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A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma limitação do fluxo aéreo das vias aéreas inferiores, não reversível, provocada por uma resposta inflamatória a toxinas inalatórias, principalmente a fumaça de cigarro, no entanto diversas outras toxinas também podem desencadear esse processo. O processo inflamatório crônico pode provocar alterações nos brônquios (bronquite crônica), bronquíolos (bronquiolite obstrutiva) e parênquima pulmonar (enfisema pulmonar). Trata-se de uma doença altamente prevalente, apesar de ainda ser subdiagnosticada e subestimada. É atualmente a quarta maior causa de morte no mundo, sendo a sexta no Brasil, determinando importante impacto socioeconômico. Dados nacionais a identificam como a quinta maior causa de internação no sistema público de saúde. A incidência da doença é maior em homens que em mulheres e aumenta acentuadamente com a idade. As diferenças em relação a sexo possivelmente se relacionam à maior prevalência do tabagismo e à maior exposição ocupacional dos homens. Com o aumento do tabagismo entre as mulheres, esses dados tendem a se modificar futuramente. Etiologia e fisiopatologia. Usualmente, a doença decorre da interação de fatores ambientais e do hospedeiro (Tabela I). Os fatores do hospedeiro que favorecem o desenvolvimento de DPOC são alterações genéticas, cuja principal representante é a deficiência de alfa-1 antitripsina, presença de hiper-responsividade brônquica, desnutrição, prematuridade e redução do crescimento pulmonar durante a gestação e a infância. O tabagismo é o principal fator de risco ambiental. Está relacionado a qualquer tipo de fumo, e o risco é maior com o aumento progressivo do consumo. Entretanto, entre diferentes tabagistas com a mesma carga de consumo, apenas alguns irão desenvolver a doença, o que sugere que a carga e os fatores genéticos relacionados modificam o risco. Outros fatores ambientais de risco são a exposição à poeira ocupacional (indústrias de borracha, plásticos, couro, têxtil, moagem de grãos e produtos alimentícios, entre outros segmentos de produção), a irritantes químicos e à poluição extra e intradomiciliar (aquecedores e fogão de lenha), além da ocorrência de infecções respiratórias graves na infância. Na DPOC, ocorre inflamação crônica das vias aéreas centrais e periféricas, das parênquima e dos vasos pulmonares em resposta à inalação de partículas e gases nocivos, com acúmulo, principalmente, de macrófagos, neutrófilos e linfócitos T (principalmente CD8). Essas células inflamatórias, quando ativadas, liberam vários mediadores (leucotrieno B4, interleucina 8, fator de necrose tumoral alfa, entre outros), que são capazes de lesar estruturas pulmonares e manter a inflamação neutrofílica, levando a um cíclico processo de destruição e reparação. Outros processos importantes na fisiopatologia da doença são o desbalanço entre proteinases e antiproteinases nos pulmões (com predomínio das primeiras) e o estresse oxidativo. A Figura resume os mecanismos inflamatórios descritos. Nas vias aéreas centrais, ocorre infiltração de células inflamatórias no epitélio, hipertrofia e hiperplasia de glândulas mucosas, com hipersecreção de muco, e redução do número de cílios. Nas vias aéreas periféricas (menores que 2 mm de diâmetro), ocorrem ciclos repetidos de lesão e reparo de suas paredes, promovendo remodelamento estrutural, por meio de deposição de colágeno e formação de tecido cicatricial, além de aumento da musculatura lisa, o que reduz o lúmen, levando à obstrução fixa. O principal mecanismo para a destruição do parênquima pulmonar, geralmente envolvendo inicialmente as regiões superiores e, com o avançar da doença, todo o pulmão, inclusive com destruição do leito capilar pulmonar, é o desbalanço entre proteinases e antiproteinases (desencadeado por fatores genéticos ou por ação de células e mediadores inflamatórios). Estresse oxidativo também é um fator contributivo. Na vasculatura pulmonar, ocorre espessamento da íntima, seguido por hipertrofia da musculatura lisa e infiltração de células inflamatórias e colágeno na parede dos vasos, o que ocorre precocemente na história natural da doença. Resumidamente, os componentes que, em graus variáveis, concorrem para a determinação da obstrução ao fluxo aéreo na DPOC são: espessamento da parede brônquica, fibrose peribronquiolar, aumento da quantidade de muco intraluminal, alterações das pequenas vias aéreas, perda da retração elástica pulmonar e perda dos pontos de fixação das vias aéreas terminais aos alvéolos. As alterações descritas determinam hipersecreção de muco e disfunção ciliar, o que provoca a tosse e a expectoração crônica. A limitação ao fluxo aéreo, mais bem avaliada pela espirometria, é um ponto fundamental no diagnóstico da doença; essa limitação ocorre por obstrução fixa, com aumento da resistência nas vias aéreas. Em quadros mais avançados, ocorre redução da capacidade pulmonar para trocas gasosas, o que produz hipoxemia e, posteriormente, hipercapnia, por causa da obstrução das vias aéreas periféricas, da destruição do parênquima e das alterações vasculares. Hipertensão pulmonar, que é a principal complicação cardiovascular da doença, e cor pulmonale, em geral, se desenvolvem tardiamente e pioram o prognóstico. Para entender um pouco mais… Para compreender a fisiopatologia da doença, devemos antes descrever seus achados patológicos. A maioria dos pacientes com DPOC apresenta dois importantes e distintos componentes da doença, que estão relacionados ao tabagismo: Bronquite Obstrutiva Crônica; Enfisema Pulmonar. • Bronquite Obstrutiva Crônica: as alterações patológicas principais são: (1) hipertrofia e hiperplasia das glândulas submucosas secretoras de muco associadas a um aumento no número de células caliciformes da mucosa (daí o estado hipersecretor), presentes principalmente nas vias aéreas proximais; (2) redução do lúmen das vias aéreas distais devido ao espessamento da parede brônquica por edema e fibrose (bronquiolite obliterante). • Enfisema Pulmonar: alargamento dos espaços aéreos distais aos bronquíolos, decorrente da destruição progressiva dos septos alveolares. A manutenção das vias aéreas abertas durante a respiração depende da pressão gerada pelo fluxo de ar que, por sua vez, é dependente das forças ins e expiratórias. Na inspiração geralmente não ocorre limitação, pois a força geradora de fluxo provém da musculatura respiratória, mas o que acontece na expiração? A força expiratória depende em grande parte da elasticidade pulmonar, que se encontra reduzida na DPOC, e a resistência das vias aéreas distais está aumentada pela redução do seu lúmen, o que é gerado por dois fatores: (1) diminuição do tecido elástico na parede dos alvéolos (enfisema); e (2) edema e fibrose na parede dos pequenos brônquios (bronquiolite). Esses fatores, somados a uma pressão intratorácica progressivamente positiva, levando ao aprisionamento de ar (air trapping), que promove um aumento característico do volume ar residual e como consequência o pulmão desses pacientes está cronicamente hiperinsuflado, o que pode ser notado na radiografia de tórax – ou até mesmo no exame físico que pode aumentar o trabalho da musculatura respiratória na inspiração; (2) altera a mecânica do diafragma, que apresenta tendência à retificação, tornando improdutiva a sua contração para puxar o ar O indivíduo passa a utilizar a musculatura acessória (esternocleidomastoideo, intercostais, abdominais), desenvolvendo cronicamente certo grau de “esforço” para respirar. A troca gasosa está comprometida tanto pela lesão enfisematosa quanto pela lesão brônquica e como consequência da fisiopatologia acabam surgindo de alvéolos mal ventilados, porém, bem perfundidos. Nesses alvéolos, o sangue venoso passa recebendo pouco O2 (shunt parcial). Se o número de alvéolos com shunt parcial for grande, a misturade sangue mal oxigenado produzirá hipoxemia e dessaturação da hemoglobina. Inicialmente, a hipoxemia ocorre apenas no exercício físico e com a progressão da doença, a hipoxemia pode ocorrer em repouso. Além disso, a eliminação de CO2 também pode estar comprometida, ocorrendo mais tardiamente. Estes pacientes começam a reter CO2 de forma lenta e progressiva (acidose respiratória crônica), estimulando o rim a reter mais bicarbonato e, assim, compensar a acidose respiratória crônica. A gasometria do retentor crônico de CO2 apresenta altos níveis de PCO2, com bicarbonato e Base Excess (BE) elevados, e geralmente uma discreta acidemia. Quadro clínico. História e exame físico têm pouca capacidade de predizer as alterações obstrutivas evidenciadas em exames de função pulmonar, uma vez que as manifestações clínicas geralmente acontecem quando a função já está bastante comprometida (volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) abaixo de 50%). Além da exposição aos fatores de risco descritos, um paciente típico de DPOC apresenta inicialmente tosse e expectoração crônicas, que frequentemente precedem em muitos anos o desenvolvimento de limitação ao fluxo aéreo. A tosse ocorre primeiramente de modo intermitente e a seguir passa a acontecer durante todo o dia. Posteriormente, o indivíduo desenvolve dispneia, que é o sintoma que, na maioria das vezes, o leva a procurar atendimento médico. A dispneia acontece progressivamente aos esforços e até durante o repouso, de modo persistente, determinando limitação funcional, piora da qualidade de vida e do prognóstico. Uma das formas para classificar a dispneia é a escala do Medical Research Council (MRC), que também tem implicações prognósticas: 0 – Dispneia apenas para exercícios extenuantes; 1 – Dispneia quando apressa o passo ou para subir escadas ou ladeiras; 2 – Anda mais lentamente que pessoas da mesma faixa etária ou precisa parar quando anda no próprio passo; 3 – Precisa parar quando caminha 100 metros no plano ou após poucos minutos no plano; 4 – Dispneia para vestir-se ou tomar banho sozinho ou tem dispneia que o impede de sair de casa. Sibilância e sensação de opressão torácica também são sintomas possíveis. Emagrecimento e redução do apetite podem ocorrer em fases mais avançadas. O exame físico, na maioria dos casos, apresenta-se normal ou pouco alterado. Os achados de tórax enfisematoso (com aumento do diâmetro ântero-posterior- tórax em barril), redução da mobilidade pulmonar, hipersonoridade à percussão, frêmito toracovocal e murmúrio vesicular diminuídos difusamente são encontrados geralmente quando a função pulmonar já está bastante comprometida. Taquipnéia, respiração com lábios semicerrados e utilização de musculatura acessória são evidenciadas tardiamente. Podem-se observar expiração prolongada e estertores finos durante toda a inspiração. As bulhas cardíacas são normo ou hipofonéticas. Com a progressão da doença, desenvolve-se cor pulmonale, com identificação de turgência jugular, hepatomegalia e edema de membros inferiores, além de segunda bulha cardíaca em foco pulmonar hiperfonética, sugestiva de hipertensão pulmonar. Existem dois estereótipos dos pacientes com DPOC: • Pink Puffers: Corresponde aos pacientes enfisematosos. São magros, apresentam pletora e tórax em tonel. A dispneia é tipo expiratória e a ausculta pulmonar revela diminuição dos murmúrios vesiculares. HISTÓRIA CLÍNICA EXAME CLÍNICO • Blue Bloaters: Corresponde aos pacientes com bronquite. Apresentam hipoxemia grave (cianose) associada ao cor pulmonale, que leva a insuficiência ventricular direita e edema. A ausculta pulmonar é rica em ruídos adventícios Na maioria das vezes, os pacientes não se apresentam como um “Pink Puffer” ou “Blue Bloater” estereotípico, mas sim com uma combinação das duas apresentações típicas da doença. Diagnóstico. O diagnóstico é baseado em uma história de exposição aos fatores de risco associados à presença de limitação ao fluxo aéreo que não é totalmente reversível, com ou sem sintomas. Nesse contexto, a espirometria é fundamental, devendo ser realizada preferencialmente na fase estável da doença, em que a relação VEF1/CVF menor que 70% após broncodilatação confirma a presença de limitação ao fluxo aéreo. O VEF1 após broncodilatação, quando analisado isoladamente, é utilizado na determinação do estágio da doença. Além disso, a velocidade de redução anual dessa variável é o marcador prognóstico mais fidedigno nesses pacientes. Além do VEF1, o estado nutricional, a intensidade da dispneia (escala do MRC) e a capacidade de realização de atividades físicas também têm relação com o prognóstico e com o risco de óbito por qualquer causa e por causas respiratórias. Pelas implicações terapêuticas e prognósticas, a espirometria é muito importante na classificação da doença. O teste de reversibilidade ao broncodilatador pode ser positivo na DPOC, mas a resposta negativa ao teste não prediz ausência de resposta ao tratamento a ser instituído. A gasometria arterial está indicada em todo indivíduo que apresentar, em ar ambiente, saturação periférica de oxigênio menor que 90% à oximetria de pulso. A gasometria deve ser realizada periodicamente e sempre que houver exacerbação. Achados comuns na gasometria de pacientes com DPOC, são hipoxemia e hipercapnia, que podem apresentar graus variados a depender da gravidade do quadro. Acidose respiratória crônica é comum em virtude do aumento da pressão de CO2, e pode ser acompanhada de uma alcalose metabólica compensatória. Em casos graves, de pacientes com DPOC em vigência de exacerbação causada por infecção, pode ser detectada acidemia grave, em virtude da combinação de acidose metabólica (que pode ser causada por quadros de sepse) e acidose respiratória (causada pelo quadro de base da DPOC). A radiografia de tórax raramente é diagnóstica, mas está indicada de rotina, principalmente para afastar a presença de neoplasia pulmonar. De maneira semelhante ao exame físico, os achados sugestivos da DPOC só ocorrem na doença avançada. Nessa fase, evidenciam-se hipertransparência dos campos pulmonares, pobreza da trama broncovascular que se acentua do hilo para a periferia, rebaixamento e retificação dos hemidiafragmas, alargamento dos espaços intercostais e silhueta cardíaca menor e verticalizada (Figura 3A). Em perfil, mais dados são fornecidos quanto à posição do diafragma. Observa-se aumento do espaço aéreo retroesternal (maior que 2,5 cm) e do diâmetro ântero-posterior do tórax (Figura 3B). Outra alteração é a pouca modificação da posição do diafragma quando se comparam as radiografias em inspiração e em expiração. A tomografia computadorizada de tórax está indicada nas situações de dúvida diagnóstica ou quando um procedimento cirúrgico, como cirurgia redutora de volume ou bulectomia, estiver sendo programado (Figura 4). Além disso, a tomografia de tórax apresenta maior sensibilidade e especificidade para identificação da Atenção! Avaliação espirométrica: A espirometria com obtenção da curva expiratória volume-tempo é obrigatória na suspeita clínica de DPOC, devendo ser realizada antes e após administração de broncodilatador, de preferência em fase estável da doença. Os parâmetros mais importantes avaliados são a capacidade vital forçada (CVF), o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e a relação entre esses parâmetros (VEF1∕CVF). A limitação permanente ao fluxo aéreo é definida quando esta relação é <0,70 pós broncodilatador. Essa limitação permanente é necessária para estabelecer o diagnóstico de DPOC! DPOC, principalmente nos pacientes enfisematosos. No entanto, não é um exame indicado para tentar estabelecer o diagnóstico da DPOC, ao invés disso, é muito útil na avaliação de complicações como bolhas, infecções respiratórias que causam exacerbações, bronquiectasiase avaliação de nódulos pulmonares (que são prevalentes na população de pacientes com DPOC) para investigação de câncer de pulmão. A dosagem de alfa-1 antitripsina está recomendada nos casos de enfisema pulmonar diagnosticado antes dos 45 anos de idade, quando não houver fator de risco conhecido para DPOC, quando o enfisema predominar em região basal, associado ou não a bronquiectasias, ou se houver história familiar da doença. As determinações da capacidade pulmonar total (CPT), da capacidade residual funcional (CRF), do volume residual (VR) e da capacidade de difusão do monóxido de carbono (DLCO) permitem uma melhor avaliação dos pacientes com DPOC, sendo possível constatar aumento da CPT, do VR e da CRF e redução da DLCO. São importantes especialmente na avaliação pré-operatória e se houver dúvida diagnóstica. O eletrocardiograma e o ecocardiograma estão indicados nos casos em que houver suspeita de hipertensão pulmonar, que é a principal complicação cardiovascular da doença, e cor pulmonale, que, em geral, se desenvolvem tardiamente e pioram o prognóstico. Durante o acompanhamento, espirometria com teste de broncodilatação, radiografia de tórax e gasometria arterial (na indicação citada e para os que estão em uso contínuo de suplementação de oxigênio) são realizadas anualmente. Tratamento. Manejo da DPOC estável A estratégia para manejo da DPOC estável é baseada em uma avaliação individualizada da gravidade da doença e na resposta aos vários tratamentos (Tabela IV). Recomenda-se aumento progressivo da utilização das modalidades disponíveis, de acordo com a gravidade, que está relacionada à intensidade dos sintomas e da limitação ao fluxo aéreo, à frequência e gravidade das exacerbações, às complicações, à presença de insuficiência respiratória e de doenças associadas e ao estado geral do paciente11. O tratamento depende também do nível educacional do paciente, das condições socioculturais, da aderência ao esquema recomendado e da disponibilidade dos medicamentos. Geralmente, não é possível a redução da terapêutica após atingido o controle da doença. Os principais objetivos do tratamento são evitar a progressão da doença, promover o alívio dos sintomas, aumentar a tolerância ao exercício, evitar e tratar complicações e exacerbações, e reduzir mortalidade. Reduzir exposição ao tabagismo (ativo e/ou passivo) é a medida mais efetiva para reduzir o risco de DPOC, sua progressão e o número de exacerbações. Trata-se da única medida capaz de reduzir o declínio funcional acelerado da DPOC (em tabagistas, o ritmo de redução de VEF1 é de 60 mL, enquanto em ex-tabagistas é de 30 mL ao ano). Além disso, é fundamental evitar exposição às substâncias ocupacionais e químicas potencialmente relacionadas e a poluentes intra e extradomiciliares. Indagar sobre o hábito de fumar em todas as consultas, encorajando sua suspensão. Além disso, existem possibilidades para auxílio na cessação do hábito, como terapia cognitivo-comportamental individualizada ou em grupo e tratamento farmacológico, principalmente por meio de reposição de nicotina (adesivo transdérmico e/ou goma de mascar), da utilização de antidepressivos (bupropiona ou nortriptilina) e de vareniclina (agonista parcial do receptor nicotínico de acetilcolina). Nenhuma das medicações atualmente disponíveis é capaz de modificar o declínio da função pulmonar e a mortalidade, no entanto elas podem reduzir os sintomas, as exacerbações e as complicações, além de permitir maior tolerância às atividades físicas. Os broncodilatadores têm papel central no alívio sintomático e devem ser administrados preferencialmente por via inalatória, conforme a necessidade, ou de modo regular. Essa via determina ação direta nas vias aéreas e menor freqüência de efeitos adversos, porém maior atenção deve ser dispensada na técnica para administração do fármaco. Os mais utilizados são os agonistas beta-adrenérgicos e os anticolinérgicos, isolados ou associados; a escolha deve basear-se na disponibilidade e na resposta individual no que se refere ao alívio de sintomas e efeitos adversos. Inicialmente, utiliza-se um agonista beta-adrenérgico ou um anticolinérgico. A combinação dos dois está indicada nos casos em que não houver resposta a um deles isoladamente. A REDUÇÃO DOS FATORES DE RISCO BRONCODILATADORES combinação de agentes de longa duração com modo de ação diferente tem efeito aditivo na melhora da função pulmonar. Aqueles de curta duração atuam na redução dos sintomas, enquanto os de longa duração são mais efetivos e convenientes, reduzindo o número de exacerbações, melhorando a qualidade de vida e a tolerância aos exercícios, porém são mais caros. Os principais agonistas beta-adrenérgicos são: fenoterol e salbutamol (curta ação), e formoterol e salmeterol (longa ação). Os principais anticolinérgicos são: brometo de ipratrópio (curta ação) e brometo de tiotrópio (longa ação). As metilxantinas (aminofilina, teofilina e bamifilina) são utilizadas como terceira opção, após ausência de resposta à combinação de agonista beta-adrenérgico e anticolinérgico, pois têm efeito brondilatador inferior e maior potencial de toxicidade. É importante monitorizar seu nível sérico e a ocorrência de efeitos adversos. Esses corticosteroides estão indicados para os portadores de DPOC com VEF1 inferior a 50% do normal previsto após broncodilatação, associado a duas ou mais exacerbações com necessidade de antibiótico ou corticosteroide oral no último ano. Promovem redução do número de exacerbações, porém sem alteração na mortalidade e no declínio funcional. Como a principal causa de exacerbações de DPOC é de natureza infecciosa, a prevenção por meio de imunização é recomendável nesses pacientes, independentemente da faixa etária. Nesse contexto, estão indicadas a vacinação anti-influenza (anualmente, no outono) e a antipneumocócica. Pacientes em todos os estágios da DPOC se beneficiam em algum grau de reabilitação pulmonar, principalmente a partir do estágio moderado. Essa reabilitação proporciona redução do número de exacerbações, de hospitalizações e de dias de internamento, melhora a sensação de dispneia, a qualidade de vida e a capacidade de realizar exercícios. O tempo mínimo para reabilitação é de oito semanas, porém os benefícios tendem a ser reduzidos progressivamente nos dezoito meses seguintes após sua interrupção. O ideal é que todos os doentes sejam encaminhados para um programa de reabilitação pulmonar. Entretanto, por causa da escassez de serviços especializados, é imprescindível que o doente seja estimulado a manter atividade física compatível com a gravidade de sua doença. A administração de oxigênio em longo prazo, por mais de quinze horas por dia, incluindo as doze horas noturnas, aumenta a sobrevida de pacientes com insuficiência respiratória crônica, além de melhorar a capacidade de realização de exercícios e de evitar a progressão da hipertensão pulmonar. Além disso, a associação de broncodilatadores ao oxigênio antes de exercícios físicos promove melhora ainda maior na capacidade de realizá-los, quando comparado à utilização dessas modalidades isoladamente, conforme evidenciado em estudo baseado no teste de caminhada de seis minutos. Entretanto, os usuários crônicos de oxigênio apresentam pior pontuação em questionários de qualidade de vida e em índice de avaliação de dispneia, CORTICOSTERÓIDES INALATÓRIOS VACINAÇÃO REABILITAÇÃO PULMONAR OXIGENOTERAPIA quando comparados a indivíduos com classificação funcional semelhante, porém não dependentes desse tratamento. As indicações para oxigenoterapia são: ■ PaO2 ! 55 mmHg ou SaO2 ! 88%, com ou sem hipercapnia. ■ PaO2 > 55 mmHg e < 60 mmHg ou SaO2 > 88 e < 90%, se houver evidência de hipertensão pulmonar, edema periférico sugestivo de cor pulmonale e/ou policitemia (hematócrito acima de 55%) A decisãosobre o uso de oxigênio deve considerar o valor da pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) ou a saturação arterial de oxigênio (SaO2) com o indivíduo acordado e em repouso. A titulação dos fluxos é feita com o oxímetro de pulso durante repouso, exercício e sono, até que seja obtida a saturação de pulso da oxiemoglobina (SpO2) maior ou igual a 90%1,2,11. O período de oxigenoterapia domiciliar inclui as doze horas noturnas. Recomenda-se a adição de 1 L/min de oxigênio durante a noite, em relação à prescrição durante o dia, e aumento do fluxo de oxigênio aos esforços em doentes que já o utilizam em repouso e sua administração naqueles que só reduzem a saturação durante as atividades físicas, de acordo com necessidades específicas. Durante viagens aéreas, aumentar o fluxo em 1 a 2 L/min em relação ao repouso. Quando o oxigênio é prescrito logo após uma exacerbação, reavaliar sua indicação, após um período de trinta a noventa dias, por meio de gasometria arterial. A prescrição inclui a fonte de oxigênio suplementar (gás ou líquido), o sistema de liberação (cilindros, concentradores ou oxigênio líquido), a duração e o fluxo ao repouso e durante exercício e sono. Os altos custos, a pouca disponibilidade e a dificuldade de aceitação do método pelos doentes são alguns dos fatores que limitam sua utilização. Cirurgia redutora de volume pulmonar Essa cirurgia está indicada aos portadores de enfisema predominante em lobos superiores, principalmente naqueles que apresentam baixa capacidade de exercício após programa de reabilitação pulmonar. Um estudo constatou que nesse grupo houve maior sobrevida, maior capacidade para realização de exercícios físicos e melhor qualidade de vida após cinco anos, quando comparado ao grupo submetido a tratamento clínico. Bulectomia Em doentes cuidadosamente selecionadas, a bulectomia permite a redução da dispneia e a melhora da função pulmonar pela reexpansão de uma região pulmonar comprimida pela presença de bolha. Transplante pulmonar O transplante pulmonar está indicado nos casos de VEF1 abaixo de 25% do normal previsto após broncodilatação, PaO2 abaixo de 60 mmHg, PaCO2 abaixo de 50 mmHg e hipertensão pulmonar secundária, sem outras opções clínicas ou cirúrgicas, sem outras doenças associadas, com menos de 65 anos de idade, com boa condição psicossocial e familiar e boa motivação para viver. Tratamento do cor pulmonale crônico e da hipertensão pulmonar A medida mais eficaz é a oxigenoterapia. Diuréticos são utilizados na presença de edema, tomando-se o cuidado para não reduzir o débito cardíaco e a perfusão renal, e para não aumentar a viscosidade sanguínea. Em geral, digitálicos e vasodilatadores não são eficazes. Flebotomia é realizada quando o hematócrito for maior que 55% e cor pulmonale não for controlado com outras medidas. Manejo das exacerbações. Exacerbações consistem na piora sustentada da condição clínica do paciente (dispneia, tosse e/ou expectoração), quando comparada ao período estável. Essa piora não está relacionada à variação diária que o paciente apresenta, de início agudo, determinando necessidade de mudança na medicação habitual, com aumento considerável do custo socioeconômico. São mais frequentes nos indivíduos mais graves e naqueles com maior número de exacerbações prévias e geralmente provocam piora transitória da função pulmonar, sendo necessárias várias semanas para recuperação. Essas exacerbações estão associadas a aumento da inflamação nas vias aéreas, e as causas mais frequentes são infecção respiratória, em geral restrita à mucosa brônquica, e poluição do ar. Pneumonia, insuficiência cardíaca, pneumotórax, derrame pleural, embolia pulmonar, arritmia cardíaca, infarto agudo do miocárdio e uso de sedativos são outras causas possíveis para piora aguda dos portadores de DPOC, mas não caracterizam exacerbação. Essas causas devem ser investigadas e tratadas de maneira individualizada. Na maioria das vezes, a infecção não apresenta febre, leucocitose ou alterações radiológicas, que não são imprescindíveis para o início da antibioticoterapia. Sua principal característica é uma alteração no aspecto e/ou na quantidade de expectoração, que pode se tornar purulenta, associada ao aumento da dispneia. Entre as causas infecciosas, as bactérias representam dois terços e os vírus um terço dos casos. Os principais agentes TRATAMENTO CIRÚRGICO bacterianos são Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae e Moraxella catarrhalis. A gravidade da DPOC é um dado que sugere a possível causa, de modo que indivíduos com VEF1 abaixo de 50% do normal previsto têm maior chance de sofrer infecção por Haemophilus influenzae ou Pseudomonas aeruginosa. Cultura do escarro e antibiograma só estão indicados quando não houver resposta completa ao tratamento instituído. Entre os vírus, os mais frequentes são rinovírus, influenza, sincicial respiratório e adenovírus. Os principais objetivos no tratamento da exacerbação são: ■ Melhorar a oxigenação, com o objetivo de manter saturação de pulso da oxiemoglobina entre 90 e 92%. ■ Reduzir resistência das vias aéreas mediante o uso de broncodilatadores, corticosteróides sistêmicos e fisioterapia respiratória. ■ Nutrição adequada. Broncodilatadores inalatórios Aumenta-se a dose e/ou a frequência do agonista beta-adrenérgico e/ou anticolinérgico de curta duração. Corticosteroides sistêmicos Prednisona na dose de 40 mg (ou equivalente) por um período de sete a dez dias. Antibióticos Os antibióticos estão indicados quando houver piora da dispneia e a expectoração aumentar de volume e se tornar purulenta. O tratamento recomendado está descrito na Tabela V. As indicações para tratamento hospitalar estão descritas no Quadro I e para admissão imediata em unidade de terapia intensiva (UTI) no Quadro II. TRATAMENTO DOMICILIAR DAS EXACERBAÇÕES TRATAMENTO HOSPITALAR DAS EXARCEBAÇÕES Oxigenoterapia Adota-se a oxigenoterapia para manter saturação de pulso da oxiemoglobina entre 90 e 92% e PaO2 entre 60 e 65 mmHg, sem retenção de CO2 ou acidose. Broncodilatadores inalatórios O esquema mais adequado é a utilização de agonista beta-adrenérgico inalatório de curta duração, inicialmente de 20 em 20 minutos até três doses na primeira hora, e em seguida de 4 em 4 horas, associado ao brometo de ipratrópio a cada 4 horas, até estabilização. Em quadros mais graves, considerar a associação de metilxantina oral ou endovenosa, controlando seu nível sérico e a ocorrência de efeitos adversos. Corticosteróides sistêmicos Hidrocortisona ou metilprednisolona endovenosa por até 72 horas, seguida de prednisona (ou equivalente) por via oral, em um período de dez a quatorze dias. Antibióticos As recomendações para utilização dos antibióticos em ambiente hospitalar seguem aquelas descritas para o tratamento domiciliar. Ventilação mecânica não-invasiva com pressão positiva (VNIPP) As indicações para VNIPP estão descritas no Quadro III. A VNIPP reduz a necessidade de intubação orotraqueal, o tempo de permanência em UTI, a ocorrência de pneumonia associada à ventilação mecânica e a mortalidade. É uma boa opção como modo de desmame e nos doentes em que houve falha no teste de respiração espontânea. Ventilação mecânica invasiva As indicações para esse tipo de ventilação estão descritas no Quadro IV. Fisioterapia respiratória Esse tipo de fisioterapia é indicada nos doentes com atelectasia lobar e/ou com eliminação de escarro superior a 25 mL por dia. Deve ser realizada por meio de percussão torácica manual ou mecânica, drenagem postural e métodos para estimular tosse. Suporte clínico geral Recomendam-se reposição volêmica; nutrição adequada; heparinização profilática, principalmente em doentes imobilizados, policitêmicos ou desidratados; e outras medidas, conformea necessidade. PRINCIPAL REFERÊNCIA: FMUSP. Clínica médica: doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, emergências e terapia intensiva. v.2. Manole, 2016. ATENÇÃO! Para a confecção desse material foram usados livros, artigos científicos, conteúdos de aulas e palestras da faculdade UNIME de medicina. Além de conteúdos de aulas e material didático de outras plataformas de ensino. Foi utilizado também materiais confeccionados por outros colegas, portanto, não é um conteúdo autoral. Ou seja, o conteúdo contido no resumo não é de criação minha, eu apenas compilei o material da melhor forma para estudo.
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