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ISSN: 2526-0529 v.4 n.1 julho/dezembro 2019 4º Comissão Editorial Professora Doutora Ana Cristina Zadra Valadares Professor Mestre Anizio Viana da Silva Professora Mestra Cassiana Fagundes da Silva Professora Doutora Claudia Cristina Mendes Giesel Professora Mestra Claudia do Carmo de Stefani Professora Mestra Elizane Andrade da Silva Professor Mestre Fábio Vinicius de Araujo Passos Professora Mestra Franciele Cristina Manosso Professor Mestre Gilmar Dias Professora Mestra Gislaine Vilma Vidal Kazeker de Siqueira Professor Doutor Guilherme Augusto Pianezzer Professor Mestre Guilherme Fonseca de Oliveira Professor Doutor Jaqueline Koehler Professora Mestra Lorete kossowski Mocelin Professora Mestra Maria Luiza Sobreira de Oliveira Professora Mestra Mirian Ramos Marques Pimentel Professora Doutora Mônika Christina Portella Garcia Kukolj Professora Mestra Noeli Pinto Steklain Professor Mestre Rafael Gemin Vidal Professora Mestra Renata Christovão Bottino Professora Mestra Rosana Schwansee Romanó Professora Mestra Rosangela Rodrigues de Oliveira Professora Mestra Susana Pitol Guasti Professora Doutora Tamiris Santos Pessoa Professor Doutor Uipirangi Franklin da Silva Câmara Professora Doutora Veridiana Almeida Comitê Científico Professor Doutor Antônio Charles Santiago Almeida - UNESPAR/FAFIUV Professora Doutora Clélia Peretti – PUC - PR Professora Doutora Deisily de Quadros – UNINTER – PR Professor Doutor Dorival de Stefani – UTFPR Professora Doutora Elaine Turk Faria – PUC - RS Professor Doutor Érico Hack– Faculdades OPET Professora Doutora Maria Fani Scheibel - UFRS Professor Doutor Paulo José da Costa – UEM - PR Professora Doutora Valéria de Meira Albach – UEPG - PR CONSELHO Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. V857 Vivências educacionais / Faculdade Educacional da Lapa. v.3, n.1 (jan.- jun. 2019) - . – Lapa: Fael, 2019 - Semestral ISSN: 2526-0529 1. 1. Ensino Superior 2. Formação 3. Educação a distância 4. Educação Especial e Inclusão CDD 370 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. Presidente do Conselho Prof. Me. Flávio Alves Pozzi Diretores Diretoria Executiva Luiz Borges da Silveira Filho Diretoria Operacional Marcelo Antonio Aguilar Diretoria Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca Editora Fael Diretoria de Inovação, Desenvolvimento e Qualidade Valmera Fátima Simoni Ciampi Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Projeto Gráfico Evelyn Caroline Betim Araujo Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Capa Rafael Luis Blanski De Menezes Revisão Editora Coletânea Tradução Alexandre Scussel Infraestrutura TI Alexssandro Domingues de Lima Claudio Ney Lins Goslar DADOS CATALOGRÁFICOS 3Faculdade Educacional da Lapa - FAEL APRESENTAÇÃO A Revista Vivências Educacionais apresenta a sua 4ª edição, e segue com o desafio de documentar as experiências de docentes e discentes dos cursos de graduação e pós-graduação da FAEL para todo o País. Amparada pelos grupos de pesquisa: cultura, tecnologia e aprendizagem, vinculado à área de ciências humanas e estratégia, sustentabilidade organizacional e empreendedorismo, vinculado à área de gestão, apresenta abrangência e pertinência com temas que dialogam com toda a realidade brasileira. Vale destacar que a revista conta com duas equipes de grande importância: a Comissão Editorial, formada pelos docentes da FAEL, e o Comitê Científico, formado por professores doutores de instituições externas, que são responsáveis pela avaliação e aprovação/reprovação dos artigos que serão publicados na revista. Nessa edição, temos o prazer de apresentar a vocês, caros leitores, os seguintes artigos, aprovados em todos os proces- sos de produção da revista: 1. Educação a distância no Brasil: uma alternativa de aprendizagem para além da escola tradicional Propõe-se a fazer uma análise do desenvolvimento da educação a distância no Brasil e suas correlações com as tecnologias e abordagens pedagógicas. 2. Mediação cultural, educação ativa, cotidiano escolar e ponderações sobre a língua materna e segunda língua Propõe uma reflexão qualitativa e explanatória sobre o macrotema Cultura e Sociedade, abordado de forma micro em um estudo sobre a mediação cultural em processos de educação ativa. 3. Sala de aula invertida como modelo de aprendizagem colaborativa: desafios e perspectivas Uma reflexão sobre a experiência de sala de aula invertida com discentes do 7º período do curso de bacharelado em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, na prática docente no ensino de História da Igreja da América Latina, do Brasil e do Paraná como modelo de aprendizagem colaborativa. 4. Psicopedagogia Institucional e a indisciplina escolar em sala de aula nas séries iniciais: perspec- tivas e possibilidades O artigo se situa no campo das investigações referentes a indisciplina, tendo por objetivo compreender o papel do psicopedagogo institucional frente às possibilidades de intervenção e combate da indisciplina escolar nas séries iniciais. 5. O professor de educação infantil: agente mediador de práticas de inclusão das diversidades Aborda a importância do uso da Literatura no âmbito da Educação Infantil para o desenvolvimento de práticas inclusivas. 6. A importância do ensino da Língua Espanhola para os alunos dos Anos Iniciais do Ensino Fun- damental Apresenta a relevância do ensino da Língua Espanhola nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental das escolas brasileiras, com ênfase na importância do desenvolvimento cognitivo e sociocultural na infância. 7. A Educação Física Adaptada como promotora no processo de reabilitação de crianças com deficiências motoras Esse artigo tem a finalidade em apresentar “A Educação Física Adaptada como promotora no processo de reabi- litação de crianças com deficiências motoras”. 8. O Construtivismo entra em cena: um olhar para o processo de alfabetização no filme Matilda Examina o processo de alfabetização da personagem Matilda do filme homônimo de Danny DeVito à luz de pressupostos construtivistas desenvolvidos pela psicopedagoga argentina Emília Ferreiro. 9. Sustentabilidade Organizacional em planejamento de contratação de bens e serviços de Tecno- logia da Informação para organizações públicas Trata-se de um estudo sobre planejamento de contratações de bens e serviços de TIC; recomenda a execução de atividades de planejamento, de investigação e análise de requisitos, pontos necessários ao atendimento dos princípios básicos da administração pública. 10. Educação Especial: um estudo sobre a inclusão de alunos autistas por meio da musicoterapia Trata-se de uma pesquisa bibliográfica acerca do uso da musicoterapia com alunos autistas, com o objetivo de apresentar as discussões atuais referentes ao processo de auxiliar no tratamento de autismo na perspectiva de diminuir os sintomas relacionados à dificuldade de comunicação e interação social. Com temas tão vastos, tenho certeza de que o leitor encontrará aqui um celeiro de informações que podem ajudar na sua formação pessoal e profissional. Fico também orgulhoso de apresentar mais essa produção intelectual da FAEL. Desejo uma ótima leitura e boas vivências educacionais. Prof. Dr. Flavio Alves Pozzi Presidente da Comissão Editorial 5Faculdade Educacional da Lapa - FAEL APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................7 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: UMA ALTERNATIVA DE APRENDIZAGEM PARA ALÉM DA ESCOLA TRADICIONAL .................................................................................................................... 7 Distance education in brazil an alternative for learning beyond the traditional school SILVA, Erick Hermann Facundes da MEDIAÇÃO CULTURAL, EDUCAÇÃO ATIVA, COTIDIANO ESCOLAR E PONDERAÇÕES SOBRE A LÍNGUA MATERNA E SEGUNDA LÍNGUA ....................................................................................16 Cultural mediation, active education, school daily life andents on native and second language MAT TEU, Elza Terezinha De MATOS, Mara Eli de SALA DE AULA INVERTIDA COMO MODELO DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS ............................................................................................................................ 28 Inverted classroom as a collaborative learning model: challenges and prospects PER ETTI Clélia PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E A INDISCIPLINA ESCOLAR EM SALA DE AULA NAS SÉRIES INICIAIS: PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES ................................................................................ 37 Institutional psychopedagogy and school indiscipline in classroom in early years of education: perspectives and possibilities SILVA, Kátia Santos da GUI MAR ÃES, Paulo Sérgio O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL: AGENTE MEDIADOR DE PRÁTICAS DE INCLUSÃO DAS DIVERSIDADES ..................................................................................................................... 48 The teacher of child education: agent for measuring inclusion of diversities GÖTZ, Thaíse Márcia DIAS, Gilmar A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA LÍNGUA ESPANHOLA PARA OS ALUNOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL .......................................................................................................... 59 The importance of spanish language education for students in early years of elementary education LOPES, Iuri Pinto MATOS, Mara Eli de SUMÁRIO Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 6 A EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA COMO PROMOTORA NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIAS MOTORAS ........................................................................................... 66 Adapted physical education as a promoter in the rehabilitation process of children with motor disabilities SAMPAIO, Zélia Bárbara Monteiro SOEK, Ana Maria O CONSTRUTIVISMO ENTRA EM CENA: UM OLHAR PARA O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NO FILME MATILDA .................................................................................................................................73 Constructivism in focus: a look at the leteracy process in the Matilda film ALM EIDA, José Carlos Marques de GUSSO, Sandra Fátima Krüger SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL EM PLANEJAMENTO DE CONTRATAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO PARA ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS ............. 81 Organizational sustainability in contracting information technology assets and services for public organizations planning PIN HEIRO, Allan Barroso ROM ANÓ, Rosana Schwansee EDUCAÇÃO ESPECIAL: UM ESTUDO SOBRE A INCLUSÃO DE ALUNOS AUTISTAS POR MEIO DA MUSICOTERAPIA ............................................................................................................................. 93 Special education: prospects on the use of music therapy in autistic students ESP IND OLA, Elaine Lopes DIAS, Gilmar SUMÁRIO IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 3 n. 1 Revista Vivências Educacionais Educação a Distância no Brasil: uma alternativa de aprendizagem para além da escola tradicional Distance education in brazil an alternative for learning beyond the traditional school SILVA, Erick Hermann Facundes da1 RESUMO Este artigo se propõe a fazer uma análise do desenvolvimento da Educação a Distância no Brasil e suas corre- lações com as tecnologias e abordagens pedagógicas. Para isso, alia pesquisa bibliográfica ao estudo de alguns dados do Censo EAD.BR de 2016, publicado pela Associação Brasileira de Educação a Distância ( ABED, 2017). Amparado nos estudos de Maia e Mattar (2007), Guarezi e Matos (2009), Formiga (2012), entre outros autores, verifica-se que o Brasil é um país de dimensões continentais e que o acesso ao ensino ainda é uma dificuldade para muitas pessoas que moram distantes dos grandes centros urbanos. Além disso, quando se mora nas áreas urbanas, a falta de tempo e a dificuldade na mobilidade para frequentar uma sala de aula física são vistos como empecilhos para continuar ou permanecer estudando. Com efeito, a Educação a Distância vem se apresentando como uma alternativa de aprendizagem que não se opõe à escola presencial; antes, mostra-se como uma possi- bilidade de aprender e continuar os estudos para além dela e, em última instância, corrobora para democratizar o acesso ao ensino em nosso país. Ao seu turno, esta pesquisa demonstra que a Educação a Distância, além de estar intrinsecamente associada ao desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação, apropria, toma para si, faz uso das abordagens pedagógicas hegemônicas em cada período histórico. Por fim, cumpre con- siderar que o crescimento numérico da Educação a Distância alerta para o desafio de se buscar a qualidade na aprendizagem, pois serão as experiências bem-sucedidas que ajudarão a consolidar essa modalidade educacional. Palavras-chave: Educação a Distância. Tecnologias. Abordagens pedagógicas. Aprendizagem. ABSTRACT The article proposes to analyze the development of distance education in Brazil and its correlations with techno- logies and pedagogical approaches. To this end, it combined bibliographic research with studying data from the 2016 Census EAD.BR, published by the Brazilian Association of Distance Education. Supported by the studies by Maia and Mattar (2007), Guarezi and Matos (2009), Ant (2012) among other authors, Brazil is a country with continental dimensions and access to education is still a difficulty for many people who live far from large urban centers. When living in urban areas, lack of time and difficulty in mobility to attend a physical classroom are seen as obstacles to continue or stay studying. In fact, distance education has been presented as a learning alternative that is not opposed to face-to-face school, but rather as a possibility to learn and continue studies beyond it and, ultimately, corroborates to democratize the access to education in our country. The research has shown that dis- tance education is not only intrinsically associated with the development of information technologies communica- tion, it appropriates, takes for itself, makes use of hegemonic pedagogical approaches in each historical period. In the end, it should be considered that the numerical growth of distance education alerts to the challenge of seeking quality learning, as it will be the successful experiences that will help consolidate this educational model. Keywords: distance education, technologies, pedagogical approaches, learning. 1 Discente do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em EaD e Novas Tecnologias pela Faculdade Fael. E-mail: erick.mcp@gmail.com. A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais Faculdade Educacional da Lapa – FAEL 8 Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 INTRODUÇÃO O Brasil é um país de dimensões continentais, e o acesso ao ensino ainda é uma dificuldade para muitas pessoas que moram distantes dos grandes centros urbanos. Além disso, quando se mora nas áreas urbanas, a falta de tempo e a dificuldade na mobilidade para frequentar uma sala de aula física são vistos como empecilhos para continuar ou permanecer estudando. A Educação a Distância, que já vem sendo oferecida no Brasil desde o início do século XX, nos últimos anos está se consolidando como uma alternativa de aprendizagem para além da escola tradicional. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é entender o desenvolvimento da Educação a Distância no Brasil e sua correlações com as tecnologias e abordagens pedagógicas. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e a análise de alguns dados do Censo EAD.BR de 20162, publicado anualmente pela Associação Brasileira de Educação a Distância ( ABED, 2017). A relevância deste estudo está em contribuir com uma visão ampla do que é e como se desenvolveu a Edu- cação a Distância em nossopaís e, ao mesmo tempo, auxiliar acadêmicos e profissionais da educação a perce- berem as correlações de influências entre Educação a Distância, tecnologias e modelos de aprendizagens. O SURGIMENTO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Segundo Gonzalez (2005) e Maia e Mattar (2007), o primeiro aparecimento da Educação a Distância (EaD) pode ser relacionado ao surgimento da escrita, pois é a partir desta que a comunicação se liberta no tempo e no espaço. Outros pesquisadores, como Moore e Kearsley (2007), Litto e Formiga (2009) e Nunes (2006), consideram as cartas de Paulo e de Platão como a gênesis da Educação a Distância. Sem pretender definir o marco preciso do surgimento da EaD, deve-se considerar que a máquina de impressão tipográfica, invenção de Gutenberg, no século XV, favoreceu o processo de compartilhar e transmitir ideias para um número de pessoas cada vez maior, aumentando, concomitantemente, os debates, a produção e a reprodução de conhecimento. Com o objetivo de tornar mais clara a evolução da EaD, adotaremos, daqui em diante, uma divisão histó- rica, utilizada por Maia e Mattar (2007), que apresenta a Educação a Distância passando por três gerações. Primeira geração: cursos por correspondência Segundo Maia e Mattar (2007), há registro de cursos a distância (taquigrafia) oferecidos em jornais desde o século XVIII na Europa. Todavia, foi no século XIX que ocorreu certa consolidação dessa modalidade de ensino, impulsionada pelo desenvolvimento dos meios de transporte (trens e correios), que dinamizavam a entrega dos materiais didáticos. Para Formiga (2012), na primeira geração da EaD, os materiais didáticos eram, sobretudo, impressos. O ensino pautava-se no modelo “de um para muitos”, e a aprendizagem se dava de forma isolada, por meio de um estudo autônomo com pouquíssimas possibilidades de interação. Segunda geração: novas mídias e universidades abertas Conforme expressam Maia e Mattar (2007), a Educação a Distância, em sua segunda geração, foi marcada pelo acréscimo de novas tecnologias e pelo surgimento das universidades abertas. Nos países desenvolvidos, as grandes universidades, já em meados do século XX, começaram a introduzir cursos de EaD mediados pelas novas tecnologias: rádio, telefone, fita cassete, televisão. 2 Em sua nona edição, o censo visa apresentar os dados quantitativos e qualitativos referentes às atividades de Educação a Distância Brasil. Participaram da pesquisa 54 instituições públicas federais, 26 instituições públicas estaduais, 6 instituições públicas municipais, 32 instituições do Sistema Nacional de Aprendizagem ( SNA), 106 instituições privadas com fins lucrativos, 64 instituições privadas sem fins lucrativos, 14 órgãos públicos ou instituições do governo e 10 organizações não governamentais ( ABED, 2017, p. 39). A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais 9Faculdade Educacional da Lapa – FAEL Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 Considera-se que esse avanço da Educação a Distância, impulsionado pelas novas tecnologias, fez com que outros setores da sociedade (empresas, universidades tradicionais, agências governamentais) começassem a adotar essa modalidade de ensino a fim de capacitar seus funcionários. Na segunda geração da EaD, conforme diz Formiga (2012), o material didático deixou de ser obrigato- riamente impresso e acrescentaram-se a ele outros recursos, como: a fita cassete, o rádio e a própria TV. O modelo de ensino continuou “de um para muitos”; entretanto, foram mudadas as possibilidades de interação, ou seja, nessa fase, já havia tecnologias com possibilidades de interação mais rápidas do que na primeira geração por correspondência. Terceira geração: EaD on-line A terceira geração da Educação a Distância surgiu no final do século XX e foi impulsionada pelo avanço das Tec- nologias de Informação e Comunicação ( TIC), sobretudo o computador e a internet ( MAIA; MAT TAR, 2007). Nessa fase, em vez de as tecnologias se relacionarem, como ocorreu na segunda geração, houve uma inte- gração delas no computador. Por isso, o computador e a internet representam, de certa forma, o marco inicial da educação pautada no hipertexto, na multimídia, nos ambientes virtuais de aprendizagem. Nessa fase da EaD, conforme expressa Mattar (2011), o espaço educacional, definidamente, deixou de ser apenas a sala de aula física e se estendeu para as casas, para as empresas, enfim, para o mundo virtual, consoli- dando a tendência da fase anterior: universidades abertas e universidades corporativas. O material didático na educação on-line, segundo Formiga (2012), deixou de ser totalmente impresso e passou a ser disponibilizado em outras mídias, como CD, DVD e a própria rede mundial de computadores por meio dos ambientes virtuais de aprendizagem. O modelo de ensino deixou de ser centralizado no professor e no material e passou-se a valorizar a interação entre os alunos como forma de construção de conhecimento. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL A Educação a Distância no Brasil, ao mesmo tempo em que se assemelha da Educação a Distância no mundo, distingue-se. Assemelha-se por, no seu início, utilizar primordialmente cursos por correspondência, mas se distingue em relação às experiências bem-sucedidas na utilização do rádio e da televisão como veículos propagadores da educação em nosso país ( MAIA; MAT TAR, 2007). Por outro lado, Maia e Mattar (2007) chamam a atenção para o surgimento tardio das universidades abertas no Brasil, que somente agora, no século XXI, tornaram-se realidade, tendo seu expoente maior a Universidade Aberta do Brasil ( UAB), criada em 2005. Há notícias de que existe Educação a Distância no Brasil desde o início do século XX, por meio de jornais que ofertavam cursos de datilografia via correspondência. Segundo Formiga (2012), inclusive, os cursos por correspondência no Brasil foram os que tiveram o ciclo mais longo: quase meio século. Nos primórdios da Educação a Distância em nosso país, os cursos estavam voltados à educação profissional. Esse fator, associado ao custo financeiro acessível ao grande público, fez com que essa modalidade fosse tratada como educação “de segunda classe” ( FOR MIGA, 2012). Segundo dados do Censo EAD.BR de 20163, grande parte dos cursos oferecidos com regulamentação totalmente a distância são de especializações lato sensu, com uma oferta de 1.098 cursos. Em segundo lugar, aparecem os cursos de nível tecnológico, com 235 ofertas, seguidos dos cursos técnicos profissionalizantes, com 219 ofertas, e dos cursos de licenciatura, com 210 ofertas. Os dados da pesquisa apontam, ainda, que as ofertas menos frequentes estão na área da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), com um total de 25 cursos, e em diferentes níveis da educação básica, com um total de 113. 3 ABED (2017, p. 73). A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais Faculdade Educacional da Lapa – FAEL 10 Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 Por conta desses dados, diferentes autores afirmam que está havendo um maior acesso aos cursos de Edu- cação a Distância nos últimos anos. Tal afirmação é confirmada pelo Censo EAD.BR de 2016: o número total de matrículas em cursos EaD totalmente a distância, em 2016, chegou a 561.667. Esse dado é significativo e mostra uma tendência de crescimento da Educação a Distância como alternativa para atender às necessidades regulamentadas de educação e formação continuada. Gráfico 1 – Quantidade de alunos contabilizados pelo Censo EAD.BR de 2016 em cursos regulamentados totalmente a distância4. 3.3 Observação sobre o número total de matrículas coletado no Censo EAD.BR 2016 A quantidade de alunos beneficiados pela EAD é imensa. O Censo EAD.BR 2016 contabilizou 561.667 alunos em cursos regulares totalmente a distância, 217.175 em cursos regulamentadossemipresenciais, 1.675.131 em cursos livres não corporativos e 1.280.914 em cursos livres corporativos. Os números são expressivos e reve- lam o potencial da EAD para atender a demandas regulamentadas de educação e, mais ainda, demandas de formação continuada. Gráfico 3.8 – Quantidade de alunos contabilizados pelo CensoEAD.BR 2016 em cursos regulamentados totalmente a distância 519.839 2014 561.667 2016 498.683 2015 0 100.000 600.000 500.000 400.000 300.000 200.000 Gráfico 3.9 – Quantidade de alunos contabilizados pelo CensoEAD.BR 2016 em cursos livres corporativos e não corporativos 2014 20162015 4.000.000 3.500.000 2.000.000 3.000.000 1.500.000 500.000 2.500.000 1.000.000 0 2.872.383 2.956.045 3.940.891 A respeito da contabilização de matrículas do Censo EAD.BR, vale destacarmos que esses números certamente são subnotificados, o que somente indica que, na realidade, há muito mais alunos que se beneficiam dessa modalidade de ensino e aprendizagem. Os números aqui apresentados revelam os dados que as instituições informantes do Censo EAD.BR optaram por divulgar, e seu significado mais relevante são os níveis acadêmi- cos e as áreas de conhecimento em que a EAD está presente, bem como sua proporção no cenário educacional. As quantidades de alunos matriculados em cada tipo de curso em âmbito nacional são imprecisas e podem variar muito de acordo com o conjunto de respondentes que participam a cada ano. Feita essa ressalva, vale a pena observarmos os números. O Censo EAD.BR 2016 coletou um número de matrículas em torno de 561.667 em cursos regulamentados totalmente a distância. Esse número é semelhante, mesmo que um pouco superior, ao dos dois anos anteriores. Entre os cursos semipresenciais, as instituições informaram um total de 217.175 alunos, bem inferior ao de anos anteriores. Vale lembrarmos que a metodologia para levantamento desses dados em 2014 não distinguia claramente matrículas em cursos ou disciplinas semipresenciais. Mesmo assim, a metodologia de 2015 e 2016 foi a mesma, e a queda na notificação de matrículas em cursos semipresenciais foi significativa neste último ano. Os cursos livres são responsáveis por 3 a 4 vezes mais matrículas que os cursos regulamentados. A respeito destes últimos, o Censo EAD.BR 2016 também revelou uma queda expressiva no número informado de matrí- culas. Não podemos inferir que houve queda efetiva no número de matrículas no mercado de EAD, visto que, em 2016, as instituições que informaram aumento no número de matrículas foram mais numerosas que as que informaram uma redução (veja a Parte 7). A equipe do Censo EAD.BR vai desenvolver novas estratégias para reduzir essa subnotificação nos próximos anos. 79 Cursos oferecidos Por volta da década de 20, a Educação a Distância ganhou força com a utilização do rádio como elemento complementar ao material impresso. Roquete Pinto, no Rio de Janeiro, foi o visionário que ousou ao utilizar a rádio difusão como veículo de propagação de educação ( MAIA; MAT TAR, 2007). Entrando na segunda metade do século XX, ocorreram as primeiras experiências de Educação a Distância utilizando a televisão. Ao final do século, a utilização da TV se aperfeiçoou e passou a atender à clientela de cursos supletivos de 1º e 2º graus, além de cursos técnicos ( MAT TAR, 2011). Na atualidade, as teleaulas e os textos digitais são os tipos de conteúdos mais frequentes na EaD. Dados do Censo EAD.BR de 20165 revelam que, das instituições que trabalham com cursos totalmente a distância, 73% ofertaram seus conteúdos através de teleaulas, 65% em textos digitais, 57% em vídeo e 56% em livros impressos. Isso demonstra que, na EaD, a produção de materiais utiliza-se das tecnologias disponíveis em sua época, tanto que o material impresso não possui mais a hegemonia dos conteúdos. Apesar disso, ele ainda se mantém entre os tipos de materiais mais usados na oferta dos conteúdos. Na década de 80 do século XX, ocorreram as primeiras experiências de utilização do computador na edu- cação e, em meados dos anos 90, as instituições de ensino superior começaram a implementar cursos na moda- lidade de Educação a Distância. A ligação entre Educação a Distância e tecnologias (particularmente a internet) proporcionou a criação de Ambientes Virtuais de Aprendizagem ( AVA), que, atualmente, são os principais meios de distribuição de con- teúdos dos cursos de EaD totalmente a distância, totalizando quase 80%, segundo Censo EAD.BR de 2016. As outras ferramentas usadas para a distribuição de conteúdos incluem e-mail, redes sociais, grupos de chat, discos virtuais e blogs. 4 ABED (2017, p. 79). 5 ABED (2017, p. 96). A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais 11Faculdade Educacional da Lapa – FAEL Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 Gráfico 2 – Recursos utilizados na distribuição de conteúdos em cursos regulamentados totalmente a distância, em percentual6. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 79 60 23 27 12 5 Ambiente virtual de aprendizagem E-mail ou listas/grupos de e-mail Grupos em redes sociais (Facebook©, Google+© etc.) Blogs Grupos de chat (WhatsApp©, Telegram etc.) Discos virtuais (Google Drive©, Dropbox™ etc.) O AVA é um recurso fundamental, tanto para a distribuição de conteúdos, quanto para a interação com os alunos. Para que haja um maior acesso ao AVA por parte dos discentes, as instituições vêm procurando investir em responsividade. Dizemos que um ambiente virtual é dotado de responsividade quando os alunos conseguem acessá-lo por diferentes dispositivos tecnológicos, como computadores, tablets e smartphones. Das instituições que oferecem cursos totalmente a distância, 39% disponibilizam AVA com responsividade, conforme o Censo EAD.BR de 20167. Isso contribui para que o estudante acesse, participe e interaja utilizando diferentes dispositivos tecnoló- gicos, dando a noção de que pode estudar em qualquer lugar e a qualquer momento. Mesmo com toda essa longa história de mais de um século de desenvolvimento, Formiga (2012) argumenta que foi somente no final do século XX, precisamente em 1996, mediante a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ( LDB), que, pela primeira vez, citou-se, na legislação educacional, a EaD como modalidade de ensino. Dessa data em diante, incluíram-se alguns decretos e portarias visando regulamentar essa modalidade educacional. O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Até aqui, verificou-se que a Educação a Distância é uma alternativa de aprendizagem para além da escola tradicional. Por isso, antes de se abordar os modelos de aprendizagem utilizados na EaD, cumpre considerar o que diz a legislação mais recente sobre essa modalidade de educação: A Educação a Distância é a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos pro- cessos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e Tecnologias de Informação e Comu- nicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compa- tíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos ( BRA SIL, 2017, [s. p.]). Diante dessa definição e das características da Educação a Distância, percebe-se que ela promove a produção de conhecimento individual e coletivo, mediada pelas Tecnologias de Informação e Comunicação, entre elas os Ambientes Virtuais de Aprendizagem. A influência da abordagem tradicional A primeira fase da EaD foi influenciada pela abordagem pedagógica tradicional. Segundo essa concepção, “a prática educativa é caracterizada pela transmissão dos conhecimentos acumulados pela humanidade ao longo dos tempos” ( SAN TOS, 2005). 6 ABED (2017, p. 111). 7 ABED (2017, p. 116). A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais FaculdadeEducacional da Lapa – FAEL 12 Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 O processo de aprendizagem, na abordagem tradicional, fundamentava-se na distribuição dos conteúdos, pois concebia que ensinar era transmitir. O professor era o centro do processo educativo, afinal, era o que detinha o conhecimento. O aluno aprendia autonomamente mediante a transmissão dos conteúdos que pro- fessor lhe enviava, no absoluto termo da “educação bancária”, descrita por Paulo Freire (1981). No passado, esse modelo de aprendizagem até respondia à necessidade do ser humano, mas, hoje, mostra-se retrógrado. No entanto, esse modelo de aprendizagem ainda é utilizado em cursos de Educação a Distância que tentam transferir velhas práticas com roupagens de modernidade: [...] na EaD ainda temos o professor como o detentor e o transmissor de conhecimento ao aluno. A ele, cabe decidir os objetivos e a metodologia do ensino. O aluno recebe, escuta escreve e repete informa- ções tantas vezes forrem necessárias, até acumular em sua mente o conteúdo que o professor repassou ( GUA REZI; MATOS, 2009, p. 56). Percebe-se, dessa forma, que um curso EaD, ainda que projetado em uma plataforma virtual, não é garantia de que a aprendizagem seja sustentada em processos pedagógicos inovadores. Em outras palavras, um curso de EaD, em plano século XXI, mesmo sem usar emissão de cartas, característica da primeira geração, por exemplo, pode ser tão ou mais tradicional no seu método de aprendizagem quanto os cursos oferecidos no início do século XX, via correspondência. Isso porque uma plataforma virtual, ainda que assuma um glamour de modernidade, com acesso rápido e a qualquer momento pela internet, pode ser subutilizada quando servir apenas para transmitir conteúdos aos alunos e avaliá-los em atividades isoladas e individuais, dando, assim, uma roupagem nova a um modelo de aprendizagem antigo. De acordo com Guarezi e Matos (2009), a aplicação da concepção pedagógica tradicional na Educação a Distância recebe inúmeras críticas. Talvez, a mais severa seja por formar um aluno passivo, acrítico, pouco cria- tivo, ensinado a atingir, por seus próprios méritos, sua realização como pessoa, mas que, ao mesmo tempo, só assimila e reproduz o que aprende. As considerações acima permitem inferir que as influências das abordagens pedagógicas na Educação a Distância, assim como no ensino presencial, não são estanques. Ou seja, a assimilação de uma nova abordagem não significa o fim da antiga; antes, diferentes concepções pedagógicas podem estar inseridas em um curso de Educação a Distância. A influência da abordagem comportamentalista Na segunda fase da EaD, começaram a surgir tendências pedagógicas que iriam discordar da educação tra- dicional, que defendia que ensinar era transmitir. Entre essas concepções, está a comportamentalista. Segundo a abordagem comportamentalista, também chamada de behavorista, A apreensão do conhecimento pelo indivíduo se dá por meio da associação de ideais que são capi- tadas pelos sentidos dos ambientes externos, seguindo os princípios da semelhança, da continuidade espacial e da causalidade. A aprendizagem é sempre iniciada e controlada pelo ambiente ( GUA REZI; MATOS, 2009, p. 51). Para Franco (2006), as instituições que ofereciam Educação a Distância se apoderaram do discurso da con- cepção comportamentalista e começaram a investir no aperfeiçoamento do material didático, seja ele impresso, audiovisual, programa de rádio ou televisão, teleconferência ou videoconferência. A ênfase, então, passou ser o material instrucional. Na abordagem comportamentalista, o professor passa a ser concebido como educador que seleciona, orga- niza e aplica um conjunto de meios que garantam a eficiência e a eficácia do ensino. Por sua vez, o aluno é o elemento para quem o material é produzido. Desse modo, o aluno eficiente passa a ser o que lida cientificamente com os problemas da realidade ( SAN TOS, 2005). Ainda de acordo com Santos (2005), o processo de aprendizagem se dá com ênfase nos meios: recursos audiovisuais, instrução programada, tecnologias de ensino, ensino individualizado (módulos instrucionais), A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais 13Faculdade Educacional da Lapa – FAEL Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 “maquinas de ensinar”, computadores, hardware, software. Os comportamentos desejados serão mantidos nos alunos por reforçadores ( SAN TOS, 2005). Em complemento a essas ideias, Guarezi e Matos (2009) expõem que os princípios da abordagem compor- tamentalista podem ser observados em cursos EaD cujas atividades sejam predominantemente objetivas, com feedback de certo ou errado. Caso ao aluno acerte, avança. Caso erre, deve repetir o exercício. Com efeito, fica nítido que, apesar de a abordagem comportamentalista de Skinner ter ganhado repercussão na segunda fase da Educação a Distância, por conta do aperfeiçoamento dos materiais didáticos, tais ações ainda são comuns em escolas tradicionais e em várias iniciativas de cursos EaD na atualidade ( GUA RAZI; MATOS, 2009). A influência da abordagem cognitivista A terceira fase da EaD é marcada por uma preocupação em efetivar a interação dos atores envolvidos no processo de aprendizagem. As ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon estão fervilhando na sociedade brasileira. Esses autores argumentam que o conhecimento se dá pela interação entre o sujeito e um objeto ( FOG AÇA, 2019). Para a concepção cognitivista piagetiana, um ensino que procura desenvolver a inteligência deverá priorizar as atividades do sujeito, considerando-o e inserindo-o em uma situação social, ou seja, há uma interdependência entre o homem e o meio em que ele vive, a sociedade, a cultura, seus valores e seus objetivos ( SAN TOS, 2005). Dessa forma, para a abordagem cognitivista piagetiana, o professor é o criador de situações desafiadoras e quem estabelece as condições de orientações, reciprocidade e cooperação entre todos os envolvidos no processo de aprendizagem. Por sua conta, o aluno assume o papel ativo de observar, analisar, levantar hipóteses, argu- mentar ( SAN TOS, 2005). Segundo a concepção cognitivista, o aprendizado não ocorre pela simples transmissão (abordagem tra- dicional) e tampouco depende do meio e da motivação do aluno (abordagem comportamentalista). Antes, a aprendizagem é um processo ativo, em que influencia a interação de vários elementos ( FRA NCO, 2006). Diante dessas mudanças de concepções de aprendizagem, as instituições que oferecem cursos a distância na terceira fase da EaD passaram a investir mais em AVAs responsivos e dotados de ferramentas interativas e buscaram utilizar abordagens pedagógicas que privilegiem a interação, a colaboração e, ao mesmo tempo, res- pondam às necessidades dos alunos da sociedade contemporânea. A influência da Andragogia Como um elemento inserido na abordagem cognitivista, vale a pena incluir nesta análise, que busca per- ceber a influência das abordagens pedagógicas sobre o processo de aprendizagem na Educação a Distância, uma corrente que ficou conhecida como Andragogia. Segundo Knowles (apud GUA REZI; MATOS, 2009), Andragogia é o termo usado para designar a ciência da educação de adultos, e tais estudos floresceram após a Primeira Guerra Mundial. A educação de adultos não é uma unanimidade. Vários autores a criticam por dicotomizar o processo de aprendizagem: a Pedagogia ensina as crianças e a Andragogia, os adultos. Além disso, a complexidade em definir critérios (biológico, legal, social, psicológico) para entender quem é o adulto é outra polêmica para os críticos da Andragogia, argumentam Guarezi e Matos (2009). Ressalvadas as críticas, segundo as autoras supracitadas, o estudo sobre a educação de adultos representou ganhos educacionais para a Educação a Distância, pois a Andragogia, seja como uma técnica,uma abordagem, [...] contraria o comportamentalismo, não é contra o cognitivismo, mas [...] busca um processo educa- cional a distância, que vá além das preocupações com as estruturas mentais e se preocupa com a formação do homem na sua plenitude intelectual, biológica, emocional e, por que não dizer espiritual ( GUA REZI; MATOS, 2009, p. 20). A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais Faculdade Educacional da Lapa – FAEL 14 Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 São princípios da Andragogia citados por Knowles (apud GUA REZI; MATOS, 2009): apresentar currículo voltado para o interesse do aluno; valorizar a experiência do estudante, a relação teoria-prática; não ignorar os tempos de aprendizagem e não aplicar ensino diretivo e autoritário, quando utilizados na Educação a Distância, são complementarmente compreensíveis, principalmente se levarmos em consideração o elevado índice de estu- dantes adultos em cursos totalmente a distância no Brasil, conforme indica o Gráfico 3. Gráfico 3 – Distribuição da faixa etária dos alunos de cursos regulamentados totalmente a distância, semipresencial e presen- cial, em percentual8. 4.2 Faixa etária A maior concentração de alunos em cursos a distância está entre 26 e 30 anos e entre 31 e 40 anos. Observamos que 29% dos cursos regulamentados totalmente a distância e 33% dos cursos semipresenciais têm média etária de alunos entre 26 e 30 anos; e que 37% dos cursos regulamentados totalmente a distância e 16% dos semipre- senciais têm uma média etária entre 31 e 40 anos. Essa alta incidência de alunos após a idade típica da gradua- ção é significativamente maior na educação a distância (EAD) que nos cursos presenciais. Uma parcela de 20% dos cursos tradicionais cursos que têm alunos na faixa entre 21 e 25 anos, e 20% na faixa entre 26 e 30 anos. Gráfico 4.6 – Distribuição da faixa etária dos alunos de cursos regulamentados totalmente a distância, semipresenciais e presenciais, em percentual 40 35 30 25 20 15 10 5 2 2 3 4 8 20 29 33 20 37 16 8 10 10 Menor de 20 anos Cu rs os to ta lm en te a di st ân ci a Cu rs os to ta lm en te a di st ân ci a Cu rs os to ta lm en te a di st ân ci a Cu rs os to ta lm en te a di st ân ci a Cu rs os to ta lm en te a di st ân ci a Cu rs os se m ip re se nc ia is Cu rs os se m ip re se nc ia is Cu rs os se m ip re se nc ia is Cu rs os se m ip re se nc ia is Cu rs os se m ip re se nc ia is Cu rs os p re se nc ia is Cu rs os p re se nc ia is Cu rs os p re se nc ia is Cu rs os p re se nc ia is Cu rs os p re se nc ia is Entre 21-25 anos Entre 26-30 anos Entre 31-40 anos Maior de 41 anos Entre os cursos livres, tanto corporativos quanto não corporativos, a maior incidência de alunos está na faixa entre 31 e 40 anos (27%). Esses números reforçam o potencial da educação a distância para a formação continuada. Gráfico 4.7 – Distribuição da faixa etária dos alunos de cursos livres não corporativos e corporativos, em percentual 30 25 20 15 10 1 0 13 1 12 13 27 27 2 45 0 Cu rs os li vr es n ão co rp or at iv os Cu rs os li vr es co rp or at iv os Cu rs os li vr es n ão co rp or at iv os Cu rs os li vr es n ão co rp or at iv os Cu rs os li vr es n ão co rp or at iv os Cu rs os li vr es n ão co rp or at iv os Cu rs os li vr es co rp or at iv os Cu rs os li vr es co rp or at iv os Cu rs os li vr es co rp or at iv os Cu rs os li vr es co rp or at iv os Menor de 20 anos Entre 21-25 anos Entre 26-30 anos Entre 31-40 anos Maior de 41 anos Censo EAD Brasil 2016 88 Por fim, observa-se que não faltam técnicas, concepções e abordagens pedagógicas para orientar as inicia- tivas de EaD. Com efeito, o Censo EAD.BR de 20169 mostra que 68% das instituições que ofertam cursos EaD veem os aspectos pedagógicos como um desafio na atualidade. Espera-se, com isso, que as instituições invistam em infraestrutura, otimização do AVA, proporcionem canais de acesso ao discente e apliquem novas propostas pedagógicas visando à efetiva aprendizagem do aluno. Afinal, o crescimento numérico da EaD precisa vir acompanhado de uma aprendizagem de qualidade, que não virá pela espontaneidade de seu uso, mas, sim, pela vigilância contínua de alunos e professores extraírem todo o seu potencial, por meio de abordagens pedagógicas inovadoras, mediadas pelas Tecnologias de Infor- mação e Comunicação ( ALM EIDA, 2012). CONSIDERAÇÕES FINAIS Conhecer o desenvolvimento histórico da EaD permitiu-nos perceber que essa modalidade educacional não é tão recente quanto se imagina. A expansão da Educação a Distância, além de estar estritamente associada ao desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação, apropria, toma para si, faz uso das aborda- gens pedagógicas hegemônicas em cada período histórico. A primeira fase da Educação a Distância, que no Brasil se iniciou no século XX, foi marcada pelos cursos por correspondência. Os materiais impressos, distribuídos via correios, deram a tônica das tecnologias usadas nesse primeiro ciclo. O ensino pautava-se em uma abordagem pedagógica tradicional, segundo o modelo “de um para muitos”. O professor era centro, e o aluno estudava de forma isolada e autônoma. A aprendizagem se dava pela transmissão. A segunda geração da Educação a Distância foi marcada pelo surgimento de novas mídias em meados do século XX. O material didático deixou de ser obrigatoriamente impresso e acrescentou-se a ele outros recursos, como fita cassete, rádio e TV. A concepção comportamentalista influenciou esse segundo ciclo da EaD. O 8 ABED (2017, p. 88). 9 ABED (2017, p. 135). A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais 15Faculdade Educacional da Lapa – FAEL Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 modelo de ensino continuou “de um para muitos” e aperfeiçoou-se, entretanto, a transmissão dos materiais didáticos, com o aluno passando a ser o centro. A Educação a Distância on-line, que surgiu no final do século XX, representa a terceira onda da EaD no Brasil. Nessa fase, houve a integração das tecnologias no computador, que, conectado à internet, permitiu a criação de Ambientes Virtuais de Aprendizagem. O modelo de aprendizagem passou a ser o colaborativo, por meio da interação entre todos os atores sociais envolvidos no processo, mediados pelas tecnologias. A concepção pedagógica que influenciou a terceira onda da EaD foi a cognitivista. Assim, no fim desta análise, estamos aptos a concluir que a Educação a Distância no Brasil, além de estar experimentando um crescimento numérico, concomitantemente, passa por transformações em relação às res- ponsividades dos AVAs e ao aperfeiçoamento na apresentação dos conteúdos. Preocupa-se, também, em utilizar novas abordagens pedagógicas que respondam a contento às necessidades dos educandos do século XX. Disso resulta a apresentação da EaD como alternativa de aprendizagem que não se opõe à escola presencial, mas, sim, mostra-se como uma possibilidade de os indivíduos aprenderem e continuarem os estudos para além dela e, em última análise, ajuda a democratizar o acesso ao ensino no Brasil. Por sua vez, o crescimento numérico da EaD alerta para o desafio de se buscar a qualidade para essa modali- dade educacional que, conforme vimos, não virá pela espontaneidade de seu uso, mas pela vigilância contínua de alunos e professores ao extraírem todo o seu potencial, pois serão essas experiências bem-sucedidas que ajudarão a consolidar essa modalidade de educação. REFERÊNCIAS ABED. Associação Brasileira de Educação a Distância. Censo EAD.BR: relatório analítico da aprendizagem a distânciano Brasil 2016. Curitiba: InterSaberes, 2017. ALM EIDA, F. J. de. Sociedade, Educação e Tecnologia: o papel da EaD. In: Documentos para consulta do curso de especialização em Educação a Distância. Módulo I: Educação e Educação a Distância. SENAC, 2012. BRA SIL. Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017. Regulamenta o Art. 80 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Distrito Federal, 26 de maio de 2017. Seção 1. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/ D9057.htm. Acesso em: 4 set. 2019. FOG AÇA, J. Tendências pedagógicas brasileiras. Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/ trabalho-docente/tendencias-pedagogicas-brasileiras.htm. Acesso em: 4 set. 2019 FOR MIGA, M. Panorama Nacional e Internacional de Educação Aberta e Distância. In: Documentos para consulta do curso de especialização em Educação a Distância. Módulo I: Educação e Educação a Distância. SENAC, 2012. FRA NCO, S. R. K. Aprendizagem na Educação a Distância. Caminhos do Brasil. Revista Novas Tecnologias na Educação, 2006. v. 4. n. 2. p. 1-10. FRE IRE, P. Pedagogia do oprimido. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. GUA REZI, R. de C. M.; MATOS, M. M. Educação a distância sem segredos. Curitiba: Ibpex, 2009. MAIA, C.; MAT TAR, J. ABC da EaD: a Educação a Distância hoje. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. MAT TAR, J. Guia de Educação a Distância. São Paulo: Cengage Learing: Portal Educação, 2011. SAN TOS, R. V. dos. Abordagens do processo de ensino aprendizagem. Revista Integração, 2005. n. 40. p. 19-31. IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 3 n. 1 Revista Vivências Educacionais Mediação cultural, educação ativa, cotidiano escolar e ponderações sobre a língua materna e segunda língua10 Cultural mediation, active education, school daily life andents on native and second language MAT TEU, Elza Terezinha De11 MATOS, Mara Eli de12 RESUMO Este artigo propõe uma reflexão qualitativa e explanatória sobre o macrotema “Cultura e Sociedade”, abordado de forma micro em um estudo sobre a mediação cultural em processos de educação ativa. O tema percorrerá os conceitos de mediação cultural e educação ativa com resultado no cotidiano escolar, discutindo as contribuições científicas que corroboram com esse processo, cuja finalidade persegue a obtenção de sentido, geração de pro- cessos de humanização e inclusão, na perspectiva de colaborar com a discussão e o fazer das práticas educativas que buscam uma formação cidadã, destacando o ensino da língua materna e o ensino da segunda língua como fatores estratégicos nesse processo. Mediação cultural, aqui amparada pelo Artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente ( ECA, 1990), trata da questão da cultura como direito da criança e do adolescente. Cultura aqui proposta como significado abstrato, conceituação antro sociológica e concreta, como vista pelos mercados, em termos de produção e recepção de informação e legado. Por fim, mostra-se que as estratégias de construção do conhecimento cooperado geram sentido e diferencial positivo no dia a dia da escola e na formação do indi- víduo consciente. Palavras-chave: Mediação cultural. Educação ativa. Língua materna. Cotidiano escolar. ABSTRACT This paper proposes a qualitative and explanatory reflection within a Culture and Society approach focusing on a study on cultural mediation in active education processes. The work will cover the concepts of cultural media- tion and active education resulting in daily school life, discussing the scientific contributions that influence this process, aiming to go deep into the meaning and the generation of humanization and inclusion processes, in order to collaborate with discussions and acts of educational practices that seek a training based on citizen aspects, highlighting the teaching of the native and the second language as strategic factors throughout the process. Cultural mediation, supported at this work by the article 54 of the Statute of the Child and Adolescent (1990), which deals with the issue of culture as child and adolescent rights. Culture proposed as an abstract meaning, a sociological and concrete conceptualization, as seen by an economic view, in terms of the produc- tion and reception of information and legacy. It is shown that the strategies for building cooperative knowledge generate meaning and positive aspects in everyday school life and in the teaching of a conscious individual. Keywords: cultural interaction, active education, native language and school daily life. 10 Artigo apresentado ao curso de Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa/Espanhol da Faculdade Educacional da Lapa ( FAEL), em 23 de abril de 2018. 11 Acadêmica do curso de Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa/Espanhol. Curitiba/PR, 2018. e.matteu@gmail.com. 12 Orientadora, doutora em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, professora da Faculdade Educacional da Lapa ( FAEL). Curitiba/PR, 2018. mara.matos@fael.edu.br A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais 17Faculdade Educacional da Lapa – FAEL Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 RESUMEN Este artículo propone una reflexión cualitativa y explicativa sobre el macrotema “Cultura y Sociedad” abordado de forma micro en un estudio sobre la mediación cultural en procesos de educación activa. El tema recorrerá los conceptos de mediación cultural y educación activa con resultado en el cotidiano escolar, discutiendo las contribuciones científicas que corroboran con ese proceso, cuya finalidad persigue la obtención de sentido, generación de procesos de humanización e inclusión, en la perspectiva de colaborar con la sociedad la discusión y el hacer de las prácticas educativas que buscan una formación ciudadana, destacando la enseñanza de la lengua materna y la enseñanza de la segunda lengua como factores estratégicos en ese proceso. Mediación cultural, aquí amparada por el artículo 54 del Estatuto del Niño y del Adolescente ( ECA, 1990) que trata de la cuestión de la cultura como derecho del niño y del adolescente. La cultura aquí propuesta como significado abstracto, concep- tualización antro sociológica y concreta, como vista por los mercados, en términos de producción y recepción de información y legado. Finalmente se muestra que las estrategias de construcción del conocimiento cooperado generan sentido y diferencial positivo en el día a día de la escuela y en la formación del individuo consciente. Palabras clave: Mediación cultural. Educación activa. Cotidiano escolar. Lengua materna. INTRODUÇÃO Quando a mediação cultural tem um papel relevante nos processos de educação ativa e qual a sua aplicabi- lidade no cotidiano escolar são os problemas estudados neste artigo. Novas tendências discutem e experimentam pedagogias que incorporam uma maior abrangência do ser humano em seu contexto de pluralidade e de individualidade. Esse direcionamento é resultante da consta- tação de que o ensino tradicional tem como premissa as disciplinas, e tudo que se fazia em termos de ciência e conhecimento estava dentro de uma lógica que, por consenso, séculos atrás, decidiu não considerar o abstrato/ espiritualidade/alma, a lógica aristotélica. Esta não está em conformidade com as descobertas científicas da física quântica, que propõe uma lógica diferentemente dimensionada e não excludente ( PINOU, 1999). Experimenta-se, então, a construção do conhecimento, de forma transdisciplinar, ou seja, considerando os três pilares da metodologia transdisciplinar, que são: complexidade, lógica do terceiro e níveis de realidade ( NIC OLE SCU, 1999). Diferente de pluridisciplinaridade, que se entende como o estudo de um objeto de uma única disciplina por meio de várias disciplinas simultaneamente, e da interdisciplinaridade, que dizrespeito à transferência de métodos de uma disciplina para outra, ambas têm como finalidade uma estrutura disci- plinar. A transdisciplinaridade ultrapassa as disciplinas, assim como a física quântica considera o vazio, ela busca pontes entre as disciplinas, propondo uma outra lógica, diferente, ainda que não excluindo a lógica clássica ( NIC OLE SCU, 1999). O desafio de se estruturar os processos educacionais diante desses novos conhecimentos surge como forma de garantir a competência e a sobrevivência da espécie humana, em um processo de adaptação a estes novos tempos de transformação e aceleração, de uma complexidade não somente tecnológica, mas, também, no que diz respeito a convivência, valores e construção de éticas, a fim de se lidar com os problemas do humano, da socie- dade e da conservação do planeta ( MORIN, 2005; DEL ORS, 1998; NIC OLE SCU, 1999; PINOU, 1999). Nesse cenário, fala-se de educação ativa, uma forma de buscar conhecimento por meio de competên- cias como convivência, confiança, criatividade, autocrítica, autoaprendizado, entre outras. Nela, o conceito de mediação cultural se faz presente não somente como fundamento teórico, estratégia, metodologia, mas, especial- mente, como uma nova atitude, que pode, em um primeiro momento, gerar desconforto, como toda mudança, mas que vem apresentando eficácia e eficiência nos processos educacionais ( VIL LAS BOAS, 2016; JUN CKES, 2013; ALM EIDA; GRI PPA, 2008). Propõe-se, aqui, uma reflexão qualitativa e explanatória sobre o tema “Cultura e Sociedade” no contexto educacional, abordando três focos possíveis para discorrer o assunto. O primeiro trata da metodologia transdis- ciplinar apresentada como novos conhecimentos em processos pedagógicos, incluindo a mediação cultural e a A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais Faculdade Educacional da Lapa – FAEL 18 Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 educação ativa. O segundo concerne à inovação por meio de percursos trilhados dentro da aprendizagem ativa. O terceiro e último aborda sentido ao cotidiano escolar ao se mediar processos de aprendizagem, ponderando o papel da língua materna e da segunda língua como ferramentas estratégicas nos processos de comunicação que resultam em sentido ao ensino dia a dia. Dentro dessa proposta, trabalham-se conceitos combinados de diversas disciplinas, a fim de possibilitar uma visão abrangente do tema, deixando para cada leitura individual a própria singularidade dos temas pro- postos, naquilo que se pode chamar de abstração reflexiva, conforme explicada por Piaget (1896-1980), como a forma de pensar sobre o agir por meio de informações retiradas a partir de análise da ação sobre o objeto. Em tal análise, o sujeito extrai as propriedades de sua ação sobre o objeto (e não o objeto em si), o que resulta em organização mental ( PINOU, 1999). Assim, os novos conhecimentos focam-se nas metodologias transdisciplinares, conforme Nicolescu (1999), Pinou (1999), Morin (2005). Quando se foca na mediação, estabelecem-se alguns conceitos do surgimento do termo, especialmente em seus estudos locados na comunicação e em seu uso na América Latina, estudado por Signates (1998), tendo como referência Williams, Martín-Barbero e Orozco Gómez, para desembocarmos na mediação cultural, conforme estudos de Quintas, Almeida e Grippa (2008) e Junckes (2013). Explora-se a profundidade do que se compreende enquanto mediação cultural, entendendo cultura como um termo que oferece conceitos diversos de acordo com a disciplina em que é estudada. Neste artigo, ela reporta-se a um sig- nificado abstrato em uma visão antrosociológica e concreta, como vista pelos mercados em termos de produção e recepção de informação e cultura. Ao estudar-se os processos de educação ativa, reflete-se sobre inovação e as prerrogativas metodológicas apuradas por estudiosos como Moran (2014), Masseto (2011) e Matasoglio e Soster (2016), em ações realizadas dentro dessas perspectivas usando diferentes estratégias. Esses estudos apontam e comparam a prática transdis- ciplinar, muitas vezes utilizada por meio da interdisciplinaridade, combinada com aprendizagens ativas como forma de superar os metódos tradicionais. Por fim, ao refletir-se sobre a importância e necessidade da sociali- zação dentro dos processos educacionais que abordam a humanização a partir da inclusão, destacou-se a parti- cipação estratégica das línguas maternas e secundárias como fator de contribuição junto aos procedimentos da aprendizagem ativa seja enquanto prática de alteridade seja como ferramenta de base comunicacional ( BRITO, ARA UJO, 2013; SOUSA, 2012). Utilizou-se neste trabalho, portanto, a metodologia de revisão narrativa qualitativa, buscando orientação e direcionamentos práticos para o estudo e utilização de mediação cultural como processo de educação ativa no cotidiano escolar, produzindo um relato, como colocado por Gil (2004), autor que busca compreender a forma utilizada por outros autores, e, por conseguinte, descrevendo-os, resultando em pesquisa qualitativa exploratória. NOVOS CONHECIMENTOS EM PROCESSOS PEDAGÓGICOS Aprender a complexidade do novo é o desafio da escola de hoje na busca de diferentes métodos dentro de uma nova epistemologia, configurando liberdade de refletir e fazendo relações na busca por uma nova com- preensão, em abordagens caracterizadas como transdisciplinares ( PINOU, 1999; MAT URANA, 1999). O método transdisciplinar busca atender às exigências e necessidades contemporâneas de cada contexto social através de novos conhecimentos e aplicabilidade, que combinam postura integrada de saberes em um sentido pragmático, filosófico, sociológico, antropológico, em um discurso que supera a supremacia científica e coloca o homem comum como protagonista de seu mundo ( BER NST EIN, 1966). Conceitos esses que deram base para as metas educacionais estabelecidas pela UNE SCO. O diferencial do método transdisciplinar, portanto, é permeado por reflexões simultaneamente inovadoras e singulares em sua forma de atuar e pode ser abordado a partir de uma quantidade inúmera de autores advindos de diversas disciplinas, possibilitando incontáveis narrativas. A transdiciplinaridade reflete posição e relatividade entre sujeito e objeto, contemplando novas metodologias de análise cientifica e narrativas geradas por grupos, buscando captar diferentes perspectivas de um objeto, valorizando o experimento do sujeito e vivências signifi- cativas relevantes e formadoras de conteúdos cognitivos ( NIC OLE SCU, 1999). A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais 19Faculdade Educacional da Lapa – FAEL Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 A lógica quântica oferece uma leitura distinta da lógica clássica aristotélica, na qual a alma foi separada do corpo, a partir do Iluminismo, por não poder se explicada. Essa forma clássica de ver o mundo já não contempla a realidade da vida contemporânea, em que, sem uma metodologia que envolva a transdisciplinaridade, consi- derando suas três bases, não se produz novos conhecimentos. Assim, é através de construções flexíveis de peda- gogias educacionais que se promove novos sentidos, buscando a significação em uma perspectiva do indivíduo e do mundo inteiro ( PINOU, 1999). Assim, os processos pedagógicos que se propõem em uma educação democrática devem pensar na transcen- dência oferecida dentro das possibilidades da cognição, através de ordenações educacionais, emprestando con- ceitos de disciplinas diversas e buscando, no vazio de cada uma delas, pontes para novos saberes. É a partir desta reflexão, e do contexto de cada realidade com a qual se convive, simultaneamente, enquanto indivíduo, coletivo e ser social, que ocorre o processo de construção de sentido e cidadania ( NIC OLE SCU, 1999). A mediação culturalque se propõe como forja para o relacionamento entre cultura e sociedade é uma das ferramentas que vêm construindo resultados positivos na escola que contempla os novos conhecimentos e busca engajamento com a educação democrática. Mediação cultural Considerado como um processo de conciliação que acontece através de um intermediário, o termo “mediação” surgiu no século XIII para indicar intervenção humana entre duas partes e tem como origem a palavra latina mediatio, cuja raiz med significa “no meio”. É um termo comum em Religião, no sentido de mediar paraíso e terra, ou divino com o humano. Judicialmente, está atrelado a mediar conflitos entre duas partes ( QUI NTAS, 2014). Para as Ciências Sociais, o sentido está atado às “teorias da ação”, conforme a tra- dição sociológica de Weber (1864- 1920) e seus seguidores que está, de maneira geral, focada na análise da vida pública, mesmo quando aparentemente esteja em trato o sujeito. Habermas (1981) inspira sua teoria de ação comunicativa, considerando, então, mediação como conexões entre ações sociais e as motivações (individuais/coletivas) ( ALM EIDA E GRI PPA, 2008). Um outro sentido de mediação, definido por Davellon (2003), coloca o termo não somente como um único movimento entre dois termos equivalente, mas como uma atividade que soma uma qualidade completiva à relação, obtendo um cenário mais satisfatório, servindo não somente para a Comunicação, mas também para as Ciências da Infor- mação e Educação ( ALM EIRA E GRI PPA, 2008). A reflexão se estende quando se trata de Educação, em que mediar pressupõe não apenas a interação, que por si só não garante o processo de mediação do conhecimento, mas sim o desafio de se superar os conheci- mentos iniciais, o senso comum e elaborar o conhecimento científico. Para tal inclui-se o fator psicológico, conforme estudos de Junckes (2013) apud Rodrigues e Silveira (2017): [...] a mediação é um processo psicológico que se desenvolve a partir das interações entre sujeito e objeto, transformando a realidade concreta para o simbólico, permitindo relações sem a presença de material concreto ( ROD RIG UES E SIL VEIRA, 2017, p. 37). Para Cardoso e Toscano (2011), há intenção de ensinar na mediação pedagógica. O processo de mediação escolar constitui-se de três elementos pressupondo aprendizado. São eles: o professor, o aluno e os conhecimentos e conceitos aprendidos historicamente, resultando na apropriação da cultura da sociedade, em uma transfor- mação que nos torna humanos, tendo o professor mediado e fornecido instrumentos necessários para que o aluno, enquanto sujeito, esteja habilitado a agir, internalizar e promover continuidade cultural ( CAR DOSO E TOS CANO, 2011). Gasparin (2007, p. 115) afirma que a mediação implica, portanto, releitura, reinterpre- tação e ressignificação do conhecimento. Martins (2005) infere que o foco da mediação em termos de aprendizagem escolar vai além do conteúdo, tendo como objeto o uso do pensamento para aprender e em que a informação partilhada tem apenas a função de proposição. Segundo Vygotsky (1984), a esse processo se dá o nome de internalização, procedimento que permite ao aluno uma reconstrução interna de uma operação externa. Dito em outras palavras, seria quando o indivíduo amolda algo externo a ele, em função de sua relação social, obtendo suas próprias concepções, cons- A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais Faculdade Educacional da Lapa – FAEL 20 Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 tituindo-se, portanto, em sujeito. Esse processo de introspecção de conceitos, cuja premissa é a interação do sujeito com o objeto, acontece através de signos. Nesse sentido, Martins (2005) coloca mediar como o ato de provocar um movimento, de ampliar referências, de instigar reflexão entre propositor e receptor: Para ser mediador é preciso cultivar uma postura reflexiva e provocadora, capaz de planejar jogos esté- ticos, ativar descobertas e despertar o interesse de olhar mais além. Um olhar pesquisador sobre si, o outro, sua prática e seu contexto cultural ( MAR TINS, 2005, p. 52). Para as artes, o termo mediação aparece no campo cultural, na França, de década de 60, alcançando espe- cialmente as bibliotecas e museus na década de 80. Dentro desses ambientes de transmissão de conhecimento, aprendizado e guarda de objetos, o termo foi concebido, primeiramente, como disseminação de Arte, Litera- tura e patrimônios culturais, até chegar aos dias de hoje como termo focado na democracia cultural, caracte- rizando-se por ações práticas com intersecção de objetivos, em busca de democracia cultural e democratização ( QUI NTAS, 2014). Signates (1998), em sua pesquisa conceitual sobre mediação, refaz um percurso estudado por Orosco e Sam, descrevendo, em termos tradicionais, então, o que não seria mediação, uma vez que esta aparece muitas vezes ligadas a significados não estabelecidos a um conceito bem estruturado, refletindo que: [...] a mediação é, portanto, mutação da materialidade técnica em potencialidade socialmente comu- nicativa, processo de transformação cultural que viabiliza as modalidades de comunicação, revelando inovações tecnológicas. A mediação é, assim, definida como processo pelo qual os meios de comunicação adquirem materialidade institucional e espessura cultural, abordagem que supera os estudos sobre estru- tura econômica e conteúdo ideológico ( SIG NATES, 1998, p. 43). A importância do estudo do conceito de mediação se dá na compreensão de como os meios de comunicação se apropriam de práticas discursivas e como interferem na construção da identidade social. Em relação às leituras de recepção, Certou (1994) recomenda a análise das representações e comportamentos produzidas pelo con- sumidor cultural, especialmente nas imagens difundidas pela televisão. Leva em conta, na análise dessas repre- sentações, a relação de tempo que o sujeito passa diante do aparelho, caracterizado como comportamento, e exigindo portanto estudo em termos de entendimento daquilo que esse consumidor “fabrica” enquanto exposto a essas imagens ( CER TOU, 1994, p. 37). Assim, chega-se à discussão proposta por Oliveira e Pillotto (2010), que colocam a mediação cultural como de grande relevância enquanto ação educativa em termos de diálogo público com as imagens criadas e utilizadas, inculcando novos códigos visuais de consumo da mídia pós-moderna, na busca de compreender os reais significados das identidades globais junto à consciência da cidadania, através, também, de conhecimento em arte. Há preocupação constante da Educação em relação à forma pela qual o público recebe passivamente códigos visuais, combinada com a falta de repertório do espectador/leitor, afirmam Oliveira e Pillotto (2010), considerando as colocações de Favaretto (2007, p. 33) de que não existia até pouco tempo, tradicionalmente, uma educação visual no país, sendo que a educação sentimental e da sensibilidade passava quase exclusivamente pela Literatura. Oliveira e Pillotto (2010) alertam que o conceito de cultura, ampliado como conjunto de práticas disse- minadas que exercem grande influência na existência social, pressupõe sistematização. Denzin e Lincoln (2006, p. 316) enfatizam que essas práticas devem ser organizadas por textos, imagens, conversas, códigos de compor- tamento e estruturas narrativas, ressaltando que a “a mídia se transformou, até certo ponto, na grande media- dora e mediatizadora, e portanto, uma substituta de outras interações ( CAN CLINI, 2008 apud OLI VEIRA; PIL LOTTO, 2010, p. 234). É papel da escola refletir essas interações e elaborá-las no cotidiano escolar, cum- prindo a meta que se propõe –formar o cidadão para o mundo. O entendimento da complexa relação simbólica da mediação nos processos de interação, socialização, iden- tidade e representatividade é, portanto, um tema que exige reflexão do corpo docente e do mediador,buscando, nas metodologias de aprendizagem ativa, a percepção e o entendimento desses mecanismos, através de ações práticas e problemas reais, na perspectiva de possibilitar que o aprendiz construa reflexão, conhecimento e posi- cionamento diante dos contextos em que vive e das perspectivas de futuro, sendo essa parte tarefa da educação ativa ( OLI VEIRA; PIL LOTTO, 2008). A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais 21Faculdade Educacional da Lapa – FAEL Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 Educação ativa A educação ativa tem base, estratégia e métodos advindos de estudos e teóricos do Construtivismo, como Dewey (1998) e Heiddegger (1910), Piaget (1936), Freire (1995), Vygotsky (1978), afirma Villas Boas (2016). Algumas palavras estão ligadas à educação ativa, que considera o homo sapiens como “homo zapiens”, carac- terizando-o como uma geração multitarefas, ou gerações tipo X, Y e Z. Assim, em contraste com a educação tradicional, que infere recepção passiva do aluno, o método ativo prevê um fluxo inverso, no qual, a partir de sua compreensão histórica, o estudante, como sujeito dessa história, possa assumir uma postura ativa em seu aprendizado, tendo como ponto de partida suas experiências, saberes e opiniões, que premem por ser valorizados como base inicial para construção do conhecimento, conforme cientificamente proposto na metodologia trans- disciplinar ( VIL LAS BOAS, 2016; NIC OLESC, 1999; PINOU, 1999; MORIN, 2005). Alvos na metodologia da Escola Nova, a atividade e o interesse do aprendiz são valorizados, e não o do professor. A aprendizagem ocorre então por meio da ação na qual o estudante se torna o foco do processo de aprendizagem e ensino, promovendo um aprendizado significativo ( DEWEY, 2008). Portanto, afirma Villas Boas (2016), todo método ou estratégia em que o estudante deixa de ser plateia e torna-se o ator principal em seu processo de aprendizado, através de engajamento na aquisição do conhecimento, é ativo, e alerta: “estudante atuando ativamente não significa estudante em movimento, mas sim estudante que esta cognitivamente ativo” ( VIL LAS BOAS, 2016, p. 25). A estudiosa destaca, ainda, o fato de que, na educação ativa, ao contrário da tra- dicional, não existe uma técnica, mas, sim, uma estratégia, cuja metodologia envolve aprendizagem significativa, atuação ativa e crítica do estudante, junto à mediação do professor ( VIL LAS BOAS, 2016). Já Moura (2014) elenca seis fatores para se classificar a metodologia ativa de educação, esclarecendo que para todos eles existem justificativas filosóficas e pedagógicas. São estas as características da educação ativa, estudadas por Moura: (I) demanda e estímulo à participação do aluno, envolvendo-o nas dimensões humanas, sensório-motor, afetivo-emocional e mental-cognitiva; (II) o respeito e estímulo à escolha do aluno diante dos estudos e atividades a serem desenvolvidas, considerando a possibilidade de múltiplos interesses e objetivos; ( III) valorização e apoio na contextualização do conhecimento, com sentido de realidade, e utilidade nos estudos e atividades a se realizar; (IV) estímulo à atividade em grupo na perspectiva formativa de trabalho colaborativo de equipe; (V) utilização propícia de múltiplos recursos culturais, científicos, tecnológicos que podem vir por parte do aluno em função da realidade que se vive; e (VI) estabelecimento e viabilização da com- petência da socialização, do conhecimento mediante os resultados obtidos através das atividades desenvolvidas ( MOURA, 2014, p. 2). Alencar (2011) aponta para a influência de diferentes correntes filosóficas, como: Naturalismo Rousseau- niano, Empirismo e Pragmatismo, para se referir à importância do preparo e estudo das equipes pedagógicas e suas escolas, quando determinadas a desenvolverem uma proposta de escola ativa. Portanto, além da necessi- dade da reflexão sobre se trilhar metodologias ativas, está também o entendimento do porquê ela se apresenta como ação que define resultados bem-sucedidos. Villas Boas (2016) apresenta alguns deles: a redução das taxas de evasão e retenção, a promoção da emoção na sala de aula, permitindo estimular a autonomia do estudante, a formação de alunos mais criativos e ainda, conforme Zambala (1998), corroborando na aquisição de con- teúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, o que, segundo ressaltam Anderson e Krathwohl (2001), cria ambientes de aprendizagem onde estudantes são obrigados a utilizar níveis superiores de pensamento (lembrar, entender, aplicar, analisar, sintetizar e criar), engajando o aprendiz ativamente em seus processos de aprendi- zagem ( VIL LAS BOAS, 2016, p. 32). Em relação à necessidade de um professor reflexivo, Dewey (2008) explica que este tem uma função ins- trumental, que seria, grosso modo, a de oferecer como ato desta reflexão um resultado em ação, uma atividade criativa e inovadora, um experimento/vivência, exigindo para tal abertura intelectual, a fim de que possa pro- porcionar uma experiência significativa, inclusive com a experiência do erro ( DEWEY, 1979, p. 165). Em termos de aluno, não bastaria somente a experiência, assevera Dewey (1978), mas a capacidade de refazê-la de forma consciente, num aprendizado por associação, uma vez que seja integrada na vida, e não apenas como uma ação isolada. A importância do capital intelectual para o desenvolvimento das organizações empresariais Faculdade Educacional da Lapa – FAEL 22 Re vi st a Vi vê nc ia s Ed uc ac io na is | IS SN : 2 52 6- 05 29 | v. 4 n. 1 Em relação à produção de autonomia do aprendiz, a contribuição do professor está centrada na capaci- dade de oferecer recursos motivacionais internos, que provoquem interesse pessoal, combinada com explicações racionais quando necessárias para o entendimento de conteúdo ou efetivação de uma função determinada, uti- lizando linguagem informacional e não reguladora, bem como ter paciência com o ritmo de aprendizagem dos alunos, reconhecendo e aceitando suas expressões de sentimentos negativos ( REEVE apud BER BERL, 2011, p. 28). Portanto, reflexões sobre mediação cultural devem estar presentes na tomada de decisão dos professores ao se engajarem com as práticas democráticas de educação, buscando, em seu dia a dia, as ferramentas disponíveis para, associado ao todo do contexto cotidiano e das prerrogativas do aluno, proporcionar uma aprendizagem ativa com foco em inovação. PERCURSOS TRILHANDO INOVAÇÃO Ao se trilhar percursos de inovação, é preciso afastar ideias como as de que não se cumprirá ementa, o con- trole da classe será perdido, os alunos vão reclamar que não estão sendo ensinados, aceitando que alguns apren- dizes não irão participar num primeiro momento ( VIL LAS BOAS, 2016, p. 32). Um outro direcionamento em relação ao professor nessa metodologia é a atitude de humildade, que o filósofo Flavio Gikovate (2015, s.p. ) explica: “[...] humildade corresponde a um estado de alma em que predomina o respeito pelas outras pessoas, pelo modo como vivem, pensam e se comportam”. Proporcionar novas formas de contato e relacionamento sugere a importância de refletir no ato de inovar. Inovação pode ser vista, de acordo com o DTI Inovation Report de 2003, “como um processo que tem a capa- cidade de melhorar ou manter a competitividade e impacto de um negócio”, que, nesse contexto, vai além do sentido mercantil, não se fundamentando apenas na venda, compra ou permuta de produtos, mas, de forma ampla, em termos de formação de sujeito e profissional pleno e apto a impactar positivamente o meio em que vive ( MAT ASO GLIO; SOS TER, 2017, p. 17). Aplicar inovação em educação exige profunda reflexão sobre como ela se dá enquanto campo de conheci- mento em sua investigação e justifica-se pela necessidade de criar qualificação junto ao mercado de trabalho, no qual o capital intelectual, o dinamismo, a capacidade
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