formas textuais: o romance realista, o romance naturalista e a poesia parnasiana. Assim, 
a	denominação	“Realismo”,	no	Brasil,	se	estende	também	para	a	produção	naturalista	
(embora	o	Naturalismo	seja	considerado	mais	cientificista	que	o	Realismo)	e	parnasia-
na. De acordo com Bosi (1999, p. 214),
o Realismo se tingirá de naturalismo, no romance e no conto, sempre que as persona-
gens	e	enredos	submeterem-se	ao	destino	cego	das	“leis	naturais”	que	a	ciência	da	épo-
ca	julgava	ter	codificado;	ou	se	dirá	parnasianismo,	na	poesia,	à	medida	que	se	esgotar	
no lavor dos versos feitos tecnicamente.
De acordo com Coutinho, o Realismo e o Naturalismo se diferenciam devido ao caráter 
cientificista	do	Naturalismo,	privilegiando	a	Biologia,	o	determinismo	atribuído	ao	am-
biente e à herança. Em suma, pode-se dizer que os três movimentos literários coexisti-
ram na mesma época e expressam uma oposição ao Romantismo.
Os principais expoentes desse movimento são:
●	 Machado de Assis
●	 Raul Pompéia
●	 Aluísio de Azevedo
●	 Júlia Lopes de Almeida
No Brasil, o romance realista foi propagado especialmente por Machado de Assis. 
Joaquim Maria Machado de Assis foi jornalista e escritor, nasceu no Rio de Janeiro em 21 
de	junho	de	1839	e	morreu	aos	29	de	setembro	de	1908.	A	crítica	à	sociedade	é	direcionada	
a	partir	do	comportamento	das	personagens	e	de	sua	análise	psicológica.	A	preocupação	
com o indivíduo é notável nos títulos de suas obras, em que há a citação de Brás Cubas, 
Quincas	Borbas,	D.	Casmurro,	Esaú	e	Jacó,	Aires,	por	exemplo.	Contudo,	a	crítica	desfeita	
à sociedade é proveniente de uma perspectiva na qual se questionam os valores liberais. 
Machado de Assis preferiu caracterizar suas personagens mediante seu caráter interno a, 
como de costume no movimento realista, somente caracterizá-las de acordo com fatores 
condicionantes externos.
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SAIBA MAIS
O	filme	Dom Casmurro,	de	1968,	dirigido	por	Paulo	César	Saraceni,	 lançado	pela	LC	
Barreto	Filmes,	retrata	com	bastante	fidelidade	a	obra	prima	de	Machado	de	Assis.	Com-
posto de um excelente elenco, é sucesso de crítica e bilheteria.
1.6 Naturalismo
O Naturalismo surge no mesmo período que o Realismo, ambos movimentos 
compartilham das mesmas ideias, sendo a principal que o ser é fruto do meio em que 
está	 inserido,	 sendo	 influenciado	 pelos	 estímulos	 que	 recebe	 durante	 sua	 vivên-
cia. O que diferencia o Realismo do Naturalismo é

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