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PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA RELATÓRIO DE ENCERRAMENTO DE ATIVIDADES (SETEMBRO/2018 A MARÇO/2019) Análise geomorfológica comparada de dois setores do Talude Continental Superior do sudeste e sul do Brasil Izabela Bonaccorsi Freire Professor Dr. Javier Alcântara Carrió Modalidade: PIBIC/ CNPq/ USP Instituto Oceanográfico, abril de 2019 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Localização das Bacias de Pelotas e Santos e parte do sul e sudeste do Brasil, macrorregiões a que pertencem as áreas de estudo. 5 Figura 2. Formações pockmarks na plataforma sudeste do Brasil, área contendo aproximadamente 300 pockmarks. (Retirado de Mahiques, 2017 (38)). 6 Figura 3. Variação da amplitude da constituinte harmônica M2, com a amplitude em cm; e linhas cotidais que se unem nos pontos anfidrômicos. Adaptação de TOPEX Poseidon/GSFC NASA (47). 8 Figura 4. Representação da circulação atlântica sudoeste ao nível de 800m, ilustrada por Silveira (2000) (49). 10 Figura 5. Ensonificação do fundo por um arranjo linear de projetores. Por Mascimiliano de los Santos Maly - arquivo pessoal. 13 Figura 6: Mapa de localização das superfícies sobre as linhas batimétricas multifeixe no Talude Continental: I) Área Norte pertencente à Bacia de Santos e II) Área Sul pertencente à Bacia de Pelotas. 14 Figura 7. Desenho esquemático 2D do N. Oc. Alpha Crucis e Posicionamento dos equipamentos. 16 Figura 8. Offsets disponíveis referentes ao transdutor, posição em (x,y,z) inseridos no CARIS. 16 Figura 9. Offsets disponíveis referentes ao GPS, posição em (x,y,z) e DATUM inseridos no CARIS. 16 Figura 10. Perfil de velocidade do som (SVP2) para dia 02 de dezembro. 17 Figura 11. Perfil de velocidade do som (SVP6) para dia 06 de dezembro. 18 Figura 12. Dados de maré confeccionados geraram o padrão em verde, de amplitude constante. 18 18 Figura 13: Janela superior com uma de linha da área Norte não tratada e exemplo de outra linha da mesma área, em visão também sem detalhamento , após remoção de spikes. 19 Figura 14:. Linha da área Sul, sem detalhamento, após remoção de spikes. 20 Figura 15. Figura 15: Indicação da localização do ponto de transbordamento. Adaptado de Gafeira et al (2011) (op cit). 21 Figura 16. Mapa batimétrico da Área Sul. As coordenadas geográficas estão em UTM e a profundidade em metros. 22 Figura 17: Mapas 3D da Área Sul e detalhe contemplando a feição morfológica. As escalas de cores relativas à profundidade estão adjacentes aos respectivos mapas. 23 25 Figura 19. Mapa batimétrico de contorno com indicações dos perfis topográficos latitudinais norte-sul (A, B e C) e perfis topográficos longitudinais leste -oeste (1 a 5). 25 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253083 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253083 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253083 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253084 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253084 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253084 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253085 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253085 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253085 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253085 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253086 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253086 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253086 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253087 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253087 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253087 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253088 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253088 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253088 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253088 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253089 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253089 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253089 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253090 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253090 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253090 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253091 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253091 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253091 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253092 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253092 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253093 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253093 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253094 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253094 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253094 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253096 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253096 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253096 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253097 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253097 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253098 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253098 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253098 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253099 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253099 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253099 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253100 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253100 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253100 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253102 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253102 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253102 Figura 20. Perfis dos Cortes Latitudinais das 3 cristas da formação (A - Oeste, B- Leste, C- Leste e Monte), a parte setentrional se encontra à esquerda de cada perfil. O exagero vertical é de 10x. 26 Figura 21. Mapa Batimétrico da Área Norte. 27 Figura 22. Mapa 3D da Área Norte, com os Pockmarks. 28 Figura 23. Mapa Batimétrico com identificação dos Pockmarks e, em traço fino laranja, a localização do corte para cada um dos perfis topográficos (P1 a P39) Todos os perfis tem exagero vertical de 10x. 28 Figura 24. Perfil batimétrico do Pockmark 1. 29 Figura 25. Perfil batimétrico do Pockmark 2. 29 Figura 26. Perfil Batimétrico do Pockmark 4. 30 Figura 27. Perfil Batimétrico do Pockmark 9. 30 Figura 28. Perfil Batimétrico do Pockmark 14. 31 Figura 29. Perfil Batimétrico do Pockmark 18. 31 Figura 30. Perfil Batimétrico do Pockmark 28. 32 Figura 31. Pockmarks P1, P2, P15, P22, P25, P27, P34 e P37, localizados próximo a linha central indicada em amarelo e distribuídos por toda a extensão NE-SO, tiveram seus perfis N-S e O-L (em branco) retirados para cálculo da simetria da abertura. 32 Tabela 1: Elipticidadede 8 Pockmarks centrais 33 Figura 32: Mapa 3D com visão detalhada da formação recifal por dois ângulos. 34 Figura 33. Perfis Batimétricos para Pockmark 1, com exagero vertical de 5x, e ilustração do efeito de um fluxo incidindo sobre suas paredes. 37 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Elipticidade de 8 Pockmarks centrais 33 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253103 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253103 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253103 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253103 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253104 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253104 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253105 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253105 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253106 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253106 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253106 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253106 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253107 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253107 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253108 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253108 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253109 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253109 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253110 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253110 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253111 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253111 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253112 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253112 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253113 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253113 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253114 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253114 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253114 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253114 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253116 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253116 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253117 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253117 file:///C:/Users/Izabela/Downloads/TG%20VERSÃO%207%20--.docx%23_Toc531253117 RESUMO Uma caracterização geomorfológica de dois setores do talude da margem continental sul brasileira foi realizada baseada em amostragem indireta por ecossonda multifeixe. Os dados foram obtidos pelo ecobatímetro RESON Seabat 7160 durante a campanha oce anográfica Talude 2, realizada em novembro e dezembro de 2017 a bordo do NOc. Alpha Crucis. O processamento de dados foi feito com o programa Hips and Sips (CARIS). As fases de confecção de grids, perfis batimétricos e criação de mapas passaram pelo Surfer e ArcGis. Foram evidenciados erros na aquisição, atribuídos principalmente ao mar revolto e a sincronicidade falha entre o sensor de movimento e a ecossonda . O trecho mapeado em faixa extensa na Bacia de Santos, de disposição sudoeste-nordeste tem variação de 110 m de profundidade em 45 km, sendo mais profundo no nordeste. Nele foram identificados 39 pockmarks de proporções diversas, distribuídos na densidade de 0,36 pockmarks/km². A concentração pode indicar que o campo se estenda por além dos limites da presente área, dada a presença de um campo de pockmarks na mesma Bacia. Padrões simétricos e assimétricos foram encontrados em proporções semelhantes, sendo o assimétrico relacionado à possíveis anomalias na direção da Corrente do Brasil (CB) e Corrente de Contorno Intermediária (CCI) locais, como meandramento. Para o setor da Bacia de Pelotas, foi encontrada uma possível formação recifal de mais de 7 km² em disposição norte -sul, estendendo-se por aproximadamente 7,5 km, até onde cessa a aquisição. A feição está dividida em duas cristas paralelas com um monte no segmento de crista leste e, ao lado da crista oeste, um declive semelhante a um canal. A CB e a CCI foram relacionadas a efeitos erosivos, alimentação e crescimento da feição de norte a sul. É possível que esta seja a primeira amostragem contínua de um coral de mar profundo no talude continental brasileiro. A pesquisa contou com o apoio da CNPq processo 166873/2018-7 e foi tema do Trabalho de Graduação da aluna. Palavras-chave: Bacia de Pelotas. Bacia de Santos, Pockmarks. Recife de mar profundo. Batimetria multifeixe. ABSTRACT A geomorphological characterization of two sectors of the southern Brazilian continental margin slope was performed based on indirect sampling by multibeam echo sounder. The data were obtained by the echo sounder RESON Seabat 7160 during the oceanographic campaign Talude 2, carried out in November and December 2017, on board of the R/V Alpha Crucis. The data processing was done using the software Hips and Sips (CARIS). The confection of grids, bathymetric profiles and map creation was made using the software Surfer and ArcGis. Errors attributed to the data acquisition related mainly to rough seas and synchronicity failure between the motion sensor and the echo sounder were evidenced. The mapped portion in an extensive belt in Santos Basin, southwest-northeast lined up, varies from 110 m deep to 45 km deep, being deeper in the northeast. In it were identified 39 pockmarks of diverse proportions, distributed in the density of 2.8 pockmarks / km ². The high concentration may indicate that the field extends beyond the limits of the present area, given the presence of a field of pockmarks in the same Basin. Symmetric and asymmetric patterns were found in similar proportions, being the asymmetric related to possible anomalies in the direction s of the Brazilian Current (BC) and Intermediate Western Boundary Current (IWBC), as meandering. For the sector of Pelotas Basin, a possible reef formation of more tha n 7 km² was found. Its extension is approximately 7.5 km long, north-south lined up, until the data acquisition conclusion. The feature is divided into two parallel ridges with a mount on the east ridge segment and, beside the west ridge, a slope similar to a channel. The BC and IWBC were related to erosive effects, feeding and growth of the feature from north to south. It is conceivable that this is the first continuous sampling of a deep sea coral reef in the Brazilian continental slope. Key words: Pelotas Basin. Santos Basin, Pockmarks. Deep sea reefs. Multi -beam bathymetry. Índice Índice ____________________________________________________________________ 1 1. Introdução _____________________________________________________________ 1 1.1 Margem Continental _________________________________________________ 1 1.2 Pockmarks _________________________________________________________ 2 1.3 Recifes de profundidade ______________________________________________ 2 2. Objetivo _______________________________________________________________ 4 3. Área de estudo __________________________________________________________ 5 3.1 Bacia de Santos _____________________________________________________ 5 3.1.1 Aspectos geológicos ______________________________________________5 3.2 Bacia de Pelotas _____________________________________________________ 7 3.2.1 Aspectos geológicos ______________________________________________ 7 3.3.1 Massas d’água e circulação ________________________________________ 9 4. Métodos ______________________________________________________________ 11 4.1 Fundamentos ______________________________________________________ 11 4.1.1 Reflexão e Transmissão de ondas sonoras em meios estratificados ________ 11 4.1.2 Batimetria multifeixe ______________________________________________ 11 4.1.3 Aquisição _____________________________________________________ 13 4.2 Sequência de processamento __________________________________________ 14 5. Resultados ____________________________________________________________ 22 5.1 Área Sul __________________________________________________________ 22 5.2 Área Norte ________________________________________________________ 26 6. Discussão _____________________________________________________________ 33 6.1 Bacia de Pelotas - Recife de Coral _____________________________________ 33 6.2 Bacia de Santos – Pockmarks _________________________________________ 35 6.3 Qualidade dos Dados ________________________________________________ 37 7. Conclusões ____________________________________________________________ 39 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________________ 40 1. Introdução 1.1 Margem Continental As margens continentais representam a zona de transição entre os continentes e as bacias oceânicas. As margens brasileiras são do tipo passiva e apresentam características como maior largura, estabilidade tectônica e preservação de sedimentos, que chegam a formar espessas camadas. Podem ser subdivididas em três províncias fisiográficas distintas, definidas por variações do gradiente batimétrico, sendo elas: a plataforma continental, o talude e o sopé. A plataforma continental é a extensão submersa dos continentes, normalmente de baixo gradiente batimétrico e de profundidade média em torno de 130 m, limitada pela quebra da plataforma (1). O talude é o domínio fisiográfico da margem continental mais íngreme. Estende-se da quebra da plataforma continental até o sopé e a profundidade varia de 130 m a 3500 m. Sua declividade varia entre 1:15 a 1:4, assumindo, devido à sedimentação derivada do continente, morfologia progradante. Morfologicamente é a porção mais irregular, podendo ser recortado por estruturas como cânions, vales e colinas, resultado da intensa atividade erosiva e deposicional (2). Entre o talude e a bacia oceânica temos o Sopé, de gradiente suave (1:40 a 1:800) e difícil determinação de seus limites com as planícies abissais . Nessa região podem ocorrer cadeias de montanhas e montes de mais de 1000m de altura. O atual quadro morfológico e fisiográfico do assoalho oceânico sofre constante evolução tectônica desde a fragmentação do supercontinente Gondwana e modifica -se também pelos agentes erosivos e sedimentares nas margens continen tais e bacias oceânicas (1). Devido à alta declividade do talude, é mais comum a ocorrência de deslizamentos de massa, movimentando os sedimentos depositados no assoalho, induzidos tanto por colapsos gravitacionais, quanto por tempestades, o que resulta em camadas gradacionais e depósitos do tipo tempestitos e/ou turbiditos no sopé (3). Além disso, também no talude existem grandes formações erosivas como cânions submarinos, e multiformas como os contornitos e pockmarks. Resultados de processos sedimentares, vulcânicos e biológicos, as montiformas são feições deposicionais topograficamente mais altas que as adjacentes. Entre elas estão os leques de águas profundas, lobos deposicionais de escorregamento associados a turbiditos, contornitos, recifes carbonáticos e cunhas vulcânicas. Além dessas formações, correntes de contorno podem produzir outras feições, como sulcos erosivos, ripples, cicatrizes e marcas de fundo (4). 1.2 Pockmarks Dentre as estruturas que podem ser encontradas no assoalho oceânico, estão os pockmarks. Eles ocorrem desde as costas até as profundezas marinhas, passando pelo talude e, aparentemente distribuídos por todas as latitudes (5–7). Pockmarks são depressões em sedimentos finos, formadas devido à migração de fluido em litologias porosas e/ou falhas extensionais relacionadas ao diapirismo. O fluido migra para cima e pode encontrar uma camada selante que bloqueie seu caminho até a superfície de fundo ou pode se infiltrar sem que haja este bloqueio. A permeabilidade dessa camada selante e sua resistência ao acúmulo do fluido e, consequentemente à tensão exercida por ele, controlam a taxa de vazamento do gás para fora do reservatório (8). A expulsão violenta deste fluido gera as depressões (9). Quando essa pressão ascendente diminui, a forma circular do pockmark é estabelecida. A forma do pockmark pode ser relacionada à passagem de correntes que pode transportar sedimentos e distribuí-los criando uma assinatura assimétrica e, a ausência de correntes pode fazer com que os sedimentos caiam de volta dentro do pockmark, causando um padrão mais simétrico (10). O esgotamento do gás pode ser tão rápido quanto um ano, e deixa o pockmark inativo, como provavelmente é o caso da maioria dos pockmarks atualmente estudadas (11). Os estudos ligados às ocorrências de pockmarks estão vinculados com diversas áreas de conhecimento, como: a climatologia (12) e demais implicações da liberação de gás (13); análise de riscos geológicos (14), por representarem zonas de instabilidade do fundo marinho; biodiversidade (15,16), pela singularidade da fauna associada aos pockmarks; com a oceanografia física (17), por permitirem inferir a ação de correntes através da análise da sua geometria; além de contribuir com áreas de conhecimento relacionadas aos hidrocarbonetos (6). Os estudos dos pockmarks existentes na Bacia de Santos são recentes, iniciados em 2002 por Calder et al (18), por isso muito ainda se pode contribuir no entendimento das feições da área. 1.3 Recifes de profundidade Geralmente se associa a presença de recifes de corais a mares tropicais e rasos, mas a disponibilidade de novas tecnologias adequadas à detecção dessas estruturas, principalmente a utilização de acústica e submersíveis tem contribuído com a mudança desse paradigma. Corais estão sendo encontrados em diversos ambientes de águas profundas em todo o mundo (19). Apesar de que o conhecimento sobre a fauna das zonas profundas do Atlân tico Sul encontra-se ainda em um estágio incipiente, já foi documentada a presença de corais, dentre eles os azooxantelados (entre 24ºS e 35º40’S) na margem continental de profundidades entre 100 a 2500m, cuja coleção está no Museu Oceanográfico do Vale do Itajaí; além de registros bibliográficos e relatórios como os feitos por Laborel (1967) (20), ou Kitaha (2007) (21). Em um compilado de informações, foram identificadas 38 espécies e estas relacionadas ao tipo de substrato no estudo de Kitaha et al. 2008 (22). No Uruguai foi feito um primeiro registro de recifes de coral monoespecíficos escleráticos de Lophelia pertusa na plataforma externa e talude continental. Dezessete estruturas identificados como montes foram encontradas por meio de mapeamento acústico na região e, em todos esses montes, foram observados corais vivos e/ou cascalho de coral. Essas ocorrências coralíneas foram relacionadas com exsudação de gás (23). Um estudo que compilou os ecossistemas de mar profundo em todo o mundo, incluiu o uso de corais como arquivos paleoclimáticos , analisou seu funcionamento biogeológico, e relacionou-os a distribuição biogeográfica. Além desse tipo de informação, estuda-se sobre biodiversidade e ameaças devido aos impactos de pesca e acidificação para esses macroinvertebrados bentônicos. (24). Além da parte biológica, a uniãode dados morfológicos multifeixe e hidrológicos com dados sedimentológicos permitiria o entendimento de controle ambientais sobre a sedimentação e sobre os padrões regionais de circulação (25). 2. Objetivo O presente trabalho tem por objetivo geral a análise geomorfológica de dois setores do talude superior margem sul do Brasil, nas Bacia de Santos e Pelotas, através de levantamentos batimétricos multifeixe. Para isto, foram colocados os seguintes objetivos específicos: 1. Cartografia de duas regiões do talude superior; 2. Identificação e parametrização de geoformas; 3. Estudo morfológico comparado para os dois setores; Este trabalho é relevante no sentido de contribuir para o conhecimento científico sobre margem continental sul brasileira, no sudeste e sul do país, podendo prover novas informações sobre ambientes de talude continental e plataforma adjacente. Pode ainda levantar questões acerca da geomorfologia e sua relação genética com a hidrodinâmica e processos oceanográficos atuantes nesta área, permitindo compreender os ambientes. A análise morfológica abre caminho para o melhor gerenciamento, exploração e uso de ambientes submersos, tanto com fins econômicos quanto de investigação científica. Além disto, o tema selecionado segue uma tendência de pesquisa na área de Geofísica, com sondagem multifeixe, contribuindo com informações para atualizar e complementar pesquisas que vêm sendo feitas no Instituto Oceanográfico, como o projeto “Feições morfológicas do talude continental da margem sudeste do Brasil: Tectônica a tiva versus condições oceanográficas modernas” e demais projetos relacionados à área de estudo. 3. Área de estudo A área de estudo é composta por dois setores não adjacentes, sendo o mais setentrional localizado na Bacia de Santos e o meridional na Bacia de Pelotas (Figura 1). Ambas as áreas estão na seção sul da margem brasileira, que compreende desde a Bacia de Pelotas (limite sul territorial com o Uruguai) até a área sul do Embaiamento de Tubarão e Cadeia de Vitória - Trindade, entre os paralelos de 19 e 38° Sul e meridianos de 26 e 59º Oeste (26). A área apresenta largura, padrões fisiográficos e profundidades diversos e as estruturas contam sobre os processos geológicos ocorridos ao longo do processo evolutivo. 3.1 Bacia de Santos 3.1.1 Aspectos geológicos A Bacia de Santos se estende entre os paralelos de 23º e 28ºS (28), com área de 350.000 km² até a cota batimétrica de 3.000 m, sendo o limite norte no Arco de Cabo Frio e limite sul na Plataforma de Florianópolis (29). Segue a direção NE-SO por aproximadamente 800 km paralelamente à costa e NO-SE por mais de 450 km. Foi formada a partir de processos de rifteamento no Cretáceo, durante a sepa ração do Gondwana Ocidental. Figura 1. Localização das Bacias de Pelotas e Santos e parte do sul e sudeste do Brasil, macrorregiões a que pertencem as áreas de estudo. A plataforma continental, principalmente durante o Quaternário, foi remodelada devido as fases de exposição e submersão causadas pelas variações do nível relativo do mar, ressalta- se a intensificação fenômenos durante o Último Máximo Glacial (19, 20). Estruturas herdadas de processos tectônicos, halocinese, retrabalhamento de sedimentos por correntes de fundo e circulação superficial no caso dos ambientes mais rasos, moldam a atual fisiografia da margem continental (36). Algumas estruturas localizadas na margem continental já foram encontradas ao longo do talude da bacia de Santos. Estudos anteriores indicaram, nos setores mais rasos, por exemplo, a presença de ondas de sedimento e pockmarks ativos e inativos; e abaixo dos 1000 m de profundidade sabe-se da ocorrência de canais e depósitos contorníticos formados e retrabalhados pela incidência das Correntes de Contorno Intermediária (CCI) e da Corrente Contorno Profunda (CCP) (37). Através de levantamento batimétrico multibeam de alta resolução e perfis de reflexão sísmica, Mahiques et al. (38) apresentaram evidências de um campo de 984 pockmarks, (Figura 2) e de alguns diápiros de sal em diferentes estágios de desenvolvimento no talude continental na Bacia de Santos. As análises sugeriram estreita relação espaço-temporal entre a distribuição de pockmarks e diápiros salinos. Acredita-se que a sobreposição espacial entre o campo de pockmarks, que cobre um grande campo de diápiros, e uma bacia de hidrocarbonetos, tenha facilitado o escape de f luido/gás da subsuperfície para a coluna de água. Na região de pockmarks, também foram identificadas áreas de abundância de esqueletos de organismos carbonáticos e ocorrência de algas calcárias tipo rodolitos (2). A Figura 2. Formações pockmarks na plataforma sudeste do Brasil, área contendo aproximadamente 300 pockmarks. (Retirado de Mahiques, 2017 (38)). concentração desigual dos pockmarks na área de latitude entre 26º e 27º Sul, indicaria que a migração de fluido ainda ocorre nas camadas inferiores ao substrato (14). Segundo Sumida et al. (15), existem na região substratos arenosos parcialmente compostos por fragmentos de corais de Scleractinia indicados a partir de perfis de ecossondas. Seus montes chegavam a 20 m de altura e entre 180 e 360 m de largura na borda de pockmarks. 3.2 Bacia de Pelotas 3.2.1 Aspectos geológicos Possuindo área de 250.000 km² e localizada ao extremo sul da margem continental brasileira, entre os paralelos 28º40’S e 34ºS, a Bacia de Pelotas tem seu limite norte no Alto de Florianópolis e sul com o Alto de Polônio, na plataforma continental do Uruguai. Ela é dividida em duas sub-bacias: Norte (do Terraço de Rio Grande até o Alto de Florianópolis) e Sul (do Terraço até o Alto de Polônio). A porção brasileira desta bacia apresenta aproximadamente 210.000 km² até a isóbata de 2.000m (39). A porção uruguaia recebe o nome de Bacia de Punta del Este. Ainda segundo Ponte e Asmus (40), na sequência superior marinha dessas plataformas e bacias costeiras, “a associação litorânea é formada de arenitos grosseiros, fluviais e de transição; a associação de plataforma inclui sedimentos carbonáticos e terrígen os; e a associação de plataforma externa e talude compõe-se principalmente de folhelhos com corpos subordinados de origem turbidítica.” Quanto a estrutura e tectônica, tem -se que as falhas são extensas em até dezenas de quilômetros. Estes fatores permitiram que a Bacia fosse preenchida por um espesso pacote sedimentar com mais de dez quilômetros , cujos folhelhos, arenitos e conglomerados assentam-se sobre a crosta continental, parte sobre as rochas vulcânicas (início da fase rift) e parte sobre o assoalho oceânico; sendo o fim da fase rift responsável pela maior carga sedimentar depositada sobre o embasamento da baci a e assim o desenvolvimento de uma plataforma continental e planície costeira amplas (42). Abundantes associações fossilíferas, de microfósseis a macrofósseis de vertebrados marinhos, têm sido encontradas em sondagens e depósitos aflorantes e as análises ajudam a compor a caracterização paleoambiental e paleoclimática desses depósitos quaternários (44). O Projeto REVIZEE (11, op cit) encontrou a presença de substrato com conchas (principalmente na porção externa da plataforma e início do talude) altos -fundos e afloramento de rochas na região. Na área de estudo, no cruzeiro para a aquisição dos dados deste trabalho, foram encontradas feições morfológicas que seriam possíveis formações recifais, cuja origem será melhor estudada no presente estudo. 3.3 Oceanografia Física Nos oceanos, a circulação é composta por correntes que deslocam massas d’água em diferentes profundidades. Essas correntes têm importância atrelada à configuração climática mundial, influenciando o aporte de nutrientes, regulando a temperatura e comandando as características e os processos biológicosdas zonas marinhas. A circulação está associada aos gradientes de densidade ao longo da coluna d’água, controlados diretamente por salinidade, pressão e temperatura, além de regime de chuvas, taxa de evaporação e glaciação. A diferença de densidade produz um padrão de estratificação (45). No Oceano Atlântico Sul, a movimentação das águas profundas é contr olada predominantemente pela circulação termo-halina com influência da topografia do fundo, principalmente ao longo de contornos em margens continentais (35 op. cit). Atrelado às correntes, a dinâmica oceânica conta com a influência das marés, cuja amplitude para a área de estudo é muito pequena, devido ao pertencimento ao sistema anfidrômico (Figura 3). Figura 3. Variação da amplitude da constituinte harmônica M2, com a amplitude em cm; e linhas cotidais que se unem nos pontos anfidrômicos. Adaptação de TOPEX Poseidon/GSFC NASA (47). 3.3.1 Massas d’água e circulação Em toda a região de estudo, entre as latitudes 26º e 31º Sul, atua a corrente de contorno oeste geostrófica associada ao giro subtropical do Atlântico Sul e a Corrente do Brasil (CB), que flui para sul até a região da Convergência Subtropical, onde se separa da costa e conflui com a Corrente das Malvinas (Figura 4). A Corrente do Brasil não é considerada corrente de contorno fortemente erosiva (45). A CB flui sinuosa ao longo da plataforma continental externa e do talude, podendo interagir com a coluna de água formada pelas seguintes massas: Água Costeira (AC); a Água Tropical (AT), a Água Central do Atlântico Sul (ACAS), a Água Intermediária Antártica (AIA) e Água Profunda do Atlântico Norte (APAN), (47) (48). A CB, delimitada como o fluxo associado ao movimento da AT e ACAS, torna-se mais profunda e aumenta sua potência de transporte em torno de 20ºS quando encontra-se com esta última massa (Wüst (49) apud Castro Filho et. al(50) p.22). A AT (T>20ºC; S>36) é formada como consequência da radiação solar e evaporação, é quente e salina e ocupa a superfície, misturando com a AC de menor salinidade e temperatura. A ACAS (6ºC>T>20ºC; 34,6>S>36,2) ocupa a picnoclina e é formada pelo afundamento das águas na Convergência Subtropical e posterior ocupação de uma área de densidade adequada (Miranda, 1985 apud Castro Filho et. al 2006, p. 19). A AIA (3ºC<T<6º; 34,2<S<34,6) flui em nível subpcinoclínico e é formada na Convergência Subantártica e bifurca seu fluxo à longitude de Santos (47). A APAN (3ºC<T<4ºC; 34,6<S<35) ocupa níveis entre 1500 e 3000 metros ao largo do Sudeste brasileiro, fluindo para Sul até 42ºS (51). Dentro da Bacia de Santos, as estimativas indicam que a CB transporta 7,5 Sv (1 Sv = 106 m³s-1) relativamente ao nível de 750 db, se estendendo em média até 750 m (Campos et. al (52) apud Silveira et. al (48) p.177). Em latitudes mais altas, próximo ao Cabo de Santa Marta Grande, a profundidade é de aproximadamente 670 m, tem 16 Sv e velocidade em torno de 0,5 m/s (47). Na plataforma Continental externa o padrão de circulação atmosférica tem grande influência sobre a estratificação vertical. Na Bacia de Santos, a intrusão no verão da ACAS em direção ao continente induz o deslocamento da AC em direção ao talude e mantém a AT relativamente distante da costa, processo esse responsável pela exportação e deposição de matéria orgânica terrígena nas áreas profundas (38 op. cit), (53), (54). O fenômeno de ressurgência do Cabo de Santa Marta ocorre predominantemente no verão, onde os ventos de NE/N têm intensidade e duração suficientes para, devido à Coriolis à esquerda da direção de propagação do vento, direcionarem um transporte de Ekman em direção ao centro da bacia. Este direcionamento permite que essas águas de camadas inferiores ocupem o espaço nas camadas superficiais (55). A CB flui em direção ao sul fechando o Giro Subtropical do Atlântico Sul formando vórtices anticiclônicos pelo caminho. Os meandros e o cisalhamento vertical associados foram relacionados à instabilidade baroclínica que, possivelmente, é a causado ra dos vórtices (56). Há também ciclones e anticiclones adjuntos ao eixo da Cor rente do Brasil, além de vórtices ciclônicos que induzem o afloramento da ACAS, proporcionando um enriquecimento das águas superficiais com nutrientes que favorecem a produção primária(52). O fluxo sinuoso da CB é possivelmente uma das causas da configuração também sinuosa da quebra da plataforma das bacias em questão (57). Outras duas correntes atuantes são: I) a Corrente de Contorno Intermediária (CCI), presente no talude continental com AIA e Água Circumpolar Superior (ACS); e II) Corrente de Contorno Profunda (CCP) abaixo dessa, que transporta Água Polar do Atlântico Norte para o interior das bacias oceânicas(58). Outro transporte causado pelo vento é o da pluma do Rio da Prata. Quando Sudoeste/Sul durante o outono e inverno brasileiros, a pluma é transportada na margem contine ntal rumo ao norte, por mais de 1.200km influenciando na salinidade das duas áreas de estudo (59). Figura 4. Representação da circulação atlântica sudoeste ao nível de 800m, ilustrada por Silveira (2000) (49). 4. Métodos A abordagem empregada no presente estudo consiste no processamento, análise e interpretação de dados de batimetria multifeixe, visando o reconhecimento da morfologia do fundo marinho. 4.1 Fundamentos 4.1.1 Reflexão e Transmissão de ondas sonoras em meios estratificados Levantamentos acústicos marinhos se utilizam de equipamentos que emitem pulsos sonoros com uma quantidade de energia a ser medida por um dispositivo chamado hidrofone. Segundo Medwin e Clay (1998) (60), o hidrofone mede as oscilações da pressão durante a passagem da onda. O tamanho dessa oscilação é a amplitude da onda. O total de energia transmitida e refletida é igual à energia incidente, e a partição da energia na interface é determinada pelo contraste da impedância acústica [1] entre os meios. A impedância acústica 𝑍 é o produto da densidade 𝜌 do meio pela velocidade de propagação de ondas compressivas 𝑣: 𝑍 = 𝜌𝑣 [1] O contraste de impedância acústica determinará a fração de energia que será transmitida para as camadas mais profundas, e a que será refletida de volta para a superfície. Parâmetros como coeficiente de reflexão 𝑅 [2] e coeficiente de transmissão 𝑇 [3] são medidas do efeito da interface na propagação de ondas e levam em consideração as mudanças de amplitude da onda refletida 𝐴1 e incidente 𝐴0. 𝑅 = 𝐴1 𝐴0 𝑒 𝑇 = 𝐴2 𝐴0 Para o caso de incidência normal, podem ser escritos em funç ão da impedância acústica. Pelos valores de R, consegue-se saber a quantidade de energia incidente que é refletida na interface ou transmitida para o substrato. Valores típicos de 𝑅 raramente ultrapassam ±0,2, portanto, a maior parte da energia é transmit ida para o substrato. Nos casos extremos de 𝑅=1 ou -1, tem-se que toda a energia incidente é refletida na interface, como o caso aproximado da interface água-ar. 4.1.2 Batimetria multifeixe A batimetria é uma técnica utilizada para medir a espessura da lâmina d’água por meio da emissão de pulsos acústicos e a recepção das correspondentes reflexões (ecos) da superfície do fundo (61). Até meados dos anos 1960 os levantamentos batimétricos eram realizados utilizando ecossondas monofeixe. Os avanços da metodologia multifeixe incluem desde a minimização das horas de navegação, até a melhora na qualidade dos dados e o processamento de sinais digitais, aumentando de forma considerável a velocidade de [2] [3] processamento e possibilitando a implementação de novas técnicas de processamento de dados. Existem algumas particularidades nos levantamentos de batimetria multifeixe que o diferenciam do monofeixe. Por exemplo, as faixas sondadas devem se sobrepor de modo a garantir a totalcobertura da superfície do fundo. Para isso, a embarcação trafega fazendo as linhas e tentando seguir uma rota totalmente retilínea. Devido à dificuldade de se conseguir tamanha precisão, já que as forçantes oceanográficas podem deslocar um pouco o navio do rumo planejado e deslocam-no também verticalmente, alguns problemas de desalinhamento e defasagem de tempo são consequências da operação de aquisição de ecossondas multifeixe (62). A sondagem por ecobatímetro multifeixe é possível visto a eficiência de propagação do som na água por longas distâncias através de frentes de pressão (como ondas compressivas) a uma velocidade específica. Os fatores que determinam a variação da velocidade de propagação são as características físicas da água do mar, como a pressão, temperatura e salinidade. Assim, uma ecossonda funciona emitindo um curto pulso de som ( ping) e “escutando” o eco refletido no fundo. O tempo decorrido entre a emissão do pulso e seu retorno, é usado para medir a distância entre a ecossonda e o o fundo que o refletiu. A principal característica de uma ecossonda multifeixe é a sua capacidade de mapear diferentes locais do fundo ao mesmo tempo. Esses locais formam uma faixa de zonas contiguas, perpendicular à direção de navegação da embarcação. A área varrida depende da distância que o equipamento se encontra do fundo, do arranjo dos projetores que geram as ondas e da frequência com que o equipamento opera. Os feixes emitidos por um arranjo linear de projetores se propagam em todas as direções dentro de um plano perpendicular ao eixo do arranjo, ensonificando uma faixa na superfície do fundo (Figura 5). Analogamente, um arranjo linear de hidrofones também recebe ecos de uma faixa do fundo. Durante a navegação, as embarcações são submetidas a rotações sobre as três dimensões espaciais, essas rotação são pitch, roll e yaw. As embarcações também se movimentam verticalmente devido à ação das ondas (heave) e a variações na velocidade (squat). Todos esses movimentos ocorrem de forma simultânea e afetam a diretividade dos feixes. Para compensar esses efeitos, é instalado um sensor inercial, geralmente próximo ao centro de massa da embarcação, que, mediante a medição desses movimentos, gera parâme tros necessários para a correta localização dos pontos de sondagem. Essa é a técnica básica utilizada pelos sistemas de batimetria multifeixe. 4.1.3 Aquisição Os dados a serem utilizados no desenvolvimento do presente trabalho foram adquiridos a bordo do NOc Alpha-Crucis durante o Cruzeiro Talude 2 (Figura 6), do projeto “Feições Morfológicas do Talude Continental da Margem Sudeste do Brasil: Tectônica Ativa versus Condições Oceanográficas” que ocorreu entre os dias 28 de novembro e 8 de dezembro de 2017, por meio de uma ecossonda multifeixe RESON® SeaBat 7160 instalada no casco da embarcação. Figura 5. Ensonificação do fundo por um arranjo linear de projetores. Por Mascimiliano de los Santos Maly - arquivo pessoal. O equipamento em questão opera em profundidades de 10 a 3.000m, com cobertura maior que 4x a profundidade, é de alta resolução com 512 feixes equidistantes de alta densidade e 150 feixes equiângulos, com ângulo entre os beams de 1,5°. A multifeixe operou com frequência nominal de 44 kHz dos dias 29 de novembro ao 08 de dezembro, com exceção do dia 04 de dezembro. Conjuntamente com o sistema multifeixe, operaram os equipamentos da embarcação: GPS Furuno, sensor de movimento Teledyne DMS-505 para controle de atitude e agulha giroscópica Gyro Meridian, cujos valores foram calibrados anteriormente ao levantamento. Os dados foram georreferenciados com o uso de um sistema GPS disponível na embarcação e os offsets colocados na aquisição. Desta forma as coordenadas geográficas ficariam corretamente registradas. 4.2 Sequência de processamento Figura 6: Mapa de localização das superfícies sobre as linhas batimétricas multifeixe no Talude Continental: I) Área Norte pertencente à Bacia de Santos e II) Área Sul pertencente à Bacia de Pelotas. O processamento da batimetria foi feito no Hips and Sips® (Hydrographic Information Processing System – CARIS - Universal System) versão 9.0 e seguiu a sequência a seguir: • Criação do projeto com todos os dados geodésicos, de sistemas e de navegação; • Importação dos dados brutos; • Extração dos dados para o formato de processamento/ replay; • Remoção de spikes; • Exportação em formato ASCII e raster. • Criação de Mapas, Perfis e análises Segue a descrição de cada fase da sequência. I) Criação do projeto com todos os dados geodésicos, de sistemas e de navegação; No início foi feita a criação do Projeto nomeado “Talude2” a partir da utilização dos dados brutos de aquisição, assim como da criação do Vessel “Alpha Crucis” (Figura 7) com os offsets disponíveis referentes às medidas da embarcação e distâncias entre os pontos dos dispositivos que compõe o sistema de aquisição multifeixe. (Figuras 8 e 9). Algumas das posições e medidas da embarcação não estavam disponíveis nas bases de dados. II) Importação dos dados brutos; Figura 7. Desenho esquemático 2D do N. Oc. Alpha Crucis e Posicionamento dos equipamentos. Figura 9. Offsets disponíveis referentes ao GPS, posição em (x,y,z) e DATUM inseridos no CARIS. Figura 8. Offsets disponíveis referentes ao transdutor, posição em (x,y,z) inseridos no CARIS . O total de linhas de dados adquirido no Talude2 é de 52,961 GB e constitui a base geral do presente projeto. Os dias apresentados aqui somam 6 GB deste total . III) Extração dos dados para o formato de processamento/ replay; Selecionou-se para conversão, as linhas dos dias “2017-336” para a área Sul e “ 2017- 40” para a área Norte, nomeados em dias julianos pelo software, referentes aos dias 02 e 06 de dezembro de 2017, respectivamente. Aplicação de perfis velocidades do som para corrigir a refração dos feixes e calcular a profundidade e gráficos de redução da maré para correção da profundidade. Os perfis de velocidade do som (SVP) de cada dia foram editados manualmente, de forma a ficar no padrão exigido para que seja feita a leitura pelo CARIS, em extensão sv, (Figuras 10 e 11). Figura 10. Perfil de velocidade do som (SVP2) para dia 02 de dezembro . Como não foi feita a modelagem da maré para a área, o arquivo de maré (Figura 12) foi confeccionado manualmente de forma a considerar que a variação da maré na região seria desprezível com relação à profundidade. Figura 11. Perfil de velocidade do som (SVP6) para dia 06 de dezembro. Figura 12. Dados de maré confeccionados geraram o padrão em verde, de amplitude constante. Como os dados batimétricos são gravados em vários arquivos de informação diferentes, o processo sempre deve passar pela integração dos dados de maré, de velocidade do som, posição da embarcação e sensores de movimento, em “merge”, que tem como vínculo o instante de tempo em que foram adquiridos . O próximo passo é a seleção de linhas para a criação de superfícies e remoção de spikes após análise visual. IV) Remoção de spikes; O processamento busca eliminar erros grosseiros, sistemáticos e aleatórios (Figuras 13 e 14). Os grosseiros são provocados por falhas humanas ou de equipamento; os sistemáticos decorrem da má calibração dos instrumentos e demais problemas de execução. Estes erros resultam em distorção de medidas e, por conseguinte, de resultados. Já os aleatórios acontecem de forma acidental e tem causas diversas e inevitáveis, os resultados destes são, da mesma forma, aleatórios, um exemplo comum são os spikes, cuja causa passa pela má recepção do eco de alguns feixes (63). Figura 13: Janela superior com uma de linha da área Norte não tratada e exemplo de outra linha damesma área, em visão também sem detalhamento, após remoção de spikes. Esta análise foi feita linha a linha a partir da função “Swath Editor” e é subjetiva, portanto os principais critérios utilizados foram: - Todos os valores acima e abaixo das tendências de profundidade pa ra cada trecho analisado foram eliminados. - Os feixes mais externos foram rejeitados devido à falta de confiabilidade e erros relacionados à refração do som e sistema de referenciamento . Estas práticas estão em acordo com técnicas de processamento de serviços hidrográficos, como CHS (Canadian Hydrographic Service) (64). V) Exportação em formato ASCII e raster. Ao final da edição dos dados, as superfícies foram atualizadas e salvas em formato ASCII e Raster exportando-as para continuação do trabalho em formato xyz. Utilizaram-se espaçamentos diferentes para amostragem de cada uma das áreas e então, testou-se o melhor tamanho em metros para a célula de exportação a fim de melhorar a resolução de cada mapa no Surfer. Após o teste com algumas larguras de células, escolheram- se as células de 20 e 15 m para Área Sul e Norte respectivamente, por serem parecidas com a área de cobertura real de cada ponto e trazerem melhor qualidade visual aos grids. VI) Criação de Mapas, Perfis e análises Após a extração dos dados georreferenciados, chegou-se na fase de digitalização de mapas de contorno, 3D e confecção de perfis batimétricos para a identificação e interpretação das feições características e os limites destas com o fundo adjacente . Os mapas foram processados e tratados com software Surfer (com a utilização de Gridding Method Kriging) e ArcGIS. Foram feitos mapas de toda a área das superfícies batimétricas e perfis batimétricos. Partindo dos mapas e perfis batimétricos tem-se a área e comprimento das superfícies, seu relevo básico e a identificação das geoformas neles contidas. Posteriormente foram mensurados os parâmetros geométricos dessas geoformas, como profundidade, altura, Figura 14:. Linha da área Sul, sem detalhamento, após remoção de spikes. semieixo e maior diâmetro, inclinação das paredes, distribuição das cristas, bem como simetria dos pockmarks. Os parâmetros foram medidos a partir dos perfis de pockmarks aleatórios. O maior semieixo e altura máxima dos pockmarks foram medidos utilizando como referência o ponto de transbordamento de cada pockmark (Figura 15), segundo metodologia utilizada por Gafeira (2011) (10). Oito pockmarks, o que corresponde a 20,5% do total, foram escolhidas para se medir a elipticidade. Várias estruturas têm parcelas ausentes, devido à retirada de pings ou ausência de aquisição que determinem suas extremidades, então, para verificação da simetria da elipse, utilizaram-se pockmarks próximas ao centro do mapa. A assimetria dos perfis batimétricos podem ser indicativas de que as correntes que atingem um flanco deslocam os sedimentos para a direção de propagação destas (65). Os perfis extraídos são de direção Leste-Oeste e Norte-Sul e a divisão do comprimentos do eixo maior pelo menor indica a elipticidade dos pockmarks (10). Quando o resultado dessa divisão é igual a 1 significa que o pockmark é simétrico, e quanto maior o valor, maior a elipticidade. Figura 15. Figura 15: Indicação da localização do ponto de transbordamento. Adaptado de Gafeira et al (2011) (op cit). 5. Resultados 5.1 Área Sul A área amostrada está situada entre as latitudes 6670000 e 6695000 UTM e longitudes 225000 e 240000, referentes a zona 23S e compreende duas faixas perpendiculares (Figura 6). O segmento oeste-leste é uma extensão plana e inclinada, de profundidades que variam de 420 a 800 m mostrando o aumento gradual de profundidades no talude. O segmento sul-norte está totalmente no talude continental e tem grande parte plana de pro fundidades entre 750 e 900m. Na sua porção sul apresenta uma feição morfológica destoante ao relevo mapeado, entre profundidades de 680 a 830 m, aproximadamente (Figura 17). A área total é de 91 km², sendo 25 km² para o seguimento leste-oeste e 66 km² para o sul- norte. A feição ocupa aproximadamente 7,5 km². Figura 16. Mapa batimétrico da Área Sul. As coordenadas geográficas estão em UTM e a profundidade em metros. A feição morfológica corresponde a uma crista proeminente de grande extensão latitudinal a oeste, uma crista menos robusta a leste, que vai de 6677000 UTM a aproximadamente 6674500 UTM seguida de uma interrupção, um monte (visto melhor a partir dos Perfis Batimétricos a seguir), nova interrupção e outra crista menor de 6672000 UTM à latitude final de 6671000 UTM, onde a amostragem multifeixe cessa. Três cortes latitudinais foram feitos nas cristas e montes (A, B e C) para anál ise da altura geral e extensão (Figura 19). Cinco perfis batimétricos leste-oeste foram feitos para que se compreenda a relação entre as alturas e larguras da feição e os relevos adjacentes. Estes perfis compreendem a parte norte de crista única (1), centro de crista dupla (2 e 3) e sul de retorno à formação de crista única (4 e 5). Os Perfis Batimétricos (PT 1-5) estão distribuídos de norte para sul (Figura 20). No Perfil Batimétrico (PT1) observa-se uma elevação isolada de 1400 m de largura com pico em 709 m de profundidade. A área adjacente mais profunda é de 790 m. No PT2 observa-se o início da dupla crista. A crista a oeste tem largura máxima de 600 m e pico em 723 m. A crista leste tem pico em 753 m e largura de 400 m. A profundidade máxima da área adjacente é de 790 m e há uma elevação à direta de profundidade 734 m. No Figura 17: Mapas 3D da Área Sul e detalhe contemplando a feição morfológica. As escalas de cores relativas à profundidade estão adjacentes aos respectivos mapas . PT3 a segunda crista se equipara a primeira, com picos em 737 m e largura de 700m e 734 m com largura de 500m, respectivamente, em uma profundidade máxima de 789 m. No PT4 a crista leste fica em 747 m de profundidade e largura de 600 m, enquanto que a oeste dá lugar a uma formação que mais se parece com uma plataforma que vai a 710 m de profundidade com uma largura de 500 m, aumentando a diferença entre as duas, num local onde a profundidade máxima chega a 808 m. Com a mesma profundidade máxima para o relevo adjacente, no PT5 volta-se a ter uma apenas uma crista, de largura de base 900 m e altura que chega a profundidade de 707 m, ou seja, alcança 100 m de altura. No Corte A (Figura 20) verifica-se a extensão latitudinal da crista oeste, que é de aproximadamente 7500 m. A altura medida a partir da base varia entre 55m, com o topo da feição nunca ultrapassando 700 m de profundidade. No Corte B tem-se o relevo bem mais acidentado da maior crista a leste e extensão total de 4500 m. O corte C evidencia o monte de 520 m de extensão latitudinal e aproximadamente a 730 m de profundidade e a seguinte crista leste de 2080 m de extensão e profundidade média de 750 m. Figura 6. Mapa batimétrico de contorno com indicações dos perfis topográficos latitudinais norte-sul (A, B e C) e perfis topográficos longitudinais leste -oeste (1 a 5). 5.2 Área Norte A área norte está situada entre as latitudes 7095000 e 706500 UTM e longitudes 400000 e 30000 UTM, na zona 23S, em um comprimento de 44.745 m distribuído de sudoeste para nordeste por aproximadamente 108 km² (Figura 21). No mapa batimétrico a seguir, verifica-se a profundidade variando entre 500 e 820 m e é possível a identificação de 39 pockmarks, compreendendo uma densidade geral de 0,36 pockmarks/km². Figura 7. Perfis dos Cortes Latitudinais das 3 cristas da formação (A - Oeste, B- Leste, C- Leste e Monte), a parte setentrional se encontra à esquerda de cada perfil. O exagero vertical é de 10x. O relevo em torno dos pockmarks é plano, então, as maioresprofundidades são encontradas no interior dos pockmarks. O mapa da Figura 21 mostra uma tendência de aumento da espessura da lâmina d’água com sentido NE, variando entre 600 e 710 m. As medidas dos pockmarks foram feitas a partir do mesmo método utilizado para a feição da Bacia de Pelotas: os perfis batimétricos. De todos os pockmarks, os da área nordeste são os mais profundos, com alturas internas até a profundidade de 810 m. Os cortes foram feitos seguindo-se o maior eixo de abertura ou o eixo que evidenciasse maior diferença batimétrica para cada marca, sendo assim, não há um padrão fixo. O mapa 3D ilustra o relevo e os pockmarks encontrados (Figura 22), o mapa batimétrico da Figura 23 identifica as feições e localiza a posição dos cor tes para os perfis batimétricos. Figura 8. Mapa Batimétrico da Área Norte. Figura 9. Mapa 3D da Área Norte, com os Pockmarks. Figura 10. Mapa Batimétrico com identificação dos Pockmarks e, em traço fino laranja, a localização do corte para cada um dos perfis topográficos (P1 a P39) Todos os perfis tem exagero vertical de 10x . O pockmark número 1 (Figura 24) indicado pelo P1 está entre os de maiores proporções na área. Seu centro chega a profundidade de 812 m. Considerando uma morfologia elíptica para vista em planta, o maior semieixo é de 540 m e é medido na profundidade 744 m. A as paredes laterais tem alturas e inclinações diferentes, chegando a maior parede próxima de 712 m de profundidade. A altura do centro do pockmark até a profundidade onde encontra-se seu maior diâmetro é de 76 m. Também com grandes proporções, o pockmark P2 (Figura 25) tem uma diferença maior de inclinação entre as duas paredes até a profundidade de 688 m, a partir daí a simetria é mais evidente. O maior semieixo (440 m) é em 672 m e, na mesma profundidade a altura é de 82 m, chegando seu centro a 754 m abaixo do nível do mar. Figura 11. Perfil batimétrico do Pockmark 1. Figura 12. Perfil batimétrico do Pockmark 2. A diferença entre as alturas máximas das paredes do pockmark P4 é de 56 m. A altura do centro até o semieixo maior (180 m) é de 44 m. A profundidade do centro da marca é de aproximadamente 776 m e a maior parede chega aos 670 m (Figura 26). Correlacionando P9 (Figura 27) e os mapas batimétricos e 3D observa-se que há uma elevação dentro de uma marca circular. Esta elevação está evidenciada entre as distâncias 320 até 960 m. O pico da elevação central é de altura semelhante à parede de 40 m de altura (à esquerda) e mais alto que a parede que chega a 668 m de profundidade ou 32 m de altura (à direita). A largura da maior abertura do pockmark (à esquerda) é de 760 m a profundidade máxima considerada é a mesma profundidade desta abertura que é de 40 m. O pockmark do perfil P14 (Figura 28) tem diferenças de alturas entre suas paredes e inclinação sutil se comparado a P1, P2 e P4. A parte mais alta chega aos 654 m abaixo da superfície da água. O fundo da marca não é simétrico e tem largura em torno de 200 m. O Figura 13. Perfil Batimétrico do Pockmark 4. Figura 14. Perfil Batimétrico do Pockmark 9. maior diâmetro ocorre na profundidade 676 m e é de 600 m. Considerando a profundidade do fundo da marca em 704 m, altura do fundo ao maior diâmetro é de 28 m. O P18 (Figura 29) mostra uma formação de 840 m de diâmetro, com paredes semelhantes na altura, inclinação e deformações. O fundo do pockmark é em 672 m de profundidade e a altura do interior é 30 m. A abertura está localizada a 642 m abaixo do nível do mar. E, por último, nesta mesma análise paramétrica da morfologia dos pockmarks, o P38 (Figura 30). Localizado a sudoeste da região estudada, sua abertura está na profundidade de 642 m. De paredes contínuas de mesmas proporções e inclinação, a marca tem de altura interna 58 m e diâmetro máximo de aproximadamente 700 m. Figura 15. Perfil Batimétrico do Pockmark 14. Figura 16. Perfil Batimétrico do Pockmark 18. Para o cálculo da simetria da abertura das geoformas, utilizaram-se os Pockmarks 1, 2, 15 22, 25, 27, 34 e 37. Os perfis foram extraídos de forma padronizada, onde os eixos Norte- Sul e Leste-Oeste são linhas perpendiculares e concorrentes no centro de cada pockmark, conforme ilustrado na Figura 31. A partir da análise de todos os Perfis batimétricos relativos à Figura 31, relacionou- se na Tabela 1 a elipticidade de cada um dos pockmarks selecionados. Figura 17. Perfil Batimétrico do Pockmark 28. Figura 18. Pockmarks P1, P2, P15, P22, P25, P27, P34 e P37, localizados próximo a linha central indicada em amarelo e distribuídos por toda a extensão NE-SO, tiveram seus perfis N-S e O-L (em branco) retirados para cálculo da simetria da abertura. Os dados mostraram que os Pockmarks 1, 2, 22, 27, 34 e 37 são aproximadamente circulares, com valores de elipticidade entre 1,0169 e 1,125. Já os pockmarks 15 e 25 têm assinatura mais próxima de uma elipse, com elipticidade maior que 1,4. Tabela 1: Elipticidade de 8 Pockmarks centrais Pockmark ELIPTCIDADE Eixo NS/Eixo LO Eixo LO/Eixo NS 1 n/a 1,1 2 1,1 n/a 15 1,5 n/a 22 1,1 n/a 25 n/a 1,4 27 n/a 1,0 34 1,0 n/a 37 n/a 1,0 6. Discussão A partir da caracterização feita, nesta discussão são comparadas as estruturas de pockmarks e recifes de mar profundo encontradas aqui, com as de outros trabalhos. Também são discutidos os processos oceanográficos que podem estar relacionados gerando a variedade morfológica observada. 6.1 Bacia de Pelotas - Recife de Coral A Área Sul relaciona dois setores do talude da Bacia de Pelotas. A seção leste-oste de declividade maior e a de direção norte-sul de relevo regular, à exceção da própria geoforma identificada, que é uma possível formação recifal coralínea. Os sedimentos do talude continental sul do Brasil a que pertence a área, apresenta forte relação com constituintes provenientes do Rio da Prata e a fração arenosa contém carapaças de foramníferos plantônicos (66). Segundo três estações compiladas pelo estudo de Kitaha (2008) que reuniu dados de pesquisas anteriores sobre corais no talude (22), a Área Sul apresenta pelo menos 5 das espécies de corais escleractíneos azooxantelados: Trochocyathus laboreli relacionada ao substrato inconsolidado biodetrítico, Flabellum apertum relacionada ao inconsolidado arenoso a lamoso; e as espécies relacionadas ao fundo consolidado Madrepora oculata, Enallopsammia rostrata e Lophelia pertusa . A gama de tipos de sedimentos e a variedade de distribuição deles são os principais fatores de influenciam a abundância dessa fauna coralínea (67). No mundo, o tamanho das agregações encontrada é variável, desde montes de um metro de altura até recifes de metros de altura e quilômetros de comprimento e os construtores de recifes mais importantes dentre os azooxantelados são Lophelia pertusa, Madrepora oculata, Enallopsammia profunda, Goniocorella dumosa, Solenosmilia variabilis e Oculina varicosa (19) dos quais três foram documentados no presente recife, que apresenta grandes proporções. Com relação às variações de profundidade, os macroinvertebrados bentônicos apresentam tendência de diminuir sua densidade e aumentar o número de espécies até os 3000 m (68), sendo o talude a província com maior homogeneidade da distribuição dessas espécies (69). Ainda segundo Capítoli (69), ambientes com perturbações constantes ou ambientes com distúrbios raros não fornecem condições para desenvolvimento completo de comunidad es de macroinvertebrados bentônicos. Assim sendo, entende-se que a e atuação das correntes CB e CCI nas profundidades na faixa de 650 m e talude sul brasileiros, causar iam um distúrbio suficientemente moderado, o que é ideal para a manutenção da comunidade que, junto da acumulação de sedimento biogênico e substrato consolidado, formariamo recife identificado. O mapa 3D (Figura 32) mostra a feição dividida em pelo menos duas cristas paralelas. O relevo do assoalho da divisão entre elas é côncavo, assemelhando-se a um pequeno canal de 200 m de largura. Nos PT 1 a 5, outra formação interessante e que é comum a toda a extensão do recife é o sulco a oeste da maior crista, cuja parede alta pode guiar o fluxo da corrente, servindo de corredor para o fluxo atuante no fundo que geraria o aspecto regular dessa parede. O canal (que chega a quase 50 m de profundidade em relação ao relevo adjacente) pode ser fruto da erosão e caminho facilitador do escoamento da mesma corrente. Figura 19: Mapa 3D com visão detalhada da formação recifal por dois ângulos. A leste a delimitação da crista com o relevo pode ser identificada nos mapas batimétricos e perfis, mas não tem a mesma configuração regular. Talvez a menor altura da crista leste e configuração irregular do relevo sejam dificultadores de um escoamento perseverante das correntes de fundo, já que as irregularidades causam atrito e a parede mais baixa não gera corredor para o fluxo, o que justificaria o aspecto anguloso desta parte, que não seria “encerada” pela circulação. A transição entre o PT3, PT4 e PT5 parece indicar outro padrão de erosão. A dupla crista (PT3) dá lugar a uma superfície aplainada de 350m de extensão (PT4), já PT5 compreende a parte onde tem-se novamente uma crista única. Na área após o fim da crista dupla (Corte B), fica evidenciada a presença de um monte antes da próxima crista (Corte C). O monte tem mais de 500m de base e aproximadamente 72m de altura. A distribuição espacial do recife pode ser o resultado do sentido de propagação das correntes (para sul). O fluxo levaria material em suspensão e larvas ou propágulos das espécies de coral, facilitando a alimentação, crescimento e assentamento do recife cada vez mais para o sul. Assim sendo, é possível que a parte setentrional seja a mais antiga , hipótese que demandaria amostragem das duas áreas para comparação e datação. O crescimento de corais de mar profundo é lento e, por isso, uma formação madura leva muitos milhares de anos para se formar (70). Os corais de água fria não têm algas simbióticas dependentes da luz, portanto dependem da oferta de zooplâncton e da matéria orgânica particulada transportada pelas correntes (19) ou de exsudações de hidrocarbonetos leves que nutririam micro-organismos quimiossintetizantes, também fontes de alimento para esses corais (71). Além da documentação das espécies de corais azooxantelados no mesmo setor do talude da Bacia de Pelotas, não se encontrou em bibliografia nenhuma menção, imagem ou mapa batimétrico mostrando um recife de coral de mar profundo dessas dimensões na margem continental brasileira. Anteriormente, a existência de recifes foi verificada na Bacia de Campos (em forma de bancos com largura de dezenas de metros e alturas de até 15 m, formando um campo de coral de 40 km de comprimento) pela primeira vez em 1994 (72) e na Bacia de Santos (com largura até 360 m e altura até 20 m), junto a pockmarks (15) em 2004. Ambos têm proporções menores e foram descritos como “montes de coral”. Na plataforma externa e talude continental Uruguaios, em latitudes mais altas, a primeira descrição de recifes monoespecíficos escleráticos foi publicada em 2012 (73) (17 estruturas montiformes com altura média de 35 m e máxima de 67 m), nestas, alguns montes foram associados a infiltrações de fluidos, o que não foi evidenciado nos casos brasileiros. 6.2 Bacia de Santos – Pockmarks Foi encontrada uma densidade de 0,36 pockmarks/km² a partir de levantamento batimétrico multifeixe na presente área da Bacia de Santos. A densidade é considerável se comparada ao campo com 1,65 pockmarks/km² encontrado por Mahiques et al (2017) ((38)). A partir da densidade do campo de pockmarks supõe-se que a presença dessas feições pode se estender além dos limites da presente área mapeada, dada a presença de um extenso campo de pockmarks na mesma Bacia. Feições com grandes proporções (a exemplo de P1, P2, P3, P4, P22, P23 P24 e P27) foram encontradas em meio as demais. Mahiques et al (38) op cit. correlacionou a presença desses pockmarks de tamanho anômalo à ocorrência de diápiros de sal, assim como correlaciona o campo de pockmarks a uma província de hidrocarbonetos. Diápiros salinos e hidrocarbonetos criariam ambiente propício para alimentar e formar essa densidade de feições. As zonas de falhamento são propícias para ocorrência de exsudação de gás, e pockmaks podem ser indicativos indiretos da sua existência no substrato (15,38). A relação comprimento total (~45 km) e largura média (~2,1 km) da Área Norte faz com que a superfície seja uma linha alongada. Assim, não tem proporções favoráveis para se calcular parâmetros de distribuição espacial preferencial, como por exemplo em núcleos, das feições. Mas, dentro de análise qualitativa da área entendida, é possível notar uma aglomeração de pockmarks (P28 – P36) ao sudoeste do mapa. Também altas densidades no setor central e sentido nordeste (P6 – P15) e (P16 – P25), distribuição esparsa dos demais e áreas de ausência de pockmarks entre esses setores. Nada impede que, ao se considerar as adjacências não investigadas para um futuro cálculo, os aglomerados atuais não prevaleçam com as maiores densidades. A inclinação e altura diferenciada dos flancos e elipticidade dos pockmarks indicam padrão assimétrico que pode estar relacionado com fatores como a persistência da passagem de corrente de fundo e, portanto erosão e transporte desses sedimentos (74). Analisando-se todos os perfis batimétricos, percebeu-se que há uma divisão semelhante entre a quantidade de pockmarks assimétricos e simétricos. Para os que se calculou a elipticidade, a maioria assemelha-se ao padrão de cone largo e curvo, mas, dentre estes, um pockmark considerado circular chama a atenção pela assimetria detectada pelos seus perfis (N-S e O-L) (Figura 33). P1 (Figura 33) tem flancos que podem indicar o sentido da corrente preferencial para Noroeste, diferente dos sentidos preferenciais indicados tanto da CB (para SO) quando da CCI (NE) para a área (48). Um perfil extra, no sentido Noroeste-Sudeste foi criado para certificar a observação do sentido de assimetria e sobre ele foi ilustrada a possibilidade de efeito de um fluxo sobre o flanco. Estudos locais da circulação agregariam às interpretações de simetria de pockmarks. 6.3 Qualidade dos Dados Para garantir a qualidade dos dados do levantamento, os sistemas de: georreferenciamento, sensor de movimento e sensor de atitude devem estar devidamente sincronizados. E para garantir a robustez dos dados e melhor qualidade da limpeza durante o processamento, as sondagens devem recobrir a área de forma que as linhas paralelas adjacentes sobreponham ao máximo os seus feixes laterais. Pela análise inicial das rotas da aquisição através da observação da distribui ção das linhas, é sabido que não se encaixam no padrão para se obter um mapa batimétrico ideal. Não há, na grande maioria da área sobreposição das extremidades das varreduras para recobrimento lateral na área Norte e, na área Sul foi feita apenas uma linha. Figura 20. Perfis Batimétricos para Pockmark 1, com exagero vertical de 5x, e ilustração do efeito de um fluxo incidindo sobre suas paredes. Da mesma forma, supõe-se que o levantamento das variações de maré e réplica das SVPs poderiam contribuir para o melhoramento das condições dos dados brutos. Pelo tratamento inicial dos spikes, observou-se que tem-se uma grande quantidade de dados espúrios localizados a muitas dezenas de metros acima e abaixo da tendência de profundidade local, indicando reflexões de sinal ou correções ruins de atitude, os quais foram parcialmente eliminados no tratamento manual. A indisponibilidadede alguns offsets e as condições ruins de mar provavelmente contribuíram para esses resultados. No mais, a batimetria final gerada foi satisfatória para mapear, localizar as morfofeições e compreender padrões de profundidade, mas não colaborou para o detalhamento das irregularidades do fundo, já que a superfície gerada apresenta irregula ridades devido aos problemas acima elencados. Os resultados dos erros não puderam ser totalmente corrigidos com o processamento nem confecção dos grids, mas foram melhorados consideravelmente. 7. Conclusões O estudo foi feito a partir de levantamento batimétrico multifeixe de um primeiro registro realizado pelo equipamento RESON em campanha de aquisição de dados voltados à sísmica da geofísica marinha, portanto não seguiu algumas da exigências comuns ao levantamento hidrográfico. Apesar dos empecilhos e dos dados brutos não terem qualidade desejável, os mapas conseguidos após todo o tratamento permitem identificação visual e parametrização das feições. Esta metodologia se mostrou efetiva para a realização de trabalhos de mapeamento de superfície de fundo. Os ambientes encontrados no talude da margem continental sul brasileira são morfologicamente distintos, sendo que não foram encontradas morfofeições comuns entre os dois setores estudados. A morfofeição principal da Bacia de Pelotas é uma formação recifa l de mais de 7 km², composta por duas cristas e um monte. Ela possui orientação norte-sul e, registros amostrais pontuais feitos anteriormente, no mesmo setor, podem indicar que seja um recife de coral de mar profundo com pelo menos 3 spp de azooxantelados escleractínios, formadores de grandes colônias. Este é possivelmente o primeiro registro contínuo de recifes de coral dessas proporções nos setores profundos da margem continental brasileira. A possibilidade de manutenção e crescimento deste coral podem estar relacionados à atuação da CB e CCI. Ambas causariam distúrbios benéficos que trariam material em suspensão para alimentar os organismos e, com seu fluxo, facilitariam a reprodução e, portanto o crescimento do recife em direção ao sul. A corrente também seria relacionada com desgaste dos altos superficiais. Pode responder também a processos erosivos como o escavamento de canal próximo a parede da maior crista do coral. Vale ressaltar que a aquisição limitou o registro da formação na latitude 6671000 UTM 23S, então sugere-se haver continuação deste coral para além desse limite sul. Na Bacia de Santos, as morfofeições principais foram os pockmarks. Em uma determinada parte da área de estudo, estas feições totalizaram 39 ocorr ências, com uma densidade de 0,36 pockmarks/km². A área de pockmarks não é passível de análise qualitativa de alinhamento ou tendência de distribuição, mas sim de padrões de tamanho e densidade que por sua vez podem indicar que a presença dessas feições pode se estender além dos limites da presente área, dada a presença de um extenso campo na mesma Bacia. Este conjunto de padrões sugere ainda que a subsuperfície apresente diápiros salinos, hidrocarbonetos e falhas extensionais que originaram os pockmarks na superfície de fundo. Tais ocorrências são relacionadas em estudos anteriores em várias bacias mundiais, incluindo a Bacia de Santos. As análises de elipticidade e de inclinação dos flancos mostraram o predomínio de pockmarks circulares e que é parecida a quantidade de formas simétricas e assimétricas destas feições. Mas a análise de um grande pockmark assimétrico, em especial, localizado no extremo nordeste do mapa, poderia indicar um sentido de fluxo preferencial NO, diferente do sentido de orientação das correntes conhecidas para a área. Caso esta orientação seja mesmo relacionada com hidrodinâmica local, fatores como meandramentos e anomalias de fluxo podem ajudar a esta ocorrência. Outros pockmarks apresentaram esta mesma característica e podem ser interpretados da mesma forma, possivelmente apontando para irregularidades do fluxo em toda a área. Avanços da exploração de ambientes profundos, além da importância em se entender e preservar ecossistemas, demandam conhecimento adicional à cerca dessas áreas. Assim sendo, pesquisas para avaliar suposições como as aqui feitas e, principalmente melhor compreender os processos oceanográficos integrados das regiões de águas profundas são importantes e devem ser fomentadas. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Neto JAB, Ponzi VRA, Sichel SE. 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