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Módulo Dor Unime 2021 Neuropatia Diabética (ND) constitui um grupo heterogêneo de manifestações clinicas que acometem o sistema nervoso periférico por causa da complicação do diabetes melitus (DM). Pode apresentar diferentes formas clinicas, mecanismos fisiopatológicos, instalação e evolução. Diante de um número alarmante de pacientes com diabetes melitus, a prevalência de neuropatia diabética vem crescendo e já se tornou a principal causa de neuropatia periférica em países desenvolvidos. A neuropatia diabética ocorre após vários anos de controle inadequado da doença, tanto na forma de insulino dependente, quanto na insulino independente. A prevalência dessa neuropatia aumenta com o tempo de duração da doença e diminui quando o tratamento do diabetes é feito de forma eficiente, mantendo a glicemia em níveis estáveis. O diabete mellitus pode causar mononeuropatia e mononeuropatia múltipla, porem o mais comum é polineuropatia simétrica distal. O acometimento patológico na neuropatia diabética geralmente é amplo no organismo, apresentando-se de duas formas principais: 1. Polineuropatia sensorimotora simétrica. 2. Neuropatia autonômica (cardiovascular, respiratória, digestiva e geniturinária). Menos frequentemente, a lesão neuropática é mais localizada, apresentando-se nas formas de: 1. Mononeuropatia focal (tibiais, medianos e pares cranianos III, IV, VI e VII). 2. Neuropatia multifocal radicular (geralmente intercostal, toracoabdominal e lombar). 3. Neuropatia multifocal multiplexos (localização variada). 4. Plexopatia ou amiotrofia As neuropatias de nervos cranianos, em geral, ocorrem em pacientes idosos e a alteração mais recorrente é a lesão isolada do nervo oculomotor. O acometimento costuma ser rápido, indolor, e pode ser associado à cefaleia. Já as mononeuropatias do tronco e dos membros podem acometer os nervos periféricos de modo isolado ou em associação. Os nervos mais comumente afetados são: ulnar, mediano, radial, femoral, cutâneo lateral da coxa e fi- bular. Seu início é rápido, contudo se diferencia das neuropatias de nervos cranianos por ser precedido pela dor. A lesão costuma se localizar no mesmo local das paralisias por compressão. A mononeuropatia diabética pode ser sensitiva ou sensitivo-motora e normalmente tem início lento com dormência, formigamento ou queimação, afetando os artelhos e, em seguida, os pés e as pernas; somente mais tarde as mãos serão envolvidas, formando o clássico padrão de luvas e botas. ND constitui fator de risco importante para úlceras, deformidades, amputações de MMII e para o desenvolvimento de outras complicações microvasculares. Além disso, aumenta as taxas de internações hospitalares e mortalidade cardiovascular em pacientes diabéticos devido ao acometimento autonômico. A maioria dos pacientes sintomáticos a presentam sintomas sensitivos positivos (resposta excessiva a um estímulo ou resposta espontânea), como: 1. Parestesia 2. Dor 3. Ataxia proprioceptiva 4. Sensações de dormência 5. Formigamento 6. Desequilíbrio Distribuem-se nas extremidades dos MMII, podendo evoluir para os MMSS. Os pacientes relatam piora noturna, consequentemente prejudicando o sono do paciente. Alguns pacientes também podem apresentar Sintomas sensitivos negativos (resposta reduzida a um determinado estímulo), como: Perda da sensibilidade no segmento envolvido Módulo Dor Unime 2021 Ao exame neurológico, verifica-se a presença de: Hiperestesia (respostas exageradas aos estímulos táteis Hiperalgesia (sensibilidade exagerada a estímulos dolorosos), Hiperpatia (persistência da dor mesmo após a remoção do estímulo doloroso), Alodínia (sensação dolorosa causada por estímulos não dolorosos). Hipo/anestesia da sensibilidade profunda Não reconhece ou reconhece pouco os estímulos táteis, vibratórios e proprioceptivos. Sintomas e sinais motores: Raramente pacientes com esta forma clínica de neuropatia referem sintomas motores. Quando presentes iniciam-se na fase mais avançada da doença com fraqueza discreta distal de MMII, podendo observar-se leve atrofia da musculatura das extremidades de MMII e MMSS. O diagnóstico das formas mais frequentes de neuropatia diabética baseia-se na caracterização do quadro clínico com os sintomas e sinais clínicos mais típicos e na realização de testes neurológicos. Tratamento farmacológico: Não existe tratamento farmacológico que reverta ou evite a neuropatia periférica diabética, sendo o tratamento voltado para redução do risco de desenvolvimento da neuropatia, prevenção de suas complicações secundárias e alívio dos sintomas de dor. As medidas preventivas consistem no rigoroso controle da glicemia (todo empenho deve ser aplicado para manter o paciente em estado de normoglicemia) e nos cuidados gerais com os pés (Talvez uma das mais importantes funções do neurologista no manuseio das ND seja a orientação da prevenção e tratamento do pé diabético), uma vez que o envolvimento neuropático e vascular torna o paciente susceptível a infecções e a suas complicações. Dentre os fármacos disponíveis para o tratamento sintomático da dor, existem: Antidepressivos tricíclicos (ADT): Entre as drogas usadas, destacam-se amitriptilina - 25 a 150mg/dia, nortriptilina - 25 a 100mg/dia. Recomenda-se iniciar com 10 a 25mg/dia e progredir o aumento de dose de forma gradual, seguindo-se cuidadosamente o paciente. Embora doses de até 150mg/dia sejam indicadas, dificilmente consegue-se ultrapassar 75mg/dia. A escolha do fármaco específico deve levar em consideração as manifestações do paciente e os efeitos adversos dos fármacos. As doses iniciais devem ser baixas e aumentadas gradativamente até o alívio ser atingido ou até que os efeitos colaterais tornem-se limitantes. Antidepressivos duais: Dentre os antidepressivos duais, a duloxetina, em comparação com a venlafaxina, é a que melhor resultado apresenta no controle e custo-beneficio da DN das formas dolorosas. duloxetina pode ser administrada na dose inicial de 30mg/dia, titulando em uma semana para 60mg/dia como manutenção. Alguns pacientes necessitam de 120mg/dia para controle da DN. Venlafaxian – 75 a 225 mg/dia. Anticonvulsivantes: Dentre os anticonvulsivantes, a gabapentina e a pregabalina, ambas inibidoras da subunidade alfa-2-delta do canal de cálcio, são atualmente as melhores opções para este grupo de pacientes. Gabapentina na dose de 900 a 3600mg/dia. Pregabalina – 150 a 600 mg/dia A terapêutica deve ser iniciada com doses baixas e aumento gradativo até o alívio dos sintomas ou aparecimento de efeitos colaterais. NASCIMENTO, Osvaldo José Moreira do; PUPE, Camila Castelo Branco; CAVALCANTI, Eduardo Boiteux Uchôa. Neuropatia diabética. Rev. dor , São Paulo, v. 17, supl. 1, pág. 46-51, 2016.
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