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Fichamento comentado- Afinal, o que é literatura?

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FICHAMENTO COMENTADO 
 
“[...] ficamos com a impressão de falar de um objeto, a literatura, como um fato concreto, 
imediato, pronto e acabado, como se sempre tivesse sido assim.” (p19) 
 
Quando se pensa em “o que é literatura”, a primeira coisa que vem à mente são 
obras conhecidas há muito tempo, como: os lusíadas, de Camões; dom casmurro, 
de Machado de Assis etc. Mas nem sempre foi assim. Essa ideia de literatura como 
algo mais específico, como criação artística que gera um conjunto de textos, só foi 
desenvolvida na segunda metade do século XVIII e formada, de maneira mais 
completa, no século XIX. 
 
“[...] em meados do século XV surgem termos correlatos de literatura nas línguas europeias 
modernas. [...] no intervalo de tempo entre meados desse século e meados do século XVIII 
[...] o uso desse termo nas diversas línguas estava, entretanto, muito longe de abarcar o 
caráter especializado com o que vemos hoje.” (p20) 
 
A literatura não correspondia a uma produção artística, mas a um conjunto de textos 
de diversas áreas do saber: da gramática, matemática, filosofia, história e tantos 
outros textos que pudessem proporcionar um vasto conhecimento, ou seja, ela 
estava relacionada à capacidade de ler e possuir erudição. 
 
“[...] a partir do final do século XV a reprodução de materiais escritos começou a transferir-se 
das mãos dos copistas para a oficina do impressor [...] a literatura passou a ser adquirida de 
forma mais específica através de textos impressos.” (p20) 
 
A literatura já era bem restrita e com essa transferência passou a ser atributo de 
poucos, das classes privilegiadas. Por outro lado, CULLER (1999) afirma que “[...] na 
Inglaterra do século XIX, a literatura surgiu como uma ideia extremamente 
importante, um tipo especial de escrita encarregada de diversas funções.” p42 (itálico 
nosso) Dentre essas funções citadas por CULLER, estão: proporcionar aos 
trabalhadores, desprovidos materialmente, uma baliza na cultura, enaltecer o 
nacional, as grandezas da Inglaterra, ou seja, a literatura foi transformada em 
disciplina de instrução nas colônias do império Britânico. Isso mostra que, a literatura 
deixou de ser atributo apenas das classes privilegiadas, como no final do século XV, 
e passou a ser difundida, no século XIX, entre as outras classes. 
 
‘[...] no século XVIII que se registraram as primeiras mudanças do uso de literatura como 
“conhecimento”, “saber”, “erudição” para uso diferente, agora relacionado à ideia de “gosto” 
ou “sensibilidade”.’ (p20) “[...] as ideias de gosto, de beleza e de sensibilidade, através das 
quais se defendeu o argumento estético de literatura, foram, sem dúvida, o resultado da 
atividade de setores dominantes que exerceram a própria atividade do gosto como forma de 
disseminar seus valores.” (p21) 
 
A partir dessas primeiras mudanças, a literatura foi adquirindo um sentido estético e 
de produção artística. Os burgueses eram os leitores críticos que consideravam se 
um texto era literário ou não de acordo com seus gostos, e o que era apenas um 
gosto burguês, dos “amadores cultos”, passa, a partir do século XIX, ao poder da 
crítica. Surge então uma nova disciplina, presente cada vez mais nas academias e 
universidades. A literatura passa de produção com base apenas no gosto burguês à 
produção crítica. 
 
 
 
“[...] a especialização do termo literatura, enquanto texto de caráter “imaginativo” ou 
“criativo”, tem sua contrapartida num fenômeno também correlato ao desenvolvimento da 
sociedade capitalista.” (p21) 
 
O argumento do texto literário como criatividade humana servia de subterfúgio para 
desafiar as repressões impostas pelo sistema capitalista e criticar as novas formas 
de práticas trabalhistas, que privavam os indivíduos da vida social para que se 
dedicassem exclusivamente ao trabalho. 
 
“[...] a partir da segunda metade do século XIX e início do século XX, busca-se definir 
literatura enquanto dado objeto, concreto e observável. Surgem, nesse momento, propostas 
de definição de literatura como conjunto de textos portadores de características que 
corresponderiam a sua literariedade.” (p22) 
 
Essa concepção de literatura enquanto objeto concreto estava relacionada a certas 
característica estruturais e textuais, próprias do texto literário, que o diferenciava do 
texto não literário. E a partir daí surge a ideia de que as qualidades internas do texto 
literário também poderiam ser observadas. Têm-se então as características de 
literariedade, que são a desautomatização do texto literário, ou seja, ele 
diferenciava-se dos textos comuns ao utilizar-se do caráter estético, usando a 
imaginação e criando um mundo ficcional. Mas a partir dessa visão de literatura 
como algo que provoca prazer e é voltado para o lado estético, começam a surgir 
reações contrárias. 
 
 
 
 
 
“[...] a partir da década de 60 do século XX, começam a surgir várias reações a esse ponto de 
vista, cujos argumentos centrais podem ser encontrados nas relações entre a literatura e seus 
leitores, já que muitos autores observam que os fatores distintivos de literariedade defendidos 
pelas correntes textualistas, não eram exclusividade de textos literários, podendo também ser 
encontrados em textos de natureza referencial.” (p23) 
 
As correntes textualistas diziam que a literatura tinha características textuais 
específicas que as diferenciavam dos textos não-literários. Mas por outro lado, 
assim como essas reações contrárias citadas pela autora, ABREU, Márcia. (2006) 
também afirma que “[...] nem todo texto literário faz um uso artístico da linguagem e 
que um uso artístico da linguagem não garante que o texto seja tido como literatura. 
Da mesma forma, nem toda ficção é literária assim como nem toda literatura é 
ficcional.” p35-36 (itálico nosso) A partir daí, a discussão acerca do que é literatura 
sai do ponto em que ela é definida como texto com características próprias, que as 
diferenciavam do texto referencial e passa a centrar-se no leitor, pois o texto só 
existiria a partir da leitura e da interpretação do leitor. 
 
“Até o século XVIII, o público leitor era claramente definido: havia “a sociedade polida”, 
intelectualizada e interessada, tanto pelas artes, quanto pela manutenção de valores morais, e 
os incapazes de ler, dedicados ao trabalho braçal, com os quais a produção crítica e literária 
não precisava, grosso modo, se preocupar. A partir daí, entretanto, vai surgindo uma classe 
de leitores intermediária [...] essa nova classe de leitores burgueses é fortalecida, com suas 
novas necessidades, o conhecimento especializado vai se definindo, tornando o trabalho do 
homem de letras extremamente complicado.” (p25-26) 
 
O trabalho do homem de letras, que era feito de forma amadora, torna-se difícil, 
pois antes ele escrevia para um público não intelectualizado, contudo, uma classe 
mais exigente, a nova classe dos burgueses, surge e começa a preocupar o homem 
de letras, ele afasta-se do meio social e então as discussões literárias passam para 
o âmbito das universidades. 
 
 
 
“[...] a crítica e a teoria literárias estudadas nos meios acadêmicos têm papel fundamental na 
definição de literatura e nas possibilidades e restrições das leituras literárias.” (p28) 
 
Os professores e especialistas em literatura é quem decidem se uma obra literária é 
boa ou não. Se tais especialistas dizem que um livro é bom e é tido como literatura, 
este já passa a fazer parte de um rol literário definido por outros especialistas na 
área, sem levar em conta se o livro é conhecido por todos ou se já foi lido várias 
vezes. Por outro lado, obras que já foram lidas muitas vezes e que já encantaram e 
emocionaram muitas pessoas, não são tidas como literatura. ABREU, Márcia. Diz: 
“se tantas pessoas os compram e lêem é porque julgam que são produções 
literárias de alto valor, ou porque se divertem e se emocionam aolê-los. Entretanto 
[...], a opinião de professores e intelectuais sobre eles não é das melhores. Quando 
se trata dos melhores livros do século, os eruditos esforçam-se para lê-los e, 
sobretudo, para ter o que dizer sobre eles, pois isso é sinal de distinção e os coloca 
no topo da intelectualidade.” p18 (itálico nosso) Os “livros do século” citados por ela 
são os definidos como difíceis (de difícil compreensão) e que foram lidos por poucas 
pessoas, ou somente pelas intelectualizadas. 
 
 
“[...] pode-se questionar até que ponto as discussões literárias chegam ao público leitor. 
Quem se importa, além de professores universitários e seus alunos, se um personagem é 
plano ou redondo, se a narrativa é homo ou heterodiegética, qual seria uma leitura 
psicanalítica de um conto ou desconstrutivista de um poema? Em quê essa leitura literária 
“profissionalizada” contribui para a sociedade?”. (p26) 
 
A autora não oferece uma definição para literatura, pois como foi explanado neste 
capítulo, o termo de literatura passou por diversas definições ao longo do tempo, 
modificava-se conforme o contexto histórico em que estava inserido. Dessa forma, a 
análise da estrutura, personagens e demais termos técnicos do texto literário 
estudados em sala de aula não interessam a quase ninguém, mas as histórias lidas 
sem nenhum caráter técnico possibilitam aos leitores a criação de novas histórias e, 
por conseguinte, outras formas de se enxergar o mundo. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ABREU, Márcia. Literatura, leitura e cultura. In:______ Cultura Letrada: Literatura e Leitura/ 
Márcia Abreu. - São Paulo: Editora UNESP, 2006, p11-41. 
CULLER, Jonathan. O que é Literatura e tem ela importância? In:________ Teoria Literária: 
uma introdução. São Paulo: Beça produções culturais Ltda., 1999, p26-47.

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