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FILOSOFIA DA LINGUAGEM

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Prévia do material em texto

PROFESSOR
Dr. Diego Luiz Miiller Fascina
Filosofia da 
Linguagem
ACESSE AQUI O SEU 
LIVRO NA VERSÃO 
DIGITAL!
EXPEDIENTE
Coordenadora de Conteúdo 
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Projeto Gráfico e Capa
André Morais, Arthur Cantareli e 
Matheus Silva
Editoração
Dario Claros Mercado
Design Educacional
Giovana Vieira Cardoso
Curadoria
Cleber Rafael Lopes Lisboa
Revisão Textual
Ana Caroline Canuto de Sousa Ba-
niogli
Ilustração
André Azevedo
Fotos
Shutterstock
DIREÇÃO UNICESUMAR
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia 
Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de 
Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas 
Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de 
Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia 
Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia 
Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de 
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino 
de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 
Impresso por: 
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. 
Núcleo de Educação a Distância. FASCINA, Diego Luiz Miiller.
Filosofia da Linguagem. Diego Luiz Miiller Fascina. 
Maringá - PR: Unicesumar, 2022. Reimpresso em 2023.
200 p.
ISBN 978-65-5615-901-0
“Graduação - EaD”. 
1. Linguagem 2. Filosofia 3. Reflexões Filosóficas. 4. EaD. I. 
Título. 
CDD - 22 ed. 401 
FICHA CATALOGRÁFICA
02511191
Diego Luiz Miiller Fascina
Sou o prof. Diego Luiz Miiller Fascina, responsável pela es-
crita de Filosofia da Linguagem, livro que chega agora até 
você. Esse material foi preparado com bastante rigor e 
amor, marcas que tento sinalizar em todos os meus traba-
lhos. Você perceberá que para além dos inúmeros concei-
tos, discussões e reflexões abordadas há uma de minhas 
grandes paixões enlaçando e, de certa maneira, explicando 
o conteúdo: a arte. As músicas de Caetano Veloso, os textos 
de Clarice Lispector, os filmes de Bergman e Tarkovsky, 
além de tantas outras referências que foram comentadas 
estão sempre comigo dando sentido para a minha vida. Se 
tudo é linguagem, a artística é uma das minhas preferidas. 
Não é à toa que me formei em Letras e fiz especiali-
zação em História da Arte. Depois, realizei Mestrado em 
Letras (Estudos Literários) com uma dissertação sobre a 
obra de Clarice Lispector. Esse estudo tornou-se um livro 
cujo título é Clarice Lispector: uma leitura materialista laca-
niana, trabalho que muito me orgulha. A base da análise 
está ancorada no pensamento de Slavoj Zizek, rapidamen-
te discutido em uma das unidades. 
Na sequência, realizei Doutorado em Letras (Estudos 
Literários) com uma tese sobre a obra do cantor e com-
positor Cazuza, lenda e legenda dos anos 1980. Além da 
obra de Cazuza, a tese também abordou o rock e o Brasil 
daquela década. Novamente, o escopo para leitura se 
centrou no materialismo lacaniano de Zizek que, como 
deve ter ficado explícito, é um dos temas fundamentais 
de minhas pesquisas.
Posteriormente, realizei um estágio de Pós-Doutorado 
em Ciências da Linguagem, com estudo a respeito de pro-
gramas de auditório dos anos 1980, e outro estágio em 
Psicanálise, com estudo a respeito das obras de Cazuza 
e de Renato Russo. Na última década, venho realizando 
formação continuada em Psicanálise com ênfase na obra 
de Jacques Lacan. 
Como você pode perceber, esse livro, que agora se 
inicia, espelha uma faceta daquilo que sou, tanto na vida 
privada, quanto na vida profissional. Espero que ele seja 
uma boa companhia.
Desejo bons estudos!
Um abraço,
http://lattes.cnpq.br/5927151835285131
http://lattes.cnpq.br/5927151835285131
“No Início era o Verbo, e o Verbo estava voltado para Deus, e o Verbo era Deus. Ele 
estava no início voltado para Deus. Tudo foi feito por meio dele; e sem ele nada se fez 
do que foi feito”. Esses são os versículos do prólogo do belo Evangelho de João. O Ver-
bo, mais do que uma categoria gramatical, pode ser entendido como a palavra, aquilo 
que nomeia uma coisa. No sentido bíblico, o Verbo é a palavra de Deus. E a palavra de 
Deus tudo criou, inclusive, Jesus que é o Verbo feito carne.
Observemos, com mais atenção, a citada passagem evangelística: se tudo é feito 
pela palavra, se ela é categoria básica da comunicação, se nada se faz sem ela, então 
é a linguagem o nosso elemento fundador, a nossa fonte da vida, e a nossa tábua de 
salvação. A linguagem é, também, um oráculo, um Cavalo de Tróia, uma pedra no 
caminho, uma via de mão dupla. É símbolo da nossa vida primitiva e da nossa mais 
profunda civilização.
Esse é, apenas, o nosso princípio de reflexão acerca da potência da linguagem. 
Nas cinco unidades de seu material didático, você, estudante, percorrerá comigo, mo-
mentos de grande importância para a compreensão desse vasto campo de estudo. 
O enfoque está nas relações da Linguagem com a Filosofia. É por esse motivo que 
a Filosofia da Linguagem se tornou uma disciplina com estatuto próprio que enlaça, 
definitivamente, esses dois campos.
Nesse percurso, iniciaremos com os primórdios das reflexões filosóficas a respeito 
da linguagem até contribuições feitas na época do Iluminismo: o Crátilo, de Platão, 
alguns textos de Aristóteles até atingir a visão de Locke e de Rousseau. Verificaremos 
que, gradativamente, essas contribuições foram se injetando, cada vez mais, de preo-
cupações de cunho filosófico.
É a partir de Frege, Russell e Wittgenstein que temos, pois a sistematização da 
disciplina conhecida como Filosofia da Linguagem. Essa trindade enlaça filosofia e lin-
guagem por meio de conceitos que envolvem o sentido e referência, o atomismo lógico 
e, de modo mais amplo, em torno de análises que se baseiam nas relações existentes 
entre linguagem, pensamento e mundo.
FILOSOFIA DA LINGUAGEM
A Linguagem, por intermédio da Ciência Linguística, também merece destaque: des-
de os estudos clássicos, passando pela Idade Média até o Renascimento, no entanto, o 
foco recai, no pensamento de Saussure e nos desdobramentos de sua contribuição no 
decorrer do século XX: o gerativismo de Chomsky, as funções da linguagem propostas 
por Jakobson, a sociolinguística etc.
Posteriormente, a Psicanálise é comentada: se, para essa terapêutica, a cura se dá 
por meio da palavra falada, algumas das contribuições de Freud e de Lacan, seu mais 
prolífico herdeiro, serão sumariamente expostas: de qual linguagem é feita nossos 
sonhos? O Inconsciente é estruturado como uma linguagem? E, de fato, a linguagem 
dá conta de explicitar o que eu desejo? Essas são algumas das reflexões discutidas no 
decorrer do material.
Por fim, mas muito longe de esgotarem as relações entre filosofia e linguagem, o 
pensamento de Heidegger traz à baila, em um primeiro momento, por meio de Ser e 
o tempo, a ontologia do ser e, posteriormente, a compreensão da clareira do ser. É a 
linguagem, o élan e o resultado dessa análise.
Como anunciamos anteriormente, é impossível esgotar a compatibilidade existente 
entre filosofia e linguagem. Dizemos mais: é tarefa ingrata tentar estabelecer um sim-
ples mapeamento entre essas relações. Com o conteúdo desse livro não foi diferente:não se assuste, estudante, se em muitos momentos, você sentir falta de referências 
importantes ou sentir a necessidade de alguma reflexão mais acurada que não veio. 
É preciso fazer escolhas. E, quando escolhemos, algo é deixado para trás. Esse livro 
tem o intuito de trazer uma notícia acerca da filosofia da linguagem. Ele deve ser um 
farol, um trampolim para estudos mais amplos e específicos a respeito dessa área tão 
significativa e fundamental para a sua formação acadêmica.
Espero que ele cumpra essa simples função.
Um abraço,
O Autor.
IMERSÃO
RECURSOS DE
Ao longo do livro, você será convida-
do(a) a refletir, questionar e trans-
formar. Aproveite este momento.
PENSANDO JUNTOS
NOVAS DESCOBERTAS
Enquanto estuda, você pode aces-
sar conteúdos online que amplia-
ram a discussão sobre os assuntos 
de maneira interativa usando a tec-
nologia a seu favor.
Sempre que encontrar esse ícone, 
esteja conectado à internet e inicie 
o aplicativo Unicesumar Experien-
ce. Aproxime seu dispositivo móvel 
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex-
plore as ferramentas do App para 
saber das possibilidades de intera-
ção de cada objeto.
REALIDADE AUMENTADA
Uma dose extra de conhecimento 
é sempre bem-vinda. Posicionando 
seu leitor de QRCode sobre o códi-
go, você terá acesso aos vídeos que 
complementam o assunto discutido.
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
OLHAR CONCEITUAL
Neste elemento, você encontrará di-
versas informações que serão apre-
sentadas na forma de infográficos, 
esquemas e fluxogramas os quais te 
ajudarão no entendimento do con-
teúdo de forma rápida e clara
Professores especialistas e convi-
dados, ampliando as discussões 
sobre os temas.
RODA DE CONVERSA
EXPLORANDO IDEIAS
Com este elemento, você terá a 
oportunidade de explorar termos 
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar 
Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do 
aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881
APRENDIZAGEM
CAMINHOS DE
1 2
3 4
5
ASPECTOS DA 
LINGUAGEM NOS 
PRIMÓRDIOS DA 
FILOSOFIA 
11
FREGE, RUSSELL 
E WITTGENSTEIN: 
A LINGUAGEM 
NO CENTRO 
DA REFLEXÃO 
FILOSÓFICA
47
77
A CIÊNCIA 
LINGUÍSTICA
125
PSICANÁLISE E 
LINGUAGEM
163
OS CAMINHOS 
DA LINGUAGEM 
EM MARTIN 
HEIDEGGER
1Aspectos da Linguagem nos Primórdios da 
Filosofia 
Dr. Diego Luiz Miiller Fascina
Na I unidade de seu material de estudos, você entrará em contato 
com alguns momentos fundamentais para compreendermos a evo-
lução da Filosofia da Linguagem. Trata-se de comentários a respeito 
de alguns dos maiores filósofos, não apenas da Antiguidade Clássica, 
mas da História da Filosofia: Platão, Aristóteles e, também, Porfírio, 
Boécio, Guilherme de Ockham, Rousseau, dentre outros. Esses filó-
sofos, embora não trouxessem para o núcleo de suas preocupações 
a questão da linguagem, ela aparece de maneira transversal em suas 
contribuições filosóficas. Dessa maneira, ficará claro para você que, 
mesmo antes da Filosofia da Linguagem se tornar uma disciplina for-
mal, a natureza da linguagem e algumas de suas particularidades já 
eram discutidas por vários filósofos.
UNIDADE 1
12
“Palavras não têm capacidade de traduzir sentimentos. As palavras são moles”. 
Essa frase foi proferida por Aleksei, personagem do filme O espelho, lançado em 
1975, e considerado uma das principais obras do cineasta russo Andrei Tarkovski. 
A película possui um complexo trabalho estrutural que rompe com a linearidade 
e permite que o espectador mergulhe em fases distintas da vida do personagem: 
o pré (1935), o durante (anos 1940) e o pós-guerra (anos 1960 em diante). 
Nesse turbilhão temporal, símbolos, alegorias, mensagens cifradas, elementos 
oníricos e espaços distintos vão construindo uma narrativa fílmica repleta de 
reflexão filosófica e psicanalítica. Uma hipótese de interpretação do título seria, 
pois, que o espelho é o reflexo do percurso não apenas de Aleksei, mas de todos 
nós, isto é, enxergamos a nossa própria história, nossos dramas humanos, na tela. 
E, no caso específico, a própria história da Rússia. 
Posto isto, de que modo O espelho, especialmente, a frase citada se relaciona 
com a proposta deste livro? Tanto a frase quanto o filme e, também, a Filosofia 
da Linguagem compreendem que o homem é um ser de linguagem. Absoluta-
mente, tudo que fazemos é linguagem: pensar, expressar sensações e sentimentos, 
descrever as coisas, elaborar a comunicação. 
13
Linguagem é a ponte que conduz o homem ao mundo e o homem a si mesmo. 
E as palavras moles? Em que sentido essa combinação tão inusitada nos auxilia no 
entendimento da proposta? A primeira parte da frase explica: as palavras não dão 
conta de explicar tudo, sempre há muito por se dizer. E é possível que nunca seja 
dito. Essa possibilidade parece fazer referência a esse que, talvez, seja o grande dra-
ma humano: falhar na comunicação. Seríamos, todos nós, seres do engano? Seres 
atropelados pela linguagem? Afinal, qual é o trabalho da Filosofia da Linguagem?
Segundo Frédéric Nef (1995, p. 8-9), uma reflexão de caráter filosófico deve com-
binar os seguintes traços: 
I - Superação do conceito empírico de língua por um conceito geral da lingua-
gem, passagem da diversidade das línguas para a unidade da linguagem. 
II - Existência de uma problemática da origem da linguagem. 
III - Estabelecimento de uma relação entre a linguagem e as operações do 
espírito (linguagem e pensamento). 
IV - Problematização da representação da realidade pela linguagem. 
V - Avaliação da linguagem como instrumento de ações cognitivas (racio-
cínio, expressão das emoções etc.).
Partindo destas reflexões iniciais, escolha um texto, um filme ou uma música que 
problematize a natureza ou outras questões que envolvem a linguagem. Sabemos 
que tudo é feito de linguagem, mas nesse caso a obra selecionada precisa colocar, 
em relevo, a problematização citada. Verifique, na obra escolhida, como a linguagem 
está construída, qual é o nível de comunicação existente entre os envolvidos, quais 
os efeitos que ela causa. Anote as impressões que tal obra lhe causou, focando a 
atenção no campo da linguagem. Lembre-se de citar a autoria, o ano de lançamento/
publicação e aspectos do contexto, pois ele auxiliará na compreensão da proposta.
NOVAS DESCOBERTAS
A seguir, para aguçar sua curiosidade, segue uma crítica de O espelho, feita 
por Arthur Tuoto: 
UNICESUMAR
UNIDADE 1
14
Agora que já percorremos alguns aspectos pelos primórdios das discussões a 
respeito da Linguagem, sugiro que você anote, de modo organizado, quais são as 
principais contribuições de Platão e de Aristóteles, e de que maneira, Porfírio, Boé-
cio e Ockham, dentre outros filósofos citados revisam o pensamento aristotélico. 
Certamente, depois desse trabalho feito, suas reflexões serão mais claras e objetivas.
15
“Dizer algo falso não será dizer o que não é?”: Os 
impasses com a linguagem em Crátilo, de Platão.
Descrição da Imagem: Descrição de imagem: a imagem trata-se de um mosaico romano colorido do século I 
a.C. Há sete figuras masculinas, formando um semicírculo. O da esquerda está mais à frente da imagem, tem 
barba e cabelo grisalhos, está com suas mãos levantadas na altura do peito, como se estivesse falando e ges-
ticulando, ele veste uma túnica amarela com seu ombro e peito direito desnudo. Perto do seu pé esquerdo, 
há uma caixa amarela entreaberta. Os outros homens estão sentados e outros em pé, também com túnicas 
e seus rostos estão voltados para o homem de túnica amarela. Há outra caixa amarela aberta no centro da 
imagem. Algumas colunas, objetos e árvores no fundo constituem o cenário que é a Academia de Platão.
Figura 1 – A academia de Platão Fonte: Wikimedia Commons ([2022]a, on-line).
UNICESUMAR
UNIDADE 1
16
A linguagem possui papel de atravessamento no desenvolvimento do sujeito, poisé por meio dela que as sociedades se estruturam, criam identidades, organizam 
pensamentos, além de ser o instrumento da comunicação. Não é à toa que ela 
tenha chamado a atenção da Filosofia desde os primórdios.
A sociedade grega sempre foi afetada pelos efeitos da linguagem, todavia, essa 
sociedade precisou passar por um processo de negação do uso corrente da oralidade, 
presente, sobretudo, nas tradições poéticas e religiosas para dar início a técnica da Era 
Escrita e para estudar, mais profundamente, a linguagem e suas inúmeras habilidades.
Monteiro Jr (2010) nos lembra que o século V a.C é um marco expressivo no 
quesito intelectual para o mundo grego, pois foi nesse período que a linguagem 
escrita foi propagada. Nessa mesma época, houve o auge do sistema democrático 
em Atenas, tornando a cidade o centro do mundo antigo. E nesse turbilhão, os 
primeiros relatos a respeito dos estudos técnicos envolvendo a linguagem apa-
recem, sobretudo com os sofistas. Para o crítico anteriormente citado, os sofistas 
são conhecidos como mestres da oratória ou da retórica e foi por meio deles que 
a linguagem ganhou caráter autônomo e tornou-se fértil campo de investigação.
Os pré-socráticos eram muito interessados na linguagem. Parmênides (530 
a. C - 560 a. C), por exemplo, formulou o princípio da correspondência entre o 
pensamento e o ser. O trecho seguinte é muito explorado: 
“o que é, é, e não pode não ser; o que não é, não é, e não pode ser; O que é, 
pode ser pensado ou conhecido, expresso ou realmente nomeado; o que não 
é, não o pode” (LOPES, 1991, p. 98). 
Górgias (485 a.C - 380 a. C) também se preocupou com a linguagem, embora não 
tenha se debruçado exaustivamente sobre o assunto. Acompanhe o fragmento e 
observe como o filósofo reflete sobre a questão semântica da linguagem:
 “ Pois se existem seres visíveis, audíveis e universalmente sensíveis, e de uma existência que nos é exterior, desses seres, os visíveis são percebidos pela vista, os audíveis pelo ouvido, e esses sentidos não 
podem trocar os seus papéis. Assim sendo, como se poderá revelar 
a outrem esse ser? Pois o meio que temos de revelar é o discurso; e 
o discurso não é nem as substâncias nem os seres: não são, pois, os 
seres que nós revelamos àqueles que nos cercam; nós só lhes reve-
17
lamos um discurso que é diferente das substâncias. Assim como o 
visível não pode tornar-se audível, ou o contrário, assim também o 
ser que subsiste exteriormente a nós não poderia tornar-se nosso 
discurso: não sendo discurso, ele não poderia ser manifestado a 
outrem. Quanto ao discurso [...], sua constituição resulta das im-
pressões vindas dos objetos exteriores, isto é, dos objetos da sen-
sação: do encontro com o seu saber nasce em nós o discurso que 
será proferido com relação a essa qualidade, e da impressão da cor, 
o discurso referente à cor. Se é assim, o discurso não manifesta o 
objeto exterior; pelo contrário, é o objeto exterior que se manifesta 
no discurso (NEF, 1995, p. 12).
Ainda na Antiguida-
de Clássica, uma das 
primeiras referências 
à questão advém de 
Platão (428/427 a. C - 
348.347 a. C), um dos 
filósofos centrais do 
mundo ocidental: tra-
ta-se, mais especifica-
mente de Crátilo, um 
de seus diálogos mais 
cômicos e difusos.
Os estudiosos de 
Platão afirmam que esse 
diálogo faz parte da fase 
intermediária da obra do 
filósofo, pelo fato de que 
o texto possui uma es-
trutura narrativa que se 
aproxima dos diálogos 
aporéticos (da primeira fase), em que Sócrates, com base em seu elenchos, debate 
os elementos da tese de seu interlocutor, mas se afasta tematicamente, pois trata 
de linguagem, verdade e significação que eram temas recorrentes da fase anterior.
UNICESUMAR
UNIDADE 1
18
Em linhas gerais, o Crátilo, de Platão, aborda uma análise “de cada nome- de 
seu sentido – individualmente, visando o melhor uso das palavras” (MONTEI-
RO JR, 2012, p.14). Ademais, além desse estudo individual, havia também, uma 
espécie de estabelecimento das categorias gramaticais. E 
 “ [...] no que diz respeito a tal investigação, costuma-se dizer que Pro-tágoras teria sido o primeiro a fazer uma distinção das partes do dis-curso (logos) em desejo, questão, resposta e ordem. Teria, também, 
o mesmo sofista sustentado a distinção dos nomes em três gêneros: 
masculino, feminino e o que se refere a objetos inanimados. No caso 
de Górgias, temos um relato de que ele escreveu um onomastikon que 
visava estudar detalhadamente alguns nomes. Ainda poderíamos falar 
de outros sofistas, como Pródico, citado por Sócrates, que se ocupou, 
sobretudo, da distinção entre sinônimos, e Hípias, que tratou do valor 
das letras e sílabas, dos ritmos e dos modos. Enfim, percebemos que 
esse estudo acerca das propriedades das palavras era, poderíamos di-
zer, um modismo na época dos sofistas (MONTEIRO JR, 2012, p.17).
Feito esses comentários, passemos para questões estruturais: podemos dividir 
essa obra em duas partes, de acordo com os interlocutores de Sócrates: Her-
mógenes, que ocupa três partes do diálogo e Crátilo, que ocupa o quarto final. 
No entanto, a rigor, a obra possui três movimentos: uma rápida apresentação 
do tema (383a-384e); seguido da primeira parte, composta pelo diálogo entre 
Sócrates e Hermógenes (385a-427d), contando ainda, na primeira parte, uma 
longa seção a respeito das etimologias (396d-421c); e, finalmente, o diálogo 
entre Sócrates e Crátilo (428b-fim).
Inicialmente, Hermógenes expõe para Sócrates as questões que se confrontam 
em relação ao fundamento da linguagem: Hermógenes afirma que os nomes são 
usados corretamente quando seguem convenção (syntheke) ou acordo (homo-
logia) e dependem do uso e do costume (nomos e ethos). Já para Crátilo, cada 
coisa tem apenas um nome por natureza (physis) e tal denominação é a mesma 
para todos, gregos e bárbaros. Em outras palavras, para Crátilo, as coisas têm um 
nome apropriado que fogem da denominação que lhes foram convencionadas, 
se aproximando, dessa maneira, da teoria naturalista dos nomes. Já para Hermó-
genes, os nomes são convenções humanas.
19
Frente às duas posições, Sócrates decide examiná-las. É interessante perceber 
que Platão traz à baila um debate comum na época dos sofistas: a oposição entre 
nomos e physis; e em Crátilo há duas figuras cujas correntes de pensamentos são 
diferentes: Hermógenes que se relaciona com as inovações temáticas tratadas pe-
los sofistas e Crátilo, que segue a linhagem tradicional dos primeiros pensadores 
gregos, sobretudo Heráclito.
Em um primeiro momento, o diálogo se funda em sua crítica, pois a “conse-
quência mais imediata seria a total impossibilidade de conhecimento por meio 
da linguagem, devido ao seu caráter completamente arbitrário, dando nesse caso 
razão aos sofistas, para os quais basta falar para dizer a verdade” (PIQUÉ, 1996, 
p.172). Sócrates busca reduzir essa questão arbitrária ressaltando a importância 
da convenção para a coletividade em detrimento do subjetivo. Posteriormente, 
no decorrer do diálogo, ele “limita a convenção a convencionar o verdadeiro” 
(PIQUÉ, 1996, p.172). Como Hermógenes se põe resistente, Sócrates critica a tese 
de Protágoras da não-existência nas próprias coisas de uma essência de algum 
modo permanente” (PIQUÉ, 1996, p.172), pois para o sofista, não há essência, só 
aparência, isto é, não há verdade absoluta, porque todo conhecimento é pessoal.
UNICESUMAR
UNIDADE 1
20
Dessa maneira, para Sócrates, as coisas são em si mesmas, possuem 
essência permanente, não dependem da relação estabelecida co-
nosco e não podem ser deslocadas de sua essência para explicar 
nossas fantasias. Nessa esteira, Piqué (1996, p.172) conclui:
 “ Assim, o Mundo, sejam os objetos, sejam as ações, tem uma organização permanente. A diferença ne-cessária entre o bom e o mau, o judicioso e o insen-
sato, a razão e a sem-razão, diferença esta herdada por 
Platão do socratismo puro, implica nisso. Da mesma 
forma que a natureza de um corte depende da nature-
za do objeto cortante e da naturezado objeto cortado, 
o dizer humano deve procurar recortar o Mundo se-
gundo a natureza desse mesmo Mundo. Toda técnica 
humana, techne, se apoia na physis e age conforme 
sua própria natureza. Exemplificando: se uma tesoura 
corta uma folha de papel, é porque a folha é “cortável”, 
isso faz parte de sua natureza. O Mundo também, “se 
é recortado” pela linguagem, é devido a sua natureza, 
da qual faz parte ser recortável assim, ou dizendo o 
mesmo de outro modo, “conjuntizável” assim, já que o 
que existe é uma única operação: separar-reunir. Mas 
isso não significa que o seja de qualquer maneira. O 
Mundo não admite qualquer sentido.
No desenvolvimento do diálogo, mais especificamente na terceira 
parte, Hermógenes se põe resistente à crítica de Sócrates e solicita um 
exemplo da natural exatidão dos nomes. Sócrates corrige, afirman-
do que, na verdade, trata-se de uma certa correção e não de nomes 
exatos, concluindo que há algo de certo no que Crátilo afirma, em 
outras palavras, que os nomes das coisas derivam de sua natureza.
A partir daí, Sócrates cita 140 nomes para criticar o natura-
lismo linguístico e para expor as falhas do método etimológico. 
Inclusive, Sócrates sugere que Hermógenes observe os poemas 
homéricos, pois neles há uma distinção entre os nomes dados por 
21
deuses e os nomes dados pelos homens, como é o caso do rio Xan-
to-Escamandro ou Astianax-Escamandrio para o filho de Heitor.
Na quarta e última parte do diálogo, Platão faz uma crítica fer-
renha à teoria naturalista e suas teses. Ele refuta, conforme Piqué 
(1996), que a correta aplicação dos nomes consiste em observar 
como a coisa é constituída, pois a criação desses nomes primi-
tivos implica erros e falsidade entre as palavras. Para Sócrates 
(1973), os nomes não são reproduções exatas e a sua natureza é a 
de apresentar semelhanças, uma vez que a própria representação 
não deixa de ser uma representação. Ou seja, “não é como dizia 
Hermógenes, nem falsas nem verdadeiras, e nem como Crátilo, 
para o qual eram sempre verdadeiras” (PIQUÉ, 1996, p.179). 
Dessa forma, para Platão, um objeto só seria bem nominado se 
os seus traços estivessem presentes no onoma. Como não é possí-
vel, uma vez que há letras sem semelhanças que transmitem outros 
sentidos, a comunicação precisa de elementos da convenção para 
constituir a naturalidade da coisa.
Platão (1973) também critica a tese de que a enunciação dos 
nomes tem por finalidade a instrução sendo seu único método 
verdadeiro, pois, como já foi salientado, os nomes podem trazer 
em si um elemento da convenção que é arbitrário ou porque pode 
haver erros na denominação e porque só é possível conhecer as 
coisas pelos nomes. 
Como os primeiros responsáveis por nomearem as coisas no-
mearam as coisas sem os nomes primitivos ainda fixados? Para 
resolver essa questão, Platão descarta rapidamente uma explicação 
divina e afirma que o estudo das coisas deve vir da própria coisa e 
não por meio de seus nomes.
A questão da mobilidade das coisas sensíveis, traz para o cen-
tro da roda a impossibilidade de se pensar em um discurso ver-
dadeiro ou até conhecido. Crátilo, que acreditava piamente em 
sua teoria, preferia apontar o dedo quando fosse fazer referência 
para algo. Acompanhemos um trecho do diálogo:
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 Crátilo – De que modo, Sócrates, dizendo a alguém o que diz, poderá não 
dizer o que é? Dizer algo falso não será dizer o que não é?
Sócrates – Esse conceito, camarada, é por demais sutil, tanto para mim 
como para minha idade. Não obstante, responde-me ao seguinte: admites 
que não se possa dizer falsidade, mas que se possa falar?
Crátilo – Penso que nem falar, também!
Sócrates – Nem chamar ou saudar alguém? Por exemplo, se alguém te 
encontrasse no estrangeiro e, tomando-te da mão, te dissesse: Salve, fo-
rasteiro Ateniense, Hermógenes, filho de Esmicrio! Essa pessoa diria, ou 
falaria, ou se dirigiria, ou saudaria, não a ti, mas ao nosso amigo Hermó-
genes? Ou a ninguém?
Crátilo – No meu modo de pensar, Sócrates, o que essa pessoa dissesse 
careceria inteiramente de sentido.
Sócrates – Com isso fico satisfeito. Porém, falando desse jeito, quem as-
sim falasse teria dito verdade ou mentira? Ou parte do que dissesse seria 
verdade, e parte mentira? Isso também me bastará.
Crátilo – Diria que essa pessoa só produzi-
ra um ruído, e que se agitara inutilmente, 
como se dá com o objeto de metal que 
percutimos. (PLATÃO, 1973, p.170-171)
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Observe, no fragmento anterior, que Platão aponta que o discurso possui nature-
za híbrida, ou seja, é falso e verdadeiro. A palavra, no sentido platônico, é a repre-
sentação do inteligível e mesmo que problemáticas, as duas teses, de Hermógenes 
e de Crátilo, se convergem, pois possuem algo do verdadeiro eidos do onoma.
Nos aproximando mais especificamente do interesse desse tópico, a per-
gunta que insiste é a seguinte: de que maneira, o Crátilo, de Platão, é um 
texto importante para pensarmos a filosofia da linguagem e situá-lo, aqui, nos 
primórdios dessa discussão? Essa resposta é, deveras, complexa. Que o Crá-
tilo traz a linguagem e seus usos é um fato incontestável, ademais, apresenta 
algumas linhas de pensamento e suas possíveis falhas e faz menções aos pen-
sadores fundamentais para o estudo da linguagem, inclusive, algumas dessas 
bases aparecerão, mais pormenorizadamente, em outro diálogo platônico, o 
Sofista. Mas foquemos em mais alguns pontos da última parte do diálogo.
Na argumentação que tem o intuito de desmontar o posicionamento de Crá-
tilo, há um certo pessimismo com a linguagem. Esse pessimismo está relaciona-
do com a afirmação de que se, de fato quisermos conhecer as coisas, devemos 
nos focar nelas e não em seus nomes, uma vez que elas são imagens imperfeitas. 
Platão parece querer propor outro tipo de contato quando desvaloriza o nome 
como canal de acesso, mas esse novo contato não é mencionado no Crátilo.
Esse posicionamento abre margem para que alguns estudiosos pontuem 
que não há uma filosofia da linguagem em Platão. É o caso, por exemplo, de 
Aubenque (1974), que afirma que para Platão a filosofia não se deve tornar 
uma ciência das palavras, mas um estudo a respeito das coisas tais como 
elas são. Já Goldschmidt (1940) compreende que o Crátilo é uma vitrine 
que demonstra pontos de algumas teorias da linguagem daquela época, e 
que Platão tinha em mente um projeto mais audacioso: a construção de uma 
linguagem ideal em que os estudos de todos os nomes serviriam para uma 
verdadeira filosofia. Esse crítico, afirma, ainda, que Platão reconhecia o limite 
dos nomes, e que também reconhecia que a dialética transcende os nomes, 
mas como atividade, depende deles e, por esse motivo, é preciso criar uma 
terminologia que atenda às necessidades filosóficas.
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Dessa maneira, a resposta para a pergunta feita, se há ou 
não filosofia da linguagem em Crátilo, essa aula não pretende 
entrar na disputa. O intuito aqui é explicitar que Platão tratou 
a linguagem. Esse tratamento foi feito de modo inovador, pois 
Platão se afastou de duas teses recorrentes nos estudos lin-
guísticos do período: o relativismo-subjetivista dos Sofistas 
e o pensamento naturalista dos Pré-Socráticos. Ademais, esse 
diálogo platônico nos dá uma dimensão bastante interessante 
a respeito do desenvolvimento da linguística no mundo grego, 
além de nos deixar um material importante para compreen-
dermos a linguística dos gregos.
Borba (1971) contribui e esclarece a discussão afirmando 
que, sendo três interlocutores - Crátilo, Hermógenes e Sócrates,
 “ O primeiro defende o entranhamneto entre a palavra e o objeto; o segundo discorda e diz que a dominação precede consoante o uso e pede a opinião de Sócrates. 
Este concorda com Crátilo e cita uma série de exem-
plos – os heróis (gr. heroes) recebem tal nome porque 
são filhos do amor (eros) entre um deus ou deusa e 
um mortal ou porque são hábeis oradores (gr. réto-
res); ou deuses (gr.theoi) se identificam com astros,e o 
sol, a lua e a terra têm por natureza girar (gr. gyreuo). 
Acrescenta também que as letras têm determinadas 
propriedades e por meio delas se pode chegar a uma 
correlação entre o nome e a coisa: r denota vibração – 
rheo (fluir), rhóe (corrente); l é brando e fluido – leios 
(liso), lícarós (untuoso) etc. Não se sabe se Sócrates 
brincava ou falava a sério porque logo depois diz que 
tal não é exato como se vê em sklerós (duro) apesar 
do l. (BORBA, 1971, p.13)
Pensemos, a partir de agora, no posicionamento aristotélico 
a respeito da linguagem e nos embates estabelecidos com o 
pensamento platônico.
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A Questão da Linguagem em Aristóteles
Embora não haja, em Aristóteles (384 aC - 322 a. C), um tratado específico a respeito 
da linguagem, ela é ponto fundamental de sua filosofia, pois é relacionada com as 
questões que envolvem à lógica e como possibilidades de diferentes formas de ex-
pressão, tais como a poesia, a retórica, o teatro etc., basta pensarmos, por exemplo, 
em alguns de seus mais famosos textos: a Metafísica, a Poética, a Retórica, o con-
junto enfeixado em Órganon. Em outras palavras, para esse filósofo, a realidade só 
pode ser examinada por meio da compreensão do funcionamento da linguagem.
Descrição da Imagem: na tela vemos Aristóteles. Ele está sentado, com as pernas semicruzadas, veste 
túnica marrom e sandálias. Possui barba e é ligeiramente calvo. E faz anotações em um papel enquanto 
observa fixamente algum ponto que não é apresentado ao espectador da tela.
Figura 2 - Aristóteles, de Francesco Hayez (1811) / Fonte: Wikimedia Commons ([2022]b, on-line).
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Diferentemente de Platão, Aristóteles não pensa na “doutrina semântica da 
decomposição da proposição em nome e verbo (em onoma e rhema), e sim da 
decomposição da proposição em sujeito, cópula e predicado” (NEF, 1995, p.18). 
Ademais, como já salientamos,
 “ [...]não encontramos em Aristóteles uma obra específica sobre a linguagem ou semântica. Encontramos, sim, em várias obras, o exa-me da linguagem visando outros temas (lógica, inferência, a disputa 
contra os sofistas). Pode-se dizer que é nos textos lógicos, retóricos, 
sobre a argumentação, que se descobrirão as suas opiniões sobre a 
linguagem (NEF ,1995, p. 20).
Descrição da Imagem: : a imagem é uma fotografia das ruínas de uma antiga biblioteca romana cons-
truída em mármore, o ângulo da foto está de baixo para cima, voltada um pouco na diagonal para a 
esquerda. Na direita, há um texto talhado em uma parede estreita na língua grega com aproximadamente 
vinte linhas. Logo do lado direito, há uma base de uma coluna, há uma frase talhada em grego. Na parte 
esquerda da foto, tem cinco colunas Coríntias, e mais quatro colunas do mesmo estilo na parte cima das 
ruínas. No centro ao fundo, há uma parede com uma janela e o que parece ser uma estátua.
Figura 3 - Inscrição de um texto em grego na Biblioteca de Celsus, na antiga cidade grega de Éfeso, 
atual Turquia
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Na Poética, por exemplo, Aristóteles traz os enunciados e os elementos que o 
compõem, a citar: sílaba, conjunção, nome, verbo e as flexões nominais e verbais. 
Ademais, para o estagirita, um enunciado ou é uma coisa apenas ou é o resultado 
da junção de várias partes, o importante é diferenciar quais elementos possuem 
sentido e indicam referência. Por exemplo, nomes como Luís indicam referência, 
pois demarcam uma singularidade, enquanto conjunções do tipo “de agora em 
diante” não demarcam referência. E, como sabemos, a conjunção é elemento fun-
damental em um enunciado, pois é a responsável pela ligação entre nome e verbo.
Ainda sobre a Poética, é importante mencionar que ela se tornou, com o de-
correr dos séculos, um marco fundamental para os estudos literários. Conceitos 
como os de arte, poesia, imitação, catarse, verossimilhança, dentre tantos outros, 
possuem imensa repercussão na história da arte e são renovadas e expandidas 
até os dias de hoje pelas modernas teorias. Na Poética, Aristóteles examina os 
gêneros literários e afirma que todos eles têm um ponto em comum: o caráter 
mimético, isto é, a recriação poético-ficcional da realidade. O filósofo vai afirmar, 
conforme Abrão (1999), que a poesia é o gênero que mais se aproxima da filosofia. 
Em uma sucinta comparação, enquanto o historiador narra fatos particulares, a 
poesia “encadeia os acontecimentos imaginados segundo suas causas necessárias. 
Nesse sentido, a poesia tende para o conhecimento do universal, que é o objetivo 
máximo da filosofia” (ABRÃO, 1999, p.67-68).
Em Da interpretação, há a diferenciação entre nome, que é o som que possui sig-
nificação, e o verbo, aquilo que acrescenta à sua própria significação. Faz-se impor-
tante salientar que tanto o nome quanto o verbo possuem significação determinada, 
por esse motivo o verbo “sempre indica algo afirmado a respeito de alguma outra 
coisa [...] o verbo é sempre signo daquilo que se diz de outra coisa, saber de coisas 
pertencentes a um sujeito ou contidas em um sujeito (16b8-16b10)” (NEF, 1995, 
p. 24). A partir daí está estabelecida a relação entre as palavras, as ideias e as coisas 
postas no mundo, porém, como saber se um enunciado é verdadeiro ou equivocado?
 “ O homem real se reciproca segundo a consecução de existência com a asserção que é verdadeira a seu respeito. Efetivamente, se o homem existe, a asserção pela qual dizemos que o homem existe 
também é verdadeira; e, reciprocamente, se a asserção pela qual nós 
dizemos que o homem existe é verdadeira, o homem também existe. 
Entretanto, a asserção verdadeira não é, de modo algum, causa da 
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existência da coisa (pragma); pelo contrário, é a coisa que parece ser, 
de certa forma, a causa da verdade da asserção, pois é da existência 
da coisa ou da sua não existência que depende a verdade ou a falsi-
dade da asserção (Categorias, 14b14-22) (NEF, 1995, p. 26)
Ademais, como salienta Neves (1981), Aristóteles analisa o suporte biológico da 
função linguística quando fala da voz como um som ouvido. O filósofo observa que 
não há um órgão para a fala, uma vez que para que a voz seja produzida é necessária 
a ação de órgãos já capazes de funções biológicas determinadas. “A voz é condição 
para a linguagem, mas não é a linguagem. A capacidade de articular sons implica a 
capacidade de emitir sons, mas a recíproca não é verdadeira” (NEVES, 1981, p.57).
NOVAS DESCOBERTAS
Para saber mais a respeito do pensamento de Aristóteles, assista ao vídeo 
Pensadores - Quem somos nós?, elaborado pelo prof. Dr. Roberto Bolzani 
Filho. Segue o link: 
Na Política, Aristóteles explica a natureza da linguagem. O zôon politikón está ir-
remediavelmente ligado à faculdade do falar, porque sem linguagem não haveria 
sociedade política. Portanto, o homem é um animal político que, naturalmente, 
vive em sociedade. Ao tratar desse tema, Aristóteles, contrariando Platão, não se 
interessa pela idealização de uma cidade justa. Ele revela uma marca muito forte 
de seu tempo: “o ideal da pólis já é letra morta, perante a expansão militar da 
vizinha Macedônia” (ABRÃO, 1999, p. 67). De acordo com Neves (1981, p.58),
 “ A natureza não faz nada em vão e, dentre os animais, o homem é o único que ela dotou de linguagem. Sem dúvida a voz (phoné) é uma indicação de prazer ou de dor, e também se encontra nos outros 
animais; o lógos, porém, tem por fim dizer o que é conveniente ou 
inconveniente e, consequentemente, o que é justo ou injusto. Isso 
é, com efeito, o que é característico do homem em face dos outros 
animais: que só ele tenha o sentimento do bem e do mal, do justo e 
do injusto ou outros valores semelhantes. E é a possessão comum 
desses valores que faz uma família e um Estado.
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11156
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Aristóteles (1968) afirma que a linguagem se faz presente no homem pelo fato de 
ele ser um animal político, e essa vocação poderá ser cumprida por causa de tal 
recurso. É por meio da articulação entre voz e da palavra que é possível distinguiro bem do mal, aquilo que é justo do que é injusto e assim por diante. 
Na relação estabelecida entre a questão biológica e a questão do homem como 
animal político, Neves (1981) salienta alguns pontos em que o logos é posto: além 
da linguagem ser natural ao homem, pois corresponde à sua racionalidade e a 
finalidade de animal político, a crítica afirma que a linguagem é um exercício 
político e, por esse motivo, existe acordo (nomos, synthékc) na fundação da lin-
guagem. Esse acordo é ainda propiciado pela capacidade intelectual do sujeito, 
que tem a capacidade de entender a referência ao campo da linguagem. Por fim, 
assim como existe o Estado, Neves (1981) informa que existe uma forma de lin-
guagem acabada que também expressa a verdade e atinge um discurso que reflete 
a possessão comum da sociedade política perfeita.
A respeito das palavras e das coisas, há duas definições aristotélicas que apa-
recem em Categorias: os homônimos e sinônimos. Homónyma são aquelas coisas 
nas quais apenas o nome é comum, enquanto a noção do nome é ampla; e Si-
nónyma são coisas que possuem comunidade de nome e identidade de noção.
 “ Assim, os nomes são símbolos das coisas, mas a relação entre o conceito (noéma) e o sinal (semeion) ou entre a coisa (prâgma) e o nome (onoma) não é sempre de congruência. Não se cobrem sempre inteiramente con-
ceito e palavra. O que está no som é símbolo do que está na alma, mas não 
necessariamente o conceito que está no som, o significado, é congruente 
com o conceito que está na alma, embora só sob as formas de linguagem 
possam ser apreendidos os conteúdos mentais (NEVES, 1981, p. 59).
Conforme aponta o fragmento anterior, embora haja correspondência entre a 
tríade conceito, palavra e objeto, não há, obrigatoriamente, congruência. Em ou-
tras palavras, a expressão expõe a relação conceitual e, por isso, a coisa, mas entre 
a coisa e o nome não há uma relação de semelhança.
O estagirita desenvolve essa questão, com mais propriedade, em Da inter-
pretação, texto em que afirma que o está emitido nos sons da voz é símbolos 
dos estados da alma e as palavras são símbolos do que é emitido pela voz. Neves 
(1981, p.60) completa afirmando que:
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 “ [...]do mesmo modo que a escrita não é a mesma para todos os ho-mens, as palavras faladas não são também as mesmas, se bem que os estados de alma dos quais essas expressões são signos imediatos 
sejam idênticos para todos, como são idênticas também as coisas 
das quais esses estados são as imagens.
Além disso, Dinucci (2009) afirma que a teoria da linguagem de Aristóteles possui 
uma visão diferente daquela proposta pelos sofistas, principalmente, no que se 
refere à natureza do diálogo entre os sujeitos. Basta pensarmos em Górgias para 
quem a palavra tem uma profunda função persuasiva e não há espaço para fun-
ções de expressão e transmissão do discurso. Para Aristóteles, conforme expõe 
Dinucci (2009), as palavras postas no discurso são dirigidas a alguém e também 
falam de algo determinado. Na relação dialética, os dois interlocutores poderiam 
se contradizer e falar de coisas distintas a respeito do mesmo tema. A partir daí, o 
filósofo analisa dois pontos que poderiam ameaçar a significação uma no âmbito 
da própria teoria da linguagem. Segue um fragmento de sua Metafísica:
 “ E nada importa que alguém diga que [o nome] significa várias coisas, contanto que sejam em número limitado, pois a cada con-ceito se poderia dar um nome diferente; por exemplo, se se dis-
sesse que “homem” não significa uma coisa única, mas várias, das 
quais uma seria “animal bípede”, havendo, porém, vários outros 
enunciados, ainda que em número limitado; pois se colocaria um 
nome particular a cada conceito, e se não se colocasse, mas se se 
dissesse que significava infinitas coisas, é claro que não poderia 
haver raciocínio; pois não significar alguma coisa é não significar 
coisa alguma, e, se os nomes não significam nada, é impossível 
dialogar uns com os outros, e, em verdade, também consigo mes-
mo; não é possível, com efeito, que pense nada aquele que não 
pensa uma coisa [...] O nome [portanto] tem uma significação 
[...] única (ARISTÓTELES, 1970, p.11)
Se aproximarmos esse fragmento de um trecho das Refutações sofísticas, ele ficará 
mais claro:
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 “ Ora, entre nomes e coisas não há semelhança completa: os nomes são em número limitado, assim como a pluralidade das definições, enquanto as coisas são em número indeterminado. É, por conse-
guinte, inevitável que muitas coisas sejam significadas por uma mes-
ma definição e por um mesmo nome (ARISTÓTELES, 1977, p.11).
 Na esteira dessa discussão, Dinucci (2009) aponta que em Aristóteles não é pos-
sível estabelecer uma correspondência biunívoca entre coisas e palavras, isso 
porque as primeiras são em número indeterminado, e as segundas em número 
limitado. A consequência é que a mesma palavra pode significar várias coisas, e 
isso nos guia para a questão da equivocidade.
Essa questão é rapidamente resolvida por Aristóteles. Ele afirma que é preciso 
distinguir as diferentes significações dando um nome diferente para cada uma delas. 
Dinucci (2009) traz um exemplo muito elucidativo: homem e cavalo são animais, e 
o termo “animal” parece um equívoco, no sentido de que parece não significar algo 
específico, no entanto, se for acrescentado uma diferença específica a questão do 
equívoco se dissipa: homem será “animal racional” e cavalo “animal” mais a sua de-
vida diferença específica. Essa diferenciação resolve a discussão, se a palavra possuir 
um número determinado de significações, caso contrário não seria possível falar 
essa palavra e ser compreendido, pois sua significação seria sempre um equívoco.
Merece comentário, a partir de agora, as opiniões que Platão e Aristóteles 
emitiram a respeito da atividade oratória. Ambos elaboraram intensa crítica à 
sofística, no entanto cada um deles tinha um posicionamento diferente em face 
dessa mesma questão. Esse contraste tem sua raiz na divisão do próprio sistema 
filosófico platônico e aristotélico ao relacionar a linguagem e o ser.
Platão condena a oratória com base em uma negação do próprio estatuto da 
linguagem como elemento que media a consciência e a realidade. Em Crátilo, 
Sócrates afirma:
 “ Saber de que maneira deve-se conhecer ou descobrir as coisas que existem está talvez acima de minhas e de tuas forças. Contentemo--nos por convir que não é dos nomes que se deve partir, mas que 
é necessário buscar as coisas partindo antes delas próprias do que 
dos nomes (PLATÃO, 1961, p.439).
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Já Aristóteles, mesmo sabendo do caráter precário da linguagem mediante a reali-
dade que ele pretende representar, uma vez que ele já havia afirmado a infinidade 
do número das coisas, aponta a condição indispensável da linguagem para o pro-
cesso comunicativo e, por esse motivo, as palavras precisam significar uma coisa 
só, pois “se as palavras não possuem significado será impossível toda discussão 
ou conversa com os que nos cercam: mais ainda, será impossível entender-se a si 
mesmo” (ARISTÓTELES, 1970, p.20).
Se em Platão o uso da linguagem funciona como uma espécie de degradação do 
ser pelo fato de que ela o afasta do contato direto com o mundo das ideias, em Aris-
tóteles, o poder e a faculdade de simbolizar por meio da fala, dá ao homem uma di-
mensão própria que se define, sobretudo, pelo uso da linguagem e não pelo emprego 
da força. É por isso que ele afirmou que “se é vergonhoso não poder defender-se com 
o corpo, seria absurdo não envergonhar-se por não fazê-lo através da palavra, cujo 
emprego é mais próprio ao homem do que o corpo” (ARISTÓTELES, 1973, p.38).
O fato é que a problemática da linguagem coloca Aristóteles em uma posição 
distante à de Platão e dos sofistas. Ele não concorda que Platão desconfie das 
palavras e não concorda que os sofistas neguem a identificação pura e simples 
com a verdade. Para Aristóteles, a linguagem é um poderoso suporte de reflexão 
filosóficae um importante veículo por onde se expressam os valores do homem. 
E essas duas funções são legítimas e merecem atenção. Por esse motivo, Aristóteles 
ataca, sobretudo, os sofistas:
 “ E seu combate vai travar-se dentro do próprio campo daqueles: o discurso. Nesse sentido, ao refutar os que sustentavam a legitimidade de afirmações contraditórias do tipo “uma coisa pode ser e não ser ao 
mesmo tempo”, ele os alinha em dois grupos, uns assim pensam por 
ignorância, outros por convicção. Aos primeiros, declara que “não se 
deve combater sua maneira de falar, mas simplesmente dirigir-se à 
sua inteligência”. Referindo-se aos segundos, diz: “Ao contrário, o re-
médio daqueles que professam esta opinião por sistema é a refutação, 
devolver-lhes seus argumentos tanto no que diz respeito ao som e voz 
de seu sistema quanto no que diz respeito às próprias palavras que 
pronunciam”. O desmascaramento do raciocínio sofístico, portanto, 
só será possível através do estudo dos processos linguísticos com que 
aqueles constroem seu pensamento (BRANDÃO, 1976, p.21)
33
No desenrolar dessa discussão, Aristóteles vai defendendo a retórica como ele-
mento fundamental para persuasão e que, parecida com a dialética, ela também 
versa sobre questões que são comuns a quaisquer homens. Ela faz parte, desse 
modo, do campo das opiniões humanas e se constrói como instrumento de afir-
mação da liberdade de opinião. É importante frisar que a questão da opinião ser 
vista como objeto de discurso não deve ser compreendida como uma concessão 
aos sofistas, mas apenas um aspecto importante da realidade humana.
Platão discorda frontalmente, porque se interessa tão somente pela verdade 
como objeto de investigação, inclusive, conforme expõe Brandão (1976, p.23), há 
o confronto entre duas espécies de retórica: “uma reveladora da essência das coi-
sas, outra (esta condenável) produtora de aparências; portanto criadora de ilusão”. 
Após essa breve discussão, passamos, agora, para algumas considerações a 
respeito da linguagem na Antiguidade tardia e na Idade Média.
De Porfírio a Rousseau: 
Mais Alguns Aspectos da Linguagem
De maneira geral, nossa Era se inicia com o Ocidente sendo dominado pela po-
lítica do Império Romano e com a estruturação da Igreja Católica, seus dogmas 
e teses fundantes. Quando pensamos na Idade Média, nunca é demais destacar 
que os primeiros padres tinham como fonte de pesquisa, a tradição antiga para 
estruturar seus estudos. Isso quer dizer que as questões vão se alinhavando no 
raio da história e entrando para a tradição filosófica devido a revisão, a reapro-
priação e ressignificação do que quer que seja. Com a questão da linguagem não 
foi diferente. É nesse período que se faz presente o “problema dos universais”, 
questão importante para o estudo da linguagem. Porfírio (234-304/309), filóso-
fo neoplatônico, em Isagoge, comenta o estudo das Categorias, em Aristóteles, 
elaborado no final da segunda aula. Porfírio (apud LEITE JR, 2001, p. 17) afirma:
 “ Antes de mais, no que se refere aos gêneros e às espécies, a questão é saber se eles são realidades em si mesmas, ou apenas simples con-cepções do intelecto, e, admitindo que sejam realidades substanciais, 
se são corpóreas ou incorpóreas, se enfim, estão separadas ou se 
apenas subsistem nos sensíveis e segundo estes.
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 Porfírio (apud LEITE JR, 2001, p. 17) com-
plementa afirmando que “é um assunto de 
que evitarei falar; é um problema muito 
complexo, que requer uma indagação em 
tudo diferente e mais extensa”. Todavia, ele 
expõe a questão de maneira clara. Median-
te aos gêneros e as espécies, conhecidos 
como termos universais, eles são realidade 
subsistente em si mesma (res, coisa), e se 
for o caso: a) são corpóreas ou incorpóreas; 
b) ou se estão separadas ou subsistentes nas 
coisas visíveis. Elas podem ser, ainda, con-
cepções do espírito, neste caso são vox, isto 
é, apenas vocábulos.
A questão do “problema dos univer-
sais” começa, de acordo com Simon (1990, 
p.33), da “dúvida relativa ao ser dos uni-
versais”. Em outras palavras, se a classifica-
ção dos universais, gêneros e espécies em 
que as coisas são classificadas, no sentido 
linguístico, como “homem” e “cavalo”, para 
retomar o exemplo aristotélico, possuem 
status ontológico. Nef (1995, p.63) com-
plexifica a discussão ao solicitar que pen-
semos no termo humanidade. 
 “ O termo “humanidade” é um termo universal ao qual recorremos para fa-
lar de “todos os homens”. 
Sabemos que existe o 
homem singular (eu, o 
professor da faculdade, o 
padeiro da esquina etc.) e 
que este é um indivíduo 
Descrição da Imagem: na gravação, 
feita em preto e branco, está Porfírio. 
Ele está sentado e uma bancada, cujo 
centro possui uma placa intitulada Por-
phire Sophiste (Porfírio Sofista), impede 
que observemos a parte inferior de seu 
corpo, a parte inferior de seu corpo. Ele 
usa um turbante na cabeça, veste uma 
espécie de túnica de mangas longas e 
tem barba de tamanho médio. Nela há 
alguns livros e Porfírio faz anotações.
Figura 4 – Porfírio sofista, em uma grava-
ção francesa do século XVI / Fonte: Wiki-
media Commons ([2022]c, on-line).
35
concreto. Agora, o termo “humanidade” se refere a uma coisa con-
creta ou não? Esta é a questão de fundo do problema dos univer-
sais e que tem implicações nas diversas áreas do conhecimento. As 
respostas a esta questão variam conforme a opção que é tomada. 
Entretanto, “todas essas perguntas giram, pois, em torno de uma 
interrogação sobre a possibilidade de nomear o universal e sobre a 
natureza dos meios linguísticos e conceituais que tornam possível 
uma tal nomeação” (NEF, 1995, p. 63).
Boécio (480-524/525) foi um dos primeiros filósofos que retomou essa questão. Ele 
tinha interesse em traduzir os textos de Aristóteles e de Platão, pois desejava comentar 
a similitude entre o pensamento dos dois filósofos. A questão das universais possui 
duas vertentes, uma platônica e outra aristotélica, e Boécio deu duas contribuições 
diferentes ao tema. Na introdução para as Categorias, de Aristóteles, Boécio (apud 
GILSON, 2001) informa que os termos universais não são coisas individuais, pois são 
comuns a muitos indivíduos, e o termo da espécie “animal” é um desses exemplos. E 
o gênero está relacionado à espécie, o que torna impossível que um universal seja res. 
Essa proposta gera conflitos. E Gilson (2001, p.164) expõe esses conflitos:
 “ Mas suponhamos, ao contrário, que os gêneros e as espécies re-presentados por nossas ideias gerais (universais) não sejam mais que simples noções do espírito. Em outras palavras, suponhamos 
que absolutamente nada corresponda, na realidade, às ideias que 
temos deles; nessa segunda hipótese, nosso pensamento não pen-
sa nada pensando-as. Mas um pensamento sem objeto é tão só 
um pensamento de nada; não é sequer um pensamento. Se todo 
pensamento digno desse nome tem um objeto, é preciso que os 
universais sejam pensamentos de alguma coisa, de modo que o 
problema de sua natureza recomeça imediatamente a se colocar.
Boécio tenta resolver esse engodo, afirmando que o espírito, em seu processo de 
recomposição dos dados que chegam até ele, pode encontrar nos seres corpóreos 
os gêneros e as espécies. E quando estão nos seres incorpóreos são tidos como 
abstratos. Ademais, Gilson (2001, p.166), afirma que esse posicionamento está 
diferente do que aparece no livro V, da Consolação da Filosofia. Nesse livro, Boé-
cio afirma que “a inteligência vai além dos dados do sentido e contempla a forma 
pura e simples em si mesma, a ideia (ou o universal) configurando-se na visão 
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36
pura do pensamento”. Dessa maneira, fica claro que essa revisão do pensamento 
está intimamente relacionada com a filosofia de Platão, na qual o universal existe 
por si, independente da coisa sensível.
Na esteira das discussões a respeito dos problemas das universais, merece desta-
que a contribuição de Pedro Abelardo (1079-1142), cuja vida, inclusive o romance 
escandalosocom a abadessa Heloísa de Argenteuil, foi contada na História de mi-
nhas calamidades. Abelardo nega que o universal seja uma coisa ou que ele subsista 
nas coisas corpóreas, e com essa afirmação ele contraria o posicionamento de Boécio. 
E ele diz isso porque parece confuso afirmar que o mesmo universal “animal” possa 
ser tranquilamente aplicado ao “homem” e ao “cavalo”, uma vez que tratam-se de es-
pécies diferentes. Para Abelardo, professor e exímio lógico, tal afirmação invalidaria 
o princípio da identidade da lógica. A proposta estaria pois em pensar o universal 
não como uma coisa, mas como predicado. Gilson (2001, p.436) explica o posicio-
namento de Abelardo a respeito dessa questão:
 “ A fonte de todas essas dificuldades é a ilusão de que os universais sejam coisas reais, senão em si mesmo, pelo menos nos indivíduos. Não é a realidade em si das ideias de Platão que Abelardo ataca, mas a realidade 
do universal do gênero em suas espécies, ou do universal da espécie 
em seus indivíduos. O motivo disso é simples. O universal é o que se 
pode predicar de várias coisas; ora, não há coisas, tomadas individual 
ou coletivamente, que se possam predicar de várias outras: cada uma 
delas não é mais do que ela mesma e o que ela é. Donde a conclusão 
decisiva de Abelardo: já que esse gênero de universalidade não pode 
ser atribuído às coisas, resta atribuí-lo às palavras. Os gramáticos dis-
tinguem os termos universais dos termos particulares ou singulares. 
Um termo particular é predicável de um só e único indivíduo, Sócrates, 
por exemplo; um termo universal é aquele que se escolhe para predicar 
uma pluralidade de indivíduos, tomados um a um aos quais se aplica 
devido à sua natureza. A universalidade não é, portanto, nada mais que 
a função lógica de certas palavras.
Em outras palavras, os universais só existem no intelecto, mas, simultanea-
mente, estabelecem relação com as coisas particulares na medida em que os 
significados são dados. Assim sendo, “é como significado que os universais 
subsistem às coisas” (ABRÃO, 1999, p.108). Todas essas considerações que, 
37
de certo modo, impulsionaram os estudos lógicos, foram feitas sem vínculos 
com a teologia. Paradoxalmente, elas fornecem à teologia um modelo de ar-
gumentação fundamental para a escolástica: o confronto entre duas opiniões 
com o intuito de extrair uma solução satisfatória.
“Os limites de minha linguagem significam os limites de meu mundo”.
(Wittgenstein, Tractatus Logico-Philosophicus, § 5.6)
PENSANDO JUNTOS
Realizando mais um salto temporal, chegamos a Guilherme de Ockham (1285-1347), 
no século XIV, que dará mais uma contribuição para essa discussão. Ele não aceita que 
os universais possam existir fora da mente, uma vez que são conceitos com significa-
dos convencionais, sem status ontológico. Isso quer dizer que podemos mencionar 
relações, quantidades sem precisar assumir que os termos universais sejam entidades 
reais. O já citado exemplo da palavra “humanidade” não é uma entidade real que está 
fora da mente do sujeito, mas um vocábulo que a convenção permite que utilizemos 
para fazer referência a “qualidade do homem” ou “a todos os homens”. 
 “ Os gêneros e as espécies não subsistem fora da alma, mas estão somente no intelecto, porque são apenas intenções ou conceitos formados pelo intelecto; eles exprimem as essências das coisas e as 
significam, mas não são as coisas, assim como o signo não é o seu 
significado. Eles não são parte das coisas, como também a pala-
vra (vox) não é uma parte do seu significado. Eles podem servir de 
predicados para as coisas, mas não por aquilo que eles são: de fato, 
quando um gênero é atribuído a uma espécie, gêneros e espécies 
não se apresentam por si mesmos porque não se apresentam sim-
plesmente (simpliciter), mas pessoalmente (personaliter) e assim se 
apresentam em lugar de seus significados, que são coisas singulares; 
mas esses gêneros e espécies são atribuídos às coisas representando 
as próprias coisas que eles significam. Assim, na proposição ‘Sócrates 
é um animal’, a palavra ‘animal’ não se apresenta por si mesma, mas 
em lugar de outra coisa: o próprio Sócrates. Mas, embora o que 
contém o intelecto, segundo o pensamento dos filósofos e segundo 
a verdade, sejam os gêneros e as espécies, além delas, as próprias pa-
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lavras que lhe correspondem podem, de certo modo, ser chamadas 
gêneros e espécies, na medida em que tudo o que é significado por 
um conceito ou intenção na alma é significado por uma palavra, e 
inversamente; isso porém segue unicamente a decisão do instaura-
dor da linguagem [Suma Lógica] (NEF, 1995, p. 77).
Ockham também desenvolve a teoria da suposição. Essa teoria explica como uma 
proposição possui objetos que significam as coisas por meio de termos. Em outras 
palavras: o conceito é o signo mental que faz as vezes às coisas que existem na 
realidade. Gilson (2001, p.81) afirma que há três casos de suppositio:
 “ 1- Suppositio materialis: o termo significa a própria palavra que o constitui; exemplo: homem é uma palavra. 2- Suppositio personalis: o termo significa indivíduos reais; exemplo: o homem corre. 3- Su-
ppositio simplex: o termo significa algo comum; exemplo: homem é 
uma espécie. “Homem” não é um indivíduo, mas uma comunidade, 
aquilo que é comum.
De acordo com Morujão (2006, p.317), a suppositio simplex é a convenção de “um 
termo resultante de um ato mental que abstraiu das características particulares 
de todos os indivíduos pelos quais supõe”. Isso quer dizer que para Ockham, o 
significado de uma proposição com termos universais poderá ser explicado por 
meio de proposições que possuam termos singulares. Desse modo, a proposição 
“o homem é um animal” é verdadeira se puder afirmar a proposição “isto é um 
animal”. Ou seja, “um conceito universal, portanto, é um signo”.
A chegada do Renascimento é marcada por um forte interesse nas questões 
que envolvem a teoria do conhecimento e da filosofia prática. Os estudos sobre 
a significação da linguagem acabam perdendo a força, bem como as discussões 
acerca da Lógica. Todavia, com o Humanismo e com a expansão das línguas 
vernáculas, as investigações no campo da linguagem se associam à origem do 
conhecimento e à gênese das ideias. Dentre as várias contribuições, pelo menos 
três filósofos merecem destaque: Hobbes, Locke e Rousseau.
Thomas Hobbes (1588-1679) tem como ponto de partida de suas reflexões 
filosóficas a “devoradora” natureza humana ou o homem no estado de natureza. 
É dele o célebre pensamento: “que ninguém se engane: os homens não são ir-
mãos. Ao contrário, são inimigos, capazes de matar um ao outro. O homem, na 
39
verdade, é o lobo do homem” (ABRÃO, 1999, p.233). No campo das reflexões 
a respeito da linguagem, esse filósofo inglês, afirma que não há entidades reais 
universais, mas nomes que podem ser atribuídos a várias coisas. Um universal 
é tão somente um nome que, às vezes, é determinado por afetação direta ou por 
pronomes demonstrativos.
Hobbes (2008) também foi um profundo analista do Estado. Para ele, a origem do 
poder político e do próprio Estado deveriam ser procurados na natureza, e não em Deus, 
mesmo que este seja o resultado da criação de Deus. A questão da linguagem aparece 
nessa análise, pois ele distingue o uso da palavra no discurso verbal e no mental:
 “ O uso geral da palavra é transformar nosso discurso mental em dis-curso verbal e o encadeamento dos nossos pensamentos em enca-deamento de palavras; isso em vista de duas vantagens: primeiro, a 
consecução dos nossos pensamentos [...] o outro uso consiste, quando 
muitos se servem das mesmas palavras, no fato de que os homens 
significam um ao outro, pela organização e relação dessas palavras, o 
que eles concebem ou pensam de cada questão (HOBBES, 2008, p. 25).
De acordo com o fragmento do Leviatã, anteriormente exposto, a primeira van-
tagem refere-se às marcas determinantes na mente do agente com o intuito de 
que ele se lembre de alguma coisa e, na segunda,são os signos. Estes expressam 
os sentimentos dos homens - portanto, também as mentiras, as possíveis mani-
pulações, ofensas etc. Tais expressões são dirigidas a outros homens.
Na esteira dessas discussões, Abrão (1999) afirma que a linguagem é, em Hob-
bes, um instrumento visto para diminuir a perda das sensações. Ele compreende 
que as palavras são meras convenções, mas servem para fixar a imaginação e a 
memória. E nesse processo de realizar operações de associações e decomposições 
de conteúdos pode resultar em possibilitar o armazenamento de conhecimento.
A leitura que John Locke (1632-1704), filósofo inglês conhecido como pai 
do Liberalismo, faz do homem é muito mais complacente que a de Hobbes. Para 
Locke, o que importa é a “soberania indivisível que garanta a paz” (ABRÃO, 1999, 
p.239). Não importa se essa paz é representada por Carlos I ou por Cromwell.
Em Ensaio sobre o entendimento humano, de 1689, ele afirma que a expe-
riência é a única fonte de ideias. Uma criança, por exemplo, só diferencia o doce 
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do amargo por causa da experiência. Dessa forma, a palavra exprime uma ideia. 
A relação é tão tênue que ele afirma:
 “ Há uma relação tão estreita entre as ideias e as palavras, e nossas ideias abstratas e nossas palavras gerais têm uma relação tão cons-tante que é impossível falar clara e distintamente do nosso conhe-
cimento, que consiste inteiramente em preposições, sem conside-
rar primeiramente a natureza, o uso e a significação da linguagem 
(LOCKE apud NEF, 1995, p. 110)
Como se observa, Locke tem interesse pela linguagem, tanto é que na citada obra, 
ele apresenta uma divisão das ciências em: (1) física ou filosofia natural; (2) em 
prática; e em (3) semiótica ou conhecimento dos signos. Essa última estuda “a 
natureza dos signos dos quais o espírito se serve para entender as coisas, ou para 
comunicar o seu conhecimento aos outros” (NEF, 1995, p. 110). 
Nessa esteira, Locke compreende que a efetivação dos sons articulados necessita do 
uso de signos mentais, cunhado por ele como concepção interior. Tais signos sinalizam, 
conforme Nef (1995), as marcas que temos no espírito a fim de estabelecer a comunica-
ção com outros homens. É por meio das palavras que essa expressão é possível:
 “ Por conseguinte, é das ideias daquele que fala que as palavras são sig-nos, e ninguém pode aplicá-las imediatamente como signos a nenhu-ma outra coisa, senão às ideias que ele próprio tem no espírito, pois 
usá-las de outra forma seria torná-las signos das nossas próprias con-
cepções e aplicá-las, entretanto, a outras ideias, isto é, fazer ao mesmo 
tempo com que elas fossem e não fossem os signos de nossas ideias, e 
por isso mesmo que elas não significassem nada (NEF, 1995, p. 110).
As discussões que Locke empreende a respeito da linguagem podem nos levar a 
pensar que ele a trata como privada, isto é, limitada ao falante, pois, como afirma-
mos anteriormente, para esse filósofo as palavras são signos das próprias ideias. 
Problematizamos: como haveria, então, comunicação entre os indivíduos se a 
linguagem está a serviço da representação mental do falante? Locke resolve esse 
engodo afirmando que a palavra tem a função de fazer referências às coisas, isto 
é, além de ideias, as palavras representam coisas no mundo.
41
Outra questão se desprende dessa argumentação: como são formadas as 
ideias gerais ou universais? A respeito disso,
 “ Conceitos universais são, para Locke, ideias abstratas que são for-madas a partir de ideias particulares. Uma coisa ainda que pode mostrar que essas ideias abstratas, designadas por certos nomes, 
são as essências que concebemos nas coisas, é que tem o hábito de 
dizer que elas são inengendráveis e incorruptíveis, o que não pode 
ser verdadeiro sobre as constituições reais das coisas, que come-
çam e perecem com elas. [...] Pois seja o que for que aconteça com 
Alexandre e com Bucéfalo, sempre se supõe que as ideias as quais 
ligamos aos nomes de homem e de cavalo continuam as mesmas, 
e por conseguinte, as essências dessas espécies são conservadas em 
sua integridade, quaisquer que sejam as mudanças que aconteçam 
a algum indivíduo, ou mesmo a todos os indivíduos dessas espécies. 
[...] Daí se segue, evidentemente, que as essências não são imutáveis; 
que essa doutrina da imutabilidade das essências é fundada sobre a 
relação que é estabelecida entre essas ideias abstratas e certos fun-
dos considerados como signos dessas ideias, e que ela será sempre 
verdadeira, enquanto o mesmo nome pode ter a mesma significação 
(Ensaio, III – 19) (LOCKE, 1999 apud NEF, 1995, p. 110).
Esse posicionamento de Locke abriu margem para inúmeras discussões sobre a 
origem da linguagem. Duas correntes de pensamento se instauraram: uma mais ra-
cionalista e outra mais emotiva. De visão mais racional, destacamos a contribuição 
de Pierre de Maupertuis (1698-1759), filósofo francês, que recorreu a uma análise 
metafísica e propôs a seguinte situação: após um sono, o sujeito acordaria sem ne-
nhuma lembrança e classificaria tudo o que via a seu redor. Como isso seria feito?
 “ Suponho que, com as mesmas faculdades que tenho de perceber e raciocinar, tivesse perdido as lembranças de todas as percepções que eu tivesse tido até aqui, e de todos os raciocínios que eu fiz; 
que depois de um sono que me teria feito esquecer tudo, eu me 
encontrasse subitamente atingido por percepções que o acaso me 
apresentaria; que a minha primeira percepção fosse, por exemplo, 
aquela que experimentou hoje, quando digo vejo uma árvore; que 
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depois eu tivesse a mesma percepção que eu tenho hoje quando 
digo vejo um cavalo; logo que eu recebesse essas percepções, eu 
veria imediatamente que uma não é a outra, procuraria distingui-
-las, e como eu não teria imediatamente que uma não é a outra, 
procuraria distingui-las, e como eu não teria linguagem formada, 
eu as distinguiria por algumas marcas e poderia me contentar com 
essas expressões A e B, para as mesmas coisas que eu entendo hoje, 
quando eu digo vejo uma árvore, vejo um cavalo (NEF, 1995, p. 119).
De linhagem mais emotiva, merece destaque a visão de Jean-Jacques Rousseau 
(1712-1778), cuja contribuição encerra, longe de esgotar, esse nosso percurso 
acerca dos estudos filosóficos da linguagem. No Ensaio sobre as origens da lín-
gua, esse filósofo e político genebrino, também conhecido por ser uma das prin-
cipais figuras do Iluminismo e um precursor do Romantismo, discorre a respeito 
da linguagem relacionando as línguas humanas, com a paixão e com a história. 
Acompanhemos um trecho:
 “ Com as primeiras vozes, formaram-se as primeiras articulações ou os primeiros sons, segundo o gênero da paixão que ditava uns ou outros. A cólera arranca gritos ameaçadores, que a língua e o palato 
articulam, mas a voz da ternura é mais suave, é a glote que a modifica 
e essa voz se torna um som. Só os seus tons são mais frequentes e 
mais raros, as inflexões mais ou menos agudas segundo o sentimen-
to que acrescenta. Assim, a cadência e os sons que nascem com as 
sílabas; a paixão faz falar todos os órgãos, e adorna a voz com todo 
o seu brilho. Assim, os versos, os cantos, a palavra têm uma origem 
comum (ROUSSEAU, 1999, p. 303).
A linguagem poética que ele utiliza para escrever esse ensaio filosófico será uma 
marca forte do Romantismo. Rousseau (1999) afirma que a linguagem se associa, 
intimamente, às paixões. E que a primordial linguagem humana, universal e enér-
gica é o grito da natureza. Para finalizar, ele não se propõe a explicar o surgimento 
das ideias gerais que possuímos, todavia afirma que tais ideias resultam de um 
processo que envolve a capacidade da fala para depois estabelecer ideias e é por 
isso que “os nomes próprios precedem os substantivos” (NEF, 1995, p. 127).
43
Todas essas contribuições, como se pode imaginar, foram fundamentais para 
que a Linguagem ganhasse verdadeiro estatuto de discussão filosófica. A respeito 
dessa questão, trataremos na próximaunidade.
No diálogo Sofista, Platão aborda a possibilidade do discurso falso, distinguindo dois níveis:
i) O de nomear (seria o nível de sintaxe, combinação de nomes [onomata] e verbos [rhema]); 
ii) E o de dizer (seria o âmbito da semântica, das condições em que um enunciado [logos] 
é verdadeiro e significativo). 
A preocupação está no não ser. Pode-se negar um verbo, mas não um nome. A negação 
de “João joga futebol” é “João não joga futebol”; não faria sentido dizer “Não João joga fute-
bol”. O que seria “não joão”?! Por isso, o ser deve ser enunciado. Platão afirma que temos, 
para exprimir o ser (ousia), algo como dois gêneros de signos, eles são chamados nomes 
ou verbos. O verbo ‘exprime as ações’ e o nome se aplica aos ‘sujeitos que fazem essas 
ações’ (262a). Com isso, temos um discurso, mesmo que seja breve, ele está completo. 
Este discurso é o que chamamos de “proposição atômica”, sem disjunção (o nosso “ou”) 
ou conjunção (palavras que conectam orações; exemplo: “que”, “contudo”, “logo” etc.).
SILVA, L. D. Filosofia da Linguagem. Indaial: Uniasselvi, 2013.
EXPLORANDO IDEIAS
Escolástica e o estudo da linguagem
O podcast consiste em uma breve explicação a respeito 
da Escolástica e o estudo da linguagem (de que trata o 
trivium), para depois examinar a realidade das coisas (o 
quadrivium). A partir daí, haverá a problematização acerca 
da relação entre as palavras e as coisas. Por fim, consider-
ações e leitura de fragmentos do romance O nome da rosa, 
de Umberto Eco, serão feitas.
NOVAS DESCOBERTAS
O espelho (1975), de Andrei Tarkovski, filme citado na abertura dessa 
unidade de estudos, merece ser apreciado por você. Sugiro que, para 
aguçar a sua curiosidade, assista a crítica A força encantatória e som-
bria de O espelho, elaborada pelo crítico Arthur Tuoto, conforme link 
abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=JtvX7BB_ZD8 
UNICESUMAR
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/13570
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/9715
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Prezado (a) Acadêmico (a), agora que chegamos ao final da primeira unidade de 
estudos, ficou explícito que o intuito dela foi norteá-lo(a) pelas discussões iniciais 
a respeito da Filosofia da Linguagem. Nas próximas unidades, nos deteremos, 
mais pormenorizadamente, na contribuição de alguns nomes que, de fato, trans-
formaram esse assunto em uma área específica de reflexão e, por conseguinte, 
transformaram a Filosofia da Linguagem em uma disciplina com corpo próprio. 
No entanto, você já possui capacidade de refletir, mesmo que inicialmente, sobre 
a natureza e algumas características da Linguagem. Pensando nisso, é hora de 
partir para a prática: leia o fragmento a seguir: “Subsistunt ergo circa sensibiliza 
intelliguntur autem praeter corpora, eles subsistem em ligação com as coisas 
sensíveis, mas os conhecemos à parte dos corpos” (GILSON, 2001, p. 164)
De que maneira você entende que esse fragmento discute aspectos do conteúdo 
apresentado no decorrer da unidade, e de que maneira há relação entre esse frag-
mento e o poema Memória, de Carlos Drummond de Andrade, que segue abaixo?
Memória
Amar o perdido 
deixa confundido 
este coração.
Nada pode o olvido 
contra o sem sentido 
apelo do Não.
As coisas tangíveis 
tornam-se insensíveis 
à palma da mão.
Mas as coisas findas, 
muito mais que lindas, 
essas ficarão.
ANDRADE, C. D. d. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2002.
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Que tal avaliar os conhecimentos adquiridos na unidade? 
1. O Crátilo, de Platão, pode ser dividido em duas partes: Hermógenes e Sócrates 
ocupam três partes do diálogo, e Crátilo e Sócrates, a última parte. A respeito dessa 
obra e das discussões a respeito da linguagem, considere as afirmativas a seguir:
I - A oposição entre nomos e physis era comum na época e Platão traz a questão 
nesse diálogo;
II - No decorrer do diálogo, Sócrates cita mais de uma centena de nomes com o 
intuito de criticar o naturalismo linguístico;
III - Para Platão, o discurso possui caráter único e, por esse motivo, é sempre as-
sertivo e correto;
IV - Para Platão, o estudo das coisas deve vir da própria coisa e não por meio de 
seus nomes.
 Está correto o que se afirma em:
a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas.
c) I, II e IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
2. De modo geral, a obra de Aristóteles, além de ser uma das bases da filosofia ociden-
tal, é sempre relida e reinterpretada. Com a contribuição desse filósofo a respeito do 
campo da linguagem não é diferente. No decorrer dos séculos, muitas foram as inves-
tiduras acerca do tema. Sobre essa questão, considere as afirmações que seguem:
I - Crátilo, de Platão, é uma releitura da Metafísica aristotélica, com o estabeleci-
mento das categorias gramaticais;
II - Górgias se baseou em vários diálogos aristotélicos para construir a noção se-
mântica de sua proposta;
III - Porfírio, ao reler Categorias, de Aristóteles, traz à baila, em Isagoge, o problema 
dos universais;
IV - Boécio afirma em sua leitura de Aristóteles que os termos universais não são 
coisas individuais;
V - Segundo Guilherme de Ockham, os termos universais são significados conven-
cionais e não possuem status ontológico.
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 É correto apenas o que se afirma em: 
a) I, II e III.
b) I, II e IV.
c) I, III e IV.
d) II, IV e V.
e) III, IV e V.
3. A linguagem é uma preocupação constante em Aristóteles, embora ela não tenha 
recebido um tratado específico. No entanto, se pensarmos, por exemplo, em suas 
discussões a respeito da lógica ou da literatura, essas considerações ganham espaço. 
A respeito da questão da linguagem, em Aristóteles, considere as afirmativas a seguir:
I - Em sua Poética, o estagirita traz o enunciado e os elementos que o compõe;
II - O nome e o verbo são diferenciações feitas por Aristóteles em Da interpretação;
III - O zôon politikón, discutido na Política, está totalmente ligado ao ato de falar;
IV - A homónyma e a sinónyma são duas definições que aparecem em Categorias.
Está correto o que se afirma em:
a) I e II, apenas
b) I e III, apenas
c) I, II e III, apenas
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
2Frege, Russell e Wittgenstein: a Linguagem no 
Centro da Reflexão 
Filosófica
Dr. Diego Luiz Miiller Fascina
Oportunidades de aprendizagem: nesta Unidade de seu material de 
estudos, um salto significativo é dado quando elaboramos uma com-
paração com a Unidade I: nesse momento, aspectos do pensamento 
de três filósofos, a citar Gottlob Frege, Bertrand Russell e Ludwig Witt-
genstein serão comentados, pois algumas de suas obras representam 
as preocupações com o estudo da linguagem no âmbito da investiga-
ção filosófica. É a partir dessa tríade, cujas obras dialogam, em alguns 
momentos entre si, que a Filosofia da Linguagem ganha estatuto de 
disciplina e passa a ser um campo rico e vasto para análise.
UNIDADE 2
48
Leia o poema a seguir:
Ou isto ou aquilo
 
Ou se tem chuva e não se tem sol, 
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel, 
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão, 
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa 
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, 
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo… 
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo, 
e saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda 
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
MEIRELES, C. Ou isto ou aquilo. Ilustrações de Thais Linhares. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
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O poema é de autoria de Cecília Meireles, escritora modernista que dedi-
cou parte de sua produção ao público infantil. Nesse poema, notamos alguns 
possíveis dilemas, talvez relacionados a alguma criança: fazer escolha sempre 
envolve perder algo. A estrutura do poema, formada por estrofes de dois ver-
sos, reforça esse esquema dual, dialético e pouco conclusivo. Assim é, também, 
com a Linguagem. As palavras

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