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128 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 SØREN KIERKEGAARD E VIKTOR FRANKL: DE UMA FILOSOFIA DA EXISTÊNCIA AO SENTIDO DA VIDA1 SØREN KIERKEGAARD AND VIKTOR FRANKL: EXISTENCE OF A PHILOSOPHY OF THE MEANING OF LIFE Deyve Redyson Universidade Federal da Paraíba RESUMO A finalidade deste trabalho é realizar uma possível leitura entre a filosofia da existência de Søren Kierkegaard e a logoterapia de Viktor Frankl. Partindo dos elementos fornecidos por ambos os autores da dimensão da existência e do sentido de vida que leva o homem a completa busca de si mesmo e dos outros, encontramos pontos que apontam para uma leitura de semelhanças entre nossos dois autores como a demasiada necessidade de se falar de angústia, desespero e sentido da vida. Palavras chave: Existência, Busca de sentido, Angústia existencial, sentido de vida ABSTRACT The purpose of this work is to achieve possible reading between Søren Kierkegaard’s philosophy of existence and Viktor Frankl’s logotherapy. Based on the evidence provided by both authors of the dimension of existence and the meaning of life that leads man to complete the search for self and of others, we found points that indicate similarities between our two authors, such as the great need to speak of anguish, despair and sense of life. Key words: Existence; Search for Meaning; Existential Angst; Sense of life. 1 Trabalho apresentado como conferência no VI Congresso Brasileiro de Logoterapia e Análise Existencial ocorrido entre os dias 8 e 11 de novembro de 2012 na cidade de Campina Grande-PB Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 129 INTRODUÇÃO efendemos a ideia de que existe um grande potencial dentro da obra ainda a ser descoberta de Kierkegaard. Sua filosofia viva que nos transporta a uma intimidade existencial consigo mesmo é uma prova de que se compararmos determinados aspectos de sua estrutura, encontraremos vértices de possibilidades na teologia, na literatura e na psicologia. Este trabalho representa justamente uma prova de que é possível dialogar com o pensamento de Kierkegaard partindo de conceitos utilizados dentro da psicologia e da análise existencial. Com certeza não queremos aqui esgotar as possibilidades de leituras entre o pensador dinamarquês Søren Kierkegaard e o logoterapeuta Viktor Frankl. Esta é apenas uma leitura dentro das grandes perspectivas que nossos dois autores nos possibilitam. Numa primeira estância poderíamos elaborar que as temáticas apresentadas na obra de Kierkegaard como a angústia, o desespero, a procura existencial, entre tantos outros, contemplam, de uma forma ou de outra, elementos pontuais na análise existencial de Frankl. Temeramente estes elementos servem de ponte e de afastamento, pois não podemos deixar de lembrar que a natureza complexa de um não justifica ou que queira ser realizada por outrem. Outro elemento que se faz necessário para tal elaboração circunda os aspectos religiosos que envolvem nossos autores, isto é, uma fagulha que pretensamente diz, espiritualmente, o profundo encontro consigo através da fé. Objetar a crença como elemento para o raciocínio das verdades é a tarefa do pensar filosoficamente e psicologicamente a religião. A FILOSOFIA DA EXISTÊNCIA DE KIERKEGAARD Inicio com uma frase pontual de Kierkegaard que circundará toda nossa explanação: (...) o que me falta é, no fundo, ver claramente em mim mesmo o que devo fazer e não o que devo conhecer, salvo na medida em que o conhecimento sempre precede a ação. Trata-se de compreender o meu destino, de ver o que Deus quer propriamente que eu faça, isto é, de encontrar uma verdade que seja verdade para mim, de encontrar a ideia pela qual quero viver e morrer. (Kierkegaard. Diários I A 75) Kierkegaard é um autor que profundamente buscou um sentido para viver. A época em que viveu, meados do século XIX na Dinamarca, marcou sua vida com enlaces muito próximos da melancolia e da angústia. Sua formação cristã, austera e verificada através do luteranismo dinamarquês, estabeleceram regras bem claras para a fé e para a crença em Deus. Doravante sua vida, Kierkegaard foi, juntamente com seu irmão mais velho, os únicos sobreviventes de uma família abandonada a crença pietista luterana onde uma falha com Deus significava uma falha para a vida. O pai o iniciou dentro da doutrina do luteranismo, exigindo dele estudos em grego e latim. Foi uma infância onde Deus estava em primeiro plano, o que fazia alimentar no jovem Kierkegaard o intuito de se tornar pastor da Igreja Luterana, logo bem cedo ingressou na faculdade de Teologia de Copenhague, onde descobriu o sistema filosófico de Hegel, e percebeu que toda a Europa se influenciara por ele. Dessa forma, Kierkegaard termina seus estudos teológicos em 1840 e cada vez mais se interessava pela filosofia e por Hegel, até encontrar um ponto de crise entre sua religiosidade e seu mundo filosófico, por volta de 1841 decidiu largar a filosofia e viver sua religião e seus estudos teológicos. Esta situação de harmonização não dura muito tempo, Kierkegaard acreditava existir uma maldição sobre os Kierkegaards, que perseguiu seu pai e transformou sua vida em angústia, isto até o momento em que seu pai lhe confessa ter blasfemado contra Deus quando criança e culpando- o por ter passado fome e frio e ainda de que, após a morte de sua primeira mulher, se relacionou com a doméstica da casa, vivendo maritalmente com ela antes de casar-se, que se tornou mãe de Kierkegaard e seus irmãos, dessa forma Kierkegaard percebe que a concepção de pecado também assolava os cristãos e que a maldição sobre os Kierkegaards continuava a se estender. Kierkegaard decide não ter filhos, para dar fim a maldição. Esta decisão de Kierkegaard se deu porque ele acreditava ter um espinho na carne (Paelen i kjödet), a sua cruz privada (det Sarlige Kors) que também o influenciou a não mais ser pastor, essa foi a revelação que fez a Emil Boesen dado em depoimento a H. P. Barfod e H. Gottsched, que editaram a primeira edição dos seus Diários. “Morte e inferno: posso fazer abstração de tudo, salvo de mim mesmo” (Kierkegaard, 1978, p. 17). Tudo entra em conflito na vida de Kierkegaard, D Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59 130 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 decidiu ser pastor e no ano seguinte renúncia perante toda a família e da comunidade cristã, também renuncia ao noivado. Faleceu a 11 de novembro de 1855 em sua cidade natal Copenhague na Dinamarca aos 42 anos de idade. Em seus funerais um sobrinho Henrik S Lund lê a passagem de Apocalipse 3, 14-16 e em seguida uma passagem anti-clerical do Jornal O Instante, o que gerou um pequeno motim no cemitério, a passagem de Kierkegaard dizia para introduzir o Cristianismo na cristandade. Kierkegaard repousa no cemitério de Frue Kirke de Copenhague. Na lapide de seu túmulo foi escrito: Det er en liden tid, så har jeg vunden. Så er den ganske strich, med eet forsvunden. Så kan jeg hvile mig, I rosendale og uafladelig min Jesum tale Ainda algum tempo E terei vencido E todo combate de pronto desaparecerá Então, eu repousarei E no paraíso, Sem cessar, conversarei Com Jesus, Nosso Senhor Durante a sua vida Kierkegaard não foi muito conhecido e também depois da morte permaneceu ignorado por muito tempo. Somente depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1919) é que elefoi descoberto, lido avidamente e traduzido em quase todas as línguas. Aqui cabe a observação de Reichmann mediante as primeiras traduções de Kierkegaard para o português: Com relação ao destino das Obras de Kierkegaard em português, o preparador (do livro que ora citamos) transcreve palavras de Denis de Rougemont, pois o que sucedeu com Kierkegaard na França repetiu-se em Portugal e no Brasil – Porque se publicou primeiro o Diário de um Sedutor, fragmento de uma grande obra intitulada “A Alternativa”, depois In Vino veritas, fragmento de “Estádios no Caminho da Vida” – e isto sem declarar... que esses fragmentos não eram senão os primeiros termos de uma dialética ao curso da qual eles deviam ser radicalmente negados, incitou-se o leitor desprevenido ou mal prevenido, a ter um Kierkegaard por uma espécie de esteta do paradoxo moral, por um imoralista “avant la lettre” nietzschiano (REICHMANN, 1978, p. 392). Sua filosofia encontra-se dividida em estágios: Estético, ético e religioso (det Æstetiske stadium, det Etiske stadium, det Relisiøsen stadium). A filosofia deste pensador dinamarquês está fundada em toda a sua obra, encontramos, no que quer dizer sobre o conceito de filosofia uma bela passagem de nosso autor que muito bem simboliza o que ele pretendia com a filosofia: A filosofia exige sempre alguma coisa a mais, exige o eterno, o verdadeiro, frente ao qual mesmo a existência mais sólida é, enquanto tal, o instante afortunado...e, por outro lado, a filosofia não se deixa perturbar pelo feitiço do individual nem distrair pela profusão das particularidades (Kierkegaard, 1991, p. 24). Fica claro aqui o objetivo de Kierkegaard. Este texto Sobre o Conceito de Ironia é na verdade o texto de magister de pensador dinamarquês e pretensamente seu objetivo é entender que a tarefa da filosofia é sempre buscar mais, isto é, a vida de nosso pensador é buscar mais e ir para além do que é possível pensar, encontrar o verdadeiro. Aproveitamos aqui, também, para trazer a tona algumas questões fundamentais para que possamos compreender Kierkegaard mais perfeitamente. Erroneamente como há muito tempo se pensou, Kierkegaard não é o filósofo do existencialismo, isto é, não podemos atribuir a Kierkegaard a paternidade do existencialismo como filosofia. O pensamento de Kierkegaard é um pensamento centralizado pela existência humana e seus desdobramentos e não uma espécie de escola filosófica, Kierkegaard não fundou escola, não teve discípulos e nunca planejou uma carreira dentro da filosofia. O pai do existencialismo, senão o único, seria o pensador francês Jean-Paul Sartre. Este na tentativa de elencar determinados pensadores como existencialista comete o erro de incluir em sua lista autores como Kierkegaard, Heidegger, Marcel, Jaspers e ele próprio. Um detalhe que vale ser comentado é a expressão do pensador Gabriel Marcel quando soube, através da obra de Sartre, que ele estaria na listagem dos existencialistas cristãos. Em resposta a Sartre, Marcel afirmou, “não me rotulem, mas se o quiserem prefiro neo-socratismo ou Socratismo Cristão” (Marcel, 1953, p. 2). Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 131 Um dos traços que levaram a este equivoco foi a busca pelos existenciais que Kierkegaard propõe em seu Post-Scriptum e que fatalmente confundiu-se a existência como identidade na particularidade com a tese da existência nos ismos. Os existenciais da obra de Kierkegaard poderiam ser assim entendidos: “Existir, se não entendemos por isso um simulacro de existência, é coisa que não se pode fazer sem paixão... O conhecimento essencial diz respeito a existência; por outras palavras, o conhecimento que se refere a existência é o único conhecimento essencial” (Kierkegaard, 1978, p. 229). O sentido do existir versa pelo caminho da verdade objetiva: “Mas existir em verdade e penetrar sua existência por sua consciência, ao mesmo tempo quase eternamente, muito além dela e, não obstante, presente nela e, não obstante no devir; é verdadeiramente difícil” (Kierkegaard, 1978, p. 226). Da mesma forma poderíamos questionar se Frankl seria o representante do existencialismo na psicologia ou psicoterapia juntamente com Medard Boss, Ludwig Biswanger ou Rollo May. Será que precisamos destes rótulos? Um primeiro momento na obra de Kierkegaard que aqui poderíamos trazer é um momento singular que nos orienta na perspectiva do sentido e da forma de vida. Esta forma e sentido de vida que está na obra de Kierkegaard é um processo que nos leva a uma determinada religiosidade. Não podemos esquecer que Kierkegaard é um pensador religioso da filosofia moderna. Na obra Doença para a Morte, Kierkegaard nos revela uma forma de compreensão do sentido através da ação de encontro com o desespero como uma doença mortal, isto é, de uma doença que é mortal para aquele que crer. Kierkegaard afirma: “Com o desespero, pelo contrário, há uma queda do virtual ao real, e a margem infinita do virtual sobre o real dá a medida da queda” (Kierkegaard, 1974, p. 197). Poderemos perceber que a margem do real é uma transposição do que seja, pois vivendo eticamente acabara o estado estético e sairá do aspecto existencial em que se encontrava, onde mantém a individualidade, assim o ato de desesperar-se é inteiramente sinal de verticalidade. “Pois se não desesperar equivale à absurda ausência de desespero, o progresso, nesse caso, será o desespero” (Kierkegaard, 1974, p. 197). O existencial opõe-se a termo de querer desesperar- se, Kierkegaard inclui o estado ético como forma de desespero mediante a ausência do próprio desespero, aqui ele coloca o progresso como gênese desse fundamento, assim ele prossegue: “Não estar desesperado deve significar a destruição da possibilidade de o estar: para que um homem não o esteja verdadeiramente, é preciso a cada instante aniquilar em si a sua possibilidade” (Kierkegaard, 1974, p. 197). Retoma-se aqui a intenção do que representa não chegar ao desespero, pois Kierkegaard não vai levar o desespero como consequência primeira, parecemos que ainda recua nele o fator estético que leva ao comando ético, uma espécie de discordância interna de um tipo de síntese. No que diz respeito à doença mortal, Kierkegaard a leva como estágio de morte como fator de desespero: Esta ideia de doença mortal deve ser tomada num sentido particular. A letra significa um mal cujo termo é a morte, e serve então de sinônimo duma doença da qual se morre. Mas é nesse sentido que se pode designar assim o desespero; porque, para os cristãos, a própria morte é uma passagem para a vida. Desse modo, a nenhum mal ele considera ‘doença mortal’. A morte põe termo as doenças, mas só por si não constitui um termo. Mas uma doença mortal no sentido estrito quer dizer um mal que termina pela morte, sem que após subsista qualquer coisa. E é isso o desespero e porque morrer significa que tudo está acabado, mais morrer a morte significa viver a morte, e vivê-la um só instante é vivê-la eternamente (Kierkegaard, 1974, p. 199). A priori esta doença mortal é um ato de desesperar-se e não de estar em desespero, pois o termo mortal da a entender o que morre, o que pelo desespero de saber da morte, morre... Tanto é, que para os cristãos o morrer é ir para a vida eterna, então o porque do medo da morte é o medo de estar a desesperar-se. “Desesperar duma coisa não é ainda, por consequência, verdadeiro desespero, é o seu inicio: está latente, como os médicos dizem duma enfermidade” (Kierkegaard, 1974, p. 197). O ato de desesperar-se é virtude e o termo da palavra pode ter duplo significado como o desespero em si e o desespero como doença mortal. Na segunda parte de Doença para a Morte, Kierkegaard o intitula de Desespero e Pecado, onde foi refutado pela primeiravez em O Conceito de Angústia, isto é, a angústia é em si uma revelação proveniente de um determinado tipo de desespero, mais que ainda, é angustiado. A angústia é o Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59 132 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 verdadeiro mecanismo de não desesperar-se. Quando Kierkegaard fala de angústia no Conceito de Angústia de 1844, é possível fazer uma leitura com os escritos sobre o sofrimento de Arthur Schopenhauer (1788-1860) contemporâneo de Kierkegaard. Finalmente podemos também relacionar como elemento fundamental para compreender o pensamento de Kierkegaard a contraposição ao idealismo alemão e mais especificamente ao pensamento de G. W. F. Hegel, que em sua Ciência da Lógica já anunciava uma doutrina da existência prefigurada na universalidade das coisas, objetos e na forma sistemática de elevar a sabedoria a categoria de efetividade da existência. Para Kierkegaard a noção hegeliana de existência é uma forma abrupta de existir, isto é, existir é, na visão de Kierkegaard sobre Hegel, uma analogia com o eu e com suas circunstâncias. Assim, podemos também verificar que essa tese defendida pelo filósofo dinamarquês privilegia a autenticidade, a particularidade do ser. Kierkegaard assim acabou por influenciar o pensamento de Heidegger, Tillich, Buber Adorno e tantos outros. KIERKEGAARD E FRANKL NOTAS DE UMA MESMA SINFONIA Lendo mais diretamente determinadas obras de Kierkegaard e Frankl poderemos perceber que ambos são notas de uma mesma sinfonia, pois a centralidade de seus pensamentos se dirigem para um mesmo ponto de confluência, isto é, o sentido da vida. Em Kierkegaard talvez a expressão mais usual não seja esta, mas consolidadamente a intenção de Kierkegaard é encontrar uma verdade pela qual possa viver e morrer, como fora anteriormente falado. Esta perspectiva kierkegaardiana revela que sua vida circunda encontrar um sentido hábil para suas conclusões dentro da fé cristã. Kierkegaard nos fala da subjetividade humana como mola propulsora da verdade. Para o pensador dinamarquês a subjetividade é a verdade, a existência humana estaria atrelada ao ser que há no homem que determina sua força de encontrar-se a si mesmo, isto é, dentro da particularidade o homem é o que é, em sua identidade, a forma de encarar-se é encontrar sentido para sua vida. Poderíamos aqui pensar que a subjetividade como verdade se assemelha com o termo da analise existencial de Frankl. A procura dimensional do homem mesmo traz o sentido para a vida onde a mesma coisa pode ser vista de ângulos diferentes. É existencial por que o homem necessita encontrar-se a si mesmo e encontra-se a si mesmo, aqui, é encontrar o sentido da vida. Kierkegaard perceberá que a vida do homem é uma verdade entre a realidade e virtualidade, que na existência humana o que fica são as ações e as decepções com a vida, que ocasionam uma realidade totalmente diferente da pensada. Outro elemento bastante pertinente entre nossos dois autores será a tematização do vazio existencial proposto por Frankl e a perspectiva do instante elaborado por Kierkegaard. A ausência de sentido produz o vazio existencial que por sua vez leva o homem a uma espécie de neurotização, pois ao mesmo tempo que não sabe mais o que tem de fazer também não sabe mais o que deve fazer. Cai-se no vazio por que não se sabe o que se quer. Não sabendo o que se quer, ou o que fazer, o homem joga-se no vazio de não poder mais fazer o que quer ou o que deseja. Para Kierkegaard a condição de não conseguir fazer o que se quer é a condição do instante, isto é, o momento de ser ou de não ser, o de encontrar-se existindo ou deixar-se não mais existir. Frankl nos diz: Como podemos ajudar as pessoas que estão desesperadas pela aparente falta de sentido da vida? Eu disse no início que os valores vão desaparecendo porque são transmitidos pelas tradições e nós presenciamos hoje o declínio das tradições. Mesmo assim acredito que seja ainda possível descobrir significados (Frankl, 1989, p. 31) Frankl nos fala de descobrir significados e resgatar valores esquecidos. Esse posicionamento nos leva a entender a falta de sentido como um elo entre a noção de existência e da perda da existência. Igualmente em Kierkegaard há este mesmo sentimento, o de não perder a vida e sim o de problematizar as angústias para alcançar um sentido. Por isso falamos em uma mesma nota na composição desta sinfonia do sentido da vida. SERÁ A RELIGIÃO (RELIGIOSIDADE/ESPIRITUALIDADE) A RESPOSTA PARA A SUBJETIVIDADE E PARA O VAZIO EXISTENCIAL? Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 133 Outro elemento concreto para esta nossa análise será o questionamento sobre a espiritualidade, pois até onde a representação de falta sentido pode ser preenchida por algum tipo de religiosidade ou espiritualidade? A análise existencial descobriu, dentro da espiritualidade inconsciente do ser humano, algo como uma religiosidade inconsciente no sentido de um relacionamento inconsciente com Deus, de uma relação com o transcendente, que, pelo visto, é imanente no ser humano, embora muitas vezes permaneça latente (FRANKL, 2010, p. 58). Assim esta formulação de uma identidade do homem com Deus não pode cair no ostracismo de entender Deus unicamente como ser transcendente no inconsciente. Frankl em A Presença ignorada de Deus afasta de sua teoria existencial uma visualização que se dependa da fé para a resolução de seus problemas, chamado por ele de erros possíveis de interpretação em três módulos: primeiramente, Frankl não quer que o inconsciente, ou mesmo o id, seja ele próprio o divino, em segundo lugar este transcendente não pode ser confundido dentro de uma acepção ocultista e por fim: “Não podemos nunca afirmar com firmeza suficiente que o inconsciente não somente não é divino, nem onisciente, mas, acima de tudo, ao constituir uma relação inconsciente com Deus, não é id-ificado” (Frankl, 2010, p. 59-60). Em outra passagem Frankl continua: “Por conservar o caráter espiritual-existencial da religiosidade inconsciente, ao invés de atribuí-la à facticidade psicofísica, logicamente torna-se também impossível considerá-la como algo inato. Ao nosso parecer, a religiosidade não pode ser inata por não estar presa ao biológico” (Frankl, 2010, p. 62). A religiosidade em Frankl só é genuína quando for existencial. Para Kierkegaard a religiosidade (crença) só é possível através do mesmo veículo existencial, pois no pensador dinamarquês o homem de fé verdadeira é o homem que compreende o sentido do cristianismo, sua autêntica tarefa é reconhecer que a existência humana é uma existência individual e somente isso. Para nossos dois autores a vida sem sentido desemboca no absurdo. Aquino nos informa: “Qual o sentido do sentido? Na obra de Frankl, o sentido pode ser discutido sob três aspectos. O primeiro conceito que a Logoterapia compreende sobre o sentido é o sentido da vida ou o sentido do momento, o que compreende como uma magnitude vetorial” (Aquino, 2011, p. 59), em Kierkegaard este sentido é encontrar-se no mesmo, isto é encontrar-se existindo plenamente. Por isso, para o homem também é facultado o sentimento de morte e de solidão que seria uma espécie de vazio existencial. Frankl possibilitará o encontro com a forma de se dar sentido a vida pelo viés da significação que o homem dá a si mesmo, pois assim o homem está vinculado a uma esfericidade que lhe propõe o encontro de sentido para viver: “O homem procura sempre um significado para sua vida. Ele está sempre se movendo em busca de um sentido de seu viver; em outras palavras, devemos considerar aquilo que chamo vontade de sentido” (Frankl,1989, p. 23). Neste mesmo sentido um autor bem contemporâneo nos auxilia a compreender esta temática de Frankl, para Torralba. “Vontade de sentido (die Wille zum Sinn) de Frankl não é uma questão de fé. É um fato, um fenômeno que se detecta nas entranhas mais profundas do ser humano” (Torralba, 2012, p. 70), se o homem pudesse dar marcha ré a coisas passadas que fez ou que disse, se arrependeria, esta constatação revela o desejo de mudar as coisas, dessa forma a vontade de sentido significa a vontade de viver. Em Kierkegaard o sentido de viver é conduzido por um elemento bastante parecido, pois para o filósofo dinamarquês se não houver um algo que motive o ser a encontrar- se consigo mesmo não haverá homem. Torralba ao nos envolver dentro de sua inteligência espiritual nos fornece o elemento de que a busca de sentido é não gradual e não age por um tempo cronológico, para este autor, a forma com a qual Frankl estabelece o ser humano que busca sentido coloca-se como fundamental para a compreensão da modernidade do homem. Nos diz Torralba: “Segundo Frankl, existem três caminhos para encontrar um sentido para a vida: a) fazer ou produzir algo; b) vivenciar algo ou amar alguém; c) entrar em um destino inevitável e fatal com uma atitude de firmeza adequada” (Torralba, 2012, p. 72). O conceito de inteligência espiritual desenvolvida por Torralba é a recuperação da forma com a qual a religiosidade afeta o ser o humano, a noção/ideia de carência espiritual é tratada por este autor como um sentido da vida, isto é, existe a carência espiritual por que o homem busca sentido na vida. Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59 134 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 Na logoterapia o sentido ou o desejo de obter sentido para a vida não é representado como uma questão de fé e sim como uma realidade (cf FRANKL, 1989, p. 25). Também para Frankl o desejo de sentido não só é uma genuína manifestação da humanidade do homem, mas é também um plausível indicio de saúde mental (cf Frankl, 1989, p. 28). Frankl enfatiza que o interesse supremo do ser humano é encontrar sentido para a existência, mas entende que muitas pessoas se encontram frustradas diante desta busca de significado para viver. Frankl em Psicoterapia na Prática denomina vácuo existencial uma espécie de neurose de não ter encontrado o sentido da vida. Para Frankl o mundo se torna possível de realização se há algum sentido que de alguma forma justifique o homem. O sentido existencial é a única resposta para o vazio existencial. Segundo Aquino: “O vazio existencial se manifesta por meio do tédio, da falta de interesse e da indiferença, o que pode ocasionar transtornos psicossociais tais como a tríade da neurose de massas: a drogatização, agressão e depressão/suicídio, fenômenos estes que caracterizam a sociedade contemporânea” (Aquino, 2011, p. 69). Para Frankl a logoterapia auxilia o homem que precisa recuperar valores reais perdidos (ou trocados) por falsos valores e ilusões no mundo: “Assim o homem se realiza, não se preocupando com o realizar-se, mas esquecendo a si mesmo e dando-se, descuidando de si e concentrando seus pensamentos para além de si” (Frankl, 1989, p. 29). Em Kierkegaard estes elementos estão quase que totalmente atrelados a religiosidade do ser humano e a sua atitude perante a autenticidade da fé cristã. Os últimos anos de produção intelectual do pensador dinamarquês sempre esteve muito presente a clarificação dos ideários da fé cristã, de sua busca pela autenticidade e das verdades de fé que estavam sendo inebriadas pelos representantes que deveriam justificar a fé ao invés de apologizá-la em sentido contrário. No pequeno texto, mas extenso em sua profundidade, Minha Tática, Kierkegaard propõe reintroduzir o cristianismo de forma veemente, nos falando que sua tarefa é levar ao homem a encontrar-se dentro de sua espiritualidade e não vender-se a propósito de impostos para a autenticação da fé cristã. “Minha tática, com a ajuda de Deus, consistia em empregar todos os meios para por a claro qual é o requerimento do cristianismo verdadeiramente, ainda que nenhuma só pessoa se sentisse tentada a entrar nele” (Kierkegaard, 2001, p. 8) continua em sua quase autobiografia Ponto de Vista: “... sou, com efeito, um autor religioso... minha tarefa: reintroduzir o Cristianismo na cristandade” (Kierkegaard, 1986, p. 22). Assim, encontrar sentido na vida para nosso filósofo dinamarquês é encontrar sentido na fé cristã. Poderíamos dizer que esta obra O Ponto de Vista explicativo de minha obra como autor, obra publicada póstuma, seria um relatório de como as pessoas interessadas poderiam ler e compreender Kierkegaard, um relatório para a História, anteriormente tinha ele publicado um texto intitulado Sobre minha obra como autor para depois escrever mais densamente o esclarecimento que sempre foi um escritor religioso. Kierkegaard é claro consigo mesmo, com efeito, ele refletiu sobre a unicidade de toda a sua obra, e fez questão de explicá-la para os que não a compreenderam, é por isso que esta obra se apresenta como um balanço de toda a sua atividade. “Na minha obra cheguei a um ponto onde é possível, onde experimento a necessidade, e, por conseguinte, considero agora meu dever declarar de uma vez por todas tão francamente, tão abertamente, tão categoricamente quanto possível, em que consiste a produção, o que pretendo ser como autor” (Kierkegaard, 1986, p. 21). Toda a obra de Kierkegaard se divide em três etapas de conhecimento como vimos, o estético, o ético e o religioso, no Ponto de Vista ele faz uma relação de quais são as obra que se encontram em cada um destes estádios de vida, realizando assim um caráter duplo ou duplicidade de toda a obra2. Este mesmo sentimento também se encontra no texto Evangelho dos Sofrimentos também de Kierkegaard: “Mas no sofrimento a obediência é a verdadeira obediência, na obediência a fé é a fé, e na fé a eternidade é verdadeiramente a eternidade” 2 Na primeira seção, na parte A, Kierkegaard, intitula-a de “Duplo caráter ou duplicidade de toda a obra: se o autor é o autor de ordem estética ou religiosa” e segue a nota que é dele mesmo: “Eis para lembra-los, os títulos das obras: Primeiro grupo (produção estética), A Alternativa, Temor e Tremor, A Repetição, O Conceito de Angústia, Prefácios, Migalhas Filosóficas, Etapas no Caminho da Vida e Dezoito discursos edificantes. Segundo Grupo: Apostila Conclusiva não- científica. Terceiro grupo (produção estritamente religiosa) Discursos edificantes sobre diversos pontos de vista, As Obras de Amor, Discursos Cristãos. (Nota de Kierkegaard) in Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra como Escritor. Edições 70. Lisboa, p. 27. Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 135 (Kierkegaard, 1955, p. 64). A fé em Kierkegaard é verdadeiramente fé que nutre-se pela obediência e eternidade, palavra que soa juntamente com Kierkegaard o caminho para o termo da verdade. Kierkegaard exige a verdade, para ele a fé era uma das mais fortes e autênticas verdades. Em determinado tempo, Kierkegaard crítica a forma com a qual os pastores na Dinamarca entoavam o cristianismo, fazendo dele uma alternativa inválida para seus pré-requisitos de autenticidade e veracidade. Para o pensador dinamarquês estes pastores somente queria a desculpa de serem cristãos para manipular a fé do povo. Esta crítica de Kierkegaard afirma que “O cristianismo não existe”(Kierkegaard, 1956, p. 29), pois segundo ele aquele cristianismo praticado na Dinamarca era qualquer coisa menos o cristianismo de Cristo. Sua crítica tem continuidade quando percebe o que são verdadeiramente os valores deste cristianismo. Kierkegaard vê desse modo revelada, através do cristianismo, a própria substância da existência. Paradoxo, escândalo, contradição, necessidade e ao mesmo tempo impossibilidade de decidir, duvidar, angustiar-se, são as características da existência e são ao mesmo tempo os fatores essenciais do cristianismo. Um Cristianismo, todavia, de que Kierkegaard se apercebe ser bastante diferente de sua época. “Estou na posse de um livro, que neste país se pode considerar desconhecido e cujo titulo não posso deixar de anunciar – O Novo Testamento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (Kierkegaard, 1956, p. 118). No pequeno texto, de onde fora tirada esta citação, Como julga cristo o cristianismo oficial de 1854, Kierkegaard dá outras severas palavras contra a igreja da Dinamarca. “O que é, pois a Cristandade” (Kierkegaard, 1956, p. 118). Kierkegaard enfatiza a necessidade de reformar os lideres da igreja como autênticos testemunhos da verdade. “Imaginemos que toda a assembleia está reunida na igreja do cristianismo e de repente entra Cristo. O que crês que haveria? Bem, o que aconteceu podemos ler no Novo Testamento” (Kierkegaard, 1956, p 363), isto é, seriam visto como hipócritas, serpentes e raça de víboras (cf. Jo 2, 15ss). Kierkegaard utiliza-se de várias passagens para explicitar a dissonância do cristianismo com a verdadeira proposta de Cristo (Mt 23, 29-33 e Lc 11, 47-48) e “Se talvez, quando a eternidade acabar um dia com o diferenciado, a absolvição for pronunciada invocando a ignorância... pois (Cristo) Ele não era um homem, era a verdade” (Kierkegaard, 1956, p.153). Em um dos dois pequenos tratados Ético-Religiosos que se chama Um homem tem o direito de se deixar condenar à morte pela verdade? de 1847, ele identifica na parte A3 e diz do que realmente está falando “A Doutrina da morte e do sacrifício de Jesus Cristo” (Kierkegaard, 1986, p.128). Então ele nos um momento muito bonito e interessante de reflexão: “Posso perfeitamente conceber que Cristo, todo amor, tenha querido sacrificar a sua vida por amor; mas não posso conceber que Ele, todo amor, tenha podido deixar os homens tornarem-se culpados de o condenar a morte” (Kierkegaard, 1986, p. 128). Ainda na Parte A, Kierkegaard dá continuidade a temática de quem por amor morre e na morte salva e coloca a humanidade no perfil de salvação. “No amor, Ele quer morrer a morte redentora; mas, que tenha de morrer, é necessário que a geração contemporânea se torne culpada de um homicídio” (Kierkegaard, 1986, p. 134). Morrer por amor a uma humanidade é causa de por amor ver que seu amor tornou-se verdade. Quando alguém é condenado a morte pela verdade, é necessário que alguém o mate. Pela verdade se pode morrer de uma morte que leva a vida. A fé será o fator de grande observância para Kierkegaard e ninguém a terá como uma simples condição ou padrão de vida para se estabelecer onde quer que seja. “A filosofia não pode nem deve dar a fé; a sua tarefa é compreender-se a si mesma, saber aquilo que oferece; nada ocultar e sobretudo nada escamotear” (Kierkegaard, 1974, p. 127). Na obra Temor e Tremor o homem no entender de Kierkegaard tem a possibilidade de empreender o movimento da fé para alcançar a sua dignidade própria e se tornar como ele mesmo chama Cavaleiro da fé (Troens Ridder), ou a nosso ver, este cavaleiro da fé seria um defensor da fé, uma pessoa que obedece a lei divina sem ao menos questioná-la, e se ele não obedece o que lhe é imposto pelo Absoluto, ele acaba tornando-se um herói trágico que engana-se por pensar que seus feitos vistos como impossíveis pelos outros, é que lhe faz ser verdadeiramente homem. Ao referir-se à história de Abraão, no capitulo 22 do Gênesis, Kierkegaard faz notar, na narrativa de uma outra história, a inquietação que a mesma história do patriarca 3 Este texto é dividido em parte A, B, C, D e E. Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59 136 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 provocara numa criança que guardou o fato na sua memória por toda a sua vida, procurando entendê- la. Frankl elaborará sua ontologia dentro dos limites humanos da existência. Essa correlação com a filosofia de Kierkegaard fica expressa em suas palavras no intuito de verificar o homem dentro de sua limitação, isto é, em Frankl, igualmente a Kierkegaard, a situação-limite da existência é fato de importante necessidade: “Em todos os nossos esforços para traçar os limites ontológicos, ainda não levamos em conta que o seu humano não é apenas um ser que decide, mas também um ser separado. Ser humano não significa outra coisa senão ser indivíduo” (Frankl, 2010, p. 22). Este indivíduo ontologicamente como ser separado é em Kierkegaard o instante. Para Kierkegaard este instante pode ser traduzido como a morte prefigurada do ser, isto é, buscar a vida e só encontrar a morte. Nos diz Kierkegaard: Assim, estar mortalmente doente é não poder morrer... o desespero é a doença para a morte, um suplício contraditório, uma doença do eu: eternamente morrer, morrer sem todavia morrer, morrer a morte. Porque morrer significa que tudo esta acabado, mas morrer a morte significa viver a morte e viver a morte significa vivê-la eternamente (Kierkegaard, 1974, p. 121) Morrer sem todavia morrer. Em Kierkegaard a possibilidade do morrer é a possibilidade do instante, pois morrer a morte significará morrer em sua completa natureza, por isso que a cada dia, em nosso filósofo, morremos um pouco até que a morte verdadeira ocorra. Eis o instante, eis a busca ontológica do ser situado e do ser limitado. CONCLUSÃO Muito ainda poderá ser dito sobre Kierkegaard e Frankl, aqui nos limitamos a apresentar alguns pontos de igualdade em ambos os pensadores. Frankl e a logoterapia estão muito próximos de uma filosofia da existência, estão também próximos da perspectiva kierkegaardiana da compreensão do ser das coisas através de uma autêntica fé cristã. A análise existencial que tem como principal premissa o vazio existencial pode ser vislumbrado dentro das categorias elaboradas por Kierkegaard que nutre em si uma verticalização da fé e ao mesmo tempo uma discordância das tarefas de como se chegar a ela. Será na religião que encontraremos uma resposta para a pergunta sobre o sentido da vida? Diversas religiões respondem seus anseios através da busca pelo sentido da vida. Provavelmente a vida espiritual conforta e auxilia a entrada no caminho que possibilite o homem a encontrar a si mesmo. Sabryna Martins - sabrynamartins.bibi@gmail.com - IP: 177.220.173.59 LOGOS & EXISTÊNCIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1 (2), 128-137, 2012 137 Referências Aquino, T. A. A. (2011). Logoterapia e análise existencial. Uma introdução ao pensamento de Viktor Frankl. João Pessoa. Editora Universitária. Farago, F. (2006). Compreender Kierkegaard. Petrópolis. Vozes.. Fizzotti, E. (1997). Conquista da liberdade. Proposta da logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo. Paulinas. Frankl, V. (2010). A Presença ignorada de Deus. São Leopoldo/Petrópolis. Sinodal/Vozes. Frankl, V. (1989). Um Sentido para a Vida. Psicoterapia e Humanismo. Aparecida/SP. Santuário. Frankl, V. (1994). Em busca de sentido. Um psicólogo no campo de concentração. São Leopoldo/Petrópolis. Sinodal/Vozes. Frankl, V; & Lapide, P. (2005). Búsquedade Dios y sentido de la vida. Dialogo entre um teólogo e um psicólogo. Barcelona. Herder. Kierkegaard, S. (1991). O Conceito de Ironia. Petrópolis. Vozes. Kierkegaard, S. (1978). Textos Selecionados por Ernani Reichmann. Curitiba. UFPR. Kierkegaard, S. (1949). Post-Scriptum. Paris. Gallimard. Kierkegaard, S. (1974). Col. Os Pensadores. São Paulo. Abril Cultural. Kierkegaard, S. (2001). Minha Tática. 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