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Língua Brasileira de Sinais - Libras Daniel Neves Pinto Jouberto Uchôa de Mendonça Reitor Amélia Maria Cerqueira Uchôa Vice-Reitora Jouberto Uchôa de Mendonça Junior Pró-Reitoria Administrativa - PROAD Ihanmark Damasceno dos Santos Pró-Reitoria Acadêmica - PROAC Domingos Sávio Alcântara Machado Pró-Reitoria Adjunta de Graduação - PAGR Temisson José dos Santos Pró-Reitoria Adjunta de Pós-Graduação e Pesquisa - PAPGP Gilton Kennedy Sousa Fraga Pró-Reitoria Adjunta de Assuntos Comunitários e Extensão - PAACE Jane Luci Ornelas Freire Gerente do Núcleo de Educação a Distância - Nead Andrea Karla Ferreira Nunes Coordenadora Pedagógica de Projetos - Nead Lucas Cerqueira do Vale Coordenador de Tecnologias Educacionais - Nead Equipe de Elaboração e Produção de Conteúdos Midiáticos: Alexandre Meneses Chagas - Supervisor Adelson Tavares de Santana - Ilustrador Ancéjo Santana Resende - Corretor Claudivan da Silva Santana - Diagramador Edivan Santos Guimarães - Diagramador Geová da Silva Borges Junior - Ilustrador Márcia Maria da Silva Santos - Corretora Monique Lara Farias Alves - Webdesign Pedro Antonio Dantas P. Nou - Webdesign Rebecca Wanderley N. Agra Silva - Design Rodrigo Sangiovanni Lima - Assessor Walmir Oliveira Santos Júnior - Ilustrador Redação: Núcleo de Educação a Distância - Nead Av. Murilo Dantas, 300 - Farolândia Prédio da Reitoria - Sala 40 CEP: 49.032-490 - Aracaju / SE Tel.: (79) 3218-2186 E-mail: infonead@unit.br Site: www.ead.unit.br Impressão: Gráfica Gutemberg Telefone: (79) 3218-2154 E-mail: grafica@unit.br Site: www.unit.br Copyright © Universidade Tiradentes P659l Pinto, Daniel Neves. Língua brasileira de sinais-libras. / Daniel Neves Pinto. – Aracaju : UNIT, 2010. 168 p. : il. Inclui bibliografia 1. Linguagens de gestos dos surdos e dos surdos- mudos. 2. Língua brasileira de sinais. 3. Língua de sinais. 4. Comunicação gestual. I. Universidade Tiradentes (UNIT). Pró-Reitoria Adjunta de Ensino a Distância. II. Título. CDU: 81’221.24 Prezado(a) estudante, A modernidade anda cada vez mais atrelada ao tempo, e a educação não pode ficar para trás. Prova disso são as nossas disci- plinas on-line, que possibilitam a você estudar com o maior confor- to e comodidade possível, sem perder a qualidade do conteúdo. Por meio do nosso programa de disciplinas on-line você pode ter acesso ao conhecimento de forma rápida, prática e eficiente, como deve ser a sua forma de comunicação e interação com o mundo na modernidade. Fóruns on-line, chats, podcasts, livespace, vídeos, MSN, tudo é válido para o seu aprendizado. Mesmo com tantas opções, a Universidade Tira- dentes optou por criar a coleção de livros Série Biblio- gráfica Unit como mais uma opção de acesso ao conhe- cimento. Escrita por nossos professores, a obra contém todo o conteúdo da disciplina que você está cursando na modalidade EAD e representa, sobretudo, a nossa preocupação em garantir o seu acesso ao conhecimento, onde quer que você esteja. Desejo a você bom aprendizado e muito sucesso! Professor Jouberto Uchôa de Mendonça Reitor da Universidade Tiradentes Apresentação iblio- onhe- ntém ando Sumário Parte I: História, Cultura e Linguística da Libras .................11 Tema 1: Aspectos Históricos, Conceituais e Sociais ...........13 1.1 Nomenclaturas e conceitos sobre língua e linguagem ..................................................................... 14 1.2. Fundamentos históricos e culturais da língua brasileira de sinais ....................................................... 21 1.3 Aspectos biológicos e suas definições ....................... 31 1.4 Iniciação à língua .......................................................... 43 Tema 2: Estudos Linguísticos ................................................55 2.1 Léxico, vocabulários icônicos e arbitrários ................. 55 2.2 Estruturas sub-lexicais e suas expressões não manuais. ....................................................................... 61 2.3 Morfologia e seus estudos internos ............................ 72 2.4 Diferenças Básicas em LIBRAS .................................... 78 Parte II: Surdez: Interação e Implicações .............................87 Tema 3: Surdez e Interação ...................................................89 3.1 Aspectos comunicativos corporais e classificadores ......89 3.2 Interação argumentativa com estrutura da surdez e família ............................................................................ 97 3.3 Interação através da língua de sinais ........................ 103 3.4 Surdez, sociedade em seu processo de inclusão ..... 111 Tema 4: Língua de Sinais: Saberes e Fazeres ...................119 4.1 Aspectos pedagógicos em suas possibilidades no contexto de ensino-aprendizagem ............................ 119 4.2 Possibilidades de trabalho ......................................... 132 4.3 Conduta e legislação .................................................. 138 4.4 Frases em expressões da libras ................................. 149 Referências ............................................................................159 Concepção da Disciplina Ementa Fundamentos históricos, socioculturais e definições referentes à Língua Brasileira de Sinais. Legislação e conceitos sobre língua e linguagem. Entendimentos dos conhecimentos necessários para a inclusão dos surdos quanto aos aspectos Biológicos, Pedagógicos e Psicossociais. Objetivos - Compreender os fundamentos históricos, culturais e psicossociais da Língua de Sinais, nomenclaturas e seus conceitos, auxiliando no processo das ações inclusivas; - Conhecer noções legislativas, utilizando-as de forma coesa; - Conhecer os aspectos patológicos da surdez, possibilitando uma reflexão sobre o preconceito vivido no contexto dos surdos; - Desenvolver noções práticas de verbalização e Sinalização da Língua de Sinais junto a sua estrutura lexical, morfológica, sintaxe, semântica e pragmática, colocando em prática a Língua Brasileira de Sinais; - Estimular embasamento cênico, teórico, prático, técnico e pedagógico, acrescentando tais embasamentos em suas práticas interpretativas; - Despertar, no aluno, o interesses em trabalhar com os surdos; - Compreender os conhecimentos básicos e domínios necessários para a comunicação com pessoas surdas, facilitando a inclusão social, possibilitando a relação interpessoal através do uso da Libras; - Utilizar Libras com coesão e coerência para que haja entendimento. Orientações para Estudo A disciplina propõe orientá-lo em seus procedimentos de estudo e na produção de trabalhos científicos, possibilitando que você desenvolva em seus trabalhos pesquisas, o rigor metodológico e espírito crítico necessários ao estudo. Tendo em vista que a experiência de estudar a distância é algo novo, é importante que você observe algumas orientações: •Cuide do seu tempo de estudo! Defina um horário regular para acessar todo o conteúdo da sua disciplina disponível neste material impresso e no Ambiente Virtual de Apren- dizagem (AVA). Organize-se de tal forma para que você possa dedicar tempo suficiente para leitura e reflexão; • Esforce-se para alcançar os objetivos propostos na disciplina; • Utilize-se dos recursos técnicos e humanos que estão ao seu dispor para buscar esclarecimentos e para aprofundar as suas reflexões. Estamos nos referindo ao contato permanente com o professor e com os colegas a partir dos fóruns, chats e encontros presencias. Além dos recursos disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA. Para que sua trajetória no curso ocorra de forma tranquila, você deve realizar as atividades propostas e estarsempre em con- tato com o professor, além de acessar o AVA. Para se estudar num curso a distância deve-se ter a clareza que a área da Educação a Distância pauta-se na autonomia, respon- sabilidade, cooperação e colaboração por parte dos envolvidos, o que requer uma nova postura do aluno e uma nova forma de con- cepção de educação. Por isso, você contará com o apoio das equipes pedagógica e técnica envolvidas na operacionalização do curso, além dos re- cursos tecnológicos que contribuirão na mediação entre você e o professor. Parte I HISTÓRIA, CULTURA E LINGUÍSTICA DA LIBRAS 1 Aspectos Históricos, Conceituais e Sociais A Língua Brasileira de Sinais (Libras) surge com a perspectiva de apoiar a implementação da Educação Especial tão enfocada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O Poder Público instituiu a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo Decreto nº 5626, de 22 de dezembro de 2005, que dispõem sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras. Tal Decreto apoia a educação da Língua de Sinais como disciplina, assegurando aos Surdos o atendimento especializado. Dentro deste contexto, alicerça-se uma proposta inovadora sempre com o objetivo de consolidar a comunicação e a efetiva integração na vida em sociedade. Neste tema, iremos conhecer conceitos culturais e históricos da língua de sinais e dos surdos com seus aspectos biológicos e linguísticos. 14 Língua Brasileira de Sinais - Libras 1.1 NOMENCLATURAS E CONCEITOS SOBRE LÍNGUA E LINGUAGEM Para você, o que é Libras ou LSB? Libras é a sigla pronunciada nacionalmente para Língua Brasileira de Sinais difundida pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS). A Língua de Sinais é a língua natural, materna, primeira língua (L1) dos surdos e é usada pela maioria deles no Brasil. Conforme Capovilla (2006, p.1479), “Língua de Sinais é o verdadeiro equipamento da vida mental do Surdo; ele pensa e se comunica apenas por este meio.” O surdo utiliza a modalidade linguística quiroarticulatória-visual, ou seja, através das mãos e dos olhos e não oroarticulatória-auditiva, que se dá através da oralização (boca) e ouvido. A Libras é também conhecida como LSB (Língua de Sinais Brasileira), sigla que segue padrões internacionais de denominação das línguas de sinais, assim como a American Sign Language (LSA), ou seja, Língua de Sinais Americana, bem como a Língua de Sinais Francesa (LSF), Língua de Sinais Mexicana (LSM), etc. Para você entender melhor, Língua Brasileira não existe, filosoficamente falando, o correto é “Língua de Sinais Brasileira”, pois, o termo “língua de sinais” constitui uma unidade vocabular, ou seja, funcio- na como se as três palavras (língua, de e sinais) fossem uma só. Não existe uma Língua Brasileira (em sinais ou falada). Além das formas de escrever ou pronunciar a Língua Brasileira de Sinais, temos que atentar para seu significado. A correta é “Libras” e não “LIBRAS”. Quando foi divulgado o uso da sigla “LIBRAS”, explicava-se esta sigla da seguinte forma: LI de Língua, BRA de Brasileira, e S de Sinais. Com a grafia “Libras”, a É importante estar sempre anotando suas reflexões. DICA: 15Língua Brasileira de Sinais - Libras sigla significa: Li de Língua de Sinais, e bras de Brasileira, assim, deixa claro que Libras não é simplesmente gestos, é uma língua com estruturas linguísticas que compreende e comunica e que ainda cabe na palma das mãos. A Língua de Sinais é a língua natural, materna, primeira língua (L1) dos surdos e é usada pela maioria dos surdos no Brasil. Conforme Capovilla (2006, p.1479), “Língua de Sinais é o verdadeiro equipamento da vida mental do Surdo; ele pensa e se comunica apenas por este meio”. O surdo utiliza a modalidade linguística quiroarticulatória-visual e não oroarticulatória-auditiva. Ao contrário do que muitos imaginam, a Língua de Sinais não se constitui simplesmente de mímicas e gestos soltos, uti- lizados pelos surdos para facilitar a comunicação. É uma língua com estruturas gramaticais próprias. Atribui-se às Línguas de Sinais o status de línguas porque elas também são compostas pelos níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. O que é denominado palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas é denominado sinal nas línguas de sinais. O que diferencia a Língua de Sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial. Assim, uma pessoa que entra em contato com uma Língua de Sinais irá aprender outra língua, como o Inglês, Espanhol, etc. A Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa têm uma vasta diferença desde a língua pronunciada até a escrita. Veja algumas diferenças entre a Língua Brasileira de Sinais e a língua portuguesa: - a primeira diferença você já sabe: através da Língua de Sinais se fala com as mãos e a Língua Portuguesa fala-se com a boca; 16 Língua Brasileira de Sinais - Libras Muitas diferenças são claras tais como as descritas acima, e outras são percebíveis quanto a sua gramática. Vamos conferir algumas delas apresentadas por Quadros (2003, p. 84): - a Língua de Sinais é visual-espacial e a Língua Portuguesa é oral-auditiva; - a Língua de Sinais é baseada nas experiências das comuni- dades surdas mediante as interações culturais surdas, en- quanto a Língua Portuguesa constitui-se baseada nos sons; - a Língua de Sinais apresenta uma sintaxe espacial incluindo os chamados classificadores1. A Língua Portuguesa usa uma sintaxe linear utilizando a des- crição para captar o uso de classificadores; - a Língua de Sinais utiliza a estrutura tópico-comentário, en- quanto a Língua Portuguesa evita este tipo de construção; - a Língua de Sinais utiliza a estrutura de foco através de repetições sistemáticas. Este processo não é comum na Língua Portuguesa; - a Língua de Sinais utiliza referências anafóricas através de pontos estabelecidos no espaço que exclui ambigüidades que são possíveis na língua portuguesa; - a Língua de Sinais não tem marcação de gênero, enquanto que na Língua Portuguesa o gênero é marcado a ponto de ser redundante que envolve na última letra como “a” para feminino e “o” para masculino; 1 É um recurso visual da Libras que utilizamos para deixar a sinalização com mais vida, ou seja, ela é feita de forma que fique clara a mensagem. 17Língua Brasileira de Sinais - Libras - a Língua de Sinais atribui um valor gramatical às expressões faciais. Esse fator não é considerado como relevante na Lín- gua Portuguesa, apesar de poder ser substituído pela pro- sódia; - coisas que são ditas na Língua de Sinais não são ditas usando o mesmo tipo de construção gramatical na língua Portuguesa. Assim, encontramos diversos contextos que em Português consideraríamos grande enquanto que em Libras poderá ser feito com apenas um sinal; - a escrita da Língua de Sinais não é alfabética. INTÉRPRETE Pessoa que interpreta de uma língua fonte para uma língua alvo2. INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS Pessoa que interpreta de uma língua qualquer para a Língua de Sinais ou Língua de Sinais para outra determinada língua. LÍNGUA É um sistema de signos compartilhado por uma comuni- dade linguística comum. Há uma raiz, tem seus fundamentos e pesquisas sobre ela. A fala ou os sinais são expressões de di- ferentes línguas. A língua é um fato social, ou seja, um sistema coletivo de uma determinada comunidade linguística. A língua é a expressão linguística que é tecida em meio a trocas sociais, culturais e políticas. As línguas naturais apresentam proprieda- des específicas da espécie humana: são recursivas (a partir de um número reduzido de regras, produz-se um número infinito de frases possíveis, são criativas, dispõemde uma multiplicida- 2 Língua Fonte: é a língua que o Intérprete ouve ou vê para, a partir dela, fazer a interpreta- ção para a língua alvo. Língua alvo: é a língua para a qual será feita a interpretação. 18 Língua Brasileira de Sinais - Libras de de funções (argumentativa, poética, conotativa, informativa, persuasiva, e motiva etc.) e apresentam formas e significados. (QUADROS, 2003, p. 7). Portanto, o correto é “Língua de Sinais” por- que se trata de uma língua viva e, logo, a quan- tidade de sinais está em aberto, podendo ser acrescentados novos sinais. “Nome”, assim como no desenho do sinal representado ao lado, é uma língua e não lin- guagem. LÍNGUA ORAL-AUDITIVA É a língua falada com a boca, utiliza a audição e o vocal para compreender e produzir os sons que formam as palavras. LÍNGUA VISUAL- ESPACIAL Refere-se à língua sinalizada, falada com as mãos, utiliza a visão e o espaço para compreender e produzir os sinais e assim formam a estrutura da língua. LINGUAGEM São diversas formas de trans- missão como sistema de símbolos e serve como meio de comunicação, ideias ou sentimentos através de sig- nos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais etc., podendo ser percebida pelos diversos órgãos dos sentidos, o que leva a dis- tinguirem-se várias espécies de linguagem: visual, auditiva, tátil, etc., ou, ainda, outras mais complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de elementos diversos. Fonte: http://www.elapsus.it 19Língua Brasileira de Sinais - Libras Quadros (2003, p. 7) afirma que linguagem são gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para representar conceitos de comunicação, ideias, significados e pensamentos. TRADUÇÃO É a atividade que envolve um texto de uma língua fonte trans- plantando-a para uma língua alvo da forma mais exata possível. Mas, o tradutor que irá fazer a ponte, terá tempo hábil para con- cluir a tradução, assim sendo, o profissional poderá pesquisar livros, dicionários, internet, outros profissionais etc. INTERPRETAÇÃO Ação que consiste em estabelecer o processo transitório da comunicação verbal para sinalização ou da comunicação sinalizada para verbalização simultâneamente, intermitente ou consecutivamente: - Interpretação Simultânea Acontece simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo. O Intérprete ouve/vê a informação da língua fonte, processa a informação e, posteriormente, faz a passagem para a outra língua (língua alvo). - Interpretação Intermitente É o processo de interpretação feita sentença por sentença, ou seja, o enunciador passa sua ciência em trechos enquanto o Intérprete processa a informação, faz a interpretação e, logo após, o enunciador entra novamente com sua oração e assim sucessivamente. - Interpretação Consecutiva É a forma interpretativa de uma língua para outra onde o Intérprete ouve/vê o enunciado em uma língua fonte, processa a 20 Língua Brasileira de Sinais - Libras informação e faz a passagem para a língua alvo após a conclusão do enunciador, ou seja, o enunciador apresenta todos os seus contextos e após sua conclusão o Intérprete entra com sua interpretação. SURDOS OU DEFICIENTES? Profissionais ligados à educação dos surdos e médicos especialistas ligados à área têm utilizado largamente o termo Deficiente Auditivo (DA). O uso da expressão deficiente auditivo já foi muito criticado refletindo uma visão. Nela, o surdo é visto como portador de uma enfermidade localizada que precisa ser tratada, para que seus efeitos sejam debelados. Todas as investigações atuais têm chamado a atenção para a adequação do emprego do termo “Surdo”. Esta expressão é optada pelos próprios surdos e comunidades surdas do Brasil. É muito importante considerar que o surdo difere do ouvinte, não apenas porque não ouve, mas porque desenvolve potencia- lidades psico - culturais próprias. Surdo-mudo, provavelmente, é a mais antiga e incorreta designação atribuída aos surdos. No plano pessoal, a decisão quanto a usar o termo “pessoa com deficiência auditiva” ou os termos “pessoa surda” e ”surda”, fica por conta de cada pessoa. Geralmente, pessoas com surdez leve, moderada ou acentuada referem-se a si mesmas com tendo uma deficiência auditiva. Já as que têm surdez severa, profunda ou anacusia3 preferem ser consideradas surdas. SURDO OU MUDO? O fato de uma pessoa ser surda não significa que ela seja muda. Pessoas surdas não falam porque não aprenderam a falar. Muitas fazem a leitura labial, e podem fazer muitos sons com a garganta como rir, afinal, os surdos não são mudos. 3 Perda auditiva devido ao fator idade. 21Língua Brasileira de Sinais - Libras Para Refletir Quanto à pessoa surda: Como a chamaremos? Como nos referiremos a ela? • De Surdo, Deficiente auditivo ou Mudo? • E os termos: Quais são os corretos? • Linguagem de Sinais ou Língua de Sinais? 1.2. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS A Libras (Língua Brasileira de Sinais) é de origem francesa. A Língua de Sinais não é universal e cada país possui a sua pró- pria língua, que sofre as influências da cultura nacional. Como qualquer outra língua, ela também possui expres- sões que diferem de região para região (os regionalismos), o que a legitima ainda mais como língua. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS A história dos Surdos registra os acontecimentos históricos, como grupo que possui uma língua, uma identidade e uma cultura. Ao longo das eras, os Surdos travaram grandes batalhas pela afirmação da sua identidade, de sua comunidade, da sua língua e da sua cultura, até alcançarem o reconhecimento que têm hoje, na era moderna. 22 Língua Brasileira de Sinais - Libras Até a Idade Média No Egito Os Surdos eram adorados, como se fossem deuses, serviam de mediadores entre os deuses e os Faraós, sendo temi- dos e respeitados pela população. China Os chineses lançavam os surdos ao mar para não deixar marcas ou chances de se reproduzirem. Gália Os gauleses sacrificavam os surdos para o deus Teutates4 a fim de receber bens. Esparta Os surdos eram lançados do alto dos rochedos para não terem como sobreviver. Historiadores dizem que, após a morte, os surdos eram entregues às águias e aos leões. Grécia Os Surdos eram encarados como seres incompetentes. Aristóteles, ensinava que os que nasciam surdos, por não possuírem linguagem, não eram capazes de raciocinar. Os Romanos Influenciados pelo povo grego, tinham ideias semelhantes acerca dos Surdos, vendo-os como seres imperfeitos, sem direito a pertencer à sociedade. Era comum lançar as crianças surdas (especialmente as pobres) ao rio Tibre. 4 “pai do povo”, “deus tribo”. Teutates está associado às guer- ras, mas aparece muitas vezes como um Deus da fertilidade e abundância. Era considerado o Rei do Mundo. http://pt.wikipedia.org/wiki/ Teutates. 23Língua Brasileira de Sinais - Libras Turquia Em Constantinopla (hoje Istambul), os Surdos realizavam algumas tarefas, tais como o serviço de corte, como pajens das mulheres, ou como bobos, de entretenimento do sultão. Igreja Católica Santo Agostinho defendia a ideia de que os pais de filhos Surdos estavam a pagar por algum pecado que haviam cometido. Acreditava que os Surdos podiam comunicar por meio de gestos, que, em equivalência à fala, eram aceitos quanto à salvação da alma. A Igreja cria que os Surdos, diferentemente dos ouvintes, não possuíam uma alma imortal, uma vez que eram incapazes de proferir os sacramentos. Curiosidade John Beverley, em 700 d.C., ensinou um Surdo a falar, pela primeira vez (em que há registro). Por essa razão, ele foi considerado por muitos como o primeiroeducador de surdos. Fim da Idade Média e início do Renascimento Época em que saiu da perspectiva religiosa para a perspectiva da razão, em que a deficiência passa a ser analisada sob a ótica médica e científica. Idade Moderna Distinguiu, pela primeira vez, surdez de mudez. A expressão surdo-mudo deixou de ser a cognome do Surdo. 24 Língua Brasileira de Sinais - Libras França Em 1712, foi criada a primeira escola de Surdos do mundo: o Instituto Nacional de Surdos-Mudos, em Paris. O Surdo foi reconhecido como ser humano e a partir deste momento viram que ensinar ao surdo a falar seria perda de tempo, que o ensino principal deveria ser a língua gestual. Jean Massieu foi um dos primeiros professores surdos do mundo. Idade Contemporânea até os dias de Hoje Estados Unidos Thomas Hopkins Gallaudet, americano, e ducador ouvinte, abriu uma escola para surdos em Abril de 1817, a Escola de Hartford. Gallaudet instituiu nessa escola a Língua Gestual Americana. Ele usou, também, o inglês escrito e o alfabeto manual. Em 1830, já existiam nos Estados Unidos cerca de 30 escolas para surdos. Alemanha Em 1880 nasce Hellen Keller, na Alemanha. Hellen ficou cega e surda aos 19 meses de idade, por causa de uma doença. Aos 7 anos Hellen havia criado cerca de 60 gestos (sinais) para se comunicar com os familiares. Hellen descreveu que a surdez é o mais infortune dos sentidos humanos. Em 1880 nasce Hellen Keller, na Alemanha. Fonte: http://www. farm1.static.flickr.com 25Língua Brasileira de Sinais - Libras Itália Em 1880 aconteceu o Congresso de Milão, que deixou obscura a História dos surdos. Um grupo de ouvintes tomou a decisão de excluir a língua gestual do ensino de surdos, substituindo-a pelo oralismo. Em consequência disso, o oralismo foi a técnica preferida na educação dos surdos durante fins do século XIX e grande parte do século XX. Uma década depois do Congresso de Milão, acreditava-se que o ensino da língua gestual quase tinha desaparecido das escolas em toda a Europa, e o oralismo espalhava-se para outros continentes. Brasil No período de 1500 a 1855, já exis- tiam muitos surdos aqui no Brasil. Nessa época, a educação era precária, até que, em 1855 Hernest Huet, professor francês de surdos veio ao Brasil a convite de D. Pedro II para fundar a primeira escola de meninos surdos, a Imperial Instituto de Sur- dos – Mudos, atualmente Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) no Rio de Janeiro. Desde o século XIX, as escolas tradicionais existentes no método oral mudaram de filosofia e, até hoje, boa parte delas vêm adotando a comunicação total5. E m 1988, realizou-se o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais, organizado pela FENEIS. Foi a primeira vez que houve um intercâmbio entre Intérpretes do Brasil e a avaliação sobre ética do profissional Intérprete. Somente em 24 de abril de 2002 foi reconhecida a Língua Brasileira de Sinais como língua oficial das comunidades surdas no Brasil. Este foi o primeiro e grande passo para o reconhecimento e formação do profissional Intérprete de Libras. 5 Expõe a criança à língua oral acompanha- da simultaneamente da da Língua de Sinais, da escrita e de quaisquer outros meios que se considerem importantes para o seu desenvolvi- mento. 26 Língua Brasileira de Sinais - Libras APARELHOS AUDI TIVOS Em 1898, os aparelhos usados eram cornetas ou tubos acústicos e somente em 1948 surgiram apare- lhos com pilhas incorporadas e em 1953 começou a ser usado o tran- sistor em próteses. Em 1970 aparecem as primeiras tentativas de implantação coclear. Esse tipo de implante sempre gerou muita controvérsia nas comunidades surdas em todo o mundo. Os argumentos a favor do implante resumem-se ao aces- so à língua oral, na idade crítica de aquisição, que a cirurgia é simples e segura e com a pos- sibilidade de proporcionar à criança uma vida social com som, e não com deficiência. CULTURA SURDA E SUA IDENTIDADE Ao longo dos séculos os surdos foram formando uma cultura própria centrada principalmente em sua forma de comunicação. Hoje, no Brasil, encontraremos em quase todos os grandes polos associações de surdos, onde eles se reúnem e convivem socialmente. Os surdos têm uma cultura de característica própria, são utilizadores de uma comunicação espaço-visual, ou seja, comunica-se através da visão e de sinais explorados no espaço. implantação coclear Fonte: http://www.samaritano.org.br 27Língua Brasileira de Sinais - Libras O processo de busca por uma identidade de uma pessoa com surdez pode ser afetado desde o seu processo de aprendi- zagem, pois, é o período em que os pais descobrem a surdez. Por anos, muitos têm avaliado mal o conhecimento pessoal dos surdos. Alguns acham que os surdos não sabem praticamente nada, porque não ouvem nada. Há pais que superprotezem seus filhos surdos ou temem integrá-los no mundo dos ouvintes. Outros encaram a Língua de Sinais como primitiva, ou inferior, à língua falada. Não é de admirar que, com tal ignorância, alguns surdos se sintam oprimidos e incompreendidos. Todos sentem a necessidade de ser entendidos. Aparen- tes inaptidões podem ofuscar as verdadeiras habilidades e cria- tividades do surdo. Em contraste, muitos surdos consideram-se “capacitados”. Comunicam-se fluentemente entre si, desenvol- vem autoestima e têm bom desempenho acadêmico, social e es- piritual. Infelizmente, os maus-tratos que muitos surdos sofrem levam alguns deles a suspeitar dos ouvintes. Uma boa comunicação com uma pessoa surda é feita exclu- sivamente por contato visual. De fato, quando duas pessoas con- versam em Língua de Sinais é considerado rude desviar o olhar e interromper o contato visual. Como chamar a atenção de um surdo? Em vez de chamar ou usar o nome da pessoa é melhor dar um leve toque no ombro ou no braço dela, acenar se a pessoa estiver perto ou, se estiver distante, fazer um sinal com a mão para outra pessoa chamar a atenção dela. Dependendo da situ- ação, da distância e do local físico, pode-se dar umas batidinhas no chão ou fazer piscar a luz. Esses e outros métodos apropria- dos de captar a atenção dão reconhecimento à experiência dos Surdos e fazem parte da cultura surda. Muitas pessoas não deficientes ficam confusas quando encontram uma pessoa surda. Isso é natural. Todos podem se sentir desconfortável diante do “diferente”. Mas esse desconforto diminui e pode até mesmo desaparecer quando existem muitas oportunidades de convivência entre surdos e ouvintes 28 Língua Brasileira de Sinais - Libras Ao tratar um surdo como se ele não tivesse uma deficiência, estaríamos igno- rando uma característica muito impor- tante dele. Dessa forma, não estaríamos nos relacionando com ele, mas com ou- tra pessoa, que não é real. As pessoas com surdez têm o di- reito, podem e querem tomar suas pró- prias decisões e assumir a responsabili- dade por suas escolhas. Por causa da surdez, é evidente que o surdo venha a ter dificuldades para desempenhar algumas atividades. Mas por outro lado, poderá ter uma extraordinária habilidade para fazer outras coisas como os ouvintes. Por exemplo: os surdos conse- guirão promover diversas prestezas que o ouvinte não conseguirá desenvolver. A maioria das pessoas com surdez não se importa de res- ponder perguntas a respeito da sua característica ou sobre como realiza algumas tarefas. Quando alguém deseja alguma informação de uma pessoa surda, o correto seria dirigir-se diretamente a ela, e não a seus acompanhantes ou intérpretes. Como as pessoas surdas não podem ouvir mudanças sutis de tom de voz, que indicam sentimentos de alegria, tristeza, sar- casmo ou seriedade,as expressões faciais e corporais, são exce- lentes indicações do que se quer dizer. Em suma, os surdos são pessoas que têm os mesmos di- reitos, os mesmos sentimentos, os mesmos receios, os mesmos sonhos, assim como todos. Se ocorrer alguma situação emba- raçosa, uma boa dose de delicadeza, sinceridade e bom humor nunca falham. Quando dirigir-se ao Surdo, nunca use os termos: Deficiente Auditivo, D.A., Surdo-mudo, Surdinho e Mudinho, estes NÃO são termos corretos. DICA: 29Língua Brasileira de Sinais - Libras Dentro da comunidade surda, existem três tipos de surdos: surdos sinalizadores, surdos oralizadores e surdos bimodais. SURDOS SINALIZADORES São os surdos que utilizam seu meio de comunicação única e exclusi- vamente através da Língua de Sinais. Quando da comunicação com este tipo de surdo, a pessoa deverá ficar em lugar iluminado, evitando também fi- car contra a luz (de uma janela, ou re- fletor, por exemplo), pois isso dificulta a visão das mãos. Quando o surdo não oralizado estiver acompa- nhado de um intérprete, dirigir-se sempre a ele, não ao intérprete. Segundo o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2000, o país possui cerca de 5,7 milhões de defi- cientes auditivos. SURDOS ORALIZADOS São os Surdos que comunicam apenas pela oralização, ou seja, pela leitura labial e fala. Estes surdos desenvolveram sua técnica vocal através da ajuda de profissionais que abordam a saúde vocal. Com os surdos, devemos falar de maneira clara, pronunciando bem as palavras, sem exageros, usando a veloci- dade normal, a não ser que ela peça para falar mais devagar. Usar um tom normal de voz, a não ser que peçam para falar mais alto. Falar diretamente com a pessoa, não de lado ou atrás dela. Fazer com que a boca esteja bem visível. Gesticular ou segurar algo Curiosidade Hoje, no Brasil, existem aproximadamente 5,7 milhões de surdos. (IBGE, 2005). Caso necessário, comunique com o surdo através de bilhetes. O importante é comunicar, independente do método. DICA: 30 Língua Brasileira de Sinais - Libras em frente à boca torna impossível a leitura labial. O uso de bigode atrapalha a configuração dos lábios. Se a pessoa surda tiver difi- culdade em entender, avisará. Ser expressivo ao falar. Como as pessoas surdas não podem ouvir mudanças sutis de tom de voz, que indicam sentimentos de alegria, tristeza, sarcasmo ou seriedade, as expressões faciais, os gestos ou sinais e o movimento do corpo são excelentes indicações do que se quer dizer. Conluíndo, no fim de uma conversa com um surdo você terá um feedback positivo ou negativo que é o retorno visual se ele compreendeu ou não. SURDOS BIMODAIS São os surdos que utilizam dos dois modos anteriores ao mesmo tempo, ele sinaliza e oraliza no mesmo instante, ou seja, é o uso de duas línguas distintas ao mesmo tempo. E é diferente do Bilinguismo, que é o conhecimento e o domínio de duas línguas distintas. Para Refletir • A língua de sinais teve um desenvolvimento muito gran- de até os dias de hoje. Como você tem discernido a Língua de Sinais para seu crescimento pessoal? • Em sua comunidade, trabalho ou bairro há surdos? Tente conversar com eles, a prática é a melhor maneira de aprender a Língua Sinalizada. • Como os surdos têm sido vistos e, consequentemente, tratados na sociedade brasileira? Não necessita gritar com um surdo oralizado, ele vai ler os lábios e não lhe ouvir. DICA: 31Língua Brasileira de Sinais - Libras 1.3 ASPECTOS BIOLÓGICOS E SUAS DEFINIÇÕES Antes de conhecer as verdadeiras patologias6 da surdez, é importante buscar e compreender as funções básicas da audição, sentido esse que controla a lin- guagem e a fala. LOCALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO Estabelece de onde vem a direção e a fonte sonora. Exemplo: O chamado de uma pessoa. ALERTA Esta possibilita atentar os estímulos de curiosidade e periculosidade que nos rodeia como, por exemplo, uma moto em nossa direção. SOCIALIZAÇÃO Função que nos estimula a entrar em contato com outras pessoas. Para saber melhor, revise o tema I no livro de Funda- mentos Antropológicos e Sociológicos. INTELECTUAL As principais informações são transmitidas e captadas por mídias através do meio oral. COMUNICAÇÃO Visto que a fala é um dos instrumentos de comunicação mais utilizados no mundo, sua compreensão depende de um nível de audição. Os sons percorrem um caminho que compreende desde o meio ambiente, passando pelo ouvido externo, médio, interno, nervo auditivo e seguindo até o cérebro. 6 Patologia é o estudo das doenças. 32 Língua Brasileira de Sinais - Libras Com base no site de medicina da USP (otorrinousp.org.br), no livro de Sobotta (1995) e Pedroso (2006) apresenta-se a parte biológica do ouvido humano. - OUVIDO EXTERNO É constituído pelo pavilhão auricular, pelo conduto auditivo externo e pela mem- brana timpânica. Estas estruturas são responsáveis pela captação e condução dos sons. - OUVIDO MÉDIO Nela encontramos os ossículos, ou seja, os três menores ossos do corpo humano: martelo, bigorna e estribo. A orelha média é responsável pela transfor- mação da energia sonora em energia mecâni- ca, e pela proteção da orelha interna de sons muito intensos, por meio da contração de um músculo chamado estapédio. - OUVIDO INTERNO Possui formato de caracol e com- preende a cóclea e os canais semicir- culares. Nestes canais, encontram-se as estruturas responsáveis pelo equi- líbrio e na cóclea há o órgão de Corti, que transforma a energia mecânica em impulso nervoso. Do ouvido interno, o som é conduzido pelo nervo auditivo e demais estruturas da via auditiva até chegar ao córtex cerebral. 33Língua Brasileira de Sinais - Libras Para ter uma compreensão mais clara do funcionamento destes três ouvidos, vamos unir estas informações. O som(1) é captado pelo pavilhão auricular(2), passa pelo conduto auditivo(3) e é transmitido à membrana timpânica(4), fa- zendo-a vibrar. Essa vibração é transmitida aos ossículos (marte- lo 5, bigorna 6, e estribo 7. O estribo provoca a movimentação da membrana da janela oval(8), que liga o ouvido médio ao ouvido interno. Esta movimentação provocada pelo estribo faz com que ocorra um deslocamento nos líquidos que se encontram dentro da cóclea(9), estimulando o órgão de Corti, ocorrendo a trans- missão do impulso nervoso para o nervo auditivo(10). A partir desta transmissão, o som passa por diversas estruturas, até o cortex cerebral, onde é interpretado. (11) Canais semicirculares (12) Trompa de Eustáquio. Se vier a acontecer alguma lesão em algumas dessas estruturas, poderá haver danos na sensibilidade auditiva. A surdez consiste em um impedimento para detectar a energia sonora e, com isso, há graus de perdas auditivas, quais sejam: 34 Língua Brasileira de Sinais - Libras BARULHO ALTO - Perda Leve ou Ligeira (26 a 40 dB) A palavra é ouvida, mas certos elementos foné- ticos ficam complicados de entender. Tem, por exemplo, dificuldade em compreender uma con- versa a uma distância superior a 3 metros. Neste grau a surdez não provoca atraso na aquisição da linguagem, pode é ter defeitos de articulação e dificuldades em ouvir a voz em tom natural (são pessoas tidas como muito distraídas). Ne- cessitam de ensino de leitura da fala e de estimulação da lin- guagem. Deve-se observar também uma posição adequada para conversar, ou seja, frente a frente. - Perda Moderada (41 a 70 dB) Só consegue ouvir a palavra, quando esta é de intensidade forte, alta. Verificam-se algumas dificuldades na aquisição da linguagem e algumas perturba- ções da articulação da palavra, e da lingua- gem. Neste caso,o processo compensador é a leitura labial. Há também necessidade de treino auditivo e estimulação da lingua- gem. Pergunta-se muito “hein, o quê”? Troca palavras fonetica- mente semelhantes como (linha/pinha, mão/não, pão/cão). - Perda Severa (71 a 90 dB) O Indivíduo não consegue perceber a palavra normal. É necessário gritar para que exista uma sensação auditiva verbal. Estas pessoas têm algumas dificuldades na aquisição da linguagem. Necessitam já de cuidados especiais no treino auditivo, leitura da fala e estimulação da linguagem. Escutam somente sons fortes como: ba- rulho da moto, do caminhão, serra elétrica, etc. Fonte: www.sxc.hu CRIANÇA DISTRAÍDACRIANÇA DISTRAÍDA Fonte: www.sxc.hu H E IN , O Q U Ê ? 35Língua Brasileira de Sinais - Libras - Perda profunda (superior a 90 dB) Nenhuma sensação auditiva verbal pode ser captada espontaneamente. Não é capaz de reagir de forma adequada aos sons ambientais, pois, escuta somente sons gra- ves que transmitam vibrações, como trovão, aviões, foguetes, etc. As perdas auditivas podem ter diversas origens: congêni- tas, quando o problema ocorreu antes do nascimento ou adquiri- das quando aconteceu no Peri (durante) ou pós-natal. Para conhecer as causas da surdez, teremos como auxílio os sites (abcdasaude.com.br) e (otorrinousp.org.br). CAUSAS PRÉ - PARTO - hereditariedade: é transmitido geneticamente de geração em geração, particularmente quando existem casos de surdez na família. adquiridas pela mãe durante a gestação: - rubéola: vírus que é transmitido por via respiratória infecta- da por mulheres grávidas. É a principal causa congênita; - sífilis: adquirida na relação sexual, esta bactéria pode causar várias consequências ao bebê; - toxoplasmose: parasita presente em animais domésticos, como cachorro, gato etc. A gestante contamina o feto através da placenta, provocando sérias complicações, principalmente nos três primeiros meses de gestação e pode acontecer de o bebê nascer com deficiência múltipla como surdez, retardo mental e visão subnormal; ESTRONDO 36 Língua Brasileira de Sinais - Libras - citomegalovírus: vírus herpes que predomina principal- mente em regiões mais pobres. Dá-se por contágio prin- cipalmente por falta de cuidados higiênicos. Sua contami- nação pode acontecer ainda na gravidez ou durante sua passagem através do canal do parto; - anomalias craniofaciais: anormalidades morfológicas do pavilhão auricular e do canal auditivo; - medicamentos Oto tóxicos: a ingestão de drogas por mulheres grávidas leva à lesão do ouvido do bebê. Antibi- óticos, diuréticos e anti-hipertensivos. Além destas medi- cações, algumas outras substâncias são perigosas e estão presentes nas fórmulas de produtos domésticos como: monóxido de carbono, tabaco, mercúrio, álcool, arsênio e chumbo; - exposição aos Raios X; - desnutrição materna; - incompatibilidade sanguínea: o sangue do bebê (Rh+), sendo diferente do sangue da mãe (Rh -), pode ocasionar, futuramente, problemas na saúde da criança. durante e pós parto: - herpes: doença sexualmente transmissível mais comum. A transmissão acontece durante o nascimento e pode até levar o bebê à morte; - ruído ocupacional; - hipóxia: diminuição da oferta de oxigênio para o feto durante o momento do nascimento; 37Língua Brasileira de Sinais - Libras - peso no nascimento inferior a 1,5 quilos; - medicamentos Oto tóxicos: quando utilizados em múltiplas doses ou em combinação com diuréticos; - distúrbios metabólicos; - ventilação mecânica: o bebê fica exposto por cinco dias ou mais; - permanência em incubadora por mais de sete dias; - infecção por vírus ou bactérias: além da meningite, que é o maior causador da surdez em bebês, há outros como sarampo, caxumba e a otite média recorrente ou persis- tente por mais de três meses; - traumas acústicos; - lesões traumáticas: mais comum em traumatismos crânio-encefálicos; - presbiacusia: perda auditiva gradual devido ao fator ida- de, ocorrência mais comum em pessoas com mais de 65 anos. Surdez por condução: - excesso de cera no ouvido; - secreção na orelha média (Otite Secretora ou Otite Serosa); - infecções agudas do ouvido (Otite Média Aguda); 38 Língua Brasileira de Sinais - Libras - infecções Crônicas do Ouvido (Otite média Crônica); - perfuração timpânica, erosões dos ossículos; - otosclerose ou aderências: Imobilização de um ou mais ossos do ouvido; - tumores na orelha média. Northern e Downs (1996 apud PEDROSO, 2006, p. 48) Uma em cada mil crianças nasce com surdez. Além disso, duas em mil adquirem a surdez na infância. No caso de as crianças possuirem fatores de risco para a surdez, essa proporção aumenta para uma criança em cinquenta. Como vimos, são muitas as doenças que podem induzir a surdez em crianças e adultos. Percebe-se que a maior incidência é através da mãe, a qual deve manter seus cuidados até mesmo antes da gravidez. Hoje, há vários diagnósticos e avaliações para um atendimen- to mais eficaz, contudo, a preven- ção e a detecção precoce são de fundamental importância para mi- nimizar suas consequências. Após o nascimento de um bebê, deve ser feito, de preferên- cia em sua primeira semana de vida, o Teste do Pezinho, que é um exame de prevenção reali- zado no recém-nascido com a finalidade de prevenir o desen- volvimento de doenças e permite identificar doenças graves que podem causar na criança. Todas as mães e pais podem e devem cobrar dos gestores municipais que disponibilizem 39Língua Brasileira de Sinais - Libras o exame grátis nos postos de saúde, mas, este teste não é um exame que diagnóstica uma surdez. Vários municípios do Brasil disponibilizam gratuitamente o Teste da Orelhinha (triagem auditiva neonatal). É um programa de avaliação da audição em recém nascidos, indicada por institui- ções do mundo todo para diagnóstico pre- coce de perda auditiva. Já as Emissões Oto acústicas Evocadas (EOAs) são indo- lores, com a colocação de um pequeno fone na parte externa do ouvido, com a duração médica de 3 a 5 minutos. Este sim é o primeiro exame a ser feito que pode diagnosticar a surdez ou um futuro problema de audição. Precocemente diagnosticado, a criança terá maiores condições no desenvolvimento da língua escrita e falada. Além destes exames, vamos conhecer outros que poderão ser indicados: - audiometria de tronco cerebral (BERA): avalia a audição periférica e a condução nervosa até o colículo inferior. É uma técnica não invasiva e objetiva, que pode ser aplicada em adultos e crianças de qualquer idade. O BERA é realizado dentro de uma cabine acústica, e utiliza 3 eletrodos de superfície, colocados na fronte e mastóides. O resultado é expresso em um audiograma, que é um gráfico que revela as capacidades auditivas do paciente; - imitanciometria: neste exame, uma pequena sonda é posicionada, de forma indolor, na entrada do conduto audi- tivo externo do paciente. Neste exame, consegue-se ob- ter dois tipos de testes: Fonte: www.otorrinos24horas.com.br 40 Língua Brasileira de Sinais - Libras • timpanometria, que avalia a complacência da orelha média, ou seja, a condutância sonora das estruturas das orelhas externa e média • reflexo estapédico, que avalia a integridade do arco reflexo estapediano e, por consequência, de forma indireta, as estruturas das orelhas média e interna, nervo auditivo e tronco cerebral. É de extrema utilidade para o diagnóstico das otites catarrais crônicas em crianças. As classificações da surdez dependem da lesão no ouvido e de acordo com seu período ou época em que ocorreu a perda da audição. TIPOS DE SURDEZ Surdez Pré Verbal São os surdos que nasceram ou perderam a audição antes de terem desenvolvimento dafala e da linguagem. Surdez Pós Verbal São aqueles que perderam a audição após o desenvolvimento da linguagem. Se você perceber alguém que troca de letras na fala e na escrita, com dificuldade de aprendizado, desatento, sem amizades e sempre isolados, isto pode ser um indicativo de um problema na audição. Encaminhe-o para um especialista em otorrinolaringologia. Surdo Cegueira É uma deficiência que apresenta a perda da audição e da visão simultaneamente, impossibilitando o uso dos sentidos criando necessidades especiais de comunicação e causa extrema dificuldade na conquista de metas educacionais, vocacionais e sociais. 41Língua Brasileira de Sinais - Libras Alguns portadores de surdo cegueira são retraídos e isolados, pois, se deparam com a dificuldade de se comunicar, não apresentam curiosidade, normalmente apresentam problemas de saúde que acarretam sérios atrasos no desenvolvimento, não gostam do toque das pessoas, não conseguem se relacionar com as pessoas se encontram dificuldade na habilidade com a alimentação e com a rotina do sono, têm problemas de discipli- na, atrasos no desenvolvimento social, emocional e cognitivo e o mais importante, desenvolvem estilo único de aprendizagem. (HONORA, s/d, p. 122). Durante este capítulo, podemos conhecer a classificação da surdez e o tipo de surdo. Pois bem, para todo esse retrospecto, há motivos para que essas reduções ou perdas auditivas aconteçam e para cada uma questionamos: Quando? HONORA (s/d, 25-35), em diversos momentos apresenta algumas informações quanto a: CLASSIFICAÇÃO: • surdo cegueira total; • surdez profunda com resíduo visual; • surdez moderada ou leve com cegueira; • surdez moderada com resíduo visual; • perdas leves, tanto auditivas quanto visuais. TIPOS: • cegueira congênita e surdez adquirida; • cegueira e surdez adquirida; • surdez congênita e cegueira adquirida; • baixa visão com surdez congênita ou adquirida; • cegueira e surdez congênita. 42 Língua Brasileira de Sinais - Libras CAUSAS: Alguns problemas e doenças podem causar surdo cegueira, como: • icterícia; • prematuridade; • sífilis congênita; • meningite; • síndrome de West; • anóxia; • fator RH negativo; • glaucoma; • síndrome de Usher; • toxoplasmose; • consanguinidade. FATORES DE RISCO: • epidemias de doenças como rubéola, sarampo, meningite; • doenças venéreas; • infecções hospitalares; • gravidez de risco; • Falta de saneamento básico. Para Refletir • Discuta com seus colegas: como podemos contribuir para a prevenção da surdez? 43Língua Brasileira de Sinais - Libras 1.4 INICIAÇÃO À LÍNGUA Neste conteúdo, vamos iniciar os conhecimentos da língua propriamente dita, necessitando de sua intensa leitura e prática sobre os conhecimentos passados. ALFABETO MANUAL O alfabeto manual é produzido por diferentes formatos das mãos, que representam as letras do alfabeto escrito. Assim também, tem uma função específica para apresentação pessoal, “escrever” ou fazer a DATILOLOGIA no ar, o nome de pessoas e lugares ou elementos que ainda não têm sinal. Em geral, é um erro comparar o alfabeto manual com a Língua de Sinais. Quando houver necessidade de fazer a datilologia de pa- lavras compostas ou de duas ou mais palavras seguidas, entre uma palavra e outra, dê uma pequena pausa (conte mentalmente até dois) e faça a palavra seguinte. Você conhecerá Intérpretes e até mesmo Surdos que usa- rão o “empurro das palavras” (um tapinha no ar) para separar pa- lavras, mas este método não se usa mais, hoje ele é comparado ao braço da máquina de escrever, onde se deve dar um empur- rão para dar início à linha de baixo. 44 Língua Brasileira de Sinais - Libras A B C D E F G H I J K L m N O P Q R S T U V X Y W Z A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V X Y W Z 45Língua Brasileira de Sinais - Libras Quem é quem? 01 – Chico 02 – Carlos 03 – Joyce 04 – Renan 05 – Marilene 06 – Maria 07 – Joyene 08 – Carol 09 – Regis 10 – Denis 11 – Juninho 12 – Juliano 13 – Marcio 14 – Priscila 15 – Patricia 16 – Marisa 17 – José 18 – Lourdes 04 ( ) Renan 15 ( )patricia 05 ( ) marilene 16 ( ) Marisa 17 ( ) Jose 11 ( ) juninho 14 ( )priscila 3 ( ) joyce 9 ( ) regis 7 ( ) joyene 2 ( ) carlos 13 ( ) marcio 6 ( ) maria 8 ( ) carol 12 ( ) juliano 10 ( ) Denis 1 ( )Chico 18 ( ) lourdes 46 Língua Brasileira de Sinais - Libras Praticando a datilologia (alfabeto manual) Escreva o nome das palavras que se encontram no alfabeto manual. Prato: Prata: Pato: Mata: Carro: Amiga: Viajar: Longe: Homem: Saboroso: 47Língua Brasileira de Sinais - Libras Para desenvolver com mais agilidade o alfabeto manual, pegue um livro e acompanhe o texto com as mãos. Você deverá fazer a datilologia de todas as palavras. Faça de forma clara e sem pressa. Rapidez nas mãos não é prova de conhecimento. As configurações bem feitas em suas mãos valem mais que a velocidade. DICA: Puxar: Caçar: Telefonar: NÚMEROS Em números, há uma especificidade entre as formas de fazer. Fique atento às duas formas, elas são importantes e farão diferenças em seu aprendizado. Temos os números cardinais representativos de códigos, ou seja, serão descritos em contextos como: número de casa, horas, idade, dinheiro, número de roupas e calçados, número da sala de aula, explicativos, classifica- dores, ordem de chegada, etc. Para fazer os números com mais de uma casa decimal, você faz os números na ordem repedindo-os em sinais. DICA: 48 Língua Brasileira de Sinais - Libras Veja como são eles: 1 2 3 1 2 3 4 5 6 4 5 6 7 8 9 7 8 9 0 0 Agora vamos trabalhar com os números: Sem pesquisar a folha anterior, efetue as operações. 12 + 35 = 987 + 1248 = 49Língua Brasileira de Sinais - Libras 1000 + 6547= 9987 - 5421 = 14257 - 254 = 65 X 31 = 9 x 7 = 585 x 641= 8975146 : 2 = 465164 : 7 = 2196 : 2196= Acrescente o antecessor e sucessor dos números. 451 66574 2121524 50 Língua Brasileira de Sinais - Libras 37 219 654 999 647787 112478 531841 3000 6187708 Outra forma de expressar os números é através dos numerais que usamos exclusivamente em contextos relacionados a quantidades como, por exemplo: 2 lápis, 5 livros, 1 casa, 3 amigos, etc.. 51Língua Brasileira de Sinais - Libras Veja a seguir com é feita a datilologia dos números: ABAIXO DAS MÃOS, ESCREVER OS NÚMEROS CORRESPONDENTES. Após conhecer os números e suas estruturas, escreva (V) verdadeira ou (F) falsa nas estruturas com números cardinais e numerais. ( ) Moro na rua 21 de Abril número 118. ( ) Tenho 2 celulares. ( ) Brinquei com crianças de 12 anos. ( ) Tenho 7 anos e 2 meses. ( ) Comprei 32 livros. DICA: Assistir aos vídeos relacionados aos conteúdos é de grande importância para o aprendizado diário, portanto, não deixe de fazer suas observações quantas forem necessárias. Não fique em dúvida, você tem várias ferramentas que possam lhe auxiliar. 52 Língua Brasileira de Sinais - Libras ( ) Nas bibliotecas da UNIT há mais de 290 mil exemplares de livros. ( ) Estaremos de 8 h. às 22 h. para lhe atender. ( ) Este carro custou R$ 65 mil. ( ) Encontrei com 2 amigas e 1 amigo da faculdade UNIT. ( ) Compre 10 quilos de carne para o churrasco. Para Refletir • Você acha que com apenas o alfabeto manual nas mãos é o suficiente para atingirmos a comunicação ideal para com os surdos? • Reflita, opine e discuta no Fórum do AVA suasponderações sobre a reflexão. 53Língua Brasileira de Sinais - Libras Resumo Diante das tantas informações e curiosidades buscadas para atender o processo de aquisição de conhecimento, comuni- cação e atendimento às pessoas com surdez, podemos perceber que a Língua Brasileira de Sinais vem, historicamente, ganhando seu espaço junto à comunidade brasileira, assim, já obtendo suas nomenclaturas atualizadas a favor de conceitos e de uma nova ideologia voltada aos surdos. A anatomia do ouvido e suas pato- logias é algo inegavelmente necessário para nosso conhecimen- to, pois, trazem respostas importantes para o desenvolvimento e aprendizado das pessoas com surdez. Observa-se que estamos iniciando a prática para nos comunicar com os surdos, e é atra- vés do alfabeto manual e os números que se pode inicialmente estimular um contato inicial. É importante que esta iniciação seja plena para podermos prosseguir nos estudos linguísticos da Língua Brasileira de Sinais. 2 Estudos Linguísticos O objetivo temático presente é conhecer as estruturas gramaticais da língua de sinais dando embasamento para a criação do contexto, além de auxiliá-lo no encaixe dos parâmetros com os devidos movimentos dos sinais que encontraremos. 2.1 LÉXICO, VOCABULÁRIOS ICÔNICOS E ARBITRÁRIOS Segundo Brito (1995), a Língua Brasileira de Sinais é constituída a partir de elementos de uma gramática formada das palavras ou itens lexicais e de um léxico que se estruturam a partir de mecanismos morfológicos, sintáticos e semânticos que apresentam características próprias e elementos básicos gerais. Essas estruturas, nos permitem fazer ironias, ditados populares e sentidos metafóricos. 56 Língua Brasileira de Sinais - Libras Sinal de televisão (isto é Libras) (em Libras) AMIGO Léxico Muitos pensam que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é apenas a comunicação através do alfabeto manual. Várias pessoas falam que sabem se comunicar através da Libras, mas, na verdade, sabem apenas o alfabeto manual e acham que soletrar letra por letra (datilologia) em Libras já é a própria língua. Como por exemplo: M-E-U N-O-M-E É ... E faz toda esta frase através do alfabeto. Isso não é Libras. Podemos ser mais claros. AMIGO A – M – I – G – O (não é Libras) TELEVISÃO T – E – L – E – V – I – S – Ã – O Soletrar em alfabeto manual não é Libras FRANGO, este é o sinal em libras. No entanto, Libras não é a escrita através do alfabeto manual de uma palavra em Portu- guês. Em escolas infantis virou moda e brinca- deira falar com as mãos e Libras é muito mais do que isso. Podemos compa- rar a soletração manual com as palavras que pegamos emprestadas do inglês como, por exemplo, “e-mail”. Frango (isto é Libras) 57Língua Brasileira de Sinais - Libras Acima podemos perceber que o empréstimo da palavra em Português está soletrado. Os sinais em si, são o léxico ou itens lexicais. O alfabeto manual é um recurso usual e é oportunizado nos momentos de expressar nomes próprios, lugares, palavras desconhecidas ou, então, um meio de conferir a ortografia em Português. Sinais Icônicos e Arbitrários Icônicos: Qualquer leigo conseguiria entender este tipo de sinal. São sinais visualmente característicos com o que estamos acostumados a ver pela rua. Eles não são universais, mas transmitem o real. Posso falar com toda certeza que ao menos 100 palavras em sinais você já conhece, mesmo antes de terminar este livro. Quero que você imagine e reflita qual sinal que poderia ser encaixado neste desenho: 58 Língua Brasileira de Sinais - Libras Nas palavras abaixo, reflita como poderiam ser os sinais: Tchau Mais ou menos Quantas horas Telefone Correr Fotografar Depois To nem aí Louco Chorar Macaco Dormir Mau cheiro Dinheiro Andar Beijar Coceira Corpão Escovar dente Bebê Forte Calor Carona Varrer Ladrão Revólver Pescar Cigarro Tonto Noivo Chapéu Não Como você já viu as palavras e fez os sinais, agora verá alguns sinais para você pensar qual é a palavra. Beber Garfo Sorvete 59Língua Brasileira de Sinais - Libras Acredito que não encontrou dificuldade para idealizar os sinais e nem para acertar as palavras dos sinais acima. Além destas, há muitas outras que certamente você saberia fazer, mas nunca pararam para pensar como são. Arbitrários: Os Sinais Arbitrários não parecem com a realidade, neces- sitará um pouco mais de conhecimento da Língua de Sinais para conhecê-los e desenvolvê-los. São sinais sem regras e não possuem formas convencionais. Na verdade, um leigo verá o sinal e não entenderá nada do que está sendo dito. Tente imaginar como seriam os sinais das palavras: água, tio, idade, queijo, amante, solteiro e conhecer. Você pode ter ima- ginado vários movimentos, sinais estranhos e cômicos, mas, não conseguirá se aproximar do correto, suas tentativas serão mais difíceis do que ganhar na loteria porque estes sinais não se parecem em nada com sua realidade. Para você entender melhor o que são Sinais arbitrários, verá alguns sinais e, assim, tente descobrir qual é a palavra: Ônibus Professor Barata 60 Língua Brasileira de Sinais - Libras Conseguiu decifrar os sinais? Vamos lá, vou lhe ajudar... Na primeira figura, vou dar uma dica: é um inseto. Os dedos estão relacionados às antenas do inseto. Ficou fácil não é? “barata”. Na segunda e terceira imagens relacionam-se os sinais de “professor” e “ônibus”. Você pode observar que estes sinais não são semelhantes com o real, portanto, são sinais arbitrários. Para Refletir • De forma simples, léxico é comparado a que na língua de sinais? • Reflita de forma ampla sinais icônico presentes em sua vida. Leão Coco Juros 61Língua Brasileira de Sinais - Libras 2.2 ESTRUTURAS SUB-LEXICAIS E SUAS EXPRESSÕES NÃO MANUAIS. Segundo Felipe (apud QUITES, s/d, p.1), “o sinal é formado a partir da combinação do movimento das mãos com um deter- minado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo”. Podemos comparar os fonemas e, às vezes, os morfemas as articulações das mãos as quais são chamadas de PARÂMETROS. As estruturas sub-lexicais, fazem parte da gramática da Lín- gua de Sinais. Esta estrutura compõe-se de 5 parâmetros. CONFIGURAÇÃO DAS MÃOS (CM) São as formas, as configurações, os desenhos que as mãos tomam na realização do sinal. Podem ser oriundas7 do alfabeto manual e dos números ou em outras con- figurações não oriundas feitas pela mão predominante do emissor. Iremos identificar a mão predomi- nante como sendo aquela com a qual que temos mais facilidade de movimentação: mão direita para os destros e mão esquerda para os canhotos. O sinal de “TV” tem a configuração de mão em “L”. No quadro a seguir você verá diversas configurações apresentadas em Libras. 7 Configuração originada do alfabeto manual. Sinal de televisão 62 Língua Brasileira de Sinais - Libras 63Língua Brasileira de Sinais - Libras (Roubar) PONTOS DE ARTICULAÇÃO (PA) São os lugares de onde a mão predominante configurada se aproxima ou incide. Podemos incidir a mão configurada nos seguintes pontos: - Cabeça: queixo, boca, nariz, olhos, testa, bochechas, orelhas, maçã da face. - Tronco: cintura, barriga, busto, pescoço, ombro. - Braço: pulso, antebraço, cotovelo, braço. - Mão: palma da mão, dorso da mão, dedos (polegar, indicador, mé- dio, anelar e mínimo). - Espaço Neutro: A frente do tronco ou acima da cabeça. Os Pontos de Articulação são cabeça, tronco, braço, mão e espaço neutro, as es- pecificações seguintes aos pontos são apenas uma referência para você se localizar maisprecisamente. Exemplo: Eu não posso falar que o Ponto de Articulação de uma tal palavra é testa e sim cabeça, pois, a mão configurada em “4” está no ponto de articulação “cabeça”. (Acostumar) (Trabalhar) Admirar Ter 64 Língua Brasileira de Sinais - Libras MOVIMENTO (MV): Na Língua de Sinais, as mãos do sinalizador representam o objeto, enquanto o espaço é a área onde se realiza o movimento. Portanto, para a realização do movimento, é preciso haver um Objeto e um Espaço. Analisa-se o movimento por: tipo, direção, maneira e fre- quência das mãos configuradas. - Tipos: Busca o contato, interação, contorno e movimento das mãos. Contato Exemplos Deslizamento Quente Tocar Experiência Agarrar Músculo Riscar Coitado Pincelar Varrer Escovar Lavar roupa Ligação Unir Interação Exemplos Alternado Discutir Cruzado Fugir Inserção Dentro Aproximação Combinar (acordo) Separação Longe 65Língua Brasileira de Sinais - Libras Contorno Exemplos Circular Solteiro Semicircular Antes Helicoidal Todo dia Sinuoso Sempre Movimentos das mãos Exemplos Desdobramento simultâneo dos dedos Demitir Dobramento simultâneo dos dedos Saber Abertura simultânea dos dedos Bruto Fechamento simultâneo dos dedos Cheirar Abertura gradativa dos dedos Madrugada Fechamento gradativo dos dedos Roubar - Direção: Os movimentos podem ser analisados de quatro formas quanto aos seus direcionais. O direcionamento auxilia a quem estamos apontando, por exemplo, EU TE AJUDO faz o sinal direcionando a quem irá aju- dar enquanto VOCÊ ME AJUDA a direção do sinal é de quem vai ajudar para quem está fazendo o sinal. • Não direcionais é sem movimento, são paralisados junto ao corpo, como: 66 Língua Brasileira de Sinais - Libras • Sentimento Admirar Culpado Rei • Unidirecionais, movimentam apenas para uma direção. Para direita Morrer Para esquerda Camarão Para baixo Defi ciente Para cima Deus Para frente Ir Para trás Por favor, com licença Para o centro Pequeno Para as laterais Amplo • Bidirecionais, movimentam em direções diferentes e simetricamente com uma ou duas mãos. Para frente e para trás Comparar Para cima e para baixo Nunca, político Para direita e para esquerda Sanfona, não 67Língua Brasileira de Sinais - Libras • Multidirecionais, sinais que se utilizam em várias direções e exploram vários itens lexicais, como os sinais a seguir: Incomodar Chato Amolar - Maneira: Refere-se à velocidade e tensão do movimento. • Velocidade e tensão positiva – Um sinal feito com uma velocidade mais intensa e tensão do início ao fim. Ex.: Rápido • Velocidade e tensão negativa – Sinal mais vagaroso e frouxo. Ex.: Calmo - Frequência: Destaca a repetição do movimento. • Simples – Sinais com apenas um movimento ou que não necessita de várias movimentações com a mesma mão configurada para originar o sinal. Ex.: Sentar, responder. DICA: Acesse o dicionário virtual: http://www.acessobrasil.org.br/libras e veja os sinais das palavras em exemplo. Este site será seu grande amigo. 68 Língua Brasileira de Sinais - Libras • Repetido – Necessita de uma série de repetições para que o sinal tenha originalidade. Ex.: Combinar (programar), namorar. ORIENTAÇÃO (OR) Tende a nos facilitar para melhor compreender. Quando um sinal tem sua direção e há uma inversão, significa a oposição, contrário ou concordância. EXPRESSÃO FACIAL E /OU CORPORAL (EFC) As expressões facio/corporais são componentes extre- mamente importantes para qualquer transmissão em Língua de Sinais. Os quatro parâmetros, com auxílio deste quinto, formam-se os sinais. No conjunto destes elementos, conseguimos chegar à totalidade das informações desejadas com as mãos, ou seja, é possível falar, rir, discutir, chorar com as mãos. Palavra CM PA MV OR EFC Ter L Tronco Peito - Triste Y Cabeça • Queixo Tristeza Cinza C Mão Dorso da mão - Aeroporto Y Braço Braço Soprar Avião Y Espaçoneutro A frente do tronco Soprar 69Língua Brasileira de Sinais - Libras EXPRESSÕES NÃO MANUAIS Também chamadas de Expressão Corporal e Facial, funciona como meio visual de reforçar uma ideia que está sendo transmitida e, em outras ocasiões, chega até mesmo a confundir-se com o próprio argumento, caso não seja feito similar a palavra desejada. Assim, a expressão não manual tem como finalidade não só de incluir aos meios gramaticais, mas primordialmente melhorar a comunicação com o receptor. Para sinalizar com eficiência, é preciso saber adequar as expressões ao contexto, ao ambiente e ao tom da voz transmitida, e este é um dos pontos que merecem uma atenção constante, pois você, caro aluno, terá que transmitir através das mãos, do corpo e da face na mesma tonalidade do orador. Dentre todas as partes do corpo, a face é a que melhor detalha a expressão em um contexto, uma vez que é a região do corpo mais observada pelos surdos. É nela que há diversas modificações que permitem conduzir uma comunicação eficaz. Assim, de nada valeria uma sinalização bem feita com as mãos se acompanhada por uma expressão facial e/ou corporal inconveniente ou apática. Vamos lembrar algumas situações que possivelmente você já percebeu ou passou por elas: - uma criança vem correndo para os seus braços, a um metro de chegar ela tropeça. Pense a cara que você fez ou faria. - Na rua, você olha para o alto e vê que o tempo fechou e que em poucos minutos vai ‘descer água’ e você está sem guar- da-chuva. Que cara heim! - Quando na TV a repórter retrata um assassinato cruel e ainda mostra as imagens. Qual seria sua reação? A reação e a ação é um modo de expressão. 70 Língua Brasileira de Sinais - Libras Para as expressões não manuais, não apenas a cabeça é fundamental, ela emana tam- bém a movimentação dos bra- ços, pernas e tronco simultane- amente, devendo procurar uma sincronização do corpo por in- teiro. Com o corpo e a face você consegue transmitir: inseguran- ça, paz, alegria, arrogância, in- veja, dor, tristeza, frio, timidez e vários outros sentimentos. A expressão facial deve sempre guardar relação com a mensagem que se deseja transmitir, e isto se dá pelo fato de que o semblante funciona como um indicador da sinceridade daquilo que é falado. Deve atuar como um reforço daquilo que está sen- do dito, e a melhor maneira de se conseguir falar com convic- ção e segurança consiste em conhecer tais expressões e saber utilizá-las adequadamente, algo que somente torna-se possível através do exercício e da prática, pois, como já disse, a única maneira de absorver o conhecimento da Libras é treinando-a frequentemente. Vamos conhecer alguns métodos: - inconformidade, abaixa a cabeça e salienta a expressão negativa (não); - agressividade, fecha as mãos, fecha um pouco os olhos, treme a cabeça, ringe os dentes; - impaciência, caminha ‘de lá pra cá’, soprando. Quando seus amigos estão chateados, tristes ou alegres, você repara e mesmo sem falarem algo você já capta e comenta: Nossa... “Como você está alegre hoje!” ou “Por que você está triste?” É com a mesma produção que você deve utilizar na comunicação com o Surdo 71Língua Brasileira de Sinais - Libras Qual é a expressão? - postura rígida, tronco bem ereto; - balançando para um lado e outro com os braços colados ao corpo; - sobrancelhas levantadas e boca aberta; - sobrancelhas abaixadas e dentes cerrados; - sobrancelhas levantadas, olhos arregalados e lábios cerrados; - olhos cerrados, boca aberta; - testa franzida e boca torta para o lado; - puxar o tronco para trás ou para frente; - boca em O, olhar de espanto. Sua facee seu corpo em uma ação ou reação ocasiona uma expressão não manual espontânea e é nela que você deve espelhar. 72 Língua Brasileira de Sinais - Libras Mulher Homem Para Refletir • Perceba as expressões que faz parte de nosso cotidiano e veja qual a que mais se encaixa ao seu perfil. 2.3 MORFOLOGIA E SEUS ESTUDOS INTERNOS Segundo Quadros (2004, p. 65), Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que determinam a formação das palavras. A palavra morfema significa morfhé, que significa forma. Os morfemas são as unidades mínimas de significado. A Língua de Sinais possui também um sistema de estrutura e formação de palavras como nas línguas orais, caracterizando quanto ao: Gênero: Em sinais, Independente de serem pessoas ou animais, indicamos o sexo a partir do sinal de homem e mulher. Uma particularidade en- volve quando referimos ao modo masculino, sempre que você sinalizar no gênero mas- culino, não há necessidade de serem seguidos pelo sinal de homem. Tempo: O tempo, não correlaciona com o estado do tempo como chuva, calor, frio e sim com passado e futuro. O passado é feito com movimento sobre o ombro atingindo atrás da orelha e quanto mais distante for este passado, mais distancia e intensidade você coloca no sinal. Já no presente, na maioria das vezes terá o sinal próprio, mas a intensidade e a expressão são necessárias para distinguir a proximidade do presente. 73Língua Brasileira de Sinais - Libras Grau: Diferencia-se pela intensidade, movimento e velocidade como: (cheio, curto). E outros pela intensidade da expressão como: (bonito, lindo, bonitinho). Negação: Você aluno, está acostumado em seu dia-a-dia de fazer “NÃO” de várias maneiras, seja, com o dedo ou com a cabeça. Na Língua de Sinais, além destes dois recursos, temos mais um que é com o sinal próprio e cada um deles usará em situações específicas, veja exemplos: - Com a cabeça: sinal “não precisa” PRECISA, ACREDITAR mais o movimento negativo com a cabeça. - Com o dedo: “não pode” (definitivamente) PODE mais o sinal o não com o dedo. - Sinal próprio: “não pode” (por enquanto) NÃO PODE, sinal próprio. MORFEMAS LEXICAIS E GRAMATICAIS Os morfemas lexicais ou gramaticais nem sempre formam palavras equivalentes ao Português. A partir de suas unidades mínimas de significação, terá os morfemas em LIBRAS. LEXICAL GRAMATICAL Amigo (s) plural Possibilidade (im) negação Chorar aos prantos Fofocar fofocar sem parar Você utiliza os sinais várias vezes para impor a gramática fazendo a diferença entre o normal e o aumentativo ou negativo. 74 Língua Brasileira de Sinais - Libras ASPECTO VERBAL PONTUAL E ASPECTO VERBAL CON- TINUATIVO O Aspecto Verbal Pontual distingue-se por se trazer a uma ação ou evento ocorrido e finalizado em algum ponto bem defi- nido, enquanto o Aspecto Verbal Continuativo dá a continuidade e se dá uma outra palavra. ELE TENTAR FALAR AMIGO ONTEM (Ele tentou falar com o amigo ontem), concluiu o “tentar”, utilizou apenas uma vez. Se você utilizar o sinal “tentar até conseguir” ou “tentar sem parar” EU TENTAR, TENTAR VÁRIAS VEZES FALAR AMIGO (Eu tentei por diversas vezes falar com meu amigo) refere a uma ação que tem uma continuidade o “TENTAR” sofreu alteração. ITENS LEXICAIS PARA TEMPO E MARCA DE TEMPO Na Língua Brasileira de Sinais, não tem os tempos verbais (conjugação dos verbos) como no Português, as palavras vem to- das no verbo infinitivo (EU BRINCAR, ELE CHORAR, etc). Quando necessitar marcar o tempo, os itens lexicais ou os advérbios que irão referir-se o passado, presente e futuro com os sinais de “on- tem”, “ano passado”, “hoje”, “agora”, “semana que vem”, assim, não haverá perigo de ambiguidade. A utilização da expressão corporal neste momento é im- portante para expressar o passado e futuro, jogando levemente o corpo para trás quando passado e para frente quando futuro (ANO PASSADO, ANO QUE VEM). Quanto mais você joga o cor- po, mais distante é o tempo (MUITOS ANO ATRÁS). Isso nos faz considerar que realmente a Libras é uma língua que depende do visual-espacial, é nesta modalidade que explo- ramos o que está em volta do corpo. Tentar 75Língua Brasileira de Sinais - Libras INTENSIDADE E QUANTIFICAÇÃO A intensidade ocorre quando o sinal conduz movimentos longos em ritmo ligeiro, ou seja, os sinais são feitos de forma mais acelerada e força. Exemplo: CHUVA (feito de forma branda), TEMPESTADE (feito com intensidade, rápido) • Usará o mesmo sinal, porém, com mais intensidade e expressão. • Já a quantificação é obtida com o uso de quantificadores como MUITO, repetições sucessivas, várias vezes. • BATER ATÉ QUEBRAR (sinal de bater, bater, bater,bater até que quebre). INCORPORAÇÃO DE ARGUMENTO O método de incorporação de argumento é muito frequen- te e visível na Língua Brasileira de Sinais devido às características espaciais, seria mais obvio ir direto ao real do que interpretar a palavra e depois explicar o significado dela. Em nossa Língua Portuguesa, utilizaríamos a mesma entonação, a mesma escrita mas logo já sabemos a qual sentido e como seria na prática. Exemplo: em Português, podemos escrever ou falar a palavra “CAIU”, em uma apreciação poderemos falar “a moto caiu no asfalto”, “o papel caiu do chão”, “a criança caiu em casa”. O complemento da frase do verbo “cair”, trás informação da ação de alguém ou alguma coisa. O “caiu”, torna-se muito variável na Língua de Sinais, pois, necessita haver transformação em suas frases de acordo com cada contexto, isso porque o cair de uma moto, de um papel e de uma pessoa são totalmente diferentes na realidade, e na LIBRAS corresponderá a um sinal diferenciado. 76 Língua Brasileira de Sinais - Libras Vamos ver como ficaria em outro exemplo: Usando a palavra “CORTAR”, vem em nossa mente várias frases que poderia encaixar esta palavra. “vou cortar um papel”, “vou cortar uma árvore” ou “vou cortar o dedo”, estas frases contêm variantes de incorporação e argumentos. Vou lhe ajudar a ir mais longe, mas, preciso que você após esta leitura vá aos recursos do vídeo. - Como você cortaria um papel? Com tesoura ou com um estilete? - Vamos cortar uma árvore juntos? Com que você gostaria de cortar? Certamente você não cortaria da mesma forma que o papel, mas se você pensou em cortar um tronco desta espessura com um estilete ou uma tesoura, precisará de bons anos para conseguir derrubá-la. E o dedo, como seria uma ação do corte? Poderia ser com caco de vidro, gilete de barbear, uma faca e até mesmo com uma folha de papel, mas a ação não será da mesma forma dos cortes acima e para cada corte há uma série de feitio diferenciada e isso terá que ser passado ao surdo de forma clara e eficaz. FORMAÇÕES DE PALAVRAS POR DERIVAÇÃO E POR COMPOSIÇÃO Lembrando que estamos falando da Língua de Sinais, suas palavras por derivação são formadas através dos sinais e não pela escrita, e iremos observar que as primeiras palavras são constituídas 77Língua Brasileira de Sinais - Libras a partir de seus radicais aos quais se ligam aos afixos ou morfemas gramaticais. Por este método, vejamos como ficaria a ilustração. “NÃO QUERER” é derivado do “QUERER” pelo meio de afixo negativo, “FEIOSO” é derivado do “FEIO” através da expressão facial, assim como “FEINHO” grau diminutivo utilizado pela adjunção da expressão facial. “TENTAR ATÉ CONSEGUIR” explora o aspecto continuativo e é derivação de “TENTAR”. O processo de composição pode ser também a união de dois sinais simples para formar um sinal composto. O sinal de: Para Refletir • Revendo a Incorporação de Argumento, traga para dentro da Libras situações que provocariam diversas formas de expressar
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