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Montes Claros/MG - Outubro/2015
Antônio Dimas Cardoso 
Cláudia Regina Santos de Almeida
Daniel Coelho
Maria da Luz Alves Ferreira
2ª edição atualizada por
Antônio Dimas Cardoso 
Maria Alice Silveira Ferreira
Sociologia Brasileira
REIMPRESSÃO
2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Antônio Alvimar Souza 
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Jânio Marques Dias
EDITORA UNIMONTES
Conselho Consultivo
Adelica Aparecida Xavier
Alfredo Maurício Batista de Paula
Antônio Dimas Cardoso
Carlos Renato Theóphilo,
Casimiro Marques Balsa
Elton Dias Xavier
José Geraldo de Freitas Drumond
Laurindo Mékie Pereira
Otávio Soares Dulci
Marcos Esdras Leite
Marcos Flávio Silveira Vasconcelos Dângelo
Regina de Cássia Ferreira Ribeiro
CONSELHO EDITORIAL
Ângela Cristina Borges
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma Athayde Moraes
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Gisléia de Cássia Oliveira
Káthia Silva Gomes
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Sanzio Mendonça Henriques
Wendell Brito Mineiro
CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Camila Pereira Guimarães
Joeli Teixeira Antunes
Magda Lima de Oliveira
Zilmar Santos Cardoso
Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Diretora do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Mariléia de Souza
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Maria Generosa Ferreira Souto
Chefe do Departamento de educação/Unimontes
Maria Cristina Freire Barbosa
Chefe do Departamento de educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes
Alex Fabiano Correia Jardim
Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes
Anete Marília Pereira
Chefe do Departamento de História/Unimontes
Claudia de Jesus Maia
Chefe do Departamento de estágios e Práticas escolares
Cléa Márcia Pereira Câmara
Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas educacionais
Káthia Silva Gomes
Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Carlos Caixeta de Queiroz
Ministro da educação
Renato Janine Ribeiro
Presidente Geral da CAPeS
Jorge Almeida Guimarães
Diretor de educação a Distância da CAPeS
Jean Marc Georges Mutzig
Governador do estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel 
Secretário de estado de Ciência, Tecnologia e ensino Superior
Vicente Gamarano
Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Antônio Alvimar Souza 
Pró-Reitor de ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues Neto
Diretor do Centro de educação a Distância/Unimontes
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Antônio Dimas Cardoso 
É mestre e doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB). É professor de 
Sociologia do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação 
em Desenvolvimento Social, Unimontes.
Cláudia Regina Santos de Almeida 
É professora titular na área de Sociologia Clássica e Brasileira do Departamento 
de Ciências Sociais da Unimontes. É coordenadora da licenciatura em Sociologia 
Unimontes/UAB.
Daniel Coelho 
É mestre e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de 
Janeiro É professor de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes.
Maria Alice Silveira Ferreira
Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 
Graduada em Ciências Sociais pela Unimontes. Possui especialização em Produção 
em Mídias Digitais pelo IEC PUC-Minas.
Maria da Luz Alves Ferreira 
É mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília, doutora em Ciências Humanas 
(Sociologia e Política) pela Universidade Federal de Minas Gerais. É professora de 
Sociologia do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação 
em Desenvolvimento Social, da Unimontes.
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
A Formação da Sociologia Brasileira, o Processo de Institucionalização, os Temas e os 
Intérpretes da Sociedade Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 A Formação do Pensamento Racional no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.3 Condições do Surgimento da Sociologia no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
1.4 Sociologia Brasileira: Influência de Ideias Estrangeiras e a Interpretação de 
Guerreiro Ramos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
1.5 O Processo de Institucionalização da Sociologia no Brasil, Contexto, Interpretações
e Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.6 Tendências da Sociologia no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
As Matrizes Clássicas da Sociologia Brasileira: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de 
Holanda, Caio Prado Júnior e Raymundo Faoro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
2.2 Sérgio Buarque de Holanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
2.3 Gilberto Freyre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4 Caio Prado Júnior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
2.5 Raymundo Faoro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
O Sociólogo e a Interpretação de Aspectos da Sociedade Brasileira em Florestan 
Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Octávio Ianni . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
3.2 Florestan Fernandes e a Sociologia Brasileira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
3.3 Octávio Ianni e a Sociologia Brasileira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.4 Fernando Henrique Cardoso: Dependência e Desenvolvimento na América Latina . .63
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67
O Problema da Desigualdade Social na Sociologia Brasileira Contemporânea: 
as Interpretações de Francisco de Oliveira, José de Souza Martins e Jessé Souza . . . . . .67
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67
4.2 Francisco de Oliveira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67
4.3 José de Souza Martins. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.4 Jessé Souza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .70
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
Referências Básicas e Complementares e Suplementares . . .77
Atividade des Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79
9
Ciências Sociais - Sociologia Brasileira
Apresentação
Caro(a)s acadêmic(a)os,
É com muita alegria que apresentamos para vocês o Caderno Didático de Sociologia Brasi-
leira. Esperamos que aproveitem bastante esta nossa disciplina, porque agora vamos nos con-
centrar no quinto período do nosso curso, estudando o contexto e principais autores brasileiros. 
Vocês hão de se lembrar que, no início do, curso, foi falado que, no primeiro e segundo pe-
ríodos, estudaríamos o contexto do surgimento das ciências sociais, com enfoque nas condições 
históricas e intelectuais que possibilitaram o surgimento da ciência da sociedade. Ainda no pri-
meiro período, vocês estudaram as três grandes matrizes clássicas da sociologia. Quem de vocês 
não se lembra de Karl Marx, Emile Durkheim e Max Weber? Pois é, esse foi o conteúdo estudado 
no primeiro e também no segundo período. Aprendemos e aprofundamos como esses autores 
analisaram a sociedade capitalista, qual era, na concepção de cada um deles, o papel da Sociolo-
gia e também quais foram os principais conceitos trabalhados por eles.
No terceiro e também no quarto períodos, vocês estudaram a Sociologia contemporânea; 
no terceiro período, foi a vez das teorias sociológicas desenvolvidas entre 1920 e 1980. Começa-
mos nossa viagem na teoria contemporânea com o estrutural-funcionalismo de Talcott Parsons e 
Robert Merton, autores que centravam as suas análises na estrutura social, ou seja, na preponde-
rância da sociedade sobre os indivíduos.
Depois do estrutural-funcionalismo, estudamos três escolas do pensamento sociológico 
contemporâneo que centravam suas análises no indivíduo, cujo ponto de partida era a micros-
sociologia de Max Weber: o Interacionismo Simbólico (lembram do Mead, do Blumer e da Dra-
maturgia Social do Erving Goffman); depois do Interacionismo estudamos a Etnometodologia e a 
Teoria da Troca Social.
Continuamos a nossa incursão pela Sociologia contemporânea no quarto período, onde es-
tudamos vários autores como Habermas com a sua Teoria da Ação Comunicativa, Elster, com a 
Teoria da Escolha Racional, Giddens com a Teoria da Estruturação e finalmente Norbert Elias, com 
os Estabelecidos e os Outsiders; Giddens e Bauman, com os estudos da globalização.
Agora, neste quinto período, vamos estudar como os autores brasileiros fizeram o mesmo 
percurso dos autores clássicos e contemporâneos da sociologia para compreenderem o contexto 
e a sociedade brasileira. Vocês terão contato com a obra de autores importantes como: Euclides 
da Cunha, Gilberto Freyre, Caio Prado, Raymundo Faoro, Florestan Fernandes, Fernando Henrique 
Cardoso (que vocês já conheceram como presidente da república, mas que agora vão conhecer a 
sua obra como cientista social) e também o Octávio Ianni, todos eles grandes pesquisadores que 
empreenderam grande parte de suas vidas a pesquisar e analisar a sociedade brasileira. Também 
terão a oportunidade de conhecer importantes autores da Sociologia Brasileira na atualidade, 
como Francisco de Oliveira, José de Souza Martins e Jessé Souza.
Bom estudo para vocês! 
Esperamos que aproveitem bem este quinto período.
DICA
Max Weber tem um livro 
chamado “Ciência e 
Política: duas voca-
ções”, onde ele define o 
papel do cientista, que 
é investigar, pesquisar, e 
o papel do político, que 
é administrar. Vocês já 
conheceram Fernando 
Henrique Cardoso, o 
político, agora vão co-
nhecer o cientista que, 
com certeza, foi muito 
mais importante do que 
o político.
11
Ciências Sociais - Sociologia Brasileira
UnIDADe 1 
A Formação da Sociologia 
Brasileira, o Processo de 
Institucionalização, os Temas e os 
Intérpretes da Sociedade Brasileira
Antônio Dimas Cardoso
Cláudia Regina Santos de Almeida
Maria da Luz Alves Ferreira
1.1 Introdução
Esta unidade discute a institucionalização da Sociologia no Brasil e sua influência na 
produção do conhecimento científico, face à necessidade de compreensão dos processos de 
urbanização, industrialização e cultura política. Os novos desafios sociais presentes no Brasil 
moderno passaram a demandar dos intérpretes da sociedade a reatualização de conceitos 
clássicos e incremento do saber científico, exigindo da Sociologia Brasileira um programa de 
pesquisas que pudesse orientar novos estudos sobre estratificação e classe social no país. Au-
tores, como Guerreiro Ramos, Florestan Fernandes, Octávio Ianni, Raymundo Faoro e Fernando 
Henrique Cardoso, tornaram-se referência fundamentais de interpretação sobre o desenvolvi-
mento do capitalismo periférico no âmbito do contexto acadêmico. Esses autores expressam 
as bases modernas da intelligentsia nacional e o fortalecimento institucional das Ciências So-
ciais no Brasil.
1.2 A Formação do Pensamento 
Racional no Brasil
A contextualização do processo de formação da sociologia brasileira, na interpretação do 
sociólogo Florestan Fernandes, aponta, a priori, para entendimento desse processo, a necessida-
de de determinadas condições relacionadas à pesquisa, à produção e à transmissão de conhe-
cimentos científicos. Condições que são engendradas a partir de um contexto em que certas 
características, relacionadas aos processos de urbanização, industrialização e mudança de men-
talidade estão presentes.
O saber racional desenvolve-se na sociedade somente a partir de certas condições deter-
minantes e estruturais relacionadas à estrutura social: “O saber racional floresce em sociedades 
estratificadas” (FERNANDES, 1980, p.15), a necessidade de explicações racionais se justificapor 
meio de certas condições advindas do entendimento da origem, composição e desenvolvimento 
do mundo e da relação dos homens entre si e com o seu destino, saindo do campo do mito, da 
religião e da filosofia para representar uma concepção científica.
Em primeiro lugar, Fernandes aponta as concepções secularizadas, tanto para o entendi-
mento da natureza humana, quanto para o funcionamento das instituições. 
DICA
A mudança de mentali-
dade significa o rompi-
mento de explicações 
dos fenômenos sociais, 
que antes tinham como 
referência o mitocos-
mos, passando para a 
perspectiva teológica/
religiosa, até chegar ao 
saber racional.
12
UAB/Unimontes - 5º Período
Em segundo lugar, o acesso aos postos de trabalho do processo de produção da sociedade 
deve estar desvinculado dos círculos restritos, dos grupos e das castas ou estamentos.
Para o terceiro lugar, é apontada a necessidade de convivência entre os variados estilos de 
pensamento, voltados para o reconhecimento público.
Essas condições, ao serem concretizadas, possibilitarão, segundo o autor, a existência de 
uma certa facilidade para o desenvolvimento do saber racional, que vai assumindo a condição de 
um saber positivo ou científico. 
Em nossa sociedade, essas condições 
são recentes. Verificam-se no período co-
lonial, compreendido entre os séculos XVI 
e XIX, quando os papéis intelectuais se re-
lacionam ao saber racional que era mono-
polizado pelo clero. Desde a transmissão e 
propagação da fé religiosa até a educação 
da nova geração dos círculos dominantes, 
elas são de responsabilidade do clero.
O contexto da sociedade brasileira 
compreendia um cenário marcado pela es-
cravidão e que, segundo Vita (1996, p.11), 
“a sociedade brasileira não pode ser com-
preendida sem que se tenha em mente o 
peso de um passado colonial e escravista.” 
O papel da igreja nesse contexto é de do-
minação, e a visão de mundo dessa socie-
dade refletia essa visão dominante. 
A sociedade brasileira se estruturava 
por meio de uma organização, que trazia 
a marca de uma estratificação interétnica, 
que, para Florestan Fernandes, não repre-
sentava nenhuma ameaça ao sistema de concepção de mundo transplantada do modelo europeu.
Fernandes nos apresenta essa estrutura social, em que as camadas humanas estão subju-
gadas e sob a dominação senhorial, por meio da escravidão tanto das populações nativas como 
das que vieram do continente africano, não dispondo dos meios necessários para desafiarem e 
entrarem em conflito e mesmo colocarem em xeque essa dominação senhorial, o que justifica, 
em parte, a ausência de condições para o desenvolvimento do saber racional.
Outro fator apontado como entrave ao desenvolvimento do saber racional é o relacionado 
às situações cotidianas de vida e de existência da nossa população, que não exigiam elaborações 
complexas para resolverem os problemas que surgiam no dia a dia, justificando a ausência de 
funções intelectuais criadoras e a falta de questionamentos e oposição à escravidão instaurada 
na sociedade brasileira.
Entre as justificativas apresentadas por Fernandes, destaca-se:
GLoSSáRIo
estrutura social: Tipo 
de sistema ou forma 
social, econômica ou 
lítica, variável conforme 
condições de tempo 
e de lugar, posições, 
papéis, estratos sociais, 
formações sociais em 
geral.
Figura 2: Catequização 
dos Índios 
Fonte: Disponível em 
<http://t1.gstatic.com/
imagesq=tbn:LecRyJ-
vIv2oZjM:http://www.
eb23-diogo-cao.rcts.pt/
Trabalhos/bra500/img/
avieir.jpg&t=1>. Acesso 
em 03 out. 2010.
►
Figura 1: Florestan 
Fernandes 
Fonte: Disponível em 
<http://1.bp.blogspot.
com/>. Acesso em 03 out. 
2010.
►
13
Ciências Sociais - Sociologia Brasileira
Para que o clero exercesse funções criadoras no plano do saber racional seria pre-
ciso que as alterações de comportamento religioso ou dos fundamentos da ética 
cristã afetassem significações axiológicas do catolicismo, no nível da explicação 
teológica ou no da reflexão da metafísica (FERNANDES, 1980, p. 17).
Não ocorreu a contribuição do clero para o dinamismo da vida cultural, segundo o autor, 
por vários motivos, destacando-se, entre eles, dois considerados como os mais relevantes:
•	 As questões geradas pela escravidão na esfera da vida religiosa não eram resolvidas por 
aqui, sendo resolvidas por instâncias superiores, fora da organização eclesiástica colonial;
•	 Existia um verdadeiro pacto entre os empreendimentos dos colonizadores com os da igreja 
que, além de solidária, era materialmente e moralmente envolvida. 
Nesse sentido, o que realmente representou a natureza deste pacto entre a camada senhorial 
e o clero fora a impossibilidade de ocorrer qualquer dinamismo intelectual criador e inovador.
Fernandes apresenta como marco do florescimento das condições necessárias ao desenvol-
vimento do pensamento racional no Brasil a vinda da família real, motivada pela invasão de Por-
tugal, pelas tropas francesas, o que gerou mudanças na nossa realidade social com a criação de 
novos postos de trabalho administrativos e políticos, como também pelo surgimento de novos 
núcleos populacionais urbanos e a criação dos primeiros cursos superiores.
O estabelecimento de intercâmbio com os centros europeus de produção artística, filosófica 
ou científica, segundo Fernandes possibilitou 
a evolução cultural posterior, com a proclamação da independência, a instau-
ração da monarquia e da república, provocou efeitos similares, mas de modo a 
aumentar com maior intensidade a formação secular da intelligentsia (FERNAN-
DES, 1980, p.18).
Uma conjunção de fenômenos possibilitou que o nosso contexto tornasse próprio às ana-
lises sociais e, com especificidades de espaço e tempo em relação à situação europeia, o autor 
nos lembra que o nosso processo ocorreu em torno de apenas cem anos, enquanto na Europa o 
processo envolveu séculos. 
Com relação à vinculação do pensamento com a solução de problemas, premissa consi-
derada como um dos marcos constitutivos da Sociologia europeia, na nossa realidade de país 
colonizado, esse aspecto se encontra um tanto difuso. E, a respeito do papel desempenhado 
pelo clero, Fernandes diz faltar ao clero os elementos que garantiriam um maior dinamismo 
cultural no país. 
Florestan Fernandes apresenta cinco fatores decisivos para a compreensão das dificulda-
des encontradas pela intelligentsia para se desenvolver na sociedade brasileira: o primeiro fator 
se relaciona à ligação do saber com a elite aristocrática brasileira, em razão da necessidade de 
formação dos quadros, porém vinculados a ela, mas com a capacidade de desempenhar funções 
públicas, políticas e administrativas. A carreira mais relevante encontrada foi a dos bacharéis em 
Direito, que passam a responder pela educação superior no Brasil, o que representou a aplicação 
do conhecimento racional como forma de se chegar à solução de problemas das esferas política, 
administrativa ou privada. 
Como segundo fator, Fernandes aponta as questões que implicavam na função que esses 
bacharéis representavam, em consequência de serem apenas um prolongamento do senhor ru-
ral no mundo urbano, o que impedia a formação de opiniões diferentes entre representantes das 
camadas senhorial dominante, ou seja: 
Quando não era seu filho ou neto, era seu dependente, conformando-se com a 
ordem moral associada à escravidão, ao latifúndio e à monocultura. Como o clero 
na sociedade colonial, o bacharel se encontrava preso a uma teia de determina-
ções que projetavam suas atividades no âmago das forças de conservadorismo 
sócio-cultural (FERNANDES, 1980, p. 19).
Como terceiro fator, o autor apresenta a forma de estratificação social ocorrida aqui, como 
determinante para o não desenvolvimento do pensamento racional, em razão do isolamento das 
camadas sociais e o valor da opinião que se relacionavaà posição ocupada na hierarquia social, 
não se relacionando à eficácia ou ao fundamento racional.
O quarto fator, apontado por Florestan Fernandes, refere-se ao processo de escravidão que, 
além de excludente, gera como consequência a ausência de influência desse segmento nos pa-
péis sociais, criadores e de destaque, restando a estes o trabalho servil e profissões mecânicas.
DICA
De acordo com Álvaro 
da Vita, a sociedade 
brasileira só passou a 
fazer
parte da civilização 
ocidental em razão da 
transição do sistema 
feudal para o capitalista, 
período compreendido 
entre os séculos XV e 
XVIII, sob o comando 
da burguesia comercial 
europeia, pois o regime 
capitalista prosperaria 
por meio do comércio 
com as colônias. Assim, 
a compreensão da ocu-
pação e exploração das 
terras brasileiras se dá 
pela via das necessida-
des do capitalismo de-
senvolvido na Europa. E, 
com o desaparecimento 
do trabalho servil (feu-
dalismo), os europeus 
recriam a escravidão nas 
colônias.
Então, qual a explicação 
da introdução da escra-
vidão negra no Brasil?
Para Álvaro da Vita, a 
resposta não está na 
dificuldade de escra-
vizar os índios, mas 
na Europa. E, com o 
desaparecimento do 
trabalho servil (feu-
dalismo), os europeus 
recriam a escravidão nas 
colônias.
Então, qual a explicação 
da introdução da escra-
vidão negra no Brasil?
Para Álvaro da Vita, a 
resposta não está na 
dificuldade de escra-
vizar os índios, mas na 
atividade altamente lu-
crativa que representou 
o tráfico de escravos, 
controlada pela burgue-
sia metropolitana, pois 
antes mesmo da terra 
produzir riquezas o 
escravo produzia lucro.
14
UAB/Unimontes - 5º Período
Finalizando, o quinto fator relaciona-se aos valores e aos ideais da camada dominante, que 
obstruíam o horizonte intelectual dos que estavam em condições de tomar decisões e de influir, 
pessoalmente, na arena política. 
Na análise de Florestan Fernandes, a ordem senhorial escravocrata foi solapada e desinte-
grada pela própria força de sua expansão. Nesse sentido, o abolicionismo representou a primeira 
revolução social da nossa sociedade brasileira, o que possibilitou condições para que rupturas 
ocorressem, ruindo os alicerces da antiga ordem social.
A nova ordem social, que se instalou, era organizada com base no regime de classes sociais. 
Acontecimentos outros, posteriores, como exemplo, a industrialização, mesmo que somente 
em algumas regiões mais desenvolvidas que outras, conjugados com o processo de urbaniza-
ção-crescimento das cidades, são fatores que juntos se tornaram essenciais para efetivar a ins-
tauração da nova ordem capitalista. E, para o autor, é esse o período de mudanças estruturais, 
de transição do século XIX para o XX, em que a sociedade brasileira encontra semelhança com a 
europeia em relação ao desenvolvimento do pensamento racional.
Essas condições recentes são produtos da vida social, vinculadas a processos urbanos, à ins-
tauração de regime de classes sociais, da secularização dos modos de conceber o mundo, da in-
dustrialização e da instauração de garantias ou direitos sociais. 
1.3 Condições do Surgimento da 
Sociologia no Brasil
Nesta seção será discutido como se deu o desenvolvimento e o florescimento da Sociologia 
na sociedade brasileira.
1.3.1 Desenvolvimento Histórico-Social da Sociologia no Brasil
Ainda, numa análise de Florestan Fernandes (1980), o florescimento da Sociologia se refere 
ao sentido de mudança e a uma necessidade intelectual de explicar o comportamento humano 
e o mundo. 
Para Fernandes (1980), vão existir três épocas de desenvolvimento da reflexão sociológica no 
Brasil. A primeira época tem como característica a sociologia explorada como um recurso parcial; a 
perspectiva é dependente de interpretação, a intenção era muito mais de esclarecer certas relações 
mediante a consideração dos fatos sociais e não produzir obras. O interesse da inteligência brasilei-
ra estava voltado para o estabelecimento de conexões entre o direito e a sociedade, a literatura e o 
contexto social, o estado e a organização social etc. Essa fase tem correspondência com as formula-
ções elaboradas pelo pensamento racional europeu, ou seja, a produção é pré-científica.
Na segunda época, a utilização do pensamento racional, em que a consciência e explicação 
das condições histórico-sociais de existência têm como característica uma análise histórico-geo-
gráfica do presente, um modelo mais complexo de análise histórico-pragmático, em que a inter-
pretação do presente se associa à disposição de intervenção racional no processo social. As obras 
desse período trazem intenções deliberadas de produção sistemática de investigação sociológi-
ca, representando o primeiro quartel do século XX.
E, finalizando com a terceira época, em que as preocupações de subordinar a produção in-
telectual ao estudo dos fenômenos sociais, como também às obras de investigação empírico-in-
dutiva, (de reconstrução histórica ou de campo) são as características desse momento, além das 
aspirações em contribuir para que a sociologia seja uma disciplina científica. O que prevalece é 
uma nova mentalidade voltada para os imperativos da especialização na escolha de interesses 
individuais. Esse período, compreendido pelo segundo quartel do século XX, se equivale à refle-
xão sociológica europeia do terceiro quartel do século XIX.
Ao elencar os obstáculos culturais à aceitação da Sociologia no Brasil, Fernandes (1980) consta-
ta que a Sociologia tem como prioridade para seu conhecimento a existência de uma relação entre 
as formas de concepção de mundo e às vezes das técnicas de consciência social, o que permite com-
preender a associação que a Sociologia faz aos modos de explicação das situações de existência.
GLoSSáRIo
Intelligentsia: (do 
latim: intelligentia) é 
o nome dado a uma 
classe social de pessoas 
engajadas em trabalho 
mental complexo e 
criativo direcionado 
ao desenvolvimento 
e disseminação da 
cultura, abrangendo 
grupos sociais e inte-
lectuais próximos dela 
(por exemplo, artistas e 
professores). Inicialmen-
te, o termo foi aplicado 
principalmente no con-
texto da Rússia, e pos-
teriormente, da União 
Soviética, e tinha um 
sentido estrito, baseado 
numa autodefinição de 
uma certa categoria de 
intelectuais.
GLoSSáRIo
Secularização: Fenô-
meno histórico dos últi-
mos séculos, pelo qual 
as crenças e instituições 
religiosas se conver-
teram em doutrinas 
filosóficas e instituições 
leigas.
DICA
Euclides da Cunha, 
(1866 – 1909) nascido 
no interior do Rio de 
Janeiro, engenheiro, mi-
litar, jornalista, ensaísta 
e professor.
O autor Guerreiro 
Ramos, (reflexões da 
próxima sessão) consi-
dera Euclides da Cunha, 
vinculado à tradição 
sociológica brasileira, 
como a de Sílvio Ro-
mero.
Para Ramos, (1995, 
p.175), “A superioridade 
de Euclides da Cunha, 
enquanto sociólogo, 
quando comparado a 
estudiosos como Nina 
Rodrigues, Arthur Ra-
mos ou Gilberto Freyre 
é não ter utilizado a 
ciência estrangeira 
simétrica e mecanica-
mente. Não importam 
seus erros. Temos de 
aprender com ele a as-
sumir atitude integrada 
na realidade nacional.”
15
Ciências Sociais - Sociologia Brasileira
Assim, para o autor, são dois os grandes obstáculos num cenário em que a sociedade escra-
vocrata e senhorial do século XIX implica na incompatibilidade da ordem patrimonial com a livre 
exploração do pensamento racional e a resistência cultural do meio aos fundamentos científicos 
de explicação do mundo.
Para Fernandes (1980), as consequências da falta de sintonia entre a ordem patrimonial e o 
pensamento racional são muitas, entre as quais podemos citar o cosmo moral fechado e conser-
vador aos interesses limitados, faltando um sujeito criador, como a Sociologia, que necessita dodesenvolvimento de ambientes de liberdade e autonomia que não irá encontrar terreno, pois as 
resistências, as tradições e os interesses conservadores, junto com a valorização da ordem religio-
sa, remetem a não inclusão da Sociologia no sistema cultural brasileiro.
Outro fator apresentado por Fernandes (1980) é o ponto de vista racional que se chocava 
com a mentalidade dominante de verdadeira desconfiança. Outro aspecto relaciona-se com a or-
dem social patrimonialista ao se conjugar com as tradições e os costumes da sociedade brasilei-
ra, fazendo com que a tolerância às discussões do campo da Sociologia ficasse restrita às discus-
sões do campo literário ou de forma ilustrativa, não sendo inserida no sistema de concepção de 
mundo; as instituições do sistema tradicional e católico, (padres e bacharéis de Direito), exerciam 
uma oposição à reflexão sociológica: para estes, não caberia a ela o estudo objetivo do direito ou 
da religião, gerando uma verdadeira repulsa, justificada através do apego às tradições.
Fernandes (1980) argumenta que na sociedade europeia dois fatores são decisivos para o 
processo histórico-social de constituição da Sociologia, sendo o primeiro a secularização do pen-
samento, compreendida a partir da associação entre as atitudes e os modos de compreender a 
natureza humana, o funcionamento das instituições e os motivos do comportamento humano. 
O segundo representa o processo de racionalização, aplicado às esferas das ações coletivas, com 
o objetivo de conhecer, explicar e dirigir o curso dos acontecimentos, das relações dos homens 
com o universo e com as condições de existência social. No primeiro momento, o pensamento 
racional irá libertar-se dos controles sociais, ou seja, dos imperativos morais ou religiosos e dos 
interesses sociais e econômicos. Na segunda etapa, o pensamento racional será aplicado tam-
bém para explicar a vida humana.
Na sociedade brasileira, o momento está associado à desagregação do regime escravocrata 
e senhorial e na transição para o regime de classes sociais. Na arena política, as transformações 
são refletidas na vida econômica, em que a aristocracia tem a finalidade de influenciar a forma-
ção do Estado, adentrando na política. O patrimônio rural, como consequência, é o financiador 
das propriedades urbanas e também da constituição de uma inteligência para o exercício das 
funções políticas e burocráticas.
O aumento da massa de especialistas, com os diversos profissionais liberais: advogados, juízes, 
jornalistas, engenheiros, médicos, farmacêuticos etc., no dizer de Fernandes, acaba por restringir 
a vinculação das ações desses profissionais aos interesses e ditames da camada senhoril. Mesmo 
assim, permitirá um avanço lento do progresso das cidades e o crescimento mais rápido da inteli-
gência nas diversas áreas do conhecimento, que influirá na diminuição do controle por parte das 
camadas conservadoras dominantes, surgindo as primeiras reflexões de caráter sociológico. 
As primeiras reflexões, no campo da Sociologia, representam uma crítica econômica e po-
lítico-administrativa. São exemplos o autor A. C. Tavares de Bastos, e uma crítica jurídica social, 
tendo como representantes A. M. Perdigão Malheiros e Joaquim Nabuco.
Posteriormente, a reflexão sociológica passa a representar um caráter definitivo de interpre-
tação, que tinha como finalidade permitir a compreensão das origens sociais e as vinculações 
estruturais de segmentos da sociedade com o contexto. São exemplos os autores: Sílvio Romero 
e Anibal Falcão. Em outra perspectiva, as relações são vistas como fatores da vida em sociedade, 
observadas em Paulo Egydio e Florentino Menezes (FERNANDES,1980, p. 33).
A desagregação da sociedade escravocrata e senhorial reflete o desenvolvimento da Socio-
logia no Brasil na medida em que a influencia a partir da vinda do movimento abolicionista, que 
interferiu na formação do horizonte intelectual médio; seguidas pelas consequências intelectuais 
advindas da própria desagregação da ordem estabelecida. O movimento abolicionista permitiu a 
grande experiência histórica de populações urbanas ou rural-urbanas brasileiras, das esferas da 
secularização ao pensamento e aos modos de entender o funcionamento das instituições (FER-
NANDES, 1980).
O fenômeno da escravidão permitiu o desenvolvimento de análise e critica social, percebido 
além do poder e dos costumes e, ainda, do caráter sagrado, alargando o horizonte intelectual 
médio. Os aspectos antes tratados na esfera privada passam para a esfera de consciência social, o 
que possibilita serem apreciados axiologicamente.
DICA 
Joaquim nabuco – 
escritor e diplomata 
pernambucano, (1849 
– 1910), começou a sua 
luta contra a escravidão 
quando era estudante 
de Direito em Recife. 
Foi colaborador do 
Jornal republicano “O 
País”, mas era defensor 
de uma monarquia 
federativa e popular sob 
a regência da princesa 
Isabel. Foi, também, 
ministro em Londres no 
governo do presidente 
Campos Sales e, em 
1905, embaixador em 
Washington.
Autor de “O Abolicionis-
ta” (1883) e “Um Estadis-
ta do Império” (1898).
Sílvio Romero – crítico 
literário, professor e 
político (1851 – 1914), 
nasceu em Lagarto (SE) 
e foi membro fundador 
da Academia Brasileira 
de Letras. Procurou fixar 
as bases de um pensa-
mento crítico literário 
no Brasil e, em suas 
análises, buscou o le-
vantamento sociológico 
em torno de cada autor 
e sua obra. Escreveu 
“História da Literatura 
Brasileira” (1888), “A 
América Latina” (1906), 
“O Brasil Social” (1907), 
“Da crítica e sua exata 
definição social” (1909) 
e “Minhas contradições” 
(1914).
16
UAB/Unimontes - 5º Período
Para o autor, a obra que marcou época foi a de Euclides da Cunha, “Os Sertões”, 1902, re-
presentando o primeiro ensaio de descrição sociográfica e de interpretação histórico-geográfica 
do meio físico, dos tipos humanos e das condições de existência no Brasil. A partir de então, a 
Sociologia brasileira pôde ser considerada como uma técnica de consciência e de explicação do 
mundo inserida no sistema sociocultural brasileiro (FERNANDES, 1980).
Posteriormente, nos círculos sociais e institucionais, surgiu a disposição de reagir aos efeitos 
da crise por que passava a sociedade brasileira, mediante a intervenção prática na organização 
seletiva dos fatores de progresso econômico e social, o que provocou a necessidade do conhe-
cimento objetivo da situação brasileira, que se constituiu como uma condição para a formula-
ção de políticas. O pensamento dominante desse momento é o de Alberto Torres, que contribuiu 
com o estabelecimento de ligações entre a análise histórica e as intervenções pragmáticas.
1.3.2 O Pensamento Sociológico a partir de 1930 até 1945
Ianni (1989, p. 86), ao analisar a história da Sociologia na perspectiva de Florestan Fernan-
des, destaca a importância dessa década de 1930 “para que a Sociologia se estruture como um 
sistema significativo. A reflexão sobre a realidade social passa a adquirir os contornos de um pen-
sar sociológico, como linguagem, problemática”.
O contexto da sociedade brasileira que, para Ianni, desempenhou
um papel importante no processo de criação e estruturação da sociologia, to-
mada como um sistema de saber, pensar. Em que a sociedade brasileira passava 
por condições históricas, começando nas décadas de 1920 e se estendendo até 
1930, com reflexo no tenentismo, no Movimento Modernista, na criação do Cen-
tro Don Vidal, na fundação do Partido Comunista, na Revolução de 1930, entre 
outros, fazendo com que se instaure um processo de “desagregação da velha 
ordem e reconstrução social. Há uma espécie de renovação, em termos sociais e 
econômicos, políticos e culturais (IANNI, 1989, p. 87).
Para Ianni, (1989, p. 90),a primeira geração de sociólogos tem o predomínio da pesquisa de 
cunho histórico. Já a segunda, “passa a valorizar a pesquisa decampo. É claro que há um razoá-
vel intercâmbio entre essa duas modalidades”. O autor apresenta como exemplos os escritos de 
Sérgio Buarque de Holanda, Fernando de Azevedo, Nelson Werneck Sodré e Caio Prado Júnior. A 
outra geração tem como alguns de seus representantes o Roger Bastide, Arthur Ramos e Donald 
Pierson, em que a pesquisa de campo foi largamente utilizada como referência para a reflexão 
sociológica da realidade social brasileira.
O destaque nessa categoria de combinar a pesquisa de campo com a pesquisa de recons-
trução histórica foi o autor Émilio Willems, considerado como uma figura importante no processo 
de transformação da Sociologia no Brasil.
Na continuidade da década de 1940 e em escala cada vez maior, “uma nova geração de so-
ciólogos aparece, afirma-se. São os sociólogos que se formam em diferentes instituições univer-
sitárias ou equivalentes”. E, com a formação dos clássicos e modernos da Sociologia mundial e do 
pensamento social brasileiro, estes profissionais:
São os herdeiros, dissidentes ou críticos, continuadores ou inovadores, em con-
fronto com as gerações anteriores nas quais se destacam Oliveira Viana e Gil-
berto Freyre ou Emílio Willems e Roger Bastide, para mencionar alguns nomes. 
Trabalham com amplo domínio da teoria e da metodologia, combinando a pes-
quisa de campo com a de reconstrução histórica. Além disso, retomam critica-
mente temas ‘clássicos’, inovando-os. E inauguram outros temas. Aos poucos, a 
problemática histórica e teórica da Sociologia brasileira adquire toda uma nova 
configuração (IANNI, 1989, p.91).
Na terceira geração de sociólogos brasileiros, a análise de Ianni (1989) aponta, entre outros: 
Florestan Fernandes, L. A. Costa Pinto, Guerreiro Ramos e Hélio Jaguaribe, representantes dos di-
versos núcleos de ensino e pesquisa do país. Nesse momento, surgem as tendências, as escolas 
ou estilos novos, mas o autor alerta para a questão das reflexões que ainda guardam as influên-
cias das gerações anteriores.
Com as transformações sociais, econômicas, políticas e culturais em curso, tanto no cenário 
Mundial da América Latina quanto no Brasil, criam-se e ampliam-se as possibilidades e os desa-
17
Ciências Sociais - Sociologia Brasileira
fios que o pensamento sociológico é levado a considerar e enfrentar. Tal situação contribui para 
o ambiente intelectual brasileiro tanto dentro como fora da universidade: 
Configuram-se várias ‘escolas’ de sociologia. Algumas, mais visíveis e ativas, ou-
tras, menos, mas indiscutivelmente várias: São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Sal-
vador, Belo Horizonte, Porto Alegre e outros centros de atividade universitárias 
ou produção intelectual independente (IANNI,1989, p.92).
A Sociologia Crítica é apontada por Florestan Fernandes (estudado na terceira unidade) 
como uma das escolas que, pela originalidade de sua obra, terá um destaque no cenário da So-
ciologia brasileira, inaugurando uma linguagem própria, que “descortina novas possibilidades de 
pensar e modificar a sociedade, a história.”
Para Ianni (1992), existirá uma relação entre o desenvolvimento da perspectiva científica por in-
termédio do ensino e da pesquisa, contribuindo diretamente para a formação do olhar sociológico:
Na medida em que a perspectiva científica adquire consistência e desenvolvi-
mento, pelo ensino e a pesquisa, a pesquisa de campo e reconstrução histórica, 
a monografia, o ensaio, a reflexão teórica e histórica, o olhar sociológico fica mais 
elaborado, nítido, perspicaz (IANNI, 1989, p. 92).
Agora, com fundamento em Costa (1997), a década de 1950 traz a marca de dois grandes pensa-
dores, considerados como os responsáveis pela constituição das duas correntes de pensamento so-
cial brasileiro, uma das correntes é a do Florestan Fernandes, e a outra, a do economista Celso Furtado.
Na análise de Costa (1997), Celso Furtado inovou o pensamento econômico, indo para além 
das fronteiras brasileiras, a sua influência atingiu toda a América Latina. É considerado o funda-
dor da economia brasileira e criador da Comissão Econômica para América Latina (CEPAL), da 
qual surgiu a escola de pensamento econômico, conhecida como “cepalina”.
Para Costa (1997), Celso Furtado elabora uma proposta de interpretação histórica da reali-
dade econômica relacionada à perspectiva “do subdesenvolvimento, entendido como fruto de 
relações internacionais.” O autor é um defensor da ideia de que o subdesenvolvimento não repre-
sentava uma etapa do processo de constituição do capitalismo, “mas se tratava de uma formação 
econômica gerada pelo próprio capitalismo internacional” (COSTA, 1997, p. 180-181). Ele apre-
sentou várias análises acerca das diferentes formas de subdesenvolvimento.Na arena política, 
Furtado foi um colaborador ativo da administração econômica do governo João Goulart e sofreu 
severas críticas por seu pensamento ter sido utilizado na política desenvolvimentista do governo 
de Juscelino Kubitschek. 
Na visão de Ianni (2004, p. 37-38), a história do Brasil moderno prosseguirá em razão de que, 
depois de “1930, virão 1945, 1964, 1985 e outras datas, simbolizando rupturas, retrocessos, aber-
turas”. As mudanças sociais são continuadas, mas o autor nos alerta para o sentido de que nem 
sempre foram mudanças que contemplaram os interesses de todo o povo brasileiro.
1.4 Sociologia Brasileira: 
Influência de Ideias 
Estrangeiras e a 
Interpretação de Guerreiro 
Ramos
Na interpretação de Guerreiro Ramos (1995), “a melhor maneira de fazer 
ciência é a partir da vida, ou ainda, a partir da necessidade de responder aos de-
safios da realidade.” Partindo dessa premissa, o autor traça argumentos que de-
monstram a relação da biografia com os desafios engendrados pela realidade. 
Figura 3: Capa do livro 
de Guerreiro Ramos.
Fonte: Disponível em 
<www.google.com.br>. 
Acesso em 12 out. 2010.
▼
18
UAB/Unimontes - 5º Período
Segundo Ramos:
A compreensão objetiva de uma sociedade nacional é o resultado de um 
processo histórico. Não salta da cabeça de ninguém, por mera inspiração ou 
vontade, nem epistemologicamente possível, na ausência de certos fatos reais 
(RAMOS, 1995, p. 35). 
A finalidade de considerar esses aspectos, conforme Guerreiro Ramos (1995, p. 37), é para que 
a reflexão crítica dos problemas enfrentados pela Sociologia brasileira e pelos países latino-ameri-
canos estimulasse os autores para que de fato “se cortassem os cordões umbilicais que têm torna-
do esta disciplina um subproduto abortício do pensamento sociológico europeu e norte-america-
no”. Faltava especificidade na nossa Sociologia; ela não elaborou métodos de abordagens próprios 
e adequados à realidade do Brasil e de países de formação semelhante, como os da América Latina.
O desenvolvimento da disciplina sociológica, na análise de Ramos: "Tem evoluído até ago-
ra, segundo influências exógenas que impediam, neles, o desenvolvimento de um pensamen-
to científico autêntico ou em estreita correspondência com as circunstâncias particulares desses 
países" (RAMOS, 1995, p. 37).
Nessa perspectiva, a disciplina sociológica não passará de cópia de interpretações estrangei-
ras, representando atitudes e posições doutrinárias sem refletir o “esforço do sociólogo para com-
preender a sua sociedade, do que para se informar da produção dos sociólogos estrangeiros”.
Quadro 1 - Características dos trabalhos sociológicos brasileiros na perspectiva de Guerreiro Ramos 
Simetria e 
sincretismo
Há um falar correto, como dizem os nossos colonizadores, as tendências 
aparecem simetricamente na mesma ordem que surgem no lugar de ori-
gem dos colonizadores. 
Adeptos de Comte, depois vindo os Spenceristas, Durkheimianos e Tardis-
tas, dentre outros, ficando mais nítida essa característica a partir da publica-
ção de compêndios de Sociologia.
Dogmatismo
Consiste na adoção de argumentos de autoridade na discussão sociológica,ou na tendência a discutir ou avaliar fatos a partir da mera justaposição de 
textos de autores prestigiosos. 
A maior expressão dessa tendência é Nina Rodrigues, que tem toda a sua 
obra sobre o negro no Brasil elaborada a partir da ciência social europeia, 
exemplo do dogmatismo no trabalho sociológico.
Dedutivismo
Decorre diretamente do dogmatismo, empresta ao sistema estrangeiro 
o caráter de validade absoluta, tomado como ponto de partida para a 
explicação dos fatos da vida brasileira. Como exemplo cita os trabalhos dos 
sociólogos brasileiros considerados aficionados do marxismo.
A característica do dedutivismo é a abstração da contingência histórica, a 
identificação do presente de nosso país com o presente de países outros 
em fase superior de desenvolvimento ou de formação histórica diferente 
da nossa. (Repete-se também no sistema educacional que, via de regra, é 
implantado a partir de uma teoria pré-fabricada), apresentando, por isso, 
escassa originalidade.
Alienação
Decorre do fato da atitude assumida por nossos sociólogos brasileiros que 
se equivale a nos olhar a partir do estrangeiro, em função deste que nos 
interpreta.
A nossa socioantropologia do negro está toda ela viciada por um tratamen-
to alienado do tema. O negro no Brasil tem sido visto como algo estranho 
ou exótico.
Autenticidade
Resulta de todas as características anteriores, pois o nosso trabalho socioló-
gico não representa o resultado de um genuíno processo cognitivo.
Os nossos sociólogos têm adotado os sistemas sociológicos europeus em 
suas formas terminais e acabadas, e na medida em que isso acontece, vai 
faltar condições para o conhecimento da gênese histórica destes sistemas.
Fonte: RAMOS, Guerreiro. Introdução Crítica à Sociologia Brasileira. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995.
19
Ciências Sociais - Sociologia Brasileira
Para Guerreiro Ramos (1995, p. 107), a formação da Sociologia brasileira ou mesmo a latino-a-
mericana consiste “via de regra, num adestramento para o conformismo, para a disponibilidade da 
inteligência em face das teorias.” Para o autor, o sociólogo brasileiro acostumou-se a receber pron-
tas as soluções e quando se defronta com um problema de seu ambiente, “tenta resolvê-lo con-
frontando textos, apelando para receitas”(RAMOS, 1995, p. 107), encontradas nos compêndios.
Com relação à formação dos nossos sociólogos, Ramos (1995) considera que o ensino da Socio-
logia no Brasil apresenta uma carência fatal: a ausência de compromisso entre o professor e o con-
teúdo ministrado, e entre esse conteúdo e as necessidades comunitárias. Como consequência, “isto 
parece ser proveniente de várias circunstâncias. Uma delas consiste em que nossos autores de com-
pêndios não têm, salvo raríssimas exceções, experiência vivida dos problemas e assuntos de que tra-
tam”. É como se faltasse aos nossos sociólogos uma imersão na realidade por eles apresentada.
Considerando acerca das instituições formadoras dos sociólogos brasileiros, procurando 
“contornar esta deficiência, algumas entidades, como a Escola de Sociologia Política, a Faculdade 
de Filosofia de São Paulo e, ainda, a Faculdade Nacional de Filosofia, contrataram professores es-
trangeiros”, o que, para o autor, é o reflexo de que na nossa realidade brasileira a organização do 
ensino da Sociologia não representa o resultado de um processo gradual de amadurecimento de 
uma experiência pedagógica. Pelo contrário, pois Ramos entende que isso reflete o sincretismo e 
o artificialismo de nosso sistema educacional e nossa falta de autenticidade.
De acordo com Guerreiro Ramos, os sociólogos brasileiros não eram preparados para pro-
blematizar a realidade, e menos ainda para propor soluções aos problemas estudados. Dessa for-
ma, conforme aponta Ramos, a Sociologia brasileira não foi gerada a partir das necessidades de 
se compreender os problemas advindos dos processos de capitalização, urbanização e industria-
lização, e sim de uma espécie de modismo. Para o autor, a solução consiste no desenvolvimento 
de um pensamento autêntico, que estabeleça uma interação na realidade econômica e social de 
cada um e, no seu pensamento “se esforce em vincular-se à vida coletiva” (RAMOS, 1995, p. 111).
No Brasil e em países com contextos similares, colonizados ou descobertos, a Sociologia, 
conforme Guerreiro Ramos:
Têm assumido, por vezes, atitudes paradoxais. Neles se observa uma tensão 
entre duas correntes de ideias: uma que representa o esforço de criação desses 
países e a outra que consiste simplesmente numa glosa das orientações doutri-
nárias vigentes nos centros de cultura estrangeiros. A primeira só encontra resso-
nância nos meios populares; nos meios letrados, fala baixo, por assim dizer, pede 
desculpa por que existe e seus epíginos raramente conseguem alcançar voga. 
A segunda tem sempre um grande poder de irradiação entre os letrados e, com 
freqüência, se difunde com o característico de verdadeira moda. E nisto está o 
paradoxo (RAMOS, 1953, p. 10-11).
Como duas perspectivas, essas correntes foram caracterizadas assim: primeira, a que foi cha-
mada de “consular”, em razão de apresentar muitos aspectos que, na maioria das vezes têm como 
finalidade a expansão cultural dos países da Europa e dos Estados Unidos; e outra que, mesmo 
utilizando-se da experiência acumulada da produção sociológica, com características de caráter 
universal, volta-se para a problemática nacional e regional, procurando ser um instrumento de 
autoconhecimento e desenvolvimento das estruturas nacionais e regionais. 
Uma das características mais marcantes da perspectiva “consular” consiste, para o autor, no 
fato de que esta é uma Sociologia que pode ser dita “enlatada, visto que é consumida como uma 
verdadeira conserva cultural.” O aspecto crítico de Guerreiro Ramos (1953) tem como referência a 
inexistência de relação entre a produção e o contexto gerador das reflexões dos sociólogos bra-
sileiros.
A defesa de uma Sociologia que seja reflexo de nosso contexto e que reflita as perspectivas 
de uma produção europeia e norte-americana, na análise de Guerreiro Ramos (1953), deverá a 
sua produção contribuir tanto para o desenvolvimento nacional como para o regional.
Na interpretação de Guerreiro Ramos (1953), a defesa de uma Sociologia autêntica é, dire-
ta ou indiretamente, um propósito salvador e de reconstrução social. Por isso, inspira-se numa 
experiência comunitária vivenciada pelo sociólogo, em razão da qual adquire sentido. À medi-
da que este desempenha a sua profissão, é forçosamente levado a entrelaçar o seu pensamento 
com a sua circunstância nacional ou regional.
Para Guerreiro Ramos (1953), os nossos colonizadores, ao chegarem ao Brasil, não encontra-
ram resistência de um povo, como encontrou no México, no Peru, na Índia. Deparando-se com um 
“material etnográfico”, uma “espécie de matéria inorgânica” de que dispôs, segundo seus propósi-
tos, implantou seu projeto de colonização, conforme o autor, em espaço historicamente vazio.
DICA
Para Guerreiro Ramos, 
em países como o Brasil, 
a Sociologia assumiu 
atitudes paradoxais: re-
presentadas pela tensão 
entre duas correntes de 
ideias:
1ª- esforço de criação 
do país, refletindo os 
meios populares. 
2ª- cópia das orienta-
ções doutrinárias vigen-
tes nos centros de cultu-
ra estrangeira – entre os 
letrados – submissa ao 
verdadeiro modismo.
DICA
O significado de cruzar 
a biografia com a 
realidade nacional e re-
gional o que representa 
a grande promessa da 
nossa ciência, a Socio-
logia, conforme consta 
do livro de C. MILLS A 
imaginação Sociológica. 
Esse autor influenciou 
o sociólogo Florestan 
Fernandes.
20
UAB/Unimontes - 5º Período
De acordo com Guerreiro Ramos, é a própria realidade social de cada país que irá se dife-
renciando e definindo sua problemática específica do pensamento sociológico. Cita como exem-
plos: França, Inglaterra,Alemanha, EUA. Nesses países, a Sociologia se tornou um instrumento 
para a leitura e compreensão da realidade nacional. Os seus conceitos são condicionados histori-
camente.
A explicação se fundamenta em função de sermos colonizados e copiarmos o colonizador, 
considerado como um tipo de imperialismo mimético.
Quadro 2 - Tendências da sociologia no Brasil na perspectiva de Guerreiro Ramos
Tendências da Sociologia no Brasil Representantes da perspectiva
1ª- A primeira corrente é caracterizada por 
uma tendência política e cristaliza-se na 
Escola de Sociologia Política. 
1ª- Euclides da Cunha, Silvio Romero, Alberto 
Torres, Oliveira Vianna e Fernando de Azevedo
2º- Houve um grande poder de irradiação 
entre os letrados, difundindo-se com a ca-
racterística de verdadeiro modismo.
2ª- Tobias Barreto, Pontes de Miranda, Tristão 
de Ataíde, Pinto Ferreira e Mário Lins. Sendo 
um sub-ramo: Nina Rodrigues, Gilberto Freyre 
e Artur Ramos, a segunda geração da corrente.
Fonte: RAMOS, Guerreiro. Introdução Crítica à Sociologia Brasileira. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995.
Tobias Barreto é considerado o primeiro sociólogo, apesar de ter negado a existência da So-
ciologia, confundindo-a com o Positivismo que, na sua época, contou com muitos adeptos no 
Brasil, exemplificado por alguns dos seus estudos como em “Variações Anti-Sociológicas”. Nessa 
obra, em especial, ele diz: “os gênios são fenômenos sociais”. 
Para Guerreiro Ramos (1953), Tobias Barreto não passou de glosador, representante da cor-
rente de pensamento da Alemanha e sofre a maior crítica por “certo sadomasoquismo, típico dos 
alienados. Esse sadomasoquismo é flagrante na parte que fala dos maus costumes e do servilis-
mo do povo” (RAMOS,1953, p. 15). 
Conforme Guerreiro Ramos (1953, p. 15), Pontes de Miranda e seu aliado Pinto Ferreira são 
“o caso de alienação intelectual mais espetacular do Brasil” e continuadores da escola de Tobias 
Barreto – Nova Escola de Recife. Incluindo, nessa escola, Mário Lins, apresentado como o autor 
que se especializou em problemas epistemológicos, trabalhos que para Ramos (1953) “são essen-
cialmente desnecessários”. Era mais conhecido no exterior do que no Brasil. E, finalizando com 
Tristão de Ataíde, em razão de suas atitudes em face ao meio, “doutrinário: um administrador de 
esquemas teóricos”. Sociologia de inspiração positivista e materialista – Obra: “Política” cujo teor 
trata da “incapacidade teórica de compreender a realidade nacional.” 
Para Guerreiro Ramos (1953), Alberto Torres representa um verdadeiro contraponto às ideias 
de Tristão de Ataíde. A alienação desta corrente se efetiva nas abordagens dos problemas brasi-
leiros, além de se registrar neles uma atitude “consular”, onde estes autores só abordam em par-
te e sob um aspecto encobrindo os aspectos considerados como essenciais para a leitura do fe-
nômeno estudado. Assim, podemos colocar Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre na 
mesma estante dos estrangeiros que nos visitaram e escreveram sobre nossas coisas nos tratan-
do como “material etnográfico”.
Os estudos sobre o negro no estilo desses autores e seus seguidores representam um tra-
balho de alienação sociológica, catalogando o pitoresco, e quase sua totalidade reflete a ideia 
de que a abolição resolveu o problema das massas de cor. Além de que “nada haveria que fazer 
senão estudar o negro do ponto de vista estático”, apesar de reconhecer que, “seria injustiça ne-
gar o valor intrínseco de muitos desses trabalhos e a sua utilidade como documentário ou mate-
rial”. Mas eles são desatualizados, em razão de terem perdido a oportunidade de se constituir em 
força operativa, mas sendo como peças de museu. Chegando a dizer que os nossos estudos so-
ciológicos e antropológicos sobre o negro têm contribuído para “travar o processo de evolução 
cultural das massas de cor” (RAMOS, 1953, p.17).
De acordo com Guerreiro Ramos (1953), faltou nesses autores a grande tarefa pós-aboli-
cionista, que foi apresentada por Joaquim Nabuco, no seu livro publicado em 1883, apontando 
como tarefa essencial “adaptar à liberdade” que, não realizada, fez com que fosse perdida a tradi-
ção dos estudos sobre o negro, iniciada por Joaquim Nabuco.
A nossa Antropologia sobre o índio foi diferente, por meio da obra do General Cândido Ron-
don, de Roquete Pinto e, ultimamente, por Darcy Ribeiro, adquirindo categoria funcional, efetiva-
da por meio de uma política militante de acumulação.
GLoSSáRIo
Glosador: Comentaris-
ta, crítico e censurador.
GLoSSáRIo
Idiossincrasias: É uma 
característica compor-
tamental ou estrutural 
peculiar a um indivíduo 
ou grupo.
21
Ciências Sociais - Sociologia Brasileira
Guerreiro Ramos (1953, p. 18) afirma que, ao lado da corrente consular, desenvolveu-se 
“uma tradição sociológica vinculada à problemática da sociedade brasileira”. Iniciam essa tradi-
ção Silvio Romero e Euclides da Cunha. Ambos procuraram identificar as idiossincrasias regionais 
do Brasil e, na medida em que as descobrem, chamam a atenção para o que consideram espúrio 
e genuíno na sociedade brasileira.
Os Sertões, 1902, de Euclides da Cunha, é uma obra clássica, considerada um marco da 
Sociologia brasileira. Representa o primeiro esforço de desvinculação das dependências cul-
turais, obstáculos para o conhecimento da realidade do país. Na interpretação de Guerreiro 
Ramos:
Parte do itinerário dos estudos de Oliveira Vianna, sustenta a pluralidade de for-
mação histórica das regiões do país. O sul e o norte parecem-lhe constituir ‘duas 
histórias distintas e opostas, em que se averbam movimentos e tendências opos-
tas’, ‘uma de todo indiferente ao modo de ser da outra.’ Assim fala, do sertanejo, 
do paulista como tipos autônomos (RAMOS, 1953, p. 22).
Por sua vez, Oliveira Viana seguiu a perspectiva de interpretação inaugurada por Euclides 
da Cunha; enquanto, na reflexão de Guerreiro Ramos, Sílvio Romero “estende a outros campos 
a aplicação do esforço de decifração sociológica dos nossos problemas. Exprime, também com 
nitidez, a ideia de que o Brasil não é sociologicamente uniforme” (RAMOS, 1953, p. 24).
Sílvio Romero, além de registrar o exercício negativo da crítica, foi um dos representantes 
do pensamento pragmático, mais até que Euclides da Cunha, apontado como o verdadeiro fun-
dador da sociologia pragmática “que cresce e se corporifica em Alberto Torres e Oliveira Viana” 
(RAMOS, 1953, p. 25).
É Alberto Torres quem recolhe e cultiva os esboços de sociologia pragmática de Silvio Ro-
mero e salva as contribuições esparsas desta, numa obra doutrinária consistente. Para Ramos 
(1953, p. 26-27), em nenhum momento, a Sociologia em Alberto Torres foi um “jogo floral de 
teorias”. Toda a sua obra se apresenta despida de aparatos livrescos e vai direto ao objetivo. Ela 
representa o ponto mais alto atingido pelo pensamento sociológico no Brasil. Alberto Torres é 
o fundador da corrente mais autêntica da Sociologia em nosso meio; ao passo que Sílvio Rome-
ro “estende a outros campos a aplicação do esforço de decifração sociológica dos nossos pro-
blemas. Exprime, também, com nitidez a ideia de que o Brasil não é sociologicamente uniforme” 
(RAMOS, 1953, p. 27).
Em Guerreiro Ramos (1953) verifica-se que poucos escritores no Brasil exerceram tantas in-
fluências como Alberto Torres. São numerosas as suas obras dedicadas à divulgação do seu pen-
samento, como também a sua influência tanto no movimento modernista como na “Ação Inte-
gralista Brasileira”. Tudo isto, para o autor, é uma prova do “poder de propagação da Sociologia 
nacionalmente vinculada” (RAMOS, 1953, p.29).
Na interpretação de Guerreiro Ramos:
A obra de Oliveira Viana representa a integração das contribuições de Euclides 
da Cunha, Silvio Romero e Alberto Torres. E isto com muita nitidez. De Eucli-
des da Cunha, ele retoma a idéia de pluralidade histórica do Brasil. Dir-se-iaque planejara complementar o roteiro de interpretação sociológica do Brasil, 
iniciado em ‘Os Sertões’. Foi o que realizou em dois volumes de Populações 
Meridionais do Brasil em que estudou o centro-sul e o extremo-sul brasileiros 
(RAMOS, 1953, p. 29).
 O artigo de Guerreiro Ramos (1953) é finalizado com a questão da situação paulista, consi-
derada com características peculiares, pois “São Paulo é o único estado da União em que as elites 
governantes procuraram organizar o ensino e a pesquisa em sociologia, com os objetivos práti-
cos de caráter institucional” (RAMOS, 1953, p.29). O exemplo dado pelo autor é a Escola Livre de 
Sociologia e Política. E a obra de Fernando de Azevedo, inspirador da chamada “Escola Ideal”, que 
serviu para abastecer o setor dos negócios dos profissionais especializados em Ciências Sociais 
nas instituições públicas e privadas do Brasil. 
22
UAB/Unimontes - 5º Período
1.5 O Processo de 
Institucionalização da Sociologia 
no Brasil, Contexto, Interpretações 
e Desenvolvimento
A Sociologia no Brasil se institucionaliza, de fato, a partir de 1930, com o apoio acadêmico 
principalmente de intelectuais franceses. Importantes intelectuais do cenário sociológico e an-
tropológico europeu vieram trabalhar no Brasil, especialmente em São Paulo, berço da industria-
lização no Brasil. Nos próximos tópicos, vamos, portanto, abordar a contribuição da Sociologia 
para estudos sobre a formação e desenvolvimento do Brasil moderno, especialmente nos meios 
acadêmicos.
1.5.1 O Processo de Institucionalização da Sociologia no Brasil
Partindo da compreensão do significado da palavra institucionalização, sua utilização é re-
cente. Por volta dos anos de 1930, 40 e mesmo 1950, usava-se o termo profissionalização quando 
se queria compreender o processo de formação dos cientistas sociais, sociólogos, mostrando a 
importância do ensino como essencial neste contexto de institucionalização.
Ao analisar a institucionalização do ensino de Ciências Sociais no Brasil, Oliveira Vianna 
(1991) apresenta Alberto Torres como o primeiro autor a ser lembrado como um dos nossos pre-
cursores, em razão de assumir a defesa de um conhecimento sociológico acerca da realidade bra-
sileira. Citando as palavras de Mário de Andrade: “A Sociologia era a arte de salvar mais rápido 
o Brasil”, mostrando a importância creditada ao conhecimento produzido pela Sociologia, como 
instrumento que apontaria a direção para a solução dos graves problemas enfrentados pela po-
pulação brasileira.
O ano de 1930 marca a criação das primeiras escolas de Sociologia, ELSP, em 1933, e o curso 
vinculado à USP, em 1934, e à UDF, em 1935, tendo como objetivo formar os quadros de pro-
fissionais com a capacidade de produzirem soluções racionais, com fundamento no saber racio-
nal para os problemas brasileiros. Na visão da autora, “dever-se-ia, portanto, formar os cientistas 
da nova ciência, capazes de produzir o novo saber. Formar profissionais de uma nova profissão” 
(OLIVEIRA, 1991, p. 53-54),representaria a formação de cientistas para a nova ciência e com a ca-
pacidade de produzir o novo saber.
Uma das características desse processo é o fato de que haverá uma diferenciação na pers-
pectiva da formação dos profissionais dessas instituições de ensino superior. Segundo a autora, 
essa diferenciação ocorreu em razão do fato de que a ELSP se diferencia dos outros, pois, en-
quanto as outras faculdades formavam professores para lecionar no segundo grau, a ELSP pre-
tendia formar técnicos, assessores e consultores, com a capacidade de analisar a sociedade a 
partir do conhecimento científico gerado para possibilitar a tomada de decisão dos organismos 
governamentais, nas esferas federal, estadual e municipal.
Em comum, a ELSP e as Faculdades de Filosofia valorizavam a formação especializada e cien-
tífica, “para o bom desempenho do profissional ali formado”. Oliveira (1991) apresenta períodos 
distintos para demarcar o processo de institucionalização da Sociologia, sendo:
1º No período que compreende os acontecimentos antes das escolas de Sociologia, não existia 
o profissional especializado e a produção é caracterizada muito mais como uma Filosofia So-
cial e não como Ciência Social;
2º Compreendido entre os anos de 1930 e 1940, marcados pelo esforço de delimitar as fron-
teiras com as disciplinas afins: literatura, geografia, história. E, também, representou o mo-
mento de construção da carreira de professor de Sociologia, da divulgação dos padrões de 
cientificidade e do início do trabalho de campo, considerado como necessidade do trabalho 
do cientista social;
23
Ciências Sociais - Sociologia Brasileira
3º Os anos de 1950 e de 1960 são apontados como os da especialização e profissionalização da 
carreira docente nas Universidades do Brasil;
4º No período, que abrange os anos de 1970 e 1980, consubstanciou-se o ensino da pós-gra-
duação e o incremento dos institutos e das organizações de pesquisa tanto no âmbito da 
Universidade, quanto nos financiamentos externos, por meio de centros autônomos, como 
CNPQ, FORD, FINEP e formação de novos centros autônomos. 
Oliveira considera que essa demarcação de
períodos na história da Sociologia é certamente grosseira e não dá conta dos 
movimentos e experiências realizadas pelos profissionais dedicados à sociolo-
gia. Entretanto, ela pode nos ajudar a mapear o terreno e estabelecer diferen-
tes momentos no processo de institucionalização das ciências sociais (OLIVEI-
RA, 1991, p. 54).
Apresentando, em seguida, a necessidade de compreender também os eixos relacionados 
aos aspectos do profissional, do mercado de trabalho e das fontes de financiamento.
Ao enfocar os aspectos internos do processo de Institucionalização, Oliveira (1991) observa 
questões relacionadas a não submissão no campo da ciência às exigências externas; a necessidade 
de autonomia para a tomada das decisões como de uma comunidade acadêmica estruturada e re-
conhecida; a pesquisa como atividade permanente e a existência de uma carreira profissional.
Em Oliveira (1991, p. 550) compreendemos que o mercado de trabalho e o financiamento 
estão relacionados às ciências sociais na sociedade, ao cenário brasileiro e ao da América Latina, 
onde o intelectual sempre representou “um portador de uma missão, capaz de dar respostas à 
crise da sociedade. Por outro lado, a profissão pode ser identificada como a de cientista”, o que 
nos possibilita compreender a relação da profissão que, conforme a autora, pode ser interpreta-
da a partir do cientista, garantindo-lhe maior legitimidade (oliveira, 1991). E a cientificidade da 
Sociologia ou das Ciências Sociais é problemática, pois “nossa atividade intelectual passa a se re-
ferenciar nos quadros formadores através das instituições de ensino e de Pesquisa”. Novamente, 
comprova-se a importância do destaque dado às instituições e à capacidade de produção e re-
produção dos quadros de profissionais por meio do ensino.
Outro aspecto necessário para a compreensão do processo de institucionalização é a refle-
xão do contexto, dos intérpretes e do desenvolvimento da Sociologia brasileira, como é o caso 
do sociólogo Octávio Ianni, um dos intérpretes estudados na 3º Unidade. 
1.5.2 O Contexto, Interpretações e Desenvolvimento – Sociologia e 
Sociedade no Brasil
Os temas, intérpretes, as condições 
intelectuais e políticas dos problemas, 
tendências de produção da Sociologia no 
Brasil, vistos por meio da interpretação do 
sociólogo brasileiro Octávio Ianni (1975), 
representam uma reflexão que tem como 
objetivo: realizar um balanço crítico de as-
pectos da sociologia brasileira, ocorridos 
no período compreendido entre 1945-
1974.
Conforme Ianni (1975), o período 
compreendido entre os anos de 1945 e 
1974 é subdividido a partir de três núcleos 
de problemas:
1º- a crise de transição do capitalismo agrário para o capitalismo industrial;2º- a reinterpretação da história social do país, privilegiando o contexto onde 
ocorreram mudanças conjunturais ou estruturais significativas; e
3º- o caráter da Revolução Burguesa, ou considerada como Revolução Brasileira, 
no cenário da sociedade brasileira em que mudanças sociais, políticas, econômi-
cas e culturais são interpretadas e se desenvolvem em análises sobre o populis-
mo e o golpe de estado (IANNI, 1975, p.17).
◄ Figura 4: Octavio Ianni 
Fonte: Disponível em 
<http://blogs.univer-
sia.com.br/jnunes/
files/2008/06/ianni.jpg>. 
Acesso em 12 out. 2010.
24
UAB/Unimontes - 5º Período
Para o autor, a produção da Sociologia brasileira nesse período se encontra polarizada em 
torno desses três núcleos sob a influência das classes sociais hegemônicas e também das subal-
ternas, que pressionavam e movimentavam o cenário político e cultural do país. Caracterizadas 
como as novas classes sociais, de base urbana e industrial, são elas que irão fornecer e demandar 
as pesquisas, análises e discussões da Sociologia.
Como principais temáticas, Ianni (1975) define as relações de produção no campo e na ci-
dade; as relações da sociedade brasileira com outras sociedades do continente; os problemas da 
América Latina no contexto da transição para o capitalismo industrial; contradições de classe, re-
forma e revolução; as relações entre as classes sociais e o Estado, ou simplesmente Estado e so-
ciedade; e questões de método, em especial, as controvérsias expressas na produção sociológica 
da época. 
Quadro 3 - Síntese da produção da Sociologia Brasileira: autores e temática na reflexão de 
Octávio Ianni
Temática/contexto Autores obra
Crise de transição da sociedade 
brasileira – década de 1930.
Apresentando a amplitude do 
debate científico e político sobre as 
peculiaridades e as perspectivas da 
sociedade brasileira.
Institucionalização de cursos de 
ensino e pesquisa de Sociologia e a 
vinda de missão de pesquisadores 
e professores estrangeiros.
Caio Prado Júnior
Sérgio Buarque de 
Holanda
Gilberto Freyre
Roger Bastide, a. 
R. Radcliffe Brown, 
Claude Lévi-
-Strauss, dentre 
muitos outros 
vindos da França, 
EUA e outros
Evolução política do Brasil
Raízes do Brasil
Casa Grande e Senzala
Em perspectiva histórica – proble-
mática mais importante da sociolo-
gia brasileira – a crise das relações 
de produção na sociedade agrária, 
as migrações rurais-urbanas, 
a urbanização, a formação social 
do proletariado urbano, o operário 
industrial, o sindicalismo operário, 
burguesia nacional, o populismo, 
a aliança de classes e os governos 
populistas, o nacionalismo eco-
nômico, o empresário industrial, a 
empresa industrial e 
a modernização da empresa, os 
partidos e os estilos de liderança 
política, 
a estrutura partidária, as eleições, o 
governo e os poderes públicos, 
o aparelho estatal, o relacionamen-
to entre o Estado e a sociedade. 
O Estado e as classes sociais hege-
mônicas e subalternas, 
as contradições e as lutas de classe, 
a democracia representativa, os 
golpes de Estado, a reforma e revo-
lução, a ditadura e a militarização 
do poder político, etc.
Caio Prado Jr
Florestan Fernan-
des
Hélio Jaguaribe
Celso Furtado
Gabriel Cohn
Octavio Ianni
Roger Bastide e 
Florestan Fernan-
des
Antonio Candido
Darcy Ribeiro
Octavio Guilher-
me Velho
Irving L. Horowitz
Phillippe C. Sch-
miter
A revolução brasileira
Sociedade de classes e subdesen-
volvimento
Desenvolvimento econômico e 
desenvolvimento político
A pré-revolução brasileira
Petróleo e nacionalismo
Estado e capitalismo
Brancos e negros em São Paulo
Os parceiros do Rio Bonito
A política indigenista brasileira
Frentes de expansão e estrutura 
agrária
Revolution in Brazil
Interest Conflict and political 
Change in Brazil
25
Ciências Sociais - Sociologia Brasileira
Revolução Burguesa – alguns auto-
res buscam compreender o papel 
da tecnocracia e dos militares nes-
sa revolução, e os que buscam ver 
a revolução em termos de relações 
antagônicas de classes.
Um certo avanço sobre a discus-
são da problemática das relações 
econômicas externas e sobre o 
imperialismo.
Guerreiro Ramos
Florestan Fernan-
des
Octavio Ianni
Fernando Henri-
que Cardoso
Mito e verdade da revolução 
brasileira
Sociedade de classes e subdesen-
volvimento
O colapso do populismo no Brasil
O modelo político brasileiro
Relações de Produção – levando 
os sociólogos ao reexame do que 
havia ocorrido, tanto na escravatu-
ra quanto nos anos posteriores à 
abolição. As obras dos sociólogos 
compreendiam uma ampla rein-
terpretação da história social do 
trabalhador brasileiro: do escravo 
ao livre, no campo e na cidade, na 
fazenda e na fábrica, negro, mulato, 
índio, caboclo, branco, nacional, 
estrangeiro, migrante e imigrante. 
Sobre esses e outros aspectos da 
questão, escreveram-se trabalhos 
Tanto quanto os seguintes: 
Vários aspectos da história da 
classe operária estão focalizados 
nas interpretações dos autores que 
abordam essa temática.
Donald Pierson
Florestan Fernan-
des
L. A. da Costa 
Pinto
Octavio Ianni
Fernando Henri-
que Cardoso
Caio Prado Jr.
Celso Furtado
Evaristo de Morais 
Filho
Maria Célia Pinhei-
ro Machado Paoli
Negros in Brazil
A integração do negro na socieda-
de de classes
 O negro no mundo dos brancos
O negro no Rio de Janeiro
As metamorfoses do escravo, 
raças e classes sociais no Brasil
Capitalismo e escravidão
História econômica do Brasil
Formação econômica do Brasil
O problema do sindicato único no 
Brasil
Desenvolvimento e Marginalidade
Modalidade de consciência social – 
representada por meio de núcleos, 
em que as representações religio-
sas, são estudadas tanto as seitas 
afro-brasileiras, religiões indíge-
nas, o catolicismo rural e urbano, 
merecendo interesse especial as 
pesquisas sobre os fenômenos 
messiânicos, surgidos tanto no 
passado quanto no presente.
O segundo aspecto da produção 
sociológica brasileira, relativo 
às modalidades de consciência, 
relaciona-se às ideologias raciais. 
Nesse caso, a análise passa pela 
situação do negro, mulato, índio e 
outros no quadro das relações de 
produção.
Nos estudos sobre ideologias 
raciais encontram-se dados, inter-
pretações e sugestões de interesse 
para a análise das modalidades de 
consciência social.
Roger Bastide
Cândido Procó-
pio Ferreira de 
Camargo
Júlio Cézar Melatti
Maria Isaura Perei-
ra de Queiroz
José de Souza 
Martins
Thales de Aze-
vedo
L. A. Costa Pinto
O candomblé da Bahia
Les religions Africaines au Brazil
Kardecismo e Umbanda
O messianismo Krahó 
O messianismo no Brasil e no 
Mundo
A imigração e a crise do Brasil 
agrário
As elites de cor
O negro no Rio de Janeiro
Raças e classes sociais no Brasil
26
UAB/Unimontes - 5º Período
O terceiro núcleo de interesse 
nos estudos sociológicos sobre a 
modalidade de consciência social 
são manifestações da consciência 
política. As pesquisas estão volta-
das para o exame das categorias 
sociais, como do empresário, do 
operário, do trabalhador agrícola 
dentre outras. 
Octávio Ianni,
Florestan Fernan-
des
Everardo Dias
Luciano Martins
Fernando Henri-
que Cardoso
A integração do negro na socieda-
de de classes
História das lutas sociais no Brasil
Industrialização, burguesia nacio-
nal e desenvolvimento
Empresário industrial e desenvol-
vimento econômico
Estado e sociedade – Período em 
que predominam as políticas de 
estilo populista. São analisados 
aspectos e momentos da história 
das relações entre o Estado e a 
sociedade, ou Estado e classes 
sociais, temas esses abordados nos 
estudos realizados entre os anos de 
1945 até 1974.
Essa produção irá refletir interesses 
e inquietação

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