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BANCO DE QUESTÕES TJCE versão final

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Projeto JUIZ TJCE 2019 
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BANCO DE QUESTÕES 
TREINOS PROVA ORAL TJCE 
Atualizado!!! 
 
Sumário 
DIREITO CONSTITUCIONAL ...................................................................................................................................... 2 
1. CONSTITUIÇÃO E PODER CONSTITUINTE ............................................................................................................................. 2 
2. DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................................................................................... 5 
3. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ................................................................................................................................. 47 
4. SEPARAÇÃO DOS ESTADOS E DOS PODERES............................................................................................................................ 86 
5. PODER LEGISLATIVO .................................................................................................................................................. 103 
6. PODER EXECUTIVO .................................................................................................................................................... 127 
7. PODER JUDICIÁRIO E SERVIÇOS AUXILIARES ......................................................................................................................... 135 
8. SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL ....................................................................................................................................... 152 
DIREITO ADMINISTRATIVO .................................................................................................................................. 157 
9. LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ......................................................................................................... 162 
10. AGENTES PÚBLICOS....................................................................................................................................................... 167 
11. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ............................................................................................................................ 182 
12. RESPONSABILIDADE DO ESTADO ............................................................................................................................. 190 
DIREITO CIVIL ...................................................................................................................................................... 198 
13. DIREITOS DE PERSONALIDADE ......................................................................................................................................... 198 
14. OBRIGAÇÕES ............................................................................................................................................................... 208 
15. CONTRATOS ............................................................................................................................................................. 218 
16. RESPONSABILIDADE CIVIL............................................................................................................................................... 255 
17. DIREITO DE FAMÍLIA ..................................................................................................................................................... 263 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL ................................................................................................................................. 287 
18. LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE TERCEIRO ..................................................................................................... 287 
19. ATOS DO PROCESSO ..................................................................................................................................................... 288 
20. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS E CONDIÇÕES DA AÇÃO ......................................................................................................... 293 
21. SENTENÇA E LIQUIDAÇÃO .............................................................................................................................................. 300 
22. MANDADO DE SEGURANÇA ............................................................................................................................................ 343 
DIREITO PENAL ................................................................................................................................................... 349 
 
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23. PARTE GERAL DE DIREITO PENAL ................................................................................................................................. 349 
24. LEI PENAL .................................................................................................................................................................... 359 
25. TIPIFICAÇÃO DE CRIMES ................................................................................................................................................ 361 
26. DOSIMETRIA DA PENA ................................................................................................................................................... 374 
27. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE .......................................................................................................................................... 377 
28. EFEITOS DA CONDENAÇÃO ............................................................................................................................................. 393 
29. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................................................................................................. 396 
DIREITO PROCESSUAL PENAL ............................................................................................................................... 397 
30. ATOS PROCESSUAIS E PRINCÍPIOS ................................................................................................................................ 397 
31. COMPETÊNCIA ......................................................................................................................................................... 405 
32. PROVAS...................................................................................................................................................................... 408 
33. MEDIDAS CAUTELARES .................................................................................................................................................. 429 
34. RECURSOS ............................................................................................................................................................... 429 
35. EXECUÇÕES PENAIS ...................................................................................................................................................... 444 
DIREITO TRIBUTÁRIO .......................................................................................................................................... 460 
36. PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS ............................................................................................................................................... 460 
37. COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA ............................................................................................................................................ 467 
38. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA ..................................................................................................................................... 475 
39. EXECUÇÃO FISCAL.................................................................................................................................................... 485DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
1. CONSTITUIÇÃO E PODER CONSTITUINTE 
 
 
 
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 Direito Constitucional: Fale sobre os limites ao Poder Constituinte Derivado. As cláusulas pétreas 
são limites absolutos ou relativos? O que consiste a teoria da dupla revisão? 
 Limites imanentes: são os limites positivados na própria CF. 
 Limites transcendentes: não estão positivados na própria CF. Decorrem de outro plano. Podem ser 
valores suprapositivos ou obrigações assumidas na esfera internacional. 
 Limites absolutos: não são superados sem ruptura com a ordem constitucional vigente. É o limite 
instransponível. Quem não aceita a teoria da dupla revisão concebe as cláusulas pétreas como limite absoluto. 
 Limites relativos: podem ser superados sem a ruptura com a ordem constitucional vigente. OBS: para 
quem aceita a teoria da dupla revisão concebe as cláusulas pétreas como limite relativo. 
 
Teoria da dupla revisão: primeiro faz-se uma mudança dizendo que o que era cláusula pétrea não é 
mais e depois faz-se outra mudança alterando o que era considerado cláusula pétrea. 
 
(1) Limitações temporais: impedem a alteração da CF num determinado período de tempo. 
(2) Limites circunstanciais: impede a alteração da CF em situações excepcionais, nos quais a livre 
manifestação do poder constituinte reformador esteja ameaçada. Momentos em que não se pode alterar a 
CF. 
 
Art. 60, § 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de 
defesa ou de estado de sítio. 
(3) Limites formais/procedimentais: procedimentais ou processuais: impõe a observância de 
determinadas formalidades durante o processo de elaboração das emendas. Todas as CF rígidas têm limites 
formais ao Poder de Reforma. 
(4) Limites materiais: cláusulas pétreas. 
 
 
 
EXPLIQUE E DIFERENCIE AS DECISÕES INTERPETRATIVAS EM SENTIDO ESTRITO E AS DECISÕES 
MANIPULATIVAS. 
 
RESPOSTA: 
São técnicas que o STF recentemente passou a utilizar, derivadas da doutrina italiana, e que se dividem 
em dois tipos, com subdivisões: 
I - Decisões Interpretativas: Não são tão diferentes das técnicas gerais, como se verá: 
 
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a) De Rechaço: Ocorre quando diante de duas possíveis interpretações possíveis para uma norma, a 
Corte Constitucional, por meio das sentenças interpretativas de rechaço, adota a interpretação que se 
conforma à Constituição, repudiando as que contrariem o texto constitucional. Ou seja, existem várias 
interpretações possíveis, algumas inconstitucionais, e só essas são excluídas. É, em verdade, uma espécie de 
interpretação conforme a Constituição. 
b) De Aceitação: Caracteriza-se pelo ato da Corte Constitucional de anular uma decisão tomada por 
instâncias inferiores, que haja adotado interpretações lesivas à Constituição. Não há anulação do dispositivo, 
mas apenas de uma de suas interpretações, por ser inconstitucional. Ou seja, a lei não é inconstitucional, mas 
a aplicação dada por uma instância inferior é. A norma extraída da interpretação inconstitucional não é aceita, 
sendo anulada em caráter definitivo e com eficácia erga omnes. 
II - Manipulativas ou Intermediárias: são decisões em que, conforme a doutrina italiana de Riccardo 
Guastini: 
O órgão de jurisdição constitucional modifica ou adita normas submetidas a sua apreciação, a fim de 
que saiam do juízo constitucional com incidência normativa ou conteúdo distinto do original, mas concordante 
com a Constituição. (RE 641320/RS). 
Ou seja, o STF analisará uma dada lei e situação, e para a lei ser constitucional, ou seria necessário 
substituir determinados sentidos da lei, ou criar mais normas, tendo uma atuação excepcional, não apenas 
como legislador negativo, mas também funcionará como legislador positivo. São de duas espécies: 
a) Aditivas: Citando Pedro Lenza: 
A sentença aditiva pode ser justificada, por exemplo, em razão da não observância do princípio da 
isonomia, notadamente nas situações em que a lei concede certo benefício ou tratamento a determinadas 
pessoas, mas exclui outras que se enquadrariam na mesma situação. Assim, nessas hipóteses, o Tribunal 
Constitucional declara inconstitucional a norma na parte em que trata desigualmente os iguais, sem qualquer 
razoabilidade e/ou nexo de causalidade. A decisão se mostra aditiva, já que a Corte, ao decidir, ‘cria uma 
norma autônoma’’, estendendo aos excluídos o benefício. (LENZA, Pedro. Direito Constitucional 
Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2014. P. 177). 
Um caso emblemático seria no caso Raposa Serra de Sol, em que se analisou a demarcação de terras 
indígenas, em que o Rel. Min. Menezes Direito estabeleceu um conjunto de regras que deveriam ser seguidas 
no processo de demarcação, regras essas criadas na decisão do Ministro, ou seja, as normas não existiam no 
sistema jurídico, foram adicionadas pela ação do STF. 
Um outro exemplo seria a ADPF 54, Rel. Min. Marco Aurélio, julgada em 12/4/2012, na qual o STF 
julgou inconstitucional a criminalização dos abortos de fetos anencefálicos, atuando de forma criativa ao 
acrescentar mais uma excludente de punibilidade – no caso de o feto padecer de anencefalia – ao crime de 
aborto. 
 
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b) Substitutivas: Nesse tipo de decisão, o STF analisa uma determinada situação e considera um 
dispositivo em um sentido específico como inconstitucional, “retirando” então do texto normativo um 
dispositivo e colocasse outro de criação do próprio tribunal. Um exemplo disso foi na MP 2183-56, que alterou 
o Decreto-lei nº 3.365/41 e estabeleceu que, no caso de imissão prévia na posse, na desapropriação por 
necessidade ou utilidade pública e interesse social, havendo divergência entre o preço ofertado em juízo e o 
valor do bem, fixado na sentença, deverá incidir juros compensatórios de até 6% ao ano. Ao julgar ADI contra 
esta MP, o STF afirmou que esse percentual de 6% era inconstitucional e determinou que este percentual 
deveria ser de 12% ao ano (ADI 2332, Rel. Min. Moreira Alves, julgado em 05/09/2001). (FONTE: DIZER O 
DIREITO). 
 
 
DIREITO CONSITUCIONAL 
O QUE SE ENTENDE POR CONSTITUIÇÃO EM BRANCO E CONSTITUIÇÃO EXPANSIVA? 
É aquela que não estipula limitações explícitas ao poder de reforma. O poder de alteração da 
constituição pelo legislador é muito amplo. Nesses termos, as reformas constitucionais ficam sob a 
margem de discricionariedade do Poder Constituinte Derivado de Reforma. O Constituinte Originário dá “um 
cheque em branco” para o Constituinte Derivado. 
A Constituição expansiva é tema desenvolvido por Raul Machado Horta e significa aquela que 
constitucionaliza temas novos e amplia a proteção constitucional de temas clássicos. Para definir uma 
constituição como tal depende de uma análise em 3 níveis: 
a) Conteúdo anatômico e estrutural da Constituição – verificar se trata de muitos temas; 
b) Comparação Constitucional Interna – verificar se houve a ampliação da proteção constitucional em 
relação a com um período constitucional anterior; 
c) Comparação Constitucional Externa – verificar se possui um maior grau de proteção constitucional 
em relação a regimes constitucionais de outros países. 
 
 
 
2. DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL IMPORTANTE!!! 
 
NO QUE TANGE À RECENTE DECISÃO DO STF EM SEDE DE ADO, A REPRESSÃO PENAL À PRÁTICA DE 
HOMOTRANSFOBIA ALCANÇA O EXERCÍCIO DA LIBERDADE RELIGIOSA? FUNDAMENTE? 
 
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TESES STF – ADO 26 
1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados 
de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas 
homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à 
identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este emsua dimensão 
social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de 
incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08/01/1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio 
doloso, circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”); 
 
2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o exercício da 
liberdade religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos fiéis e ministros 
(sacerdotes, pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes das religiões 
afro-brasileiras, entre outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, 
pela imagem ou por qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções de acordo 
com o que se contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua orientação 
doutrinária e/ou teológica, podendo buscar e conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva 
liturgia, independentemente do espaço, público ou privado, de sua atuação individual ou coletiva, desde 
que tais manifestações não configurem discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que 
incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual 
ou de sua identidade de gênero; 
3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de aspectos 
estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de poder, de uma construção de 
índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desigualdade e destinada ao controle 
ideológico, à dominação política, à subjugação social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade 
daqueles que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém 
posição de hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e diferentes, degradados 
à condição de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em consequência de odiosa inferiorização e de 
perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do sistema geral de proteção do 
direito. 
 
QUAL A DIFERENÇA ENTRE O CRIME DE RACISMO E DE INJÚRIA RACIAL? 
 
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Nas palavras de Celso Delmanto,“comete o crime do artigo 140, § 3º do CP, e não o delito 
do artigo 20 da Lei nº 7.716/89, o agente que utiliza palavras depreciativas referentes a raça, cor, 
religião ou origem, com o intuito de ofender a honra subjetiva da vítima”. 
Já o crime de racismo seria aquele cometido por quem pratica conduta discriminatória 
dirigida a um determinado grupo ou coletividade. O crime de racismo é considerado mais grave 
pelo legislador, e, além de imprescritível e inafiançável, sua persecução se dá por meio de ação 
penal pública incondicionada, enquanto, no caso da injúria racial, a ação penal é pública 
condicionada à representação do ofendido. 
 
 
 
A INJÚRIA RACIAL É PRESCRITÍVEL? FUNDAMENTE DE ACORDO COM STF E STJ. NA INJÚRIA RACIAL 
QUAL A NATUREZA JURÍDICA DA AÇÃO PENAL? 
Recentemente, no julgamento dos embargos de declaração de decisão tomada em Agravo 
Regimental no Recurso Extraordinário nº 983.531, do Distrito Federal, o Supremo Tribunal Federal 
(STF), por meio de sua 1ª Turma, reconheceu a equiparação dos crimes de injúria racial e 
racismo e, por conseguinte, a imprescritibilidade e inafiançabilidade daqueles. 
 
Na ocasião, o STF ratificou a decisão emitida pelo STJ, que reconheceu não ser taxativo o rol dos 
crimes previstos na Lei nº 7.716/1989, encontrando-se presentes o preconceito e a intolerância da 
conduta tipificada como injúria racial. 
 
Trata-se do episódio em que um jornalista chamou outro jornalista de “negro de alma branca” e que 
“não conseguiu revelar nenhum atributo para fazer tanto sucesso, além de ser negro e de origem 
humilde”. As publicações foram feitas, na internet, ainda nos idos de 2009. 
 
O caso levou o Ministério Público do Distrito Federal a apresentar denúncia por racismo. Em primeira 
instância, o juiz tipificou o crime como injúria racial e declarou extinta a punibilidade do crime, já que 
entendeu que a injúria racial era prescritível. O caso foi encaminhado para o Superior Tribunal de 
Justiça (STJ). Em 2015, o autor do fato foi condenado pela 6ª Turma que concluiu que injúrias raciais 
são imprescritíveis, por representarem mais um delito no cenário do racismo. O réu, por sua vez, 
apresentou recurso ao STF, que rejeitou os embargos, criando o seu primeiro precedente nesse 
sentido. 
 
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De acordo com tal entendimento, em relação ao crime de injúria racial, é possível a realização de 
investigação, oferecimento de denúncia, condenação e execução de pena, independentemente da 
ocorrência dos prazos de prescrição previstos no art. 109 do CP. 
 
CONSTITUCIONAL 
 
Diferencie repristinação de efeito repristinatório, explanando suas modalidades e, se, e quais, são 
aceitas no ordenamento jurídico brasileiro. Diferencie, ainda, de retrospectividade. 
 
RESPOSTA - A repristinação é um fenômeno legislativo no qual há a entrada novamente em vigor de 
uma norma efetivamente revogada, pela revogação da norma que a revogou. Contudo, a repristinação deve 
ser expressa dada a dicção do artigo 2º, § 3º da LICC : 
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. 
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. 
Já o efeito repristinatório advém do controle de constitucionalidade. Para compreendê-lo melhor, é 
necessário explanar brevemente sobre o princípio que lhe dá suporte: o princípio da nulidade do ato 
inconstitucional. 
Para este princípio implícito, extraído do controle difuso de constitucionalidade e acolhido em nosso 
ordenamento, o ato inconstitucional nasce eivado de nulidade. Não é apenas anulável. 
Essa tese é embasada no fato de que a decisão que reconhece a inconstitucionalidade é declaratória. 
E a decisão declaratória apenas reconhece determinada situação, no caso, a nulidade. 
Com isso, a norma que nasce nula (declarada inconstitucional) não poderia revogar a anterior 
validamente. 
Assim, o efeito repristinatório é a reentrada em vigor de norma aparentemente revogada, ocorrendo 
quando uma norma que revogou outra é declarada inconstitucional (FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. 
O efeito repristinatório e a declaração de inconstitucionalidade inLeituras complementares de Direito 
Constitucional - Controle de Constitucionalidade. Salvador: Editora JusPODVIM. 2007. p.151). 
A doutrina que afirma que esta teoria vai de encontro à segurança jurídica, de fato,existe. Todavia, a 
corrente dominante afirma que se não houvesse tal efeito, existiria uma lacuna legislativa sobre o tema, 
causando ainda mais insegurança no ordenamento. 
(i) a retroatividade autêntica: a norma possui eficácia ex tunc, gerando efeito sobre situações 
pretéritas, ou, apesar de pretensamente possuir eficácia meramente ex nunc, atinge, na verdade, situações, 
direitos ou relações jurídicas estabelecidas no passado; e 
(ii) a retroatividade inautêntica (ou retrospectividade): a norma jurídica atribui efeitos futuros a situações ou 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11367909/artigo-2-do-decreto-lei-n-4657-de-04-de-setembro-de-1942
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11367811/par%C3%A1grafo-3-artigo-2-do-decreto-lei-n-4657-de-04-de-setembro-de-1942
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103258/lei-de-introdu%C3%A7%C3%A3o-ao-c%C3%B3digo-civil-decreto-lei-4657-42
 
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relações jurídicas já existentes, tendo-se, como exemplos clássicos, as modificações dosestatutos funcionais 
ou de regras de previdência dos servidores públicos (v. ADI 3105 e 3128, Rel. para o acórdão Min. CEZAR 
PELUSO). 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
João publicou um livro contendo acusações contra Pedro (magistrado que estava, na época, como 
Presidente de um Tribunal) de ter praticado atos espúrios no exercício de suas funções. Pedro ajuizou ação 
contra João (autor do livro) e contra a editora que o publicou pedindo que os réus fossem condenados a: • 
pagar indenização por danos morais decorrentes da publicação da obra; • publicar o inteiro teor da decisão 
condenatória e da petição inicial nas futuras edições do livro e em revista de grande circulação. Os requeridos 
contestaram a demanda alegando que: 1) não houve ato ilícito, considerando que a publicação da obra estava 
amparada no direito constitucional à liberdade de expressão; 2) o pedido para publicação da sentença 
condenatória não tem fundamento legal, considerando que essa possibilidade estava prevista no art. 75 da 
Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67) que o STF, no julgamento da ADPF 130-DF, considerou que a Lei de Imprensa 
não foi recepcionada pela CF/88. Logo, o pedido do autor para publicação da sentença condenatória não teria 
substrato jurídico. Qual das partes assiste razão? 
 
RESPOSTA - O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui previsão na Constituição da 
República e na Lei Civil, não tendo sido afastado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF 
130/DF. O princípio da reparação integral (arts. 927 e 944 do CC) possibilita o pagamento da indenização em 
pecúnia e in natura, a fim de se dar efetividade ao instituto da responsabilidade civil. Dessa forma, é possível 
que o magistrado condene o autor da ofensa a divulgar a sentença condenatória nos mesmos veículos de 
comunicação em que foi cometida a ofensa à honra, desde que fundamentada em dispositivos legais diversos 
da Lei de Imprensa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/02/2019 
(Info 642). 
 
 
 
Direito Constitucional 
O Supremo Tribunal Federal declarou constitucional a Lei Federal nº 12.990/2014 que institui o sistema 
de cotas raciais em concursos públicos. 
Acerca dessa decisão, responda de forma fundamentada: 
a) A quais entidades se aplica a lei? 
b) Quais os critérios de identificação como cotista? 
c) Quais as três formas de igualdades destacadas pelo STF? 
 
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Resumo do julgado 
Constitucionalidade do sistema de cotas raciais em concursos públicos 
 A Lei nº 12.990/2014 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos realizados 
no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e 
das sociedades de economia mista controladas pela União. 
O STF declarou que essa Lei é constitucional e fixou a seguinte tese de julgamento: 
"É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de 
cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta e indireta.” 
 
Além da autodeclaração, é possível que a Administração Pública adote critérios de heteroidentificação para 
analisar se o candidato se enquadra nos parâmetros da cota 
A Lei nº 12.990/2014 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos da 
administração pública federal, direta e indireta. 
Segundo o art. 2º da Lei, poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros aqueles que se 
autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso público, conforme o quesito cor ou raça 
utilizado pelo IBGE. Trata-se do chamado critério da autodeclaração. 
O STF afirmou que este critério é constitucional. Entretanto, é possível também que a Administração Pública 
adote um controle heterônomo, sobretudo quando existirem fundadas razões para acreditar que houve abuso 
na autodeclaração. 
Assim, é legítima a utilização de critérios subsidiários de heteroidentificação dos candidatos que se declararam 
pretos ou pardos. 
A finalidade é combater condutas fraudulentas e garantir que os objetivos da política de cotas sejam 
efetivamente alcançados. Vale ressaltar que tais critérios deverão respeitar a dignidade da pessoa humana e 
assegurar o contraditório e a ampla defesa. 
Exemplos desse controle heterônomo: exigência de autodeclaração presencial perante a comissão do 
concurso; exigência de apresentação de fotos pelos candidatos; formação de comissões com composição 
plural para entrevista dos candidatos em momento posterior à autodeclaração. 
Essa conclusão do STF foi resumida na seguinte tese de julgamento: 
"É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação, desde que 
respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa". 
STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (Info 868). 
 
Vale ressaltar as Forças Armadas integram a Administração Pública Federal, de modo que a vagas oferecidas 
 
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nos concursos por elas promovidos sujeitam-se à política de cotas prevista na Lei 12.990/2014. 
STF. Plenário. ADC 41 ED, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12/04/2018. 
 
Comentários do julgado 
 
 
ASPECTOS GERAIS SOBRE A LEI 12.990/2014 
O que a Lei estabelece? 
A Lei nº 12.990/2014 determinou que deveria haver cotas para negros nos concursos públicos federais. 
Assim, 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos realizados pela administração pública federal 
devem ser destinadas a candidatos negros (art. 1º da Lei). 
 
A lei obriga expressamente quais entidades? 
Órgãos, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista federais. 
 
Número mínimo de vagas 
A reserva de vagas será aplicada sempre que o número de vagas oferecidas no concurso público for 
igual ou superior a 3 (art. 1º, § 1º). 
Em outras palavras, se o concurso previr menos que 3 vagas, não haverá cotas para negros. 
 
O que acontece se, ao reservar os 20% de vagas aos negros, surgir um número fracionado? Ex: em 
um concurso para 9 vagas, 20% será igual a 1,8 vagas. O que fazer nesse caso? 
• Se a fração for igual ou maior que 0,5 (cinco décimos): o número de vagas deverá ser aumentado 
para o primeiro número inteiro subsequente. Ex: concurso para 9 vagas (20% = 1,8). Logo, será arredondado 
para 2 vagas destinadas a negros. 
• Se a fração for menor que 0,5 (cinco décimos): o número de vagas deverá ser diminuído para o 
número inteiro imediatamente inferior. Ex: concurso para 16 vagas (20% = 3,2). Logo, será arredondado para 
3 vagas de negros. 
 
Edital deverá informar o número de vagas da cota 
O edital do concurso deverá especificar o total de vagas reservadas aos candidatos negros para cada 
cargo ou emprego público oferecido. 
 
CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 12.990/2014 
 
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Em 2016, a OAB ajuizou ação declaratória de constitucionalidade em defesa da Lei nº 12.990/2014 
pedindo que o STF declarasse esta norma compatível com a CF/88. O que decidiu o Supremo? 
O STF julgou procedente a ADC, declarando a constitucionalidade da Lei nº 12.990/2014. Além disso, a 
Corte fixou uma tese para ser observada pela Administração Pública e demais órgãos do Poder Judiciário: 
É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de 
cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta e indireta. 
STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (Info 868). 
 
Vejamos abaixo um resumo dos argumentos desenvolvidos pelo Min. Relator Luis Roberto Barroso: 
 
Três dimensões da igualdade 
A igualdade proíbe que haja uma hierarquização dos indivíduos e que sejam feitas distinções sem 
fundamento. 
No entanto, a igualdade também transmite um comando, qual seja, o de que deve havera 
neutralização de injustiças históricas, econômicas e sociais e que haja um maior respeito à diferença. 
No mundo contemporâneo, a igualdade se expressa em três dimensões: a) a igualdade formal; b) a 
igualdade material; c) a igualdade como reconhecimento. 
 
a) Igualdade formal 
A igualdade formal significa dizer que não pode haver privilégios e tratamentos discriminatórios. 
A igualdade formal está ligada ao chamado Estado liberal e foi idealizada como uma forma de reação 
aos privilégios da nobreza e do clero. 
Pode ser subdividida em dois aspectos: 
•Igualdade perante a lei: comando dirigido ao aplicador da lei – judicial e administrativo –, que deverá 
aplicar as normas em vigor de maneira impessoal e uniforme a todos aqueles que se encontrem sob sua 
incidência. 
•Igualdade na lei: comando endereçado ao legislador, que não deve instituir discriminações ou 
tratamentos diferenciados baseados em fundamento que não seja razoável ou que não vise a um fim legítimo. 
A igualdade formal encontra-se prevista no art. 5º, caput, da CF/88: “todos são iguais perante a lei, 
sem distinção de qualquer natureza”. 
 
b) Igualdade material 
O conceito de igualdade material está ligado a demandas por redistribuição de riqueza e poder e, em 
última análise, por justiça social. 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
13 
 
O desenvolvimento da ideia de igualdade material surge a partir da constatação de que não basta 
proibir que haja privilégios. É preciso atuar ativamente contra a desigualdade econômica e em favor da 
superação da miséria. 
Mais do que a igualdade perante a lei, deve-se assegurar algum grau de igualdade perante a vida. 
Dessa forma, deve-se garantir a proteção jurídica do polo mais fraco de certas relações econômicas, a 
criação de redes de proteção social e mecanismos de redistribuição de riquezas. 
Para isso, é necessário que o Poder Público faça a entrega de prestações positivas adequadas em 
matérias como educação, saúde, saneamento, trabalho, moradia, assistência social. 
A igualdade material encontra-se prevista no art. 3º, I e III, da CF/88, que afirma que a República 
Federativa do Brasil tem como objetivos “construir uma sociedade livre, justa e solidária” e “erradicara 
pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”. 
 
c) Igualdade como reconhecimento 
A igualdade como reconhecimento significa o respeito que se deve ter para com as minorias, sua 
identidade e suas diferenças, sejam raciais, religiosas, sexuais ou quaisquer outras. 
A injustiça a ser combatida nesse caso tem natureza cultural ou simbólica. Ela decorre de modelos 
sociais de representação que, ao imporem determinados códigos de interpretação, recusariam os “outros” e 
produziriam a dominação cultural, o não reconhecimento ou mesmo o desprezo. 
Determinados grupos são marginalizados em razão da sua identidade, suas origens, religião, aparência 
física ou opção sexual, como os negros, judeus, povos indígenas, ciganos, deficientes, mulheres, homossexuais 
e transgêneros. 
O instrumento para se alcançar a igualdade como reconhecimento é a transformação cultural ou 
simbólica. 
O objetivo é constituir um mundo aberto à diferença (“a difference-friendly world”). 
A igualdade como reconhecimento encontra-se também prevista no art. 3º, IV, da CF/88, que 
determina que um dos objetivos fundamentais da República é o de “promover o bem de todos, sem 
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. 
Vale ressaltar que, em muitos casos, alguns grupos sofrem tanto uma desigualdade material como uma 
desigualdade quanto ao reconhecimento. As mulheres e os negros, por exemplo, sofrem injustiças cujas raízes 
se encontram tanto na estrutura econômica, quanto na estrutura cultural-valorativa, exigindo ambos os tipos 
de remédio. 
 
Voltando à análise da Lei 
A Lei nº 12.990/2014 atende aos três planos de igualdade acima explicados. 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
14 
 
A igualdade formal, como vimos, impede a lei de estabelecer privilégios e diferenciações arbitrárias 
entre as pessoas, isto é, exige que o fundamento da desequiparação seja razoável e que o fim almejado seja 
compatível com a Constituição. No caso analisado, o fundamento e o fim da Lei nº 12.990/2014 são razoáveis, 
motivados por um dever de reparação histórica e por circunstâncias que explicitam um racismo estrutural na 
sociedade brasileira a ser enfrentado. 
Quanto à igualdade material, o racismo estrutural gerou uma desigualdade material profunda. Desse 
modo, qualquer política redistributivista precisará indiscutivelmente assegurar vantagens competitivas aos 
negros. 
Por fim, a igualdade como reconhecimento significa respeitar as pessoas nas suas diferenças e procurar 
aproximá-las, igualando as oportunidades. A política afirmativa instituída pela Lei nº 12.990/2014 tem 
exatamente esse papel. 
Há uma dimensão simbólica importante no fato de negros ocuparem posições de destaque na 
sociedade brasileira. Além disso, há um efeito considerável sobre a autoestima das pessoas. Afinal, cria-se 
resistência ao preconceito alheio. Portanto, a ideia de pessoas negras e pardas serem símbolo de sucesso e 
ascensão e terem acesso a cargos importantes influencia a autoestima das comunidades negras. Ademais, o 
pluralismo e a diversidade tornam qualquer ambiente melhor e mais rico. 
Dessa forma, o STF concluiu que a Lei nº 12.990/2014 supera o teste da igualdade formal, material e 
como reconhecimento. 
 
Princípio do concurso público 
A Lei nº 12.990/2014 não viola o princípio do concurso público. Isso porque, para serem investidos nos 
cargos públicos, os candidatos negros têm de ser aprovados no concurso. Caso não atinjam o patamar mínimo, 
sequer disputarão as vagas. 
A única coisa que a Lei fez foi criar duas formas distintas de preenchimento de vagas, em razão de 
reparações históricas, sem abrir mão do critério mínimo de suficiência. 
 
Princípio da eficiência 
A Lei nº 12.990/2014 não afronta o princípio da eficiência. 
Não necessariamente os candidatos aprovados em primeiro lugar, segundo o critério da nota, serão 
absolutamente melhores que os outros. 
A noção de meritocracia deve comportar nuances que permitam a competição em igualdade de 
condições. 
Pode-se até mesmo imaginar um ganho importante de eficiência. Afinal, a vida não é feita apenas de 
competência técnica, ou de capacidade de pontuar em concurso, mas sim de uma dimensão de compreensão 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
15 
 
do outro e de variadas realidades. A eficiência pode ser muito bem-servida pelo pluralismo e pela diversidade 
no serviço público. 
 
Princípio da proporcionalidade 
Por fim, o STF entendeu que a Lei nº 12.990/2014 não ofende o princípio da proporcionalidade. 
A demanda por reparação histórica e ação afirmativa não foi resolvida com a simples existência de 
cotas para acesso às universidades públicas. Isso não foi suficiente. 
O impacto das cotas raciais não se manifesta no mercado de trabalho automaticamente, pois há um 
tempo de espera até que essas pessoas estudem, se formem e se tornem competitivas. 
Além disso, a proporção de 20% escolhida pelo legislador é extremamente razoável. Se essa escolha 
fosse submetida a um teste de proporcionalidade em sentido estrito, também não haveria problema, porque 
20%, em rigor, representariam menos da metade do percentual de negros na sociedade brasileira. 
 
CRITÉRIOS DE IDENTIFICAÇÃO DOS COTISTAS 
Critério da autodeclaração 
Segundo o art. 2º da Lei nº 12.990/2014, poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros 
aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso público, conforme o quesito 
cor ou raça utilizado pelo IBGE. 
Esse é o chamado critério da autodeclaração. 
 
Declaração falsa 
Se ficar constatado que o candidato fez declaração falsa sobre sua cor, a Lei prevê que ele será 
eliminado do concurso. 
Caso a declaraçãofalsa somente seja constatada após o candidato já ter sido nomeado, a sua admissão 
poderá ser anulada, após processo administrativo em que lhe sejam assegurados o contraditório e a ampla 
defesa. 
Além disso, o candidato ainda poderá ser processado criminalmente. 
 
Critério da heteroidentificação 
O STF afirmou que o critério da autodeclaração é constitucional. Isso porque deve-se respeitar as 
pessoas tal como elas se percebem. 
Entretanto, a Corte afirmou que é possível também que a Administração Pública adote um controle 
heterônomo, sobretudo quando existirem fundadas razões para acreditar que houve abuso na 
autodeclaração. 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
16 
 
Exemplos desse controle heterônomo: exigência de autodeclaração presencial perante a comissão do 
concurso; exigência de apresentação de fotos pelos candidatos; formação de comissões com composição 
plural para entrevista dos candidatos em momento posterior à autodeclaração. 
 
Cautelas no critério de heteroidentificação 
Vale ressaltar que o controle heterônomo pode ser realizado, mas desde que observadas algumas 
cautelas a fim de que não haja violação à dignidade da pessoa humana, devendo ser garantido o contraditório 
e a ampla defesa aos candidatos interessados. 
 
Em suma 
É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação, 
desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa. 
STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (Info 868). 
 
APLICAÇÃO DA LEI 
A reserva de vagas tratada pela Lei nº 12.990/2014 vale para todos os três Poderes da União (Executivo, 
Legislativo e Judiciário), além do MPU e DPU. 
A Lei nº 12.990/2014 não se aplica para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. No entanto, caso 
estes entes editem leis semelhantes, elas também são consideradas constitucionais. 
Não ficou definido, neste julgamento, se as cotas valem também para concursos de remoção e 
promoção. Isso porque este tema não constou do pedido nem foi discutido em memoriais. 
 
PREENCHIMENTO DAS VAGAS 
Os candidatos negros concorrem apenas às vagas da cota? 
NÃO. Os candidatos negros concorrerão concomitantemente às vagas reservadas e às vagas destinadas 
à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no concurso. 
Ex: em determinado concurso, 80 vagas eram destinadas à ampla concorrência e 20 reservadas para 
negros. João, que se autodeclarou preto no momento da inscrição, ficou em 25º lugar na lista de candidatos 
negros. Ao mesmo tempo, na lista de ampla concorrência, ele ficou em 79º lugar. Logo, ele será nomeado nas 
vagas destinadas à ampla concorrência. 
 
Candidato negro que foi aprovado nas vagas de ampla concorrência 
Os candidatos negros aprovados dentro do número de vagas oferecido para ampla concorrência não 
serão computados para efeito do preenchimento das vagas reservadas (art. 3º, § 1º). 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
17 
 
Ex: em determinado concurso, 80 vagas eram destinadas à ampla concorrência e 20 reservadas para 
negros. Pedro, que se autodeclarou preto no momento da inscrição, ficou em 19º lugar na lista de candidatos 
negros. Ao mesmo tempo, na lista de ampla concorrência, ele ficou em 79º lugar. Logo, ele será nomeado nas 
vagas destinadas à ampla concorrência e a sua vaga na lista da cota (19º lugar) será utilizada por outro 
candidato negro. 
 
Candidato negro que desiste da nomeação ou posse 
Em caso de desistência de candidato negro aprovado em vaga reservada, a vaga será preenchida pelo 
candidato negro posteriormente classificado. 
Ex: em determinado concurso, 20 vagas eram reservadas para negros. Lucas, que se autodeclarou preto 
no momento da inscrição, ficou em 20º lugar na lista de candidatos negros. Ocorre que ele desistiu de sua 
nomeação em razão de ter passado em outro certame. Logo, a administração pública terá que convocar o 21º 
candidato negro. 
 
O que acontece se as vagas reservadas aos candidatos negros não forem integralmente preenchidas? 
Na hipótese de não haver candidatos negros aprovados em número suficiente para ocupar as vagas 
reservadas, tais vagas remanescentes serão revertidas para a ampla concorrência e serão preenchidas pelos 
demais candidatos aprovados, observada a ordem de classificação. 
Ex: em determinado concurso, 4 vagas eram reservadas para candidatos negros. Ocorre que somente 
3 candidatos negros fizeram a pontuação mínima exigida (nota de corte). Assim, essa quarta vaga poderá ser 
preenchida por candidato não negro. 
 
Nomeação dos candidatos 
A Lei n.º 12.990/2014 prevê a seguinte regra: 
Art. 4º A nomeação dos candidatos aprovados respeitará os critérios de alternância e 
proporcionalidade, que consideram a relação entre o número de vagas total e o número de vagas reservadas 
a candidatos com deficiência e a candidatos negros. 
 
Quanto aos critérios de alternância e proporcionalidade na nomeação dos candidatos, o STF 
exemplificou a forma correta de interpretar a lei. No caso de haver 20 vagas, 4 seriam reservadas a negros, 
obedecida a seguinte sequência de ingresso: primeiro colocado geral, segundo colocado geral, terceiro 
colocado geral, quarto colocado geral, até que o quinto convocado seria o primeiro colocado entre os negros, 
e assim sucessivamente. 
Dessa forma, evita-se colocar os aprovados da lista geral primeiro e somente depois os aprovados por 
cotas. 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
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Vigência do sistema de cotas para negros 
O sistema de cotas para negros previsto na Lei nº 12.990/2014 irá durar pelo prazo de 10 anos. Após 
esse período, acabam as cotas para negros em concursos públicos da administração pública federal, salvo se 
for verificado que a medida ainda é necessária quando, então, deverá ser editada uma nova lei prorrogando 
o prazo. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
QUAIS SÃO AS DUAS PRINCIPAIS VERTENTES DO DIREITO À VIDA? 
 
O direito à vida , previsto no art. 5º, caput, da Constituição Federal de 1988, tem como primeira vertente 
o direito de viver, isto é, de não ser arbitrariamente morto, que é a regra no ordenamento jurídico brasileiro, 
salvo raras exceções como a pena de morte, em caso de guerra declarada, e a legítima defesa prevista no 
Código Penal, sendo tratado pela doutrina como um direito fundamental de 1ª geração, exigindo um respeito 
e uma abstenção do Estado e de outros particulares em relação a ele. 
Por fim, como segunda vertente, destaca-se o direito de viver com dignidade, isto é, com as 
necessidades essenciais à dignidade da pessoa humana, como os direitos sociais prestacionais, de dever 
estatal, sobressaindo, nesse ponto, os direitos fundamentais de 2ª dimensão. Isso ocorre, haja vista a 
característica da indivisibilidade dos direitos fundamentais, pois uma dimensão serve a outra, formando um 
todo indivisível, essencial à dignidade da pessoa humana. 
 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
Discorra sobre a discricionariedade administrativa e a concretização judicial dos direitos prestacionais 
no âmbito da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, abordando, necessariamente, os seguintes pontos: 
atos administrativos vinculados e discricionários, direitos fundamentais de caráter positivo e negativo, 
legitimidade democrática, separação dos poderes, reserva do possível, mínimo existencial e sindicabilidade 
judicial. 
 
A Efetividade dos Direitos Fundamentais de Caráter Positivo e o Princípio da Dignidade da Pessoa 
Humana - ALEXANDRE DOUGLAS ZAIDAN DE CARVALHO 
 
 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
19 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
A Defensoria Pública do Ceará ajuizou ação contra o estado do Ceará, com a finalidade de obter 
medicamento considerado indispensável para o tratamento de saúde de Francisco, indígena, carente, membro 
da tribo Kalabaça, município de Crateús−CE. 
No pedido, postulou medida de urgência e o bloqueio de verbas públicas, caso o medicamentonão 
fosse fornecido. Em face dessa situação hipotética, responda, com fundamento no entendimento firmado nos 
Tribunais pátrios sobre o tema, aos seguintes questionamentos. 
 
- - - - - 
a) É possível a concessão de tutela antecipada e o bloqueio de verbas públicas contra a fazenda 
pública? 
 
Sugestão de resposta 
Sim, é possível, inclusive nos termos da jurisprudência pátria. 
A vedação à concessão de liminar contra a Fazenda Pública, nos casos em que se esgote, no todo ou 
em parte, o objeto da ação, contida no § 3º do art. 1º da Lei 8.437/92, cede ante situações especiais, face ao 
princípio constitucional que garante a efetividade e a tempestividade da tutela jurisdicional. 
Além disso, para efetividade da ordem judicial, é possível o bloqueio de verbas públicas, medida que 
se mostra menos gravosa à sociedade e que visa a tornar efetiva a ordem judicial, garantindo o acesso, no 
caso, aos medicamentos. 
 
“PROCESSUAL CIVIL. OFENSA AO ART. 535. INOCORRÊNCIA. TUTELA ANTECIPADA. MEIOS DE COERÇÃO 
AO DEVEDOR (CPC, ARTS. 273, §3º E 461, §5º). FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS PELO ESTADO. BLOQUEIO 
DE VERBAS PÚBLICAS. CONFLITO ENTRE A URGÊNCIA NA AQUISIÇÃO DO MEDICAMENTO E O SISTEMA DE 
PAGAMENTO DAS CONDENAÇÕES JUDICIAIS PELA FAZENDA. PREVALÊNCIA DA ESSENCIALIDADE DO DIREITO 
À SAÚDE SOBRE OS INTERESSES FINANCEIROS DO ESTADO. 1. Não viola o artigo 535 do CPC, nem importa em 
negativa de prestação jurisdicional o acórdão que adota fundamentação suficiente para decidir de modo 
integral a controvérsia posta. 2. É cabível, inclusive contra a Fazenda Pública, a aplicação de multa diária 
(astreintes) como meio coercitivo para impor o cumprimento de medida antecipatória ou de sentença 
definitiva de obrigação de fazer ou entregar coisa, nos termos dos artigos 461 e 461A do CPC. Precedentes. 3. 
Em se tratando da Fazenda Pública, qualquer obrigação de pagar quantia, ainda que decorrente da conversão 
de obrigação de fazer ou de entregar coisa, está sujeita a rito próprio (CPC, art. 730 do CPC e CF, art. 100 da 
CF), que não prevê, salvo excepcionalmente (v.g., desrespeito à ordem de pagamento dos precatórios 
judiciários), a possibilidade de execução direta por expropriação mediante sequestro de dinheiro ou de 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
20 
 
qualquer outro bem público, que são impenhoráveis. 4. Todavia, em situações de inconciliável conflito entre o 
direito fundamental à saúde e o regime de impenhorabilidade dos bens públicos, prevalece o primeiro sobre o 
segundo. Sendo urgente e impostergável a aquisição do medicamento, sob pena de grave comprometimento 
da saúde do demandante, não se pode ter por ilegítima, ante a omissão do agente estatal responsável, a 
determinação judicial do bloqueio de verbas públicas como meio de efetivação do direito prevalente. 5. Recurso 
especial parcialmente provido.” REsp nº. 840.912/RS, Min. Teori Albino Zavascki, julg: 15/02/2007, 1ª Turma. 
 
 
b) A União também pode figurar no polo passivo dessa ação? E o município em que se situa a tribo do 
assistido? 
 
Sugestão de resposta 
Sim. Tanto a União quanto a municipalidade podem figurar no polo passivo da ação, pois o sistema 
federativo adotado pelo Brasil há clara obrigação de velar pela saúde dos cidadãos, compreendendo-se aí a 
obrigação de fornecer medicamentos e insumos, sendo tal obrigação solidária. Pode o demandante, o Sr. 
Francisco, exigir de qualquer um dos entes federados, em conjunto ou separadamente, os medicamentos e 
insumos necessários. 
 
“DIREITO À VIDA E À SAÚDE – NECESSIDADE IMPERIOSA DE SE PRESERVAR, POR RAZÕES DE CARÁTER 
ÉTICO-JURÍDICO, A INTEGRIDADE DESSE DIREITO ESSENCIAL – FORNECIMENTO GRATUITO DE MEIOS 
INDISPENSÁVEIS AO TRATAMENTO E À PRESERVAÇÃO DA SAÚDE DE PESSOAS CARENTES – DEVER 
CONSTITUCIONAL DO ESTADO (CF, ARTS. 5º, “CAPUT”, E 196) – PRECEDENTES (STF) – RESPONSABILIDADE 
SOLIDÁRIA DAS PESSOAS POLÍTICAS QUE INTEGRAM O ESTADO FEDERAL BRASILEIRO – CONSEQUENTE 
POSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO DA AÇÃO CONTRA UM, ALGUNS OU TODOS OS ENTES ESTATAIS – 
REPERCUSSÃO GERAL DA MATÉRIA QUE O PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL RECONHECEU NO 
JULGAMENTO DO RE 855.178-RG/SE, REL. MIN. LUIZ FUX – REAFIRMAÇÃO, QUANDO DA APRECIAÇÃO DE 
MENCIONADO RECURSO, DA JURISPRUDÊNCIA QUE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL FIRMOU NO EXAME 
DESSA CONTROVÉRSIA – SUCUMBÊNCIA RECURSAL – (CPC, ART. 85, § 11) – MAJORAÇÃO DA VERBA 
HONORÁRIA – PRECEDENTE (PLENO) – NECESSÁRIA OBSERVÂNCIA DOS LIMITES ESTABELECIDOS NO ART. 85, 
§§ 2º E 3º DO CPC – AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.” (ARE 1119355 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, 
Segunda Turma, julgado em 28/09/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-215 DIVULG 08-10-2018 PUBLIC 09-10-
2018) 
 
c) se for medicamento de alto custo, pode a Fazenda Pública ser obrigada a pagá-lo? 
 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
21 
 
Sugestão de resposta 
Sim. Consoante posicionamento do STF, o reconhecimento do direito individual ao fornecimento, pelo 
Estado, de medicamento de alto custo, não incluído em política nacional de medicamentos ou em programa 
de medicamentos de dispensação em caráter excepcional, constante de rol dos aprovados, depende da 
demonstração da imprescindibilidade (adequação e necessidade), da impossibilidade de substituição, da 
incapacidade financeira do enfermo e da falta de espontaneidade dos membros da família solidária em custeá-
lo, respeitadas as disposições sobre alimentos dos artigos 1.649 a 1.710, todos do Código Civil e assegurado o 
direito de regresso. 
Tema de RG: Dever do Estado de fornecer medicamento de alto custo a portador de 
doença grave que não possui condições financeiras para comprá-lo. 
 
d) se a Defensoria Pública não tivesse sido acionada, poderia o Ministério Público ajuizar a demanda 
em comento? 
 
Sugestão de resposta 
A Constituição conferiu ao Ministério Público, no inciso V do artigo 129, a atribuição institucional de 
defesa em juízo dos interesses das populações indígenas. Esta atribuição consubstancia na defesa judicial dos 
interesses individuais indisponíveis, coletivos e difusos, relativos aos povos indígenas. 
Pela natureza dos interesses em pauta, concessão de medicamentos, a atuação ministerial não se 
restringe a uma visão restritiva destes postulados, uma vez que o Ministério Público Estadual é competente e 
legitimado para atuar na tutela dos interesses dos povos indígenas. 
e) se o medicamento não fosse devidamente registrado na ANVISA, o Poder Público seria obrigado a 
conceder? Qual o entendimento do STF sobre o tema? 
ATENÇÃO!!! JULGADO DE MAIO!! 
TEMA 500 – REPERCUSSÃO GERAL: 1. O Estado não pode ser obrigado a 
fornecer medicamentos EXPERIMENTAIS. 2. A ausência de registro na ANVISA impede, como regra geral, o 
fornecimento de medicamento por decisão judicial. 3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de 
medicamento sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido (prazo 
superior ao previsto na Lei nº 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: (i) a existência de pedido de 
registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e 
ultrarraras);(ii) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e 
(iii) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 4. As ações que demandem fornecimento 
de medicamentos sem registro na ANVISA deverão necessariamente ser propostas em face da UNIÃO. 
 
 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
22 
 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
É possível que o Fisco requisite das instituições financeiras informações bancárias sobre os 
contribuintes sem intervenção do Poder Judiciário? Quais parâmetros? 
 
As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios podem requisitar diretamente das instituições financeiras informações sobre as movimentações 
bancárias dos contribuintes. Esta possibilidade encontra-se previstano art. 6º da LC 105/2001, que foi 
considerada constitucional pelo STF. Isso porque esta previsão não se caracteriza como "quebra" de sigilo 
bancário, ocorrendo apenas a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. 
Vale ressaltar que os Estados-Membros e os Municípios somente podem obter as informações 
previstas no art. 6º da LC 105/2001 uma vez regulamentada a matéria de forma análoga ao Decreto Federal 
nº 3.724/2001, observados os seguintes parâmetros: 
a) pertinência temática entre a obtenção das informações bancárias e o tributo objeto de cobrança no 
procedimento administrativo instaurado; 
b) prévia notificação do contribuinte quanto à instauração do processo e a todos os demais atos, 
garantido o mais amplo acesso do contribuinte aos autos, permitindo-lhe tirar cópias, não apenas de 
documentos, mas também de decisões; 
c) sujeição do pedido de acesso a um superior hierárquico; 
d) existência de sistemas eletrônicos de segurança que sejam certificados e com o registro de acesso; 
e, finalmente, 
e) estabelecimento de mecanismos efetivos de apuração e correção de desvios. 
A Receita Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias porque possui esse 
regulamento. Trata-se justamente do Decreto 3.724/2001 acima mencionado, que regulamenta o art. 6º da 
LC 105/2001. 
O art. 5º da LC 105/2001, que obriga as instituições financeiras a informarem periodicamente à Receita 
Federal as operações financeiras realizadas acima de determinado valor, também é considerado 
constitucional. 
STF. Plenário. ADI 2390/DF, ADI 2386/DF, ADI 2397/DF e ADI 2859/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados 
em 24/2/2016 (Info 815). 
STF. Plenário. RE 601314/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2016 (repercussão geral) (Info 
815). 
 
 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
23 
 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
João foi diagnosticado com glaucoma e o oftalmologista prescreveu determinado colírio indicado para 
essa enfermidade. O problema é que tal remédio não está especificado na lista de medicamentos que o SUS 
é obrigado a fornecer gratuitamente para a população (Portaria 2.982/09 do Ministério da Saúde). 
O juiz pode obrigar que o Estado forneça esse medicamento? O Poder Judiciário pode determinar que 
o Poder Público forneça remédios que não estão previstos na lista do SUS? 
Em 25/4/18, o STJ decidiu que SIM, mas desde que cumpridos três requisitos. Foi fixada, então, a 
seguinte tese: 
A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença 
cumulativa dos seguintes requisitos: 
1) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico 
que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, 
para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; 
2) Incapacidade financeira do paciente de arcar com o custo do medicamento prescrito; e 
3) Existência de registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 
STJ. 1ª Seção. REsp 1657156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 25/4/18 (recurso repetitivo) (Info 625). 
 
Vejamos abaixo alguns dos argumentos jurídicos debatidos pelo STJ. 
 
Inexistência de violação ao princípio da separação dos Poderes: O entendimento acima não viola o 
princípio da separação dos Poderes. Isso porque uma das tarefas primordiais do Poder Judiciário é atuar para 
a efetivação dos direitos fundamentais, especialmente aqueles que se encontram previstos na CF/88. Assim, 
não há que se falar em violação ao princípio da separação dos Poderes, quando o Poder Judiciário intervém 
no intuito de garantir a implementação de políticas públicas, notadamente, como no caso em análise, em que 
se busca a tutela do direito à saúde. 
 
“Seria distorção pensar que o princípio da separação dos poderes, originalmente concebido com o 
escopo de garantia dos direitos fundamentais, pudesse ser utilizado justamente como óbice à realização dos 
direitos sociais, igualmente relevantes.” (STJ. 2ª Turma. REsp 1.488.639/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 
16/12/2014). 
 
É a posição também do STF: 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
24 
 
(...) É firme o entendimento deste Tribunal de que o Poder Judiciário pode, sem que fique configurada 
violação ao princípio da separação dos Poderes, determinar a implementação de políticas públicas nas 
questões relativas ao direito constitucional à saúde. (...) STF. 1ª Turma. ARE 947.823 AgR, Rel. Min. Edson 
Fachin, julgado em 28/6/2016. 
 
Fundamento constitucional: O direito à saúde foi consagrado pela CF/88 como direito fundamental do 
cidadão, corolário do direito à vida, bem maior do ser humano. O art. 196 da CF/88 estabelece que “a saúde 
é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução 
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação”. A propósito do tema, o STF, ao interpretar os arts. 5º, caput, e 196 da 
CF/88, consagrou o direito à saúde como consequência indissociável do direito à vida, assegurado a todas as 
pessoas (STF. 2ª Turma. ARE 685.230 AgR/MS, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 25/3/13). Para alcançar esse 
objetivo, a Carta Constitucional determinou a criação de um sistema único de saúde (SUS), que tenha como 
uma de suas diretrizes o “atendimento integral” da população (art. 198, II, da CF/88). 
 
Fundamento infraconstitucional: A fim de dar concretude ao SUS, foi editada a Lei 8.080/90, que prevê 
que o Poder Público deverá fornecer assistência integral, inclusive farmacêutica: 
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições 
indispensáveis ao seu pleno exercício. 
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas 
e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições 
que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e 
recuperação. 
(...) 
Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, 
estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, 
constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). 
(...) 
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): 
I - a execução de ações: (...) 
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; 
 
Em 2011, foi editada a Lei 12.401/11 que incluiu diversos dispositivos na Lei 8.080/90 tratando sobre 
a assistência terapêutica e prevendo o fornecimento de medicamentos. Veja o que diz o art. 19-M, um dos 
dispositivos acrescentados: 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
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Art. 19-M. A assistência terapêutica integral a que se refere a alínea d do inciso I do art. 6º consiste 
em: 
I - dispensação de medicamentos e produtos de interesse para a saúde, cuja prescrição esteja em 
conformidade com as diretrizes terapêuticas definidas em protocolo clínico para a doença ou o agravo à saúde 
a ser tratado ou, na falta do protocolo, em conformidade com o disposto no art. 19-P; (...) 
 
O art. 19-P afirma que a dispensação (fornecimento) de medicamentos será feita com base no 
protocolo clínico ou de diretriz terapêutica e, na falta disso, com base nas relações de medicamentos do SUS: 
Art. 19-P. Na falta de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, a dispensação será realizada: 
I - com base nas relações de medicamentos instituídas pelo gestor federal do SUS, observadas as 
competências estabelecidas nesta Lei, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na Comissão 
Intergestores Tripartite; 
II - no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de forma suplementar, com base nas relações de 
medicamentos instituídas pelos gestores estaduais do SUS, e a responsabilidadepelo fornecimento será 
pactuada na Comissão Intergestores Bipartite; 
III - no âmbito de cada Município, de forma suplementar, com base nas relações de medicamentos 
instituídas pelos gestores municipais do SUS, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada no 
Conselho Municipal de Saúde. 
 
O art. 19-Q trata sobre o procedimento para incorporação, exclusão ou alteração, pelo SUS, de novos 
medicamentos: 
Art. 19-Q. A incorporação, a exclusão ou a alteração pelo SUS de novos medicamentos, produtos e 
procedimentos, bem como a constituição ou a alteração de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, são 
atribuições do Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no 
SUS. (...) 
 
O STJ entende que o fato de o medicamento não integrar a lista básica do SUS não tem o condão de 
eximir os entes federados do dever imposto pela ordem constitucional, porquanto não se pode admitir que 
regras burocráticas, previstas em portarias ou normas de inferior hierarquia, prevaleçam sobre direitos 
fundamentais (STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 405.126/DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, DJe 26/10/16). 
 
Vamos agora fazer algumas observações sobre os três requisitos impostos pelo STJ: 
 
PRIMEIRO requisito 
O primeiro requisito exigido pelo STJ foi o seguinte: 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
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“Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que 
assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o 
tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;” 
 
Sobre esse primeiro requisito, é importante que sejam feitas três observações: 
 
Primeira observação. Na I Jornada de Direito da Saúde, organizada pelo CNJ, foi aprovado o enunciado 
15 dizendo como deve ser este laudo médico. O STJ acolhe esse enunciado. Veja a sua redação: 
Enunciado 15: As prescrições médicas devem consignar o tratamento necessário ou o medicamento 
indicado, contendo a sua Denominação Comum Brasileira (DCB) ou, na sua falta, a Denominação Comum 
Internacional (DCI), o seu princípio ativo, seguido, quando pertinente, do nome de referência da substância, 
posologia, modo de administração e período de tempo do tratamento e, em caso de prescrição diversa 
daquela expressamente informada por seu fabricante, a justificativa técnica. 
 
Desse modo, a parte, quando for fazer o pedido do medicamento junto ao Poder Judiciário, deverá 
ficar atenta a isso. 
 
Sobre o tema, o STJ esclareceu, em embargos de declaração, que: 
O laudo médico apresentado pela parte não vincula o julgador, isto é, cabe ao juiz avaliar o laudo e 
verificar se as informações constantes nele são suficientes para a formação de seu convencimento quanto à 
imprescindibilidade do medicamento. STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 
j. 12/9/18 (recurso repetitivo (Info 633). 
 
Segunda observação. Este laudo médico não precisa ser assinado por médico vinculado ao SUS: 
“(...) Ressalte-se, ainda, que não há no ordenamento, jurídico brasileiro qualquer exigência que 
condicione o fornecimento de medicamento à prescrição exclusivamente por médico da rede pública. (...)” 
(STJ. AgInt no REsp 1.309.793/RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 7/4/17). 
 
Assim, o laudo deve ser emitido pelo médico que assiste o paciente, seja ele público ou privado. 
 
Terceira observação. O laudo médico deverá comprovar duas circunstâncias: 
1ª) Imprescindibilidade ou necessidade do medicamento pleiteado para o tratamento da doença; e 
2ª) Ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS. 
 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
27 
 
Em outras palavras, o remédio pedido judicialmente deve ser imprescindível ou necessário e aqueles 
que existem no SUS não podem substitui-lo. 
 
(...) O STF tem se orientado no sentido de ser possível ao Judiciário a determinação de fornecimento 
de medicamento não incluído na lista padronizada fornecida pelo SUS, desde que reste comprovação de que 
não haja nela opção de tratamento eficaz para a enfermidade. (...) STF. 1ª Turma. RE 831.385 AgR/RS, Rel. 
Min. Roberto Barroso, DJe de 6/4/15. 
 
(...) A alegada circunstância de que o medicamento Lantus não consta da lista de medicamentos do 
SUS deve ceder lugar às afirmações do médico que a acompanha, quando afiança que todos os tratamentos 
disponibilizados pela rede pública e já ministrados à menor mostraram-se ineficazes no combate aos vários 
episódios de hipoglicemias graves, com perda de consciência e crises convulsivas por ela sofridas. (...) STJ. 1ª 
Turma. AgRg no REsp 1.068.105/RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe de 30/06/2016. 
 
No mesmo sentido é o enunciado 14 da I Jornada de Direito da Saúde do CNJ: Não comprovada a 
inefetividade ou impropriedade dos medicamentos e tratamentos fornecidos pela rede pública de saúde, deve 
ser indeferido o pedido não constante das políticas públicas do Sistema Único de Saúde. 
 
Cabe ao juiz avaliar, a partir dos elementos de prova juntados pelas partes, a alegada ineficácia do 
medicamento fornecido pelo SUS decidindo se, com a utilização do medicamento pedido, poderá haver ou 
não um relevante acréscimo na resposta terapêutica. STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. 
Benedito Gonçalves, j. 12/9/2018 (recurso repetitivo) (Info 633). 
 
SEGUNDO requisito 
Vamos relembrar o segundo requisito exigido pelo STJ: 
“incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito”. 
 
Desse modo, o segundo requisito consiste na devida comprovação da hipossuficiência daquele que 
requer o medicamento, ou seja, que a sua aquisição implique o comprometimento da sua própria subsistência 
e/ou de seu grupo familiar. 
 
Atenção! Não se exige comprovação de pobreza ou miserabilidade, mas, tão somente, a demonstração 
da incapacidade de arcar com os custos referentes à aquisição do medicamento prescrito. Ex: a pessoa pode 
ser servidora pública, concursada, recebendo R$ 5 mil por mês; neste caso, não se trata de pessoa pobre; o 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
28 
 
remédio, contudo, custa R$ 100 mil cada dose. Ela não terá condições de adquiri-lo, preenchendo, portanto, 
o presente requisito. 
 
TERCEIRO requisito 
O terceiro requisito exigido pelo STJ diz respeito: 
“à existência de registro na ANVISA do medicamento”. 
 
Assim, exige-se que o medicamento pretendido já tenha sido aprovado pela ANVISA. Esta exigência 
decorre de imposição legal, tendo em vista o disposto no artigo 19-T, II, da Lei nº 8.080/90: 
Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS: 
I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e procedimento clínico ou 
cirúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA; 
II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento e produto, nacional 
ou importado, sem registro na Anvisa. 
 
Fazendo uma interpretação teleológica do art. 19-T, verifica-se que a intenção do legislador foi a de 
proteger o cidadão dos medicamentos experimentais, sem comprovação científica sobre a eficácia, a 
efetividade e a segurança do medicamento, a fim de assegurar o direito à saúde e à vida das pessoas. 
 
Modulação dos efeitos: O STJ decidiu modular os efeitos dessa decisão e afirmou que “os critérios e 
requisitos estipulados somente serão exigidos para os processos que forem distribuídos a partir da conclusão 
do presente julgamento” (25/4/18). A modulação tem por base o art. 927, § 3º, do CPC: 
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos 
tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos 
efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica. 
 
Dessa forma, a tese fixada neste julgamento não vai afetar os processosque ficaram sobrestados 
aguardando a definição do tema. 
 
E a oferta de procedimentos terapêuticos não previstos na lista do SUS (inciso II do art. 19-M da Lei nº 
8.080/90)? O julgado acima comentado não abarca essa hipótese. O STJ e o STF ainda terão que se debruçar 
sobre essa discussão. A “tendência”, contudo, na minha opinião, será adotar os mesmos critérios acima 
explicados. 
 
JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM 12/09/2018 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
29 
 
Embargos de declaração: Quando o acórdão acima foi publicado, o Estado do Rio de Janeiro, que era 
parte no recurso especial, opôs embargos de declaração pedindo que o STJ acrescente, no terceiro requisito 
da tese acima fixada, que não é possível o fornecimento de remédios para uso off-label, ou seja, para 
tratamento de enfermidade diversa daquelas indicadas na bula e autorizadas pela ANVISA. Em outras palavras, 
o embargante disse o seguinte: STJ, explique, no terceiro requisito, que o Poder Público não é obrigado a 
fornecer remédios para uso off-label. 
 
O que é uso off-label de medicamento? É uma expressão em inglês que, em tradução literal, significaria 
“fora de indicação” (Off = fora / label = indicação). Para que um medicamento seja fabricado ou comercializado 
no Brasil, ele precisa de registro (autorização) na Anvisa. Ao pedir o registro de um medicamento, o fabricante 
ou responsável apresenta à autarquia as indicações daquele remédio, ou seja, para que enfermidades a droga 
foi testada e aprovada. Essas indicações (e sua respectiva eficácia) são baseadas em pesquisas e testes que 
levam anos para serem concluídos. Assim, por exemplo, quando o fabricante do remédio Dorflex foi registrá-
lo na Anvisa, ele informou que este medicamento foi idealizado e testado para ser utilizado como “relaxante 
muscular”. Essa é a indicação deste remédio. Ocorre que, muitas vezes, um medicamento que foi planejado 
para determinada finalidade, quando entra no organismo humano, acaba trazendo outros benefícios que não 
haviam sido previstos. Esse efeito inicialmente não previsto é percebido pelos médicos, que passam a receitar 
aquele medicamento não apenas para aquela indicação inicialmente pensada e sim para outra finalidade que 
não havia sido prevista. Quando isso ocorre, dizemos que há a prescrição e o uso do medicamento off-label, 
ou seja, fora da sua indicação. Assim, o medicamento off-label é aquele cujo médico prescreve para uma 
determinada finalidade que não consta expressamente na sua bula. O exemplo mais famoso de medicamento 
off-label é o AAS (ácido acetilsalicílico). Este remédio foi desenvolvido para ser um mero analgésico. 
Posteriormente, contudo, percebeu-se que ele servia para outras finalidades, como, por exemplo, para a 
prevenção de infartos. Assim, atualmente, muitos médicos prescrevem o AAS para prevenir infartos, mesmo 
isso não sendo uma indicação oficial do remédio. 
 
O STJ acolheu este pedido dos embargos de declaração? SIM. A Lei 8.080/90 regula as ações e serviços 
de saúde executados, pelo Governo ou pela iniciativa privada, em nosso país. O art. 19-T desta Lei prevê o 
seguinte: 
Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS: 
I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e procedimento clínico ou 
cirúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA; 
II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento e produto, nacional 
ou importado, sem registro na Anvisa. 
 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
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Este artigo apresenta duas vedações distintas: 
1) proíbe o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso pelo SUS de medicamento que foi empregado 
ou prescrito fora do uso autorizado pela ANVISA, ou seja, quando o medicamento foi prescrito para 
tratamento não indicado na bula e aprovado no registro em referido órgão regulatório (inciso I). 
2) impede a dispensação (fornecimento), o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso pelo SUS de 
medicamento que não tenha ainda sido registrado na ANVISA (inciso II). 
 
Assim, nos termos da legislação vigente, no âmbito do SUS, somente podem ser utilizados 
medicamentos que tenham sido previamente registrados ou com uso autorizado pela ANVISA. Em outras 
palavras, a legislação proibiu, no âmbito do SUS, uso de medicamentos off-label. A exigência de registro na 
ANVISA e do uso dentro das especificações aprovadas pela agência reguladora é medida que visa proteger o 
usuário do sistema de saúde, pois estes medicamentos foram submetidos a estudos clínicos que comprovaram 
a sua qualidade, a sua efetividade e a sua segurança. Vale ressaltar, contudo, que a ANVISA, com fundamento 
no art. 21 do Decreto nº 8.077/2013 autoriza, em caráter excepcional, a utilização de medicamentos fora das 
prescrições aprovadas no registro. Em outros termos, a própria ANVISA autoriza, excepcionalmente, o uso de 
medicamentos off-label. Um exemplo é o Avastin, que é indicado, segundo a sua bula, para o tratamento de 
vários tipos de câncer. Apesar disso, a ANVISA autoriza que ele seja utilizado no SUS para tratamento de 
distúrbio oftalmológico (Degeneração Macular Relacionada à Idade) por meio da Resolução de Diretoria 
Colegiada - RDC nº 111. Trata-se, portanto, de autorização da ANVISA para a utilização off-label deste 
medicamento. Assim, podemos estabelecer a seguinte regra e exceção: 
• Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de medicamento para 
uso off-label; 
• Excepcionalmente, será possível que o paciente exija este medicamento caso esse determinado uso 
fora da bula (off-label) tenha sido autorizado pela ANVISA. Ex: um paciente do SUS com Degeneração Macular 
Relacionada à Idade poderia, em tese, desde que cumpridos os demais requisitos, exigir que o poder público 
fornecesse a ele o “Avastin” para tratar esta enfermidade ocular, mesmo não sendo esta a finalidade do 
medicamento prevista na sua bula. 
 
Explicando o tema em uma frase: o requisito do registro na ANVISA afasta a possibilidade de 
fornecimento de medicamento para uso off-label, salvo se autorizado pela ANVISA. 
Diante disso, o STJ decidiu retificar o terceiro requisito da tese anteriormente fixada: 
Redação original Redação após os embargos 
 
Projeto JUIZ TJCE 2019 
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A concessão dos 
medicamentos não 
incorporados em atos 
normativos do SUS exige a 
presença cumulativa dos 
seguintes requisitos: 
(...) 
3) existência de registro 
na ANVISA do medicamento. 
A concessão dos medicamentos não 
incorporados em atos normativos do SUS exige 
a presença cumulativa dos seguintes requisitos: 
(...) 
3) existência de registro do medicamento 
na ANVISA, 
observados os usos autorizados pela agência. 
 
MODULAÇÃO DOS EFEITOS 
No julgamento do dia 25/4/18, o STJ havia decidido modular os efeitos da decisão, estabelecendo que 
aquele acórdão somente produziria efeitos a partir da conclusão daquele julgamento (25/04/2018). 
 
Em 12/9/18, o STJ decidiu alterar a redação do terceiro requisito da tese (conforme explicado acima). 
Diante disso, como houve essa alteração, o STJ entendeu que não poderia surpreender os jurisdicionados, 
razão pela qual, de ofício, resolveu modificar também o início da produção dos efeitos do acórdão. 
 
Assim, o STJ afirmou o seguinte: os requisitos acima elencados somente podem ser exigidos quanto 
aos processos distribuídos a partir da data da publicação do acórdão embargado (a publicação ocorreu em 
4/5/2018): 
Modula-se os efeitos do presente repetitivo de forma que os requisitos acima elencados sejam exigidos 
de forma cumulativa somente quanto aos processos distribuídos a partir da data da publicação do acórdão 
embargado, ou seja, 4/5/2018. STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 
12/9/18 (recurso repetitivo) (Info 633). 
 
Esclarecendo melhor: 
a) Os três requisitos cumulativos

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