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708 10.8. APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DE PLACA DE MDF PARA CONFECÇÃO DE MOBILIÁRIOS LUNA, Maria Luiza Freitas Diniz Grupo de Inovação e Sustentabilidade da Universidade Ceuma Ceuma maryluh-luh@hotmail.com LEMOS, Bruna Letícia da Silva Ceuma brunaleticia21@hotmail.com GUILHON, David Ceuma david.guilhon@ceuma.br BEZERRA, Helton de Jesus Costa Leite Ceuma helton.costa@ceuma.br RESUMO Este artigo busca desenvolver novos painéis de mobiliário a partir do reaproveitamento de resíduos de MDF (medium density fiberboard) oriundos de indústrias moveleiras da Ilha de Upaon-Açu, Maranhão, Brasil. Afim de otimizar este reaproveitamento, verificou-se a necessidade de uso de um método racional e, por conta disso, elegeu-se a Sequência de Fibonacci, que viabiliza o corte das peças em uma Série Modular. Os resíduos coletados nessas indústrias na forma de placas de MDF foram catalogados e transformados para tamanhos adequados, aplicando uma Série Modular que possui as seguintes dimensões: 5, 10, 15, 25 e 40 cm nas suas larguras e/ou comprimentos. Após essa etapa, foram propostos processos produtivos utilizando-se do método de colagem para a confecção de placas para revestimentos no tamanho 30 x 40 cm para composição de projetos de interiores em diversos ambientes. Esta pesquisa possui o intuito de viabilizar o reaproveitamento destes resíduos por parte das indústrias moveleiras de diferentes partes do mundo, uma vez que estes são sempre idênticos, de modo a fornecer possibilidades para o seu tratamento e reuso, como matéria-prima para novos processos e produtos para este mesmo setor industrial, agregando retorno financeiro e um melhor equilíbrio para o nosso ambiente. PALAVRAS-CHAVE: Coordenação Modular, Sequência de Fibonacci, Ecodesign. 709 INTRODUÇÃO O presente projeto visa o reaproveitamento do excedente de placas de MDF das empresas moveleiras na Ilha de Upaon-Açu. Constatou-se que para otimizar seu reaproveitamento seria necessário a utilização de um método racional. Deste modo, observou-se que a Sequência de Fibonacci seria a que melhor atenderia à este propósito onde, de acordo com a Proporção Áurea, tem-se: 1, 1 (1+1) 2, (2+1) 3, (3+2) 5, (5+3) 8, (8+5) 13, (13+8) 21… continuando, assim, em uma Sequência Infinita. ...Como todo processo produtivo gera resíduos, a melhor solução seria utilizar este resíduo, proveniente da produção de um móvel, por exemplo, para produzir outro móvel ou parte dele, com qualidade semelhante ou melhor do que a original. Esta perspectiva é chamada de cradle to cradle (do inglês: berço ao berço), no qual os resíduos não são destinados, mas servem de matéria- prima para um novo produto (WILDNER, p.25, 2015). Diante disto, faz-se necessária a fundamentação teórica da temática, onde se constatou que além da interdisciplinaridade entre a Arquitetura e áreas afins, há também a contemporaneidade existente em alguns elementos que provém desde o Antigo Egito até o ano de 1945, com Le Corbusier, tendo em vista as necessidades da sociedade moderna, buscando, também, elucidar questões ligadas ao uso da Modulação, Coordenação Modular e Série de Fibonacci ao longo da história até períodos contemporâneos, destacando seus usos e aplicações e, também, onde e quando se deu seu descobrimento. Além disso, o referido estudo propõe processos produtivos para o desenvolvimento de placas de revestimentos a partir dos resíduos de MDF para composição de projetos de interiores em diversos ambientes. Para Amaral apud Amancio (2015), ...diante dos desafios de um século que mergulhou numa devastadora crise ambiental faz-se de tudo para que novas alternativas capazes de minimizar os problemas ambientais, causados pelo desenvolvimento de hábitos e padrões de vida altamente consumista e predador dos recursos naturais, sejam cada vez mais eficazes (AMARAL; AMANCIO, p.154, 2015). Por fim, cabe ressaltar o que se objetiva com esta pesquisa: 1) Desenvolver novas tecnologias e produtos para o aproveitamento de resíduos sólidos, provenientes de processos secundários de indústrias moveleiras que utilizam o MDF; 2) Coletar, catalogar e Identificar quais os resíduos sólidos de madeiras transformadas provenientes de processos secundários de Indústrias na Ilha de Upaon-Açu, Maranhão, Brasil; 3) Tratar estatisticamente as dimensões dos resíduos coletados nessa região; 4) Desenvolver inovação nos processos a partir de resíduos de madeira de acordo com princípios do ecodesign; 5) Desenvolver metodologias para produção de produtos com base na série Fibonacci; 6) Projetar Placas de Revestimento e outras aplicações com utilização de resíduos na forma de Placa de MDF; 7) Promover a capacitação dos estudantes e profissionais de design, arquitetura e urbanismo, engenharias e afins; empresários locais para a execução da(s) tecnologia(s) desenvolvida(s) facilitando ações de empreendedorismo na região para aumentar a geração de renda. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Ante à necessidade de base fundamentadora para este trabalho, traçou-se uma linha do tempo que pudesse esclarecer dúvidas quanto ao surgimento e aplicação da Modulação, Coordenação Modular e Série de Fibonacci ao longo da história até períodos contemporâneos. Assim, inicia-se essa abordagem histórica pelo Egito. Na antiguidade, a civilização egípcia prezava pela precisão matemática, sendo considerada a precursora dos fundamentos da aritmética, 710 soma e divisão. Foram criadores do sistema decimal, da geometria e da mensuração de áreas. Tal aplicação de conhecimento era percebida nas mastabas, construção dotada de superestruturas retangulares na superfície, destinadas à rituais de adoração e cultos, e uma subestrutura constituída por câmaras seladas subterrâneas para abrigar o sarcófago do faraó. O contexto era fúnebre, a primeira pirâmide sido construída pelo faraó Djoser, outra grandiosa estrutura construída em pedra, sendo assim, um ambicioso complexo tumular. A primeira pirâmide a ser construída com perfeição e simetria foi a pirâmide vermelha, erigida por Snefru. Durante o reinado de Quéops foi erguida a mais alta e pesada pirâmide do mundo. Tal monumento marcou o apogeu da arte da construção de pirâmides, possuindo os 4 lados quase perfeitamente simétricos e erguidos a um ângulo de 51°. Cada bloco é 1,618 vezes maior que o bloco do nível superior. Ainda na Antiguidade, houve um escultor grego do século V a.C., conhecido por ser o primeiro a se referir à simetria em seu tratado teórico, o Cânone. Policleto, autor da referida obra, explicita que sua ideia de beleza se encontra na harmonia entre as partes do corpo (simetria). Foi o primeiro a utilizar a cabeça como unidade de medida das proporções do corpo, estabelecendo que a proporção adotada deveria ser de 1:7, ou seja, utilizando sete vezes o tamanho da cabeça tem-se a dimensão total da figura e que, para se obter a largura da composição, utiliza-se a medida de duas cabeças. No século I a.C., o arquiteto grego chamado Vitrúvio, ficou conhecido por sua obra de 10 volumes chamada De Architectura, na qual inaugurava as bases da arquitetura clássica, sendo estas: utilidade, beleza e solidez. Em sua obra, elenca seis princípios os quais considera como fundamentais, sendo eles: Ordinatio; Dispositio; Eurytmia; Symmetria; Decor; Distributio. A simetria ao lado da Eurytmia, um aspecto da estética clássica, ao qual os gregos chamavam de cálculo entre relações análogas entre as partes da construção, calculado através de um "modolus" definido, assim, por Vitrúvio. Conceitua simetria como “acordo uniforme entre os membros da mesma obra e correspondência de cada um desses membros com a estrutura interna" (Vitrúvio, Livro 1, cap. 2, 1999). Tomou-se por base o princípio da simetria, Vitrúvio diz que no corpo humano há harmonia simétrica entre as partes proporcionais, que compõe umtodo harmonioso e que, nos templos, a simetria deve ser calculada a partir da espessura de uma coluna ou de um tríglifo. Partindo deste pressuposto, dividiu o corpo humano em quatro partes separadas por eixos equivalentes, sendo um vertical e um horizontal. Tais eixos cruzam-se apenas em um ponto: o ponto central de simetria. Cita, também, Hermógenes de Priene como fundamental no estabelecimento da simetria na arquitetura. Sobre a obra vitruviana Manenti (2015) observa que, ...Vitrúvio inicia o livro a respeito dos templos afirmando a importância da symmetria para a composição destes. Segundo ele, este é o princípio fundamental ao qual os arquitetos devem atentar ao projetar (III, 1, 1), e justifica seu emprego por conta da natureza, através da analogia com o corpo humano (III, 1, 2), fundamentando, assim, a adoção deste princípio de composição baseado em relações modulares entre as partes, que resulta em uma harmonia relacional (MANENTI, p. 9, 2015). Tendo como base o princípio da simetria, Vitrúvio diz que no corpo humano há harmonia simétrica entre as partes proporcionais, que compõe um todo harmonioso e que, nos templos, a simetria deve ser calculada a partir da espessura de uma coluna ou de um tríglifo. Partindo deste pressuposto, dividiu o corpo humano em quatro partes separadas por eixos equivalentes, sendo um vertical e um horizontal. Tais eixos cruzam-se apenas em um ponto: o ponto central de simetria. Cita, também, Hermógenes de Priene como fundamental no estabelecimento da simetria na arquitetura. Leonardo de Pisa, em seu livro Líber Abacci, do ano de 1202, constatou através da Proporção Áurea, que deriva da Sequência de Fibonacci, que a marca de Deus é responsável pela simetria existente na natureza. O número de ouro, representado pela letra grega phi (φ) equivale 711 a 1,618, e é a constante algébrica extraída da sequência como quociente da divisão, a partir do número 3, entre um número e seu antecessor. A sequência de Fibonacci, que nada mais é do que uma sucessão matemática, onde cada número é a obtido somando-se os dois antecessores, tem-se: 1, 1 (1+1) 2, (2+1) 3, (3+2) 5, (5+3) 8, (8+5) 13, (13+8) 21… continuando em uma sequência infinita. Utilizando esta sequência para construir retângulos, obtêm-se o retângulo de ouro, conhecido como o retângulo mais belo e proporcional de todos. Este é dividido em quadrados proporcionais à Sequência de Fibonacci e a sua espiral cresce na mesma proporção que o retângulo de ouro. Leonardo Da Vinci, célebre artista do renascimento italiano, foi o único capaz de executar técnicas de pintura com grande maestria e foi também o primeiro a ser capaz de fazer o perfeito encaixe do homem vitruviano dentro da “divina proporção”. Seu trabalho é considerado como uma das grandes realizações do Renascimento, pois, através dele, deu-se o redescobrimento das proporções matemáticas do corpo humano. O desenho do homem vitruviano é considerado como exemplo da simetria básica não apenas do corpo humano, mas do universo. É dotado de proporções perfeitas, sendo aceito como meio de calcular o valor de phi (Φ= 1,618). Sobre o assunto, discorre Lauro (2005): ...Foi Leonardo da Vinci que chamou a razão áurea de divina proporção, utilizando-a inclusive, na famosa Monalisa (ou Gioconda), de 1502: se construirmos um retângulo em torno de seu rosto, veremos que está na proporção áurea. Poderemos também subdividir este retângulo usando a linha dos olhos para traçar uma reta horizontal e teremos novamente a proporção áurea. Poderemos continuar a explorar esta proporção em várias outras partes do corpo (LAURO, p.44, 2005). A Bauhaus, escola fundada por Walter Gropius em 1919, foi a primeira escola de design industrial moderno. Com o seu surgimento, passou-se a fabricar com novos materiais destinados à produção em série, para o consumo em massa. A modulação era amplamente utilizada, devido à padronização dos objetos; o uso de formas geométricas e cores primárias era estimulado; e, também, possuía corrente de pensamento racional. Devido a isto, seus produtos eram sem ornatos, funcionais e econômicos. Sobre o tema, Pevsner (2002) diz que, ...o progresso mecânico permitia aos fabricantes produzir milhares de artigos baratos no mesmo período e ao mesmo preço anteriormente necessários para um único objeto bem-trabalhado; [...] o artesanato, que tão notável era ainda nos tempos de Chippendale e de Wedgwood, fora substituído pela rotina mecânica (PEVSNER, p.3, 2002). Para a primeira exposição da Bauhaus, Georg Muche criou a Casa Am Horn, inteiramente utilitarista e construída com elementos pré-fabricados, o que a tornava sua construção de baixo custo, atendendo ao seu ideal de construção em massa. Foi a primeira casa de caráter funcional, não apresentando segregação de áreas, pois a casa era considerada uma unidade. A idealização e criação do Modulor por Le Corbusier, no período de pós-guerra em 1945, surgiu da necessidade de abrigar o maior número de pessoas no menor espaço possível, para que, assim, as cidades pudessem ser reconstruídas de maneira ordenada (modulada). Seu sistema era baseado na divisão proporcional do espaço arquitetônico, alicerçado ao critério geométrico que diz que a divisão de uma reta resulta em partes proporcionais entre si e ao todo (Sequência de Fibonacci). Seu sistema era dotado de um pensamento lógico, racional e disciplinador. Sobre o autor, consideram Campos e Motta Júnior (2014): 712 ...O autor busca na geometria uma formalização e perfeição a ela atreladas, sem deixar que a monotonia ou a padronização retire o sentido de unicidade e o espírito de criatividade que cada projeto traz consigo (CAMPOS; MOTTA JÚNIOR, p.5, 2014). Suas duas séries, vermelha e azul, tomavam por base a proporção áurea. Na série vermelha, as proporções eram montadas a partir da Sequência de Fibonacci, onde o número inicial era de 6 pés (1,88m), com intervalo definido a partir da razão áurea (φ= 1,618). Na série azul, os valores eram correspondentes ao seu quadrado duplo. Visava, assim, poder construir em série, de maneira eficaz com o auxílio de elementos pré-fabricados para que, deste modo, pudesse criar ambientes elegantes, racionais e harmoniosos. Segundo Pereira, Almendra e Bezerra (2016), vários autores através de estudos experimentais comprovam que a seção áurea é realmente preferida pelas pessoas, em comparação com retângulos de outras proporções, embora essa preferência seja pronunciada de forma intuitiva. Baxter (2011) afirma que a teoria da Gestalt sugere que a visão humana tem uma predisposição para reconhecer determinados padrões e que pesquisas atuais confirmam essa teoria, pois, quando olhamos para uma imagem pela primeira vez, nosso cérebro tende a extrair certos padrões visuais e arrumá-los em uma imagem com significado. A habilidade para reconhecer padrões naturais seria uma qualidade inata do homem, assim como a sua habilidade para reconhecer faces humanas. Isso teria uma profunda influência na maneira de julgarmos o estilo de produtos. A forma perfeita dos produtos estaria de acordo com a seção áurea ou espiral logarítmica. Essa perfeição estaria associada à nossa habilidade inata em reconhecer as formas da natureza, que seguem a série Fibonacci. Todos esses pressupostos influenciaram na tomada de decisão para avaliarmos a utilização dessas técnicas para o aproveitamento de resíduos dos painéis de madeira transformada. Kimberly Elam (2010), no livro Geometria do Design apresenta os estudos sobre proporção e composição, ele faz várias análises de exemplos clássicos do design gráfico, ilustração, arquitetura e design industrial, todos os resultados foram identificados as proporções e seções áureas e a sequência Fibonacci existentes. Essas análises esclarecem o processo de criação e proporciona uma explicação racional para muitas das decisõestomadas em tais projetos, seja o ordenamento geométrico intuitivo ou proposital, aplicado com rigidez ou adotado de maneira casual. O phi (Φ), a razão áurea e a série Fibonacci estabelecem uma relação entre as formas e o método para obter o equilíbrio dos elementos visuais, o que proporciona uma ideia criativa em um processo de criação coeso. György Doczi, no livro “O Poder dos Limites”: harmonias e proporções na natureza, arte e arquitetura, 1986 citado por Elam (2010) afirma que: “O poder do segmento áureo de criar harmonia advém de sua capacidade singular de unir as diferentes partes de um todo, de tal forma que cada uma continua mantendo sua identidade, ao mesmo tempo que se integra ao padrão maior de um todo único.” É essa reflexão que esta investigação visa com o uso da metodologia da série de Fibonacci para o aproveitamento dos resíduos de madeira, através da união de vários tipos de resíduos formando um novo produto, porém sem perder sua identidade, pois assim o homem será capaz de realmente utilizar os resíduos para gerar novos produtos. De acordo com Barbiere apud Lima e Assunção (2015): ...para existir uma minimização dos problemas socioambientais é necessária uma nova postura dos administradores e empresários. Essa nova postura diz respeito a considerar o meio ambiente nas decisões empresariais (BARBIERE; LIMA E ASSUNÇÃO, p. 414, 2015). 713 Dessa forma, Neves e Pereira (2014) desenvolveram uma metodologia de projeto para o aproveitamento racional de resíduos de placas de fibras de madeira de média densidade provenientes do processo secundário de uma indústria piloto de fabricação de móveis, baseando- se nas dimensões encontradas nesses resíduos desenvolveram uma Série Modular de acordo com as proporções harmônicas da sequência de Fibonacci. Com o auxílio da série desenvolvida, executaram diversos projetos de portas para avaliar o funcionamento desta metodologia de projeto, diante do processo de fabricação industrial, esta pesquisa busca a continuação e o aprimoramento dessa técnica. METODOLOGIA A metodologia utilizada no presente estudo foi uma metodologia mista (qualitativa e quantitativa), podendo ser caracterizada também como uma metodologia de investigação intervencionista e não-intervencionista. A primeira etapa do projeto continuou com a crítica literária composta pela recolha, seleção, análise e síntese de toda a literatura relevante sobre o tema abordado. A partir dessas análises, utilizou-se a investigação ativa com o propósito de identificar possíveis soluções à problematização existente. Junto a esses processos também foram usados métodos não-intervencionistas, baseados na observação direta, estudo de casos, dentre outros. Durante o desenvolvimento dessas técnicas, priorizaram-se as inovações nos processos e produtos a partir de resíduos de madeira de acordo com princípios do Ecodesign. Dessa forma, o aporte sustentável traz substratos para a avaliação do desenvolvimento de tecnologias e produtos oriundos de resíduos industriais de madeiras, o que contribui para a criação de novos artefatos com valor agregado. Por fim, o conhecimento gerado possibilitou a realização de minicursos e palestras, através do Projeto FIBO (Desenvolvimento de Tecnologia de Inovação para Reaproveitamento de Resíduos Sólidos Industriais na Ilha de Upaon-Açu, Maranhão, Brasil), voltados para estudantes e profissionais de design, arquitetura e urbanismo, engenharias e afins; empresários locais para a execução da(s) tecnologia(s) desenvolvida(s) para facilitar ações de empreendedorismo na região aumentando a geração de renda. Para a execução de tal projeto, buscou-se, ainda, o apoio técnico e logístico de empresas parceiras, entre elas: a Ludovicense Móveis, Prime Design, Revest e outras ainda em fase de negociação. A infraestrutura e apoio técnico para os ensaios físicos e químicos foram realizados nos Laboratórios da Universidade Ceuma: Red Lab, Escritório Escola, Laboratório de Materiais e Laboratório de Criatividade. 1. RESULTADOS E DISCUSSÃO O MDF é obtido a partir do processo de corte e tratamento de árvores de Eucalipto ou Pinus, em áreas de reflorestamento. O MDF propriamente dito é obtido durante a etapa de prensagem, onde o mesmo é submetido às altas temperaturas e pressões, acarretando na colagem do material. Para Ferreira apud Sá e Novaes (2015): A maior quantidade de resíduos da atualidade é gerada nas áreas urbanas e periurbanas, em diversos ambientes e condições. Os resíduos especiais urbanos possuem características peculiares, e por isso, necessitam de cuidados mais específicos quanto à coleta, acondicionamento, transporte, manipulação e disposição final (FERREIRA; SÁ E NOVAES, p.10, 2015). Percebe-se, atualmente, o crescente interesse em adotar posturas sustentáveis, de modo que as indústrias têm utilizado disto como forma de gerar lucros a partir de resíduos que antes descartariam in natura e, também, como mecanismos para atrair clientes, a partir da inserção de novos produtos de selo sustentável no mercado. Sobre isto, consideram Abreu et al (2009) “Os resíduos de painéis de madeira têm grande potencial econômico, ainda pouco explorado. Uma 714 alternativa é o seu aproveitamento como matéria-prima na confecção artesanal de pequenos objetos.” Uma das principais razões para a reutilização destes resíduos é fundamentada pela ABNT NBR 10004, que classifica e define os resíduos sólidos, a qual classifica os resíduos de MDF como perigosos (Classe I), por apresentarem periculosidade ao meio ambiente e a sociedade. Torna-se imprescindível que estes resíduos recebam atenção devida quanto ao seu descarte, que deve ocorrer de forma controlada, o que é muito oneroso às indústrias. É possível observar que um dos principais fatores que levam as indústrias a descartar estes resíduos é o desconhecimento de novos usos que podem ser dados a este material, sendo este o tema de preocupação central deste artigo, que propõe a elaboração de um novo produto confeccionado a partir de sobras de material de projetos já executados, ou seja, não há necessidade de comprar nova matéria-prima para confeccioná-los, o que gera economia em sua produção. Cabe ressaltar que o revestimento proposto atende à expectativa de revestimentos 3D similares, confeccionados ou não a base de madeira reaproveitada, de valor mais elevado. Pode-se observar o sucesso obtido por Abreu et al (2009) na confecção de produtos a partir do reuso de pequenos painéis de MDF, os quais foram submetidos à análise e avaliação, na qual foi possível constatar a predileção por estas peças em todos os quesitos analisados, os quais foram acabamento, beleza, cor, funcionalidade, peso, proporção e simetria. Este fato se dá pelo fato de o aspecto visual da peça ser uniforme, uma vez que foi confeccionada a partir de resíduos de mesma matéria-prima, demonstrando que há grande aceitação e intenção de compra de produtos confeccionados com este material. Sobre isto consideram, ainda, Silva e Figueiredo (2010) que “o reaproveitamento de um determinado resíduo proveniente da produção de móveis, por exemplo, pode ser utilizado para a produção de um novo produto de qualidade igual ou superior ao original.” Os resíduos de placas de MDF utilizados para esta pesquisa foram coletados, catalogados e identificados por sua cor e espessura nas principais movelarias do Centro Urbano da Ilha Upaon- Açu. O total de placas escolhidas foi aleatoriamente em diversas visitas às fábricas somam 321, sendo estas 155 da cor branca e 166 da cor madeirada (Figura 1). As placas de cor branca subdividem-se em: 10 placas de 6 mm de espessura; 28 placas de 15 mm de espessura; 49 placas de 18 mm de espessura; 65 placas de 20 mm de espessura; 3 placas de 25 mm de espessura. As placas de cor madeirada, por sua vez, subdividem-se em: 9 placas de 6 mm de espessura; 36 placas de15 mm de espessura; 49 placas de 18 mm de espessura; 65 placas de 20 mm de espessura; e, por fim, 4 placas de 25 mm de espessura. Figura 1. Análise de Resíduos por Cor. Fonte: Próprio Autor (2018). 0% 50% 100% Total 6mm 15mm 18mm 20mm 25mm % d o s R es íd u o s Espessura das Placas Branco Madeirado 715 Concernente ao seu comprimento (Figura 2) mostra a relação entre a cor e espessura (B6 = branco de 6 mm, M18 = madeirado de 18 mm) dos resíduos encontrados no levantamento, pode- se observar grande volume de resíduos entre 30-60 cm de ambos tipos e espessuras de MDF devido à dificuldade de produção de novos artefatos nestas dimensões. Sofrem deste mesmo problema as placas nas dimensões de 60-90 cm. As placas de menores e/ou maiores dimensões, tais quais as encontradas entre 0-30 cm e 90-X cm, não apresentam grande incidência tendo em vista que, as maiores são utilizadas para a confecção de fundo de armários, guarda-roupas e/ou gavetas; já as de menores dimensões são menos incidentes, mas serão aproveitadas nas nossas modulações. Figura 2. Análise do volume de Resíduos por Comprimento. Fonte: Próprio Autor (2018). Tomando como base todo o referencial teórico desta pesquisa desenvolveram-se as Modulações que comportam o máximo de resíduos encontrados no levantamento realizado nas empresas (Figura 3), elegeu-se uma Série Modular baseada na Série de Fibonacci, de medidas: 5; 10; 15; 25 e 40 (em centímetro). Figura 3. Modulações desenvolvidas Fonte: Próprio Autor (2018). 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% B6 B15 B18 B20 B25 M6 M15 M18 M20 M25 % d o s R es íd u o s Cores e Espessuras das Placas 0-30 cm 30-60 cm 60-90 cm 90-X cm 716 Em laboratório, as peças recolhidas eram separadas por tamanhos próximos à modulação desenvolvida nesta pesquisa para a realização dos cortes nos eixos x e y (comprimento e largura). Em seguida, foram feitos os cortes maiores nas larguras pretendidas (15, 25 e/ou 40 cm). Utilizou- se a máquina esquadrejadeira de uma empresa parceira localizada no município de Paço do Lumiar. Após o corte ter sido efetuado em um dos lados, elas eram novamente separadas e repetiam-se os processos do outro lado, seguindo os mesmos passos. Quando todas as placas haviam sido cortadas, a máquina era desligada para prepará-la para o próximo tamanho de corte modular. O processo foi repetido para todas as placas fornecidas pela empresa. Utilizando esta mesma metodologia, foram feitos os cortes das peças menores (5, 10 e/ou 15 cm). Após todos os resíduos de placas serem cortados para os tamanhos da modulação desenvolvida nesta pesquisa, as peças foram limpas e serão coladas para formarem placas modulares de 30x40 cm que serão utilizadas para a criação de mobiliário e revestimento de parede. Essa definição do tamanho e espessuras das peças individuais que serão utilizadas no modelo de cada placa de revestimento será aleatória, porém com princípios do Ecodesign e utilizando a coordenação modular pela série de Fibonacci, ou seja, utilizaram-se as peças para formarem as placas nos tamanhos que a empresa dispõe no momento da montagem e de forma aleatória formarão placas de revestimento interno no tamanho 30x40 cm. Após o corte das placas, as mesmas foram encaminhadas para uma empresa parceira onde se realizou o treinamento do funcionário, apresentando o passo-a-passo para o desenvolvimento da montagem dos painéis de 30x40 cm, atendendo aos princípios da Série de Fibonacci. Tomando por base princípios do ecodesign, Silva e Figueiredo (2010) constatam que os principais focos desta área são o ambiental e o econômico, uma vez que a finalidade agregada ao objeto se sobrepõe à elaboração do produto propriamente dito. Consideram, ainda, que o designer possui papéis muito importantes no processo de confecção de novos produtos, uma vez que, a partir das escolhas tomadas pelo mesmo, haverá diferentes impactos causados ao meio, podendo preservá-lo ou colocá-lo em risco. Normalmente apenas quando as funções do ecossistema são afetadas e os recursos deixam de existir que a humanidade reavalia a necessidade de se preservar as comunidades ecológicas. Preocupando-se com isso, os recursos explorados devem ser preservados, visto que eles também trarão implicações econômicas sobre a indústria. Se esta extrair rapidamente a matéria-prima, de forma que o recurso não possa ser reposto pelo ambiente, e ao mesmo tempo destruir os meios de sua criação, criará problemas para a produção do material extraído (SILVA E FIGUEIREDO, p.79, 2010). Versando sobre os possíveis métodos de montagem para o revestimento, Silva e Figueiredo (2010) constataram que o sistema de encaixes e a técnica de colagem apresentam resultados satisfatórios para o reaproveitamento de placas deste material. Consideram ainda, que “...podem- se usar adesivos utilizados em madeira natural tipo ureia formaldeído, de contato ou de PVA (cola branca).” Para a montagem deste revestimento, as placas deverão ser coladas com resina a base de cola PVA Cascorez extra. Processo, este, que se subdivide em duas etapas: (i) Limpeza da superfície para a aplicação da resina no topo das faces de contato direto com a outra placa; (ii) Processo de envelopamento das placas, colocando-as na prensa termolaminadora à vácuo. As placas formadas podem ser vendidas por metro quadrado ou peças unitárias no tamanho 30x40 cm, sendo que sua aplicação deve ser sobre superfícies planas e áreas secas, e coladas com resina à base de cola PVA Cascorez Extra. Para a confecção dos revestimentos de 30x40 cm foram desenvolvidos os seguintes modelos (Figura 4), utilizando também a alternância de volume e coloração das placas: 717 Figura 4. Modulações propostas para a confecção das placas. Fonte: Próprio Autor (2018). Tendo em vista o revestimento de interiores, foram elaborados projetos para ilustrar sua aplicação neste tipo de projeto como revestimento de parede e painéis para televisão (Figura 5): Figura 5. Aplicações para revestimentos internos. 5(a) 5(b) 5(c) 5(d) Fonte: Próprio Autor (2018). Estas aplicações foram elaboradas a partir das placas individuais de 30x40 cm, obedecendo à Série Modular e fazendo a alternância de volume nas espessuras de 6 mm e 18 mm. O projeto (Figura 5a) recobre uma parede de extensão 3,90 x 2,80 m, sendo feito a partir da modulação M= 10 x 10 cm. Apresenta volumetria alternada nas espessuras de 6 mm e 18 mm; o projeto (Figura 5b) recobre uma parede de extensão 4,80 x 2,40 m, sendo feito a partir das famílias de M= 5x5 cm; M= 5 x 10 cm; M= 15 x 10 cm; e M= 25 x 10 cm. Apresenta volumetria alternada nas espessuras de 6 mm e 18 mm. O projeto (Figura 5c) recobre uma parede de 1,80 x 1,60 m, sendo feito a partir das modulações M= 15 x 15 cm e M= 15 x 25 cm. Apresenta volumetria alternada nas espessuras de 6 mm e 18 mm. O projeto (Figura 5d) recobre uma parede de extensão 3,60 x 718 2,80 m, sendo feito a partir das famílias de M= 15 x 15 cm; M= 25 x 15 cm. Apresenta volumetria alternada nas espessuras de 6 mm e 18 mm. CONCLUSÕES Esta pesquisa apresentou métodos para viabilizar o reuso a partir de resíduos de MDF que seriam depositados em lixões e/ou descartados de forma inadequada causando prejuízo ao meio ambiente e à nossa saúde, desenvolvemos novos processos e produtos para reduzir a incidência de descarte destas placas na natureza. Sua relevância dá-se pelo fato de o MDF ser um material de fácil obtenção e amplamente utilizado na indústria, havendo grande volume de descarte, que, geralmente, ocorre de forma irregular e imprópria. O estudo e posterior aplicação deste método pode ser realizado por parte das indústrias moveleiras a nível mundial, podendo, assim, gerar retorno econômico à estas, uma vez que poderão fornecer novas finalidades ao material excedentede sua própria produção, e, simultaneamente, diminuir o impacto causado pelas mesmas por inibir o descarte deste material in natura. REFERÊNCIAS ABREU, L B. de; MENDES, L. 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