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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CAMPUS ACADÊMICO DO AGRESTE NÚCLEO DE FORMAÇÃO DOCENTE Experimentação para o Ensino de Química Docentes: Ana Paula Freitas e Diego Luan Gomes. Discentes: Ana Gabrielly Almeida de Lima, Giselly Milena da Cunha Correia, Jaudilânia Barbosa de Sousa, Jeneffe Ferreira dos Santos, Laís Natália Rodrigues de Lima. PROPOSTA DE UM ROTEIRO EXPERIMENTAL Experimento 1: Determinação do carácter ácido-base de substâncias cotidianas a partir da utilização do extrato de feijão preto como indicador natural A. ORIENTAÇÕES PRÉVIAS Disciplina: Química Turma: 1° ano do Ensino Médio Conteúdo: Ácido e Base Conhecimento Prévio necessário: Definições de ácidos e bases, escala de pH e indicadores Metodologia: Experimentação investigativa e discursiva 1. INTRODUÇÃO Um objetivo antigo da química é organizar as reações usando modelos que representam as tendências e fazer uma introspecção sobre quais propriedades dos reagentes são pré-requisitos para uma alteração química (MIESSLER; FISCHER; TARR, 2014). Neste contexto, também são introduzidos os conceitos de ácido e base, que em uma abordagem mais primitiva, são classificados conforme características referentes ao sabor da substância. Atualmente, existem quatro principais definições de ácido e base, sendo elas: (1) Arrhenius, limitada para reações em meio reacional aquoso, (2) Bronsted- Lowry, limitada a substâncias que possuam o íon hidrônio (H+), (3) Lewis, relacionada com o sistema eletrônico dos átomos e moléculas e (4) Pearson, com a classificação de ácidos duros e macios, mais recorrente em descrições inorgânicas. Em aspectos qualitativos, os mecanismos de reações de cada abordagem, darão indício para definição e força relativa das substâncias no meio. Para Arrhenius e Bronsted-Lowry, por exemplo, os ácidos serão classificados conforme a tendência de dissociação de íons H+ e a tendência a doar esses íons H+ para a base conjugada, respectivamente. Quantitativamente, a força dos ácidos pode ser descrita pela escala de pH, potencial hidrogeniônico, introduzido pelo químico dinarmaquês Soren Sorensen, em 1909, para indicar a concentração do íon hidrônio em solução (ATKINS; JONES, 2012). Em soluções neutras, o pH equivale a 7. Enquanto que valores inferiores (pH<7) e superiores (pH>7) caracterizam as soluções como ácidas e básicas, respectivamente. Diante disso, o desenvolvimento desta prática, consistirá na análise da acidez e basicidade de alimentos cotidianos, a partir da escala de pH construída através do extrato de feijão preto, prato típico presente na culinária brasileira. Geralmente os indicadores são ácidos ou bases fracas que ao se unirem aos íons H+ ou OH - mudam de cor devido uma alteração em sua configuração eletrônica. Dentre os extratos vegetais, são exemplos, o repolho roxo, chá-preto, beterraba e brócolis. O indicador recorrido nessa prática, extrato de feijão preto, apresenta coloração azul escura, que sofre alterações conforme ocorre variação do meio. Esta mudança de cor é devida a presença de antocianinas, pigmentos da classe dos flavonóides, responsáveis pela coloração azul, vermelha e roxa de diversos tecidos vegetais, inclusive flores e frutos (SOARES et al., 2001; SOARES, 2001). Além desses, outros indicadores, corriqueiramente utilizados em análises laboratorial, são a fita de pH e o pHmetro. No entanto, a escolha do extrato mencionado, advém da utilização de diferentes espaços para realização de atividades experimentais, uma vez que a química do cotidiano se localiza em outros lugares, que não o laboratório: na cozinha, nos seres vivos, na natureza etc. Os discursos voltados para a valorização da química do cotidiano aprofundam possibilidades que vão além das técnicas químicas laboratoriais, apontam para sistemas complexos, com vida própria, cuja existência e funcionamento podem ser explicados através de conceitos científicos (ROSA; TOSTA, 2005). Além da praticidade experimental e da abordagem cotidiana, os conceitos de ácido e base podem ser apresentados em uma perspectiva interdisciplinar e/ou sob uma abordagem CTSA. Sob a ótica da biologia ou história, por exemplo, pode ser discutido como tais substâncias podem interferir no pH do estômago ou como foram utilizadas (ácido cianídrico) nas execuções em câmaras de gás na Segunda Guerra Mundial. Ou ainda, atrelar o conteúdo a literatura, ao adaptar a famosa obra de Shakespeare, por exemplo, para discutir como os personagens principais, Romeu e Julieta, poderiam distinguir entre dois líquidos incolores na ausência da degustação, qual seria o veneno ácido e água? Além disso, Questões Ambientais também podem ser trabalhadas, particularmente, a poluição atmosférica e a chuva ácida, que ocorrem pela combinação de diversos gases poluentes emitidos em decorrência de grandes centros urbanos e do crescimento industrial. O próprio corpo humano pode ser material de análise para a perspectiva ácido-base, afinal, por que o sangue não tem seu pH alterado e o estômago sim? Por que não conseguimos comer alimentos exclusivamente ácidos ou exclusivamente básicos? Muitos questionamentos podem ser levantados para a temática, soluções tampão e alimentação balanceada entre alimentos ácidos e básicos, é uma das possibilidades a se seguir. Este roteiro, preliminarmente investigativo e discursivo, pode ainda ser utilizado em uma metodologia problematizadora, a partir das perguntas encontradas no final desta proposta. Em síntese, diversas possibilidades surgem ao analisar a fundo a temática ácido-base, deixando assim, bastante espaço para a criatividade e a contextualização da interdisciplinaridade que a perpassa. 2. OBJETIVOS • Possibilitar o entendimento, de forma qualitativa, da escala de pH, sendo capaz de determinar o carácter ácido ou básico das soluções em contato com o extrato de feijão preto; • Refletir a respeito de reações cotidianas envolvendo ácidos e bases, a partir de situações problema propostas; • Discutir processos de reações ácido-base que ocorrem dentro do corpo humano; 3. PRÉ-EXPERIMENTAL Ácidos e bases permeiam nossas ações cotidianas. Você sabia que o limão pode ser utilizado para retirar o odor do peixe das mãos após o seu preparo? Ou que algumas substâncias apresentam acidez tão intensiva que são capazes de “destruir” a pele e outros tecidos orgânicos, causando grandes ferimentos? Ácidos cítricos, lático, fumárico, fosfórico, acético e tantos outros, constituintes da indústria alimentícia, podem ser encontrados em nossa casa. Em uma conferida rápida em nossas geladeiras e cozinhas podemos nos deparar com vinagres, vinhos, gelatinas, bebidas de cola e frutas cítricas, que exemplificam essas substâncias. A identificação de um ácido ou uma base, requer o uso de um indicador, isto é, toda substância, que dependendo do meio em que se encontra, pode mudar de cor (MENEZES et al., 2010). Diante da evidente aplicabilidade dessas substâncias, você será convidado (a) nesta prática a aprofundar suas discussões, a partir do uso do indicador natural proveniente da antocianina encontrada no feijão. 4. PARTE EXPERIMENTAL 4.1 MATERIAIS E REAGENTES 1- Feijão preto 2- Água da torneira 3- Vinagre 4- Leite 5- Laranja 6- Limão 7- Refrigerante incolor 8- Copos ou recipientes transparentes (recomenda-se copos de 200 ml) 4.2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 4.2.1 Preparo do indicador extrato de Feijão Preto O preparo do indicador extrato de feijão preto, pode ser obtido em água quente ou fria. Para água fria, deixe o feijão em imersão por cerca de 5 horas. Em água quente, o feijão deve ficar fervendo até que a água obtenha com a coloração preta. 4.2.2 Mistura do extrato de feijão com os alimentos selecionados Antes de reagir o extrato de feijão preto, identifique corretamentecom uma caneta os alimentos contidos em cada recipiente. Caso não tenha alguns dos alimentos e reagentes sugeridos, explore aqueles que você dispõe em casa. Lembre-se de fazer uma breve pesquisa pré-experimental, para avaliar a periculosidade de reagente escolhido, e comunique ao seu professor qualquer dúvida que tenha surgido nesta etapa. Qualitativamente, adicione cerca de ¼ (isto é, 50ml para a proporção de copos de 200 ml) de cada reagente em cada recipiente e, em seguida, adicione, em mesma quantidade, o extrato de feijão preto, observando a mudança de coloração em decorrência de cada mistura. Não é necessária a exatidão das medidas, mas se assegure de sua proporcionalidade. 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Análise a acidez e basicidade dos alimentos selecionados A partir das mudanças de coloração observadas, relacione as cores com o pH correspondente e preencha a tabela de anotações abaixo. Utilize o espectro de cores da escala de pH para o indicador extrato de feijão preto, na figura 1, e registre suas etapas. Figura 1: Construção do espectro de cores em função do pH, para o indicador extrato de feijão preto. Fonte: Figura adaptada de Fonseca et. al (2014). Tabela 1: Anotações para os dados obtidos na análise experimental. Solução Coloração Classificação da Substância pH Ex. Vinagre Vermelho Ácido 2 5.2 Apresente uma explicação pertinente para suas observações, de modo que sejam abordados os aspectos que caracterizam as substâncias ácidas e básicas e a magnitude do pH mensurado. Esta discussão deve ser feita, para todos os reagente utilizados. 6. DESCARTE DE RESÍDUOS Os resíduos gerados, para os alimentos e reagentes sugeridos neste experimento, podem ser descartados em pia e lixo comum. Caso tenha feito uso de outros, questione seu professor quanto ao descarte correto do seu resíduo. 7. QUESTÕES PROBLEMAS 6.1 Na prática experimental realizada, algum alimento por você analisado apresentou carácter ácido ou básico diferente do que você esperava para ele? Se sim, qual? Discuta o que lhe surpreendeu e chamou sua atenção. 6.2 Em comemorações, é comum servir como aperitivos um prato típico da culinária brasileira, a feijoada. No processo de cozimento, muitas pessoas utilizam a laranja como ingrediente, outras pessoas, utilizam vinagre ou limão como complemento para degustação do prato. (I) Tendo como base suas anotações empíricas, o que você espera que ocorra na coloração do caldo da feijoada com a adição desses ingredientes? (II) Eles auxiliam ou prejudicam a digestão? 6.3 Além da fama recorrente ao sabor, a feijoada é também conhecida como uma refeição “pesada”, que provoca problemas estomacais tais como a má digestão, azia ou refluxo em alguns organismos. Como solução, é comum a ingestão de sais efervescentes para ação rápida, atuando como antiácidos. (I) Conforme suas concepções, o que você entende de alimentos denominados “leves” ou “pesados” pelo senso comum? (II) Quais destes intensificam os problemas digestivos? (III) Em termos de pH e caráter ácido e básico, discuta como os efervescentes agem no estômago. 8. REFERÊNCIAS ATKINS, P.W.; JONES, Loretta. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. MIESSLER, Gary L.; FISCHER, Paul J.; TARR, Donald A. Química Inorgânica. 5 ed. Harlow, Eng.: Pearson Education, 2014. ROSA, M. I P.; TOSTA, A H. O lugar da Química na escola: movimentos constitutivos da disciplina no cotidiano escolar. Ciência & Educação. v.11, n.2, p. 253-262, 2005. SOARES, M.H.F.B.; CAVALHEIRO, E.T.G. Aplicação de Extratos Brutos de Quaresmeira e Azaléia e da Casca de Feijão Preto em Volumetria Ácido-Base. Um Experimento de Análise Quantitativa. Química Nova, v.24, n.3, p 408-411, 2001. MENEZES, Samara; LIMA, Jardson; SILVA, Gleice; ANDRADE, Tarciele; LEITE, Andreza. Indicador ácido-base natural: Identificação do caráter ácido ou básico do vinagre, do fermento químico e do sabão em pó. Universidade Federal do Pará; Instituto de Ciências Exatas e Naturais. Belém-PA, 2010.
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