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Reconvenção: Conceito: Desde o CPC/73, o ordenamento já previa uma estrutura para que (quando tivesse uma demanda ajuizada pelo autor em face do réu,), excepcionalmente - diante de determinada circunstâncias e cumpridos certos requisitos -, o réu pudesse ajuizar uma demanda em sentido inverso, em face do autor. A reconvenção é, portanto, um contra-ataque do réu em face do autor da mesma relação processual e com base em determinados requisitos estabelecidos pela lei. Nesse sentido, leciona Humberto Theodoro Jr. (Curso de Direito Processual Civil, vol. I. 55ª ed. Ed. Forense, p.423): Entre as respostas de mérito, arrola-se, também, a reconvenção, , (...) verdadeiro contra-ataque do réu ao autor, propondo dentro do mesmo processo uma ação diferente e em sentido contrário àquela inicialmente deduzida em juízo. A regra é que o réu não formula pedido. Quem está no polo passivo tem o objetivo de se defender do ataque realizado pelo autor. Por isso, à luz do CPC/73 havia uma distinção entre defesas de caráter defensivo (ex.: contestação; impugnação ao valor da causa; exceções processuais) e defesas de caráter não defensivo. A reconvenção, àquela época, era exemplo clássico de defesa de caráter não defensivo. Quando a lei autoriza que o réu formule pedido dentro da relação processual que está em curso, o meio mais adequado é a reconvenção. No CPC/15, essa orientação não mudou. Mas, é preciso tomar cuidado, porque há quem defenda, na doutrina, que o réu formula pedido. Ex.: ‘pedido de’ improcedência do pedido; ‘pedido de’ antecipação de tutela; ‘pedido de’ condenação do autor por litigância de má-fé. No entanto, estas não são hipóteses de pedido em sentido técnico, ao passo que não são objeto de uma nova demanda. São, na verdade, hipóteses de mero requerimento. Em síntese, estará configurada a reconvenção quando o réu formular pedido em face do autor na mesma relação processual. O réu da ação original passará a ser chamado de reconvinte (=autor da reconvenção). Por outro lado, o autor da ação original, passará a ser chamado reconvindo (= réu da reconvenção). Réu da ação original Autor da ação original Autor da reconvenção = Reconvinte Réu da reconvenção = Reconvindo Natureza jurídica da reconvenção: A reconvenção é, basicamente, uma nova demanda. Assim, tem natureza jurídica de ação. Durante a vigência do CPC/73, não havia nenhuma divergência em relação a esta natureza jurídica. Muitos afirmavam, ainda, que esta ação seria incidental, porque realizada dentro do mesmo processo (proposto pelo autor em face do réu). Neste ponto, surgiu uma certa discussão: se a reconvenção é uma ação incidental, qual a diferença dela para uma ação declaratória incidental? À época do CPC/73, se afirmava que a reconvenção era uma ação – de exercício facultativo – que poderia ser exclusivamente pelo réu. Enquanto a ação declaratória incidental poderia ser manejada tanto pelo réu, quanto pelo autor. Ademais, não haveria, na lei, nenhuma restrição quanto à natureza da reconvenção, que poderia ser: condenatória, constitutiva ou declaratória. No CPC/15, o modo pelo qual a reconvenção é apresentada em juízo é diferente através do qual ela era apresentada na vigência do CPC/73. No CPC antigo, ela deveria ser apresentada por petição autônoma. Era preciso apresentar contestação e reconvenção na mesma ocasião. Aquela que não fosse apresentada, não poderia mais sê-lo: era hipótese de preclusão consumativa. Na linha adotada pelo NCPC, a reconvenção deverá ser apresentada pelo réu dentro da própria contestação: CPC, Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa. A reconvenção será apresentada na peça de defesa do réu, logo após a contestação, ou seja, na mesma peça processual. A doutrina afirma que a apresentação da reconvenção junto da contestação decorre da simplificação de procedimentos e garantia de economia processual. No entanto, o professor discorda. Segundo ele, na prática, a junção dessas duas peças gera muita confusão. Isso porque, com usual frequência, juízes se deparam com peças de defesa extremamente mal redigidas/confusas. Partindo da ideia de que a reconvenção é apresentada dentro da contestação (é incidental a uma relação processual que já está em curso), há, na doutrina, quem a chame de incidente processual. No entanto, é utilização equivocada da terminologia. Não é incidente! A reconvenção tem natureza jurídica de ação! CPC, Art. 343, § 2o A desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva (art. 485, CPC) que impeça o exame de seu mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção. Se a reconvenção está dentro da contestação e irá prosseguir, embora a ação principal tenha conteúdo previsto no art. 485 do CPC, ela não será extinta sem resolução do mérito. Não é sentença, é decisão interlocutória. CPC, Art. 343, § 6o O réu pode propor reconvenção independentemente de oferecer contestação. Se a contestação não precisa ser apresentada e a reconvenção deve ser apresentada dentro da contestação, como será apresentada a reconvenção quando não houver contestação? Como ação. Este §6o deixa claro, portanto, que a reconvenção é uma ação. Natureza jurídica da decisão proferida na reconvenção: Hipótese 1: ação principal extinta sem resolução do mérito (art. 485, CPC) -> art. 203, §1o: não colocou fim ao procedimento (processo segue em relação à reconvenção) – não é sentença -> é decisão interlocutória -> recorrível por agravo de instrumento (354, p. único, c/c art. 1.015, XIII, CPC). Art. 203. § 1o Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o juiz proferirá sentença. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento. Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: XIII - outros casos expressamente referidos em lei. Hipótese 2: ação principal em curso + reconvenção indeferida liminarmente -> art. 485, CPC -> decisão interlocutória -> recorrível por agravo de instrumento. Hipótese 3: ação principal em curso + reconvenção julgada liminarmente improcedente (julgamento do mérito – art. 487, I) -> não extinguiu o processo: decisão interlocutória de mérito -> recorrível por agravo de instrumento (art. 354, p. único c/c art. 356, §5o c/c art. 1.015, II). Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção. Art. 354, Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento. Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: (...) 5o A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento. Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: II - mérito do processo. Hipótese 4: sentença decide a ação principal e a reconvenção -> recurso cabível é apelação (art. 1.009). Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. Requisitos: Parece uma obviedade. Para que a reconvenção seja possível, a ação principal deve estar pendente de julgamento (ela não pode ter sido julgada). Hipóteses em que não há pendencia de julgamento e, portanto, não cabe reconvenção: Se o juiz indeferiu a petição inicial; Seo juiz julgou liminarmente o pedido. CPC, Art. 343, caput. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para 1) Pendência da ação principal 2) Deve ser apresentada no prazo de resposta manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa. A reconvenção deve ser apresentada dentro da contestação, que tem o prazo de 15 dias úteis. Excepcionalmente, o réu pode desejar não contestar, de acordo com o §6o do art. 343: CPC, Art. 343, § 6o O réu pode propor reconvenção independentemente de oferecer contestação. Se o réu não apresentar a reconvenção na contestação, ocorrerá preclusão consumativa da oportunidade de fazê-lo. Significa que uma vez apresentada a contestação e não estando dentro desta a reconvenção, ele não poderá mais reconvir. Atente que essa preclusão não se confunde com a perda do direito material que o réu poderia ter alegado na reconvenção. Não há possibilidade de se perder um direito material pelo não exercício de uma faculdade processual. Assim, o réu da ação originária poderá ajuizar uma ação autônoma para alegar um mesmo direito material que ele poderia ter defendido através da reconvenção e não o fez. Neste caso, é possível alegar conexão com a ação principal. CPC, Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir. E, sendo conexas, a ação principal e a ação autônoma devem ser reunidas para processamento e julgamento simultâneo (que é exatamente o que iria acontecer se ele tivesse feito uso da reconvenção): § 1o Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado. (...) § 3o Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles. Perceba que a reconvenção é um meio de agilizar. Mas, se o réu não a utilizar, ele poderá propor uma ação autônoma, que o fará alcançar exatamente o mesmo fim. pedido Como a reconvenção deve ser apresentada dentro da contestação, o juiz competente para julgamento da ação principal, também precisa ser competente para julgamento da reconvenção. Este requisito é consequência do requisito anterior (juízo competente para julgamento da inicial e da reconvenção). É possível fazer uma aplicação por analogia dos requisitos para cumulação de pedidos, previstos no art. 327, 1o, II e III, do CPC: CPC, Art. 327. (...) § 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que: (...) II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo -> competência do juízo para ambas as demandas. III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento -> compatibilidade de procedimentos. CPC, Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa. Ação principal -> elementos: partes (autor e réu); pedido; causa de pedir. Reconvenção -> natureza jurídica de ação -> mesmos elementos -> partes; e . De acordo com o art. 55 do CPC, reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir. Obs.: Para Barbosa Moreira, na reconvenção, não precisaria haver afinidade de pedido/causa de pedir para configurar conexão. Bastaria uma afinidade de questões, que, por questões de economia e celeridade, fizesse com que as ações tramitassem juntas. 4) Compatibilidade de procedimentos causa de pedir 3) Juízo da ação principal também deve ser competente para o julgamento da reconvenção 5) Conexão entre a reconvenção e a ação principal ou o fundamento da defesa Já a conexão baseada nos fundamentos da defesa é diferente. Não tem relação com os elementos da demanda. O réu, quando demandado, apresenta sua contestação, através da qual pode apresentar diferentes defesas (processuais e de mérito, que podem ser diretas ou indiretas). Ex.: ação principal -> autor alega que réu deve 200 mil. Réu apresenta defesa indireta: compensação integral + saldo de 150.000 que o autor da ação originária lhe deve (resultante da compensação realizada). Assim, o réu cobra, na reconvenção, o saldo da compensação alegada na contestação como fundamento de defesa indireta. A reconvenção é o meio necessário/útil/adequado para alcançar a defesa do direito material que está sendo ali buscada? 1a corrente -> interesse necessidade + interesse utilidade 2a corrente -> interesse necessidade + interesse utilidade 3a corrente -> interesse necessidade + int. utilidade + int. adequação Interesse necessidade -> existe quando aquele é o único meio disponível para a parte defender seus interesses. Estão esgotados ou não existem outros meios que não o direito de ação. Interesse utilidade -> o resultado a ser obtido deve conceder algo melhor, mais vantajoso do que aquilo que a parte possui até então. Interesse adequação -> o meio a ser utilizado deve ser adequado para obter a proteção àquele direito. Se o réu pretende se utilizar do mesmo processo para obter prestação jurisdicional a um direito material que ele julga possuir, o meio adequado é a reconvenção. Por vezes, esse interesse pode não ficar muito claro e gerar algum tipo de dúvida. Ex.: Súmula 258, STF - É admissível reconvenção em ação declaratória -> Neste enunciado de súmula, o Supremo deixou claro que cabe reconvenção na ação declaratória. 6) Interesse processual Ex.2: pedido contraposto -> Art. 31, lei 9099/95; art. 382, §3o, CPC; art. 556, CPC (demandas possessórias). Casos em que os pedidos são baseados nos mesmos fatos -> não cabe reconvenção, por falta de interesse processual (justamente porque cabe o pedido contraposto). No entanto, há quem defenda, na doutrina, o cabimento de reconvenção quando ela tiver objetivo diverso daquele do pedido contraposto. Diferença entre a reconvenção, os pedidos contrapostos e as ações dúplices: 1a corrente -> ações dúplices seriam aquelas em que fosse admitida a formulação de pedidos contrapostos. Assim, se a lei previsse a possibilidade de formular pedido contraposto, a ação seria dúplice. 2a corrente -> é preciso deixar de lado o entendimento doutrinário apontado na 1a corrente. Ações dúplices são tecnicamente distintas dos pedidos contrapostos e da reconvenção: Reconvenção Pedidos contrapostos Ações dúplices Natureza de ação Pode ser apresentada de maneira autônoma, de modo que se manifesta através do exercício do direito de ação. Conexão com a ação principal ou com o fundamento da defesa. Hipóteses expressamente previstas na lei: Art. 31, lei 9099/95 (JEC); art. 383, §3o, CPC (produção antecipada de provas); art. 556, CPC (demandas possessórias)1. São baseados nos mesmos fatos. Não se confunde com conexão. Não existe exercício do direito de ação de maneira tradicional. É o caso clássico das ações declaratórias (existência ou não de relação jurídica); ação divisória; ação demarcatória (onde fica a linha divisória/demarcatória). Tipo de pedido: qualquer um – condenatório, constitutivo ou declaratório. Só pode ser formulado pedido de indenização. Não há formulação de pedido (defesa -> existe ou não a relação jurídica; onde fica a linha divisória/demarcatória). É dúplice, porque define a relação jurídica para ambos (autor e réu). Cabimento da reconvenção: Em que hipóteses é cabível a reconvenção? No âmbito do procedimento comum – art. 343, CPC. No âmbito dos procedimentos especiais que sejam convertidos em comum após a resposta – súmula 292, STJ. Súmula 292, STJ - A reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão do procedimento em ordinário. CPC, Art. 702. § 6o Na ação monitória admite-sea reconvenção, sendo vedado o oferecimento de reconvenção à reconvenção. Reconvenção e substituição processual: Hipótese: o autor, substituto processual, propõe uma ação em face do réu. O substituído processual é o titular da relação jurídica de direito material discutida em juízo. CPC, Art. 343. § 5o Se o autor for substituto processual, o reconvinte [réu da ação principal] deverá afirmar ser titular de direito em face do substituído, e a reconvenção deverá ser proposta em face do autor, também na qualidade de substituto processual. A reconvenção é ação do réu contra quem alega ser o titular da relação jurídica de direito material. Dessa forma, o réu, na verdade, não quer reconvir em face do autor substituto processual, mas sim, em face do substituído. No entanto, a lei prevê expressamente que a reconvenção deverá ser proposta em face do autor, também na qualidade de substituto processual. Neste caso, o substituto processual deve, necessariamente, ter também legitimidade extraordinária passiva (para defender os interesses do substituído em juízo e não apenas para ajuizar a demanda). Ampliação subjetiva feita pela reconvenção: CPC, Art. 343, § 3o A reconvenção pode ser proposta contra o autor e terceiro. Essa reconvenção amplia subjetivamente a lide, porque o réu, através dela, traz para o processo quem até então nele não figurava. Ex.: ação ajuizada por um dos cônjuges. Réu tem interesse em reconvir, através de uma ação de natureza real imobiliária. O réu deve colocar o outro cônjuge em litisconsórcio necessário passivo unitário ou simples. CPC, Art. 343, § 4o A reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com terceiro. Essa reconvenção amplia subjetivamente a lide, porque o réu, através dela, o réu reconvinte atua com terceiro litisconsorte unitário (litisconsórcio ativo na reconvenção). Restrição subjetiva feita pela reconvenção: Não tem previsão no CPC, mas é admitida. Hipótese 1: autor ajuíza demanda contra réus: A, B, C, D, E (litisconsórcio passivo). Apenas o réu C resolve reconvir em face do autor. Hipótese 2: autores A, B, C, D, E (litisconsórcio ativo) ajuízam ação em face de um réu, que pode reconvir em face de um dos autores apenas. réu não contestar Se a reconvenção tem natureza jurídica de ação, o réu da reconvenção – reconvindo - (Autor da ação originária) pode: Contestar? Sim. o Pode alegar incompetência absoluta. o Não pode alegar incompetência relativa (deveria ter sido alegada na ação principal). Se não foi alegada ou se foi rejeitada na principal, está prorrogada a competência daquele juízo para o exame da ação principal e das outras demandas que lhe digam respeito. Reconvir? Cabe reconvenção da reconvenção? o No âmbito da ação monitoria, não. Há expressa proibição legal – art. 702, §6o. o Demais hipóteses – divergência: Doutrina: Seria possível, desde que o pedido formulado na reconvenção não pudesse ter sido realizado na ação principal. Jurisprudência: Não admite, para não acarretar prejuízo à marcha do prejuízo. Alegar impedimento ou suspeição? Sim. Ocorrer a revelia? Sim. Se o reconvindo não contestar a reconvenção. o Mas, se a reconvenção disser respeito às alegações formuladas pelo reconvindo na inicial, não há revelia. Aplica-se o disposto no art. 341, III, CPC. Revelia: Conceito: CPC, Art. 344. Se o a ação, será considerado revel e presumir-se- ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor. A revelia é basicamente oriunda da ausência de contestação do réu. A presunção de veracidade das alegações formuladas pelo autor não é hipótese de revelia. Na verdade, esse é o principal efeito/consequência da revelia, que com ela não se confunde. Trata-se de efeito material da revelia. As alegações de direito não se presumem como verdadeiras. O juiz tem total liberdade para analisar se a alegação de direito pode ser considerada verdadeira ou não (aplicação do princípio iura novit curia1). A presunção de veracidade se dá apenas em relação às alegações de fato do autor. Dinamarco explica que revelia é falta de contestação, que não se confunde com falta de “resposta”. Ex.: réu não contesta, mas reconvém (art. 343, §6o, CPC). Ele é revel. Natureza jurídica: É um estado de fato do réu: se ele não contestou, é revel. A simples ausência de contestação caracteriza automaticamente a revelia. Para contestar, o réu precisa ter sido citado. Então, a revelia pressupõe que a citação tenha ocorrido de maneira válida e regular. Se a citação for inexistente ou viciada, esse vício pode ser alegado e, se acolhido, o processo retorna até o início - momento em que a citação deveria ter sido realizada de forma válida e não o foi. Efeitos: A revelia não se confunde com seus efeitos. Uma coisa é o réu não contestar; outra coisa é a produção de efeitos oriundos dessa não contestação. Réu revel que tenha patrono nos autos: intimado normalmente Efeitos processuais Art. 346, CPC Preclusão da possibilidade de alegar determinadas matérias de defesa Réu revel que não tenha patrono nos autos: prazo em curso a partir da publicação do ato decisório no órgão oficial Presunção de veracidade Efeito material das alegações de fato for rt. muladas pelo autor (a 344, caput, CPC) Induz o julgamento antecipado do mérito (art. 355, II, CPC) CPC, Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial. O termo “publicação” foi inadequadamente utilizado. Deveria ter usado a expressão “intimação”, como era previsto no CPC/732: Publicação -> ocorre no momento em que o ato é juntado aos autos, tornando- se público; 2 CPC/73, Art. 322. Contra o revel que não tenha patrono nos autos, correrão os prazos independentemente de intimação, a partir da publicação de cada ato decisório. Intimação -> ato através do qual dá-se conhecimento a alguma das partes do início do prazo recursal. Consequência prática dessa confusão do legislador: o advogado irá alegar a nulidade de todo ato que não for publicado no órgão oficial, o que tornará o processo extremamente truncado. Ex.: o processo é nulo, porque lá atrás teve um ato decisório do qual o réu revel não foi intimado no órgão oficial -> isso acarretará problemas no curso da demanda. CPC, Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando: II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349. A revelia induz o julgamento antecipado do mérito, que depende de determinados requisitos: Falta de contestação -> revelia; Não ocorrência do efeito material da revelia -> presunção de veracidade das alegações de fato do autor (art. 344, caput, CPC); Falta de requerimento de prova (art. 349, CPC). O STF, ao tentar reduzir os nefastos efeitos da revelia, consagrou o enunciado de súmula de nº 231, nos seguintes moldes: O revel, em processo civil, pode produzir provas, desde que compareça em tempo oportuno [antes da fase instrutória]. Esse entendimento foi plasmado expressamente no NCPC, em seu art. 349: CPC, Art. 349. Ao réu revel será lícita a produção de provas, contrapostas às alegações do autor, desde que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos processuais indispensáveis a essa produção [antes da fase instrutória]. Distinção entre revelia formal e revelia material (ou substancial): Objetivo: demonstrar que em ambos os casos (revelia formal e revelia material) existe a produção do efeito material da revelia. CPC, Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-severdadeiras as não impugnadas. Distinção entre revelia e contumácia: A revelia é a falta de contestação (art. 344, CPC). Já a contumácia é um instituto mais amplo. A revelia é uma das espécies de contumácia, que ocorre quando qualquer das partes deixa de realizar conduta que a lei ou o juízo lhe determinou. Além da revelia, são hipóteses de contumácia previstas no CPC: Não apresentação para audiência de conciliação ou mediação; Não foi apresentada contestação Revelia Formal Contestação intempestiva Espécies de revelia Revelia Material Existe contestação, mas não foram impugnadas especificamente as alegações de fato formuladas pelo autor Não comparecimento à audiência de instrução e julgamento; Não realização do depoimento pessoal solicitado pelo juiz; Não juntada de documento que foi determinada pelo juiz; Etc. Revelia ulterior: Hipótese 1: O réu originariamente não é revel, ou seja, apresentou contestação. Ao apresentar contestação, foi identificado algum dos vícios do art. 76. Não regularizado o vício no prazo assinalado pelo juiz, o réu passará a ser considerado revel. CPC, Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício. § 1o Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária: II - o réu será considerado revel, se a providência lhe couber. Hipótese 2: No caso de morte do procurador da parte, também ocorrerá revelia ulterior, se a parte não nomear novo mandatário no prazo de 15 dias: CPC, Art. 313, § 3o No caso de morte do procurador de qualquer das partes, ainda que iniciada a audiência de instrução e julgamento, o juiz determinará que a parte constitua novo mandatário, no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual extinguirá o processo sem resolução de mérito, se o autor não nomear novo mandatário, ou ordenará o prosseguimento do processo à revelia do réu, se falecido o procurador deste. Lembre-se que qualquer procedimento é composto por: demanda – citação – resposta – instrução – decisão final (sentença). Na última aula, vimos que a revelia é basicamente oriunda da ausência de contestação do réu. Nesse sentido, dispõe o art. 344, CPC: CPC, Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se- ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor. Trata-se de um estado de fato, cujos efeitos são: Réu revel que tenha patrono nos autos: intimado normalmente Efeitos processuais Art. 346, CPC Preclusão da possibilidade de alegar determinadas matérias de defesa Réu revel que não tenha patrono nos autos: prazo em curso a partir da publicação do ato decisório no órgão oficial Induz o julgamento antecipado do mérito (art. 355, II, CPC) Presunção de veracidade Efeito material das alegações de fato for rt. muladas pelo autor (a 344, caput, CPC) Existem determinadas situações em que, apesar da revelia, o efeito material não se produz. Ou seja, o réu é revel; mas, não há presunção de veracidade das alegações de fato formuladas pelo autor. É o que dispõe o art. 345, CPC1: Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 [efeito material] se: Se a hipótese é de pluralidade de réus, estamos diante de um litisconsórcio passivo. O dispositivo afirma que se um dos réus contestar a ação, não serão presumidas verdadeiras as alegações de fato do autor. Contudo, é de se analisar o alcance desta previsão legal, já que não é qualquer alegação formulada na contestação que poderá dar ensejo ao afastamento do efeito material da revelia. Para verificar se serão presumidas verdadeiras as alegações de fato do autor ou não, é preciso verificar, no caso concreto, qual é o tipo de litisconsórcio passivo: simples ou unitário. Neste ponto, vale recordar que a identificação do litisconsórcio como unitário ou simples depende da análise da relação jurídica substancial deduzida. O litisconsórcio será unitário quando o provimento jurisdicional tiver que regular de modo uniforme a situação jurídica dos litisconsortes, não se admitindo, para eles, julgamentos diversos. E será simples quando cada litisconsorte for tratado como parte autônoma, ou seja, quando a decisão judicial puder ser diferente para cada litisconsorte. Nesta linha, Fredie Didier2 ensina que o enquadramento do litisconsórcio como unitário ou simples apenas definirá qual será o regime jurídico de tratamento dos litisconsortes. Este é o principal papel que esta distinção exerce, sendo, na verdade, a própria razão de ser desta divisão. I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; Segundo o autor, para que se possa compreender como se estrutura este regime jurídico, é preciso, antes, apresentar uma classificação das condutas das partes, que podem ser divididas em condutas alternativas e condutas determinantes: Condutas alternativas são ações ou omissões da parte que tem, por objetivo, alcançar uma situação mais favorável a quem as pratica. São alternativas exatamente porque este resultado favorável, embora desejado, não ocorrerá necessariamente. São exemplos de condutas alternativas: recorrer, alegar, contestar, requerer a produção de prova etc. Condutas determinantes são as ações e omissões das partes que a colocam em uma situação desfavorável. São determinantes exatamente porque levam, inexoravelmente, à situação desfavorável. São exemplos: não recorrer, confessar, desistir, renunciar etc. A partir desta diferenciação, pode-se apresentar o regime de tratamento dos litisconsortes, que obedecerá, basicamente, a três regras: 1. ª regra. A conduta determinante de um litisconsorte não pode prejudicar o outro. Se o litisconsórcio for simples, a conduta determinante do litisconsorte o prejudica; se unitário, a conduta determinante de um litisconsorte somente será eficaz se todos os litisconsortes a ela aderirem – de fato, não há eficácia em uma renúncia ao direito apresentada por um litisconsorte unitário, se os demais litisconsortes também não renunciarem: o direito discutido é apenas um e indivisível; ou todos renunciam a ele, ou não se pode homologar a renúncia apresentada por apenas um. 2. ª regra. A conduta alternativa de um litisconsorte unitário aproveita ao outro. Assim, o recurso de um litisconsorte serve ao litisconsorte que não recorrer – art. 509 do CPC. 3. ª regra. A conduta alternativa de um litisconsorte simples apenas a ele beneficia. Assim, o recurso de um litisconsorte simples não expande os seus efeitos ao litisconsorte que não recorreu. Ultrapassadas tais premissas, parcela da doutrina começou a defender que, mesmo na hipótese de litisconsórcio simples, se um dos litisconsortes alegasse prescrição/decadência (conduta alternativa), o juiz poderia, de ofício, realizar o exame dessas matérias (que são de ordem pública) em relação aos demais litisconsortes. Assim, atualmente, o critério utilizado para determinar o exame de determinada alegação como apta para afastar a presunção de veracidade das alegações de fato formuladas pelo autor (efeito material da revelia) é verificar se as alegações são comuns aos litisconsortes. De modo que se a alegação for de caráter pessoal (disser respeito somente ao litisconsorte que a alegou), não impede a produção de efeitos em relação aos demais. Os direitos indisponíveis são os titularizados pela Fazenda Pública. Infelizmente, é muito comum que a Fazenda Pública apresente contestações padronizadas, com teses genéricas, sem qualquer relação com o caso concreto. No entanto, como defende direitos indisponíveis, mesmo que a Fazenda não apresente alegações expressas contrárias àquelas formuladas pelo autor, não se produzo efeito material da revelia e o processo prossegue com o juiz determinando a especificação de provas. CPC, Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se: I - não for admissível, a seu respeito, a confissão. Em determinas situações, a lei estabelece que certo fato só pode ser provado por instrumento específico. Ex.: proprietário de um imóvel -> registro no RGI; casado -> certidão de casamento registrada; etc. Nesses casos, ainda que o réu não conteste, não se produz o efeito material da revelia, uma vez que o alegado pelo autor depende de prova por instrumento específico. Tem relação com o art. 341, II: CPC, Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se: II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato. II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; Ex.: sujeito diz que se desentendeu com funcionários de um navio, que o jogaram em alto mar; veio nadando, atrás do navio, da Itália até o Brasil. E, por isso, tem direito a uma indenização milionária. Mesmo que a empresa não conteste tais alegações, o juiz não pode considerá-las verdadeiras (são inverossímeis) e deverá determinar que o sujeito prove que veio nadando: através de testemunhas, fotos, vídeos, informações de jornais, etc. Na jurisprudência e na doutrina, existe menção a algumas outras situações – além das elencadas no art. 345, CPC - em que esse efeito material também não se produz: (i) Curador especial: Se o réu foi citado por hora certa ou por edital ou for preso, a lei determina a nomeação de curador especial, que - de acordo com o art. 341, parágrafo único do CPC - pode fazer defesa por negativa genérica: CPC, Art. 341, p. único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial. Como a lei admite a defesa por negativa genérica, não se pode presumir como verdadeiras as alegações formuladas pelo autor. (ii) Na assistência: CPC, Art. 121, Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto processual. O terceiro que possui interesse jurídico na causa pode ingressar como assistente do réu. Quando o réu é revel, o assistente será considerado substituto processual. IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos. Se ele ingressar no processo antes de encerrado o prazo de resposta, e vier a contestar, evitará a presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo autor. Se ele ingressa fora do prazo de resposta, mas apresenta alegações relevantes que são efetivamente fundamentadas e contrárias às alegações do autor, poderá o juiz determinar que o autor comprove suas alegações. Então, mesmo que o assistente atue fora do prazo de resposta, se suas alegações são condizentes para afastar a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor, o juiz tem total liberdade para determinar que o autor produza prova de suas alegações.