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1 DIREITO ADMINISTRATIVO - FERNANDA MARINELA AULA IX – 24.02.2021 PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. Conceito Os poderes da Administração Pública são prerrogativas que a ordem jurídica reconhece à Administração Pública para sobrepor a vontade individual sobre bem-estar coletivo. ✓ Como ensina Celso Antônio Bandeira de Mello: “quem quer os fins oferece os meios”. Se a ordem jurídica impôs à Administração o dever de salvaguardar o interesse público, ela deve oferecer os meios para a consecução desse objetivo. A doutrina enfatiza a diferença dos poderes constitucionais e dos poderes administrativos. ✓ Os poderes constitucionais compõem a estrutura organizacional do Estado. Os poderes constitucionais têm natureza orgânica. São órgãos que compõem a estrutura constitucional do Estado (Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário). ✓ Os poderes administrativos são instrumentais, pois eles instrumentalizam (são meios) a realização do interesse público. 2. Fundamento O fundamento é o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse particular. 3. Uso e abuso de poder A doutrina sempre distinguiu o uso do poder e o abuso de poder. ✓ O uso do poder é a utilização das prerrogativas públicas para realizar o bem comum, dentro do devido processo legal. Quando a autoridade 2 utiliza seus poderes para atingir o bem comum, observado o devido processo legal, tem-se o uso regular do poder. ✓ Entretanto, se as prerrogativas públicas são utilizadas em desconformidade com o ordenamento jurídico, tem-se o abuso de poder. O CTN, no art. 78, conceitua poder de polícia e, em seu parágrafo único, define quando um poder é exercido de forma regular. CTN, art. 78, § único: “(...) Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.” ✓ Observação: o disposto no parágrafo único do art. 78 é fundamento para o exercício de qualquer poder (e não apenas para o poder de polícia). O abuso de poder é o exercício ilegal de prerrogativas públicas. A doutrina divide o abuso de poder em duas vertentes: • Excesso de poder; • Desvio de poder. A. Excesso de Poder O excesso de poder ocorre sempre que a autoridade exorbita as suas atribuições legais. O agente público, nesse caso, age além de suas atribuições. ✓ Trata-se de vício na competência do ato. Exemplo: aplicação de penalidades disciplinares (art. 141, I, Lei 8112/90). Imagine que, no caso concreto, após regular processo administrativo, o ato de demissão seja de competência do Presidente da República. Se outra autoridade pratica 3 o ato de demissão, a autoridade agirá com excesso de poder e o ato será ilegal. Lei 4717/1965, art. 2º, § único, “a”: “(...) a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou.” O abuso de poder se divide em: • Excesso de poder – vício de competência. • Desvio de poder (ou desvio de finalidade). B. Desvio de Poder O desvio de poder ocorre quando o agente público pratica o ato visando a outro fim, que não o descrito em lei. Lei 4717/1965, art. 2º, § único, “e”: “(...) (...) e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.” Importante: O desvio de finalidade comporta duas hipóteses.3 O ato administrativo é a declaração de vontade do Estado. Este ato tem 5 elementos: sujeito, forma, objeto, motivo e finalidade. ✓ Sujeito é o agente competente para declarar a vontade. ✓ Forma é o meio pelo qual o ato se exterioriza. ✓ Objeto é o resultado jurídico produzido pelo ato. ✓ Motivo é o fato/direito que enseja a prática do ato. ✓ Finalidade é o objetivo do ato, descrito pela lei. Perceba que a finalidade é um dos elementos do ato administrativo e possui um sentido amplo e um sentido estrito. ✓ Em sentido amplo, a finalidade é o interesse público. 4 ✓ Em sentido estrito, a finalidade é o efeito jurídico mediato que a lei descreve para o ato. Exemplo 1: em sentido estrito, a finalidade da demissão é punir o servidor público que cometeu falta grave. Exemplo 2: em sentido estrito, a finalidade do tombamento é conservar o bem vinculado ao patrimônio cultural brasileiro. Exemplo 3: em sentido estrito, a finalidade de uma remoção ex officio é atender a necessidade do serviço público. Atenção: é possível haver desvio de finalidade em ambos os casos (finalidade em sentido amplo e em sentido estrito). Exemplos: 1º) O Presidente da República nomeia pessoa para ser Ministro da Casa Civil com a intenção de atribuir a essa pessoa o foro por prerrogativa de função. A nomeação de ministro é discricionária. ✓ Finalidade em sentido estrito: preencher o cargo. ✓ Finalidade em sentido amplo: atender ao interesse público. Quando a Presidente da República nomeia pessoa para ser Ministro da Casa Civil, o ato preenche a finalidade prevista em lei. Entretanto, no exemplo dado, embora o ato de nomeação cumprisse a finalidade em sentido estrito, o ato não cumpre a finalidade em sentido amplo, pois a nomeação visava a outro fim (que não o interesse público). 2º) O superintendente da polícia federal no Rio de Janeiro possui 50 subordinados. Um desses subordinados é um delegado da polícia federal muito insubordinado, que dá “carteirada” e prejudica a imagem da PF. Paralelamente a isso, o diretor da polícia federal pede que o superintendente da polícia federal no Rio de Janeiro indique e ceda um delegado para atuar na fronteira do Pará. Diante de toda a situação exposta, o superintendente da polícia federal no Rio de Janeiro indica o 5 delegado insubordinado para ser removido “ex officio”. Este ato é feito como punição ao servidor. Neste exemplo, o superintendente da polícia federal no Rio de Janeiro usou o ato administrativo para atingir outro fim diferente do descrito em lei. Assim sendo, a finalidade em sentido estrito sofreu desvio. ✓ Ainda que o interesse público (em sentido amplo) tenha sido alcançado, o ato foi ilegal, porque ele teve outro fim diferente do descrito em lei. Atenção: o exemplo de desvio de finalidade por remoção ex officio está nas doutrinas. Este exemplo considera a lei federal como parâmetro. Contudo, o aluno não pode esquecer que a finalidade do ato é definida pela lei e há leis federais, estaduais, municipais e distritais. Portanto, para aferir o desvio de finalidade em sentido estrito, deve-se analisar a lei em questão. ✓ Se a lei prevê a possibilidade de remoção para fins disciplinares, não se trata de desvio de finalidade. 4. Modalidades de poderes da Administração Cada doutrina aborda este tema de uma forma. Assim sendo, o professor considerou como ponto de partida a doutrina de Hely Lopes Meirelles, a partir da qual as reflexões sobre o tema foram feitas. Tradicionalmente, a doutrina aponta os seguintes poderes administrativos: A. Poder Vinculado e Poder Discricionário. B. Poder Disciplinar C. Poder Hierárquico D. Poder Regulamentar E. Poder de Polícia 6 A doutrina tradicional (Hely Lopes Meirelles) dizia que, se a Administração tem liberdade para decidir, o poder é discricionário. Se ela não tem essa liberdade, o poder é vinculado. Se a Administração tem poder para ordenar a atuação da Administração, o poder é hierárquico. Se a Administração tem poder para punir pessoas que se submetem à sua autoridade interna, o poder é disciplinar. Se ela tem poder para editar atos gerais e abstratos complementares à lei, o poder é regulamentar. Se ela tem poder para restringir direitos e liberdadesindividuais em favor do bem comum, o poder é de polícia. A doutrina moderna, entretanto, propõe mudanças nessa classificação. 5. Poder vinculado e poder discricionário A classificação dos poderes entre poder vinculado e poder discricionário parte de apenas um critério: a liberdade que a lei reconhece à administração para decidir (análise do binômio oportunidade e conveniência) ou a ausência dessa liberdade. ✓ Se a autoridade tem liberdade para decidir, o poder é discricionário. ✓ Se a autoridade não tem liberdade para decidir, o poder é vinculado. No poder discricionário, a decisão é administrativa, pois o legislador descreveu a lei de modo a reservar à Administração a competência para interpretá-la e decidir com base em oportunidade e conveniência. Exemplo: autorização para utilizar um parque municipal para fazer um show. A autoridade decidirá, a partir de critérios de conveniência e oportunidade, se a autorização será concedida. Trata-se de poder discricionário. No poder vinculado, a decisão é legislativa, pois o legislador descreve a lei de tal maneira que não deixa liberdade decisória para a autoridade. Exemplo: a licença para construir é emitida a partir do preenchimento de alguns requisitos. Se os requisitos estiverem preenchidos, a autoridade deve conceder a licença. Trata-se de poder vinculado. 7 OBS: considerações doutrinárias A doutrina moderna entende que não existe poder vinculado nem poder discricionário como poderes autônomos. O que existe, segundo a doutrina moderna, é a discricionariedade e a vinculação como características (atributos) de outros poderes. ✓ Maria Sylvia Zanella Di Pietro destaca que, se não há liberdade para decidir algo (denominado de poder vinculado pela doutrina tradicional), não se trata de um poder. ✓ O poder vinculado é muito mais uma restrição do que um poder. Em suma: o que a doutrina tradicional sempre chamou de poder discricionário e poder vinculado é tratado pela doutrina moderna como discricionariedade e vinculação. 6. Poder disciplinar A. Conceito: é a prerrogativa da Administração Pública para apurar infrações e aplicar penalidades às pessoas que estão submetidas à autoridade interna da Administração, sejam servidores públicos ou não. ✓ O poder disciplinar não alcança toda a coletividade, ou seja, não alcança todos os administrados, mas somente os sujeitos submetidos ao poder interno da administração. Exemplo 1: os servidores públicos possuem vínculo com a Administração Pública e, portanto, estão submetidas ao seu poder interno. Exemplo 2: o contratado para exercer obras públicas se submete à disciplina administrativa nos termos do contrato celebrado. Exemplo 3: aluno de universidade federal (autarquia) se submete à disciplina administrativa. Se as regras administrativas da universidade forem transgredidas, o aluno será punido. ✓ O que legitima o poder disciplinar é a existência de um vínculo de sujeição entre Administração e administrado. 8 B. Principal característica: Segundo a doutrina, a principal característica do poder disciplinar é a discricionariedade, ou seja, a Administração tem liberdade para decidir acerca das penalidades disciplinares. Obs.: o poder discricionário é o poder para: • Investigar – é sempre vinculado (pois há dever de investigar). Obs.: os poderes da Administração não são meras faculdades, pois, mais do que um poder de agir, há um dever de atuar. • Punir: a) Se a lei fixar apenas uma penalidade, o poder disciplinar será vinculado. Exemplo: a Lei 8112/90, no art. 132, IV, afirma que o servidor que comete improbidade será demitido. b) Se a lei não fixar uma única penalidade cabível, o poder disciplinar será discricionário. Atenção: o professor destaca que, de forma descontextualizada (apesar da divisão acima), a principal característica do poder disciplinar é a discricionariedade. ✓ A discricionariedade está no modo de exercer o poder disciplinar. ✓ A discricionariedade, no poder disciplinar, não está na escolha entre investigar ou não investigar, mas na aplicação da penalidade quando a lei não fixa um único modo possível. C. Meios de exercício do Poder Disciplinar em face de SERVIDORES PÚBLICOS: O poder disciplinar alcança servidores e não servidores. Entretanto, nesse tópico, será tratado apenas em face dos servidores públicos. Lembrando: A lei federal vale para a União. Leis estaduais são válidas no âmbito estadual. Leis municipais, por sua vez, são válidas em nível municipal. Assim, é necessário verificar quais meios a lei federal 9 estabelece para exercer poder disciplinar em face de servidor federal. É necessário verificar quais meios a lei estadual estabelece para exercer poder disciplinar em face de servidor estadual e assim respectivamente. Há três meios previstos: sindicância, PAD e verdade sabida. 1º Sindicância: é procedimento administrativo. Pode ser: • Inquisitória • Contraditória Inquisitória é a sindicância que visa apenas a investigar (não gera punição), não se fazendo necessário o exercício do direito de defesa. Neste caso, somente se apura a existência de ilegalidade. Ela não gera punições e, portanto, não precisa garantir o contraditório e a ampla defesa. Exemplo: sindicância patrimonial. Quando a pessoa toma posse em cargo público, ela deve declarar seus bens. Nesse momento, a Administração obtém os dados necessários para, posteriormente, acompanhar a evolução patrimonial do servidor. Imagine que “A”, servidor público, depois de algum tempo de exercício, começa a demonstrar sinais de riqueza incompatível com a renda auferida no serviço público. Neste caso, a Administração investigará a evolução patrimonial (sem acusar o servidor). Imagine, por exemplo, que o servidor ganhou na loteria, casou-se com uma pessoa muito rica ou herdou uma grande herança. Nessa situação, arquiva-se a sindicância. Se, entretanto, for constatado o enriquecimento ilícito do servidor, a sindicância será encerrada e uma cópia dos autos dessa sindicância será remetida aos órgãos competentes. Contraditória é a sindicância que visa a investigar e punir o servidor por cometimento de falta considerada leve pela legislação. Neste caso, deve haver o devido processo legal e a ampla defesa, pois desse procedimento resultará uma punição. 10 Lei 8.112/1990, art. 145: “Da sindicância poderá resultar: I - arquivamento do processo; II - aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 dias; III - instauração de processo disciplinar.” ✓ Da sindicância, podem resultar três consequências: arquivamento do processo, aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 dias ou instauração de processo disciplinar. ✓ A sindicância será resultará em processo administrativo disciplinar quando, da investigação dos fatos, a Administração verificar que tais fatos constituem falta grave. ✓ A sindicância é procedimento independentemente do processo administrativo disciplinar. Assim, se é possível saber que o servidor pode ter cometido falta grave, a Administração pode abrir diretamente um PAD. 2º. Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) É procedimento administrativo que visa a investigar e punir falta grave. ✓ São consideradas graves as infrações punidas com suspensão por mais de 30 dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão. Lei 8.112/1990, art. 146: “Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de processo disciplinar.” 11 Observações: cargo efetivo é aquele cujo provimento depende de concurso. Cargo em comissão é de livre nomeaçãoe de livre exoneração. ✓ Se o servidor ocupa cargo efetivo e comete falta grave, ele pode ser demitido após regular procedimento administrativo. ✓ Se o servidor ocupa cargo em comissão e comete falta grave, ele pode ser destituído após regular procedimento administrativo. ✓ Exoneração não é ato punitivo, não é ato disciplinar e, portanto, não depende de PAD. Servidor exonerado não descumpriu a lei e não cometeu falta grave. ✓ Se o servidor que ocupa cargo efetivo comete falta grave e, posteriormente, se aposenta, sua aposentadoria pode ser cassada ou sua disponibilidade pode ser cassada (a depender do caso). ✓ No caso de cargo em comissão, a aposentadoria ocorre pelo regime geral de previdência social (INSS). Neste caso, não há disponibilidade nem cassação, mas destituição. Quem define o procedimento da sindicância e do PAD é a lei de cada ente federativo. Entretanto, aqui serão delineados os procedimentos básicos (dinâmica) do PAD: ✓ O procedimento do PAD começa com um ato administrativo feito pela autoridade máxima do órgão. Normalmente, este ato é chamado de portaria. ✓ A portaria indica o investigado e a comissão criada para conduzir o procedimento. ✓ A comissão assume todos os trabalhos para garantir o devido processo legal (notificação do servidor, fixação de prazos, realização de oitivas etc.). 12 ✓ Após realizada a instrução processual, a comissão elabora um relatório conclusivo, apontando se o fato ocorreu ou não, indicando ainda se o servidor concorreu para tal. A comissão irá sugerir a penalidade. ✓ O relatório será devolvido à autoridade e, com base nesse documento, a autoridade decidirá e aplicará (ou não) a penalidade. 3º Verdade Sabida: A verdade sabida é procedimento que consiste na aplicação imediata da penalidade, pois a autoridade toma conhecimento direto e imediato do fato. ✓ Neste caso, a autoridade máxima toma conhecimento direto do fato. Exemplo: imagine que lei preveja que o servidor será demitido sumariamente por abandono de cargo. Este se caracteriza quando há 30 dias consecutivos de ausência não justificada ou 90 dias alternados ao longo do ano. Se a autoridade competente toma conhecimento desse fato e demite sumariamente o servidor, isso se chama verdade sabida. Questão: é admitida a verdade sabida diante da CF/1988? Não. A CF exige, no art. 5º, LV, o devido processo legal nos procedimentos administrativos e judiciais (a verdade sabida não foi recepcionada pela CF/1988). Jurisprudência sobre poder disciplinar: Súmula 343 do STJ “É obrigatória a presença de advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar.” Súmula Vinculante 5 “A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.” ✓ Atenção: é necessário ter cuidado, pois a Súmula 343 do STJ não foi expressamente cancelada. ARE 691306 “É possível a exclusão, em processo administrativo, de policial militar que comete faltas disciplinares, independentemente do curso de ação penal instaurada em razão da mesma conduta.” 13 ✓ O Direito Administrativo é um só e vale para servidores civis e militares, ressalvadas as características peculiares dos militares. ➢ Jurisprudência consolidada do STJ: STJ: É possível a instauração de processo administrativo com base em denúncia anônima. STJ: Instaurado o competente processo administrativo disciplinar, fica superado o exame de eventuais irregularidades ocorridas durante a sindicância. STJ: O excesso de prazo para conclusão do processo administrativo disciplinar não conduz à sua nulidade automática, devendo, para tanto, ser demonstrado o prejuízo para a defesa. STJ: A decretação de nulidade no processo administrativo depende da demonstração do efetivo prejuízo para as partes, à luz do princípio pas de nullité sans grief. ✓ Não há nulidade sem prejuízo. STJ: A autoridade administrativa pode aplicar a pena de demissão quando, em processo administrativo disciplinar, é apurada a prática de ato de improbidade por servidor público, tendo em vista a independência das instâncias civil, penal e administrativa. STJ: O termo inicial do prazo prescricional em processo administrativo disciplinar começa a correr da data em que o fato se tornou conhecido pela Administração, conforme prevê o art. 142, § 1º, da Lei 8.112/90. ✓ No poder disciplinar, o prazo é contado a partir do dia em que o fato se tornou conhecido pela Administração. ✓ O prazo para a instauração do procedimento disciplinar não se dá do dia em que o fato ocorreu. 14 STJ: O prazo da prescrição no âmbito administrativo disciplinar, havendo sentença penal condenatória, deve ser computado pela pena em concreto aplicada na esfera penal. STJ: Quando o fato objeto da ação punitiva da administração também constituir crime e enquanto não houver sentença penal condenatória transitada em julgado, a prescrição do poder disciplinar reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal para pena cominada em abstrato. STJ: É possível haver discrepância entre a penalidade sugerida pela comissão disciplinar e a aplicada pela autoridade julgadora desde que a conclusão lançada no relatório final não guarde sintonia com as provas dos autos e a sanção imposta esteja devidamente motivada. STJ: A portaria de instauração do processo disciplinar prescinde de minuciosa descrição dos fatos imputados, sendo certo que a exposição pormenorizada dos acontecimentos se mostra necessária somente quando do indiciamento do servidor. STJ: O prazo prescricional interrompido com a abertura do Processo Administrativo Disciplinar - PAD voltará a correr por inteiro após 140 dias, uma vez que esse é o prazo legal para o encerramento do procedimento. STJ: No Processo Administrativo Disciplinar PAD, a alteração da capitulação legal imputada ao acusado não enseja nulidade, uma vez que o indiciado se defende dos fatos nele descritos e não dos enquadramentos legais. STJ: Da revisão do Processo Administrativo Disciplinar - PAD não poderá resultar agravamento da sanção aplicada, em virtude da proibição do bis in idem e do reformatio in pejus. STJ: Da revisão do Processo Administrativo Disciplinar - PAD não poderá resultar agravamento da sanção aplicada, em virtude da proibição do bis in idem e do reformatio in pejus. STJ: A Lei n. 8.112/1990 pode ser aplicada de modo supletivo aos procedimentos administrativos disciplinares estaduais, nas hipóteses em que existam lacunas nas leis locais que regem os servidores públicos. 15 STJ: As alegações de imparcialidade e de suspeição de membro da comissão processante devem estar fundadas em provas, não bastando meras conjecturas ou suposições desprovidas de qualquer comprovação. STJ: A imparcialidade de membro de comissão não fica prejudicada tão somente por este compor mais de uma comissão processante instituída para apuração de fatos distintos que envolvam o mesmo servidor. STJ: A simples oitiva de membro da comissão processante, de autoridade julgadora ou de autoridade instauradora como testemunha ou como informante no bojo de outro processo administrativo ou até mesmo penal que envolva o investigado não enseja, por si só, o reconhecimento da quebra da imparcialidade. STJ: Na composição de comissão de processo administrativo disciplinar, é possível a designação de servidores lotados em órgão diverso daquele em que atua o servidor investigado, não existindo óbice nas legislações que disciplinam a apuração das infrações funcionais. STJ: Em regra, a instauração de processo administrativo disciplinar contra servidor efetivo cedido dar-se-á no órgão em que tenha sido praticada a suposta irregularidade (cessionário), devendo o julgamento e a eventual aplicação de sanção ocorrer no órgão ao qual o servidor efetivo estiver vinculado (cedente). STJ: A participação de membrodo Ministério Público em conselho da Polícia Civil torna nulo o procedimento administrativo disciplinar instaurado para processar e para julgar servidor público estadual por prática de ato infracional. STJ: A designação de comissão temporária para promover processo administrativo disciplinar é legítima, nos termos da Lei n. 8.112/1990, já que a existência de comissão permanente para a apuração de faltas funcionais só é exigida para os casos determinados em lei. STJ: A designação de comissão temporária para promover processo administrativo disciplinar contra servidor policial federal viola os 16 princípios do juiz natural e da legalidade, a teor da Lei n. 4.878/1965, que exige a condução do procedimento por comissão permanente de disciplina. incursão no mérito administrativo. STJ: A Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/1992) não revogou, de forma tácita ou expressa, os dispositivos da Lei n. 8.112/1990, em relação aos processos administrativos disciplinares. STJ: O controle judicial no processo administrativo disciplinar - PAD restringe-se ao exame da regularidade do procedimento e da legalidade do ato, à luz dos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, não sendo possível nenhuma incursão no mérito administrativo. STJ: Declarações prestadas à mídia por autoridade pública, acerca de irregularidades cometidas por servidores públicos a ela subordinados, não ensejam, por si só, a nulidade do PAD. STJ: A administração pública, quando se depara com situação em que a conduta do investigado se amolda às hipóteses de demissão ou de cassação de aposentadoria, não dispõe de discricionariedade para aplicar pena menos gravosa por se tratar de ato vinculado. STJ: Não há falar em ofensa ao princípio da proporcionalidade e da razoabilidade quando a única reprimenda prevista para a infração disciplinar apurada é a pena de demissão. STJ: Em caso de inobservância de prazo razoável para a conclusão de processo administrativo disciplinar, não há falar em ilegalidade na concessão de aposentadoria ao servidor investigado. STJ: O deferimento de provimento judicial que determine à autoridade administrativa que se abstenha de concluir procedimento administrativo disciplinar suspende o curso do prazo prescricional da pretensão punitiva administrativa. 17 STJ: É possível o imediato cumprimento da penalidade aplicada na conclusão de processo administrativo disciplinar, uma vez que os recursos administrativos e os pedidos de reconsideração, em regra, não possuem efeito suspensivo automático. STJ: Reconhecida a nulidade de PAD pela existência de vício insanável, antes do seu julgamento, não há que se falar em reformatio in pejus quando a segunda comissão processante opina por penalidade mais gravosa. STJ: Meras alegações de que existe fato novo não têm o condão de abrir a via da revisão do processo administrativo disciplinar, sendo indispensável a comprovação da existência de fatos novos, desconhecidos ao tempo do PAD. STJ: O mandado de segurança não é a via adequada para o exame da suficiência do conjunto fático-probatório constante do Processo Administrativo Disciplinar - PAD. STJ: Na via do mandado de segurança, é possível valorar a congruência entre a conduta apurada e a capitulação da pena de demissão aplicada no processo administrativo disciplinar. STJ: É cabível recurso administrativo hierárquico em face de decisão prolatada em Processo Administrativo Disciplinar - PAD. STJ: A demonstração do ânimo específico de abandonar o cargo público que ocupa (animus abandonandi) é necessária para tipificar conduta de servidor como prática de infração administrativa de abandono de cargo. STJ: A ausência de termo de compromisso de membro de comissão processante não implica nulidade do PAD, uma vez que tal designação decorre de lei e recai, necessariamente, sobre servidor público, cujos atos funcionais gozam de presunção de legitimidade e de veracidade. STJ: É inadmissível segunda punição de servidor público, baseada no mesmo processo em que se fundou a primeira. (Súmula 19/STF) 18 STJ: É possível utilizar a Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.492/1992), em interpretação sistemática, para definir o tipo previsto no art. 132, IV, da Lei n. 8.112/1990 e justificar a aplicação de pena de demissão a servidor. STJ: Na esfera administrativa, o proveito econômico auferido pelo servidor é irrelevante para a aplicação da penalidade no processo disciplinar, pois o ato de demissão é vinculado (art. 117, c/c art. 132 da Lei 8112/1990), razão pela qual é despiciendo falar em razoabilidade ou proporcionalidade da pena. STJ: O fato de o acusado estar em licença para tratamento de saúde não impede a instauração de processo administrativo disciplinar, nem mesmo a aplicação de pena de demissão. STJ: A pena de cassação de aposentadoria prevista nos art. 127, IV e art. 134 da Lei n. 8.112/1990 é constitucional e legal, inobstante o caráter contributivo do regime previdenciário.