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METODOLOGIA CIENTÍFICA unidade 4

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METODOLOGIA CIENTÍFICA
CAPÍTULO 4 - QUAIS OS RISCOS DA PRÁTICA DO PLÁGIO EM PESQUISAS?
4.1 Aspectos éticos na pesquisa
Essa tarefa de pensar sobre aspectos éticos da pesquisa é complexa, pois a conotação do termo “ética” é, em si, carregada de sentido e difícil de ser apreendida. Desde a discussão dos primeiros filósofos gregos até os dias de hoje, temos que debater sobre os aspectos éticos é necessário.
A palavra “ética” vem do grego “ethos”, ou seja, uma ciência da conduta, o fim para o qual a conduta do homem deve se orientar, um comportamento responsável, o justo e o injusto em sentido amplo. Porém, resta-nos saber qual conduta deve ser a orientadora.
Aliás, você saberia responder quais condutas beneficiam o bem comum?
Acrescenta-se à discussão a questão de que, ao falar em ética, a noção de moral se apresenta como se não fosse possível discutir sobre a primeira sem citar a segunda, quase como expressões sinônimas. Contudo, uma distinção se faz necessária. Sobre a ética, temos que é um “[...] ramo da filosofia que fundamenta científica e teoricamente a discussão sobre valores, opções (liberdade), consciência, responsabilidade, o bem e o mal, o bom e o ruim” (NOSELLA, 2008, p. 256). Já a moral, por sua vez, é a dimensão pragmática da conduta humana, ou seja, os hábitos, os costumes, o modo ou a maneira de viver, a moral ou o imoral.
Entre a natureza da ciência, do saber científico questionador das certezas estabelecidas e da discussão dos valores éticos, o debate entre o bem e o mal está posto desde Platão, para quem cabia à Filosofia estabelecer os limites, a medida certa da ciência por meio da ética filosófica do homem livre, pois a condição de existência do servo era natural e não se constituía um problema científico, nem ético. Em Aristóteles, ao poder político caberia garantir a felicidade dos cidadãos (livres), e a esse poder também competia estabelecer o limite da ciência.
No período medieval, a ciência foi paralisada em razão das condições do pensamento dogmático, do limite à liberdade de pensamento e da curiosidade. Nesse ponto, é importante esclarecermos a diferença entre a concepção de ciência desde a antiguidade, o período medieval ou, mesmo, a era moderna (século XVII); e a concepção de ciência moderna a partir do século XVIII. Vale destacarmos que, em cada uma dessas épocas, “[...] a ideia de natureza é diferente; em cada uma delas métodos empregados são diferentes; em cada uma delas o que se deseja conhecer é diferente” (CHAUI, 2010, p. 223).
Em descontínuos e diferentes movimentos, a história da ciência, no modo de conhecer elaborado, vai sendo transformada a partir de mudanças provocadas por acontecimentos importantes, como o surgimento das universidades, espaço de reflexão e produção de conhecimento; a criação das cidades; os diferentes modos de produção e de organização social; bem como da separação entre poder da Igreja e do Estado. Assim, nesse processo de rupturas, o conhecimento científico vai se produzindo.
Desde Rousseau (1750) a questão ética se faz presente:
[...] há alguma relação entre a ciência e a virtude? Há alguma razão de peso para substituirmos o conhecimento vulgar que temos da natureza e da vida e que partilhamos com os homens e mulheres da nossa sociedade pelo conhecimento científico produzido por poucos e inacessível à maioria? (SANTOS, 2004, p. 16). 
Jean Jacques Rouseau (1712-1778) foi um filósofo do século XVIII. Ele defendia os ideais da justiça e da paz igualmente entre soberanos, ricos e pobres. Para ele, a origem da desigualdade entre os homens seria agravada com a instituição da propriedade privada, incluindo o início da formação da sociedade civil e o trabalho assalariado. Sua ideia era a criação de um contrato social como mecanismo de mediação das relações entre os homens.
De acordo com Santos (2004), regressamos à questão de origem entre ciência e ética, tecnologia e virtude, conhecimento prático que usamos para resolver as nossas vidas e conhecimento científico e tecnológico, sempre e continuamente produzido por poucos, mas inacessível para muitos.
Figura 1 - Einstein mencionava que adquirir autoridade com o estudo natural deu a ele uma responsabilidade sobre o reino social.Fonte: 360b, Shutterstock, 2018.
No século XX, após duas Guerras Mundiais, pensadores como Gramsci, Brecht e Sartre reafirmaram a necessidade de questionar a ligação “[...] entre virtude e ciência, entre ética e pesquisa, entre autoridade política e consciência individual. Não se pode pesquisar sem saber para que se faz isso” (NOSELLA, 2008, p. 264). Devemos à ética, então, as perguntas sobre a conduta do homem (livre): em que sentido deve-se orientar? Qual é o comportamento responsável diante dos problemas enfrentados pela humanidade?
Uma consideração formulada por Almeida (2008, p. 356), em sua reflexão sobre a ética, diz que “[...] o ser ético é também aquele que continuamente se pergunta sobre a própria moral – o que é um exercício de percepção da ‘provisoreidade’ da moral”. Dessa forma, a ética é um exercício dinâmico que acompanha a formação do estudante e do pesquisador.
A mentira é uma prática humana que ocupa a discussão filosófica. O pensamento teológico de Tomás de Aquino classificava a mentira em viciosa (ato de enganar), oficiosa (para alcançar algum bem) e jocosa (ato de divertir), sendo atos considerados pecado. Atualmente, com a circulação de conteúdo via internet, a expressão fake news, ou notícias falsas, tem ocupado os noticiários e a vida dos internautas. Assim, cabe uma reflexão: como pensar na ética em tempos de fake news?
Esses questionamentos quanto à ética se dão de forma a alcançar a conduta do Homem, mas também são postas para cada um em sua individualidade, em sua condição humana, como na antiguidade clássica do “conhece-te a ti mesmo”. A “[...] ética e a sua eterna capacidade de nos fazer perguntar sobre o bem [...]” (ALMEIDA, 2008, p. 355), assim, na atualidade das comunidades virtuais, redes sociais e fluxos cada vez mais acelerados, as questões éticas se tornam complexas e tomam nova forma, ainda que a tecnologia informacional alcance de maneira desigual as fronteiras.
Dessa forma, em nossa sociedade informacional atual de relações mediadas por tecnologias digitais, em que hipertextos e artefatos audiovisuais circulam velozmente, compete perguntar de quem é a autoria? Quem é o plagiador? Qual é a ética da ciência?
4.1.1 Autoria e plágio
O conceito de autoria está ligado à responsabilidade de algo. Assumir a autoria é se responsabilizar pelo dizer, pelo discurso, ainda que ele, em sua originalidade, carregue outros discursos, de outros autores. De acordo com a abordagem freireana (2007), a educação da sociedade deve almejar torná-la composta por seres autônomos, na acepção da possibilidade humana de fazer suas próprias escolhas, de acordo com sua liberdade moral e intelectual. Nesse sentido de liberdade, repousa a responsabilidade do autor, bem como de sua autoria.
A lei de direitos autorais no Brasil define o autor como aquela pessoa ou aquelas pessoas indicadas ou identificadas nas obras como suas criadoras intelectuais. A lei prevê, ainda, a criação intelectual coletiva, ou seja, a coautoria por meio do grau de participação na criação da obra. A autoria, então, é objeto de normatização em códigos de ética de diferentes profissões envolvendo a produção de artigo científico, bem como a produção de patentes, marcas e o desenho industrial. 
O Código Penal trata em sessão específica dos crimes contra a propriedade intelectual. O crime de violação aos direitos autorais, no art. 184 do código, diz que violar os direitos de autor e os que lhe são conexos gera detenção de três meses a um ano, ou multa. Na literatura jurídica, encontra-se casos de litígio de plágio de músicas entre autores renomados e clássicos da literatura, como a obra Romeu e Julieta, do dramaturgo inglês Willian Shakespeare.
Aprender a autoria e assumir a posição de autor exige o que Freire (2007) chama de curiosidade epistemológica, ou seja, a capacidade crítica crescentede aprender e conhecer o que se faz e o motivo para se fazer. Isto é, as intenções, os condicionantes de um determinado fazer e a ocultação ou o silenciamento de outros tantos fazeres. Entretanto, essa autoria pretendida é controversa porque parte do saber diz respeito a pensar e, como ele questiona a autoridade e duvida do instituído, ocupa lugar entre forças do saber e do poder, pois, assim, está em “[...] jogo a cidadania que sabe pensar para poder melhor intervir” (DEMO, 2008, p. 70).
Nessa discussão, Demo (2008) atribui à autoria dois sentidos igualmente práticos. O primeiro é o de forjar no autor a atitude reflexiva de quem é capaz de construir um texto próprio, com base na autoridade do argumento. O segundo sentido é o da intervenção social e política, visando transformar a sociedade de maneira crítica e responsável.
O sentido da autoria envolve professores e estudantes da educação básica e universitária a quem Demo (2008) dirige sua crítica. Ele afirma que um professor não é autor, pois sua formação docente não incluiu a competência leitora entre seus objetivos. Demo (2008) também critica o ensino destituído da pesquisa, da formação do pesquisador crítico, criativo e instigador. Além disso, menciona a prática docente que se contenta em “dar aula”, como se essa ação não fosse uma aventura, na qual cada um constrói e reconstrói seu próprio caminho, cheio de surpresas e desafios. 
O texto “Ética e Cidadania do Conhecimento”, escrito pelo professor Pedro Demo, alerta sobre o perigo do saber como artimanha colonizadora, discutindo sobre o conhecimento e a pobreza política e ética. Você pode ler o artigo completo no link: <https://docs.google.com/document/pub?id=1fDZzS8W0UZjOo6fFORMI4HRJRAz5MhtqiSpHZfd8X2o>.
Vale questionarmos, aqui, como fica a prática docente frente à formação da autoria em época de expansão da internet e seus espaços colaborativos de aprendizagem. Em tempos de hipertextos disponíveis sobre toda sorte de temas, acessíveis ao alcance de um click, como estabelecer os limites éticos da autoria? Você, leitor, em uma escala de zero a dez, o quanto se considera um autor?
Uma pesquisa de campo sobre plágio na universidade com estudantes graduandos do curso de Letras revelou que 36,84% assumem já terem cometido plágio de texto; 21% plagiaram, mas não assumem; e 41,1% dizem não ser a favor do plágio (SILVA, 2008). A ocorrência de plágio na graduação e mesmo na pós-graduação não é prerrogativa dos estudantes do curso de Letras, sendo uma realidade presente no ensino atual da geração do “copia e cola”. Os entrevistados justificaram o uso do plágio principalmente pela facilidade e pela exposição dos materiais, bem como uma aparente sensação de liberdade, de que o conteúdo circulado pela internet não possui autoria identificada e pode ser copiado na íntegra ou parcialmente apropriado. Essa situação é reveladora da emergência do tema para os ensinos básico, superior e de pós-graduação, além de para as comunidades científica e acadêmica de modo geral, pois o problema também existe entre esses pares.
O plágio, sendo assim, não se constitui apenas quando a obra é apropriada indevidamente em sua totalidade, sendo que a apropriação parcial ou conceitual de uma ideia original, sem o devido crédito autoral, também se constitui como plágio e deve ser evitada. Essa é uma questão ética a ser discutida no ambiente escolar e acadêmico, afinal, o acesso a esse universo informacional está posto, resta saber o que somos capazes de fazer com ele e como dirigir nossa conduta de forma responsável, seja individual ou coletivamente.
O vídeo Autoria, pirataria e plágio na era digital apresenta a discussão do professor Sérgio Abranches no II Simpósio Hipertexto e Tecnologias na Educação de Recife. Ele trata da cibercultura como realidade, em que práticas e significações sobre autoria estão sendo modificadas enquanto novas redes societárias e tecnológicas estão sendo tecidas. Você pode ver em: <https://www.youtube.com/watch?v=Wtp_9hjH3x8>.
Na internet, o material disponível se encontra protegido por sistemas de licenciamento do tipo convencional “Todos os direitos reservados” e o sistema “Alguns direitos reservados”. O último permite a livre manipulação, distribuição, compartilhamento e replicação dos conteúdos como forma difusora de conhecimentos. Esse sistema possui formas diferenciadas de licença em seis tipos de gradação, que pode ser desde a renúncia quase total, por parte do autor, até nível mais restrito; isso significa que o autor original decide a melhor maneira de disponibilizar seu material. De toda forma, é exigida a identificação do autor da obra e que obras sucessivas, elaboradas com base nesse sistema, estejam disponíveis para compartilhamento, manipulação, distribuição e replicação. 
A discussão sobre autoria e plágio no meio acadêmico, da ciência e da pesquisa, envolve aspectos éticos e morais em sua dimensão pragmática de respeito a hábitos e costumes em formação e (de) formação. Ou seja, em tempo de produção compartilhada, a noção de autoria e plágio tende a construir novos significados.
4.2 Dilemas
Todos os projetos de pesquisa científica, em qualquer área de conhecimento que envolva seres humanos, são obrigados a se submeterem a uma análise em seus aspectos científicos e éticos. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), ligada ao Conselho Nacional de Saúde, preconiza que devem existir Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) em instituições que desenvolvam pesquisas com seres humanos. Esses comitês são compostos de forma multidisciplinar, multiprofissional e independente, reunindo especialistas, cientistas e leigos. Os CEP têm como finalidade avaliar que as pesquisas realizadas sejam cientificamente fidedignas, metodologicamente corretas, moralmente aceitáveis e socialmente relevantes (BRASIL, 2007).
A criação internacional de Comitês de Ética em Pesquisa tem origem na formulação do Código de Nuremberg (1947), em razão das atrocidades cometidas por médicos e cientistas durante o regime nazista contra o povo judeu. Esse código foi revisado e complementado pela Declaração de Helsinque (1964-2000) da Associação Médica Mundial. O Brasil acompanha essa tendência mundial desde 1996, mediante Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 196/96, atualizada pela Resolução n. 466/2012 (SCHRAMM, 2004).
O texto “Ética em Pesquisa: os desafios das pesquisas em ciências humanas e sociais para o atual sistema de revisão ética”, de Érica Silva e Everton Pereira, aborda a avaliação de projetos de pesquisa envolvendo seres humanos, mediante experiências dos autores no Comitê de Ética em Pesquisa. Você pode entender melhor sobre os impactos disso lendo o artigo na íntegra: <https://goo.gl/TTrjMa>.
O protocolo de avaliação por membros do CEP requer do pesquisador a submissão do projeto de pesquisa, acompanhado do documento de consentimento livre e esclarecido dos indivíduos e populações a serem pesquisadas, bem como a documentação comprobatória da instituição de origem do pesquisador de que a pesquisa será efetuada de acordo com as regras estabelecidas pelo Conselho Nacional de Saúde. Como registra Minayo (2005, p. 161), “[...] no caso de populações consideradas vulneráveis, como é o caso dos indígenas e das crianças, os protocolos são mais exigentes e requerem mais tempo para sua efetiva obtenção”. No caso de estudantes dos cursos de pós-graduação stricto sensu (doutorado e mestrado), o pesquisador, apoiado por seu orientador, encaminham todo o procedimento. 
O uso da Resolução n. 466/2012 como norma regulamentar para as pesquisas envolvendo seres humanos vem sendo objeto de discussão por parte dos pesquisadores da área de ciências humanas e sociais, adeptos da pesquisa de abordagem qualitativa, considerando a inadequação dos seus princípios positivistas. Como apresenta Guerreiro (2016, p. 2620), “[...] inúmeras publicações brasileiras discutem as solicitações inadequadas que os CEP fazem, em especial em relação às pesquisas qualitativas”.
Podemos destacar, ainda, que controvérsias sobre o abuso de poderpor parte dos CEP; do tipo corporativo por parte dos seus membros — nem sempre organizados —, considerando o equilíbrio representativo das diferentes áreas do conhecimento; conflitos de interesses; e existência de preconceitos têm sido objetos de registros nos meios científico e acadêmico. Nesse sentido, “[...] o conjunto formado por regulamentações, normas e comitês continua sendo um importante meio, senão para eliminar todos os abusos, pelo menos para reduzi-los de acordo com a atenção de seus representantes” (SCHRAMM, 2004, p. 777). Assim, pesquisadores da área de ciências humanas e sociais, membros do GT-CHS/CONEP, depois de longo processo (2013-2016) participativo e solidário de análise e avaliação da Resolução n. 466/2012, alcançaram a publicação da Resolução n. 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, que trata da pesquisa em ciências humanas e sociais, reivindicação há muito aguardada por pesquisadores da área.
Os dilemas enfrentados por pesquisadores e acadêmicos podem ser observados por diferentes prismas, desde aqueles de ordem pragmática, epistemológica, metodológica ou administrativa até os de gestão ou ordem financeira. Em todos eles a questão ética e a responsabilidade do pesquisador são evidentes e norteiam ou devem nortear suas escolhas.
O financiamento de pesquisas avançadas no país é uma questão delicada e controversa. Agências de fomento à pesquisa e tecnologia — como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) — e fundações estaduais de amparo à pesquisa têm sido alvos de contingenciamento dos recursos orçamentários previstos para o desenvolvimento de suas ações, comprometendo a formação de novos pesquisadores e a continuidade de pesquisas em andamento.
A recente história da humanidade está repleta de alertas ao pesquisador, como a pesquisa em busca de novas fontes de energia, que resultou na construção da bomba de hidrogênio, dizimando as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. Temos, também, o caso brasileiro ocorrido na cidade de Goiânia em 1987, conhecido como Césio 137, fato pouco pesquisado em sua origem e repercussão, conhecimentos para serem investigados e difundidos na população para que nunca mais se repitam. Esses alertas fazem o pesquisador refletir sobre os caminhos e os sentidos da ciência, além da complexa formação de novos pesquisadores.
Em suas considerações sobre a questão ética da pesquisa, Nosella (2007, p. 267) aponta como principal problema ético a contradição entre uma “[...] superconcentração de riquezas e o aumento desmedido da pobreza”, resultante da crescente produção de riquezas concentradas em uma pequena parcela da população e da estagnação dos modelos de desconcentração das riquezas em grande parcela da população assalariada ou dependente de planos de atendimento social, que ficam distante das riquezas produzidas.
Diante dos desafios que se impõem ao pesquisador e da responsabilidade social e política no desempenho de sua ação na produção do conhecimento científico, sua difusão à reflexão sobre a ética profissional e a consistente formação científica se configuram como um compromisso assumido desde as primeiras etapas do projeto de pesquisa. 
4.3 Planejamento da pesquisa: projeção dos capítulos e cronograma
Um planejamento tem como uma das suas principais características a flexibilidade e o caráter articulador entre as diferentes etapas de uma determinada ação. O planejamento da pesquisa deverá acompanhar o pesquisador desde o início do trabalho até a conclusão e divulgação dos resultados. Todos os aspectos deverão constar do planejamento inicial, e, com as ocorrências, as correções e adequações ao planejamento deverão ser ajustadas. Para uma pesquisa que conta com aporte de recursos de agência de fomento à pesquisa, o planejamento será ainda mais relevante e detalhado.
O planejamento bem formulado esclarece de forma minuciosa algumas questões, conforme vemos na figura a seguir.
Figura 2 - Elementos de composição de planejamento de pesquisa.Fonte: Adaptado de LAKATOS e MARCONI, 2017.
Antes mesmo de iniciar o plano de trabalho, o pesquisador, logo após a definição do tema e do problema de pesquisa, deverá proceder ao que Lakatos e Marconi (2017) chamam de estudos preliminares. Esses estudos têm como objetivo verificar o estado da arte do tema escolhido, ou seja, são estudos realizados com o intuito de inventariar e mapear a produção científica em determinada área de conhecimento. Com esse estudo, o pesquisador verifica as tendências teóricas mais relevantes de abordagem do tema, o tipo de metodologia recorrente ao estudo da temática, principais autores interessados no tema, as críticas e os obstáculos apontados, além das lacunas existentes nos estudos mapeados. Embora seja um estudo preliminar, o material levantado será aproveitado na pesquisa como subsídio para análises posteriores ou como parâmetro ao que está sendo proposto.
Esse mapeamento é denominado por Bonin (2010, p. 07) como a pesquisa da pesquisa, pois “[...] permite visualizar os problemas já enfrentados na investigação, os conhecimentos obtidos e daí trabalhar na formulação de questionamentos que tragam à luz novas dimensões dos fenômenos”. A autora reafirma que essa opção metodológica potencializa a autoconstrução do pesquisador, atuando na formação individual e da pesquisa em equipes de trabalho.
De posse de todo esse mapeamento, o pesquisador elabora o anteprojeto de pesquisa para ter uma ideia sistematizada dos aspectos teóricos e metodológicos do trabalho. Programas de pós-graduação comumente requerem aos candidatos a apresentação do anteprojeto de pesquisa em processos seletivos. É a intenção de pesquisa organizada sistematicamente, embora se saiba que, até o produto final ficar pronto em definitivo, muitas modificações serão efetuadas.
Tomando como exemplo os cursos de pós-graduação, após a aprovação no processo seletivo, o pesquisador deverá apresentar à comissão do curso ou ao orientador o projeto de pesquisa definitivo. Contudo, este também sofrerá ajustes no decorrer do aprofundamento dos estudos. De acordo com Koche (2016, p. 122), “[...] o planejamento de uma pesquisa depende tanto do problema a ser investigado, da sua natureza, e situação espaço temporal em que se encontra, quanto da natureza e nível de conhecimento do investigador”. Assim, a estrutura do projeto de pesquisa pode conter variações para atender exigências particulares do programa de pós-graduação, da agência de fomento financiadora ou do centro de pesquisa ao qual será apresentado.
Ressalva feita, podemos observar a estrutura do projeto de pesquisa baseado na formatação proposta por Lakatos e Marconi (2017) com o quadro a seguir.
Quadro 1 - Modelo de estrutura geral do projeto de pesquisa com seus itens característicos.Fonte: LAKATOS e MARCONI, 2017, p. 216.
Ao relatar a experiência da pesquisa de avaliação do “Projeto Cuidar”, em que atuou como coordenadora, Minayo (2005, p. 161) destaca como algumas etapas de preparação da pesquisa contínua de difícil execução, exemplificando o que é preciso:
- Obter permissões oficiais ou oficiosas para a realização da pesquisa;
- Selecionar e capacitar uma equipe para o trabalho de campo;
- Listar e preparar todos os suprimentos, equipamentos e instrumentos que serão necessários;
- Organizar os detalhes da estadia, como hospedagem e transporte;
- E, a depender do tipo de estudo, torna-se vital elaborar uma agenda, um roteiro de atividades, fazendo contatos prévios, marcando visitas, entrevistas e outros tipos de ação investigativa.
O plano de trabalho da pesquisa deverá prever todas as etapas de sua execução, desde a de preparação até as etapas finais de produção do relatório e divulgação dos resultados. Cada etapa tem sua natureza e dificuldades particulares. Um plano bem articulado e continuamente atualizado, por exemplo, permite a solução de entraves em tempo hábil e recursos disponíveis.
O modelo didático de fluxograma de pesquisa apresentado porKoche (2016) se divide em quatro etapas dinâmicas. Observe:
Quadro 2 - Modelo didático de fluxograma de projeto de pesquisa em quatro etapas dinâmicas e interligadas.Fonte: Adaptado de KOCHE e CARLOS, 2016, p. 127.
O plano de trabalho de pesquisa, além de ser uma exigência metodológica por parte da instituição de vinculação do pesquisador, instituição de ensino ou agência de fomento à pesquisa, é o mecanismo didático, epistemológico e metodológico instituidor da pesquisa científica. Como afirma Koche (2016, p. 133), “[...] sem o projeto o investigador corre o risco de desviar-se do problema que quer investigar, recolhendo dados desnecessários ou deixando de obter os necessários”.
O projeto de pesquisa, portanto, orienta o pesquisador na definição do plano de trabalho, ou seja, esse documento permite ao pesquisador um trabalho metódico e sistematizado, atenção aos prazos estabelecidos e recursos disponíveis, evitando desgaste de esforços e resultados.
A distribuição dos capítulos, seções e subseções deve ser orgânica, em uma correspondência lógica das ideias tratadas. Como ensina Castro (2011, p. 58), “[...] a criação dos capítulos e o batismo dos títulos não são tarefas separadas”. É um trabalho que requer atenção aos detalhes da produção, afinal, nem sempre — ou na maior parte das vezes — o autor cria títulos alternativos e provisórios, capítulos são ordenados e reordenados, até a versão final ser considerada satisfatória e receber a aprovação final. Além disso, vale destacar que o trabalho não deve ser longo em demasia, com inúmeras divisões em seções e subseções, nem fragmentado a ponto de comprometer a coesão, a sequência lógica e deixar o leitor perdido na leitura do texto. Cada capítulo deve explicitar integralmente seu conteúdo, encadeando início, meio e fim, pois, “Em uma redação bem-feita, há uma fronteira natural, nascida da própria forma de construir o texto” (CASTRO, 2011, p. 60).
A estratégia principal para chegar a uma redação satisfatória dos títulos de capítulos e seções é a leitura analítica do texto. Com uma leitura objetiva e analítica, o autor consegue identificar as ideias-chave do texto e, a partir delas, chegar ao título ideal, pois eles devem informar e antecipar ao leitor às principais ideias do conteúdo do texto, convidando-o à leitura. 
Figura 3 - Estabelecer prazos e cumprir as metas definidas no plano de trabalho de pesquisa deve ajudar a preservar esforços e resultados.Fonte: nasirkhan, Shutterstock, 2018.
Um aspecto estratégico e de grande relevância do plano de trabalho é o cronograma da pesquisa. Nele, devem constar as principais ações previstas para a realização do trabalho e sua distribuição no prazo de tempo determinado à pesquisa. Portanto, sua elaboração vai depender do prazo informado pela instituição de origem do pesquisador. A elaboração do cronograma também está condicionada à complexidade da pesquisa, equipes envolvidas e financiamento, ou seja, todos os aspectos merecem atenção para a elaboração do cronograma de maneira ajustada às necessidades do trabalho.
Considerando um programa de pós-graduação com duração prevista de quatro anos, e realização de plano de trabalho geral, a organização do cronograma pode ser dada conforme o quadro a seguir.
Quadro 3 - Modelo didático sugestivo de cronograma de trabalho de pesquisa distribuído no período de quatro anos.Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
O modelo apresentado se constitui uma orientação didática. Cada instituição de ensino, agência de fomento à pesquisa ou órgão demandante do trabalho poderá estipular diferentes formas de organização do cronograma, com etapas específicas e definição de prazos sempre de forma ajustada ao prazo final de entrega do trabalho.
Assim como a fase inicial do trabalho de pesquisa é repleta de expectativas, a fase final também guarda seus desafios e promessas. A etapa de encerramento do projeto de pesquisa deve ser cuidadosamente planejada e acompanhada de atenção. Estratégias especialmente planejadas para essa etapa podem ser de grande ajuda.
4.4 Finalização do projeto: checklist
O checklist se constitui uma técnica ou estratégia utilizada em revisões técnicas na área de tecnologia da informação, com a intenção de certificar a qualidade e a confiabilidade dos produtos desenvolvidos. Ele é aplicável na verificação de documentação de análise, projeto de arquitetura, design, codificação e testes em geral.
O checklist pode ser entendido como uma lista de critérios ou lista de verificação, isso vai variar de acordo com a área de aplicação, como na enfermagem ou na engenharia. Na literatura, é possível encontrar variados modelos de checklist para uso em áreas diversas, como na medicina, em procedimentos cirúrgicos, com o objetivo de mensurar indicadores de qualidade da assistência médica. Nesse caso, o checklist pode ser organizado em etapas. 
Figura 4 - Um checklist pode ser utilizado para atender demandas diversas em diferentes setores produtivos, de serviços e na educação.Fonte: Kullapol, Shutterstock, 2018.
Na educação, a técnica vem sendo utilizada de diferentes maneiras, como na educação especial para análise e acompanhamento de funcionalidades corporais, motoras e ambientais dos estudantes. Já na metodologia científica, a literatura registra sua difusão e aplicação no controle e na verificação de projetos de pesquisa.
Para entendermos melhor sobre o assunto, analisaremos um caso na sequência.
A professora Dora é orientadora dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) em cursos de graduação. Nesse semestre, ela possui dez orientandos de diferentes áreas. Os projetos de pesquisa já estão em andamento, e, com a proximidade do final do prazo, a dificuldade para acompanhar todos os alunos só aumenta.
Na reunião de departamento, Dora expôs aos colegas sua dificuldade em atender uma turma com muitos alunos com projetos de pesquisa com interesses de áreas tão diversificadas. Assim, uma de suas colegas, da área de Tecnologia da Informação, sugeriu que a professora adotasse o uso de checklist com os alunos para ter maior controle da produção de cada um em relação ao andamento do projeto e aos prazos estabelecidos. Com a adoção da estratégia, Dora poderia orientar os estudantes e listar o que será necessário para a etapa final de entrega do projeto de pesquisa de cada um deles, revisando aspectos não satisfatórios.
Juntas, as professoras organizaram o checklist e Dora pôde colaborar com os alunos na etapa final de conclusão e entrega do TCC.
Uma experiência realizada por Pinheiro e Bezerra (2014) relata o desenvolvimento de metodologia didática para a elaboração de projeto de pesquisa, tendo como fundamento a autoavaliação e como estratégia para a aplicação de checklist. A experiência foi realizada entre 2010 e 2013, com 11 turmas dos cursos de graduação de Sistema da Informação, Engenharia de Software e Rede de Computadores. O trabalho foi proposto com base nos critérios utilizados pela banca de avaliadores da instituição.  As pesquisadoras criaram um checklist de critérios para ser utilizado como recurso didático da disciplina de Projeto de Pesquisa, visando a orientação para elaboração do projeto por meio de autoavaliação. Como resultado final, Pinheiro e Bezerra (2014) apresentam os critérios de referência para avaliação de TCC conforme o quadro na sequência.
Quadro 4 - Modelo de aplicação de checklist como estratégia de autoavaliação na elaboração de projeto de pesquisa.Fonte: PINHEIRO e BEZERRA, 2014, p. 1608.
Para o pesquisador, contar com o checklist como recurso de verificação das diferentes etapas do projeto e, com isso, proceder aos ajustes necessários, pode se tornar uma estratégia de grande relevância. Ademais, vale ressaltar que a composição do checklist vai depender do objetivo da sua aplicação, a escolha dos dados e a definição dos critérios a serem validados. Dessa forma, o pesquisador finaliza o projeto de pesquisa com uma visão geral de todo o trabalho realizado.

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