Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Preconceito Linguístico: Região Nordeste Tayna Pereira de Sousa O ato de falar é de extrema importância para a comunicação e construções de relacionamentos interpessoais. O Brasil é um país conhecido pela diversidade de variações linguísticas, cada região possui características especificas. Por mais que exista uma norma padrão, a linguagem pode variar de acordo com as influencias culturais, regionais e o meio no qual cada pessoa está inserida - variação diatópica – as condições econômicas e fonte de renda, dentre outros aspectos político e social – variação diastrática – também possuem grande influência em como cada individuo irá se comunicar. Abestado, arribar, búxo, zuada, ó xente, marmota, diacho. Essas são algumas das palavras tipicamente usadas no nordeste brasileiro, bem conhecido por seu vocabulário típico, entonação e sotaque característico. O preconceito linguístico tem como base a crença de que só existe uma língua portuguesa, aquela que usa as gramaticas e os dicionários como referência. Muito deste preconceito é alimentado pela mídia. A figura nordestina está sempre associada a uma pessoa sem estudo, sem conhecimentos, que fala errado. E o que vemos são novelas desconstruindo esse personagem com características nordestinas, para que ele se torne padrão, e “aceito” pela sociedade. Outro ponto que vale ressaltar, e o atraso e a falta de tecnologia, o personagem é sempre apresentado como se não tivesse acesso a essas tecnologias e a informações. Segundo Bagno (1999, p. 43) “todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador”. Os pesquisadores João de Sousa e Rafaela Marcolino, autores de A representação da identidade regional do Nordeste na telenovela, apresentam algumas características que podemos encontrar nessas narrativas. Em enredos com histórias mais descontraídas, por exemplo, podemos identificar que a figura representada pelo personagem nordestino é sempre do religioso, o cômico. Vemos essa representação em Tieta, temos a personagem Perpétua religiosa fervorosa, enquanto as caricatas Chayene, com um típico visual extravagante, e sua empregada Socorro, de Cheias de Charme, são o tipo cômico. Também em seu livro Preconceito Linguístico, o linguista Marcos Bagno mostra como um mesmo fenômeno fonético pode ser observado em uma variante linguística do Sudeste e da Zona rural Nordestina e, no entanto, somente é considerado errado, no nordeste. Existe um preconceito gigante sobre essa variação na fala, mas principalmente sobre a região nordeste. A história do povo nordestino é escrita pela desigualdade social, pelo sofrimento e preconceitos, seu sotaque é a representatividade de um povo forte. Muitas vezes os nordestinos têm a sua capacidade questionada, e isso reflete de maneira negativa em suas vidas. Entender como nossa língua é mutável e dinâmica, e que assim como em qualquer outro lugar no mundo, as pessoas não falam igual que sociedades se constroem diante de diversas realidades, costumes e hábitos são necessários para que possamos evoluir como sociedade. Referências: BAGNO, Marcos; Preconceito Linguístico: o que é como se faz. Ed 49. Loyola. São Paulo: 2007. SUPERINTERESSANTE. Sotaques do Brasil: Como a geografia molda nosso jeito de falar. Disponível em: https://super.abril.com.br/cultura/sotaques-do-brasil Acesso em: 21 fev. 2021. SOUSA, J.E.P. D; MARCOLINO, R.R.S. A Representação da identidade regional do Nordeste na Telenovela. Temática. v.12, n.6, p. 93-108, jun./2016. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/tematica/article/view/29239/15615 Acesso em: 21 fev. 2021. https://super.abril.com.br/cultura/sotaques-do-brasil https://periodicos.ufpb.br/index.php/tematica/article/view/29239/15615
Compartilhar