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VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA MARIA DULCE SILVA • O QUE É VIOLÊNCIA? • • Conforme o Dicionário “violento” é aquilo que é contrário ao direito e a justiça. • Violência significa: • Tudo aquilo que age usando a força contra a natureza de algum ser (desnaturar) • Todo ato de força contra a expontaneidade , a vontade e a liberdade de alguém: • É coagir; • É constranger; • É torturar; • É brutalizar. • Todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade (é violar). • Todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma sociedade define como justo e como direito. • Violência é um ato de brutalidade, sevicia e abuso físico ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e pelo terror. A VIOLÊNCIA – DESIGUALDADES NAS RELAÇÕES SOCIAIS • A violência é um instrumento e expressão histórica de opressão e dominação; • Foi um instrumento histórico da dominação sobre negros(as), população indígena, a população pobre e as mulheres. • A violência e uma experiência comum entre as mulheres na sociedade patriarcal e um dos seus instrumentos de manutenção; • Mas a violência não nos atinge da mesma forma, existe desigualdade entre mulheres: • Racismo produz formas próprias de violência contra as mulheres negras: vulnerabilidade, violência sexual, trafico, violência simbólica e institucional; • Desigualdades de classe: a situação sócio- econômica das mulheres, a intervenção do poder econômico em alguns contextos e formas de exploração economia pelo uso da violência; • A lesbofobia: a violência contra lésbicas pela imposição da heterossexualidade como norma; • Condição etária: as mulheres sofrem violência desde meninas e as meninas são, em alguns contextos, as mulheres mais vulneráveis. Violência contra idosas. DIMENSÃO SIMBOLICA E DOMINAÇÃO • A violência contra as mulheres envolve dimensões materiais e simbólicas; • A violência exerce-se também pelo poder das palavras que negam, oprimem ou destroem psicologicamente o outro; • Violência das instituições que geram valores, ideais, símbolos e crenças – criam modos de pensar (escola, mídia, instituições culturais). • As crenças e elementos culturais produzem e reproduzem as várias formas de violência contra as mulheres. DIMENSÃO DA SUBJETIVIDADE • Aspectos subjetivos - dimensão insuprimível na abordagem da violência: • As condições de vida são importantes para compreender a vulnerabilidade das mulheres na situação de violência, mas não são suficientes e únicas para compreender a permanência das mulheres em situações de dominação e violência; • A cultura patriarcal produz uma forma própria de subjetividade para as mulheres (subjetividade violada) que condiciona nossa existência a ser para os outros (simbiose); Nossas subjetividades são contraditórias: • Importância dos vínculos afetivos na permanência das mulheres na situação de violência; • Subjetividade não significa patologização do problema; • Não significa negar que as mulheres são vítimas de violência. • Recrudescimento do conservadorismo e formas neopatriarcais de dominação; • Patriarcado, capitalismo e racismo modeliza corpos, padronizando a estética, comportamentos e atitudes, padronizando modos de ser e lidar com o feminino. O QUE É VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER? “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”. (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, adotada pela OEA em 1994 - Convenção de Belém do Pará) ESPAÇOS RELACIONAIS ONDE OCORRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER • Conforme adverte a Convenção de Belém do Pará, as diferentes formas de violência podem ocorrer tanto na vida pública como na privada. • a violência que ocorre na intimidade também é responsabilidade do Estado e da sociedade. • Não há uma violência pública e uma violência privada, mas sim agressões, danos,violações que ocorrem em espaços específicos de interação entre as pessoas. Além das violências, agora tipificadas como crime (física, psicológica, sexual, moral e patrimonial) , outro critério de classificação é o espaço relacional onde ocorre essa violência, entendendo por isso algo mais que o simples local da ocorrência. São espaços de inter-relações sociais, com características peculiares ao fomento da violência tais como: • Espaços públicos – Viol. sexual, simbólica, agressões físicas, • Local de trabalho – Assédio Moral, Assédio, Violência Sexual • espaços institucionais – Violência nos Serviços Públicos:hospitais,escolas,delegacias • lugares de conflito armados – estupros, prostituição forçada, limpeza étnica • Espaço doméstico – Violência doméstica e familiar Contextos específicos também dimensionam a violência contra as mulheres: ser agravada ou encoberta; Emergência de novas formas de violência contra as mulheres próprias de cada contexto; • Contextos urbanos com forte incidência da violência; • Contextos de conflitos agudos; • Contextos de invisibilidade da violência contra as mulheres; O CICLO DA VIOLÊNCIA: FASE DA TENSÃO: tensões vão se acumulando e se manifestando por meio de atritos, de insultos verbais e ameaças, muitas vezes recíprocos. FASE DA AGRESSÃO, com a descarga descontrolada de toda tensão acumulada. O agressor atinge a vítima com empurrões, socos e pontapés, ou às vezes usa objetos, como garrafa, pau, ferro e outros. FASE DA RECONCILIAÇÃO, em que o agressor pede perdão e promete mudar de comportamento, ou finge que não houve nada, fica mais carinhoso, bonzinho, traz presentes, fazendo a mulher acreditar que aquilo não vai mais voltar a acontecer. Violência Contra a Mulher e os Agravos a` Saúde É, praticamente unânime, a idéia de que a violência não faz parte da natureza humana e que não tem raízes biológicas. Trata-se de um complexo e dinâmico fenômeno biopsicossocial. Seu espaço de criação e desenvolvimento é a vida em sociedade. Heise (1993), num estudo sobre violência contra as mulheres e saúde, informa que 35% das mulheres que recorrem aos hospitais nos Estados Unidos apresentam indícios de maus-tratos. Acrescenta, que estudos realizados neste país demonstram que as mulheres maltratadas estão quatro a cinco vezes mais expostas a tentativas de suicídio, depressão, dores crônicas e uso de álcool ou drogas. Os maus-tratos propiciam gravidez e maternidade com risco, e duplicam o risco de aborto e de nascimento com baixo peso. No Brasil ainda não se registra a presença de estudos mais extensivos sobre essa temática. Mas os inúmeros estudos sobre dimensões especificas das repercussões da VCM a´ vida das mulheres e as evide^ncias empíricas, conduzem as constatações, tais como: • Dimensão Emocional: depressões, tentativas de suicidios, alcoolismo e uso de outras drogas, transtornos alimentares,baixa estima. • Dimensão Orgânica – doenças cardiovasculares,alergias,
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