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Kierkgaard_e_Frankl

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128 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 
	
  
SØREN KIERKEGAARD E VIKTOR FRANKL: DE UMA 
FILOSOFIA DA EXISTÊNCIA AO SENTIDO DA VIDA1 
SØREN KIERKEGAARD AND VIKTOR FRANKL: 
EXISTENCE OF A PHILOSOPHY OF THE MEANING OF 
LIFE 
Deyve Redyson 
Universidade Federal da Paraíba 
RESUMO 
A finalidade deste trabalho é realizar uma possível leitura entre a filosofia da existência de Søren Kierkegaard e a 
logoterapia de Viktor Frankl. Partindo dos elementos fornecidos por ambos os autores da dimensão da existência 
e do sentido de vida que leva o homem a completa busca de si mesmo e dos outros, encontramos pontos que 
apontam para uma leitura de semelhanças entre nossos dois autores como a demasiada necessidade de se falar de 
angústia, desespero e sentido da vida. 
Palavras chave: Existência, Busca de sentido, Angústia existencial, sentido de vida 
ABSTRACT 
The purpose of this work is to achieve possible reading between Søren Kierkegaard’s philosophy of existence and 
Viktor Frankl’s logotherapy. Based on the evidence provided by both authors of the dimension of existence and 
the meaning of life that leads man to complete the search for self and of others, we found points that indicate 
similarities between our two authors, such as the great need to speak of anguish, despair and sense of life. 
Key words: Existence; Search for Meaning; Existential Angst; Sense of life. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1 Trabalho apresentado como conferência no VI Congresso Brasileiro de Logoterapia e Análise Existencial ocorrido entre os dias 8 
e 11 de novembro de 2012 na cidade de Campina Grande-PB 
Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59
LOGOS & EXISTÊNCIA 
REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 129 
	
  
INTRODUÇÃO 
efendemos a ideia de que existe um 
grande potencial dentro da obra ainda a 
ser descoberta de Kierkegaard. Sua 
filosofia viva que nos transporta a uma intimidade 
existencial consigo mesmo é uma prova de que se 
compararmos determinados aspectos de sua 
estrutura, encontraremos vértices de possibilidades 
na teologia, na literatura e na psicologia. Este 
trabalho representa justamente uma prova de que é 
possível dialogar com o pensamento de Kierkegaard 
partindo de conceitos utilizados dentro da psicologia 
e da análise existencial. Com certeza não queremos 
aqui esgotar as possibilidades de leituras entre o 
pensador dinamarquês Søren Kierkegaard e o 
logoterapeuta Viktor Frankl. Esta é apenas uma 
leitura dentro das grandes perspectivas que nossos 
dois autores nos possibilitam. 
Numa primeira estância poderíamos elaborar 
que as temáticas apresentadas na obra de 
Kierkegaard como a angústia, o desespero, a procura 
existencial, entre tantos outros, contemplam, de 
uma forma ou de outra, elementos pontuais na 
análise existencial de Frankl. Temeramente estes 
elementos servem de ponte e de afastamento, pois 
não podemos deixar de lembrar que a natureza 
complexa de um não justifica ou que queira ser 
realizada por outrem. Outro elemento que se faz 
necessário para tal elaboração circunda os aspectos 
religiosos que envolvem nossos autores, isto é, uma 
fagulha que pretensamente diz, espiritualmente, o 
profundo encontro consigo através da fé. Objetar a 
crença como elemento para o raciocínio das 
verdades é a tarefa do pensar filosoficamente e 
psicologicamente a religião. 
A FILOSOFIA DA EXISTÊNCIA DE 
KIERKEGAARD 
Inicio com uma frase pontual de 
Kierkegaard que circundará toda nossa explanação: 
(...) o que me falta é, no fundo, ver claramente em 
mim mesmo o que devo fazer e não o que devo 
conhecer, salvo na medida em que o conhecimento 
sempre precede a ação. Trata-se de compreender o 
meu destino, de ver o que Deus quer propriamente 
que eu faça, isto é, de encontrar uma verdade que seja 
verdade para mim, de encontrar a ideia pela qual 
quero viver e morrer. (Kierkegaard. Diários I A 75) 
Kierkegaard é um autor que profundamente 
buscou um sentido para viver. A época em que 
viveu, meados do século XIX na Dinamarca, marcou 
sua vida com enlaces muito próximos da melancolia 
e da angústia. Sua formação cristã, austera e 
verificada através do luteranismo dinamarquês, 
estabeleceram regras bem claras para a fé e para a 
crença em Deus. Doravante sua vida, Kierkegaard 
foi, juntamente com seu irmão mais velho, os únicos 
sobreviventes de uma família abandonada a crença 
pietista luterana onde uma falha com Deus 
significava uma falha para a vida. 
O pai o iniciou dentro da doutrina do 
luteranismo, exigindo dele estudos em grego e latim. 
Foi uma infância onde Deus estava em primeiro 
plano, o que fazia alimentar no jovem Kierkegaard o 
intuito de se tornar pastor da Igreja Luterana, logo 
bem cedo ingressou na faculdade de Teologia de 
Copenhague, onde descobriu o sistema filosófico de 
Hegel, e percebeu que toda a Europa se influenciara 
por ele. Dessa forma, Kierkegaard termina seus 
estudos teológicos em 1840 e cada vez mais se 
interessava pela filosofia e por Hegel, até encontrar 
um ponto de crise entre sua religiosidade e seu 
mundo filosófico, por volta de 1841 decidiu largar a 
filosofia e viver sua religião e seus estudos teológicos. 
Esta situação de harmonização não dura muito 
tempo, Kierkegaard acreditava existir uma maldição 
sobre os Kierkegaards, que perseguiu seu pai e 
transformou sua vida em angústia, isto até o 
momento em que seu pai lhe confessa ter 
blasfemado contra Deus quando criança e culpando-
o por ter passado fome e frio e ainda de que, após a 
morte de sua primeira mulher, se relacionou com a 
doméstica da casa, vivendo maritalmente com ela 
antes de casar-se, que se tornou mãe de Kierkegaard 
e seus irmãos, dessa forma Kierkegaard percebe que 
a concepção de pecado também assolava os cristãos e 
que a maldição sobre os Kierkegaards continuava a 
se estender. Kierkegaard decide não ter filhos, para 
dar fim a maldição. Esta decisão de Kierkegaard se 
deu porque ele acreditava ter um espinho na carne 
(Paelen i kjödet), a sua cruz privada (det Sarlige Kors) 
que também o influenciou a não mais ser pastor, 
essa foi a revelação que fez a Emil Boesen dado em 
depoimento a H. P. Barfod e H. Gottsched, que 
editaram a primeira edição dos seus Diários. 
“Morte e inferno: posso fazer abstração de 
tudo, salvo de mim mesmo” (Kierkegaard, 1978, p. 
17). Tudo entra em conflito na vida de Kierkegaard, 
D 
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130 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 
	
  
decidiu ser pastor e no ano seguinte renúncia 
perante toda a família e da comunidade cristã, 
também renuncia ao noivado. Faleceu a 11 de 
novembro de 1855 em sua cidade natal Copenhague 
na Dinamarca aos 42 anos de idade. Em seus 
funerais um sobrinho Henrik S Lund lê a passagem 
de Apocalipse 3, 14-16 e em seguida uma passagem 
anti-clerical do Jornal O Instante, o que gerou um 
pequeno motim no cemitério, a passagem de 
Kierkegaard dizia para introduzir o Cristianismo na 
cristandade. Kierkegaard repousa no cemitério de 
Frue Kirke de Copenhague. Na lapide de seu 
túmulo foi escrito: 
Det er en liden tid, 
så har jeg vunden. 
Så er den ganske strich, 
med eet forsvunden. 
Så kan jeg hvile mig, 
I rosendale 
og uafladelig 
min Jesum tale 
Ainda algum tempo 
E terei vencido 
E todo combate de pronto desaparecerá 
Então, eu repousarei 
E no paraíso, 
Sem cessar, conversarei 
Com Jesus, Nosso Senhor 
Durante a sua vida Kierkegaard não foi 
muito conhecido e também depois da morte 
permaneceu ignorado por muito tempo. Somente 
depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1919) é 
que elefoi descoberto, lido avidamente e traduzido 
em quase todas as línguas. Aqui cabe a observação 
de Reichmann mediante as primeiras traduções de 
Kierkegaard para o português: 
Com relação ao destino das Obras de Kierkegaard em 
português, o preparador (do livro que ora citamos) 
transcreve palavras de Denis de Rougemont, pois o 
que sucedeu com Kierkegaard na França repetiu-se 
em Portugal e no Brasil – Porque se publicou 
primeiro o Diário de um Sedutor, fragmento de uma 
grande obra intitulada “A Alternativa”, depois In 
Vino veritas, fragmento de “Estádios no Caminho da 
Vida” – e isto sem declarar... que esses fragmentos 
não eram senão os primeiros termos de uma dialética 
ao curso da qual eles deviam ser radicalmente 
negados, incitou-se o leitor desprevenido ou mal 
prevenido, a ter um Kierkegaard por uma espécie de 
esteta do paradoxo moral, por um imoralista “avant la 
lettre” nietzschiano (REICHMANN, 1978, p. 392). 
Sua filosofia encontra-se dividida em 
estágios: Estético, ético e religioso (det Æstetiske 
stadium, det Etiske stadium, det Relisiøsen 
stadium). 
A filosofia deste pensador dinamarquês está 
fundada em toda a sua obra, encontramos, no que 
quer dizer sobre o conceito de filosofia uma bela 
passagem de nosso autor que muito bem simboliza o 
que ele pretendia com a filosofia: 
A filosofia exige sempre alguma coisa a mais, exige o 
eterno, o verdadeiro, frente ao qual mesmo a 
existência mais sólida é, enquanto tal, o instante 
afortunado...e, por outro lado, a filosofia não se deixa 
perturbar pelo feitiço do individual nem distrair pela 
profusão das particularidades (Kierkegaard, 1991, p. 
24). 
Fica claro aqui o objetivo de Kierkegaard. 
Este texto Sobre o Conceito de Ironia é na verdade o 
texto de magister de pensador dinamarquês e 
pretensamente seu objetivo é entender que a tarefa 
da filosofia é sempre buscar mais, isto é, a vida de 
nosso pensador é buscar mais e ir para além do que é 
possível pensar, encontrar o verdadeiro. 
Aproveitamos aqui, também, para trazer a 
tona algumas questões fundamentais para que 
possamos compreender Kierkegaard mais 
perfeitamente. Erroneamente como há muito tempo 
se pensou, Kierkegaard não é o filósofo do 
existencialismo, isto é, não podemos atribuir a 
Kierkegaard a paternidade do existencialismo como 
filosofia. O pensamento de Kierkegaard é um 
pensamento centralizado pela existência humana e 
seus desdobramentos e não uma espécie de escola 
filosófica, Kierkegaard não fundou escola, não teve 
discípulos e nunca planejou uma carreira dentro da 
filosofia. O pai do existencialismo, senão o único, 
seria o pensador francês Jean-Paul Sartre. Este na 
tentativa de elencar determinados pensadores como 
existencialista comete o erro de incluir em sua lista 
autores como Kierkegaard, Heidegger, Marcel, 
Jaspers e ele próprio. Um detalhe que vale ser 
comentado é a expressão do pensador Gabriel 
Marcel quando soube, através da obra de Sartre, que 
ele estaria na listagem dos existencialistas cristãos. 
Em resposta a Sartre, Marcel afirmou, “não me 
rotulem, mas se o quiserem prefiro neo-socratismo 
ou Socratismo Cristão” (Marcel, 1953, p. 2). 
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Um dos traços que levaram a este equivoco 
foi a busca pelos existenciais que Kierkegaard propõe 
em seu Post-Scriptum e que fatalmente confundiu-se 
a existência como identidade na particularidade com 
a tese da existência nos ismos. Os existenciais da obra 
de Kierkegaard poderiam ser assim entendidos: 
“Existir, se não entendemos por isso um simulacro 
de existência, é coisa que não se pode fazer sem 
paixão... O conhecimento essencial diz respeito a 
existência; por outras palavras, o conhecimento que 
se refere a existência é o único conhecimento 
essencial” (Kierkegaard, 1978, p. 229). O sentido do 
existir versa pelo caminho da verdade objetiva: “Mas 
existir em verdade e penetrar sua existência por sua 
consciência, ao mesmo tempo quase eternamente, 
muito além dela e, não obstante, presente nela e, 
não obstante no devir; é verdadeiramente difícil” 
(Kierkegaard, 1978, p. 226). Da mesma forma 
poderíamos questionar se Frankl seria o 
representante do existencialismo na psicologia ou 
psicoterapia juntamente com Medard Boss, Ludwig 
Biswanger ou Rollo May. Será que precisamos destes 
rótulos? 
Um primeiro momento na obra de 
Kierkegaard que aqui poderíamos trazer é um 
momento singular que nos orienta na perspectiva do 
sentido e da forma de vida. Esta forma e sentido de 
vida que está na obra de Kierkegaard é um processo 
que nos leva a uma determinada religiosidade. Não 
podemos esquecer que Kierkegaard é um pensador 
religioso da filosofia moderna. 
Na obra Doença para a Morte, Kierkegaard 
nos revela uma forma de compreensão do sentido 
através da ação de encontro com o desespero como 
uma doença mortal, isto é, de uma doença que é 
mortal para aquele que crer. 
Kierkegaard afirma: “Com o desespero, pelo 
contrário, há uma queda do virtual ao real, e a 
margem infinita do virtual sobre o real dá a medida 
da queda” (Kierkegaard, 1974, p. 197). Poderemos 
perceber que a margem do real é uma transposição 
do que seja, pois vivendo eticamente acabara o 
estado estético e sairá do aspecto existencial em que 
se encontrava, onde mantém a individualidade, 
assim o ato de desesperar-se é inteiramente sinal de 
verticalidade. “Pois se não desesperar equivale à 
absurda ausência de desespero, o progresso, nesse 
caso, será o desespero” (Kierkegaard, 1974, p. 197). 
O existencial opõe-se a termo de querer desesperar-
se, Kierkegaard inclui o estado ético como forma de 
desespero mediante a ausência do próprio desespero, 
aqui ele coloca o progresso como gênese desse 
fundamento, assim ele prossegue: “Não estar 
desesperado deve significar a destruição da 
possibilidade de o estar: para que um homem não o 
esteja verdadeiramente, é preciso a cada instante 
aniquilar em si a sua possibilidade” (Kierkegaard, 
1974, p. 197). Retoma-se aqui a intenção do que 
representa não chegar ao desespero, pois 
Kierkegaard não vai levar o desespero como 
consequência primeira, parecemos que ainda recua 
nele o fator estético que leva ao comando ético, uma 
espécie de discordância interna de um tipo de 
síntese. 
No que diz respeito à doença mortal, 
Kierkegaard a leva como estágio de morte como 
fator de desespero: 
Esta ideia de doença mortal deve ser tomada num 
sentido particular. A letra significa um mal cujo 
termo é a morte, e serve então de sinônimo duma 
doença da qual se morre. Mas é nesse sentido que se 
pode designar assim o desespero; porque, para os 
cristãos, a própria morte é uma passagem para a vida. 
Desse modo, a nenhum mal ele considera ‘doença 
mortal’. A morte põe termo as doenças, mas só por si 
não constitui um termo. Mas uma doença mortal no 
sentido estrito quer dizer um mal que termina pela 
morte, sem que após subsista qualquer coisa. E é isso 
o desespero e porque morrer significa que tudo está 
acabado, mais morrer a morte significa viver a morte, 
e vivê-la um só instante é vivê-la eternamente 
(Kierkegaard, 1974, p. 199). 
A priori esta doença mortal é um ato de 
desesperar-se e não de estar em desespero, pois o 
termo mortal da a entender o que morre, o que pelo 
desespero de saber da morte, morre... Tanto é, que 
para os cristãos o morrer é ir para a vida eterna, 
então o porque do medo da morte é o medo de estar 
a desesperar-se. “Desesperar duma coisa não é ainda, 
por consequência, verdadeiro desespero, é o seu 
inicio: está latente, como os médicos dizem duma 
enfermidade” (Kierkegaard, 1974, p. 197). O ato de 
desesperar-se é virtude e o termo da palavra pode ter 
duplo significado como o desespero em si e o 
desespero como doença mortal. 
Na segunda parte de Doença para a Morte, 
Kierkegaard o intitula de Desespero e Pecado, onde 
foi refutado pela primeiravez em O Conceito de 
Angústia, isto é, a angústia é em si uma revelação 
proveniente de um determinado tipo de desespero, 
mais que ainda, é angustiado. A angústia é o 
Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59
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verdadeiro mecanismo de não desesperar-se. 
Quando Kierkegaard fala de angústia no Conceito de 
Angústia de 1844, é possível fazer uma leitura com 
os escritos sobre o sofrimento de Arthur 
Schopenhauer (1788-1860) contemporâneo de 
Kierkegaard. 
Finalmente podemos também relacionar 
como elemento fundamental para compreender o 
pensamento de Kierkegaard a contraposição ao 
idealismo alemão e mais especificamente ao 
pensamento de G. W. F. Hegel, que em sua Ciência 
da Lógica já anunciava uma doutrina da existência 
prefigurada na universalidade das coisas, objetos e 
na forma sistemática de elevar a sabedoria a 
categoria de efetividade da existência. Para 
Kierkegaard a noção hegeliana de existência é uma 
forma abrupta de existir, isto é, existir é, na visão de 
Kierkegaard sobre Hegel, uma analogia com o eu e 
com suas circunstâncias. Assim, podemos também 
verificar que essa tese defendida pelo filósofo 
dinamarquês privilegia a autenticidade, a 
particularidade do ser. Kierkegaard assim acabou 
por influenciar o pensamento de Heidegger, Tillich, 
Buber Adorno e tantos outros. 
KIERKEGAARD E FRANKL NOTAS DE UMA 
MESMA SINFONIA 
Lendo mais diretamente determinadas obras 
de Kierkegaard e Frankl poderemos perceber que 
ambos são notas de uma mesma sinfonia, pois a 
centralidade de seus pensamentos se dirigem para 
um mesmo ponto de confluência, isto é, o sentido 
da vida. Em Kierkegaard talvez a expressão mais 
usual não seja esta, mas consolidadamente a 
intenção de Kierkegaard é encontrar uma verdade 
pela qual possa viver e morrer, como fora 
anteriormente falado. Esta perspectiva 
kierkegaardiana revela que sua vida circunda 
encontrar um sentido hábil para suas conclusões 
dentro da fé cristã. 
Kierkegaard nos fala da subjetividade 
humana como mola propulsora da verdade. Para o 
pensador dinamarquês a subjetividade é a verdade, a 
existência humana estaria atrelada ao ser que há no 
homem que determina sua força de encontrar-se a si 
mesmo, isto é, dentro da particularidade o homem é 
o que é, em sua identidade, a forma de encarar-se é 
encontrar sentido para sua vida. Poderíamos aqui 
pensar que a subjetividade como verdade se 
assemelha com o termo da analise existencial de 
Frankl. A procura dimensional do homem mesmo 
traz o sentido para a vida onde a mesma coisa pode 
ser vista de ângulos diferentes. É existencial por que 
o homem necessita encontrar-se a si mesmo e 
encontra-se a si mesmo, aqui, é encontrar o sentido 
da vida. Kierkegaard perceberá que a vida do 
homem é uma verdade entre a realidade e 
virtualidade, que na existência humana o que fica 
são as ações e as decepções com a vida, que 
ocasionam uma realidade totalmente diferente da 
pensada. 
Outro elemento bastante pertinente entre 
nossos dois autores será a tematização do vazio 
existencial proposto por Frankl e a perspectiva do 
instante elaborado por Kierkegaard. A ausência de 
sentido produz o vazio existencial que por sua vez 
leva o homem a uma espécie de neurotização, pois 
ao mesmo tempo que não sabe mais o que tem de 
fazer também não sabe mais o que deve fazer. Cai-se 
no vazio por que não se sabe o que se quer. Não 
sabendo o que se quer, ou o que fazer, o homem 
joga-se no vazio de não poder mais fazer o que quer 
ou o que deseja. Para Kierkegaard a condição de não 
conseguir fazer o que se quer é a condição do 
instante, isto é, o momento de ser ou de não ser, o de 
encontrar-se existindo ou deixar-se não mais existir. 
Frankl nos diz: 
Como podemos ajudar as pessoas que estão 
desesperadas pela aparente falta de sentido da vida? 
Eu disse no início que os valores vão desaparecendo 
porque são transmitidos pelas tradições e nós 
presenciamos hoje o declínio das tradições. Mesmo 
assim acredito que seja ainda possível descobrir 
significados (Frankl, 1989, p. 31) 
Frankl nos fala de descobrir significados e 
resgatar valores esquecidos. Esse posicionamento nos 
leva a entender a falta de sentido como um elo entre 
a noção de existência e da perda da existência. 
Igualmente em Kierkegaard há este mesmo 
sentimento, o de não perder a vida e sim o de 
problematizar as angústias para alcançar um sentido. 
Por isso falamos em uma mesma nota na 
composição desta sinfonia do sentido da vida. 
SERÁ A RELIGIÃO 
(RELIGIOSIDADE/ESPIRITUALIDADE) A 
RESPOSTA PARA A SUBJETIVIDADE E 
PARA O VAZIO EXISTENCIAL? 
Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59
LOGOS & EXISTÊNCIA 
REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 133 
	
  
Outro elemento concreto para esta nossa 
análise será o questionamento sobre a 
espiritualidade, pois até onde a representação de 
falta sentido pode ser preenchida por algum tipo de 
religiosidade ou espiritualidade? 
A análise existencial descobriu, dentro da 
espiritualidade inconsciente do ser humano, algo 
como uma religiosidade inconsciente no sentido de 
um relacionamento inconsciente com Deus, de uma 
relação com o transcendente, que, pelo visto, é 
imanente no ser humano, embora muitas vezes 
permaneça latente (FRANKL, 2010, p. 58). 
Assim esta formulação de uma identidade do 
homem com Deus não pode cair no ostracismo de 
entender Deus unicamente como ser transcendente 
no inconsciente. Frankl em A Presença ignorada de 
Deus afasta de sua teoria existencial uma visualização 
que se dependa da fé para a resolução de seus 
problemas, chamado por ele de erros possíveis de 
interpretação em três módulos: primeiramente, 
Frankl não quer que o inconsciente, ou mesmo o id, 
seja ele próprio o divino, em segundo lugar este 
transcendente não pode ser confundido dentro de 
uma acepção ocultista e por fim: “Não podemos 
nunca afirmar com firmeza suficiente que o 
inconsciente não somente não é divino, nem 
onisciente, mas, acima de tudo, ao constituir uma 
relação inconsciente com Deus, não é id-ificado” 
(Frankl, 2010, p. 59-60). 
Em outra passagem Frankl continua: “Por 
conservar o caráter espiritual-existencial da 
religiosidade inconsciente, ao invés de atribuí-la à 
facticidade psicofísica, logicamente torna-se também 
impossível considerá-la como algo inato. Ao nosso 
parecer, a religiosidade não pode ser inata por não 
estar presa ao biológico” (Frankl, 2010, p. 62). 
A religiosidade em Frankl só é genuína 
quando for existencial. Para Kierkegaard a 
religiosidade (crença) só é possível através do mesmo 
veículo existencial, pois no pensador dinamarquês o 
homem de fé verdadeira é o homem que 
compreende o sentido do cristianismo, sua autêntica 
tarefa é reconhecer que a existência humana é uma 
existência individual e somente isso. 
Para nossos dois autores a vida sem sentido 
desemboca no absurdo. Aquino nos informa: “Qual 
o sentido do sentido? Na obra de Frankl, o sentido 
pode ser discutido sob três aspectos. O primeiro 
conceito que a Logoterapia compreende sobre o 
sentido é o sentido da vida ou o sentido do 
momento, o que compreende como uma magnitude 
vetorial” (Aquino, 2011, p. 59), em Kierkegaard este 
sentido é encontrar-se no mesmo, isto é encontrar-se 
existindo plenamente. Por isso, para o homem 
também é facultado o sentimento de morte e de 
solidão que seria uma espécie de vazio existencial. 
Frankl possibilitará o encontro com a forma 
de se dar sentido a vida pelo viés da significação que 
o homem dá a si mesmo, pois assim o homem está 
vinculado a uma esfericidade que lhe propõe o 
encontro de sentido para viver: “O homem procura 
sempre um significado para sua vida. Ele está 
sempre se movendo em busca de um sentido de seu 
viver; em outras palavras, devemos considerar aquilo 
que chamo vontade de sentido” (Frankl,1989, p. 
23). 
Neste mesmo sentido um autor bem 
contemporâneo nos auxilia a compreender esta 
temática de Frankl, para Torralba. “Vontade de 
sentido (die Wille zum Sinn) de Frankl não é uma 
questão de fé. É um fato, um fenômeno que se 
detecta nas entranhas mais profundas do ser 
humano” (Torralba, 2012, p. 70), se o homem 
pudesse dar marcha ré a coisas passadas que fez ou 
que disse, se arrependeria, esta constatação revela o 
desejo de mudar as coisas, dessa forma a vontade de 
sentido significa a vontade de viver. Em Kierkegaard 
o sentido de viver é conduzido por um elemento 
bastante parecido, pois para o filósofo dinamarquês 
se não houver um algo que motive o ser a encontrar-
se consigo mesmo não haverá homem. 
Torralba ao nos envolver dentro de sua 
inteligência espiritual nos fornece o elemento de que 
a busca de sentido é não gradual e não age por um 
tempo cronológico, para este autor, a forma com a 
qual Frankl estabelece o ser humano que busca 
sentido coloca-se como fundamental para a 
compreensão da modernidade do homem. Nos diz 
Torralba: “Segundo Frankl, existem três caminhos 
para encontrar um sentido para a vida: a) fazer ou 
produzir algo; b) vivenciar algo ou amar alguém; c) 
entrar em um destino inevitável e fatal com uma 
atitude de firmeza adequada” (Torralba, 2012, p. 
72). O conceito de inteligência espiritual 
desenvolvida por Torralba é a recuperação da forma 
com a qual a religiosidade afeta o ser o humano, a 
noção/ideia de carência espiritual é tratada por este 
autor como um sentido da vida, isto é, existe a 
carência espiritual por que o homem busca sentido 
na vida. 
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Na logoterapia o sentido ou o desejo de 
obter sentido para a vida não é representado como 
uma questão de fé e sim como uma realidade (cf 
FRANKL, 1989, p. 25). Também para Frankl o 
desejo de sentido não só é uma genuína 
manifestação da humanidade do homem, mas é 
também um plausível indicio de saúde mental (cf 
Frankl, 1989, p. 28). 
Frankl enfatiza que o interesse supremo do 
ser humano é encontrar sentido para a existência, 
mas entende que muitas pessoas se encontram 
frustradas diante desta busca de significado para 
viver. Frankl em Psicoterapia na Prática denomina 
vácuo existencial uma espécie de neurose de não ter 
encontrado o sentido da vida. Para Frankl o mundo 
se torna possível de realização se há algum sentido 
que de alguma forma justifique o homem. O sentido 
existencial é a única resposta para o vazio existencial. 
Segundo Aquino: “O vazio existencial se manifesta 
por meio do tédio, da falta de interesse e da 
indiferença, o que pode ocasionar transtornos 
psicossociais tais como a tríade da neurose de 
massas: a drogatização, agressão e depressão/suicídio, 
fenômenos estes que caracterizam a sociedade 
contemporânea” (Aquino, 2011, p. 69). Para Frankl 
a logoterapia auxilia o homem que precisa recuperar 
valores reais perdidos (ou trocados) por falsos valores 
e ilusões no mundo: “Assim o homem se realiza, não 
se preocupando com o realizar-se, mas esquecendo a 
si mesmo e dando-se, descuidando de si e 
concentrando seus pensamentos para além de si” 
(Frankl, 1989, p. 29). 
Em Kierkegaard estes elementos estão quase 
que totalmente atrelados a religiosidade do ser 
humano e a sua atitude perante a autenticidade da fé 
cristã. Os últimos anos de produção intelectual do 
pensador dinamarquês sempre esteve muito presente 
a clarificação dos ideários da fé cristã, de sua busca 
pela autenticidade e das verdades de fé que estavam 
sendo inebriadas pelos representantes que deveriam 
justificar a fé ao invés de apologizá-la em sentido 
contrário. No pequeno texto, mas extenso em sua 
profundidade, Minha Tática, Kierkegaard propõe 
reintroduzir o cristianismo de forma veemente, nos 
falando que sua tarefa é levar ao homem a 
encontrar-se dentro de sua espiritualidade e não 
vender-se a propósito de impostos para a 
autenticação da fé cristã. “Minha tática, com a ajuda 
de Deus, consistia em empregar todos os meios para 
por a claro qual é o requerimento do cristianismo 
verdadeiramente, ainda que nenhuma só pessoa se 
sentisse tentada a entrar nele” (Kierkegaard, 2001, 
p. 8) continua em sua quase autobiografia Ponto de 
Vista: “... sou, com efeito, um autor religioso... 
minha tarefa: reintroduzir o Cristianismo na 
cristandade” (Kierkegaard, 1986, p. 22). Assim, 
encontrar sentido na vida para nosso filósofo 
dinamarquês é encontrar sentido na fé cristã. 
Poderíamos dizer que esta obra O Ponto de 
Vista explicativo de minha obra como autor, obra 
publicada póstuma, seria um relatório de como as 
pessoas interessadas poderiam ler e compreender 
Kierkegaard, um relatório para a História, 
anteriormente tinha ele publicado um texto 
intitulado Sobre minha obra como autor para depois 
escrever mais densamente o esclarecimento que 
sempre foi um escritor religioso. Kierkegaard é claro 
consigo mesmo, com efeito, ele refletiu sobre a 
unicidade de toda a sua obra, e fez questão de 
explicá-la para os que não a compreenderam, é por 
isso que esta obra se apresenta como um balanço de 
toda a sua atividade. “Na minha obra cheguei a um 
ponto onde é possível, onde experimento a 
necessidade, e, por conseguinte, considero agora 
meu dever declarar de uma vez por todas tão 
francamente, tão abertamente, tão categoricamente 
quanto possível, em que consiste a produção, o que 
pretendo ser como autor” (Kierkegaard, 1986, p. 
21). Toda a obra de Kierkegaard se divide em três 
etapas de conhecimento como vimos, o estético, o 
ético e o religioso, no Ponto de Vista ele faz uma 
relação de quais são as obra que se encontram em 
cada um destes estádios de vida, realizando assim 
um caráter duplo ou duplicidade de toda a obra2. 
Este mesmo sentimento também se encontra 
no texto Evangelho dos Sofrimentos também de 
Kierkegaard: “Mas no sofrimento a obediência é a 
verdadeira obediência, na obediência a fé é a fé, e na 
fé a eternidade é verdadeiramente a eternidade” 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
2 Na primeira seção, na parte A, Kierkegaard, intitula-a de 
“Duplo caráter ou duplicidade de toda a obra: se o autor é o 
autor de ordem estética ou religiosa” e segue a nota que é dele 
mesmo: “Eis para lembra-los, os títulos das obras: Primeiro 
grupo (produção estética), A Alternativa, Temor e Tremor, A 
Repetição, O Conceito de Angústia, Prefácios, Migalhas 
Filosóficas, Etapas no Caminho da Vida e Dezoito discursos 
edificantes. Segundo Grupo: Apostila Conclusiva não-
científica. Terceiro grupo (produção estritamente religiosa) 
Discursos edificantes sobre diversos pontos de vista, As Obras 
de Amor, Discursos Cristãos. (Nota de Kierkegaard) in Ponto 
de Vista Explicativo da Minha Obra como Escritor. Edições 
70. Lisboa, p. 27. 
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(Kierkegaard, 1955, p. 64). A fé em Kierkegaard é 
verdadeiramente fé que nutre-se pela obediência e 
eternidade, palavra que soa juntamente com 
Kierkegaard o caminho para o termo da verdade. 
Kierkegaard exige a verdade, para ele a fé era uma 
das mais fortes e autênticas verdades. Em 
determinado tempo, Kierkegaard crítica a forma 
com a qual os pastores na Dinamarca entoavam o 
cristianismo, fazendo dele uma alternativa inválida 
para seus pré-requisitos de autenticidade e 
veracidade. Para o pensador dinamarquês estes 
pastores somente queria a desculpa de serem cristãos 
para manipular a fé do povo. 
Esta crítica de Kierkegaard afirma que “O 
cristianismo não existe”(Kierkegaard, 1956, p. 29), 
pois segundo ele aquele cristianismo praticado na 
Dinamarca era qualquer coisa menos o cristianismo 
de Cristo. Sua crítica tem continuidade quando 
percebe o que são verdadeiramente os valores deste 
cristianismo. Kierkegaard vê desse modo revelada, 
através do cristianismo, a própria substância da 
existência. Paradoxo, escândalo, contradição, 
necessidade e ao mesmo tempo impossibilidade de 
decidir, duvidar, angustiar-se, são as características 
da existência e são ao mesmo tempo os fatores 
essenciais do cristianismo. Um Cristianismo, 
todavia, de que Kierkegaard se apercebe ser bastante 
diferente de sua época. “Estou na posse de um livro, 
que neste país se pode considerar desconhecido e 
cujo titulo não posso deixar de anunciar – O Novo 
Testamento de Nosso Senhor e Salvador Jesus 
Cristo” (Kierkegaard, 1956, p. 118). No pequeno 
texto, de onde fora tirada esta citação, Como julga 
cristo o cristianismo oficial de 1854, Kierkegaard dá 
outras severas palavras contra a igreja da Dinamarca. 
“O que é, pois a Cristandade” (Kierkegaard, 1956, 
p. 118). 
Kierkegaard enfatiza a necessidade de 
reformar os lideres da igreja como autênticos 
testemunhos da verdade. “Imaginemos que toda a 
assembleia está reunida na igreja do cristianismo e 
de repente entra Cristo. O que crês que haveria? 
Bem, o que aconteceu podemos ler no Novo 
Testamento” (Kierkegaard, 1956, p 363), isto é, 
seriam visto como hipócritas, serpentes e raça de 
víboras (cf. Jo 2, 15ss). Kierkegaard utiliza-se de 
várias passagens para explicitar a dissonância do 
cristianismo com a verdadeira proposta de Cristo 
(Mt 23, 29-33 e Lc 11, 47-48) e “Se talvez, quando 
a eternidade acabar um dia com o diferenciado, a 
absolvição for pronunciada invocando a 
ignorância... pois (Cristo) Ele não era um homem, 
era a verdade” (Kierkegaard, 1956, p.153). Em um 
dos dois pequenos tratados Ético-Religiosos que se 
chama Um homem tem o direito de se deixar condenar 
à morte pela verdade? de 1847, ele identifica na parte 
A3 e diz do que realmente está falando “A Doutrina 
da morte e do sacrifício de Jesus Cristo” 
(Kierkegaard, 1986, p.128). Então ele nos um 
momento muito bonito e interessante de reflexão: 
“Posso perfeitamente conceber que Cristo, todo 
amor, tenha querido sacrificar a sua vida por amor; 
mas não posso conceber que Ele, todo amor, tenha 
podido deixar os homens tornarem-se culpados de o 
condenar a morte” (Kierkegaard, 1986, p. 128). 
Ainda na Parte A, Kierkegaard dá continuidade a 
temática de quem por amor morre e na morte salva 
e coloca a humanidade no perfil de salvação. “No 
amor, Ele quer morrer a morte redentora; mas, que 
tenha de morrer, é necessário que a geração 
contemporânea se torne culpada de um homicídio” 
(Kierkegaard, 1986, p. 134). Morrer por amor a 
uma humanidade é causa de por amor ver que seu 
amor tornou-se verdade. Quando alguém é 
condenado a morte pela verdade, é necessário que 
alguém o mate. Pela verdade se pode morrer de uma 
morte que leva a vida. 
A fé será o fator de grande observância para 
Kierkegaard e ninguém a terá como uma simples 
condição ou padrão de vida para se estabelecer onde 
quer que seja. “A filosofia não pode nem deve dar a 
fé; a sua tarefa é compreender-se a si mesma, saber 
aquilo que oferece; nada ocultar e sobretudo nada 
escamotear” (Kierkegaard, 1974, p. 127). Na obra 
Temor e Tremor o homem no entender de 
Kierkegaard tem a possibilidade de empreender o 
movimento da fé para alcançar a sua dignidade 
própria e se tornar como ele mesmo chama 
Cavaleiro da fé (Troens Ridder), ou a nosso ver, este 
cavaleiro da fé seria um defensor da fé, uma pessoa 
que obedece a lei divina sem ao menos questioná-la, 
e se ele não obedece o que lhe é imposto pelo 
Absoluto, ele acaba tornando-se um herói trágico que 
engana-se por pensar que seus feitos vistos como 
impossíveis pelos outros, é que lhe faz ser 
verdadeiramente homem. Ao referir-se à história de 
Abraão, no capitulo 22 do Gênesis, Kierkegaard faz 
notar, na narrativa de uma outra história, a 
inquietação que a mesma história do patriarca 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
3 Este texto é dividido em parte A, B, C, D e E. 
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provocara numa criança que guardou o fato na sua 
memória por toda a sua vida, procurando entendê-
la. 
Frankl elaborará sua ontologia dentro dos 
limites humanos da existência. Essa correlação com 
a filosofia de Kierkegaard fica expressa em suas 
palavras no intuito de verificar o homem dentro de 
sua limitação, isto é, em Frankl, igualmente a 
Kierkegaard, a situação-limite da existência é fato de 
importante necessidade: “Em todos os nossos 
esforços para traçar os limites ontológicos, ainda não 
levamos em conta que o seu humano não é apenas 
um ser que decide, mas também um ser separado. Ser 
humano não significa outra coisa senão ser 
indivíduo” (Frankl, 2010, p. 22). Este indivíduo 
ontologicamente como ser separado é em 
Kierkegaard o instante. 
Para Kierkegaard este instante pode ser 
traduzido como a morte prefigurada do ser, isto é, 
buscar a vida e só encontrar a morte. Nos diz 
Kierkegaard: 
Assim, estar mortalmente doente é não poder 
morrer... o desespero é a doença para a morte, um 
suplício contraditório, uma doença do eu: 
eternamente morrer, morrer sem todavia morrer, 
morrer a morte. Porque morrer significa que tudo 
esta acabado, mas morrer a morte significa viver a 
morte e viver a morte significa vivê-la eternamente 
(Kierkegaard, 1974, p. 121) 
Morrer sem todavia morrer. Em Kierkegaard 
a possibilidade do morrer é a possibilidade do 
instante, pois morrer a morte significará morrer em 
sua completa natureza, por isso que a cada dia, em 
nosso filósofo, morremos um pouco até que a morte 
verdadeira ocorra. Eis o instante, eis a busca 
ontológica do ser situado e do ser limitado. 
CONCLUSÃO 
Muito ainda poderá ser dito sobre 
Kierkegaard e Frankl, aqui nos limitamos a 
apresentar alguns pontos de igualdade em ambos os 
pensadores. Frankl e a logoterapia estão muito 
próximos de uma filosofia da existência, estão 
também próximos da perspectiva kierkegaardiana da 
compreensão do ser das coisas através de uma 
autêntica fé cristã. A análise existencial que tem 
como principal premissa o vazio existencial pode ser 
vislumbrado dentro das categorias elaboradas por 
Kierkegaard que nutre em si uma verticalização da fé 
e ao mesmo tempo uma discordância das tarefas de 
como se chegar a ela. Será na religião que 
encontraremos uma resposta para a pergunta sobre o 
sentido da vida? Diversas religiões respondem seus 
anseios através da busca pelo sentido da vida. 
Provavelmente a vida espiritual conforta e auxilia a 
entrada no caminho que possibilite o homem a 
encontrar a si mesmo. 
 
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LOGOS & EXISTÊNCIA 
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Torralba, F. (2012). Inteligência Espiritual. Petrópolis. Vozes. 
Recebido em: 29/01/2013 
Aceito em: 15/02/2013 
Sobre o autor 
Deyve Redyson. Doutor em Filosofia. Professor da Universidade Federal da Paraíba. 
E-mail: dredyson@gmail.com 
	
  
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