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Aula 10 - Questão Linguistica como o meio da Conciencia e da Autocompreensao

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Filoso�a da linguagem
Aula 10: Questão linguística como meio da consciência e da
autocompreensão
Apresentação
Nesta última aula, determinaremos a linguagem como o ponto central das discussões relativas ao sujeito que vive em
sociedade, examinando de que forma, por meio da comunicação, ele consegue nela se inserir. A�nal, ele compartilha
experiências e conhecimentos, tornando-se um ser social graças às diversas linguagens que lhe são possíveis.
Identi�caremos ainda como a questão linguística estudada a fundo – não somente enquanto objeto da própria Linguística,
e sim como um ponto de intercessão entre as várias ciências da comunicação – auxilia tanto na compreensão de si
mesmo quanto na de variados grupos sociais. Por �m, também analisaremos as comunicações em ambientes educativos
– em especial a escola e a universidade, locais nos quais se estuda a língua como forma de aprimoramento intelectual,
crescimento cientí�co e sobrevivência social, proporcionando, portanto, uma interação.
Objetivos
Identi�car na linguagem a autocompreensão para questões subjetivas e sociais;
Relacionar o aprendizado de língua com a capacidade de interação entre grupos;
Esclarecer a exposição da linguagem em ambientes educacionais de forma mais democrática.
 Primeiras palavras
Durante todo o curso de Filoso�a da linguagem, você percebeu que há diversos pontos de vista e paradigmas acerca da arte de
se comunicar por meio da escrita ou da fala. Vimos que muitos �lósofos consideravam a linguagem uma representação do
mundo em que vivemos. Outros, por sua vez, acreditavam que ela nasce e se desenvolve dentro do ato de comunicação,
evoluindo e ganhando novos contornos à medida que praticarmos ou vivermos a língua.
Independentemente do modelo linguístico que adotarmos como verdade, nesta aula veremos como, em nosso cotidiano, as
diferentes formas de aplicação do uso da linguagem, funcionando como ferramentas para nosso progresso – ou não.
 A linguagem como forma de autocompreensão
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Você já parou para pensar que a linguagem pode servir como forma
de conhecer a si mesmo?
Isso foi preconizado pelo próprio Sigmund Freud quando ele trouxe a ciência psicanalítica à tona, no �nal do século XIX,
apontando tanto ela quanto os atos de fala como o mecanismo central do processo de tratamento de pacientes com
patologias psíquicas.
Se falarmos sobre nossos problemas, teremos de escrever nossos anseios e ler sobre assuntos variados. Quando vivemos e
praticamos a linguagem de forma plena, estamos, portanto, diante de um universo de possibilidades – e isso nos ajuda a
conhecer nossa intimidade e nossos pensamentos.
Comunicação
Se for plena e clara, ela nos dá condições de ser mais
bem compreendidos, facilitando os relacionamentos
com diferentes grupos.
Escrita e leitura
Fornecem um material epistemológico capaz de nos
ensinar diversas formas de enxergar o mundo e suas
questões.
Dessa forma, uma pessoa em contato intenso com as variadas formas
de linguagem terá uma vida com mais possibilidades do que aquela
que possui um acesso restrito à informação.
Exemplo
O hábito da leitura é um ato por meio do qual um indivíduo se coloca em contato com realidades outras. Isso auxilia – e muito! –
em casos de depressão ou tristeza profunda, situações em que é muito normal achar que se está sozinho no mundo, sem a
compreensão de ninguém nem a possibilidade de ajuda.
Quando nos habituamos a estar em contato com outras linguagens por meio da conversa e da leitura, podemos encontrar
casos muito análogos, extremamente parecidos ou até mesmo mais graves que possuam uma solução. Assim, estamos mais
preparados e com mais experiência cientí�ca para lidar com situações novas que se apresentem – exatamente porque usamos
a linguagem a nosso favor.
Também não é novidade no mundo cientí�co que o talking cure adotado pela Psicanálise é um dos métodos mais precisos para
a resolução de diversos problemas psíquicos, sociais e até mesmo �siológicos. A revista Superinteressante, em outubro de
2016, trouxe um dado que corrobora o que estamos dizendo. A reportagem assinada por Denize Guedes descrevia as agruras
de Anna O., a primeira paciente tratada por Freud:
"Anna O. sofria de alucinações histéricas, sonambulismo e se recusava a beber água. Já
levava seis semanas ingerindo somente a água de frutas quando os sintomas começaram a
desaparecer – sempre após falar em voz alta sobre o que a atormentava. “Depois de ter
desabafado energicamente a raiva que ficara dentro dela, pediu para beber e bebeu sem
inibição uma grande quantidade de água, acordando da hipnose com o copo nos lábios.
Com isso, o distúrbio desapareceu para sempre”. "
- (GUEDES, 2016)
A matéria da revista ainda faz menção ao crescente número de pessoas que procura um terapeuta pro�ssional (psicólogo,
psicanalista, etc.) para simplesmente falar de suas experiências traumáticas ou conversar: “Se antes ir a psicólogos era coisa
de ‘problemáticos’, hoje [em dia] falar da expe¬riência parece ser um bom jeito de engatar conversas”, pontua Denize Guedes
(2016).
Segundo Freud, quando falamos de vivências, questões, problemas e traumas, conseguimos escutar e interpretar aquilo que
até então vivia escondido em algum lugar de nossa mente. Ao interpretarmos, estaremos mais aptos a conhecer as verdades
ocultas de cada caso.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Mas por que estamos abordando esse assunto nesta aula?
Pretendemos dimensionar a importância da linguagem para o autoconhecimento, mostrando como ela é útil não somente aos
campos das letras, mas também se con�gura em um objeto multidisciplinar de pesquisa.
 A linguagem como forma de inserção social
Você já se sentiu deslocado em um grupo conversando sobre determinado assunto? Isso às vezes se deve ao fato de alguém
não dominar determinado tema que, naquele instante, esteja sendo abordado. Mas você já se sentiu um peixe fora d’água
mesmo dominando-o, embora, ainda assim, não se sentisse em casa com a linguagem utilizada para falar dele?
Isso tem uma razão: ou o grupo possui um jargão bem próprio e você
não faz parte dele, ou suas capacidades linguísticas estão bastante
engessadas.
Um dos estudiosos mais brilhantes da linguagem em sociedade, o norte-americano William Labov dividiu as variações
linguísticas em três grandes tipos:
Variações geográ�cas
Variações sociais
Variações diafásicas 1
Voltemos à situação hipotética acima: se você estiver envolto por pessoas que fazem parte de um grupo pro�ssional (médicos,
advogados, pro�ssionais da informática etc.), realmente será mais difícil interagir com ele. No entanto, na maior parte dos
casos, esse tipo de situação ocorre por falta de domínio de uma variante linguística.
Há duas opções possíveis:
Um grupo fala muito bem a língua e você não pode participar do diálogo graças ao desconhecimento de muitas palavras
usadas no diálogo;
Você conhece muito bem a norma culta, mas não está familiarizado com as formas mais populares do seu uso.
Imagine o diálogo hipotético:
- Filho, mamãe quer saber se está tudo bem com você.
- Ih! Véio, sussa total, tranks, de boas.
- Como é???
- Têga, véio, se liga!
Aparentemente, a mãe não conseguiu estabelecer uma conversa com o �lho por ela desconhecer completamente a variante
popular (ou a linguagem de determinado grupo) utilizada pelo jovem. Vejamos outra conversa em que acontece justamente o
contrário:
- Pai, já decidiu se vamos viajar no feriado?
- Estou matutando aqui com meus botões.
- Botões? Que botões, véio? Tô falando da viagem!
- Eu sei, só estou conjecturando, não se deve ser incauto...
- Putz, desisto!
Agora a ausência de compreensão se deve à falta de domínio da
norma culta da língua por parte do �lho, que desconhece tanto gírias
como matutar com meus botões quanto palavras como incauto e
conjecturar.
Comentário
Reforçamos a necessidade de você estudar com a�nco a sua língua materna para nãopassar por situações desconfortáveis em
sua vida pessoal e pro�ssional. Mas não seja um bitolado, achando que o universo gira em torno da norma culta. Se você tentar
falar de forma erudita por todo o lado, correrá um sério risco de ser tachado como chato, pedante e coisas piores.
O grande segredo da inserção social em grupos diversos está no domínio das variantes linguísticas disponíveis em nosso
universo comunicativo: aliás, dominar algo constitui um grau de expectativa avançada; su�ciente já seria respeitar essas
variações, considerando-as uma comunicação plena, além de, com o ouvido treinado, aprender aos poucos a forma ideal de se
comunicar com variados grupos. O pensador da linguagem, Jean Piaget a�rmava que a “constante interação entre o sujeito e o
mundo exterior é o processo pelo qual se dá o desenvolvimento intelectual humano”. (PIAGET, 1978, p. 59)
Já para Bakhtin:
"A verdadeira substância da linguagem não é constituída por um sistema abstrato de
formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico
de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal realizada pela enunciação
ou pelas enunciações. A interação constitui, assim, a realidade fundamental da linguagem. "
- (BAKHTIN, 1988, p. 123)
Aproveitemos o ensejo para abordar a linguagem dentro dos
ambientes educacionais, pois é dentro de escolas e universidades que
são forjados os caracteres de seus futuros utentes nos âmbitos
acadêmico e pro�ssional.
 Nos processos de aprendizagem
Você já deve ter ouvido de alguns amigos seus a seguinte frase: “Não suporto português. Acho difícil, não entendo nada”. Na
maioria dos casos, isso deve-se ao método adotado para o ensino da língua nas escolas, privilegiando a gramática normativa
prescritiva em detrimento de outros pontos de vista. Muitos desses pro�ssionais já carregam o ideário normativo como a única
forma de ensino em sala de aula, esquecendo-se de que a percepção mais importante na abordagem da aprendizagem refere-
se à capacidade de linguagem que os alunos possuem.
Em artigo intitulado O preconceito linguístico proveniente das páginas de O Globo: uma visão positivista e superada do ensino de
língua nas escolas, o professor Guilherme Cardozo explica como a visão unívoca do ensino de língua portuguesa nas escolas
afeta o conhecimento posterior do aluno e a sua capacidade como falante pleno, frisando o fato de que as mídias – em
especial, a impressa – colocam-se de forma contrária ao tratamento das variações como algo permitido:
"Podemos contemplar como o jornal [O Globo] trata da questão social em seu discurso.
Para ele, a inclusão dos valores desprestigiados em setores tradicionais da sociedade –
como a escola – é inviável. A única maneira de haver uma inclusão real desses menos
favorecidos na sociedade é através da língua padrão, ou seja, os valores das minorias são
os valores que devem permear o ensino de língua, e é baseado nesse ponto de vista que o
jornal constrói o seu discurso e seus movimentos argumentativos. "
- (CARDOZO, 2014, p. 77)
Obviamente, jornais mais destacados, como O Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e Correio Brasiliense, valem-se
naturalmente da norma culta da língua portuguesa para a veiculação de seus textos, pois eles possuem um público-alvo. Da
mesma forma, há veículos impressos com uma linguagem mais simples e reduzida para se encaixar nas expectativas de
outros públicos, cujo conhecimento linguístico é mais reduzido. No entanto, não seria ideal que qualquer um de seus falantes
pudesse dominar inteiramente todas as variantes linguísticas, podendo escolher, dessa forma, entre ler algo mais complexo ou
mais simplório?
É aí que entra o papel da escola e da universidade no tratamento com a linguagem. Apesar de seu Parâmetro Curricular
Nacional instituir – pelo menos teoricamente – que outras variantes de língua existentes nos grupos sociais devem ser
prestigiadas e estudadas em sala de aula, a educação positivista brasileira claramente relega tais tipos a um segundo posto,
privilegiando o estudo da norma culta. Até aí não há nenhum problema. A grande questão é quanto ao tratamento das diversas
linguagens dentro do ambiente de ensino.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Exemplo
Se você, um potencial futuro professor, ao escutar de um aluno a frase “Nós vai pegar os lanche”, peremptoriamente apontar para
esse falante e dizer “Você falou errado”, há uma grande chance de ele nunca mais se pronunciar em suas aulas. A�nal, ele vai
pensar que a linguagem considerada certa na sala de aula não tem absolutamente nada a ver com a que ele vive em seus grupos
sociais.
Adotado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2013, o livro didático Por uma vida melhor foi objeto de inúmeras críticas pela
mídia. Mesmo assim, ele contém uma abordagem interessantíssima das variações em sala de aula, incentivando o professor a
colocar em prática a sua capacidade de falante pleno, compreendendo e respeitando as diferenças:
 Fonte: BRASIL, 2013.
Falamos anteriormente de variação diafásica como aquela que nos torna capaz de mudar nosso tipo de linguagem de acordo
com as situações (contextos) de fala. É exatamente isso que este livro do MEC propõe: aqueles que a ensinam podem legitimar
os diversos conhecimentos presentes na relação de aprendizagem a �m de que o aluno não se sinta um estrangeiro em
relação à própria língua. Ou pior: alguém totalmente desinteressado no aprendizado de uma que não é a sua.
Na universidade, tal processo não deve ser diferente. Teoricamente, os ingressantes no meio universitário possuem avançadas
capacidades linguísticas e intelectuais, estando muito mais aptos a conhecer aspectos mais prolixos da língua materna. No
entanto, sabemos que, devido à educação de�citária no Brasil, muitos alunos que entram nas faculdades (inclusive na de
Letras) têm um raso conhecimento linguístico, deixando a tarefa da alfabetização funcional para o professor universitário.
Essa tarefa, assim, torna-se mais árdua, e é momento de se colocar em prática toda aquela teoria sociolinguística aprendida
nas aulas de graduação e pós-graduação. Deve-se compreender, ensinar e viver a língua como:
Fator social;
Instrumento de inserção e libertação;
Fonte de interação e comunicação plenas.
Respeitar esses itens é o segredo para estabelecer uma relação menos formal e mais funcional no concernente ao ensino de
língua. É importante destacar a di�culdade de separar seu ensino das práticas políticas e das ideologias, ambos
constantemente presentes em âmbito acadêmico ou escolar. De acordo com Guilherme Cardozo...
"Percebemos que o preconceito linguístico está intimamente atrelado ao fator social,
segundo o qual aqueles que detêm o poder de manipular decisões, seja por meio da
comunicação, seja através de políticas, não admitem mudança no enquadre. E ainda que,
por trás do discurso anti-ideológico da instituição contra aqueles que combatem o
preconceito linguístico, há outro de natureza política. "
- (CARDOZO, 2014, p. 78)
 No universo pro�ssional
A capacidade comunicativa é demonstrada também em nossas práticas pro�ssionais, ambientes em que somos testados
muitas vezes por conta do nosso modo de falar. Desde uma entrevista de emprego, em que a capacidade de expressão e uma
boa escrita (sim, meus amigos, muitas entrevistas hoje em dia pedem para você escrever um texto, uma redação ou algo do
tipo) são fatores primordiais na escolha de alguém para um cargo, até a atuação no mercado de trabalho, no qual a linguagem
usada no tratamento com seus pares vai de�nir que tipo de pro�ssional você é e que prestígio assumirá perante eles.
Exemplo
No mundo jurídico, é usada uma linguagem mais técnica e rebuscada, havendo o predomínio de alguns latinismos (especialmente
na escrita). Além disso, a utilização de pronomes de tratamento, como Vossa Excelência, é preponderante para a a�rmação de um
advogado, magistrado, promotor, defensor ou operador do Direito diantede seus pares. É o momento em que se deve saber muito
bem qual será a mais adequada àquela situação: diante de um magistrado, em uma audiência, é cabível proferir frases como
“Data vênia, Excelência, considero mister que seja repisado aos presentes seu decisum a priori”. Tal sentença, cujo uso é bastante
comum no universo jurídico, irá gerar, porém, uma total incompreensão em um contexto coloquial.
Possuir uma capacidade linguística diferenciada não lhe confere o
direito de usar isso como arma de segregação!
Há casos em que o uso de uma linguagem rebuscada demais soa antiético, como, por exemplo, um advogado que tenta
convencer uma pessoa simples a contratar seus serviços para a resolução de um problema.
Exemplo
“Minha distinta senhora, o preço que cobro é alto devido à alta complexidade da lide. Seu problema só pode ser resolvido com
uma análise profícua e denodada do litígio, o qual está imerso em situação jurídica de reparo prolixo, haja vista que o fumus boni
iuris é de improvável instrução probatória.”
O caso acima também poderia ser reproduzido em outras situações. Uma consulta médica constitui um momento em que, na
maioria das vezes, há um pro�ssional da Medicina diante de um paciente leigo no assunto. Não há a menor necessidade de se
usar uma linguagem carregada de jargões ou termos inócuos com pessoas alheias ao universo médico.
A linguagem representa poder.
Exemplo
“É claro que você porta uma androcefalite extensional aguda de grau dois, e isso requer um androcefalograma para precisar se o
óculo globular se manifesta.”
Em muitos casos, o paciente não aceita ser tachado de ignorante. Por isso, ele poderá até responder com a maior calma:
“Entendi, doutor”. Obviamente, ele o faz sem compreender uma vírgula do que foi dito.
Entendemos, portanto, que a linguagem está intimamente atrelada a aspectos éticos, especialmente quando ela for aplicada na
realidade pro�ssional, pois nem sempre lidamos com pessoas que estejam habituadas com o linguajar utilizado. Da mesma
forma, poderíamos colocar – por que não? – o professor nessa situação a �m de corroborar o que foi dito anteriormente
acerca do papel político-social da língua.
Você está, nesse momento, estudando a �loso�a da linguagem já pensando na formatura em seu curso universitário. Dessa
forma, certamente possui um conhecimento linguístico que poucos falantes do nosso idioma detêm. Isso não deve fazer de
você um pro�ssional indiferente às di�culdades linguísticas que seus futuros alunos certamente terão. Todo esse
entendimento técnico deve estar aliado ao conhecimento �losó�co da língua e da linguagem, fazendo de você um pro�ssional
diferenciado, entendedor das diversas formas de comunicação possíveis e formador de cidadãos conscientes de que seus
conhecimentos são válidos.
Entretanto, aprender a norma culta signi�ca possuir um instrumento que permite alçar voos mais altos em uma sociedade que
exige cada vez mais de todos nós. Como diz o economista Samy Dana ao descrever o pensamento de Roberto Solow, prêmio
Nobel em 1987, no âmbito econômico:
"Seguindo essa linha de raciocínio, a teoria do economista acaba tornando a educação um
dos principais pilares da economia. Isso porque indivíduos com acesso à educação
proporcionam as melhores ideias, promovendo inovação tecnológica. Assim sendo, de
acordo com o modelo de Solow, o incentivo à criatividade humana torna-se o instrumento
mais influente na economia. "
- (DANA, 2017)
 Atividade
1. A linguagem como forma de autocompreensão é um conceito que vem crescendo atualmente, pois as pessoas percebem
que, falando de suas experiências vividas, seus problemas e suas questões, conseguem auxiliar os outros e a si mesmo.
Sigmund Freud fundamentava sua ciência psicanalítica no procedimento talking cure, colocando como ponto central a
conversação.
Sobre a função subjetiva da linguagem, assinale a alternativa correta:
a) Segundo pesquisadores, para a maioria das pessoas, ir a psicólogos era coisa de problemáticos; no entanto, atualmente, falar da
expe¬riência parece ser um bom jeito de engatar conversas, fazer amigos, o que fez com que o preconceito com as terapias diminuísse.
b) No Brasil, por ser um país com um povo muito tímido, pouco falante, esses procedimentos terapêuticos que exploram a fala não deram
certo.
c) O Brasil, país sistematicamente de cultura europeia, não se adaptou a práticas como Psicanálise, terapia de casal e psicologia para
crianças devido a seu extremo conservadorismo.
d) Em recentes pesquisas, comprovou-se que as terapias não fornecem nenhuma espécie de ajuda aos pacientes, sendo a linguagem um
objeto específico somente da Linguística.
e) Nenhuma das respostas acima.
2. Algumas ciências se valem da linguagem para alcançar melhores resultados em seus objetos de estudo. Esse fator ocorre
não somente nas ciências linguísticas, mas também nas médicas, jurídicas etc. Isso comprova:
a) O caráter extremamente limitado da linguagem no que diz respeito aos estudos científicos.
b) Que a linguagem não é objeto de estudo multidisciplinar, sendo objeto apenas da Linguística e de áreas afins, como a Linguística
Aplicada.
c) Que cada ciência deve possuir um objeto de estudo próprio, sem qualquer intercessão.
d) Que o Direito e a Medicina têm os mesmos objetos de estudo da Linguística.
e) O caráter interdisciplinar da linguagem, objeto de estudo de várias ciências e instrumento de procedimentos variados, não somente no
campo de Letras.
3. Sobre as características da linguagem, pode-se a�rmar que:
I. É objeto de estudo somente da Linguística, não possuindo qualquer intercessão com outras ciências ou artes.
II. É meio de interação social. Por intermédio dela, podemos aumentar nossa rede de amigos, fazer contatos pro�ssionais,
mas também é possível, por seu mau uso ou uso restrito, perder muitas oportunidades no mercado.
III. A linguagem é forma de autocompreensão, mas também é valiosa para a interação social, especialmente quando o
falante souber se valer das variações diafásicas da língua, o que lhe permite ingressar nos diversos mundos linguísticos
existentes nos contextos sociais.
Estão corretas as alternativas:
a) I e II
b) II e III
c) I e III
d) III
e) Nenhuma das opções acima
4. Uma forma de ser um bom falante não é somente utilizar a norma culta da língua, mas saber que tipo de variação linguística
se deve aplicar em diversos contextos sociais, inclusive uma norma mais popular ou coloquial da língua. Essa variante,
segundo W. Labov, chama-se:
a) Variante diastrática
b) Variante diafísica
c) Variante diatópica
d) Variante diafásica
e) Nenhuma das alternativas
5. Sobre o ensino de língua nas escolas, o modelo atual encontra muitos problemas por uma série de causas. Uma delas é:
a) A valorização de variações populares nas escolas.
b) O reconhecimento das diversas linguagens produzidas em âmbito escolar.
c) O desprezo à norma culta da língua.
d) A adoção do modelo normativo tradicional como única forma de ensino da língua, prescindindo das outras abordagens linguísticas.
e) Nenhuma das respostas acima.
6. A linguagem pode ser usada como forma de segregação entre pessoas de grupos diferentes, principalmente quando:
a) A variação diafásica é usada para inclusão do receptor.
b) O jargão profissional é usado mesmo que o receptor da mensagem não pertença ao grupo.
c) Não há linguagem utilizada.
d) Palavrões são usados.
e) Não é respeitada a norma culta da língua portuguesa.
Notas
Variações diafásicas 1
Propositais, tais variações são usadas pelos falantes do idioma em diversos contextos linguísticos. Pessoas capazes de se
valer das variações diafásicas são aquelas que conhecem bem sua língua materna a ponto de, conforme frisa o gramático
Evanildo Bechara (2008), serem “poliglotas dentro da própria língua”.
Referências
BAKHTIN, M. Marxismo e �loso�a da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1988.
BECHARA, E. A sabedoria do equilíbrio. In: O Estado de S. Paulo. 6 abr. 2008. Disponível em: //academia.org.br/noticias/sabedoria-do-equilibrio-por-mestre-bechara. Acesso em: 28 maio 2019.
BRASIL. Por uma vida melhor. 2013. Disponível em: //www.bibliotecadigital.abong.org.br/bitstream/handle/11465
/1631/139.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 28 maio 2019.
CARDOZO, G. L. O preconceito linguístico proveniente das páginas de O Globo: uma visão positivista e superada do ensino de
língua nas escolas. In: Áquila. n. 10. 2014. Disponível em: //ojs.uva.br/index.php?journal=revista-aquila&page=article&op=view&
path%5B%5D=181. Acesso em: 28 maio 2019.
DANA, S. A importância da educação para o desenvolvimento econômico. In: G1. 23 nov. 2017. Disponível em: //g1.globo.com
/economia/blog/samy-dana/post/importancia-da-educacao-para-o-crescimento-economico.html. Acesso em: 28 maio 2019.
GUEDES, D. Psicólogos: a cura pela palavra. In: Superinteressante. 31 out. 2016. Disponível em: https://super.abril.com.br/saude
/psicologos-a-cura-pela-palavra/. Acesso em: 28 maio 2019.
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. São Paulo: Zaher, 1978.
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