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A TEORIA DO FATO DO PRÍNCIPE NO CONTEXTO DA PANDEMIA CAUSADA PELO COVID-19

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FACULDADE BARRETOS 
DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A TEORIA DO FATO DO PRÍNCIPE NO CONTEXTO DA PANDEMIA 
CAUSADA PELO COVID-19. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COURA, I. D. 
COUTINHO, F. 
DE PAULA, L F. M. 
NOVAES, D. A .S. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Barretos, SP 
2020 
 
EIXO TEMÁTICO: Fato do príncipe na pandemia do covid-19. 
TÍTULO: A teoria do Fato do Príncipe no contexto da pandemia causada pelo COVID-19. 
 
 
COURA, I. D.1 
COUTINHO, F.2 
DE PAULA, L. F. M.3 
NOVAES, D. A .S.4 
 
E-mail para contato: XIVTURMADEDIREITOUNIBARRETOS@hotmail.com 
 
RESUMO: O Presente artigo tem como proposito trazer a conhecimento de todos sobre o Fato 
do príncipe, visando em sua explicação e contexto histórico, para posteriormente, relaciona-lo 
com a pandemia do Covid-19, assim como, aqui no Brasil, apesar da falta de liderança unificada 
para o combate da pandemia, cada estado com seus governantes adotarem medidas próprias de 
acordo com as regras OMS (Organização Mundial de Saúde) e de maneira geral fechou todos os 
comércios, serviços e indústrias, de modo que diversas pessoas perderam seu emprego, que neste 
contexto, será debatido a possível utilização do Fato do Príncipe para a situação. Assemelhando-se ao 
Fato da administração que quando consta omissão da administração, far-se-á uso dele. Será utilizado 
métodos de pesquisas bibliográficas e métodos dedutivos para elaboração do presente artigo. 
Portanto, espera-se esclarecer as dúvidas dos trabalhadores que, em decorrência da pandemia do 
covid-19, perderam seus empregos e procuram justificativas para utilizar do fato da administração no 
caso. 
 
1 Introdução 
 
O presente artigo pretende discorrer sobre as polemicas que surgiram na esfera 
judicial e em torno dos empregadores e empregados com a pandemia causada pelo vírus 
mundialmente conhecido como COVID-19, quais seus reflexos na sociedade e suas possíveis 
correlações com a teoria do Fato do Principe, segundo a qual a Administração Pública poderia 
ser responsabilizada diante do encerramento das atividades empresariais e consequentemente, 
demissões de funcionários. 
Assim, como tratar-se-á sobre o Fato Fortuito ou Força Maior, e sua aplicação 
conforme o artigo 501 da Consolidação das Leis do Trabalho, a conhecida CLT, far-se-á, além 
disso, um breve comentário sobre o Fato da Administração e seus contratos entre órgãos 
 
1 Isabelly Dupichak Coura, discente do primeiro semestre do curso de direito da faculdade Barretos 
2 Fabricio Coutinho, discente do primeiro semestre do curso de direito da faculdade Barretos 
3 Lucas Figueiredo Magalhães de Paula, discente do primeiro semestre do curso de direito da faculdade 
Barretos 
4 Daniel Abner da Silva Novaes, discente do primeiro semestre do curso de direito da faculdade Barretos 
públicos e o setor privado. Portanto, tal trabalho, apresenta-se com o proposito de desenvolver, 
sobre métodos de pesquisas dedutivas e pesquisas bibliográficas, uma reflexão sobre o tema, 
discorrendo sobre critérios e parâmetros que justificam a atuação estatal e as consequências 
econômicas das determinações de observância obrigatória a todos os cidadãos e empresas 
envolvidas. 
2. Conceito Histórico 
 
Para entendermos o nome Fato do Príncipe é necessário lembrarmos da obra o 
Príncipe de Maquiavel. Porque nessa obra, Maquiavel conta a sua passagem na vida política 
como o 2º Chanceler da Península de Florença, Itália, onde teve contatos com grandes reis da 
época, príncipes e cardeis de grande conhecimento político e o que mais impressionava 
Maquiavel, era a longevidade destes grandes homens nos poderes das potencias europeias em 
especial nesta época, Espanha e França, reinos fortes do ponto de vista político e econômico, 
seus líderes faziam política desde a Grécia antiga (FERRAZ, 2020). 
Após ser deposto do seu cargo, na república de Florença, Maquiavel resolveu criar 
a sua obra o Príncipe, que chamamos hoje de o estado. Nesta obra Maquiavel expõe seu 
pensamento com base na experiencia que vivenciou ao longo da sua jornada de chanceler. 
Maquiavel tinha consigo que Florença era economicamente rica, mas frágil politicamente, razão 
pela qual não tinha poder (FERRAZ, 2020). 
E para mudar isso, escreveu ao Príncipe, como ele deveria se portar para pôr ordem 
e organizar a bagunça que sempre foi Florença e conseguir criar um estado maior e mais forte 
do ponto de vista político, algo nunca visto nesta Península desde a época de Roma(FERRAZ 
2020). 
Então, Maquiavel diz, é preciso unificar a península itálica unificar todas aquelas 
cidades e estados. Maquiavel tinha consigo que um governo só é forte se for um governo 
centralizado. Ele dizia, eu não estou escrevendo como deveria ser, estou dizendo como as coisas 
são como é que os grandes reis chegam ao poder e o que é que eles fazem para se manter no 
poder. Com isso Maquiavel, tenta demostrar a importância da autonomia política em relação a 
moral, está dizendo basicamente ao Príncipe, se quiser chegar ao poder e permanecer no poder, 
não poderá o Príncipe ir de acordo com a moralidade vigente que é a cristã que diz, seja piedoso, 
caridoso, bondoso, honrar sua palavra, os compromissos (ANDERSON, 2020). 
O que Maquiavel queria dizer com isso, é que se você der sua palavra num acordo 
que você faz com outro chefe de estado você tem que manter sua palavra só até onde lhe 
convém, só até onde favorece os seus interesses, se você faz um acordo hoje e amanhã não é 
muito bom você quebra esse acordo. Para Maquiavel a moral e a política não se misturam. 
Sobre esta lógica de Maquiavel podemos constatar atualmente na civilização moderna a ciência 
política de um lado e o realismo político de outro lado (ANDERSON, 2020). 
Maquiavel ensina no Príncipe, que um bom governo no sentido de ser efetivo no 
sentido de se manter no poder ele deve ter virtú, que é a sagacidade a inteligência de saber 
quando agir ou quando recuar, quando se mantem a palavra e quando se quebrar um acordo. 
Para Maquiavel um governo astuto, inteligente é a virtú para ele, sempre terá a fortuna, que não 
é a riqueza, mas sim a deusa romana fortuna que é a sorte, ou seja, a sorte sempre favorece 
quem está preparado, capacitado, essa era a ideia de Maquiavel desde o século XVI, esteja 
sempre preparado para agarrar as oportunidades. O bom governante mesmo nas adversidades 
saberá contornar a situação com virtú e por certo terá a fortuna, a sorte (ANDERSON, 2020). 
Maquiavel ocupou um cargo republicano e teve a visão que sua península Florença 
só poderia se fortalecer como estado diante de um Príncipe com mãos de ferro que pudesse 
restabelecer a ordem e respeito. Após feito a organização e ordenamento como estado de 
Florença, o pensamento de Maquiavel, era a instituição da república a implantação da 
democracia e que fosse dado ao povo o que lhe é de direito, o governo. Em sua obra do Príncipe, 
Maquiavel traz o contraditório, onde ele usa o Príncipe para dizer que os fins justificam os 
meios, precisa por ordem para assim conseguir a paz e o governo republicano possa assumir o 
estado e trazer prosperidade a todo o povo (ANDERSON, 2020). 
Maquiavel, foi um grande pensador da sua época e expos a política como ela é. 
Mas é o fato do Príncipe? O nome fato do Príncipe, segundo historiadores provêm 
da obra o Príncipe de Maquiavel, onde o Governo, que é o estado é o Príncipe que criar atos e 
fatos do Direito da Administração, Direito do Trabalho e Direito Tributário. 
 
3. Fato do Príncipe e o Covid 19 
 
A pandemia causada pelo vírus denominado COVID-19 está a causar inúmeros 
outros problemas além daqueles relacionados à própria saúde da população. Ninguém 
desconhece que atualmente estamos enfrentando inúmeras outras dificuldades em função dos 
isolamentos e restrições necessárias para evitar a proliferação do vírus em todo mundo. Tal fato, 
inclusive, está causando sérias dificuldades econômicasno Brasil bem como em absolutamente 
todos os países do mundo (CASADO, 2020) 
Chegando ao ponto de potencias como os EUA entrar em recessão, o número de 
desempregados dando entrada no seguro desemprego só aumenta. Os mesmos problemas 
enfrentam os países europeus (CASADO, 2020) 
Como o momento pede as grandes lideranças mundiais como Ângela Merkel, 
chanceler alemã pregam a união e sabedoria entre os governantes para enfrentar a crise e 
inclusive a Alemanha já voltou o futebol, sem público logico (CASADO, 2020) 
Já aqui no Brasil, apesar da falta de liderança unificada e cada estado com seus 
governantes adotarem medidas próprias de acordo com as regras OMS (Organização Mundial 
de Saúde) e de maneira geral fechou todos os comércios, serviços e indústrias, exceto as 
atividades essenciais por exemplo farmácias e supermercados entre outros (CASADO, 2020) 
Com isso o governo federal teve que adotar ações para tentar coibir o desemprego 
em massa e a falência das empresas, industrias e prestadoras de serviços, impedidas de exercer 
suas atividades por conta de decretos inicialmente do governo federal e posteriormente dos 
governos estaduais e municipais que decretaram estado de calamidade pública e fechou as 
empresas para cumprir os planos de isolamento da população para evitar o contagio do vírus. 
O governo com apoio do congresso editou decretos e medidas provisórias onde foi 
permitido o adiamento de pagamentos impostos federais, a redução da jornada de trabalho, bem 
como a diminuição dos salários dos trabalhadores entre 25 e 70 por cento, através de acordos 
celebrados entre as partes inicialmente para agilizar o processo, devendo os sindicatos receber 
notificações sobre os acordos conforme dispôs o STF. 
O governo também criou um auxílio emergencial para os desempregados, 
autônomos que não podem trabalhar e as MEI entre outras atividades. 
Contudo infelizmente não foi o bastante e muitas empresas demitiram seus 
funcionários e estão em processo de encerramento (SANTOS, 2020). 
A origem da discussão surgiu em meio à crise com um comentário no dia 27 de 
março de 2020, do presidente da República o senhor Jair Messias Bolsonaro, que fez alusão ao 
artigo 486 da CLT, que permitiria aplicar o fato do Príncipe para responsabilizar estados e 
municípios pelas verbas rescisórias dos trabalhadores demitidos em decorrência das restrições 
de exercício de atividades econômicas durante a quarentena. Afinal, medidas limitativas do 
comércio e da indústria adotadas pelos entes federativos impossibilitariam ou dificultariam a 
continuação das atividades econômicas e dariam causa a demissões (SANTOS, 2020). 
Logico que isso, caiu como música no ouvido dos empresários e nosso trabalho tem 
intenção de elucidar através de pesquisar jurídicas o melhor entendimento e como se dará ou 
não, o chamado fato do Príncipe, que traz consigo o fato da administração e veremos sobre a 
aplicação do fato fortuito ou força maior com relação as medidas dos empresários contra o 
Estado e consequentemente contra seus colaboradores (BIAZZOTO, 2020). 
Estamos diante de uma crise na saúde e financeiro em decorrência do vírus Covid 
19 que traz efeitos ao nosso sistema jurídico com problemas inesperados para o momento e com 
consequências inimaginadas. Hoje o Poder Judiciário, assim como todos também estão em 
quarentena e com processos virtuais (SANTOS, 2020). 
Todavia, os futuros desdobramentos e a responsabilização pelos prejuízos causados 
pela pandemia caberão, por certo, ao Poder Judiciário, que tem a missão agora de dar respostas 
e soluções criativas e rápidas, que por vezes, passam por cima dos conhecimentos consolidados 
e trazem o risco de ocasionar mais danos que benefícios. Nessa atual conjuntura, em meio a 
pandemia e medidas paliativas contra os efeitos econômicos, a teoria do fato do Príncipe ganhou 
destaque acentuado em debates de Direito Tributário e Direito do Trabalho, Direito da 
Administração e a Teoria da Imprevisão (BIAZZOTO, 2020). 
O fato do Príncipe é uma determinação, ação ou ato da administração regular do 
poder público geral que vai acabar impactando na execução de um contrato economicamente 
de forma indireta. Algo imprevisto, as partes não tinham como saber. Intercorrência externa, o 
estado cria um imposto novo como norma geral (BITTENCOURT, 2018). 
No fato do Príncipe o Estado possui poder extracontratual que lhe é conferido 
licitamente para interferir diretamente no contrato administrativo, chegando a mudá-lo se for 
preciso. 
Segundo o entendimento de José dos Santos carvalho Filho, o fato do Príncipe 
ocorre quando o próprio Estado, mediante ato lícito, modifica as condições do contrato, 
provocando prejuízo ao contratado (BITTENCOURT, 2018). 
Tal interferência gera indenização para particular prejudicado com a alteração 
unilateral do Estado. Conforme entendimento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o fato do 
Príncipe repercute no contrato provocando o desequilíbrio econômico financeiro (CALCINE, 
2020) 
Cabe ressaltar que a alteração contratual só pode ser feita por quem é competente 
para tal, caso contrário, encontra-se eivada de ilicitude (BITTENCOURT, 2018). 
Devemos nos ater que o ato praticado pelo Estado não tem a finalidade de atingir 
contrato específico, é uma ação indireta, externa porem, contudo, este é alcançado, ainda que 
de forma reflexa, ocasionando prejuízo a uma das partes contratantes. Vejamos o exemplo 
abaixo: 
O fato do Príncipe é marcado pela cláusula exorbitante. São cláusulas que se 
aplicam especialmente aos contratos administrativos. Entre particulares seriam ilícitos, mas 
quando presente a Administração é perfeitamente possível. Tal cláusula oferece vantagem 
superior à administração, contudo não pode deixar de obedecer a disposição legal e estar em 
conformidade com os princípios administrativos dispostos no Art. 37 da Constituição 
(legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência). 
O fato do Príncipe é marcado pela presença da extracontratualidade, ou seja, a 
Administração faz uso de suas prerrogativas, não se comportando como parte, sendo com isso 
viável a aplicação das cláusulas exorbitantes e consequente modificação unilateral do contrato 
por parte da Administração. Não esqueça que isso só ocorre pelo fato de a Administração ter 
como característica a necessidade de sempre observar o princípio da supremacia do interesse 
público sobre o privado, logo, se a Administração pública se comportasse da mesma forma que 
os particulares nas relações contratuais, tal princípio não se aplicaria. Prejudicaria um número 
maior de pessoas em prol do favorecimento de um particular (CALCINE, 2020) 
Como afirma o Pedro Gonçalves na obra A relação jurídica fundada em contrato 
administrativo. Afirma que na verdade, os efeitos jurídicos da modificação unilateral e do fato 
do Príncipe, muitas vezes, equivalem. Trata-se, porém, de atuações finalisticamente diferentes, 
pois a modificação unilateral, que pressupõe um ato individual e concreto, sempre tem o 
contrato por objeto, enquanto o fato do Príncipe, que geralmente é um ato de caráter geral, não 
o tem. 
Agora ficou claro que a expressão “Príncipe” em verdade expressa a ideia de que 
Estado está em posição superior em relação aos particulares em se tratando de alterações 
contratuais, tal supremacia se dá aplicando as cláusulas exorbitantes, estas conferem 
desequilíbrio na relação contratual entre Administração Pública e particulares, sempre em prol 
do bem (CALCINE, 2020) 
Um dos fatos mais lembrados de exemplo para a aplicação do Fato do Príncipe que 
justificasse a aplicação do art. 486 da CLT foi quando o governo, por sua discricionariedade, 
instituiu medidas que inviabilizou o negócio, como a proibição de Outdoors no Município de 
São Paulo em 2006, sendo atingidas as empresas que trabalhavam exclusivamente com 
marketing na cidade de São Paulo, também incide o fato do Príncipe nas desapropriaçõesde 
terrenos em que funcionem empresas para expansão de trens ou metrô. 
Curiosidade, normalmente o fato do Príncipe de modo geral faz subir o preço do 
contrato. Mas temos também de acordo com a doutrina o fato do Príncipe com repercussão 
negativa como no caso de o estado diminuir encargos sobre o contrato, exemplo a desoneração 
previdenciária em 2013 que o governo determinou em prol das obras da copa e olimpíadas. 
Esse ato teve um efeito que a diminua também o valor pago ao contratado. Com isso a o fato 
do Príncipe, agora invocado pelo estado contra o contratado. 
O Fato do Príncipe e o Covid 19 artigo 486 da CLT 
Então fica a pergunta, mas é o artigo que o Presidente citou, então, vejamos, o que 
diz o artigo 486 da CLT: 
 
Art. 486 -No caso de paralisação temporária ou definitiva do trabalho, 
motivada por ato de autoridade municipal, estadual ou federal, ou pela 
promulgação de lei ou resolução que impossibilite a continuação da atividade, 
prevalecerá o pagamento da indenização, que ficará a cargo do governo 
responsável. 
 
Então caso ocorra a aplicação do fato do Príncipe, ficara o governo responsável 
pelas indenizações dos funcionários, e pagará a multa de 40% do FGTS sobre a rescisão do 
empregado demitido, ficando a empresa dispensada desta obrigação, segundo a justiça do 
trabalho (MENDES, 2020). 
Contudo, estamos diante de um fato que independe da vontade do governo e dos 
empresários, surgiu um vírus com efeitos mundiais, onde a OMS (Organização Mundial da 
Saúde) declarou que o CORONA VIRUS é uma pandemia mundial (MENDES, 2020). 
Diante do exposto, temos fundamentos legais para evocar o fato do Príncipe nesta 
atual situação, a culpa do Covid 19 é do governo? 
Podemos afirmar então que na verdade estamos diante da teoria da imprevisão, 
causa danos aos dois lados. Onde não era possível prever é um fato externo, imprevisível, 
inevitável (MENDES, 2020). 
Sendo assim, os decretos federal, estadual e municipal, não foram emitidos por 
vontade própria do presidente, governadores e prefeitos, mas sim por caso fortuito ou força 
maior, e principalmente resguardar vidas. Estamos enfrentando uma pandemia que exigiu as 
ações aplicadas (MENDES, 2020). 
Com isso se afasta no entendimento de muitos juristas que acompanhamos via 
artigos e live a aplicação do fato do Príncipe. Não temos fato do Príncipe como evocou o 
presidente da república com base no artigo 486º da CLT. 
Contudo temos na MP nº 927, de 22 de março de 2020, no parágrafo único do artigo 
1º; 
Art. 1º Esta Medida Provisória dispõe sobre as medidas trabalhistas que poderão 
ser adotadas pelos empregadores para preservação do emprego e da renda e para enfrentamento 
do estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 
2020, e da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus 
(covid-19), decretada pelo Ministro de Estado da Saúde, em 3 de fevereiro de 2020, nos termos 
do disposto na Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. 
Parágrafo único. O disposto nesta Medida Provisória se aplica durante o estado de 
calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 2020, e, para fins 
trabalhistas, constitui hipótese de força maior, nos termos do disposto no art. 501 da 
Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. 
Os empregadores poderão então demitir seus funcionários por motivos de força 
maior de acordo com a medida provisória. 
Será que podem? 
 
4. Força maior – Caso Fortuito Artigo 501 
 
Estamos passando em nosso país, assim como no mundo todo conforme já citado 
por uma pandemia, que está afetando de modo geral todas as atividades, principalmente a área 
econômica. 
Muitas empresas, como bares e restaurantes, impedidos de abrir por conta da 
necessidade de evitar aglomerações e conter a circulação do vírus, estão passando por uma 
dificuldade ainda maior, produtos perdidos, funcionários infelizmente sendo dispensados, 
empresários sem receitas para pagar as rescisões indenizatórias. Uma situação muito triste para 
todos. 
Nesta mesma situação conforme exemplo citado dos donos de bares e restaurantes, 
se encontram empresários de outros ramos de atividades diversas, que estão com suas empresas 
fechadas por determinação dos governantes. 
Diante dos fatos, surge uma nova dúvida sobre a possibilidade de se aplicar, ou não, 
o artigo 501 da CLT, conforme descrito na MP 927/2020, durante a pandemia? 
 
Art. 501 - Entende-se como força maior todo acontecimento inevitável, em 
relação à vontade do empregador, e para a realização do qual este não 
concorreu, direta ou indiretamente. 
§ 1º A imprevidência do empregador exclui a razão de força maior. 
§ 2º À ocorrência do motivo de força maior que não afetar substâncialmente, 
nem for suscetível de afetar, em tais condições, a situação econômica e 
financeira da empresa não se aplicam as restrições desta Lei referentes ao 
disposto neste Capítulo. 
 
Inegável que estamos diante de um caso de força maior, como também não podemos 
esquecer que o risco do negócio é do empregador como dispõe o artigo 2º caput da CLT. 
O ministro Alexandre Belmonte lembra que o artigo em questão não faz distinção 
entre o caso fortuito natural ou o fortuito humano quer para manutenção do contrato para 
paralisação temporária da atividade empresarial ou quer para efeitos indenizatórios do 
rompimento contratual causado por motivo de extinção do estabelecimento ou da atividade. 
 
Como o risco da atividade por força do artigo 2ª caput da CLT é do 
empresário, na ocorrência de paralisação parcial, o contrato fica apenas 
interrompido. E ocorrendo prejuízos financeiros enseja redução de jornada e 
salarial em até 25%. No caso de rompimento do contrato é o caso de 
indenização por metade (BRASIL, 2020). 
 
Vejamos a complexidade jurídica de chegar a um alinhamento sobre como aplicar 
a força maior no atual momento que vivemos essa pandemia. 
Segundo o professor de pós-graduação da FMU e mestre em direito trabalhista 
Ricardo Calcini. "O atual problema que já está sendo enfrentado hoje no Poder Judiciário é que 
nem toda rescisão contratual pode ser reputada como força maior", diz ele." 
A rescisão contratual por força maior, apta a justificar a redução da multa do FGTS 
para 20%, deve ser precedida da necessária extinção da própria atividade empresarial", explica 
o especialista. 
Conforme citado pelo professor, no artigo 502 da CLT está expresso; 
 
Art. 502 - Ocorrendo motivo de força maior que determine a extinção da 
empresa, ou de um dos estabelecimentos em que trabalhe o empregado, é 
assegurada a este, quando despedido, uma indenização na forma seguinte: 
I - sendo estável, nos termos dos arts. 477 e 478; 
II - não tendo direito à estabilidade, metade da que seria devida em caso de 
rescisão sem justa causa; 
III - havendo contrato por prazo determinado, aquela a que se refere o art. 479 
desta Lei, reduzida igualmente à metade (BRASIL, 1943, grifo nosso). 
 
Cria se aqui um nó para o judiciário desatar, sim, um problema a mais, porque a 
MP 927/2020, não diz que o motivo de força maior seja sobre a rescisão, entendo que o governo 
tentou expor que caso não ocorresse um acordo amigável entre o empregador e o empregado, a 
empresa via o artigo 501 da CLT, poderia reduzir a jornada de trabalho e os salários dos 
funcionários em 25 por cento, sob a alegação de força maior. Não há com exceção do artigo 21º 
da MP 927, a palavra rescisão, e ainda que conste, salvo melhor juízo, faz referência ao 
enunciado no artigo 19º da mesma MP que vejamos; 
 
Art. 21. Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho, a suspensão prevista 
no art. 19 ficará resolvida e o empregador ficará obrigado: 
I - ao recolhimento dos valores correspondentes, sem incidência da multa e 
dos encargos devidos nos termos do disposto no art. 22 da Lei nº 8.036, de 
1990, caso seja efetuadodentro do prazo legal estabelecido para sua 
realização; e 
II - ao depósito dos valores previstos no art. 18 da Lei nº 8.036, de 1990. 
Parágrafo único. Na hipótese prevista no caput, as eventuais parcelas 
vincendas terão sua data de vencimento antecipada para o prazo aplicável ao 
recolhimento previsto no art. 18 da Lei nº 8.036, de 1990. 
Art. 19. Fica suspensa a exigibilidade do recolhimento do FGTS pelos 
empregadores, referente às competências de março, abril e maio de 2020, 
com vencimento em abril, maio e junho de 2020, respectivamente (BRASIL, 
2020, grifo nosso). 
 
O artigo 19 da MP 927/2020, dispõe que o governo está suspendendo o pagamento 
do FGTS das competências de março, abril, e maio do ano de 2020, e no artigo 21 da MP 927, 
está descrito que em caso de rescisão o empregador, está livre de pagar a multa pelo não 
recolhimento do FGTS ( Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) enquanto suspenso 
(CASTELANI, 2020). 
Já para o artigo 502 da CLT, a empresa para pagar a multa rescisória pela metade, 
deve comprovar sua extinção, com o encerramento das atividades(TEIXEIRA, 2020). 
Contudo, muitas empresas estão usando deste artificio e demitindo seus 
funcionários sob a alegação de força maior conforme a MP 927, parágrafo único, e recolhendo 
as indenizações rescisórias pela metade sem ao menos ter o consentimento da justiça do trabalho 
(CASTELANI, 2020). 
Muitos juristas, já manifestaram seus entendimentos que teremos mais a frente uma 
grande quantidade de questionamentos por parte dos funcionários na justiça do trabalho por 
conta destas rescisões com amparo na MP 927 (TEIXEIRA, 2020). 
Pensar no trabalhador, não só como instrumento de trabalho, mas, acima de tudo, 
como ser humano. Seguramente, este é o maior exemplo de ética que uma empresa pode dar. 
Luana Mendes, Advogada (MENDES, 2020). 
 Poderá ser aplicado a força maior, sim, porem deve se atentar em qual sentido, 
sobre a redução das jornadas e salários em 25 por cento, e com o encerramento das atividades 
a extinção da empresa, fundamentada com base legal nos artigos de 501 a 504 da CLT. 
Todavia, deve ser procurar um advogado especialista e solicitar um parecer para 
evitar problemas futuros com a justiça do trabalho, geralmente, a justiça do trabalho tem o dever 
de proteger os direitos do trabalhador (TEIXEIRA, 2020). 
 
5 FATO DA ADMINISTRAÇÃO 
 
Trata-se da ação ou omissão da Administração cometida pela unidade 
administrativa contratante que, incidindo direta e especificamente sobre o contrato, impede a 
sua execução. É falta contratual cometida pela própria autoridade contratante que atinge um 
contrato especificadamente (TJ-GO, 2019). 
É considerado uma das causas que impossibilitam o cumprimento do contrato administrativo pelo 
contratado, o ato especial da autoridade contratante que afeta o contrato. Ele pode ser definido como 
toda ação ou omissão do Poder Público, especificamente relacionada ao contrato, que impede ou 
retarda sua execução. Consequentemente, a sua incidência pode apresentar oportunidade a rescisão 
judicial ou amigável do contrato, ou ainda, a paralisação da execução contratual, até que a situação 
seja normalizada. Esse fato não produz nenhum efeito jurídico no direito administrativo ( FIGUEIREDO, 
2012). 
 
Quando sobrevêm eventos extraordinários, imprevistos e imprevisíveis, 
onerosos, retardadores ou impeditivos da execução do contrato, a parte 
atingida fica liberada dos encargos originários e o ajustado terá que ser revisto 
ou rescindido, pela aplicação da teoria da imprevisão, provinda da cláusula 
rebus sic stantibus, nos seus desdobramentos de força maior, caso fortuito, 
fato do príncipe, fato da Administração, estado de perigo, lesão e 
interferências imprevistas [...] (MEIRELLES, 2012, p. 248, grifo nosso). 
 
O fato da Administração tem autonomia conceitual, que o diferencia de outros eventos que 
desestabilizam o equilíbrio econômico-financeiro – tais como o fato do príncipe, fato imprevisto, força 
maior e caso fortuito (GASIOLA, 2017). 
O esforço de sistematização do pensamento doutrinário brasileiro sobre fato da Administração é 
artificial. Não corresponde a uma divisão real, mas apenas intenta facilitar a visualização do rico quadro 
de entendimentos sobre o mesmo tema. Sem prejuízo, é possível extrair da revisão algumas 
conclusões sobre o fato da Administração na doutrina brasileira (GASIOLA, 2017). 
 
Quanto aos efeitos, o fato da Administração não 
 teria autonomia, sendo equiparado com a força maior. 
 (MEIRELLES 1990, p. 235; e 1991, p. 217, grifo nosso) 
 
6 Considerações finais. 
 
Neste trabalho discutimos os efeitos da Covid - 19 na economia e seus 
desdobramentos para os empresários e a justiça do trabalho mais especificamente. Onde 
tentamos esclarecer pontos polêmicos sobre a aplicação do Fato do Príncipe e a Força Maior, 
relacionados as indenizações rescisórias dos funcionários das empresas que foram afetadas 
economicamente pela pandemia em decorrendo das determinações de fechamento do comercio. 
Após estudo da matéria, conforme exposto, destacamos a dificuldade do setor 
judiciário trabalhista frente a possível enxurrada de ações de empregados questionando via 
judicial a validade ou não dos valores pagos em suas rescisões. Conforme exposto, os 
empregadores precisam de auxílio de especialistas na área para não causar prejuízos aos seus 
funcionários e consequentemente ser multado pelo não cumprimento das normas da CLT, tendo 
em vista que o uso do Fato maior pelas empresas tem que observar vários requisitos, sendo o 
principal a extinção da empresa. 
Compreendemos com relação ao Fato do Príncipe e com todo o respeito que merece 
o senhor presidente da república, Jair Messias Bolsonaro, incabível a aplicação do Fato do 
Príncipe conforme citado pelo mesmo para atribuir aos governadores e prefeitos a 
responsabilidade do pagamento das multas rescisórias das dispensas dos funcionários. 
Tendo em vista o exposto, que o ato do estado não foi direcionado, mas obrigado pela 
pandemia que assola todo o mundo, em razão da preservação de vidas, que é um bem maior. 
 
 
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