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Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 1 Tireotoxicose: estado clínico decorrente do excesso de hormônios tireoidianos circulantes sistemicamente, seja qual for a origem desses hormônios. Hipertireoidismo: estado de tireotoxicose quando a origem do excesso de hormônio tireoidiano é a própria glândula tireoide que está sintetizando e liberando sistemicamente quantidades aumentadas de hormônio. Hipertireoidismo tem como principal etiologia a doença de Graves, seguida do bócio multinodular tóxico (BMNT) e do adenoma tóxico. Doença de Graves (DG) representa a etiologia mais comum (80% dos casos). Origem autoimune e prevalência estimada de 3% das mulheres e 0,5% dos homens ao longo de suas vidas. DG é 5-10 X mais comum em mulheres. Pico de incidência ocorre entre 30 e 60 anos. Mais comum na raça branca, mas dados recentes sugerem aumento da incidência em jovens negros americanos. Pode estar associada a outros distúrbios autoimunes endócrinos (DM1, doença de Addison, ooforite autoimune, deficiência isolada de ACTH etc.) e não endócrinos (miastenia gravis, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, doença de Sjögren, anemia perniciosa, hepatite crônica ativa, vitiligo etc.). 10 a 20% dos pacientes com DG apresentam remissão espontânea, e cerca de 50% tornam-se hipotireóideos após 20 a 30 anos, na ausência de qualquer tratamento. Isso ocorre pela destruição da tireoide pelo processo autoimune. Entretanto, em função das complicações cardiovasculares (taquiarritmias, insuficiência cardíaca e fenômenos tromboembólicos), a DG não tratada mostra-se potencialmente fatal, sendo de suma importância que seu diagnóstico e tratamento sejam precoces. Além da ingestão exógena de hormônio tireoidiano, incidental ou proposital, há outras etiologias para a tireotoxicose. Quadro 30.6 Causas de hipertireoidismo. Dependentes de produção aumentada de hormônios tireoidianos •Estimulação anormal da tireoide por anticorpos antirreceptor do TSH (TRAb) °Doença de Graves •Estimulação anormal da tireoide pela gonadotrofina coriônica humana (hCG) °Mola hidatiforme °Coriocarcinoma •Produção excessiva de TSH °Tumor hipofisário secretor de TSH (tirotropinoma) °Resistência hipofisária ao T3 e T4 •Produção autônoma excessiva de T3 e T4 (independente do TSH) °Adenoma tóxico (mutação no receptor do TSH) °Bócio multinodular tóxico °Carcinoma folicular °Efeito Jod-Basedow (hipertireoidismo induzido por excesso de iodo ou amiodarona) Independentes de produção aumentada de hormônios tireoidianos •Liberação aumentada de T3 e T4 °Tireoidite subaguda granulomatosa (dolorosa) °Tireoidite subaguda linfocítica (indolor) •Fonte extratireoidiana de T3 e T4 °Tireotoxicose factícia (ingestão excessiva de T3 ou T4) °Tireotoxicose por hambúrguer •Produção ectópica de T3 e T4 °Teratoma ovariano (struma ovarii) °Metástase funcionante de carcinoma folicular Doença de Graves: causada pela presença de autoanticorpos estimuladores do receptor de hormônio tireoestimulante (TRAb estimulante), que estimulam a glândula tireoide a aumentar sua produção hormonal. Geralmente ocorre em mulheres jovens. Até 30% dos pacientes podem Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 2 ter remissão espontânea do quadro, mesmo na ausência de tratamento. Bócio Multinodular Tóxico - BMNT: Surgimento de novos nódulos e/ou crescimento de nódulos preexistentes em glândulas tireoides após longos períodos em áreas carentes em iodo. Com o passar do tempo, geralmente esses nódulos progressivamente adquirem certa autonomia e começam a produzir hormônio tireoidiano em excesso. Acontece principalmente em indivíduos mais idosos, sendo a principal causa de hipertireoidismo nessa população de mais idade. Adenoma tóxico (doença de plummer): Causado por uma mutação somática ativadora em algum gene regulador da atividade das células foliculares, determinando um aumento de sua função e de sua produção hormonal independentemente do estímulo do TSH. Tireoidite subaguda indolor: Causada pela inflamação da glândula tireoide com liberação de hormônio pré-formado que estava estocado nos folículos tireoidianos. Corresponde a 10% dos casos de tireotoxicose. A inflamação tireoidiana pode ter origem medicamentosa (uso de lítio, interferon-alfa, amiodarona – em 5 a 10% dos pacientes tratados com esses fármacos), autoimune (autoanticorpos positivos), no período pós-parto ou idiopática. Geralmente causa hipertireoidismo leve e transitório na primeira fase, que, na maioria das vezes, não precisa de tratamento. Se o paciente estiver muito sintomático, pode ser tratado com betabloqueador. Tionamidas não funcionam nas tireotoxicoses por tireoidite, pois a síntese hormonal é baixa; o problema é a liberação de hormônio pré-formado que estava estocado na glândula. Tireoidite subaguda dolorosa de DeQuervain: Causada por infecção de via respiratória superior atual ou recente. O antígeno viral ativa um antígeno leucocitário humano (HLA) que ativa linfócitos que passam a atacar o tecido tireoidiano. Cursa com tireoide dolorosa (dor que pode se irradiar para os dentes e ouvidos), endurecida, inflamada, febre, mal-estar e aumento de provas inflamatórias – velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C reativa (PCR). É a principal causa de tireoide dolorosa. Causa dano às células foliculares, com ruptura e liberação de hormônio tireoidiano pré-formado na circulação. O diagnóstico de tireoidite subaguda dolorosa é clínico. A USG mostra aumento difuso da tireoide e glândula hipoecogênica (pela grande quantidade de células inflamatórias), com reduzida vascularização. A cintilografia de tireoide é fria, e a cintilografia com gálio, quente. O tratamento é feito com anti-inflamatórios, prednisona 40 mg/dia durante 4 a 8 semanas, e betabloqueador, se houver sinais e sintomas de tireotoxicose na primeira fase da tireoidite. Secreção ectópica de hormônio tireoidiano. Struma ovarii e os tumores produtores de hormônio tireoidiano. Distúrbio autoimune cujo principal sítio antigênico é o receptor do TSH (TSHR). Se origina da produção pelos linfócitos B de anticorpos contra o TSHR (TRAb). Tais anticorpos se ligam ao TSHR e ativam complexos de sinalização das proteínas Gsα e Gq, o que, em última análise, resulta em crescimento da tireoide, aumento de sua vascularização e incremento da taxa de produção e secreção dos hormônios tireoidianos. Ao se ligarem ao receptor do TSH, os TRAb vão estimular a síntese e a liberação dos hormônios tireoidianos (T3 e T4), que, por sua vez, exercem retroalimentação negativa sobre a hipófise, mas não sobre os TRAb. Como consequência, surgirá elevação do T3 e T4, associada à supressão do TSH. Outras variedades de TRAb também podem estar presentes. Anticorpos que atuam como antagonistas do TSH são referidos como TRAb bloqueadores. Eles são encontrados em alguns pacientes com DG e em 15% dos pacientes com tireoidite crônica autoimune (tireoidite de Hashimoto), particularmente naqueles sem bócio (variedade atrófica). A DG e a tireoidite de Hashimoto compõem o espectro da chamada doença tireoidiana autoimune (DTA). Ocasionalmente pode Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 3 acontecer modificação (temporária ou permanente) do tipo predominante de TRAb, fazendo com que eles possam evoluir do hipo para o hipertireoidismo e vice-versa. Além disso, em alguns pacientes com DG, o hipertireoidismo pode estar ausente (transitoriamente ou não), devido a um equilíbrio entre anticorpos bloqueadores e estimuladores. A exata sequência de eventos que leva à produção de anticorpos contra o receptor do TSH ainda não foi plenamente identificada. Um defeito antígeno-específico,mediado geneticamente, na função do linfócito T supressor tem sido proposto. Esse defeito na vigilância imunológica tornaria possíveis o surgimento e a persistência de clones de linfócitos T helper. Tais clones estimulariam a produção de anticorpos pelos linfócitos B contra o receptor do TSH. Como alternativa, as células tireoidianas, ao serem estimuladas por citocinas específicas, produzidas em resposta a uma infecção viral, poderiam expressar, na sua superfície, moléculas classe II de tipos específicos de HLA-DR, que apresentariam fragmentos do receptor do TSH aos linfócitos T. Estes, por sua vez, estimulariam os linfócitos B a produzir os mencionados anticorpos. Os dois mecanismos não são, contudo, mutuamente excludentes, e ambos poderiam contribuir na patogênese da DG. A DG é poligênica e multifatorial; se desenvolve como resultado de uma interação entre a suscetibilidade genética e fatores ambientais ou endógenos, o que conduz à perda da tolerância imunológica a antígenos da tireoide e, em particular, ao receptor do TSH. Fatores genéticos: nítida predisposição familiar, especialmente materna; 15% dos pacientes têm um parente próximo com DG, e cerca de 50% dos parentes de pacientes com a doença apresentam anticorpos antitireoidianos. Ocorrência da doença é maior em gêmeos monozigóticos do que em dizigóticos (17 a 35% vs. 2 a 5%). A propensão para o desenvolvimento de autoanticorpos da tireoide parece ser uma característica autossômica dominante ligada ao gene do antígeno do linfócito T citotóxico 4 (CTLA 4) que codifica para um modulador do segundo sinal para as células T. Existe também uma associação bem-estabelecida de certos alelos HLA (cromossomo 6), variável de acordo com a etnia dos pacientes; por exemplo, em caucasianos, o HLA-DR3 e o HLA-DQA1*0501 estão positivamente associados à DG, enquanto o HLA-DRB1*0701 tem efeito protetor. Contudo, os haplótipos HLA conferem menos de 5% da suscetibilidade genética à DG e propiciam taxa de risco de apenas 2 a 4X. Uma contribuição adicional tem sido atribuída aos genes da tirosina fosfatase linfoide (PTPN22), da molécula de sinalização CD40, do receptor α da interleucina- 2, da tireoglobulina, do receptor do TSH e do receptor Fc L3, entre outros. Fatores ambientais e endógenos: incluem danos à tireoide, por radiação ou por injeção de etanol, com a liberação de antígenos tireoidianos na circulação. Pacientes com linfoma submetidos à radioterapia cervical; crianças e adolescentes vitimados pela explosão de Chernobyl. Tratamento com iodo radioativo (RAI) para bócio multinodular (tóxico e atóxico) e injeção de etanol para cura de bócios nodulares tóxicos podem ser seguidos do surgimento de TRAb e desenvolvimento de DG. Cerca de 1% dos pacientes com bócio nodular tóxico desenvolve DG após RAI, sendo esta incidência 10 vezes maior se anti-TPO estiverem presentes. Pode ser consequente à utilização terapêutica de interleucina (IL-1 alfa, IL-2), bem como interferon- α e γ. Terapia antirretroviral altamente ativa para o HIV pode estar relacionado com aumento do número de células T CD4+ ou com alteração em suas funções. Também ocorre em pacientes com esclerose múltipla tratados com o anticorpo monoclonal Campath-1H, dirigido contra as células T. Da mesma maneira, pode ser induzido pela terapia com lítio (pode modificar as respostas imunes), bem como desencadeado ou agravado pelo uso da amiodarona. Em alguns pacientes, situações adversas (como privação, aflição, divórcio, perda do emprego etc.) ou, mesmo, programas agressivos de perda de peso, antecedem a eclosão da DG. Isso sugere a participação do estresse como fator iniciante da doença, pelas vias neuroendócrinas. Tabagismo aumenta em 2X o risco para DG e Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 4 está mais fortemente relacionado com o desenvolvimento da oftalmopatia, a qual é mais frequente e tende a ser mais acentuada em fumantes. A DG apresenta-se com três manifestações principais: hiper-tireoidismo com bócio difuso, oftalmopatia infiltrativa e dermopatia (mixedema pré-tibial). Raramente desenvolve, um quadro de hipertireoidismo grave (tempestade tireoidiana ou crise tireotóxica) e inflamação subperióstea em falanges de mãos e pés (osteopatia tireoidiana). Quadro 30.2 Frequência dos sintomas da DG Sintomas % Sintomas % Nervosismo 99 Queixas oculares 54 Sudorese excessiva 91 Edema de membros inferiores 35 Intolerância ao calor 89 Hiperdefecação (sem diarreia) 33 Palpitação 89 Diarreia 23 Fadiga 88 Distúrbios menstruais 20 Perda de peso 85 Anorexia 9 Dispneia 75 Constipação intestinal 4 Fraqueza 70 Ganho ponderal 2 Aumento do apetite 65 Quadro 30.3 Frequência dos sinais da doença de Graves. Sinais % Sinais % Taquicardia 100 Alterações oculares 71 Bócio 97 Fibrilação atrial 10 Tremor nas mãos 97 Esplenomegalia 10 Pele quente e úmida 90 Ginecomastia 10 Sopro sobre a tireoide 77 Eritema palmar 8 Há, contudo, um quadro chamado de hipertireoidismo apático, observado em idosos, em que não há os sintomas de hiperatividade adrenérgica (agitação, nervosismo etc.), mas astenia intensa, fraqueza muscular e prostração ou depressão grave. Muitas vezes, predominam manifestações cardiovasculares (p. ex., fibrilação atrial e/ou insuficiência cardíaca refratárias ao tratamento usual). De modo geral, quanto mais idoso o paciente, mais atípicas são as manifestações. Quadro 30.4 Manifestações da tireotoxicose em idosos. Sinais % Sinais % Tremor 38 a 89 Lid-lag 12 a 35 Tireoide normal ou impalpável 37 a 68 Bócio difuso 12 a 22 Palpitações 36 a 42 Bócio uni ou multinodular 10 a 51 Perda de peso 35 a 44 Exoftalmia 8 Fibrilação atrial 32 a 39 Intolerância ao calor 4 a 63 Taquicardia 28 a 58 Ausência de sintomas 8 Nervosismo 20 a 38 Bócio: caracteristicamente difuso (97% dos casos). Pode ser assimétrico ou lobular, com volume variável. Em alguns pacientes, há frêmito e sopro sobre a glândula, produzidos por um notável aumento do fluxo sanguíneo, sendo esse achado exclusivo da doença. Qualquer paciente com bócio difuso e hipertireoidismo tem DG até que se prove o contrário. Em idosos, quando presente, o bócio tende a ser pequeno. Oftalmopatia: oftalmopatia ou orbitopatia tem a mesma etiopatogênese autoimune do hipertireoidismo da DG e pode ser exacerbada tanto pelo hipo como pela hiperfunção tireoidiana. Os anticorpos reagem provocando autoagressão intraorbitária, como no tecido tireoidiano. A oftalmopatia pode preceder hipertireoidismo (20% das vezes), sucedê-lo (40%) ou surgir concomitantemente a ele (40%). Os casos em que a oftalmopatia, transitória ou permanentemente, não se faz acompanhar de hipertireoidismo são denominados doença de Graves eutireóidea. Oftalmopatia clinicamente evidente ocorre em até 50% dos pacientes com DG. Decorre do espessamento dos músculos extraoculares e aumento da gordura retrobulbar, o que leva a um incremento da pressão intraorbitária. Como consequência, podem ocorrer protrusão do globo ocular (proptose ou exoftalmia) e diminuição da drenagem venosa, resultando em edema periorbital, edema da conjuntiva (quemose) e hiperemia conjuntival. As manifestações oculares mais comuns na DG são a retração palpebral, o olhar fixo ou assustado e o sinal de lid-lag (retardo na descida da pálpebra superior quando o globo ocular é movido para baixo). Entretanto, elas ocorrem em Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 5 qualquer forma de tireotoxicose, por serem consequentes à hiperatividade adrenérgica. Em contrapartida, o achado de edema periorbital e exoftalmia praticamente confirma o diagnóstico de DG. Além disso, diplopia pode acontecer em 5 a 10% dos pacientes, em razãodo comprometimento funcional da musculatura extrínseca ocular. Oftalmoplegia e ptose palpebral podem, também, ser ocasionalmente observadas. Finalmente, nos casos graves, pode haver disfunção do nervo óptico (por compressão ou isquemia), defeitos nos campos visuais, distúrbios da visão em cores e/ou perda da visão. Homens idosos e fumantes apresentam maior risco de desenvolver oftalmopatia grave. A exoftalmia na DG, geralmente, é bilateral, mas pode ser unilateral. Precisa ser diferenciada de um tumor retrobulbar ou malformação arteriovenosa por meio de TC ou RM. Exoftalmia grave impede o fechamento da pálpebra durante o sono, podendo levar à inflamação da córnea (queratite) por exposição. A quemose pode ser leve, apenas evidenciável por pressão da pálpebra inferior sobre a conjuntiva, ou grave, com prolapso da conjuntiva edemaciada. A melhor maneira de se certificar da existência da proptose e estabelecer sua magnitude é por meio do exoftalmômetro de Hertel. Considera-se anormal uma medida > 20 mm em caucasianos, 18 mm entre orientais e 22 mm em negros. É necessário cautela nas interpretações limítrofes em até 2 mm. A proptose pode ser classificada como leve (aumento de 3 a 4 mm), moderada (5 a 7 mm) e grave (> 7 mm). Dermopatia (mixedema pré-tibial): Acomete apenas 5 a 10% dos pacientes com DG e, quase sempre, está associada à oftalmopatia (geralmente grave) e a títulos elevados de TRAb. Excepcionalmente, é vista em pacientes eutireóideos com DG ou com tireoidite de Hashimoto. Consiste no espessamento da pele, particularmente na área pré-tibial, devido ao acúmulo de glicosaminoglicanos. As lesões mostram-se em placas e, nelas, a pele está bastante espessada, com aspecto de casca de laranja e coloração violácea. Às vezes, a dermopatia envolve toda a parte inferior da perna e pode estender-se até os pés. Raramente (menos de 1% dos casos), pode ser vista em outros locais (p. ex., mãos ou ombros), sobretudo após traumatismo prolongado. Muito raramente, o mixedema pré-tibial é a manifestação inicial da DG. EXAMES BIOQUÍMICOS E HORMONAIS Função tireoidiana: níveis baixos ou indetectáveis de TSH, associados à elevação das frações total (ligada à globulina de ligação da tiroxina [TBG]) e livre do T4 e T3. Ocasionalmente, apenas o T3 está elevado, acompanhando a supressão do TSH (T3-tireotoxicose). Tal situação é mais comum na fase inicial da doença ou em casos de recidiva. Além disso, inicialmente podemos encontrar apenas níveis baixos de TSH, com T4 e T3 normais, caracterizando o hipertireoidismo subclínico. Anticorpos antitireoidianos: Entre os pacientes com DG, até 50% apresentam anticorpos antitireoglobulina (anti-Tg) e até 90%, anticorpos antitireoperoxidase (anti-TPO), em títulos mais baixos do que os observados na tireoidite de Hashimoto. Embora anticorpos antirreceptores do TSH (TRAb) possam ser encontrados em indivíduos normais (excepcionalmente), na tireoidite de Hashimoto (em 6 a 60%) e na tireoidite subaguda indolor ou tireoidite pós-parto (em 5 a 15%), sua ocorrência em pacientes hipertireóideos é altamente específica para a DG. Uma recente metanálise mostrou elevadas sensibilidade e especificidade para os ensaios de TRAb de segunda e terceira gerações. Segundo esses dados, a probabilidade de um indivíduo TRAb- positivo ter DG é 1.367 a 3.420 vezes superior (dependendo do tipo de ensaio) em comparação com um indivíduo TRAb- negativo. Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 6 Priorizar a dosagem dos TRAb em algumas situações específicas, tais como: (1) no diagnóstico da DG eutireóidea; (2) no diagnóstico do hipertireoidismo apático; (3) na distinção entre DG e tireoidite pós- parto ou tireoidite subaguda linfocítica; (4) na avaliação do risco de recidiva do hipertireoidismo após a suspensão do tratamento com as tionamidas (títulos elevados aumentam o risco de recidiva); e (5) em gestantes com DG. TRAb em títulos elevados no final da gestação implica risco aumentado de hipertireoidismo neonatal. Em contrapartida, sua negativação favorece a interrupção do tratamento, visando diminuir o risco de hipotireoidismo fetal. Parâmetros hematológicos e bioquímicos: leucopenia (comum), hipercalciúria e hipercalcemia (ocasionais), elevação de transaminases e hiperbilirrubinemia (nos casos mais graves). Redução do colesterol total e do LDL-colesterol pode, também, ser encontrada. EXAMES DE IMAGEM Captação do iodo radioativo nas 24 horas (RAIU/24 h): A captação elevada normal em nosso meio situa-se entre 15 e 35%. Ela se encontra elevada em praticamente 100% dos casos de DG, o que possibilita facilmente sua diferenciação com os casos de tireotoxicose secundária à tireoidite subaguda linfocítica e tireoidite pós-parto, situações em que a RAIU/24 h está caracteristicamente muito baixa ou ausente. Somente deve ser solicitado, portanto, quando houver dúvida diagnóstica entre a DG e as mencionadas patologias. Uma alternativa para fazer é a determinação dos níveis dos TRAb (menos acurada) ou com a ultrassonografia (US) tireoidiana com Doppler colorido. Ultrassonografia: tem sensibilidade semelhante à RAIU/24 h. Vantagens da US são ausência de exposição à radiação ionizante, maior precisão na detecção de eventuais nódulos tireoidianos e custo mais baixo. Além disso, a US com Doppler colorido pode diferenciar a DG (glândula hipoecogênica difusamente aumentada) da tireotoxicose induzida pela destruição folicular (volume glandular e fluxo sanguíneo diminuídos). Cintilografia tireoidiana: com iodo radioativo (123I ou 131I) ou tecnécio deve ser realizada em pacientes com nódulos identificados à US, para avaliar se tais nódulos são “quentes” ou “frios”. Punção aspirativa com agulha fina: indicada quando forem encontrados nódulos tireoidianos normo ou hipocaptantes à cintilografia. Foi sugerido, por alguns estudos, que tais nódulos teriam maior risco para malignidade em pacientes com DG, porém estudos mais recentes não confirmaram essa possibilidade. Diagnósticos diferenciais A existência da oftalmopatia infiltrativa ou mixedema pré-tibial em pacientes com hipertireoidismo é suficiente para confirmar o diagnóstico de doença de Graves (DG). Na ausência, pode-se considerar principalmente a tireoidite subaguda linfocítica (TSL) e o bócio nodular tóxico. TSL: possibilidade mostra-se maior em pacientes com bócios pequenos, tireotoxicose pouco intensa e de curta duração (< 3 meses) e relação T3/T4 < 20. O tratamento da tireotoxicose na TSL limita-se ao uso de betabloqueadores, uma vez que não há síntese excessiva de T3 e T4, mas liberação exagerada dos mesmos, resultante da destruição dos folículos tireoidianos pelo processo autoimune. DG + bócio nodular tóxico: síndrome de Marine- Lenhart. Tal possibilidade deve ser suspeitada sempre que o tratamento do hipertireoidismo requerer altas doses de antitireoidianos de síntese ou quando recidiva acontecer logo após a suspensão dos mesmos. Nas pacientes com tireotoxicose e baixa captação do 131I, além das tireoidites subagudas, outras considerações diagnósticas incluem tireotoxicose factícia (por uso de hormônios tireoidianos), metástases funcionantes de carcinoma folicular e o raro struma ovarii Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 7 (teratoma ovariano com tecido tireoidiano ectópico) que tem RAIU aumentada na região pélvica. Coexistência do struma ovarii com a doença de Graves foi recentemente relatada. Tireotropinomas (TSHomas) são bastante raros. Laboratorialmente, distinguem-se da DG pelos níveis de TSH, que se encontram normais (em 23% dos casos) ou elevados (em 77%). Na DG não tratada, o TSH está sempre suprimido. Eventualmente,pode haver exoftalmia unilateral por invasão da órbita pelo TSHoma. Resistência hipofisária aos hormônios tireoidianos é outra causa de hipertireoidismo central. Tireotoxicose ou hipotireoidismo ocorrem em 15 a 28% dos pacientes que tomam amiodarona, um fármaco com elevado teor de iodo. A tireotoxicose induzida pela amiodarona (AIT) é mais prevalente em áreas deficientes em iodo, afeta cerca de 3 a 4% dos indivíduos tratados e pode surgir 4 meses a 3 anos após o início da terapia ou após sua interrupção. A AIT é classificada em tipo 1 ou tipo 2. A AIT tipo 1 (AIT 1) é uma forma de hipertireoidismo induzido pelo iodo (efeito Jod-Basedow), desenvolve-se em indivíduos com doença tireoidiana subjacente ou positividade para os anti-TPO, e resulta do aumento da síntese e liberação de hormônios tireoidianos. A AIT tipo 2 (AIT 2) representa uma tireoidite destrutiva, e a tireotoxicose resulta da liberação excessiva de T3 e T4 na circulação. No entanto, distinguir um tipo do outro pode ser problemático, e alguns casos podem, de fato, representar formas mistas, com indivíduos apresentando características de ambos os subtipos de AIT. Em razão dessa heterogeneidade, a AIT representa um difícil desafio diagnóstico e terapêutico. Raramente, a DG pode manifestar-se, sobretudo em homens orientais e latinos, com um quadro súbito de paralisia flácida e hipocalemia (paralisia periódica tireotóxica hipocalêmica). Tal paralisia é geralmente de resolução espontânea, pode ser a manifestação inicial do hipertireoidismo e pode ser tratada por suplementação de potássio e uso de betabloqueadores. Ela é curada pelo tratamento adequado do hipertireoidismo. Quadro 30.7 Diagnóstico diferencial da tireotoxicose. Diagnóstico Achados clínicos Achados laboratoriais Achados nos exames de imagem Outras características Doença de Graves Bócio difuso;orbitopatia Elevação de FT4 e T3, com TSH suprimido; TRAb positivo RAIU/24 h aumentada; captação tireoidiana difusa do RAI na cintilografia; vascularização tireoidiana aumentada na US com Doppler Predomínio no sexo feminino Bócio multinodular tóxico Bócio multinodular Elevação de FT4 e T3, com TSH suprimido; TRAb negativo Múltiplos nódulos hiperfuncionantes Mais comum em pessoas mais idosas, mulheres e em áreas com relativa deficiência de iodo Adenoma tóxico (bócio nodular tóxico) Nódulo tireoidiano solitário volumoso (> 3 cm) Elevação de FT4 e T3, com TSH suprimido; TRAb negativo Nódulo solitário hiperfuncionante, com supressão do tecido paranodular e do lobo contralateral Mais comum em pessoas mais idosas, mulheres e em áreas com relativa deficiência de iodo Tireoidite subaguda linfocítica ou indolor Hipertireoidismo leve e pequeno bócio indolor; condição autolimitada (em geral, < 2 a 3 meses) Elevação variável de FT4(frequentemente, 1,6 a 2,0 × LSN); T3 aumentado (frequentemente, 1,0 a 1,5 × LSN); anti-TPO geralmente positivo RAIU/24 h ausente ou muito baixa (0 a 5%); vascularização tireoidiana normal ou diminuída na US com Doppler Predileção pelo período pós-parto; pode recidivar em mais de uma ocasião Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 8 Tireoidite subaguda de De Quervain ou granulomatosa Tireoide aumentada muito dolorosa que frequentemente ocorre após infecção do trato respiratório superior Elevação variável de FT4(frequentemente, 1,6 a 2,0 × LSN); T3 aumentado (frequentemente, 1,0 a 1,5 × LSN); anti-TPO geralmente positivo; VSH muito alta (tipicamente > 50 mm/h) RAIU/24 h ausente ou muito baixa (0 a 5%) Em geral não associada a sequela permanente Tireoidite induzida por medicações Tireoide levemente aumentada Elevação variável de FT4(frequentemente, 1,6 a 2,0 × LSN); T3 aumentado (frequentemente, 1,0 a 1,5 × LSN) RAIU/24 h ausente ou muito baixa (0 a 5%) Associada com o uso de amiodarona, lítio, interferon-α, sorafenibe e outros inibidores de tirosinoquinases Hipertireoidismo induzido pelo iodo Hipertireoidismo em dias ou meses após a exposição a iodo em pacientes com doença tireoidiana prévia, geralmente um bócio multinodular Elevação variável de FT4(frequentemente, 1,6 a 2,0 × LSN); T3 aumentado (frequentemente, 1,0 a 1,5 × LSN) RAIU/24 h ausente ou muito baixa (0 a 5%) Associado com exposição ao iodo, geralmente na forma de amiodarona ou contrastes radiológicos iodados Ingestão de hormônios tireoidianos Sinais e sintomas de tireotoxicose, sem bócio Elevação de FT4 e T3 em pacientes tomando L-T4; T3 elevado, com FT4 baixa, em pacientes ingerindo T3 RAIU/24 h ausente ou muito baixa (0 a 5%) Pode ser intencional ou não Struma ovarii Sinais e sintomas de tireotoxicose, sem bócio Elevação de FT4 e T3; TSH suprimido Captação aumentada do RAI na pelve Teratoma ovariano contendo tecido tireoidiano Gravidez molar e coriocarcinoma Sinais e sintomas de tireotoxicose, sem bócio Elevação de FT4 e T3 (frequentemente, 1,6 a 2,0 × LSN); TSH suprimido RAIU/24 h aumentada Tireotoxicose causada por altos níveis de hCG, os quais têm ação estimuladora da tireoide Tireotropinoma Bócio geralmente difuso, sem orbitopatia Elevação de FT4 e T3, com TSH elevado ou normal (cerca de 25%) RAIU/24 h aumentada; macroadenoma hipofisário em mais de 80% dos casos à RM Muito raro (cerca de 500 casos descritos) Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 9 Doença de Graves: tratado com uma das seguintes abordagens: (1) uso de drogas antitireoidianas (DAT), também denominadas antitireoidianos de síntese ou tionamidas, para normalizar a produção de T3 e T4; (2) destruição da tireoide, usando o iodo radioativo (RAI); ou (3) remoção cirúrgica da tireoide. Essas opções são as mesmas há mais de 60 anos e apresentam vantagens e desvantagens. Elas devem sempre ser apresentadas ao paciente, caso ele tenha capacidade de discernir. Tratamento medicamentoso Antitireoidianos de síntese (tionamidas): Existem duas opções principais: metimazol (MMI), também chamada tiamazol, e propiltiouracil (PTU). Em alguns países europeus e asiáticos, está também disponível o carbimazol (precursor do MMI), que é rapidamente convertido no soro a MMI (10 mg de carbimazol são metabolizados em cerca de 6 mg de MMI). O MMI pode ser tomado em dose única diária, o que facilita a melhor adesão ao tratamento. O PTU deve ser administrado, pelo menos inicialmente, em 2 a 3 tomadas diárias. Contudo, uma dose dividida pode ser mais efetiva inicialmente nos casos mais graves. Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 10 O MMI possibilita a obtenção do eutireoidismo de modo mais frequente e mais rápido, além de ser mais bem tolerado e causar menos hepatotoxicidade. É recomendado sempre escolher o MMI como primeira opção. Duas exceções a essa norma são o primeiro trimestre da gravidez e grave intolerância ao MMI. Mecanismo de ação: não inibem a captação do iodo pela tireoide nem afetam a liberação dos hormônios já sintetizados e estocados dentro da glândula. Por isso, seu efeito terapêutico pleno é mais bem observado após cerca de 10 a 15 dias. O mecanismo de ação principal desses fármacos é a inibição da síntese de tiroxina (T4) e tri- iodotironina (T3) dentro das células foliculares, por interferirem na organificação (formação de MIT e DIT) e no acoplamento (junção de MIT e DIT para formar T3 e T4) das iodotirosinas, pelo bloqueio da peroxidase tireoidiana, enzima responsável pela iodinação dos resíduos tirosínicos na tireoglobulina. Além disso, PTU inibe a conversão periférica de T4 em T3, com consequente queda nos níveis séricos de T3 e aumento do T3 reverso, quando usado em doses elevadas (p. ex., > 600 mg/dia). Há, contudo,pouca evidência de que esse efeito seja clinicamente relevante, exceto, possivelmente, em pacientes com tireotoxicose muito grave. Após o início do tratamento, os pacientes devem ser avaliados a cada 4 a 6 semanas. Uma vez alcançado o eutireoidismo, a dose da tionamida deve ser reduzida gradualmente até que se obtenha a menor dose que mantenha os pacientes eutireóideos. A partir daí, as visitas ao médico passam a ser trimestrais. A dose usual de manutenção é de 5 a 10 mg/dia para o MMI e de 50 a 100 mg 2 vezes/dia para o PTU. É importante estar atento ao fato de que os níveis séricos de TSH podem permanecer suprimidos por vários meses após a obtenção do eutireoidismo e tal situação pode ser verificada mesmo quando há hipotireoidismo bioquímico (T4 livre baixo). Assim, a utilidade da dosagem do TSH nos primeiros meses de tratamento com as tionamidas é limitada. Posologia: A dose inicial usual é de 10 a 30 mg/dia de MMI ou 100 a 300 mg/dia de PTU, na dependência da gravidade do hipertireoidismo. Doses mais elevadas (p. ex., 30 a 40 mg/dia de MMI) podem propiciar normalização mais rápida dos hormônios tireoidianos, mas são mais propensas a causar efeitos adversos. Assim, elas estão mais indicadas nos casos mais graves (p. ex., FT4 > 3 vezes o limite superior da normalidade [LSN]). Eficácia do tratamento: Entre os pacientes que toleram e tomam adequadamente as tionamidas, a grande maioria atingirá normalização hormonal. No entanto, recorrências são frequentes. De fato, a taxa de recidiva é bastante variável (10 a 90%). As recidivas são mais comuns no primeiro ano, sobretudo nos primeiros 6 meses pós- suspensão do tratamento. Raramente se manifestam após 4 a 5 anos. Em caso de recidiva, pode-se tentar um segundo curso de tratamento com as DAT; porém, habitualmente se opta por um outro tipo de terapia, de preferência o iodo radioativo. As tionamidas também exercem efeitos imunossupressores que podem resultar de ação direta do fármaco ou indiretamente, em função da diminuição na secreção hormonal. Entre esses efeitos, incluem-se a redução nos níveis séricos dos TRAb e de outras moléculas imunologicamente importantes (p. ex., molécula de adesão intracelular, interleucina-2 solúvel e receptores para interleucina-6). Além disso, há evidências de que as tionamidas possam induzir apoptose dos linfócitos intratireoidianos, diminuição da expressão de HLA classe II e aumento da quantidade circulante de células T helper, células natural killer e células T intratireoidianas. Quadro 30.11 Fatores que interferem nas chances de remissão definitiva após o tratamento com as tionamidas. Menor chance •Bócio grande •Doença em crianças e adolescentes •Doença com elevação predominante de T3 Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 11 •TRAb em títulos elevados ao final do tratamento •Uso de tionamidas por menos de 1 ano •Supressão do TSH ao final do tratamento •Presença de oftalmopatia •Rinite alérgica •Elevada ingestão de iodo •Tabagismo •Estresse (?) •Hipoecogenicidade tireoidiana à US •Presença de HLA-D3, alelos DQA2U Maior chance •Bócio pequeno •Idade > 40 anos •Níveis iniciais de T3 pouco elevados •TRAb em títulos baixos (< 30 U/ℓ) ao final do tratamento •Uso de tionamida por 12 a 18 meses •Supressão normal da tireoide ao T3 Fatores que influenciam a resposta a longo prazo às tionamidas Duração do tratamento: duração ideal da terapia ainda é motivo de controvérsia, mas parece ser de 12 a 18 meses. Dose: De acordo com a maioria dos estudos, a taxa de remissão definitiva parece ser similar com o uso de doses altas ou baixas de DAT. As evidências apontam para a obtenção mais rápida do eutireoidismo com o uso de doses mais altas. Estas últimas seriam, também, preferíveis para os casos de hipertireoidismo mais grave. Idade/sexo: Em um estudo com 536 pacientes, a remissão foi menor em homens do que em mulheres, bem como nos indivíduos com menos de 40 anos em relação aos mais idosos. Crianças e adolescentes apresentam taxa de remissão significativamente menor. Tamanho do bócio: relação inversa entre o tamanho inicial do bócio e a probabilidade de remissão. Indivíduos com grandes bócios (≥ 80 g) são os menos propensos a responderem favoravelmente. Função tireoidiana: Níveis iniciais de T3 > 500 ng/dℓ estão associados a maior chance de recidiva, o mesmo ocorrendo nos casos com TSH persistentemente suprimido ao final do tratamento. TRAb: Níveis elevados de TRAb ao diagnóstico e, sobretudo, ao final do tratamento, estão associados a maior taxa de recidiva, em comparação a títulos baixos desses anticorpos. Pacientes com maior chance de recidiva devem ser avaliados com mais frequência e em intervalos mais curtos, após a interrupção das drogas antitireoidianas (DAT). Por outro lado, pacientes com doença leve, bócios pequenos e TRAb negativos têm uma taxa de remissão > 50%, tornando o uso das DAT potencialmente mais favorável nesse grupo de pacientes. Efeitos colaterais das tionamidas: Em casos de efeitos colaterais leves (p. ex., erupção cutânea, febre, artralgia etc.), pode-se trocar por outra tionamida de modo cauteloso, já que, em até 30 a 50% dos casos, esses efeitos colaterais podem surgir com a medicação substituta. Às vezes, a adição de um anti-histamínico torna possível a resolução espontânea da erupção cutânea em poucos dias, a despeito da manutenção da tionamida. Pacientes que desenvolvam uma reação adversa séria (p. ex., vasculite, hepatite ou agranulocitose) com uma tionamida não devem ser medicados com outro composto do mesmo grupo. Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 12 Quadro 30.12 Efeitos colaterais das tionamidas. Reações leves Frequência (%) Reações graves Frequência (%) Erupção cutânea 2,5 a 7 Trombocitopenia < 0,8 Prurido 2 a 7 Aplasia medular < 0,8 Intolerância gástrica 2 a 4,5 Hepatite colestática 0,2 a 0,8 Artralgia 1,3 a 5,8 Agranulocitose 0,2 a 0,5 Neutropenia 1 a 5 Necrose hepatocelular 0,1 a 1,3 Febre 1 a 5 Hipoglicemia (por anticorpos anti-insulina) < 0,1 Queda de cabelos/alopecia 1 a 5 Vasculite ANCA-positiva – Anemia < 1 Poliartrite – Diminuição/perda do paladar < 1 Glomerulonefrite – Que tionamida escolher? Segundo as recentes diretrizes da ATA/AACE5 e SBEM, o MMI deve ser a opção de escolha para praticamente todos os pacientes, exceto durante o primeiro trimestre da gravidez, quando o PTU é preferível. A partir do segundo semestre, o PTU deve ser trocado pelo MMI. Betabloqueadores; indicação principal são pacientes idosos com tireotoxicose sintomática e outros pacientes tireotóxicos com frequência cardíaca de repouso > 90 bpm ou doença cardiovascular coexistente. São úteis na fase inicial do tratamento da DG com tionamidas em razão de seu rápido efeito sobre as manifestações que resultam do sinergismo entre os hormônios tireoidianos e o sistema nervoso simpático (nervosismo, insônia, taquicardia, palpitações, tremor, sudorese etc.). Também, em doses elevadas, causam modesta redução nos níveis de T3 sérico, bloqueando a conversão periférica de T4 em T3. Propranolol (40 a 120 mg/dia, em 2 a 3 tomadas) é a opção mais utilizada. Como alternativa, podem-se usar fármacos β-1 seletivos (p. ex., atenolol, 50 a 100 mg/dia). Os betabloqueadores são geralmente suspensos após as primeiras 3 ou 4 semanas. Caso estejam contraindicados (p. ex., pacientes com asma brônquica, DPOC ou bloqueio cardíaco), a taquicardia pode ser controlada com os antagonistas do cálcio diltiazem ou verapamil. Iodeto de potássio: sua principal limitação é o escape da inibição da síntese dos hormônios tireoidianos pelo iodo, fenômeno conhecido como efeito de Wolff-Chaikoff. Entretanto, dois artigos japoneses recentes relataram o sucessodo KI no tratamento primário da DG leve. Iodo radioativo (radioiodo): tem como objetivo controlar o hipertireoidismo, tornando o paciente hipotireóideo. É facilmente administrado por via oral, em solução ou cápsulas, e tem baixo custo. Pode ser empregado como terapia inicial ou como terapia definitiva de segunda linha, nos casos de recidiva após o uso das DAT. Em comparação aos outros tipos de tratamento da DG, o 131I é considerado o de melhor custo-benefício. Dose: ainda é motivo de controvérsia. No nosso meio, a maioria dos especialistas prefere o uso de doses fixas (10, 12, 15 ou, mesmo, 20 mCi), por sua maior simplicidade. Costuma-se recomendar 160 a 200 μCi/g (5,9 a 7,4 MBq/g) para assegurar o tratamento bem-sucedido. Ambos os esquemas são igualmente eficazes. Eficácia: taxa de resposta satisfatória à radioiodoterapia, com consequente surgimento de hipo ou eutireoidismo, é de aproximadamente 80 a 90%. Doses mais elevadas propiciam sucesso terapêutico mais precoce e, em geral, mais expressivo; doses mais baixas (p. ex., < 10 mCi) tendem a resultar em taxas de falha e recorrência mais acentuadas. Fatores que influenciam a resposta ao radioiodo: volume do bócio parece ser o mais importante. Bócios menores são os que respondem melhor e os que evoluem mais frequentemente para o hipotireoidismo, sobretudo com doses fixas. Também foi demonstrado que pacientes com HLA-DR3 teriam maior resistência à radioiodoterapia. Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 13 Entre as características clínicas mais associadas à falha terapêutica incluem-se: sexo masculino, tabagismo, bócio grande (> 50 g); RAIU/24 h muito elevada (> 90%) e marcante elevação dos níveis de T3 (> 500 ng/mℓ). Persistência de níveis elevados de TRAb e aumento do fluxo sanguíneo tireoidiano ao Doppler também aumentam a probabilidade de recidivas. Complicações: principal inconveniente da radioiodoterapia é o hipotireoidismo, cuja frequência a curto prazo (p. ex., no primeiro ano pós-tratamento) depende da dose utilizada (maior com doses de 12 a 20 mCi do que com 8 a 10 mCi). A longo prazo, entretanto, o número de pacientes com hipotireoidismo independerá da dose do 131I, chegando a pelo menos 80% daqueles adequadamente tratados. Radioiodo e doença ocular tireoidiana: O tratamento com radioiodo pode precipitar ou exacerbar a doença ocular tireoidiana em um pequeno percentual de pacientes (mais provavelmente nos fumantes). Essa complicação pode ser prevenida pela terapia com glicocorticoides, a qual deve ser considerada principalmente nas seguintes condições: (1) indivíduos fumantes, (2) presença de oftalmopatia ativa (mesmo se leve a moderada) e (3) hipertireoidismo grave. Além disso, para esses casos, antes da administração do RAI, sempre que possível, deve-se conseguir o eutireoidismo com as tionamidas, de preferência com o metimazol (MMI), uma vez que o efeito radioprotetor do propiltiouracil (PTU) parece ser bem mais prolongado. Em contrapartida, a radioiodoterapia não é recomendável para os casos de DG grave em que há ameaça à visão, devendo-se sempre, nessa situação, fazer a opção pelas tionamidas. Contraindicações: está contraindicado para pacientes que estejam grávidas ou amamentando. Costuma-se, também, recomendar que ele não seja administrado a homens e mulheres que estejam planejando ter filhos dentro dos 4 a 6 meses seguintes. Entretanto, não foi evidenciado risco de teratogenicidade com o radioiodo. Outras contraindicações relativas incluem bócios muito volumosos, recusa do paciente e oftalmopatia infiltrativa grave. Alergia ao iodo não representa contraindicação para o 131I. Radioiodo e nódulos tireoidianos: Há controvérsias se nódulos têm maior risco de malignidade em casos de DG. Por isso, tem sido sugerido que pacientes com nódulos não funcionantes > 1 a 1,5 cm sejam submetidos a uma punção aspirativa com agulha fina (PAAF) antes da administração do 131I. Monitoramento após o iodo radioativo: Os pacientes devem ter a função tireoidiana checada após 15 dias e, depois, mensalmente ou a cada 2 meses. Tal recomendação visa à detecção precoce do hipotireoidismo. A reposição de L-tiroxina deve ser introduzida de imediato diante de evidências laboratoriais de hipotireoidismo. Elevação do TRAb sérico pode ocorrer 3 a 6 meses após a radioiodoterapia e, ocasionalmente, levar a exacerbação do hipertireoidismo. A administração de uma nova dose de 131I deve ser considerada nas seguintes situações: (1) persistência do hipertireoidismo após 6 meses e (2) resposta mínima ao tratamento após 3 meses. Convém, contudo, comentar, que podem ser necessários 6 meses ou mais para o TSH se normalizar. Tireoidectomia: A cirurgia está indicada, sobretudo, nas seguintes situações: (1) bócios muito volumosos (> 150 g), (2) existência de sintomas compressivos locais ou nódulos com suspeita de malignidade após PAAF e (3) opção do paciente. As vantagens da tireoidectomia sobre as demais formas de tratamento incluem rápida normalização de T3 e T4 e maior efetividade nos casos com sintomas compressivos. As desvantagens são o custo, a necessidade de hospitalização, o risco anestésico e as complicações inerentes ao ato cirúrgico em si (p. ex., hipoparatireoidismo, lesões do nervo recorrente laríngeo, sangramento, infecção e hipotireoidismo). Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 14 O procedimento de escolha é a tireoidectomia total (TT) que propicia taxa de cura em torno de 100% para hipertireoidismo da DG. O risco de recorrência é de quase 0% após TT, enquanto a tireoidectomia subtotal (TST) implica probabilidade de 5 a 20% (8%, em média) de persistência ou recorrência do hipertireoidismo em 5 anos. Quadro 30.13 Principais indicações para o tratamento cirúrgico na doença de Graves. •Pacientes que não controlaram a doença com tionamidas que recusem o 131I •Doença com bócios volumosos não controlada pelas tionamidas •Pacientes com suspeita de terem uma neoplasia tireoidiana associada •Desejo da paciente em engravidar dentro de 6 meses •Em casos de hiperparatireoidismo primário associado •Como segunda opção, em crianças e adolescentes não responsivos às tionamidas ou que recidivaram após o uso delas Embolização de artérias tireóideas: a embolização arterial tireóidea, provoca um processo inflamatório e morte celular. Inicialmente, pode haver aumento do volume tireoidiano e piora das queixas referentes ao hipertireoidismo, pois os hormônios tireoidianos estocados são liberados na corrente sanguínea. A taxa de normalização da função tireoidiana é de 50 a 60%, associada a redução dos níveis de TRAb. Tireoidite granulomatosa subaguda: Apresenta uma multiplicidade de sinônimos, sendo os seguintes os mais usados: tireoidite de De Quervain, tireoidite subaguda dolorosa, tireoidite de células gigantes e tireoidite granulomatosa. A TGSA é um processo inflamatório autolimitado que constitui a causa mais comum de dor na tireoide. Tratamento: visa, sobretudo, ao alívio do quadro doloroso. Quando necessário, devem- se controlar os sintomas de tireotoxicose e tratar o hipotireoidismo. 1. Controle da dor Anti-inflamatórios não hormonais: só se mostram eficazes nos casos mais brandos. Pode- se usar o ácido acetilsalicílico (AAS), na dose de 500 mg a cada 4 a 6 horas, ou outros anti- inflamatórios mais potentes (nimesulida, naproxeno, piroxicam etc.), nas doses usuais. Se não houver melhora em 2 ou 3 dias, inicia-se o uso de um glicocorticoide. Glicocorticoides: indicados nos casos com dor refratária aos anti-inflamatórios não hormonais. O alívio dos sintomas ocorre nas primeiras 24 a 48 horas. Caso contrário, o diagnóstico deve ser questionado. Em geral, emprega-se a prednisona, na dose inicialde 40 a 60 mg/dia, ou um outro glicocorticoide, em dose equivalente, com diminuição gradual durante 4 a 6 semanas (iniciar 1 semana após o desaparecimento da dor e da hipersensibilidade local). Em caso de recidiva ou agravamento da dor, a dose da prednisona deve ser aumentada, e, posteriormente, deve-se tentar uma nova redução gradual. Cirurgia: Tireoidectomia pode ocasionalmente ser necessária nos casos de tireoidite dolorosa não responsiva aos glicocorticoides. 2. Controle dos sintomas de hipertireoidismo Betabloqueadores: Representam a melhor opção. Mais comumente, usa-se o propranolol, cuja dose habitual é de 40 mg, 2 a 4 vezes/dia. Antitireoidianos de síntese (metimazol, propiltiouracil): Não são indicados porque não há síntese hormonal excessiva, e sim liberação demasiada dos hormônios estocados dentro da glândula. 3. Controle do hipotireoidismo L-tiroxina (L-T4): A maioria dos pacientes com hipotireoidismo têm sintomas leves e não requerem tratamento. Nos casos mais graves ou mais sintomáticos, administram-se 50 ou 100 μg/dia de L-T4 por 6 a 8 semanas. A medicação deve então ser descontinuada, com nova avaliação da função tireoidiana após 4 a 6 semanas, para se certificar se o hipotireoidismo é permanente ou não. AIT – Tratamento: pode ter resolução espontânea em cerca de 20% dos casos. Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 15 Como na AIT-1 existem excessivas síntese e liberação de hormônios tireoidianos, seu tratamento de escolha são as tionamidas em doses elevadas (20 a 40 mg/dia de metimazol ou 400 a 600 mg/dia de propiltiouracil). Perclorato de potássio (KClO4) pode também ser usado para aumentar a sensibilidade da glândula às tionamidas por bloqueio da captação de iodo na tireoide. Deve ser utilizado por um máximo de 30 dias, em uma dose diária < 1 g/dia, visto que, especialmente em doses mais elevadas, está associado a aplasia medular. Quando os hormônios tireoidianos normalizarem, o tratamento definitivo do hipertireoidismo deve ser considerado. Se a RAIU/24 h for suficiente (> 10%), o 131I pode ser usado. Cirurgia tireoidiana é uma boa alternativa. A terapia de escolha para a AIT-2 são os glicocorticoides. Um dos esquemas inclui a prednisona, na dose inicial de 0,5 a 0,7 mg/kg/dia, sendo o tratamento geralmente continuado durante 3 meses. Se agravamento da tireotoxicose ocorrer durante a redução da medicação ou sua suspensão, a dose deve ser aumentada novamente, ou a prednisona, reinstituída. Tionamidas não são geralmente úteis na AIT-2. Para os pacientes com hipertireoidismo persistente, a tireoidectomia total é a escolha ideal. No preparo para a cirurgia, pode-se empregar a associação do ácido iopanoico (se disponível no mercado), propiltiouracil (reduz a conversão periférica de T4 em T3), um glicocorticoide (reduz a conversão periférica de T4 em T3, bem como a secreção de T3 e T4), e um betabloqueador. Diante de contraindicação para cirurgia, pode-se eventualmente lançar mão do 131I. Caso a tireotoxicose venha a piorar após um controle inicial de uma aparente AIT-1, deve-se considerar a existência de uma forma mista de AIT e adicionar a corticoterapia. A adição do carbonato de lítio, em pequenas doses e por curto período (p. ex., 600 mg/dia durante 4 semanas), pode ocasionalmente ser eficaz nos casos não responsivos à combinação de tionamida e corticoterapia. TSH baixo com T3 e T4 normais. 0,7 a 1% da população. Etiologias: Doença de Graves, BMNT (principal causa em idosos), adenoma tóxico, outros. Consequências: Aumento no risco de fibrilação atrial, taquiarritmias, descompensações de ICC, osteoporose e sintomas de hipertireoidismo. Conduta: O exame deve ser repetido em 3 a 6 meses. Muitos pacientes entram em remissão espontaneamente, sobretudo se o TSH estiver > 0,05 mUI/ℓ Se o paciente mantiver TSH < 0,10 mUI/ℓ, deve- se considerar tratamento do hipertireoidismo subclínico se houver: 65 anos Cardiopatias, arritmias ou fatores de risco para cardiopatia Mulheres pós-menopausa em risco de osteoporose, sem uso de bisfosfonatos ou terapia de reposição hormonal, ou já com diagnóstico de osteoporose Sintomas de hipertireoidismo. Ainda não há evidências sobre os benefícios do tratamento do hipertireoidismo subclínico em pacientes com < 65 anos sem comorbidades e em mulheres pré-menopausa. Também não há consenso sobre tratar ou não o hipertireoidismo subclínico quando o TSH estiver em 0,1 a 0,5. A RIT seria uma boa alternativa para idosos com BMNT. As tionamidas podem ser consideradas em jovens com doença de Graves (maior chance de remissão) e a cirurgia deve ser considerada se houver sintomas compressivos ou risco de malignidade. Usam-se os betabloqueadores, se houver sintomas de hipertireoidismo. Situação clínica grave, causada pelo excesso de hormônios tireoidianos circulantes, que resulta em uma rica sintomatologia nos sistemas cardiovascular, gastrintestinal, neurológico e hepático. Seu diagnóstico é feito de acordo com uma pontuação na escala de Burch e Wartofsky, que considera os seguintes parâmetros: temperatura, frequência cardíaca, presença ou não de fibrilação atrial e ICC, disfunção hepática ou gastrintestinal, disfunção de sistema nervoso central e presença de fator precipitante. Larissa Gusmão Guimarães | Endocrinologia (P8) 16 Geralmente ocorre em paciente que interrompe o uso das medicações ou tem algum fator precipitante, como cirurgia, infecção, doença aguda, estresse agudo, RIT, exposição a grande quantidade de iodo etc. Tratamento PTU 500 a 1.000 mg VO em bolus + 200 a 400 mg VO a cada 4 a 6 h; ou MMZ 80 mg VO em bolus + 20 mg VO a cada 4 a 6 h (não bloqueia a deiodinase tipo 1) Lugol 5 gotas VO, 6/6 h. Iniciar 1 h após a ingestão: da tionamida, para evitar fornecer mais substrato à síntese de hormônio tireoidiano: Bloqueia a síntese do hormônio, Bloqueia a liberação do hormônio formado; ou iodeto de potássio, 1 gota a cada 6 a 8 h Propranolol, 60 a 80 mg VO, 4/4 h: Melhora os sintomas adrenérgicos, Bloqueia com deiodinase tipo 1; ou atenolol, 50 a 200 mg/dia Hidrocortisona 300 mg IV + 100 mg IV 8/8 h: Bloqueia a deiodinase tipo 1, Previne a insuficiência adrenal secundária; ou dexametasona 2 mg IV, 6/6 h Suportes volêmico, respiratório, pressórico, antitérmico etc. Suporte intensivo Evitar o uso de ácido acetilsalicílico (AAS), pois aumenta a fração de hormônios tireoidianos livres O Consenso Brasileiro recomenda a oferta nestas situações de multiviamínicos, particularmente a tiamina Casos extremos: plasmaférese e colestiramina, para reduzir a circulação êntero-hepática dos hormônios tireoidianos. Tabela 61.1 Índice de Burch e Wartofsky para crise tireotóxica. Temperatura (°C) Pontos Taquicardia (bpm) Pontos 37,2 a 37,7 5 100 a 109 5 37,8 a 38,3 10 110 a 119 10 38,4 a 38,8 15 120 a 129 15 38,8 a 39,4 20 130 a 139 20 39,5 a 39,9 25 ≥ 140 25 ≥ 40 30 Alterações do sistema nervoso central Pontos Insuficiência cardíaca Pontos Ausente 0 Ausente 0 Leve: agitação 10 Leve: edema de membros inferiores 5 Moderada: delirium, psicose 20 Moderada: congestão pulmonar 10 Grave: convulsão, coma 30 Grave: edema agudo de pulmão 15 Disfunção do trato gastrintestinal Pontos Fibrilação atrial Pontos Ausente 0 Ausente 0 Moderada: diarreia, náuseas, vômitos, dor 10 Presente 10 Grave: icterícia 20 Fator precipitante Pontos Ausente 0 Presente 10 Escore < 25 pontos: crise tireotóxica improvável 25 a 44 pontos: crise tireotóxica possível ≥ 45 pontos: crise tireotóxica
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