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psicologia em saúde unidade 3

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Prévia do material em texto

Psicologia da Saúde
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Carmen Lúcia Tozzi Mendonça Conti 
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
O Normal e o Patológico – Aspectos do Funcionamento Psicológico
• O Que é Normalidade e Patologia?
• Abordando os Critérios
• Qual é a Origem das Ideias de Normalidade e Patologia?
• Os Aspectos Constitutivos da Normalidade Psicológica
• Um pouco mais sobre a Abordagem da Psicanálise
• O Normal e o Patológico para Autores das Ciências Sociais
• Considerações Finais
 · Compreender os conceitos de normal e patológico, sua origem e seu 
desenvolvimento ao longo da história da Humanidade.
 · Conhecer aspectos da Psicologia e das Ciências Sociais acerca dos 
conceitos de normalidade e patologia.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
O Normal e o Patológico – Aspectos 
do Funcionamento Psicológico
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE O Normal e o Patológico – Aspectos do Funcionamento Psicológico
O Que é Normalidade e Patologia?
Para começar a nossa unidade, vou propor um exercício mental. Quando fala-
mos em normalidade, quais são as imagens e as ideias que o seu cérebro projeta? 
Em que você pensa?
Existe um senso comum sobre a normalidade como algo estático, modelo a ser 
seguido, uma espécie de perfeição essencial.
Será que é mesmo possível estabelecer um critério fixo de normalidade, que não 
se transmuta ao longo do tempo e de acordo com a circunstância?
“Estamos mais preocupados em compreender a normalidade, em fixar o 
seu conceito, do que propriamente em defini-la. Em sua essência complexa, 
o problema seria prejudicado por uma definição que procurasse fixá-lo em 
palavras, desde que se trata, na realidade, de um conceito essencialmente 
dinâmico. Nessas condições, a definição não auxiliaria em nada a 
compreensão do assunto. O que importa, sobretudo, é o conhecimento 
dos fatores a tomar em consideração quando falamos em normalidade, 
pois deles depende a limitação do conceito e a base de qualquer tentativa 
definidora” (DOYLE, 1950).
normal. nor·mal adj m+f 1 Conforme a norma; regular: O juiz aplicou a sanção normal ao 
caso. 2 Que é comum e que está presente na maioria dos casos; habitual, natural, usual: 
“[…] essa dor que eu estou sentindo no braço não pode ser normal”(NR). 3 Tudo que é 
permitido e aceito socialmente: Divorciar-se é prática bastante normal hoje em dia. 4 Diz-
se de pessoa que não tem defeitos ou problemas físicos ou mentais: um aluno normal. 5 
PEDAG, OBSOL Diz-se de escola ou curso destinado a formar professores do antigo ensino 
primário (atual primeiro ciclo do ensino fundamental). 6 GRÁF Diz-se de tipo redondo, com 
largura padrão de corpo e fonte, e com peso comum entre o claro e o preto; regular. 7 QUÍM 
Diz-se de composto cujo conjunto de átomos de carbono é ligado em cadeia aberta. Sf GEOM 
Reta perpendicular a uma superfície ou curva. EXPRESSÕES Normal principal, GEOM: normal 
a uma superfície contida no plano tangente. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES, ANTÔNIMO: 
anômalo, anormal. ETIMOLOGIA lat normalis.
Patológico pa·to·ló·gi·co adj 1 MED Relativo à patologia. 2 Que denota doença; doentio, 
mórbido. ETIMOLOGIA der de patologia+ico2, como fr pathologique.
Ex
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or
Dicionário Michaelis online.
Como vimos, se recorrermos ao dicionário, percebemos que a noção menos 
dinâmica, mais estática, está atribuída à definição de normalidade.
Diferente de sua etimologia, que significava medida, vamos entrar no campo do 
uso da palavra hoje, bastante diferente do que significava em sua origem greco-latina.
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O que é importante deixar claro é a relatividade da normalidade, que representa 
realidades distintas e contingenciais, que fazem com que a sua representação seja 
diferente em casos distintos, de acordo com a perspectiva pela qual enxergamos.
A normalidade e a patologia, portanto, não são universais. Quando falamos da 
Humanidade, existem diferentes aspectos que podem ser encarados para pensá-las, 
sejam eles orgânicos, fisiológicos, psicológicos. Os três possuem relação entre si, 
embora cada um tenha suas particularidades e diferentes critérios para definição 
de normalidade.
Quando tratamos dos aspectos psicológicos dos seres humanos, há grande 
variedade de critérios que têm sido abordados para pensar o problema da 
normalidade, apontando o nível de complexidade para a definição de padrões 
de normalidade e diagnóstico, material de trabalho para psicólogos e psiquiatras. 
A normalidade é, portanto, muito elástica, assumindo caráter absolutamente 
dinâmico, imprimindo grande dificuldade ao trabalho daqueles que tentam defini-la 
de forma estanque. Sua definição não é matemática, mas relativa a diferentes 
camadas tênues, que se compõem.
Doyle nos dá um exemplo prático para percebermos o choque entre a compre-
ensão do senso comum sobre a normalidade e o trabalho dos profissionais da área, 
demonstrando a complexidade do tema e da definição dos diagnósticos psicológicos:
“Estamos nos recordando no momento de uma senhora que nos trouxe 
o filho de 18 anos para observação psicológica, com o seguinte preâm-
bulo: ‘Eu mesma não sei se meu filho precisa de tratamento, mas achei 
prudente trazê-lo para ouvir a sua opinião, porque ele é diferente do 
irmão, e eu acho mais natural o modo pelo qual o outro se comporta no 
meio social’. A análise da estrutura caracterológica revelou boa organi-
zação do jogo de forças psicológicas orientadoras da conduta explícita 
e implícita, ausência de sintomas e de ansiedade neurótica; chegamos 
mesmo à conclusão de que se tratava de um adolescente extraordina-
riamente inteligente, capaz, honesto, com ideais construtivos capazes 
de serem realizados por ele, atendendo às suas qualidades potenciais, 
apenas não é grande apreciador das futilidades sociais e é menos loquaz 
do que o irmão. No caso vertente, ficou apurado que justamente o filho 
mais apreciado era realmente o que precisava de tratamento, pois a sua 
grande atividade era um recurso que usava para escoarum pouco da sua 
ansiedade” (DOYLE, 1950).
Depois dessa lógica mais dinâmica ter começado a fazer parte do pensamento 
e da psicologia normal e patológica, as investigações e os diagnósticos não se 
restringem mais apenas à aparência dos comportamentos, que passam a se 
contrapor à separação artificial entre normalidade e anormalidade psicológicas.
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UNIDADE O Normal e o Patológico – Aspectos do Funcionamento Psicológico
Abordando os Critérios
Vejamos alguns diferentes critérios para as áreas do conhecimento, com as quais 
a Psicologia não coincide, necessariamente:
Critério Normativo Homem normal como tipo perfeito, como um modelo de representação.
Critério Estatístico Homem mais frequente.
Critério Clínico Homem sem sintomas.
Critério Constitucionalista Homem normal, é o de “estrutura genotípica normal”.
Critério Sociológico Homem que melhor representa a sua cultura, de acordo com o espírito de seu tempo.
Critério Criminológico Homem que não fere as leis.
Critério Médico-Legal Homem capaz de guiar suas ações de modo civilizado e que pode ser responsável por suas atitudes.
No caso da Psicanálise, por exemplo, a noção de normalidade não é uma 
ferramenta. Com os estudos de Freud acerca da neurose, percebida por ele com 
muita frequência nas pessoas, a noção de normalidade psicológica assumiu posição 
muito delicada, na medida em que diferentes distúrbios ou comportamentos gerados 
em uma realidade tão contraditória e com problemas sociais tão profundos.
A difusão das noções travadas por Freud e pela Psicanálise imputou ao conceito 
de normalidade psicológica a necessidade de muito cuidado na abordagem, muitas 
vezes tratada entre aspas: a “normalidade”. Trataremos posteriormente mais sobre 
a abordagem da Psicanálise acerca do tema.
Sigmund Freud foi um dos grandes pes-
quisadores e cientistas da modernidade. 
Austríaco, de família judia, nascido em 
1856, foi importante médico neurologista 
e responsável pela criação da Psicanálise. 
Seus estudos possibilitaram profundo 
avanço no desenvolvimento da Psicologia 
como Ciência e nos estudos da mente hu-
mana, principalmente, do inconsciente e 
de suas manifestações.
Figura 1 – Sigmund Freud
Fonte: Wikimédia Commons
Ex
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or
O filme “Método Perigoso” (2011), do diretor David Cronenberg, mostra como a relação entre 
Carl Jung e Sigmund Freud faz nascer a Psicanálise. Aborda a intensa e polêmica relação da 
dupla com a paciente Sabina Spielrein.
Veja o trailer em: https://youtu.be/n_kfCljrmtY
Ex
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Qual é a Origem das Ideias de 
Normalidade e Patologia?
Na História das Ciências e da Humanidade, em diferentes civilizações, a 
necessidade de definir o homem normal esteve presente em muitos momentos, 
senão em quase todos.
Os grandes pensadores clássicos, como Aristóteles e Platão, dedicaram sua 
Filosofia a estabelecer padrões e fórmulas que definissem a normalidade.
As sociedades gregas antigas tinham concepção dinâmica do que seja a doença, 
sendo a Saúde definida por equilíbrio e harmonia e a doença como transtorno 
dessa condição. Contudo, a percepção do transtorno não assumia exatamente 
um caráter negativo, sem função, mas de restabelecimento de novo equilíbrio, 
regeneração, como uma reação que tem o sentido da cura, movimento próprio da 
natureza (CANGUILHEM, 1904).
Para Augusto Comte, pai do pensamento positivista, o excesso é constitutivo 
da doença, ou a falta de vivacidade do corpo. A ausência de estímulo, necessário à 
saúde, conduziria ao estado de doença.
Há ainda outros autores que consideram outros aspectos e apresentam outras 
explicações, como Claude Bernard e Leriche.
Claude Bernard Doença possui função normal em relação à totalidade da saúde.
Leriche A saúde é a vida na tranquilidade dos órgãos; a doença é o contrário.
O que podemos notar nessas Teorias é que elas se amparam na organização ou 
na desorganização do organismo a partir das mudanças fisiológicas corporais, e não 
abordam o campo da psicopatologia e das intervenções das emoções e afetividade.
Será mesmo que seria possível pensar a esfera fisiológica e a psicológica em 
separado? E, além disso, seriam mesmo a normalidade e a patologia condições 
antagônicas entre si, ou integradas e fundidas, com combinações distintas, em um 
nível de complexidade importante a ser analisado?
É por onde queremos caminhar.
Há, ainda, outro aspecto importante, relativo à terminologia, que devemos 
abordar. Canguilem (1904) alerta sobre a distinção entre o patológico e o anormal.
Todo patológico é anormal, mas o inverso não é sempre verdadeiro. O anormal 
pode ter caráter adaptativo, não correspondendo necessariamente a sofrimento e 
impotência (pathos). Por isso, é importante o cuidado no trato com esses conceitos 
de normalidade, anormalidade e patologia, termos de profunda complexidade.
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UNIDADE O Normal e o Patológico – Aspectos do Funcionamento Psicológico
Uma abordagem curiosa, por exemplo, é frequente entre pensadores e literatos 
do início da Modernidade, que relacionavam a normalidade à futilidade, à falta de 
profundidade do ser, a ser supérfluo e não contraditório. Diferente dos pensadores 
da Filosofia Clássica, eles não almejavam a normalidade, mas fugiam dela.
“[...] o homem normal está personificado pelo homem da massa, “o que 
nos rodeia aos milhares, o que prospera e se reproduz no silêncio e na 
treva”; é o homem sem ideias, sem personalidade, por essência imitativo, 
apto a viver como carneiro de rebanho, refletindo a rotina social, aceitando 
os preconceitos e dogmas úteis à sua condição doméstica; a alma desse 
homem medíocre não tem nada de espontaneidade, é um reflexo da alma 
da sociedade em que vive, porque a característica deste homem é imitar a 
quantos o rodeiam, pensar com a cabeça alheia, e ser incapaz de formar 
concepções e ideais próprios; deste modo, ele é o espírito conservador 
do grupo, interessado em manter os seus hábitos, que lhe amenizam o 
esforço de viver” (DOYLE, 1950).
Tanto a idealização da normalidade quanto o seu desprezo, portanto, não cor-
respondem a uma visão equilibrada do que a questão trata. É muito difícil, hoje, 
sustentar uma ideia estática de saúde e doença.
Vamos pensar a respeito!
“A noção estática de saúde e doença é difícil de ser sustentada hoje, já 
que, no sentido da ausência de sintomas, todos seriam normais até o 
ponto crucial em que surge a patologia. Além disso, sabe-se que todo o 
ser humano possui uma grande suscetibilidade a adquirir doenças mais 
ou menos graves ao longo da vida. Mesmo considerando apenas aquelas 
doenças incuráveis e que, consequentemente, acompanharão o indivíduo 
até o fim de sua vida, cabe questionar o que o define como anormal, 
já que muitas vezes é possível prosseguir a vida mantendo as atividades 
anteriores à doença” (DELATORRE et al., p.319).
Um dos aspectos a ser considerado para o estabelecimento do normal é a 
pressão cultural, visto que as culturas estabelecem seus modelos de normalidade e 
anormalidade, questão que tirar o normal como a média não leva em considera-
ção. Se tirássemos pela média, aqueles que se destacassem do ponto de vista da 
adequação social ou do acordo com as regras, mesmo em relação à sua capaci-
dade intelectual, seriam considerados deslocados e anormais (AJURIAGUERRA; 
MARCELLI, 1986).
O normal, portanto, é constituído a partir de um sistema de valores estabelecido 
cultural e socialmente; portanto, não havendo, como dissemos, definição universal 
do que seja normal ou patológico.
“O normal, como o ideal pressupõe, primeiramente, é um determinado 
sistema de valores. Cabe questionar, primeiramente, como seria escolhido 
um sistema de valores padrão para o estabelecimento da normalidade. 
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Caso o ideal fosse um grupo social, voltaríamos à noção da norma 
estatística, já que todos teriam de enquadrar-se no modelode tal grupo; 
caso o sistema de valores ideal fosse pessoal, cada indivíduo possuiria 
sua própria definição de normalidade, o que torna inútil o conceito” 
(AJURIAGUERRA; MARCELLI, 1986 apud DELATORRE et al.).
Por último, a apreensão dinâmica do que seja normalidade e patologia está 
associada à capacidade de retomar o equilíbrio do estado de normalidade, o que 
requer um processo de se adaptar à determinada condição. Essa adaptação pode ou 
não gerar conformismo e submissão, gerando outros problemas (AJURIAGUERRA; 
MARCELLI, 1986).
Os Aspectos Constitutivos da 
Normalidade Psicológica
Ao tentar sintetizar o conceito de normalidade, devemos levar em conta os 
diferentes aspectos da vida psicológica, considerando estruturas que são parte da 
estrutura emocional, afetiva e social.
É importante a observação da aparência, mas não somente ela dará conta de um 
diagnóstico adequado. A ótica sobre o equilíbrio pessoal e sua estabilidade, das po-
tências do indivíduo e suas capacidades poderão indicar os aspectos de normalidade.
O comportamento explícito e o implícito devem estar em consonância, cuja 
avaliação demanda o olhar integral de múltiplas determinações sobre o indivíduo 
e sua vida.
“Não basta, entretanto, o funcionamento intelectual satisfatório; a este 
se deve associar uma organização afetiva-emocional, não só explícita 
na conduta, mas como realidade íntima, caracterizada por equilíbrio. A 
normalidade reveste ainda um aspecto ético, que exige a presença das 
virtudes humanas, sem as quais as próprias potencialidades intelectuais 
adquirem aspecto estéril” (DOYLE, 1950).
Um pouco mais sobre a 
Abordagem da Psicanálise
Winnicott (1967) analisa a tendência dos psicanalistas no entendimento da 
normalidade que, segundo o autor, caminha no sentido de pensar a saúde como 
ausência de distúrbios psiconeuróticos.
13
UNIDADE O Normal e o Patológico – Aspectos do Funcionamento Psicológico
O autor, no entanto, defende a adoção de critérios mais sutis, considerando a 
normalidade em termos de liberdade no âmbito da personalidade, da capacidade 
de possuir confiança, constância, liberdade em relação à autoilusão, estando rela-
cionada à saúde, à autonomia e ao livramento em relação à dependência. A vida 
saudável seria caracterizada, ainda, por momentos e sentimentos positivos e ne-
gativos, conquistas e frustrações (WINNICOTT, 1967 apud DELATORRE et al.).
Para Freud, no entanto, a ênfase é dada ao desenvolvimento psíquico sobre a 
classificação das doenças. O trunfo do Pai da Psicanálise, portanto, é que os meca-
nismos da normalidade e da neurose são os mesmos, sendo diferente o seu uso e a 
sua flexibilidade, não havendo continuidade entre eles (BERGERET, 1996).
“Percebe-se que nenhuma das classificações é capaz de explicar exaus-
tivamente os fenômenos envolvidos nos diferentes estados psicológicos. 
Assim, considera-se indispensável levar em conta conjuntamente os as-
pectos fisiológicos, psicológicos e dinâmicos do sujeito. Qualquer tentativa 
de definição apoiada em apenas um desses aspectos torna-se simplista, 
ignorando a complexidade do ser humano” (DELATORRE et al., 2011).
O Normal e o Patológico para Autores 
das Ciências Sociais
Para encerrar a nossa Unidade, gostaria de abordar alguns autores das Ciências 
Sociais que podem contribuir para uma visão mais ampla dos conceitos trabalhados. 
Como viemos tratando nas últimas duas Unidades, é fundamental que as pontes 
interdisciplinares sejam estabelecidas, para que possamos ter Visão mais ampla 
da teoria e dos conceitos com os quais trabalhamos, principalmente quando 
falamos em Psicologia, a contextualização social e os aspectos filosóficos, sociais 
e econômicos podem contribuir muito para uma análise mais rica de nosso objeto 
de estudo e pesquisa.
Durkheim foi um dos pensadores que elaborou Teoria a respeito do normal e do 
patológico. Como pensador da corrente teórica do Funcionalismo, foi influenciado 
por teorias como o Evolucionismo, e sua compreensão da relação entre indivíduo 
e Sociedade estabelecia praticamente uma determinação absoluta da Sociedade 
sobre o indivíduo.
O indivíduo teria, praticamente, nenhuma margem de ação, escolha, e a 
Sociedade, a partir de formas coercitivas, determinaria a vida dos indivíduos em 
suas mais diferentes instâncias.
Para o autor, a Sociedade é constituída de fatos sociais e instituições sociais, 
a partir dos quais a conduta humana é determinada de forma coercitiva. Desse 
modo, a realidade social antecede a vida individual.
14
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Émile Durkheim é um dos grandes nomes 
das Ciências Sociais. Nascido na França, em 
1858, foi um dos criadores da Disciplina 
Sociológica. Em sua vida, escreveu sobre 
a organização social, a relação entre indi-
víduo e Sociedade e os mecanismos por 
meio dos quais a Sociedade se organiza e 
os comportamentos humanos são desen-
hados. Suas obras mais conhecidas são As 
regras do método sociológico (1895) e 
Da divisão do Trabalho Social (1893).
Figura 2 – Émile Durkheim
Fonte: emiledurkheim.org
Ex
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or
Para chegar às suas elaborações sobre o normal e o patológico, tema de 
nossa Unidade, Durkheim procurava entender os meios pelos quais a Sociedade 
funcionava daquela maneira, seus mecanismos e regras. Existiriam leis gerais que 
organizassem a sociedade, suas instituições e determinassem o comportamento 
dos indivíduos na vida em comum?
O Positivismo, como corrente de pensamento, influenciou fortemente as teorias 
e as pesquisas acerca da questão da patologia e da normalidade.
Comte, autor fundamental dessa corrente, compreendia a normalidade 
e a patologia a partir da mesma chave de funcionamento. Seriam regidas por 
mecanismos semelhantes ou equivalentes.
O Positivismo é uma corrente da Filosofi a, 
tendo nascido na França, no século XIX. 
Augusto Comte e John Stuart Mill são seus 
principais idealizadores, tendo como pon-
to de partida para o seu desenvolvimento 
o Iluminismo. Opõe-se ao Racionalismo 
e ao Idealismo, propondo um método de 
análise científi ca baseada na experiência 
sensível, “concreta”, para a produção da 
“verdadeira Ciência”.
Figura 3 – Augusto Comte, um dos 
fundadores da corrente Positivista.
Fonte: emiledurkheim.org
Ex
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or
Com esse caminho sedimentado, a partir de seus critérios metodológicos e concep-
ção da realidade, Durkheim constrói a diferenciação entre normalidade e patologia.
O pensamento do autor baseia-se no pressuposto de que a Sociedade possui 
duas formas bastante diferentes de fato, os que são o que deveriam ser e os que são 
o que deveriam ser outra coisa, ou seja, os fenômenos do normal e do patológico. 
Para estabelecer esses conceitos, parte da oposição entre saúde e doença, não 
apenas do ponto de vista da saúde fisiológica ou médica, mas de expressões sociais 
daquilo que é “normal” e daquilo que é “patológico”.
15
UNIDADE O Normal e o Patológico – Aspectos do Funcionamento Psicológico
“O critério atualmente utilizado para a determinação da doença, segundo 
ele, é o sofrimento e a dor. Mas ele acha esse critério insuficiente, à 
medida que reconhece que estados de sofrimento, por exemplo, fome, 
fadiga e parto, são normais. Outra forma de se encarar a doença seria 
a da perturbação da adaptação do organismo ao meio, o que, para ele, 
seria, no mínimo, duvidoso, pois, nesse caso, seria preciso estabelecer 
princípios que definissem que um determinado modo de adaptação é mais 
perfeito do que outro. Esse princípio, entretanto, poderia ser estabelecido 
em relação às possibilidades de sobrevivência, definindo-se como estado 
saudável aquele em que as possibilidades de vida fossem maiores, e como 
doentio o que diminuísse essas possibilidades” (WANDERLEY, 1999).
Desse modo, a diferença entre o normal e o patológico estaria em que?
Para o autor, os fenômenos sociais e biológicos podem ser delimitadosem dois 
tipos: os comuns à toda a espécie, que encontramos em todos ou na maioria 
dos indivíduos; e os fenômenos atípicos, próprios de pequenos grupos e que não 
necessariamente duram por longo tempo.
A partir dessa separação, o autor determina uma espécie de norma genérica 
da espécie humana. O que determinaria se um fato social é atípico ou comum é a 
sua frequência. Percebe que essa ideia de excepcionalidade é ainda muito presente 
hoje. Aquilo que é tido como normal está associado à frequência, enquanto que o 
excepcional, raro, excêntrico, é observado muitas vezes como patológico.
Foucault, um importante filósofo do século XX, contrapõe-se às elaborações 
de Durkheim no que diz respeito ao normal e ao patológico. Na medida em que a 
doença se tornou um assunto chave na Sociologia, na medida em que é relativa a 
uma Sociedade e à sua expressão de frequência ou não, para Foucault, nem sempre 
essa relatividade cultural é explicada claramente na concepção durkheimeana.
Contrapondo-se às ideias de Durkheim, Foucault vai enxergar a doença não apenas 
por seu viés negativo, mas pela positividade subjacente, na possibilidade gerada 
pelo patológico, na medida em que o normal e o patológico se complementam, e 
não são antagônicos.
“Isto é, retornando às fases anteriores da evolução, a doença faz 
desaparecer as aquisições recentes e redescobre as formas de conduta 
ultrapassadas. A doença apresenta-se não como um ‘retrocesso’, mas 
como um processo ao longo do qual se desfazem as estruturas evolutivas. 
Nas formas mais benignas, há dissolução das estruturas recentes e, no 
término da doença ou no seu ponto extremo de gravidade, das estruturas 
mais arcaicas. Para Foucault, portanto, a doença não é um déficit que 
atinge radicalmente esta ou aquela faculdade; há, no absurdo do mórbido, 
uma lógica que é preciso ‘desentranhar’, pois ela é, em última instância, 
a própria lógica da evolução normal. Ele visualiza o patológico ou a 
doença não como uma essência contra a natureza da ‘normalidade’, mas 
sendo a própria natureza dessa normalidade, num processo invertido, o 
qual se firma numa sociedade que não se reconhece como seu artífice” 
(WANDERLEY, 1999).
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Considerações Finais
Como pudemos estudar, as teorias positivistas de Comte e Durkheim se base-
aram fundamentalmente na Biologia para compreender a noção de normalidade 
e patologia.
É importante compreender que o biológico respalda a identificação da patologia, 
mas não é suficiente para caracterizá-la. Tampouco a frequência é o único método 
de identificação da normalidade e da patologia.
A normalidade ultrapassa a ideia de frequência, na medida em que a normatização 
“só é a possibilidade de uma referência quando foi instituída ou escolhida 
como expressão de uma preferência e como instrumento de uma vontade de 
substituir um estado de coisas insatisfatório por um estado de coisas satisfatórias” 
(CANGUILHEM, 1982).
Nas próximas Unidades, continuaremos os estudos sobre a Psicologia da Saúde 
e os temas que permeiam o seu estudo e seu campo de atuação.
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UNIDADE O Normal e o Patológico – Aspectos do Funcionamento Psicológico
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
A Infância Normal e Patológica: Determinantes do Desenvolvimento
FREUD, A. A infância normal e patológica: determinantes do desenvolvimento. 3. 
ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1895.
Individualismo e Cultura: Notas para uma Análise Antropológica da Sociedade Contemporânea
VELHO, G. Individualismo e Cultura: notas para uma análise antropológica da so-
ciedade contemporânea. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
Educação Especial
FONSECA, V. de. Educação Especial. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
O Conceito de Indivíduo Saudável
WINNICOTT, D. W. O Conceito de Indivíduo Saudável. In: Tudo começa em casa. 
São Paulo: Martins Fontes, 1967. p. 3-22.
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