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Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Endocrinologia (P8) 1 A CAD é uma complicação grave que está presente em 25% dos casos no momento do diagnóstico do DM1 e é a causa mais comum de morte entre crianças e adolescentes com DM1, além de ser responsável por metade das mortes nesses pacientes com < de 24 anos. A CAD acontece geralmente em pacientes diabéticos tipo 1, uma vez que, para que ocorra a cetose, decorrente da produção de corpos cetônicos pelo fígado, é necessário haver insulinopenia grave, pois a insulina sérica inibe a produção hepática de corpos cetônicos. Portanto, quase sempre, quando há um paciente internado no pronto-socorro por cetoacidose, este deve ser insulinopênico e, na grande maioria das vezes, diabético tipo 1. No entanto, o diabetes tipo 2, caso esteja extremamente descompensado, também pode levar a um quadro temporário de insulinopenia, em razão da ação tóxica que os níveis séricos muito altos de glicose podem exercer sobre o pâncreas, impedindo a produção pancreática de insulina, efeito denominado glicotoxicidade pancreática. Assim, os pacientes diabéticos tipo 2 muito descompensados, em decorrência de glicotoxicidade pancreática, podem evoluir para um quadro temporário de insulinopenia e, com isso, haver produção hepática de corpos cetônicos e cetoacidose diabética. Um estudo recente demonstrou que os valores elevados de hemoglobina glicada (HbA1c) são preditores de CAD em crianças e adolescentes com < 18 anos. A CAD moderada e grave deve ser tratada em UTI e, fundamentalmente, por profissionais habilitados para esse tipo de complicação. Antes do advento da insulina, a taxa de mortalidade da CAD oscilava em torno de 90%. Atualmente, em centros de excelência no tratamento de CAD, a mortalidade geral é inferior a 1%, mas podendo ser > 5% em indivíduos mais velhos e com doenças graves, e, quando evolui com edema cerebral, pode atingir 30% ou mais. As principais causas de morte por CAD são edema cerebral, hipopotassemia, hipofosfatemia, hipoglicemia, complicações intracerebrais, trombose venosa periférica, mucormicose, rabdomiólise e pancreatite aguda. O prognóstico depende das condições de base do paciente, com piora sensível em idosos, gestantes e aqueles com doenças crônicas. Os estados infecciosos são a etiologia mais comum da CAD. Dentre as infecções, as mais frequentes são as do trato respiratório superior, as pneumonias e as infecções de vias urinárias. Além disso, na prática diária, é necessário valorizar outros fatores importantes, como acidente vascular cerebral (AVC), ingestão excessiva de álcool, pancreatite aguda, infarto agudo do miocárdio (IAM), traumas e uso de glicocorticoides. De acordo com alguns estudos, drogas ilícitas poderiam também predispor a CAD ou EHH. Entre elas se incluem maconha, cocaína, ecstasy e heroína. Distúrbios psiquiátricos associados a irregularidades na condução da dieta ou no uso diário de insulina também podem contribuir para a CAD. A utilização crescente na prática psiquiátrica de compostos denominados antipsicóticos atípicos para o tratamento do transtorno de humor bipolar e da esquizofrenia (clozapina, olanzapina, risperidona e quetiapina, por exemplo) é capaz de aumentar o risco de distúrbios metabólicos, como ganho de peso, dislipidemia, DM, CAD e pancreatite aguda, sendo observados riscos maiores com a clozapina e a olanzapina e menores com a risperidona e a quetiapina. Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Endocrinologia (P8) 2 Atualmente, com o uso mais frequente de bombas de infusão contínua subcutânea de insulina ultrarrápida, tem-se observado aumento na incidência de CAD. Tal fato pode ocorrer em razão da obstrução parcial ou total do cateter, provocando redução aguda de infusão de insulina. Desidratação devido a oferta inadequada de água, uremia, diálise, diarreia, sauna etc. Ingestão excessiva de refrigerantes ou líquidos contendo açúcar. Por interferirem na ação e/ou na secreção de insulina, diversos fármacos (p. ex., tiazídicos, glicocorticoides, fenitoína, agentes simpaticomiméticos, pentamidina etc.) podem desencadear CAD. Na CAD ocorre é a redução na concentração efetiva de insulina circulante associada à liberação excessiva de hormônios contrarreguladores, entre os quais o glucagon, as catecolaminas, o cortisol e o hormônio de crescimento. A deficiência de insulina pode ser absoluta, em pacientes com DM1, ou relativa, como observado em pacientes com DM2 na presença de estresse ou doenças intercorrentes. Essas alterações hormonais desencadeiam o aumento da produção hepática e renal de glicose e a redução de sua captação pelos tecidos periféricos sensíveis à insulina, resultando em hiperglicemia e hiperosmolalidade no espaço extracelular. A CAD caracteriza-se pela tríade bioquímica de hiperglicemia, cetonemia e acidose metabólica com hiato iônico (anion gap) alto. Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Endocrinologia (P8) 3 Hiperglicemia: A hiperglicemia na CAD é o resultado de três eventos: (1) aumento da gliconeogênese; (2) glicogenólise aumentada; e (3) menor utilização da glicose por fígado, músculos e adipócitos. A diminuição da insulina e a elevação dos níveis de cortisol também resultam em diminuição da síntese de proteínas e proteólise elevada com aumento da produção de aminoácidos (alanina e glutamina), os quais, juntamente com os ácidos graxos livres (AGL) liberados dos adipócitos, servem de substrato para a gliconeogênese. O aumento dos níveis de glucagon, catecolaminas e cortisol, associado à insulinopenia, estimula as enzimas gliconeogênicas, especialmente a fosfoenolpiruvato carboxiquinase (PEPCK). O comprometimento da função renal pela desidratação contribui para agravar a hiperglicemia. Cetonemia: A combinação de insulinopenia e excesso de catecolaminas propicia aumento do catabolismo do tecido adiposo (lipólise) com produção excessiva de AGL e glicerol, os quais, no fígado, serão oxidados em corpos cetônicos. A diminuição da metabolização periférica destes últimos também contribui para aumentar a hipercetonemia e a acidose metabólica. A deficiência de insulina também possibilita o desdobramento do tecido adiposo, com aumento da disponibilidade da carnitina e aumento da atividade do sistema carnitina aciltrans-ferase (CAT). O excesso de glucagon, por sua vez, potencializa a cetogênese hepática e aumenta os níveis de CAT. Com o agravamento do quadro, acumulam-se os corpos cetônicos, e a acidose metabólica se instala. O aumento da PaCO2 estimula os centros respiratórios, provocando uma respiração rápida e profunda – respiração de Kussmaul. Acidose metabólica: A CAD tipicamente se caracteriza pela acidose metabólica com anion gap elevado, a qual resulta do acúmulo de cetoácidos. Os inibidores do cotransportador sódio-glicose 2(SGLT2), uma nova classe de antidiabéticos orais, cuja função é diminuir a glicemia plasmática ao inibir a reabsorção tubular renal de glicose, podem estar associados a CAD em pacientes com DM1 e DM2. Uma apresentação atípica de CAD que pode atrasar o diagnóstico e o início do seu tratamento, sendo descrita com o uso de inibidores de SGLT2, é a denominada CAD “euglicêmica”, em razão de elevações discretas e moderadas na glicose sanguínea relatadas em alguns casos. Os potenciais mecanismos de CAD com o uso de inibidores de SGLT2 foram relatados, incluindo o aumento do glucagon, a redução da dose diária de insulina requerida, a diminuição da supressão da lipólise, a cetogênese e a diminuição da excreção urinária de cetonas. O quadro clínico da CAD representa uma evolução lenta e progressiva dos sinais e sintomas de DM descompensado. Entre eles, citam-se poliúria, polidipsia, perda de peso, náuseas, vômitos, sonolência, torpor e, finalmente, coma. Ao exame físico, napresença de acidose, podem-se observar hiperpneia e, em situações mais graves, respiração de Kussmaul. Desidratação com pele seca e fria, língua seca, hipotonia dos globos oculares, extremidades frias, agitação, face hiperemiada, hipotonia muscular, pulso rápido e pressão arterial variando do normal até o choque hipovolêmico podem ocorrer. A intensificação da desidratação dificulta e torna doloroso o deslizamento dos folhetos da pleura e do peritônio, sendo possível observar defesa muscular abdominal localizada ou generalizada, com quadro de dor abdominal presente em até 51% dos casos. Em alguns casos, são verificadas dilatação, atonia e estase gástrica, o que agrava o quadro de vômitos. O atraso no início do tratamento da acidose e da desidratação pode evoluir com choque hipovolêmico e morte. Achados laboratoriais: A avaliação laboratorial inicial de pacientes com CAD deve incluir a determinação de glicose plasmática, fósforo, ureia, creatinina, cetonemia, eletrólitos, inclusive com o cálculo de ânion-gap, análise urinária, cetonúria, gasometria, hemograma e eletrocardiograma. Quando necessário, solicitam-se raios X de tórax e culturas de sangue e urina. CAD euglicêmica é mais vista em gestantes com diabetes, pacientes com diminuição da gliconeogênese durante abuso do álcool e, mais recentemente, em uso de inibidores de SGLT2. A última recomendação da American Diabetes Association (ADA), datada de 2009, adota, como critério diagnóstico da CAD, glicemia sanguínea ≥ 250 mg/dL,1 porém alguns pacientes apresentam aumentos menores nos valores da Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Endocrinologia (P8) 4 concentração da glicemia sanguínea após a retenção ou diminuição da dose da insulina na presença de doenças que diminuem a ingesta alimentar. A CAD é definida como grave quando evolui com pH de sangue venoso < 7, moderada entre 7 e 7,24 e leve entre 7,25 e 7,3. Hemograma: Na CAD, costuma-se encontrar leucocitose com desvio à esquerda, mesmo quando não há infecção. Habitualmente, a contagem de leucócitos varia de 10.000 a 15.000/mm3. Esse achado parece ser causado por aumento dos níveis circulantes de catecolaminas, cortisol e citocinas pró-inflamatórias, como, por exemplo, o TNF-α. Contudo, valores > 25.000 leucócitos/mm3 sugerem infecção associada possivelmente desencadeando o quadro. Na série vermelha, normalmente se espera aumento do hematócrito em decorrência da desidratação. Anemia deve alertar o médico para doenças associadas, principalmente nefropatia e hipotireoidismo. Glicemia: Na CAD, quase sempre está > 250 mg/dℓ, enquanto no EHH geralmente os valores excedem 600 mg/dℓ. Cerca de 10% das pessoas com CAD se apresentam com a chamada “CAD euglicêmica”, ou seja, glicemia ≤ 250 mg/dℓ.10 Esses casos podem ocorrer em gestantes, pacientes com CAD tratados com insulina e sem receber líquidos com carboidratos, e em tratamento tardio ou inadequado com vômitos prolongados, sem ingestão alimentar. Sódio: Os níveis de sódio geralmente estão normais ou baixos. Níveis altos sugerem grau maior de desidratação. Uma glicemia muito elevada pode falsear o resultado da natremia para baixo. Nesses casos, a fórmula mais utilizada para estimar o sódio sérico corrigido é a proposta por Katz Se o nível do sódio corrigido ainda estiver muito baixo, deve-se suspeitar da concomitância de hipertrigliceridemia acentuada, que é frequente na CAD e no EHH. Pseudonormoglicemia e pseudo-hiponatremia: podem ser observadas em pacientes com CAD e quilomicronemia grave. Potássio: Os níveis totais do potássio sérico (sK+) encontram-se baixos; porém, durante a fase inicial da CAD, eles podem se elevar. Isso ocorre porque a deficiência de insulina, a hipertonicidade e a acidemia favorecem a saída do íon das células. O tratamento habitualmente faz baixar o sK+, tanto pela hidratação (hemodiluição) quanto pela entrada de potássio nas células (ação direta da insulina e diminuição da acidose). Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Endocrinologia (P8) 5 Cloro: Embora o cloro corporal também esteja baixo, a cloremia tende a elevar-se, mas esse fato não tem repercussões clínicas. A cloremia é fundamental para o cálculo do anion gap. Anion gap: O anion gap (AG) ou hiato aniônico tipicamente está aumentado na CAD (> 12 nos casos moderados ou graves). Ele é calculado subtraindo-se da concentração de sódio a soma entre o cloro e o bicarbonato. O valor normal é de 12 ± 2 mEq/ℓ. Quadro 70.5 Fórmulas úteis para auxiliar o tratamento da cetoacidose diabética (CAD) e do estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH). Anion gap (AG) AG = Na – (Cl + HCO3) (VR: 12 ± 2) Osmolalidade plasmática (POsm) POsm = 2 (Na) + glicemia/18 + Ureia/2,8 (VR: 290 ± 5) Osmolalidade plasmática efetiva (PEOsm) PEOsm = 2 (Na) + glicemia/18 (VR: 280 ± 5) Reposição de bicarbonato (HCO3) de sódio Dose (mEq) = (15 – HCO3 encontrado) × 0,3 × peso Gasometria: Evidências recentes mostram que a diferença entre o sangue arterial e o venoso é de 1,88 mEq/ℓ na dosagem do bicarbonato e entre 0,02 e 0,15 para a medida do pH. Como essas diferenças são previsíveis, recomenda-se a coleta venosa, exceto em casos muito graves, nos quais se faz necessário o acesso arterial para medição direta da oxigenação e da pressão arterial. Ureia e creatinina: A creatinina reflete melhor a função renal do que a ureia, embora ambas sejam elevadas por conta da desidratação. A ureia é utilizada no cálculo da POsm total. Resultados falsamente elevados da creatinina podem ser observados por interferência dos corpos cetônicos se ela for dosada por métodos colorimétricos. Osmolalidade plasmática: Na CAD, a POsm frequentemente está aumentada, enquanto no EHH ela sempre excede 320 mOsm/kg (VR = 290 ± 5). Valores da POsm ≥ 320 mOsm/kg geralmente se fazem acompanhar de redução acentuada do nível de consciência. Corpos cetônicos: A maioria dos testes laboratoriais para corpos cetônicos usa o método nitroprussiato, que fornece uma estimativa semiquantitativa dos níveis de acetoacetato e acetona no sangue e na urina; porém, ele não reconhece o β-hidroxibutirato (β-OHB), principal produto metabólico na CAD. Uma vez que β-OHB é convertido em acetoacetato durante o tratamento, o teste da cetona pode apresentar valores elevados, erroneamente sugerindo que a cetonemia esteja se agravando. Por isso, o acompanhamento com medição de cetonas durante o tratamento pelo método nitroprussiato não é recomendado. Glicosímetros mais recentes têm a capacidade de medir o β-OHB com qualidade aceitável, o que supera esse problema. Além disso, fármacos que têm grupos sulfidrila (sobretudo, captopril) podem interagir com o reagente na reação do nitroprussiato, conferindo um resultado falso-positivo. Embora cetogênese em geral não seja uma característica do EHH, cetonemia leve pode eventualmente ser encontrada. Enzimas pancreáticas e hepáticas: Hiperamilasemia ocorre em 21 a 79% dos pacientes com CAD. Nesses casos, a amilase possivelmente se origina das parótidas. A dosagem da lipase pode ser útil no diagnóstico diferencial com pancreatite; contudo, pseudo-hiperlipasemia já foi também relatada em casos de CAD na ausência de pancreatite. Elevação transitória de aminotransferases (transaminases) também é comum na CAD. Urinálise: É essencial para verificar se há glicosúria e cetonúria. Eventualmente, pode diagnosticar infecção do trato urinário como fator desencadeante do quadro. Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Endocrinologia (P8) 6 Culturas: Nos quadros graves em que se suspeita de quadro infeccioso subjacente, é oportuno coletar material para as culturas disponíveis no serviço, antes de iniciar o tratamento antimicrobiano. No caso do foco de infecção suspeitada ou confirmada, coletar o material específico. Exames de imagem: A radiografia de tórax deve ser de rotina, uma vez que infecçõesdo trato respiratório são frequentemente os precipitantes da CAD e do EHH. A tomografia computadorizada de face não deve ser realizada rotineiramente para detectar quadros de mucormicose, uma vez que essa perigosa complicação ocorre raramente. Eletrocardiograma: deve ser solicitado para todos os portadores de DM2 ou para os pacientes com DM1 há > 10 anos. Vale lembrar que o diabético pode infartar sem sentir dores. O IAM pode ser tanto a causa quanto a consequência da CAD ou do EHH. O ECG também é útil para acompanhar as alterações séricas do potássio e sua reposição. A cetose de jejum, a cetoacidose alcoólica, a acidose láctica pelo uso inadequado de fármacos como salicilatos e metformina e outras causas de acidose, com ânion-gap elevado, por exemplo, e insuficiência renal crônica, são facilmente diagnosticadas pela história clínica e avaliação laboratorial. As metas do tratamento das crises hiperglicêmicas agudas são: Manutenção das vias respiratórias pérvias e, em caso de vômitos, indicação de sonda nasogástrica; Correção da desidratação; Correção dos distúrbios eletrolíticos e acidobásicos; Redução da hiperglicemia e da osmolalidade; Identificação e tratamento do fator precipitante. Hidratação Realizar expansão rápida com solução fisiológica a 0,9% até correção da hipotensão e choque. Sugere-se algo em torno de 15 a 20 mℓ/kg ou 1 ℓ de solução IV na primeira hora, caso o paciente não tenha contraindicação a receber todo esse volume. Após a estabilização clínica, inicia-se a fase de manutenção. Deve-se infundir 10 a 14 mℓ/kg/h ou 250 a 500 mℓ/h de solução salina. A escolha da concentração depende do nível sérico do sódio. Se for maior que 135 mEq/ℓ, iniciar a reposição com NaCl 0,45%; se for menor que 135 mEq/ℓ, repor com soro fisiológico (SF) a 0,9%. Quando a glicemia estiver abaixo de 200 mg/dℓ na CAD ou menor que 300 mg/dℓ no EHH, deve-se continuar a hidratação, porém associando glicose para diminuir a incidência de hipoglicemia [colocar 22 mℓ de NaCl 20% em 1 ℓ de soro glicosado (SG) 5%, de modo a fazer uma solução com 5% de glicose e 0,45% de NaCl], e manter 150 a 250 mℓ/h. Monitorar pressão arterial, frequência cardíaca, diurese e perfusão periférica. Cuidado com congestão pulmonar e edema cerebral pela hiper-hidratação. Reposição de potássio Colher potássio (K) sérico e fazer eletrocardiograma (ECG) logo à entrada, para avaliar sinais de hiperpotassemia. Aguardar o resultado do K antes de iniciar insulinização: Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Endocrinologia (P8) 7 - Se K < 3,3 mEq/ℓ: não iniciar insulina, devido ao risco de arritmias que podem acontecer pela hipopotassemia, que será exacerbada após a administração da insulina. Repor K inicialmente (25 mEq/h), depois de se certificar que a micção do paciente é normal. - Se K 3,3 a 5,2 mEq/ℓ: administrar insulina e realizar reposição de K, se o paciente estiver urinando. Para cada litro de volume infundido, realizar a reposição de 25 mEq de K. - Se K > 5,2 mEq/ℓ: administrar insulina e não realizar reposição de K inicialmente. Continuar monitorando o nível sérico de K a cada 2 a 4 h e iniciar a reposição posteriormente, quando o nível sérico de K reduzir-se abaixo desse valor. O potássio não deve ser reposto em pacientes anúricos, devido ao risco de hiperpotassemia, caso o paciente esteja em insuficiência renal grave. Monitorar o potássio sérico a cada 2 a 4 h, tentando manter seu nível sérico entre 4 a 5 mEq/ℓ. Apesar de a dosagem de potássio na gasometria venosa ser uma maneira mais rápida de obtenção de seu resultado, estudos mostraram que o nível de potássio medido na dosagem plasmática é significativamente diferente daquele dosado na gasometria, portanto, esta última não deve substituir a dosagem desse eletrólito no plasma. Insulinização Prescrever insulina apenas se o K sérico for > 3,3 mEq/ℓ. Se estiver abaixo desse valor, realizar a reposição de 25 mEq de potássio em 1 h, diluído em SF 0,9% 1.000 mℓ, e dosar novamente. Dose de ataque de insulina 0,1 U/kg intravenosa (IV) para adultos. Crianças não devem receber essa dose de ataque. Estudos divergem quanto à possibilidade de limitação da dose de bolus inicial a um máximo de 15 UI e a não realização de bolus se a glicemia sérica inicial for inferior a 200 mg/dℓ, nos casos de CAD. Dose de manutenção em bomba de infusão contínua (BIC): 0,1 UI/kg/h: - Prescrição: SF 0,9% 100 mℓ 1 insulina regular 100 UI (1 UI/mℓ). Aplicação intravenosa em BIC em velocidade estabelecida a critério médico – mantém-se inicialmente velocidade equivalente a 0,1 mℓ/kg/h. Não se esquecer de descartar alguns mℓ iniciais da solução para saturar o sistema de infusão. - Para os casos leves a moderados, em que não é possível fazer uso de insulina regular em BIC – o padrão-ouro de tratamento –, deve-se administrar insulina regular em bolus de 0,4 UI/kg – metade da dose IV e metade da dose intramuscular (IM) – seguida de 0,1 UI/kg IM de 1/1 h ou de análogos ultrarrápidos por via subcutânea de 1/1 h ou 2/2 h. - Existem ainda protocolos que sugerem não fazer dose em bolus, mas apenas deixa-se o paciente em BIC de insulina regular na velocidade de 0,14 UI/kg/h. Essa velocidade maior só deve ser usada nos casos em que não foi feita dose em bolus. Realizar glicemia capilar de 1 em 1 h. A glicemia deve diminuir pelo menos 50 a 70 mg/dℓ por hora. Se a redução estiver ocorrendo em menor velocidade, pode-se realizar um bolus de 0,14 UI/kg IV e manter na velocidade de infusão anterior, ou não administrar o bolus, mas aumentar a velocidade de infusão de insulina para o dobro da velocidade anterior. Há dois tipos de protocolos diferentes para conduzir essa situação. A meta é manter a glicemia entre 150 e 200 mg/dℓ, nos quadros de CAD, e entre 200 e 300 mg/dℓ, nos quadros de EHH, até a resolução dos outros parâmetros. Ao alcançar esses valores de glicemia, associa-se SG e diminui-se a infusão de insulina para a metade da velocidade (0,05 UI/kg/h). Se houver hipoglicemia, após realizar a correção com 40 mℓ de glicose a 50%, deve-se diminuir a infusão de insulina ou aumentar a oferta de glicose, e não suspender a infusão de insulina até a resolução da CAD ou do EHH. Considera-se que houve resolução quando há: - Resolução da CAD: pH>7,3. Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Endocrinologia (P8) 8 Bicarbonato > 18 mEq/ℓ. Glicemia < 200 mg/dℓ. Portanto, deve-se suspender a infusão de insulina somente se houver correção do fator precipitante e resolução dos quadros clínico e laboratorial – obtenção dos parâmetros laboratoriais citados anteriormente. Nestes casos, assim que o paciente puder se alimentar e já houver a resolução do quadro emergencial, deve-se administrar uma dose de insulina subcutânea rápida (0,1 UI/kg ou 10 UI) e desligar a bomba em 30 a 60 min. Iniciar insulinização subcutânea com 0,5 a 1 UI/kg/dia de insulina dividida entre 50% basal (NPH ou análogos de longa duração) e 50% em bolus (regular ou análogos de ação ultrarrápida). Reposição de fósforo Realizar a reposição de fósforo somente se: A dosagem sérica for menor que 1 mg/dℓ. A dosagem for baixa e houver a presença de: - Disfunção de ventrículo esquerdo. - Arritmias cardíacas - Achados de hemólise ou rabdomiólise. A reposição de fósforo deve ser de 20 a 30 mEq para cada 1 ℓ de solução. Esta reposição é raramente indicada, pelo risco de hipocalcemia que acarreta. Portanto, deve ser indicada apenas nos casos extremos citados anteriormente. Reposição de bicarbonato A reposição de bicarbonato é raramente indicada. A SBD recomenda que seja realizada somente quando o pH é < 7,1, da seguinte maneira: - Se o pH estiver entre 6,9 e 7,1: 50 mEq/ℓ de bicarbonato de sódio 8,4% IV. - Se o pH for < 6,9 ou se houver hiperpotassemia grave: 100 mEq/ℓ de bicarbonato de sódio IV. -Se o pH for > 7,1, o uso de bicarbonato não melhora o prognóstico e pode aumentar o risco de algumas outras complicações, como alcalose metabólica, acidose liquórica paradoxal, edema cerebral, hipopotassemia e anoxia tecidual. Cada 1 mℓ da solução de bicarbonato de sódio a 8,4% contém 1 mEq. Dieta: Manter o paciente em jejum até a resolução do quadro Monitoramento Glicemia capilar de 1 em 1 h. Potássio e gasometria venosa a cada 2 a 4 h. Diurese. Hemograma, proteína C reativa, sódio, potássio, cloro, cálcio, fósforo, magnésio, lactato, glicemia, ureia, creatinina, creatinofosfoquinase (CPK), transaminases, exame de urina, cetonúria de fita, cetonemia, se possível, e gasometria arterial. Consideram-se urocultura, hemocultura e radiografia de tórax, se houver suspeita de foco infeccioso. ECG. Fator descompensador: Pesquisar e tratar. Complicações da cetoacidose diabética Hipoglicemia durante o tratamento. Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Endocrinologia (P8) 9 Hiperglicemia pela interrupção da insulina intravenosa sem cobertura adequada com insulina subcutânea. Hipopotassemia. Edema cerebral pelo excesso de hidratação. Deve ser tratado prontamente com manitol 20%. Congestão e anasarca. Mucormicose. Síndrome da angústia respiratória aguda (SARA). Tromboembolismo venoso. Hipoxemia. Acidose hiperclorêmica devido à infusão excessiva de fluidos. IRA, pela desidratação.
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