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A utilização de motosserras na atividade florestal e em muitas propriedades rurais, sem dúvida, ao tempo em que conferiu grande ganho de produtividade na derrubada, desbaste e/ou fracionamento de árvores, deu origem a uma série de relatos versando sobre graves acidentes envolvendo esse tipo de equipamento. Motosserras são equipamentos semimecanizados utilizados na derrubada, desgalhamento (destopagem) e na toragem (traçamento) de árvores. Têm como partes principais o pinhão, o sabre e a corrente dentada, além de acessórios que asseguram a sua funcionalidade. Por sua natureza cortante e potente, em razão dos esforços a que o trabalhador é submetido durante a sua utilização (sustentação e postura associadas, vibrações nos membros superiores e no tronco, ruído etc.) e pelas condições para sua operação (o que inclui abastecimento de combustível inflamável, transporte, aspectos de manutenção, como afiação dos dentes, ajuste da tensão da corrente, limpeza e lubrificação de componentes, além das emissões resultantes da combustão), diversas são as oportunidades de ocorrências que podem causar prejuízos à integridade de seus operadores (ou motosserristas) e àqueles em seu entorno, nas proximidades ou em seu campo de ação. Em razão de suas características potencialmente danosas ao operador e a terceiros, antes de colocá-las em uso há de se questionar sempre: seu uso é realmente necessário? Suas funções poderiam ser realizadas por outra ferramenta que ofereça menores riscos ao operador? Uma regra de partida é que as motosserras não devem ser utilizadas para o corte de segmentos cujo diâmetro seja inferior a 100 mm. Entre as disponíveis para a tarefa, deve ser sempre escolhida para uso aquela de menor potência, massa e comprimento de sabre. Inconteste o potencial de graves acidentes que pode resultar, direta ou indiretamente, das operações envolvendo o uso de motosserras. Logo, o motosserrista jamais deve atuar sem a supervisão, vigilância ou companhia de outro trabalhador. Entretanto, deve-se manter uma distância de segurança entre áreas de queda de árvores abatidas por diferentes operadores, para a segurança destes e de terceiros (cuja presença deve se dar somente sob estrita autorização). O uso indevido ou sem a observação dos cuidados de segurança requeridos para a operação de motosserras poderá ensejar muitas possibilidades de dano à integridade física de seus operadores e àqueles em seu entorno e proximidades. Além de cortes no transporte, arranque ou outra operação do equipamento que exigem procedimentos e um conjunto de EPIs apropriados para a função, estas poderão adicionalmente provocar: ■entorse nos punhos, lesões na coluna, nas mãos e nos braços: pela vibração do conjunto e falta de sistemas antivibração no equipamento, bem como pela pega incorreta e, ainda, resultante de rebote; ■ruído elevado, em especial quando da aceleração e uso de equipamentos de maior potência, em decorrência do atrito excessivo da corrente-sabre ou da inadequada manutenção do equipamento; ■projeção de partículas, serragem e impacto contra galhadas, o que demanda proteção facial durante todo o período de uso de equipamento; ■intoxicação com os gases da queima de combustíveis (gasolina e óleo); ■risco de eletrocussão: quando da queda da árvore sob a fiação elétrica. Naturalmente, em razão dessa ambiguidade “produtividade × potencial número e gravidade dos acidentes”, a operação de uma motosserra recebe severas restrições, devendo somente ser operada por trabalhador qualificado, cabendo “ao empregador rural ou equiparado promover treinamento para a utilização segura da máquina, com carga horária mínima de oito horas, com conteúdo relativo à utilização segura da motosserra”, conforme estabelecido na NR 31 (no item 31.12.39). Podemos acrescentar que, em face deste potencial danoso, esses equipamentos não devem ser operados por menores de 18 anos de idade. Conforme constante no Anexo V da NR 12 (integralmente reiterado no item 31.12.20), todas as motosserras comercializadas e em uso no país, fabricadas ou não em território nacional, devem dispor dos seguintes dispositivos de segurança: ■freio manual de corrente – dispositivo de segurança que interrompe imediatamente o giro da corrente, acionado pela mão esquerda do motosserrista; ■pino pega-corrente – quando do eventual rompimento da corrente, o pino reduz seu curso, evitando que o operador seja atingido por ela; ■protetor de mão esquerda – proteção frontal que, em condições normais de manuseio do equipamento, evita que a mão do operador alcance ou entre em contato com a corrente; ■protetor de mão direita – proteção traseira que evita que a corrente atinja a mão do operador; ■trava de segurança do acelerador – dispositivo de segurança cuja função é impedir a aceleração involuntária da corrente. Como conjunto de EPIs sugeridos para a atividade, em função dos riscos anteriormente elencados, podemos destacar: ■óculos de proteção ou viseira/protetor facial (preferível); ■protetor auricular do tipo concha; ■capacete de alta resistência ao impacto; ■calçado de proteção com biqueira de aço combinado com perneira ou coturno para motosserrista (preferido); ■luvas especiais para a função; ■calça anticorte (policamadas) para motosserrista; ■jaqueta; e ■respirador facial, em razão da geração de particulados e dos gases, para aquelas de motor de combustão interna. Cabe lembrar que usualmente os fabricantes do equipamento, diretamente ou por meio de representantes, promovem cursos de capacitação e reciclagem, demonstrando não apenas as aplicações ou usos corretos (e indevidos) das motosserras, como também os requisitos de segurança envolvidos em cada uma das situações. Dentre as recomendações de práticas visando garantir a segurança das operações no trato com motosserras, coletadas juntos aos manuais dos fabricantes, destacamos: ■Verificar regulamente o ajuste da tensão da corrente: folga ou atrito em excesso são prejudiciais ao bom desempenho da operação, assim como ampliam o desgaste e os riscos associados. Desligado o equipamento, a corrente deverá deslizar sobre o sabre, assente sobre toda a sua extensão. ■Uma sequência de partida apropriada deve se dar com a motosserra sobre o solo, estabilizada, com a lâmina livre de impactos ou apoiada entre as pernas. Jamais arranque-a suspensa, ao ar, sob risco de retrocesso. ■Efetuar o preparo prévio necessário de um entalhe direcional, conforme o corte- padrão recomendado, de acordo com os elementos contidos na Figura 12.1. Figura 12.1Elementos para corte-padrão. Fonte: Manual EMAK. ■Observar, após a derrubada, qual a configuração de tensões a que a árvore a ser traçada está sujeita (veja a Figura 12.2). Figura 12.2Configuração de tensões e ordem de cortes (1 e 2). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788597010183/epub/OEBPS/Text/chapter12.html?create=true#fig12-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788597010183/epub/OEBPS/Text/chapter12.html?create=true#fig12-2 Fonte: Adaptada de OIT (2005). ■Recomenda-se que o primeiro corte seja realizado sempre na parte sob compressão, lado em que o operador deve permanecer durante toda a operação. Em seguida, realizar um segundo corte na parte sob tração. Quando o diâmetro do tronco for de grandes proporções, sugere-se um pequeno desalinho entre estes cortes visando à redução ou ao alívio das tensões durante a operação. ■Quando do corte de toras, posicionar a perna esquerda à frente, servindo de apoio à operação. Jamais apoiar o pé esquerdo sobre a tora a ser cortada. ■A motosserra somente pode ser operada acima da linha do tronco em situações excepcionais. Evite fazê-lo. Se tal for estritamente necessário, executar a operação em baixa rotação, redobrando os cuidados requeridos para tanto. ■Para evitar o retrocesso (rebote), não utilize a ponta do sabre na operação de corte. ■Quando da conclusãodo serviço, o equipamento não deve ser desligado de imediato. Recomenda-se deixá-lo funcionar em vazio por alguns instantes para permitir um resfriamento de alguns componentes, o que trará benefícios para a sua durabilidade. Observar atentamente as instruções e/ou recomendações de manutenção e operação constantes no manual do fabricante. Se este já não estiver mais disponível, convém buscar obter novo exemplar ou elaborar uma rotina de procedimentos para tanto. ■Nunca transportar a motosserra com o motor em funcionamento. Segure-a pelo cabo, com o sabre para trás, sempre em bainha (com proteção da lâmina instalada), abaixo da linha do tronco (isto é, jamais sobre os ombros), conservando o cabo, a corrente e os punhos limpos e secos. ■Previamente à derrubada de árvores, verificada a técnica-padrão de corte, se não houver inclinação natural determinante do tronco, deve ser verificada a direção esperada para a queda, assim como a disposição de galhos em sua copa, em razão de possível enganchamento em outras árvores (ou estruturas e fiações), ademais da direção e intensidade do vento e sua eventual interferência quanto à segurança da operação. Feito isto, deve-se proceder à limpeza de uma área de serviço ao redor da árvore, constituindo um caminho de fuga limpo e sem obstáculos, que possam permitir ao operário evadir-se do local com a máxima presteza, em duas possíveis rotas, conforme a Figura 12.3. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788597010183/epub/OEBPS/Text/chapter12.html?create=true#fig12-3 Figura 12.3Rotas de fuga de derrubada. Fonte: Manual EMAK. Sugestões de leitura ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Segurança e saúde no trabalho florestal: código de práticas da OIT. São Paulo: Fundacentro, 2005. Manuais de fabricantes Buffalo <www.buffalo.com.br> Carlton <www.carltonproducts.com> Emak <www.emakdobrasil.com.br> Husqvarna <www.husqvarna.com> Makita do Brasil <www.makita.com.br> Nagano <www.naganoprodutos.com.br> Solo <www.solo-germany.com> Stihl <www.stihl.com> NR-12 – Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos ANEXO V – MOTOSSERRAS 1. As motosserras devem dispor dos seguintes dispositivos de segurança: a) freio manual ou automático de corrente; b) pino pega-corrente; c) protetor da mão direita; d) protetor da mão esquerda; e e) trava de segurança do acelerador. http://www.buffalo.com.br/ http://www.carltonproducts.com/ http://www.emakdobrasil.com.br/ http://www.husqvarna.com/ http://www.makita.com.br/ http://www.naganoprodutos.com.br/ http://www.solo-germany.com/ http://www.stihl.com/ 1.1. As motopodas e similares devem atender, no que couber, o disposto no item 1 e alíneas deste Anexo. 2. Os fabricantes e importadores de motosserras e similares devem informar, nos catálogos e manuais de instruções de todos os modelos, os níveis de ruído e vibração e a metodologia utilizada para a referida aferição. 3. As motosserras e similares fabricadas e importadas devem ser comercializadas com manual de instruções que contenha informações relativas à segurança e à saúde no trabalho, especialmente: a) quanto aos riscos à segurança e a saúde durante o seu manuseio; b) instruções de segurança no trabalho com o equipamento, de acordo com o previsto nas Recomendações Práticas da Organização Internacional do Trabalho (OIT); c) especificações de ruído e vibração; e d) advertências sobre o uso inadequado. 4. Os fabricantes e importadores de motosserras e similares instalados no País devem disponibilizar, por meio de seus revendedores, treinamento e material didático para os usuários, conforme conteúdo programático relativo à utilização constante do manual de instruções. 4.1. Os empregadores devem promover, a todos os operadores de motosserra e similares, treinamento para utilização segura da máquina, com carga horária mínima de oito horas e conforme conteúdo programático relativo à utilização constante do manual de instruções. 4.2. Os certificados de garantia das máquinas devem ter campo específico, a ser assinado pelo consumidor, confirmando a disponibilidade do treinamento ou responsabilizando-se pelo treinamento dos trabalhadores que utilizarão a máquina. 5. Todos os modelos de motosserra e similares devem conter sinalização de advertência indelével e resistente, em local de fácil leitura e visualização do usuário, com a seguinte informação: o uso inadequado pode provocar acidentes graves e danos à saúde. 6. É proibido o uso de motosserras e similares à combustão interna em lugares fechados ou insuficientemente ventilados. Apêndice: Dispositivos de segurança em uma motosserra Os motosserras que não apresentem os seguintes dispositivos não devem ser utilizadas: a) punhos separados para ambas as mãos quando estiverem calçadas com luvas; b) um interruptor de liga/desliga (capaz de ser alcançado com a mão direita no acelerador de mão); c) uma trava para o acelerador de mão (previne que a motosserra seja ligada inadvertidamente); d) protetor traseiro da mão (para proteger a mão direita); e) um sistema antivibratório, consistindo em absorvedores de choque de borracha entre o motor e os punhos (previne enfermidades da mão provocadas pela vibração); f) breque de correia (ativado manualmente pelo protetor de mão ou mediante o uso de um mecanismo automático no caso de coice); g) um prendedor de corrente (prende a corrente da serra se ela arrebenta); h) pino amortecedor (permite que o peso da serra repouse com segurança); i) protetor dianteiro (para que a mão esquerda seja protegida da corrente); j) protetor da corrente (para evitar ferimentos durante o transporte da motosserra). Extraído de: ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (IOT). Pontos de verificação ergonômica – soluções práticas e de fácil aplicação para melhorar a segurança, a saúde e as condições de trabalho. São Paulo: Fundacentro, 2001. p. 91.
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