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DIREITO ADMINISTRATIVO - FERNANDA MARINELA 
AULA IX – 24.02.2021 
 
 
PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
1. Conceito 
Os poderes da Administração Pública são prerrogativas que a ordem 
jurídica reconhece à Administração Pública para sobrepor a vontade 
individual sobre bem-estar coletivo. 
✓ Como ensina Celso Antônio Bandeira de Mello: “quem quer os fins 
oferece os meios”. Se a ordem jurídica impôs à Administração o dever de 
salvaguardar o interesse público, ela deve oferecer os meios para a 
consecução desse objetivo. A doutrina enfatiza a diferença dos poderes 
constitucionais e dos poderes administrativos. 
✓ Os poderes constitucionais compõem a estrutura organizacional do 
Estado. Os poderes constitucionais têm natureza orgânica. São órgãos 
que compõem a estrutura constitucional do Estado (Poderes Executivo, 
Legislativo e Judiciário). 
✓ Os poderes administrativos são instrumentais, pois eles 
instrumentalizam (são meios) a realização do interesse público. 
2. Fundamento 
O fundamento é o princípio da supremacia do interesse público sobre o 
interesse particular. 
3. Uso e abuso de poder 
A doutrina sempre distinguiu o uso do poder e o abuso de poder. 
✓ O uso do poder é a utilização das prerrogativas públicas para realizar 
o bem comum, dentro do devido processo legal. Quando a autoridade 
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utiliza seus poderes para atingir o bem comum, observado o devido 
processo legal, tem-se o uso regular do poder. 
✓ Entretanto, se as prerrogativas públicas são utilizadas em 
desconformidade com o ordenamento jurídico, tem-se o abuso de poder. 
O CTN, no art. 78, conceitua poder de polícia e, em seu parágrafo único, 
define quando um poder é exercido de forma regular. 
CTN, art. 78, § único: “(...) Parágrafo único. 
Considera-se regular o exercício do poder de 
polícia quando desempenhado pelo órgão 
competente nos limites da lei aplicável, com 
observância do processo legal e, tratando-se 
de atividade que a lei tenha como 
discricionária, sem abuso ou desvio de 
poder.” 
✓ Observação: o disposto no parágrafo único do art. 78 é fundamento 
para o exercício de qualquer poder (e não apenas para o poder de polícia). 
O abuso de poder é o exercício ilegal de prerrogativas públicas. A doutrina 
divide o abuso de poder em duas vertentes: 
• Excesso de poder; 
• Desvio de poder. 
A. Excesso de Poder 
O excesso de poder ocorre sempre que a autoridade exorbita as suas 
atribuições legais. O agente público, nesse caso, age além de suas 
atribuições. 
✓ Trata-se de vício na competência do ato. Exemplo: aplicação de 
penalidades disciplinares (art. 141, I, Lei 8112/90). Imagine que, no caso 
concreto, após regular processo administrativo, o ato de demissão seja 
de competência do Presidente da República. Se outra autoridade pratica 
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o ato de demissão, a autoridade agirá com excesso de poder e o ato será 
ilegal. 
Lei 4717/1965, art. 2º, § único, “a”: “(...) a) 
a incompetência fica caracterizada quando 
o ato não se incluir nas atribuições legais do 
agente que o praticou.” 
O abuso de poder se divide em: 
• Excesso de poder – vício de competência. 
• Desvio de poder (ou desvio de finalidade). 
B. Desvio de Poder 
O desvio de poder ocorre quando o agente público pratica o ato visando 
a outro fim, que não o descrito em lei. Lei 4717/1965, art. 2º, § único, 
“e”: “(...) (...) e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica 
o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, 
na regra de competência.” 
Importante: O desvio de finalidade comporta duas hipóteses.3 
O ato administrativo é a declaração de vontade do Estado. Este ato tem 
5 elementos: sujeito, forma, objeto, motivo e finalidade. 
✓ Sujeito é o agente competente para declarar a vontade. 
✓ Forma é o meio pelo qual o ato se exterioriza. 
✓ Objeto é o resultado jurídico produzido pelo ato. 
✓ Motivo é o fato/direito que enseja a prática do ato. 
✓ Finalidade é o objetivo do ato, descrito pela lei. Perceba que a finalidade 
é um dos elementos do ato administrativo e possui um sentido amplo e 
um sentido estrito. 
✓ Em sentido amplo, a finalidade é o interesse público. 
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✓ Em sentido estrito, a finalidade é o efeito jurídico mediato que a lei 
descreve para o ato. 
Exemplo 1: em sentido estrito, a finalidade da demissão é punir o servidor 
público que cometeu falta grave. 
Exemplo 2: em sentido estrito, a finalidade do tombamento é conservar o 
bem vinculado ao patrimônio cultural brasileiro. 
Exemplo 3: em sentido estrito, a finalidade de uma remoção ex officio é 
atender a necessidade do serviço público. 
Atenção: é possível haver desvio de finalidade em ambos os casos 
(finalidade em sentido amplo e em sentido estrito). 
Exemplos: 
1º) O Presidente da República nomeia pessoa para ser Ministro da Casa 
Civil com a intenção de atribuir a essa pessoa o foro por prerrogativa de 
função. A nomeação de ministro é discricionária. 
✓ Finalidade em sentido estrito: preencher o cargo. 
✓ Finalidade em sentido amplo: atender ao interesse público. 
Quando a Presidente da República nomeia pessoa para ser Ministro da 
Casa Civil, o ato preenche a finalidade prevista em lei. Entretanto, no 
exemplo dado, embora o ato de nomeação cumprisse a finalidade em 
sentido estrito, o ato não cumpre a finalidade em sentido amplo, pois a 
nomeação visava a outro fim (que não o interesse público). 
2º) O superintendente da polícia federal no Rio de Janeiro possui 50 
subordinados. Um desses subordinados é um delegado da polícia federal 
muito insubordinado, que dá “carteirada” e prejudica a imagem da PF. 
Paralelamente a isso, o diretor da polícia federal pede que o 
superintendente da polícia federal no Rio de Janeiro indique e ceda um 
delegado para atuar na fronteira do Pará. Diante de toda a situação 
exposta, o superintendente da polícia federal no Rio de Janeiro indica o 
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delegado insubordinado para ser removido “ex officio”. Este ato é feito 
como punição ao servidor. 
Neste exemplo, o superintendente da polícia federal no Rio de Janeiro 
usou o ato administrativo para atingir outro fim diferente do descrito em 
lei. Assim sendo, a finalidade em sentido estrito sofreu desvio. 
✓ Ainda que o interesse público (em sentido amplo) tenha sido 
alcançado, o ato foi ilegal, porque ele teve outro fim diferente do descrito 
em lei. 
Atenção: o exemplo de desvio de finalidade por remoção ex officio está 
nas doutrinas. Este exemplo considera a lei federal como parâmetro. 
Contudo, o aluno não pode esquecer que a finalidade do ato é definida 
pela lei e há leis federais, estaduais, municipais e distritais. Portanto, 
para aferir o desvio de finalidade em sentido estrito, deve-se analisar a lei 
em questão. 
✓ Se a lei prevê a possibilidade de remoção para fins disciplinares, não 
se trata de desvio de finalidade. 
4. Modalidades de poderes da Administração 
Cada doutrina aborda este tema de uma forma. Assim sendo, o professor 
considerou como ponto de partida a doutrina de Hely Lopes Meirelles, a 
partir da qual as reflexões sobre o tema foram feitas. 
Tradicionalmente, a doutrina aponta os seguintes poderes 
administrativos: 
A. Poder Vinculado e Poder Discricionário. 
B. Poder Disciplinar 
C. Poder Hierárquico 
D. Poder Regulamentar 
E. Poder de Polícia 
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A doutrina tradicional (Hely Lopes Meirelles) dizia que, se a 
Administração tem liberdade para decidir, o poder é discricionário. Se ela 
não tem essa liberdade, o poder é vinculado. Se a Administração tem 
poder para ordenar a atuação da Administração, o poder é hierárquico. 
Se a Administração tem poder para punir pessoas que se submetem à 
sua autoridade interna, o poder é disciplinar. Se ela tem poder para editar 
atos gerais e abstratos complementares à lei, o poder é regulamentar. Se 
ela tem poder para restringir direitos e liberdadesindividuais em favor do 
bem comum, o poder é de polícia. 
A doutrina moderna, entretanto, propõe mudanças nessa classificação. 
5. Poder vinculado e poder discricionário 
A classificação dos poderes entre poder vinculado e poder discricionário 
parte de apenas um critério: a liberdade que a lei reconhece à 
administração para decidir (análise do binômio oportunidade e 
conveniência) ou a ausência dessa liberdade. 
✓ Se a autoridade tem liberdade para decidir, o poder é discricionário. 
✓ Se a autoridade não tem liberdade para decidir, o poder é vinculado. 
No poder discricionário, a decisão é administrativa, pois o legislador 
descreveu a lei de modo a reservar à Administração a competência para 
interpretá-la e decidir com base em oportunidade e conveniência. 
Exemplo: autorização para utilizar um parque municipal para fazer um 
show. A autoridade decidirá, a partir de critérios de conveniência e 
oportunidade, se a autorização será concedida. Trata-se de poder 
discricionário. 
No poder vinculado, a decisão é legislativa, pois o legislador descreve a 
lei de tal maneira que não deixa liberdade decisória para a autoridade. 
Exemplo: a licença para construir é emitida a partir do preenchimento de 
alguns requisitos. Se os requisitos estiverem preenchidos, a autoridade 
deve conceder a licença. Trata-se de poder vinculado. 
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OBS: considerações doutrinárias 
A doutrina moderna entende que não existe poder vinculado nem poder 
discricionário como poderes autônomos. O que existe, segundo a 
doutrina moderna, é a discricionariedade e a vinculação como 
características (atributos) de outros poderes. 
✓ Maria Sylvia Zanella Di Pietro destaca que, se não há liberdade para 
decidir algo (denominado de poder vinculado pela doutrina tradicional), 
não se trata de um poder. 
✓ O poder vinculado é muito mais uma restrição do que um poder. Em 
suma: o que a doutrina tradicional sempre chamou de poder 
discricionário e poder vinculado é tratado pela doutrina moderna como 
discricionariedade e vinculação. 
6. Poder disciplinar 
A. Conceito: é a prerrogativa da Administração Pública para apurar 
infrações e aplicar penalidades às pessoas que estão submetidas à 
autoridade interna da Administração, sejam servidores públicos ou não. 
✓ O poder disciplinar não alcança toda a coletividade, ou seja, não 
alcança todos os administrados, mas somente os sujeitos submetidos ao 
poder interno da administração. 
Exemplo 1: os servidores públicos possuem vínculo com a Administração 
Pública e, portanto, estão submetidas ao seu poder interno. 
Exemplo 2: o contratado para exercer obras públicas se submete à 
disciplina administrativa nos termos do contrato celebrado. 
Exemplo 3: aluno de universidade federal (autarquia) se submete à 
disciplina administrativa. Se as regras administrativas da universidade 
forem transgredidas, o aluno será punido. 
✓ O que legitima o poder disciplinar é a existência de um vínculo de 
sujeição entre Administração e administrado. 
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B. Principal característica: Segundo a doutrina, a principal 
característica do poder disciplinar é a discricionariedade, ou seja, a 
Administração tem liberdade para decidir acerca das penalidades 
disciplinares. 
Obs.: o poder discricionário é o poder para: 
• Investigar – é sempre vinculado (pois há dever de investigar). Obs.: os 
poderes da Administração não são meras faculdades, pois, mais do que 
um poder de agir, há um dever de atuar. 
• Punir: 
a) Se a lei fixar apenas uma penalidade, o poder disciplinar será 
vinculado. Exemplo: a Lei 8112/90, no art. 132, IV, afirma que o servidor 
que comete improbidade será demitido. 
b) Se a lei não fixar uma única penalidade cabível, o poder disciplinar 
será discricionário. 
Atenção: o professor destaca que, de forma descontextualizada (apesar 
da divisão acima), a principal característica do poder disciplinar é a 
discricionariedade. 
✓ A discricionariedade está no modo de exercer o poder disciplinar. 
✓ A discricionariedade, no poder disciplinar, não está na escolha entre 
investigar ou não investigar, mas na aplicação da penalidade quando a 
lei não fixa um único modo possível. 
C. Meios de exercício do Poder Disciplinar em face de SERVIDORES 
PÚBLICOS: O poder disciplinar alcança servidores e não servidores. 
Entretanto, nesse tópico, será tratado apenas em face dos servidores 
públicos. 
Lembrando: A lei federal vale para a União. Leis estaduais são válidas no 
âmbito estadual. Leis municipais, por sua vez, são válidas em nível 
municipal. Assim, é necessário verificar quais meios a lei federal 
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estabelece para exercer poder disciplinar em face de servidor federal. É 
necessário verificar quais meios a lei estadual estabelece para exercer 
poder disciplinar em face de servidor estadual e assim respectivamente. 
Há três meios previstos: sindicância, PAD e verdade sabida. 
1º Sindicância: é procedimento administrativo. Pode ser: 
• Inquisitória • Contraditória 
Inquisitória é a sindicância que visa apenas a investigar (não gera 
punição), não se fazendo necessário o exercício do direito de defesa. Neste 
caso, somente se apura a existência de ilegalidade. Ela não gera punições 
e, portanto, não precisa garantir o contraditório e a ampla defesa. 
Exemplo: sindicância patrimonial. 
Quando a pessoa toma posse em cargo público, ela deve declarar seus 
bens. Nesse momento, a Administração obtém os dados necessários para, 
posteriormente, acompanhar a evolução patrimonial do servidor. Imagine 
que “A”, servidor público, depois de algum tempo de exercício, começa a 
demonstrar sinais de riqueza incompatível com a renda auferida no 
serviço público. 
Neste caso, a Administração investigará a evolução patrimonial (sem 
acusar o servidor). Imagine, por exemplo, que o servidor ganhou na 
loteria, casou-se com uma pessoa muito rica ou herdou uma grande 
herança. Nessa situação, arquiva-se a sindicância. Se, entretanto, for 
constatado o enriquecimento ilícito do servidor, a sindicância será 
encerrada e uma cópia dos autos dessa sindicância será remetida aos 
órgãos competentes. 
Contraditória é a sindicância que visa a investigar e punir o servidor por 
cometimento de falta considerada leve pela legislação. Neste caso, deve 
haver o devido processo legal e a ampla defesa, pois desse procedimento 
resultará uma punição. 
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Lei 8.112/1990, art. 145: “Da sindicância 
poderá resultar: I - arquivamento do 
processo; II - aplicação de penalidade de 
advertência ou suspensão de até 30 dias; III 
- instauração de processo disciplinar.” 
✓ Da sindicância, podem resultar três consequências: arquivamento do 
processo, aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 
dias ou instauração de processo disciplinar. 
✓ A sindicância será resultará em processo administrativo disciplinar 
quando, da investigação dos fatos, a Administração verificar que tais 
fatos constituem falta grave. 
✓ A sindicância é procedimento independentemente do processo 
administrativo disciplinar. Assim, se é possível saber que o servidor pode 
ter cometido falta grave, a Administração pode abrir diretamente um 
PAD. 
2º. Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) 
É procedimento administrativo que visa a investigar e punir falta grave. 
✓ São consideradas graves as infrações punidas com suspensão por mais 
de 30 dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, 
ou destituição de cargo em comissão. 
Lei 8.112/1990, art. 146: “Sempre que o 
ilícito praticado pelo servidor ensejar a 
imposição de penalidade de suspensão por 
mais de 30 (trinta) dias, de demissão, 
cassação de aposentadoria ou 
disponibilidade, ou destituição de cargo em 
comissão, será obrigatória a instauração de 
processo disciplinar.” 
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Observações: cargo efetivo é aquele cujo provimento depende de 
concurso. Cargo em comissão é de livre nomeaçãoe de livre exoneração. 
✓ Se o servidor ocupa cargo efetivo e comete falta grave, ele pode ser 
demitido após regular procedimento administrativo. 
✓ Se o servidor ocupa cargo em comissão e comete falta grave, ele pode 
ser destituído após regular procedimento administrativo. 
✓ Exoneração não é ato punitivo, não é ato disciplinar e, portanto, não 
depende de PAD. Servidor exonerado não descumpriu a lei e não cometeu 
falta grave. 
✓ Se o servidor que ocupa cargo efetivo comete falta grave e, 
posteriormente, se aposenta, sua aposentadoria pode ser cassada ou sua 
disponibilidade pode ser cassada (a depender do caso). 
✓ No caso de cargo em comissão, a aposentadoria ocorre pelo regime 
geral de previdência social (INSS). Neste caso, não há disponibilidade nem 
cassação, mas destituição. 
Quem define o procedimento da sindicância e do PAD é a lei de cada ente 
federativo. Entretanto, aqui serão delineados os procedimentos básicos 
(dinâmica) do PAD: 
✓ O procedimento do PAD começa com um ato administrativo feito pela 
autoridade máxima do órgão. Normalmente, este ato é chamado de 
portaria. 
✓ A portaria indica o investigado e a comissão criada para conduzir o 
procedimento. 
✓ A comissão assume todos os trabalhos para garantir o devido processo 
legal (notificação do servidor, fixação de prazos, realização de oitivas etc.). 
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✓ Após realizada a instrução processual, a comissão elabora um relatório 
conclusivo, apontando se o fato ocorreu ou não, indicando ainda se o 
servidor concorreu para tal. A comissão irá sugerir a penalidade. 
✓ O relatório será devolvido à autoridade e, com base nesse documento, 
a autoridade decidirá e aplicará (ou não) a penalidade. 
3º Verdade Sabida: A verdade sabida é procedimento que consiste na 
aplicação imediata da penalidade, pois a autoridade toma conhecimento 
direto e imediato do fato. 
✓ Neste caso, a autoridade máxima toma conhecimento direto do fato. 
Exemplo: imagine que lei preveja que o servidor será demitido 
sumariamente por abandono de cargo. Este se caracteriza quando há 30 
dias consecutivos de ausência não justificada ou 90 dias alternados ao 
longo do ano. Se a autoridade competente toma conhecimento desse fato 
e demite sumariamente o servidor, isso se chama verdade sabida. 
Questão: é admitida a verdade sabida diante da CF/1988? Não. A CF 
exige, no art. 5º, LV, o devido processo legal nos procedimentos 
administrativos e judiciais (a verdade sabida não foi recepcionada pela 
CF/1988). 
Jurisprudência sobre poder disciplinar: 
Súmula 343 do STJ “É obrigatória a presença de advogado em todas as 
fases do processo administrativo disciplinar.” 
Súmula Vinculante 5 “A falta de defesa técnica por advogado no 
processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.” 
✓ Atenção: é necessário ter cuidado, pois a Súmula 343 do STJ não foi 
expressamente cancelada. 
ARE 691306 “É possível a exclusão, em processo administrativo, de 
policial militar que comete faltas disciplinares, independentemente do 
curso de ação penal instaurada em razão da mesma conduta.” 
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✓ O Direito Administrativo é um só e vale para servidores civis e 
militares, ressalvadas as características peculiares dos militares. 
➢ Jurisprudência consolidada do STJ: 
STJ: É possível a instauração de processo administrativo com base em 
denúncia anônima. 
STJ: Instaurado o competente processo administrativo disciplinar, fica 
superado o exame de eventuais irregularidades ocorridas durante a 
sindicância. 
STJ: O excesso de prazo para conclusão do processo administrativo 
disciplinar não conduz à sua nulidade automática, devendo, para tanto, 
ser demonstrado o prejuízo para a defesa. 
STJ: A decretação de nulidade no processo administrativo depende da 
demonstração do efetivo prejuízo para as partes, à luz do princípio pas 
de nullité sans grief. 
✓ Não há nulidade sem prejuízo. 
STJ: A autoridade administrativa pode aplicar a pena de demissão 
quando, em processo administrativo disciplinar, é apurada a prática de 
ato de improbidade por servidor público, tendo em vista a independência 
das instâncias civil, penal e administrativa. 
STJ: O termo inicial do prazo prescricional em processo administrativo 
disciplinar começa a correr da data em que o fato se tornou conhecido 
pela Administração, conforme prevê o art. 142, § 1º, da Lei 8.112/90. 
✓ No poder disciplinar, o prazo é contado a partir do dia em que o fato 
se tornou conhecido pela Administração. 
✓ O prazo para a instauração do procedimento disciplinar não se dá do 
dia em que o fato ocorreu. 
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STJ: O prazo da prescrição no âmbito administrativo disciplinar, havendo 
sentença penal condenatória, deve ser computado pela pena em concreto 
aplicada na esfera penal. 
STJ: Quando o fato objeto da ação punitiva da administração também 
constituir crime e enquanto não houver sentença penal condenatória 
transitada em julgado, a prescrição do poder disciplinar reger-se-á pelo 
prazo previsto na lei penal para pena cominada em abstrato. 
STJ: É possível haver discrepância entre a penalidade sugerida pela 
comissão disciplinar e a aplicada pela autoridade julgadora desde que a 
conclusão lançada no relatório final não guarde sintonia com as provas 
dos autos e a sanção imposta esteja devidamente motivada. 
STJ: A portaria de instauração do processo disciplinar prescinde de 
minuciosa descrição dos fatos imputados, sendo certo que a exposição 
pormenorizada dos acontecimentos se mostra necessária somente 
quando do indiciamento do servidor. STJ: O prazo prescricional 
interrompido com a abertura do Processo Administrativo Disciplinar - 
PAD voltará a correr por inteiro após 140 dias, uma vez que esse é o prazo 
legal para o encerramento do procedimento. STJ: No Processo 
Administrativo Disciplinar PAD, a alteração da capitulação legal 
imputada ao acusado não enseja nulidade, uma vez que o indiciado se 
defende dos fatos nele descritos e não dos enquadramentos legais. STJ: 
Da revisão do Processo Administrativo Disciplinar - PAD não poderá 
resultar agravamento da sanção aplicada, em virtude da proibição do bis 
in idem e do reformatio in pejus. 
STJ: Da revisão do Processo Administrativo Disciplinar - PAD não poderá 
resultar agravamento da sanção aplicada, em virtude da proibição do bis 
in idem e do reformatio in pejus. 
STJ: A Lei n. 8.112/1990 pode ser aplicada de modo supletivo aos 
procedimentos administrativos disciplinares estaduais, nas hipóteses em 
que existam lacunas nas leis locais que regem os servidores públicos. 
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STJ: As alegações de imparcialidade e de suspeição de membro da 
comissão processante devem estar fundadas em provas, não bastando 
meras conjecturas ou suposições desprovidas de qualquer comprovação. 
STJ: A imparcialidade de membro de comissão não fica prejudicada tão 
somente por este compor mais de uma comissão processante instituída 
para apuração de fatos distintos que envolvam o mesmo servidor. 
STJ: A simples oitiva de membro da comissão processante, de autoridade 
julgadora ou de autoridade instauradora como testemunha ou como 
informante no bojo de outro processo administrativo ou até mesmo penal 
que envolva o investigado não enseja, por si só, o reconhecimento da 
quebra da imparcialidade. 
STJ: Na composição de comissão de processo administrativo disciplinar, 
é possível a designação de servidores lotados em órgão diverso daquele 
em que atua o servidor investigado, não existindo óbice nas legislações 
que disciplinam a apuração das infrações funcionais. 
STJ: Em regra, a instauração de processo administrativo disciplinar 
contra servidor efetivo cedido dar-se-á no órgão em que tenha sido 
praticada a suposta irregularidade (cessionário), devendo o julgamento e 
a eventual aplicação de sanção ocorrer no órgão ao qual o servidor efetivo 
estiver vinculado (cedente). 
STJ: A participação de membrodo Ministério Público em conselho da 
Polícia Civil torna nulo o procedimento administrativo disciplinar 
instaurado para processar e para julgar servidor público estadual por 
prática de ato infracional. 
STJ: A designação de comissão temporária para promover processo 
administrativo disciplinar é legítima, nos termos da Lei n. 8.112/1990, 
já que a existência de comissão permanente para a apuração de faltas 
funcionais só é exigida para os casos determinados em lei. 
STJ: A designação de comissão temporária para promover processo 
administrativo disciplinar contra servidor policial federal viola os 
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princípios do juiz natural e da legalidade, a teor da Lei n. 4.878/1965, 
que exige a condução do procedimento por comissão permanente de 
disciplina. incursão no mérito administrativo. 
STJ: A Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/1992) não 
revogou, de forma tácita ou expressa, os dispositivos da Lei n. 
8.112/1990, em relação aos processos administrativos disciplinares. 
STJ: O controle judicial no processo administrativo disciplinar - PAD 
restringe-se ao exame da regularidade do procedimento e da legalidade 
do ato, à luz dos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido 
processo legal, não sendo possível nenhuma incursão no mérito 
administrativo. 
STJ: Declarações prestadas à mídia por autoridade pública, acerca de 
irregularidades cometidas por servidores públicos a ela subordinados, 
não ensejam, por si só, a nulidade do PAD. 
STJ: A administração pública, quando se depara com situação em que a 
conduta do investigado se amolda às hipóteses de demissão ou de 
cassação de aposentadoria, não dispõe de discricionariedade para aplicar 
pena menos gravosa por se tratar de ato vinculado. 
STJ: Não há falar em ofensa ao princípio da proporcionalidade e da 
razoabilidade quando a única reprimenda prevista para a infração 
disciplinar apurada é a pena de demissão. 
STJ: Em caso de inobservância de prazo razoável para a conclusão de 
processo administrativo disciplinar, não há falar em ilegalidade na 
concessão de aposentadoria ao servidor investigado. 
STJ: O deferimento de provimento judicial que determine à autoridade 
administrativa que se abstenha de concluir procedimento administrativo 
disciplinar suspende o curso do prazo prescricional da pretensão 
punitiva administrativa. 
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STJ: É possível o imediato cumprimento da penalidade aplicada na 
conclusão de processo administrativo disciplinar, uma vez que os 
recursos administrativos e os pedidos de reconsideração, em regra, não 
possuem efeito suspensivo automático. 
STJ: Reconhecida a nulidade de PAD pela existência de vício insanável, 
antes do seu julgamento, não há que se falar em reformatio in pejus 
quando a segunda comissão processante opina por penalidade mais 
gravosa. 
STJ: Meras alegações de que existe fato novo não têm o condão de abrir 
a via da revisão do processo administrativo disciplinar, sendo 
indispensável a comprovação da existência de fatos novos, desconhecidos 
ao tempo do PAD. 
STJ: O mandado de segurança não é a via adequada para o exame da 
suficiência do conjunto fático-probatório constante do Processo 
Administrativo Disciplinar - PAD. 
STJ: Na via do mandado de segurança, é possível valorar a congruência 
entre a conduta apurada e a capitulação da pena de demissão aplicada 
no processo administrativo disciplinar. 
STJ: É cabível recurso administrativo hierárquico em face de decisão 
prolatada em Processo Administrativo Disciplinar - PAD. 
STJ: A demonstração do ânimo específico de abandonar o cargo público 
que ocupa (animus abandonandi) é necessária para tipificar conduta de 
servidor como prática de infração administrativa de abandono de cargo. 
STJ: A ausência de termo de compromisso de membro de comissão 
processante não implica nulidade do PAD, uma vez que tal designação 
decorre de lei e recai, necessariamente, sobre servidor público, cujos atos 
funcionais gozam de presunção de legitimidade e de veracidade. 
STJ: É inadmissível segunda punição de servidor público, baseada no 
mesmo processo em que se fundou a primeira. (Súmula 19/STF) 
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STJ: É possível utilizar a Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 
8.492/1992), em interpretação sistemática, para definir o tipo previsto 
no art. 132, IV, da Lei n. 8.112/1990 e justificar a aplicação de pena de 
demissão a servidor. 
STJ: Na esfera administrativa, o proveito econômico auferido pelo 
servidor é irrelevante para a aplicação da penalidade no processo 
disciplinar, pois o ato de demissão é vinculado (art. 117, c/c art. 132 da 
Lei 8112/1990), razão pela qual é despiciendo falar em razoabilidade ou 
proporcionalidade da pena. 
STJ: O fato de o acusado estar em licença para tratamento de saúde não 
impede a instauração de processo administrativo disciplinar, nem mesmo 
a aplicação de pena de demissão. 
STJ: A pena de cassação de aposentadoria prevista nos art. 127, IV e art. 
134 da Lei n. 8.112/1990 é constitucional e legal, inobstante o caráter 
contributivo do regime previdenciário.

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