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Já percorrermos mais da metade do curso e, como já vimos, a Lei nº. 9.455/1997 define tortura como o ato de constranger alguém com uso de violência ou grave ameaça causando-lhe sofrimento físico ou mental: para obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceiros. Lição 1 of 2 1 - Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do RJ Relembrado o conceito de tortura, nesta etapa apresentaremos um caso exemplar de monitoramento de local de privação de liberdade, registrado em relatório produzido por mecanismo independente. A partir da análise deste documento, esperamos que você consiga identificar: O Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) integra o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, de acordo com a Lei nº 12.847, de 2013. O órgão é composto por onze peritos que têm acesso a espaços de privação de liberdade (centros de detenção, estabelecimento penal, hospital psiquiátrico, abrigo de pessoa idosa, Quais foram os requisitos necessários que caracterizaram o crime de tortura nos locais visitados. A metodologia utilizada por cada um dos mecanismos independentes. Como foram caracterizadas as situações de risco em que houve ocorrência de tortura e como se deu a condição de vulnerabilidade das possíveis vítimas. As recomendações que foram estabelecidas aos órgãos responsáveis pela investigação do crime visando a adoção de políticas de prevenção e enfrentamento à tortura. instituição socioeducativa ou centro militar de detenção disciplinar). Verificadas as violações, os peritos elaboram relatórios com recomendações. O MNPCT edita relatórios anuais (prestação de contas de suas atividades), relatórios temáticos (a exemplo do relatório sobre o Fundo Penitenciário Nacional) e relatórios de visitas a unidades com pessoas em situação de restrição de liberdade. Dessa forma, é relevante saber que o relatório é uma ferramenta importante que um órgão de visita tem à disposição para proteger as pessoas privadas de liberdade e encontrar meios de melhorar a situação delas. Tanto a Lei n. 12.847, de 2013, como o OPCAT mencionam a atribuição do órgão que realiza visitas de elaborar esses relatórios e fazer recomendações. A lei ainda estabelece a obrigação da autoridade encarregada pela detenção de levar em consideração o que apresenta o texto do relatório e iniciar um diálogo acerca de seu conteúdo (SDH, 2015). Dito isso, acompanhe as informações do primeiro relatório que apresentaremos, aqui, para seu conhecimento. Avante! 1.1 Relatório do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio de Janeiro Vamos analisar o relatório produzido pelo Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio de Janeiro (MEPCT/RJ) que é um órgão criado pela Lei Estadual nº. 5.778 de 2010¹ e vinculado à Assembleia Legislativa do Estado. O MEPCT/RJ tem objetivos importantíssimos, tais como: planejar, realizar e conduzir visitas periódicas e regulares a espaços de privação de liberdade para verificar as condições em que se encontram submetidas as pessoas, para prevenir a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos e degradantes. Estas visitas independem de qualquer forma ou fundamento de detenção, aprisionamento, contenção ou colocação em estabelecimento público ou privado de controle, vigilância, internação, abrigo ou tratamento. Como resultado das visitas, o MEPCT/RJ editou três tipos de relatórios: os de visitas de monitoramento, os temáticos e os anuais. ¹A íntegra da Lei nº. 5.778 de 2010 está disponível em: http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contlei.nsf/b24a2da5a077847c0 32564f4005d4bf2/abd38a182e33170383257757005bdb5c? OpenDocument http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contlei.nsf/b24a2da5a077847c032564f4005d4bf2/abd38a182e33170383257757005bdb5c?OpenDocument Agora, estudaremos algumas das informações fundamentais do relatório temático Mulheres, Meninas e Privação de Liberdade no Rio de Janeiro, de 2016 (MEPCT/RJ, 2016), que apresentou dados e fez uma análise sobre as condições em que se encontravam as meninas e mulheres que foram privadas de sua liberdade no estado do Rio de Janeiro. O relatório foi dividido em seis seções: Apresentação.1 Noções Introdutórias do Relatório: Mulheres, Meninas e Privação de Liberdade no Rio de Janeiro. 2 Marco Jurídico.3 Visitas de Monitoramento.4 Vamos conhecer as que mais nos interessam e que foram apresentadas neste relatório. Acompanhe! 1. Apresentação Na apresentação, o relatório trouxe os seguintes itens: objetivo geral do relatório, as atribuições do MEPCT/RJ, a definição de prevenção à tortura e a importância da identificação do risco de tortura como elemento importante para as ações de prevenção deste crime. O relatório expôs o diagnóstico inicial das principais dificuldades enfrentadas por meninas e mulheres privadas de sua liberdade, assim como por mulheres que visitaram seus familiares privados de liberdade (MPEPCT/RJ, 2015, p. 6). Esse item tinha como intenção prevenir e combater as condições de tortura e maus tratos através de recomendações que estabelecessem a harmonia com os padrões nacionais e internacionais que preconizavam a garantia de direitos as mulheres (MPEPCT/RJ, 2015, p. 8). 2. Noções Introdutórias do Relatório Grupos Focais.5 Conclusões e Recomendações.6 Esta parte do relatório apresentou a metodologia adotada na elaboração do documento que procurava replicar o guia prático elaborado pela Associação para a Prevenção à Tortura (APT) sobre monitoramento dos locais de detenção. Esse item descreveu também o cenário de privação de liberdade para mulheres e meninas, bem como os aspectos relacionados à condição da mulher no cárcere. Esclarecer a metodologia adotada na elaboração do relatório é importante, pois garante transparência na atuação do mecanismo e permite a replicação das condutas e rotinas desenvolvidas para a realização das visitas por outros órgãos e agentes que atuam na prevenção da tortura. Os relatórios do MEPCT/RJ utilizaram como metodologia o relato descritivo que destacava o ponto de vista dos distintos atores das unidades visitadas como, por exemplo, o ponto de vista da direção, dos agentes penitenciários e do corpo técnico dos diferentes profissionais que tinham sob sua responsabilidade pessoas que se encontravam nos locais de detenção. Foram descritos também o ponto de vista das pessoas privadas de liberdade e as observações da equipe de visita do MEPCT/RJ. Acompanhe um trecho importante deste item no relatório produzido em 2016: (...) Entendendo a importância de contextualizar as informações que constam do relatório, antes de realizar recomendações às autoridades competentes, o MEPCT/RJ preconiza apresentar uma análise trazendo a sistematização de dados oficiais nacionais e estaduais; artigos de especialistas; informações colhidas em Fóruns Permanentes que tratam dos espaços de privação de liberdade e referências a documentos nacionais e internacionais de regras mínimas para tratamento de pessoas privadas de liberdade. O objetivo é informar acerca da discussão mais atual sobre o tema no cenário nacional e internacional de modo a qualificar os relatórios apresentados e possibilitar sua maior eficácia e abrangência (MPEPCT/RJ, 2015, p. 9). 3. Marco Jurídico Este aspecto do relatório definiu o campo jurídico de atuação do órgão e os direitos estabelecidos no âmbito internacional e nacional das mulheres em situação de privação de liberdade, sujeitas à violência ou a condições de vulnerabilidade. Também apresentou normas internacionais de proteção aos Direitos Humanos e a condição de mulheres privadas de liberdade, como a Convenção de Belém do Pará (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher) e a Lei de Execuções Penais, que indica a necessidade de diferenciação dos estabelecimentos penais por sexo. Foram indicadas no relatório onze (11) normas e legislação deste tema pelo MEPCT/RJ. Acompanhe! ConvençãoInteramericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará) - Decreto nº 1973, de 1996 Declaração Universal dos Direitos Humanos Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher - Decreto nº 4.377, de 2002 Convenção Americana sobre Direitos Humanos Regras Mínimas para o Tratamento de Presos (Regras de Mandela) Regras das Nações Unidas para o Tratamento das Mulheres Presas e Medidas Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras (Regras de Bangkok) Constituição Federal do Brasil Lei Maria da Penha - Lei nº 11.340, de 2006 Lei de Execução Penal - Lei nº 7.210, de 1984 Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil - Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994 do Comitê Nacional de Política Criminal e Penitenciária Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal - Resolução nº 09, de 18 de novembro de 2011 do Comitê Nacional de Política Criminal e Penitenciária 4. Visitas de Monitoramento O relatório descreveu visitas de monitoramento a nove unidades de privação de liberdade. Todas elas deveriam conter informações para caracterização e identificação do lugar, tais como: unidade visitada, data da fiscalização, agentes responsáveis pela unidade (direção e chefia de segurança), endereço, telefone, capacidade da unidade quanto a número de mulheres presas e número de presas na data da visita. O MEPCT/RJ também observou, durante as visitas, a estrutura da unidade (acesso à agua, banho de sol, kits de higiene, colchões, vestimentas, etc.); o acesso a direitos como educação, saúde, trabalho; condições específicas de mulheres estrangeiras, mulheres grávidas, mulheres transexuais e travestis; e superlotação das unidades, com destaque a relatos sobre tortura por agentes públicos. Neste último caso, as formas de obter estas informações foram através da realização de entrevistas com mulheres privadas de liberdade e a observação da dinâmica da unidade. 5. Grupos Focais O objetivo desta seção era demonstrar como a situação de encarceramento e violações aos direitos de pessoas privadas de liberdade, incluindo a ocorrência de situações de tortura, afetavam também a família, em especial as mulheres que serviam de elo entre o preso e o mundo exterior. Para tanto, o MEPCT/RJ utilizou a metodologia de grupo focal² para escutar essas mulheres. Acompanhe um trecho deste item no relatório: Sabe-se que nem todas as mulheres que têm suas vidas afetadas pela prisão de um ente querido conseguem se organizar em coletivos, encontrando neles também um suporte para a dor individual. O relatório também trazia uma seção sobre a situação das mulheres que visitaram familiares em unidades penitenciárias ou do sistema socioeducativo: MEPCT/RJ, 2015, p. 73. Desta forma, para além desses grupos organizados, como por exemplo as Guerreiras de Bangu e o Movimento Moleque, há um número grande de mulheres visitantes dos sistemas de privação de liberdade que se encontram ainda mais desprotegidas e invisíveis para a sociedade. [...] Ao MEPCT/RJ no encontro com essas mulheres interessava conhecer como o encarceramento de um familiar impactou suas vidas. Buscou-se, então, trazer para a conversa questões relativas à vida diária delas, tendo como marco a detenção do seu familiar. Para a realização desse relatório, o MEPCT/RJ lançou mão de uma ferramenta que pudesse fazer com que um grupo de pessoas fosse ouvido de forma dinâmica. Elegeram, assim, como metodologia o grupo focal, por entenderem que esse modelo de grupo permitia que uma proposta, ou um tema, fosse apresentado para discussão objetivando a obtenção de percepções sobre o mesmo. ²Grupo focal é um tipo de entrevista feita em grupos que permite ao entrevistador observar a interação entre os participantes, que podem manifestar uma opinião coletiva ou se dividir em subgrupos com ideias opostas. Propicia um ambiente mais natural, pois os participantes levam em consideração a opinião dos outros para formular a própria. Tanto nas penitenciárias, quanto nas unidades de internação para adolescentes do DEGASE, a maioria dos visitantes eram mulheres. Antes mesmo que houvesse necessidade de uma estatística que comprovasse essa afirmação, foi possível evidenciá-la nas várias visitas feitas pelo MEPCT/RJ às instituições de internação para adultos e adolescentes. Isso por quedo lado de fora, observavam as filas formadas em sua maioria absoluta por mulheres. Essa cena era muito representativa de como o encarceramento em massa de homens (jovens, negros e pobres) tinha impactado as vidas de suas mães, esposas, irmãs, tias, amigas, etc. Era de conhecimento do MEPCT/RJ a existência de grupos de mulheres que se organizavam para o enfrentamento das violações de direitos e outras dificuldades às quais estão submetidas a partir do encarceramento de um familiar, tanto no sistema socioeducativo, quanto na SEAP. Sensível à luta cotidiana dessas mulheres, o MEPCT/RJ entendeu como primordial a necessidade de incluir a temática das visitantes no relatório sobre mulheres, meninas e privação de liberdade. (MEPCT/RJ, 2015, p. 72). 6. Conclusões e Recomendações O MEPCT/RJ, ao final do relatório temático, apresentou recomendações organizadas a partir das situações verificadas in loco e em relação ao sistema prisional e socioeducativo. As recomendações se referiam aos seguintes temas: Para finalizar, observe atentamente alguns exemplos de recomendações destinadas a órgãos e autoridades apresentadas no relatório temático “Mulheres, Meninas e Privação de Liberdade no Rio de Janeiro” (MEPCT/RJ, 2016). Órgão Recomendação Tema Superlotação, penas e medidas alternativas. Assistência jurídica, informação processual e outros direitos. Estrutura das unidades da administração penitenciária. Acesso à água, alimentação, instalações, higiene. Saúde. Visitas. Atividades laborativas, educacionais, recreativas e esportivas. Tortura, maus-tratos e sanções coletivas. Transparência Órgão Recomendação Tema Congresso Nacional Aprovar o PLS 554/2011, que propõe a alteração do art. 306 do Código de Processo Penal, prevendo a Audiência de Custódia, de modo a assegurar que as presas tenham contato com o juiz no máximo em 24 horas. Superlotação, penas e medidas alternativas. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Criação da Vara especializada de Penas e Medidas Alternativas. Superlotação, penas e medidas alternativas. Secretaria de Estado de Administração Penitenciária e Direção da Unidade Realização de obra emergencial a fim de acalcar condições adequadas de iluminação, dormitório e instalações sanitárias. Estrutura das unidades da administração penitenciária. Órgão Recomendação Tema Secretaria de Estado de Administração Penitenciária Equipar e manter ambulâncias para translado de presos em situação grave de saúde, substituindo, assim, o deslocamento dos presos pelo Serviço de Operação Externas (SOE/GSE). Saúde. Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Direção do Presídio Evaristo de Moraes e Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Identificar, processar e responsabilizar os autores de agressões contra as mulheres transexuais e travestis privadas de liberdade. Tortura, maus tratos e sanções coletivas. Saiba Mais! – Caso queira complementar suas informações e aprofundar na leitura de alguns documentos e sites importantes, recomendamos alguns endereços para acesso. O documento “Monitoramento dos locais de privação de liberdade: guia prático” da Associação para Prevenção à Tortura (APT) está disponível em: https://carceraria.org.br/wp-content/uploads/2018/01/formacao- monitoramentode-locais-de-detencao.pdf Para saber mais sobre a atuação do MEPCT/RJ, acesse a página: http://mecanismorj.com.br/ https://carceraria.org.br/wp-content/uploads/2018/01/formacao-monitoramentode-locais-de-detencao.pdf http://mecanismorj.com.br/