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Aula 3. FV. Licenciatura em Ensino de Biologia. Docente dr. Balduíno Aleixo & Monitor: Pio.Pag. 1 REACÇÃO DE FIXAÇÃO DO CARBONO – FASE QUÍMICA (Ciclo de Calvin-Benson) A fixação do CO2 ocorre em 3 etapas essenciais: Carboxilação ou Fixação do carbono; Redução; e Regeneração. Carboxilação ou Fixação do carbono Incorporação de um CO2 e H2O na molécula de Ribulose-1,5-bifosfato (composto de 5C) na presença da enzima Rubisco (Ribulose-1,5-bisfosfato carboxilase/oxigenase e a hidrólise desta em duas moléculas de Ácido 3-fosfoglicérico ou 3-fosfoglicerato (3C) 6CO2 + 6Ribuluse 1,5-difosfato 12 Acido 3-fosfoglicérico/3-fosfoglicerato Na falta de CO2 e na presença de O2, a ribulose-bisfato - carboxilase (oxigenase) oxida ribulose 1,5 bisfosfato, começando a fotorrespiração. Aula 3. FV. Licenciatura em Ensino de Biologia. Docente dr. Balduíno Aleixo & Monitor: Pio.Pag. 2 Redução A molécula do Ácido 3-Fosfoglicerico por acção da enzima fosfoglicerato quinase é fosforilada pelo ATP e converte-se em Ácido 1,3-difosfoglicerico. Ácido 3-Fosfoglicerico Fosfoglicerato quinase Ácido 1,3-difosfoglicerico ATP → ADP + Pi Ácido 1,3-difosfoglicerico formado, por acção da agente redutor é o NADPH reduz-se a Gliceraldeido 3-fosfato Ácido 1,3-difosfoglicerico Gliceraldeído-3-fosfato quinase Gliceraldeido 3-fosfato NADPH+H + Equação global: 12 Ácido 3-fosfoglicerico + 12 ATP + 12 NADPH+H + 3-Fg-Quinas 12Gliceraldeido 3-fosfato + 12ADP+12Pi + 12 NADP Regeneração Por acção da enzima Triose-fosfato isomerase, as moléculas do Gliceraldeido 3-fosfato se inter-covertem em Diidroxicetona-fosfato Gliceraldeido 3-fosfato Triose-fosfato isomerase Diidroxicetona-fosfato As moléculas do Gliceraldeido 3-fosfato e do Diidroxicetona-fosfato por acção da enzima transaldoses e transcetolases são desfosforiladas a Riboluse 5-fosfacto Gliceraldeido 3-fosfato //Diidroxicetona-fosfato transaldoses/transcetolases Riboluse 5- fosfacto A molécula do Riboluse 5-fosfacto por acção da enzima fosforibulo-quinase sofre uma fosforilação e regenera-se o Riboluse 1,5-difosfacto para retomar o ciclo de Calvin-Benson como aceitador do CO2. Riboluse 5-fosfacto Fosforiboluse quinase Riboluse 1,5-difosfacto Síntese da Glicose O Ciclo de Calvin-Benson acorre no estroma, e o Gliceraldeído-3-fosfato não passa para a regeneração da Riboluse 1,5-disfosfato, por isso converte-se em Diidroxicetona-fosfato que da prosseguimento com ciclo. Enquanto o Gliceraldeído-3-fosfato passa ao citoplasma para a síntese da glicose. Aula 3. FV. Licenciatura em Ensino de Biologia. Docente dr. Balduíno Aleixo & Monitor: Pio.Pag. 3 No citoplasma o Gliceraldeído-3-fosfato e Diidroxicetona-fosfato por acção da enzima transaldolase são convertidos em Fructose 1,6-disfosfato Gliceraldeído-3-fosfato// Diidroxicetona-fosfato transaldolase Fructose 1,6-disfosfato A molécula do Fructose 1,6-disfosfato por acção da enzima fosfofruto quinase é fosforilada a Fructose 6-fosfato. Fructose 1,6-disfosfato fosfofruto quinase Fructose 6-fosfato A Fructose 6-fosfato por acção da enzima fructose 6-fosfato epimerase converte-se em Glicose 6-fosfato. Fructose 6-fosfato fructose 6-fosfato epimerase Glicose 6-fosfato A molécula Glicose 6-fosfato por acção da enzima glicose 6-fosfatase é fosforilada a Glicose Glicose 6-fosfato glicose 6-fosfatase Glicose + Pi Durante as reacções não dependentes da luz, o NADPH+H + e o ATP formados durante as reacções da fase luminosa vão ser utilizadas para reduzir o CO2 a compostos complexos, ricos em energia. 6CO2 + 12 NADPH+H + 18 ATP C6H12O6 + 12 NADP + 18 ADP + 18 Pi Síntese do amido e sacarose Embora a glicose seja comumente representada como o carboidrato produzido pela fotossíntese nas equações resumidas, na realidade muito pouca glicose livre é gerada nas células fotossintetizantes. A maioria do carbono fixado é convertida em sacarose, a principal forma de transporte dos açúcares, ou em amido, a principal forma de armazenamento de carboidratos nas plantas. Grande parte do gliceraldeído 3-fosfato produzido pelo ciclo de Calvin é exportada para o citoplasma, onde, através de uma série de reações, é convertido em sacarose. A maioria do gliceraldeído 3-fosfato que permanece no cloroplasto é convertida em amido, que é estocado, temporariamente, durante o período de luz, como grãos de amido no estroma. Durante a noite, a sacarose é produzida a partir do amido e é exportada da folha pelos feixes vasculares para as outras partes da planta. A sacarose é a principal forma de carboidrato que é translocada na planta, via floema. Já o amido é um carboidrato insolúvel, de reserva, presente em quase todas as plantas. O interessante é que tanto a sacarose como o amido são gerados a partir da triose-fosfato gerada no ciclo de Calvin. Aula 3. FV. Licenciatura em Ensino de Biologia. Docente dr. Balduíno Aleixo & Monitor: Pio.Pag. 4 A síntese de amido ocorre no cloroplasto e se dá pela formação de ADP-glucose. A partir da adição de ADP-glucose forma-se um polímero de glicose unido por ligação glicosídica α-1,4. A síntese de sacarose, por sua vez, ocorre no citosol e se dá pela formação de UDP- glucose que se combina com frutose-6-fosfato e produz a sacarose-6-fosfato. Esta última é convertida para sacarose por ação de uma fosfatase. As sínteses de amido e de sacarose apresentam praticamente os mesmos intermediários (frutose-1,6-bisfosfato, frutose-6-fosfato, glicose-1-fosfato, etc.). No entanto, estas vias biossintéticas possuem izoenzimas, que são únicas para cloroplasto e citoplasma. O que determina o destino do gliceraldeído-3-fosfato produzido na fotossíntese? Produz amido ou sacarose? As concentrações relativas de ortofosfato e triose-fosfato (gliceraldeído- 3-fosfato) são os principais fatores que controlam se o carbono fixado fotossinteticamente é alocado como amido nos cloroplastos ou como sacarose no citosol. Estes dois compartimentos se comunicam pelo translocador de fosfato/triose-fosfato. O ortofosfato em direção ao cloroplasto e triose-fosfato para o citosol. Situação 1: [ortofosfato no citosol] exportação de triose-fosfato síntese de amido para o citosol no cloroplasto Situação 2: [ortofosfato no citosol] exportação de triose-fosfato síntese de sacarose para o citosol no citosol Síntese de amido e de sacarose (Taiz & Zeiger, 1998) Aula 3. FV. Licenciatura em Ensino de Biologia. Docente dr. Balduíno Aleixo & Monitor: Pio.Pag. 5 Regulação do Ciclo de Calvin Cinco enzimas do ciclo de Calvin são reguladas pela luz: rubisco (fase de carboxilação); NADP: desidrogenase do gliceraldeído-3-fosfato (fase de redução); frutose-1,6-bisfosfatase, sedoheptulose-1,7-bisfosfatase e quinase ribulose-5-fosfato (fase de regeneração). A enzima da fase de redução (desidrogenase do gliceraldeído-3- fosfato) e as três enzimas da fase de regeneração são controladas pelo sistema ferredoxina-tiorredoxina. Estas quatro enzimas possuem um ou mais grupos dissulfeto (S-S). No escuro estes resíduos estão na forma oxidada, deixando a enzima inativa ou subativa. Na luz, os elétrons da ferredoxina, via tiorredoxina, são utilizados para reduzir o grupo S-S para o estado sulfidrila (SH). A mudança promove a ativação da enzima. A rubisco, por sua vez, é regulada pela carbamilação (Figura a Baixo). Quando os cloroplastos são submetidos à luz, ocorre um aumento no pH do estroma. Este aumento no pH do estroma provoca a desprotonação do grupamento amino (ε-NH3 + ) de um resíduo de lisina no sítio ativo da enzima. Este grupamento passa de NH3 + para NH2. Este resíduo desprotonado reagecom uma molécula de CO2 (que não é a mesma molécula substrato) ficando a enzima com uma carga negativa (NH-COO ). A ativação final da enzima depende da atração eletrostática desta carga negativa com iões Mg 2+. A concentração deste ião no estroma também aumenta em folhas expostas à luz. Mecanismo de regulação da atividade da rubisco pela luz (Taiz & Zeiger, 1998) Aula 3. FV. Licenciatura em Ensino de Biologia. Docente dr. Balduíno Aleixo & Monitor: Pio.Pag. 6 Fotorrespiração O ciclo fotorrespiratório está relacionado com a actividade de oxigenação da rubisco e resulta na perda de CO2 e na diminuição da eficiência fotossintética. Por outras palavras pode-se dizer que a fotorrespiração e a perda do CO2 na presença da Luz. As moléculas de CO2 e O2 competem na reacção catalisada pela rubisco, visto que, carboxilação e oxigenação ocorrem no mesmo sítio activo da enzima. Na reacção de oxigenação o O2 reage com a ribulose-1,5- bisfosfato e produz um composto de três carbonos (3-fosfoglicerato) e outro de dois carbonos (2-fosfoglicolato). O2 + ribulose-1,5-bisfosfato 3-fosfoglicerato + 2-fosfoglicolato + 2H+ (5C) (3C) (2C) O ciclo fotorrespiratório serve para recuperar os dois carbonos gerados pela actividade oxigenase, na forma de 2-Fosfoglicolato. Este ciclo envolve três compartimentos celulares: cloroplasto, peroxissomo e mitocôndria. O ciclo se inicia no cloroplasto com a formação do glicolato a partir do 2-fosfoglicolato. O glicolato migra para o peroxissomo onde é convertido Aula 3. FV. Licenciatura em Ensino de Biologia. Docente dr. Balduíno Aleixo & Monitor: Pio.Pag. 7 para glicina (aminoácido) e peróxido de hidrogénio (H2O2). Este organelo é rico em uma enzima conhecida como catalase, a qual degrada o H2O2, que é tóxico para a célula. catalase 2 H2O2 2 H2O + O2 A glicina migra do peroxissomo para a mitocôndria. Duas moléculas de glicina (2C) produzem uma molécula de serina (aminoácido com 3 carbono). Nesta etapa ocorre liberação de NH3 e de CO2. OBS: Como se vê, ocorre consumo de O2 (no cloroplasto) e liberação de CO2 (na mitocôndria), por isso chama-se fotorrespiração. A serina (3C) formada na mitocôndria migra para o peroxissoma onde é convertido para glicerato. O glicerato (3C) migra para o cloroplasto onde é convertido para 3 fosfoglicerato (3C), com gasto de ATP. Assim, duas moléculas de fosfoglicolato (2x2 = 4 carbonos), geradas pela actividade oxigenásica da rubisco, produzem uma molécula de 3-fosfoglicerato (3C) e uma molécula de CO2. Neste caso, 75% do carbono gerado pela oxigenase é recuperado e retorna para o ciclo de Calvin. No entanto, o grau de perdas de carbono pela fotorrespiração depende das concentrações de CO2 e O2, das propriedades cinéticas da rubisco e da temperatura, e tende a ser maior que 25% em condições normais do ambiente. Em geral, nas temperaturas elevadas de regiões tropicais as perdas pela fotorrespiração podem ser bem maiores. O aumento na temperatura diminui a solubilidade dos gases, sendo que a temperatura afeta mais a solubilidade do CO2 do que a do O2. Assim temos: Temperatura [CO2]/[O2] Temperatura Atividade Oxigenásica da rubisco Temperatura Fotorrespiração As perdas podem superar os 40%. Assim, a fotorrespiração reduz a assimilação líquida de CO2, ou seja, reduz a fotossíntese líquida. Fotossíntese líquida = fotossíntese total – (respiração + fotorrespiração) Quanto maior for a fotorrespiração, menor será a fotossíntese líquida. Aula 3. FV. Licenciatura em Ensino de Biologia. Docente dr. Balduíno Aleixo & Monitor: Pio.Pag. 8 Por que a existência da fotorrespiração? A química da reação de carboxilação poderia requerer um intermediário (substrato) com capacidade para reagir com CO2 ou O2. Isto não teria sido problema no início da evolução do processo de fotossíntese, visto que naquele tempo a razão [CO2]/[O2] era muito maior do que a observada nos dias de hoje. A fotorrespiração poderia contribuir para a dissipação de ATP e poder redutor e evitar danos sobre o aparelho fotossintético (foto-oxidação e fotoinibição) sob condições de excesso de energia (por exemplo, alta intensidade de luz e baixa concentração interna de CO2, como ocorre em plantas expostas a estresse hídrico – estômatos fechados). Esquema simplificado da fotorrespiração A fotorrespiração é a perda de CO2 na presença de luz. A fotorrespiração e o ciclo de Calvin são reacções competidoras. Todas as rubiscos realizam a oxigenação da Ribulose1,5-disfosfato independente da origem taxonômica Reacções ocorrem no mesmo sítio activo. A fotorrespiração corresponde a perda de CO2 que ocorre na presença de luz. É uma perda de CO2 adicional à respiração mitocondrial. O fosfoglicolato é defosforilado para glicolato e passa para os peroxissomos onde é oxidado e transaminado para glicina. 2 glicinas formam uma serina que é desaminada para Aula 3. FV. Licenciatura em Ensino de Biologia. Docente dr. Balduíno Aleixo & Monitor: Pio.Pag. 9 hidroxipiruvato que está reduzida glicerato e é fosforilado no citossol a 3-P-glicerato e entra no ciclo de Calvin. O ATP dissipado inutilmente. Alguns autores apontam que a fotorrespiração ocorre porque a Rubisco do Ciclo de Calvin-Benson atua também como oxigenase, além da função carboxilase (Rubisco = ribulose 1,5 bisfosfato carboxilase-oxigenase). O CO2 e o O2 competem pelo sítio ativo, mas quando o O2 se combina com RUBP, um ácido de 2 carbonos (fosfoglicolato ou ácido fosfoglicólico) é formado, e ele não é usado no Ciclo de Calvin-Benson. O fosfoglicolato é rapidamente convertido em glicolato, que é o substrato para a fotorrespiração. A fotorrespiração envolve três organelas: peroxissoma, mitocôndria e cloroplasto. Um fornecimento de energia é requerido (ATP e ferrodoxina reduzida). O O2 é consumido e uma parte do glicolato é perdido como CO2 e outra parte retorna ao ciclo de Calvin-Benson como 3- PGA. A função carboxilase da Rubisco é favorecida por teores elevados de CO2 e temperaturas e intensidades luminosas moderadas, resultando em 2 moléculas de 3-PGA. A função oxigenase é favorecida por temperaturas e intensidades luminosas elevadas, dando como resultado 1 moléculas de 3-PGA e 1 molécula de ácido fosfoglicólico. Assim, altas taxas de fotorrespiração ocorrem em altas temperaturas e irradiâncias devido: a) o substrato específico da Rubisco prefere o O2 com o aumento da temperatura e b) a concentração de CO2 na folha torna- se limitante e baixo sob altas irradiâncias porque a fotossíntese é acelerada. Plantas C4 minimizam a função oxigenase da Rubisco e a fotorrespiração, pois concentram o CO2 no sítio do ciclo de Calvin-Benson. Plantas C3 apresentam maior fotorrespiração que plantas C4, considerando que plantas C3 apresentam menor afinidade com a Rubisco do que as plantas C4 com a PEP-case. Assim, a carboxilação nas plantas C3 é feita apenas pela Rubisco, enquanto nas plantas C4, além da Rubisco, existe a PEP-case como enzimas responsáveis pela carboxilação. Evidências experimentais recentes tem demonstrado que a fotorrespiração também poderia servir como um caminho de defesa do aparelho fotossintético, principalmente em plantas expostas às altas intensidades luminosas e baixas concentrações internas de CO2 (p.ex. quando os estômatos se fecham em condições de estresse hídrico). Na etapa bioquímica da fotossíntese (ciclo de Calvin-Benson) são consumidos 2 NADPH e 3 ATP, ao passo que, na fotorrespiração, são consumidos 4 NADPH e 7 ATP, para cada molécula de CO2 fixada ou liberada, respectivamente. Dessa forma, a fotorrespiração teria como função dissipar o excesso de ATP e NADPH+H+ produzidos na etapa luminosa da fotossíntese, protegendo a plantada 'foto-inibição e permitindo uma rápida recuperação após o período de estresse.
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