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Ética na Medicina e Bioética

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SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 4 
1 CONCEITO DE ÉTICA..................................................................................... 5 
1.1 Ética X Moral ............................................................................................. 6 
1.2 Ética e Ciência .......................................................................................... 7 
1.3 Ética na medicina: importância, interpretação e novo código de ética 
médica ............................................................................................................... 8 
1.4 Qual a importância da ética na medicina ................................................... 9 
2 BIOÉTICA ...................................................................................................... 10 
2.1 Os princípios da bioética ......................................................................... 11 
3 COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA: A RESOLUÇÃO DO CONSELHO 
NACIONAL DE SAÚDE ....................................................................................... 15 
4 CONSENTIMENTO INFORMADO E ESCLARECIDO ................................... 20 
4.1 Surgimento do consentimento livre e esclarecido ................................... 22 
4.2 Principais aspectos do consentimento esclarecido ................................. 23 
4.3 Situações especiais de consentimento.................................................... 23 
4.4 Revelação de diagnósticos ...................................................................... 25 
5 O QUE É GENÉTICA ..................................................................................... 28 
5.1 Genética básica e medicina clínica ......................................................... 30 
5.2 Conceito básico em genética .................................................................. 32 
6 O QUE É ENGENHARIA GENÉTICA ............................................................ 34 
6.1 DNA recombinante e a tecnologia ........................................................... 35 
6.2 Organismos geneticamente modificados (OGMs) ................................... 37 
6.3 Terapia gênica: princípios e aplicações................................................... 39 
 
 
 
7 TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA ................................ 41 
7.1 Técnicas de baixa a alta complexidade na reprodução assistida ............ 45 
8 EUTANÁSIA, DISTANÁSIA, ORTOTANÁSIA e DIREITO À MORTE ............ 46 
8.1 O direito à morte digna perante o Código de Ética Médico ..................... 49 
9 ABORTO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS ................................................... 52 
9.1 Diversas formas do crime de aborto ........................................................ 54 
9.2 Hipóteses de aborto legal ........................................................................ 59 
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 62 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
INTRODUÇÃO 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao 
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno 
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, 
para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno 
faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço 
virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser 
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe 
convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida 
e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
5 
 
1 CONCEITO DE ÉTICA 
A palavra ética tem origem do grego "ethos", que significa “costume”, “caráter” ou 
“modo de ser”. Sob alguns aspectos, a palavra ética é considerada sinônimo de “moral”, 
que vem do latim “mos” ou “mor”, e possui, na origem da palavra, o mesmo significado 
(FILHO, 2020). 
Saber que a história do pensamento humano se desviou do tempo da história não 
dá uma verdadeira extensão de todo o processo que ocorreu ao longo do tempo. Na 
Grécia, isso não era diferente, porque os eventos históricos dificultaram o estágio de 
racionalização e se tornaram a base para todo pensamento lógico sobre a civilização 
humana ocidental. Atenas foi o palco de muitas cenas relacionadas à ética e estudos 
formais comprometida com outra vida em uma sociedade mais racional e humana. 
No que diz respeito ao conceito de ética, vários autores têm apresentado o 
embasamento científico das normas de comportamento humano, cuja tarefa é orientar os 
indivíduos nas escolhas, partindo de interesses individuais ou coletivos, e encontrar um 
caminho para interesses comuns e equilíbrios ideais de uma comunidade. 
Este tipo de construção de valor relacionado ao comportamento social e métodos 
de tomada de decisão visa evitar conflitos morais que levam a manutenção da ordem 
social e da dignidade do comportamento humano, foi realizada por residentes de 
comunidades ocidentais e fez parte do complexo movimento evolucionário sendo 
retratado por pensadores da época e abandonado pelos residentes ao longo do tempo. 
[...] aperfeiçoamento da conveniência que é realizado no cotidiano e no 
movimento cíclico da história. Ética, numa perspectiva histórico-dialética, é 
querer certo bem geral, uma vez que existam as condições materiais e técnicas 
indispensáveis para a concretização desse bem (2008, p. 255 apud SANTOS, 
2018). 
A ética nasceu quando o ser humano passou a viver em sociedade, pois seu 
comportamento e atitude para com os outros refletem um comportamento baseado na 
ética coletiva. Quando se compara o homem pré-histórico com o da atualidade, a 
sobrevivência das espécies se tornou a questão mais urgente, ou seja, nossos ancestrais 
pré-históricos usavam técnicas como fabricação de ferramentas, combate a incêndio e 
 
6 
 
rituais mágicos, todos os quais eram para resistir ao terrível ambiente natural. Na época, 
agir da maneira ética era a manutenção coletiva da vida, não tinha regras de como viver 
em comunidade. À medida que o desafio surge, as ações são formuladas e colocadas 
em prática. 
A humanidade foi numa crescente busca por uma ética social. Em todas as 
sociedades e culturas, o pensamento filosófico da ciência moral e da ciência do 
comportamento moral não mudou. Os valores morais são organizados com base e 
princípios de sua própria personalidade. O estado, a sociedade ou os grupos religiosos 
seguem a ética, Pessoas que partem da moral social vigente estão sempre buscando a 
legitimidade de uma melhor convivência entre os dois. 
1.1 Ética X Moral 
A ética, segundo Filho (2020) é um ramo da filosofia que estuda os princípios que 
regem a ação dos homens. Em outras palavras, ela analisa os valores por trás das ações 
humanas. A moral, por sua vez, consiste justamente nesses valores: pode ser definida 
como o conjunto de regras que determinam os comportamentos. Apesar dos dois termos 
serem vistos como sinônimos de “agir bem” ou “agir corretamente”, ética e moral não são 
necessariamente a mesma coisa. De certa forma, a ética é uma reflexão sobre a moral. 
Sobre a relação entre elas, é importante destacar: 
 Enquanto a ética oferece uma reflexão crítica acerca da moral, é a moral que dá 
base para a existência da própria ética. 
 Qualquer mudança na moral (ou seja, nos valores de um determinado grupo 
social), interfere diretamente na ética (ou seja, nas reflexões acercados 
comportamentos deste grupo) (FILHO, 2020) 
 
Senso, consciência e agente 
Por senso compreendemos como a maneira que julgamos a partir dos valores, 
como “justo” ou “bom”. A consciência é uma atitude crítica frente a esses valores. A 
 
7 
 
consciência implica numa postura de avaliação não só de um acontecimento a partir de 
um valor, mas na legitimidade dos valores mobilizados. 
Um agente moral é um indivíduo que, frente a uma determinada situação, é capaz 
de mobilizar sua moral para realizar sua avaliação e que assume uma atitude crítica e 
reflexiva frente a esse conjunto de valores. O agente é autônomo e responsável em vez 
de passivo (FILHO, 2020). 
O eu e o outro 
Na opinião de Filho (2020), a ética e a moralidade pressupõem que o 
comportamento humano deve buscar o bem-estar de todos os indivíduos que integram o 
grupo. Para a formação desse código moral é crucial que haja: 
Consciência de si – O indivíduo deve ter consciência de seu “eu”, aquilo que 
forma sua identidade. Além da consciência de suas limitações, possibilidades e, 
principalmente, das consequências de suas ações. 
Consciência de outro – Saber os limites de sua identidade, até onde vai aquilo 
que o compõe como indivíduo, implica conhecer o outro, reconhecer o outro como 
indivíduo também e conhecer a fronteira que os separa (FILHO, 2020). 
1.2 Ética e Ciência 
Desde o Renascimento que o ser humano é o princípio que norteia a organização 
social e a produção de conhecimento. Com o advento da Revolução Científica e com o 
Iluminismo, a razão impulsiona a humanidade rumo ao desenvolvimento tecnológico. 
Esse fenômeno faz surgir uma subárea da ética, chamada bioética. Esse campo 
de discussão é uma interseção entre filosofia e ciências da saúde. Sua principal questão 
é: quais os limites devemos impor ao avanço tecnológico e a ciência, principalmente na 
possibilidade produzir transformações naquilo que concebemos como ser humano 
(FILHO, 2020). 
 
8 
 
1.3 Ética na medicina: importância, interpretação e novo código de ética médica 
De acordo com Morsch (2020), expressa por meio de um código 
específico, baseado em conhecimentos científicos atualizados, a ética na medicina 
garante o respeito à vida, segurança nos procedimentos e cuidados prestados pelos 
médicos. 
Além de tomar decisões que impactam diretamente na vida e na saúde das 
pessoas, a categoria lida com uma série de questões polêmicas, como aborto, eutanásia, 
manipulação genética e, principalmente, com a decisão do paciente. Daí a necessidade 
de existir um documento que padronize e respalde o exercício da medicina de forma 
idônea e com equidade (MORSCH, 2020). 
Isto é, para todos os pacientes a qualidade é a mesma, não havendo diferença de 
raça, nível socioeconômico e outras questões. 
A ética clínica é entendida como uma subespecialidade da bioética referente à 
tomada de decisões com o paciente. É central para a aplicação da prática da 
ética clínica a capacidade de identificar e avaliar uma questão ética e de chegar 
a uma conclusão e recomendação razoável para a ação (JONSEN; SIEGLER; 
WINSLADE, 2010 apud MONTEIRO, 2018). 
Ética na medicina? 
Para Morsch (2020), ética na medicina é um conjunto de normas e preceitos que 
devem ser respeitados e aplicados por todos os profissionais da área. Ela segue os 
valores da sociedade, ou seja, está baseada em questões morais. Como os valores 
podem mudar com o tempo, o principal documento que rege a ética médica no Brasil é 
constantemente revisado, a fim de se manter atual e acompanhar as transformações 
sociais. 
Segundo Fernando Monte, (apud MORSCH, 2020) a ética pode ser analisada sob 
três aspectos na prática médica: 
 a relação entre médico e paciente; 
 a relação dos médicos entre si; 
 A relação entre médico e sociedade. 
 
9 
 
Essas três esferas estão contempladas no Código de Ética da profissão, que 
orienta quanto à conduta mais apropriada em casos complexos, como na doação de 
órgãos e na abordagem de pacientes terminais. 
Preceitos fundamentais, direitos e deveres dos médicos, direitos humanos, sigilo 
profissional e documentos médicos são outros exemplos de temas tratados no código e 
devem ser estudados minuciosamente por todos que exercem a prática da medicina 
(MORSCH, 2020). 
1.4 Qual a importância da ética na medicina 
Ainda conforme Morsch (2020), para atuar de forma idônea, todo profissional 
precisa seguir princípios éticos. Mas essa questão é ainda mais importante na medicina, 
já que lida com a vida e a saúde humana e que interfere significativamente na condição 
clínica e psíquica do doente. Para isso, os médicos precisam colocar o interesse do 
paciente acima de qualquer outro. Se não agir com ética, um profissional pode focar 
apenas nos lucros, exercendo a medicina de maneira mercantilista, ou usar sua condição 
para vender produtos que causam danos à saúde. 
Por ter força de lei, o Código de Ética Médica proporciona segurança aos 
profissionais e pacientes, estabelecendo regras para o cuidado com a saúde. Sem ele, 
práticas restritas aos médicos, a exemplo de cirurgias, ficariam liberadas a pessoas sem 
qualificação, levando a sequelas e aumentando o risco de mortes. Questões polêmicas, 
como pesquisa científica com humanos e alterações genéticas, também não seriam 
observadas e reguladas, principalmente nos dias atuais, em que os exames podem 
revelar predisposição para doenças interferindo nas relações pessoais e profissionais do 
doente (MORSCH, 2020). 
Além disso, o código garante que médicos respeitem a escolha do paciente, 
familiares e responsáveis legais e exponham as informações de forma clara e objetiva — 
para que a decisão seja dada de forma consciente. 
O Código de Ética Médica atual está em vigor desde 1988, sofrendo apenas 
atualizações. A mais recente foi concluída em 1º de novembro de 2018, quando foi 
publicada a Resolução CFM nº 2217/18 (MORSCH, 2020). 
https://telemedicinamorsch.com.br/blog/seguranca-do-paciente
https://telemedicinamorsch.com.br/blog/seguranca-do-paciente
https://www.anamt.org.br/portal/wp-content/uploads/2018/11/resolucao_cfm_n_22172018.pdf
 
10 
 
2 BIOÉTICA 
 
Fonte: formacao.cancaonova.com 
A bioética surge no campo da ciência e sua proposta é um espaço de reflexão 
sobre o desenvolvimento, uso e contribuições influentes da tecnologia. Sobre a natureza 
e a vida humana. 
O conceito de bioética é interdisciplinar e contempla áreas como biologia, direito, 
filosofia, ciências exatas, ciência política, medicina, meio ambiente, etc. (MENEZES, 
2020). 
No Brasil, umas das principais responsáveis pela expansão desse conceito é a 
Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), fundada em 1995. 
Segundo o Jornal do Cremesp publicado em abril do mesmo ano, o encontro que 
posteriormente culminou na criação da SBB teve como objetivo: estimular na Sociedade 
discussões sobre temas polêmicos como aborto, eutanásia, reprodução assistida e 
engenharia genética e outros problemas ligados à vida, à morte e à existência humana, 
mas sempre visando o debate quanto aos aspectos éticos (MENEZES, 2020). 
 
11 
 
2.1 Os princípios da bioética 
Na definição de bioética, predominam duas questões: conhecimentos biológicos e 
valores humanos. Ela subdivide-se em princípios básicos que buscam solucionar 
problemas éticos originados ao longo do desenvolvimento de procedimentos com seres 
vivos de todas as espécies. 
No que diz respeito à ética médica, Hipócrates é um nome que se destaca. 
Considerado o “pai da medicina”, o médico grego costumava aliar medicina e filosofia. O 
foco de sua relação com o paciente era o bem, e sua abordagem era orientada 
principalmente por dois princípios: o princípio da não maleficência e o princípio da 
beneficência (MENEZES, 2020). 
Esses princípios deverão ser considerados ao serem organizados os protocolos 
de investigação de cada estudo, que são particularmente relevantes para a 
medicina clínica, começandopela sua proposta, independentemente da 
importância por ele representada (GONZÁLEZ et al., 2011 apud MONTEIRO, 
2018). 
Princípio da não maleficência 
O princípio da não maleficência se baseia na ideia de que nenhum mal deve ser 
feito ao outro. Assim, não é permitida nenhuma ação que consista em malefício 
intencional a cobaias ou a pacientes. O princípio é representado pela frase em 
latim: primum non nocere (primeiro, não prejudicar). Tem como objetivo evitar que um 
tratamento ou pesquisa cause mais danos do que os possíveis benefícios. 
Alguns estudiosos defendem que o princípio da maleficência é, na verdade, parte 
do princípio da beneficência, pois o ato de não causar mal ao outro já é, por si só, uma 
prática do bem. 
Exemplo de bioética na aplicação do princípio da não maleficência: em uma 
pesquisa para o desenvolvimento de uma vacina, é chegada a fase de testes em 
humanos. Os testes demonstraram que em 70% dos casos, os pacientes que receberam 
a vacina foram curados, mas 30% morreram em consequência de efeitos colaterais. Os 
estudos serão interrompidos e a vacina não poderá ser produzida apesar de um índice 
 
12 
 
alto de cura, causar a morte de pessoas é causar o mal e fere o princípio da não 
maleficência (MENEZES, 2020). 
Princípio da beneficência 
De acordo com Menezes (2020), esse princípio consiste na prática do bem; na 
virtude de beneficiar o próximo. Assim, os profissionais que atuam na área de pesquisas 
e experimentos devem assegurar a precisão da informação técnica que possuem e estar 
convictos que seus atos e decisões têm efeitos positivos. Dessa forma, espera-se que 
qualquer ato tenha como objetivo fundamental o bem, nunca o mal. 
Exemplo de bioética na aplicação do princípio da beneficência: uma médica está 
socorrendo um paciente que está correndo risco de morte. Esse paciente é um conhecido 
assassino. Objetivo dessa médica sempre será salvar a vida de seu paciente e mobilizará 
todas as alternativas para que isso aconteça (MENEZES, 2020). 
Segundo o princípio da beneficência, deve-se apenas ter em vista o bem. O 
descaso ou a omissão (ainda que pudesse ser justificado) consistiria em um mal e feriria 
o princípio bioético. 
Princípio da autonomia 
A ideia central desse princípio é de que todos têm capacidade e liberdade de tomar 
suas próprias decisões. Assim, qualquer tipo de procedimento a ser realizado no corpo 
de um indivíduo e/ou que tenha relação com a sua vida, deve ser autorizado por ele. No 
caso de crianças e de pessoas deficientes, o princípio de autonomia deve ser praticado 
pela respectiva família ou pelo responsável legal (MENEZES, 2020) 
É importante que esse princípio não seja praticado em detrimento do princípio da 
beneficência; por vezes, ele precisa ser desrespeitado para que a decisão de uma pessoa 
não cause danos a outra. 
 O princípio da autonomia é amparado pelo direito, ao abrigo do Código de Ética 
Médica Brasileiro (Capítulo V, Artigo 31). Tal artigo destaca o direito do paciente de ter a 
sua autonomia respeitada, no seguinte trecho onde é indicado que o médico é proibido 
de: (...) desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir 
 
13 
 
livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de 
iminente risco de morte (MENEZES, 2020). 
 Exemplo de bioética na aplicação do princípio da autonomia: quando um paciente 
é diagnosticado com uma doença terminal, já não existem tratamentos que possam curá-
lo. Geralmente, o que se faz nesses casos é dar a esse paciente os cuidados paliativos, 
de forma que ele se sinta aliviado dos sintomas do mal que o acomete (MENEZES, 2020). 
No entanto, cabe ao paciente decidir se deseja ou não avançar com esses 
cuidados paliativos, visto que eles não tornam possível a cura; apenas amenizam (por 
vezes) os malefícios da doença. Cabe ao profissional médico respeitar a decisão do 
paciente, caso ele não queira receber tais cuidados (MENEZES, 2020). 
Princípio da justiça 
Na visão de Menezes (2020), o domínio da bioética, esse princípio se baseia na 
justiça distributiva e na equidade. Ele defende que a distribuição dos serviços de saúde 
deve ser feita de forma justa e que deve haver igualdade de tratamento para todos os 
indivíduos. Tal igualdade não consiste em dar o mesmo para todos, mas sim em dar a 
cada um, o que cada um precisa. 
Exemplo de bioética na aplicação do princípio da justiça: um caso real que 
exemplifica o princípio da justiça, aconteceu em Oregon, nos Estados Unidos. Com o 
objetivo de proporcionar um atendimento básico de saúde a um maior número de 
pessoas, o governo local reduziu os atendimentos de saúde que imputavam custos altos 
(MENEZES, 2020). 
Ainda conforme Menezes (2020) dessa forma, foi possível realizar uma 
distribuição mais alargada dos recursos disponíveis de forma a ajudar solucionar os 
problemas de uma parcela maior da população. 
Para que serve a bioética 
Como caracteriza Menezes (2020), a aplicação do conceito de bioética tem como 
objetivo garantir que haja uma responsabilidade moral nos procedimentos, pesquisas e 
atos médicos e biológicos. A bioética busca garantir que os valores morais humanos não 
 
14 
 
se percam, independentemente do desenvolvimento histórico e social da humanidade, 
durante as tentativas de solução de conflitos e/ou dilemas éticos. 
A bioética é um ramo da ética que analisa os conflitos, as controvérsias e as 
práticas que tendem a elucidar e resolver questões éticas dentro da medicina e 
da biologia, além de elucidar aquelas relacionadas principalmente à vida humana 
em temas considerados polêmicos (CRISOSTOMO, 2018 apud MONTEIRO, 
2018). 
Com base nos seus quatro princípios, ela preza os comportamentos adequados a 
cada situação específica (MENEZES, 2020). 
Alguns dos assuntos que mais requerem a intervenção da bioética são: 
Aborto; 
Clonagem; 
Engenharia genética; 
Eutanásia; 
Fertilização in vitro; 
Uso de células-tronco; 
Uso de animais em experimentos; 
Suicídio. 
É de se referir que a aplicação dos princípios da bioética relativamente aos casos 
acima pode variar conforme o país onde é praticado. O que, por vezes, é permitido em 
determinados países, pode ser classificado como crime em outros. O aborto e a eutanásia 
exemplificam essa situação (MENEZES, 2020). 
Qual a importância da bioética para a sociedade 
Uma sociedade extremamente científica, com as mais variadas maneiras de 
modificação da vida em laboratório, com a possibilidade de fertilização in vitro, de 
clonagem, de eugenia, com a utilização de animais em pesquisas e para a alimentação, 
precisa de um amparo teórico para pensar em tais problemas. Em uma sociedade na 
qual o sofrimento de um doente terminal pode ser encurtado ou o sofrimento de uma 
gestação indesejada pode ser evitado, a bioética também serve para oferecer o aparato 
intelectual e fundamental para estabelecer-se uma discussão justa sobre esses assuntos 
(PORFÍRIO, 2020). 
 
15 
 
É ético praticar o aborto e a eutanásia? 
É ético manipular genes em laboratório para melhorar a espécie humana? 
E quando a utilização desse meio tem uma intenção racista? 
E o sofrimento dos animais, deve ser levado em consideração? 
A bioética, como quase tudo dentro da filosofia, não fornece respostas, mas 
fornece problemas e perguntas como essas, que amparam uma discussão justa sobre 
tais temas (PORFÍRIO, 2020). 
3 COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA: A RESOLUÇÃO DO CONSELHO NACIONAL 
DE SAÚDE 
Ao longo da história, o anseio por respostas levou o ser humano a descobertas 
que resultaram em benefícios importantes para sua sobrevivência, como a construção de 
moradias e o uso de vestimentas para se proteger do frio e do calor intensos, a 
descoberta do fogo para cozinhar alimentos, a invenção do automóvel e a descoberta da 
energia elétrica e dos medicamentos. Entretanto, as descobertas também resultaram em 
malefícios, desde a luta corporal,a destruição da biosfera, a poluição e o aquecimento 
global, até a bomba atômica, apontando para a necessidade iminente de um controle 
social. Entre tamanhas descobertas, não foram poucos os pesquisadores, mesmo os 
mais renomados, que, apoiados por agências de fomento nacionais ou internacionais, 
cometeram abusos em suas pesquisas, desrespeitando a dignidade humana e a ética 
animal (KIPPER, 2010 apud CZARNABAY, 2018). 
A história das pesquisas com seres humanos é repleta de situações abusivas em 
relação aos participantes do estudo. Um dos exemplos mais conhecidos é o caso do 
médico inglês Edmund Jenner, que, em 1796, ao estudar uma vacina contra varíola, 
realizou seus experimentos em seus próprios filhos e nas crianças da sua vizinhança, 
não se preocupando com a proteção das crianças. Ele acabou publicando seus 
resultados somente 20 anos depois do experimento, talvez por entender os deslizes 
éticos e morais do estudo. 
No século XVII, no auge da experimentação em animais, surgiu uma reflexão ética 
entre os que defendiam (chamados vivisseccionistas) e os que não defendiam o uso de 
https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/racismo.htm
 
16 
 
animais (os opositores). Somente no século XIX, as primeiras sociedades protetoras dos 
animais foram criadas. Somente após as atrocidades ocorridas durante a Segunda 
Guerra Mundial, com a publicação do Código de Nuremberg e da Declaração de 
Helsinque, além de diversos relatos e denúncias sobre experimentos científicos 
duvidosos, a visão sobre a ética na pesquisa científica enveredou para um caminho sem 
volta, felizmente. 
Em meio à fervorosa discussão sobre a validade do Código de Nuremberg (1947), 
ocorrida em 1965, especialmente quanto à utilidade do consentimentodo paciente para 
as pesquisas chamadas de terapêuticas, e diante da divulgação pela imprensa de uma 
série de pesquisas na área biomédica realizadas em seres humanos, as quais incluíam 
práticas moralmente questionáveis (tanto nos Estados Unidos quanto na Europa), foram 
iniciados os debates a respeito da regulação e da fiscalização das pesquisas científicas. 
Diante de tantas denúncias, o governo dos Estados Unidos criou a Comissão 
Nacional para a Proteção de Sujeitos Humanos em Pesquisas Biomédicas e 
Comportamentais, a fim de nortear os princípios éticos nas pesquisas envolvendo 
humanos, culminando com a publicação do Relatório de Belmont. Além disso, o Instituto 
Nacional de Saúde (NIH, do inglês National Institute of Health) dos Estados Unidos 
recomendou um sistema de supervisão das pesquisas por colegas, de caráter obrigatório, 
para toda investigação subsidiada pelo NIH ou pelo Serviço de Saúde Pública dos EUA, 
com o objetivo de assegurar o respeito aos sujeitos das pesquisas e a adequação do 
consentimento informado. 
Durante a Assembleia da Associação Médica Mundial, ocorreu a revisão da 
Declaração de Helsinque, em 1975, que, ao reforçar o caráter fundamental do 
consentimento livre e esclarecido por parte dos participantes, instituiu a necessidade de 
criar Comitês de Ética em Pesquisa, além de aconselhar a não publicação de trabalhos 
de proveniência eticamente objetável. 
O desenho e o desenvolvimento de cada procedimento experimental envolvendo 
o ser humano devem ser claramente formulados em um protocolo de pesquisa, 
o qual deverá ser submetido à consideração, discussão e orientação de um 
comitê especialmente designado, independente do investigador e do 
patrocinador. (FREITAS, 2009 apud CZARNABAY, 2018). 
 
17 
 
No Brasil, o aumento da pesquisa biomédica contribuiu para a introdução de sete 
artigos relacionados à pesquisa médica no Código de Ética Médica de 1988, tendo como 
foco a proteção de valores humanitários nesse contexto. A partir disso, o Conselho 
Nacional de Saúde (CNS) publicou a Resolução CNS nº 1/1988, a qual propunha a 
criação de Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) em todas as instituições/locais que 
realizassem pesquisas na área da saúde. 
No Brasil, existe a Resolução 196/96 (CNS), Comitê de Ética na Pesquisa (CEP) 
e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para respeitar as leis e princípios da 
pesquisa com seres humanos. 
O CEP é um colégio interdisciplinar e independente com caráter consultivo, 
deliberativo e educativo, tem como objetivo defender a integridade e dignidade dos 
participantes da pesquisa e contribuir para o desenvolvimento da pesquisa no âmbito dos 
padrões éticos. 
As características importantes das ações do CEP’s estão relacionadas às 
características de controle social propostas desde a antiga resolução de 1996. Controle 
social ao invés de controle público, porque o livre exercício da moralidade pressupõe 
independência e não pode haver outros interesses, coação ou coerção. 
O trabalho dos CEP é acompanhado por três aspectos: o primeiro refere-se à 
definição do conceito de pesquisa envolvendo seres humanos, toda pesquisa direta ou 
indireta, individual ou coletiva. Segundo aspecto, envolve o nível de formação dos 
pesquisadores, devem ser apresentadas as pesquisas traçadas pelos graduandos, pós-
graduandos e profissionais. O terceiro corresponde ao escopo da investigação, a 
pesquisa em todas as áreas do conhecimento deve ser avaliada. 
É importante observar que as comissões de ética podem ser divididas em vários 
tipos. Podem ser compostos por comitês nacionais, criadas como um conselho de 
especialistas no assunto foi estabelecido e nomeado por seu governo para fazer 
julgamentos informados sobre conflitos envolvendo a ética da prática biomédica. Eles 
também podem ser comissões de ética hospitalar ou comissões de bioética, 
responsáveis pelo tratamento de questões da ética dentro do hospital, seja relacionada 
à prática clínica, ética relacionada às atividades de pesquisa, e comissões de ética em 
pesquisa científica. 
 
18 
 
No Brasil, as comissões de ética incluem CEP’s e Conep (sistema CEP-Conep). A 
tarefa da criação do Conep é revisar as pesquisas em participação humana do ponto de 
vista ético, bem como a adequação e renovação das normas existentes. Suas principais 
responsabilidades são garantir o cumprimento das resoluções, conduzir a fiscalização e 
assessorar. É uma instituição universitária consultiva e consultiva, normativa, educativa, 
independente e em contato com o Conselho Nacional de Saúde, a Conep é responsável 
por motivar e supervisionar o trabalho do CEP. 
Em se tratando de pesquisas envolvendo seres humanos, as pesquisas realizadas 
em qualquer área do conhecimento devem ser encaminhadas ao CEP para apreciação. 
As instituições que realizam tais pesquisas devem constituir seu comitê de ética, que, de 
acordo com o texto da resolução, também passa relatórios para acompanhar as 
pesquisas e as interrompe quando julgar conveniente. Na avaliação de projetos, do ponto 
de vista ético, o CEP é responsável pelas pesquisas por ele aprovadas. 
Entretanto, a Resolução CNS nº 196/96 reúne as principais diretrizes para a 
apreciação da ética dos projetos de pesquisa, servindo como marco histórico brasileiro 
ao criar um sistema nacional para o seu acompanhamento (BRASIL, 1996 apud 
CZARNABAY, 2018). 
O sistema era constituído por Comitês de Ética em Pesquisa presentes nas 
instituições que as realizam, coordenados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa 
(CONEP), que é vinculada ao CNS. Segundo essa Resolução, os CEPs devem ser 
constituídos de forma multidisciplinar, incluindo a participação de profissionais da área 
de saúde, das ciências exatas, sociais e humanas – juristas, teólogos, sociólogos, 
filósofos, bioeticistas – e pelo menos um membro da sociedade representando os 
usuários da instituição – podendo ainda contar com consultores ad hoc (pessoas não 
pertencentes à instituição, mas que são capazes de fornecer subsídios técnicos). 
Ainda conforme Czarnabay (2018), os CEPs e o CONEP são responsáveis por 
revisar os projetos de pesquisa envolvendo seres humanos, principalmentepara 
assegurar e preservar a integridade e os direitos dos participantes (voluntários) nas 
pesquisas científicas, emitindo parecer consubstanciado sobre estes. Atualmente, a 
Resolução em vigor é a Resolução n° 466/2012, que revisou a antiga, mantendo os 
 
19 
 
critérios estabelecidos, mas com algumas modificações. Ao abordar o tema do CEP, as 
atribuições incluem 
[...] avaliar protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, com prioridade 
nos temas de relevância pública e de interesse estratégico da agenda de 
prioridades do SUS, com base nos indicadores epidemiológicos, emitindo 
parecer, devidamente justificado, sempre orientado, dentre outros, pelos 
princípios da impessoalidade, transparência, razoabilidade, proporcionalidade e 
eficiência, dentro dos prazos estabelecidos em norma operacional, evitando 
redundâncias que resultem em morosidade na análise [...] (BRASIL, 2012 apud 
CZARNABAY, 2018). 
No momento da avaliação do projeto de pesquisa, compete ao CEP emitir parecer 
devidamente motivado, no qual seja apresentada, de forma clara, objetiva e detalhada, a 
decisão do colegiado no prazo estipulado em norma operacional. O CEP deve 
encaminhar, depois da análise fundamentada, os protocolos de competência da CONEP, 
contendo a decisão sobre o projeto. 
O sistema CEP/CONEP foi instituído para proceder com a análise ética de projetos 
de pesquisa envolvendo seres humanos no Brasil. Esse processo tem como base uma 
série de resoluções e normativas deliberadas pelo CNS – órgão vinculado ao Ministério 
da Saúde. 
O atual sistema tem como fundamentos o controle social, exercido pela ligação 
com o CNS, a capilaridade, na qual mais de 98% das análises e decisões ocorrem 
em nível local pelo trabalho dos Comitês de Ética em Pesquisa, e o foco na 
segurança, na proteção e na garantia dos direitos dos participantes de pesquisa 
(SCHNAIDER, 2008; BRASIL, 2018 apud CZARNABAY, 2018). 
A maior parte dos processos relacionados à análise ética ocorre em ambiente 
eletrônico, por intermédio da ferramenta eletrônica chamada de Plataforma Brasil, 
embora ainda existam projetos em forma física (papel) devido ao antigo sistema. Para 
isso, o pesquisador responsável (e todos os membros da equipe) deve realizar um 
cadastro na Plataforma Brasil, preenchendo com seus dados e os dados 
complementares. O sistema solicitará documentos obrigatórios (currículo comum, 
documento digitalizado e foto de identificação) e vínculo com instituição (deve-se informar 
o nome da instituição à qual o pesquisador está vinculado). Sendo assim, a instituição 
também deve estar cadastrada no sistema da Plataforma Brasil e ter o seu CEP 
(CZARNABAY, 2018). 
 
20 
 
CZARNABAY (2018) alega que o CNS define uma instituição proponente como: a 
instituição com a qual o pesquisador responsável tem vínculo e em nome da qual 
apresenta a pesquisa; corresponsável pela pesquisa e pelas ações do pesquisador. Em 
projetos multicêntricos e unicêntricos, essa instituição será o centro coordenador do 
estudo. Depois de realizar o cadastro corretamente, o pesquisador pode efetuar a 
submissão de projeto de pesquisa, acessando a plataforma por intermédio do seu 
cadastro. Durante a submissão, o pesquisador preencherá todos os dados e todas as 
informações referentes ao projeto, incluindo os participantes do projeto, e irá anexar uma 
cópia do projeto de pesquisa completo e do vínculo da instituição para que encaminhado 
ao CEP da instituição. Caso o pesquisador não esteja vinculado a nenhuma instituição 
ou a instituição não tenha seu próprio CEP, o projeto será automaticamente encaminhado 
para a CONEP. Todos os experimentos só devem ser realizados após a aprovação do 
projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa. 
4 CONSENTIMENTO INFORMADO E ESCLARECIDO 
Conforme a Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, consentimento livre e 
esclarecido consiste na anuência do participante da pesquisa e/ou de seu representante 
legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou 
intimidação, após esclarecimento completo e pormenorizado sobre a natureza da 
pesquisa, os seus objetivos, os métodos, os benefícios previstos, os potenciais riscos e 
o incômodo que esta possa acarretar. Desse modo, o consentimento informado deve ser 
entendido como um processo, mas não um evento isolado, e deve estar presente em 
todas as pesquisas clínicas envolvendo seres humanos ou material biológico (LEITE, 
2019). 
Para que o consentimento ocorra, é necessário que se tenha o fornecimento de 
informações sobre o estudo em questão: o que é a pesquisa, quais são os objetivos, qual 
a duração da participação e quais são os procedimentos, riscos e benefícios. Além disso, 
é importante esclarecer sobre a confidencialidade da identidade do participante e que 
haverá alguma forma de compensação, caso haja algum dano associado à participação. 
 
21 
 
Algumas pesquisas com maiores subsídios fornecem auxílio-transporte e alimentação a 
cada visita do estudo. 
Logo, no processo há o conjunto da autonomia, capacidade, voluntariedade, 
informação, esclarecimento e o próprio consentimento (BIONDO-SIMÕES et al., 2007 
apud LEITE, 2019). 
O consentimento informado ocorre em um processo que conta com o uso do TCLE, 
cujo conceito é de: documento no qual é explicitado o consentimento livre e esclarecido 
do participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita, devendo conter todas as 
informações necessárias, em linguagem clara e objetiva, de fácil entendimento, para o 
mais completo esclarecimento sobre a pesquisa a qual se propõe participar. Em 
documentos estrangeiros, o documento é denominado de informed consent. A assinatura 
do TCLE é a última etapa do processo de consentimento, quando a autorização é 
realizada de forma documental. 
Segundo Leite (2019), o processo de consentimento tem relação direta com o 
princípio da autonomia, sendo importante refletir que, conforme a vulnerabilidade do 
participante, é possível que ele não esteja apto para exercer a sua autonomia 
corretamente. 
De forma complementar, a ocorrência do consentimento trata-se de um direito 
moral dos pacientes, o qual exige que os pesquisadores responsáveis também adotem 
uma postura em cumprimento das suas obrigações morais (BIONDO-SIMÕES et al., 
2007 apud LEITE, 2019). 
Conforme o Código de Ética Médica, é vedado ao médico: 
Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal 
após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco 
iminente de morte [...] 
Art. 101. Deixar de obter do paciente ou de seu representante legal o termo de 
consentimento livre e esclarecido para a realização de pesquisa envolvendo 
seres humanos, após as devidas explicações sobre a natureza e as 
consequências da pesquisa. 
§ 1º No caso de o paciente participante de pesquisa ser criança, adolescente, 
pessoa com transtorno ou doença mental, em situação de diminuição de sua 
capacidade de discernir, além do consentimento de seu representante legal, é 
necessário seu assentimento livre e esclarecido na medida de sua compreensão 
(BRASIL, 2019, documento on-line apud LEITE, 2019). 
 
22 
 
4.1 Surgimento do consentimento livre e esclarecido 
Desde que a ética em pesquisa começou a ser tópico de reflexão entre os 
pesquisadores em 1947 com o Código de Nuremberg, foi instituída a necessidade da 
aplicação do TCLE para a realização de pesquisa envolvendo seres humanos. Além 
disso, o documento determinou como responsabilidade do investigador a obtenção do 
consentimento dos participantes de pesquisa. Desde então, a ética é bastante discutida 
em diversas diretrizes e normas de caráter internacional e nacional. As Diretrizes Éticas 
Internacionais para Pesquisas Relacionadas à Saúde Envolvendo Seres Humanos, um 
dos documentos que aborda o consentimento de populações vulneráveis, foi elaborada 
pelo Conselho das Organizações Internacionais de CiênciasMédicas em colaboração 
com a Organização Mundial da Saúde (MADERS, 2014; BRASIL, 2019 apud LEITE, 
2019). 
Conforme esse documento do Conselho das Organizações Internacionais de 
Ciências Médicas, a Diretriz nº 9, que diz respeito aos indivíduos aptos a dar 
consentimento informado, informa que é obrigação dos pesquisadores: 
 Obter o consentimento, mas somente depois de fornecer informações 
relevantes sobre a pesquisa e assegurar que o participante em potencial 
tenha conhecimento adequado sobre seus principais fatos. 
 Se abster de falsidades não justificadas, omissão de informações 
relevantes, influência indevida ou coerção. 
 Garantir que o potencial participante tenha tido oportunidade e tempo 
suficiente para decidir se quer participar. 
 Obter de cada potencial participante, como regra geral, formulário assinado 
como prova de consentimento informado. Os pesquisadores devem 
justificar qualquer exceção a essa regra e buscar a aprovação do Comitê 
de Ética em Pesquisa (CEP) (LEITE, 2019). 
 
23 
 
4.2 Principais aspectos do consentimento esclarecido 
Para Leite (2019), existe um cuidado no processo de consentimento livre e 
esclarecido, o qual os pesquisadores responsáveis, ao recrutarem os participantes de 
pesquisa, devem prestar atenção. O respeito à dignidade humana é um requisito básico 
inerente à pesquisa clínica. Desse modo, cabe ao pesquisador: (1) buscar o momento, a 
condição e o local mais adequados para que o esclarecimento seja realizado, (2) utilizar 
linguagem acessível conforme a faixa etária, condição socioeconômica e nível de 
escolaridade dos participantes, (3) permanecer o tempo adequado com o participante 
para que este possa decidir sobre a sua participação na pesquisa. A adoção de uma 
postura que seja de acordo com as ações descritas é fundamental para que o indivíduo 
aceite participar. 
De forma complementar ao processo de consentimento, o qual deve ocorrer de 
modo que o participante entenda todas as informações referentes à pesquisa, há a 
aplicação do TCLE, por isso deve ser conduzido de acordo com o grau de conhecimento 
e as condições clínicas e psíquicas do paciente, que normalmente não apresenta o 
mesmo conhecimento técnico e científico dos pesquisadores. A linguagem utilizada é o 
principal aspecto a ser considerado tanto no diálogo com o participante ou seu 
responsável quanto na elaboração do TCLE. Além disso, o documento deve ser 
apresentado em duas vias, uma do pesquisador e outra do participante, sendo que, em 
ambas, as assinaturas e as demais informações deverão ser preenchidas (LEITE, 2019). 
4.3 Situações especiais de consentimento 
Sabemos que o processo de consentimento é fundamental para o 
desenvolvimento de pesquisas científicas com seres humanos. No entanto, em alguns 
casos é possível solicitar a dispensa da utilização do termo, sendo condicionada à 
decisão do CEP quanto à dispensa ou não do seu uso. Normalmente, os casos em que 
se justifica a dispensa são quando se utiliza informações do prontuário dos pacientes ou 
banco de informações. Assim, o pesquisador assina termos de compromisso que 
conforme a pesquisa pode ser para a utilização de material biológico, utilização de dados 
 
24 
 
em geral ou de dados institucionais que asseguram o uso das informações de forma 
anônima, de modo a preservar a privacidades dos pacientes cujos dados de prontuários 
e/ou bases de dados foram utilizados (LEITE, 2019). 
Para o consentimento em pesquisas envolvendo crianças e adolescentes, o TCLE 
é assinado pelo seu representante legal, sendo que, a partir dos sete anos de idade, é 
garantida a sua participação no processo de consentimento. 
No dizer de Leite (2019), em crianças menores de sete anos, deve-se garantir o 
direito de serem informadas conforme o seu desenvolvimento moral e de forma adequada 
ao seu nível de compreensão sobre a sua participação. Quando a criança se recusar a 
participar da pesquisa, sua opinião deve ser respeitada. Há exceção quando o 
procedimento for o único tratamento terapêutico disponível e os pais ou representantes 
legais autorizarem o desenvolvimento da pesquisa, ou seja, o consentimento deve ser 
obtido pela criança ou pelo adolescente e os pais ou os representantes fornecem a 
autorização via TCLE. 
Há, ainda, os participantes com redução de capacidade cognitiva em razão de 
transtorno ou doença mental, cuja participação só ocorre com a autorização fornecida 
por seus representantes legais. Deve-se garantir que a sua participação respeite as 
limitações das suas capacidades. No caso de participantes ou responsáveis analfabetos, 
o TCLE deve ser lido junto a uma testemunha imparcial, sem participação direta na 
pesquisa. O termo deverá ser assinado pela testemunha, assegurando que todas as 
informações pertinentes ao desenvolvimento do estudo foram fornecidas ao participante 
ou ao seu responsável (LEITE, 2019). 
O voluntário ou seu representante deverá inserir a impressão datiloscópica ao 
TCLE. 
Nessas situações especiais, a participação deverá ser aprovada pelo CEP e pela 
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, devendo haver justificativa clara da 
escolha desses participantes em pesquisa. Deve atentar-se também para os 
participantes que, apesar da plena capacidade de consentimento, são expostos 
à limitação do seu poder de autonomia. É o caso de estudantes militares, 
empregados, presidiários e internos em centros de readaptação, em casas-
abrigo, asilos, associações religiosas e semelhantes, os quais devem ter o poder 
de escolha de participar ou não de qualquer pesquisa, sem represálias 
(FRANCISCONI; GOLDIM, 2003 apud LEITE, 2019). 
 
25 
 
4.4 Revelação de diagnósticos 
Para a atuação como profissional, é necessário seguir alguns preceitos 
relacionados a direitos humanos, deveres profissionais, relação com a família e familiares 
e sigilo profissional. De forma complementar, aspectos relacionados à bioética devem ser 
respeitados, tais como sigilo, confidencialidade e privacidade. 
Conforme o Conselho Federal de Medicina, a Resolução nº 2.217, de 27 de 
setembro de 2018, a qual entrou em vigor na data de 30 de abril de 2019, atualizou as 
especificações do Código de Ética Médica (CARVALHO et al., 2005; BRASIL, 2019 apud 
LEITE, 2019). 
Algumas especificações são importantes para determinar a relação do médico com 
os pacientes e seus familiares. De acordo com o Capítulo V, é vedado ao médico: 
 Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir 
livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo 
em caso de iminente risco de morte. 
 Deixar de usar todos os meios disponíveis de promoção de saúde e de 
prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, cientificamente 
reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente. 
 Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os 
objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe 
provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação ao seu 
representante legal. 
 Exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico, complicar a 
terapêutica ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer 
outros procedimentos médicos (LEITE, 2019). 
Cabe ao médico o fornecimento de informações claras, objetivas e que sejam 
transmitidas de forma facilmente compreensível sobre questões de hipóteses 
diagnósticas, diagnósticos, exames solicitados, ações terapêuticas, riscos e benefícios 
associados aos tratamentos propostos e realizados. Quando se trata de procedimentos 
diagnósticos e terapêuticos invasivos, deve-se fornecer informações referentes à (1) 
necessidade ou não de anestesia, (2) quais partes do corpo serão afetadas, (3) quais os 
 
26 
 
efeitos colaterais, (4) os riscos e complicações indesejáveis, (5) a duração esperada do 
procedimento, (6) os exames e as condutas necessários, (7) a finalidade dos materiais 
coletados para exame,(8) a justificativa para a realização dos procedimentos e (9) as 
opções de alternativas diagnósticas e terapêuticas (SÃO PAULO, 2001 apud LEITE, 
2019). 
Ainda A revelação de diagnósticos críticos é uma prática frequente na rotina dos 
profissionais da área da saúde, de modo que, além de informar, é necessário manter o 
sigilo das informações e dados do paciente. A quebra de sigilo é considerada uma 
infração por parte dos profissionais, entretanto, sob o olhar da justiça, o sigilo deve ser 
rompido em situação justificáveis. 
Conforme o Conselho Federal de Medicina, no que diz respeito ao sigilo 
profissional, é vedado ao médico: 
Art. 73. Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua 
profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do 
paciente. 
Parágrafo único. Permanece essa proibição: a) mesmo que o fato seja de 
conhecimento público ou o paciente tenha falecido; b) quando de seu depoimento 
como testemunha. Nessa hipótese, o médico comparecerá perante a autoridade 
e declarará seu impedimento; c) na investigação de suspeita de crime, o médico 
estará impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo penal. 
Art. 74. Revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, 
inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha 
capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar 
dano ao paciente [...] 
Art. 77. Prestar informações a empresas seguradoras sobre as circunstâncias da 
morte do paciente sob seus cuidados, além das contidas na declaração de óbito 
(nova redação – Resolução CFM nº 1997/2012). 
Art. 78. Deixar de orientar seus auxiliares e alunos a respeitar o sigilo profissional 
e zelar para que seja por eles mantido. 
Art. 79. Deixar de guardar o sigilo profissional na cobrança de honorários por 
meio judicial ou extrajudicial. (BRASIL, 2019, documento on-line apud LEITE, 
2019). 
Quando se trata de pesquisa na qual os dados dos participantes serão utilizados 
na divulgação de dados, o cuidado em manter a identidade dos participantes deve ser 
seguido. Além disso, o que ratifica a importância de resguardar os dados dos 
participantes é que o prontuário médico pertence ao paciente, sendo o médico e o 
hospital ou a instituição apenas guardiões.Logo, as informações presentes em prontuário 
 
27 
 
não devem ser divulgadas (CARVALHO et al., 2005; BRASIL, 2019; SÃO PAULO, 2017 
apud LEITE, 2019). 
A principal questão no manejo dos pacientes é como revelar diagnósticos que 
representam a comunicação de más notícias. O processo deve estar associado a um 
atendimento de caráter humanizado, considerando os aspectos psíquicos e/ou 
emocionais dos envolvidos. O objetivo está associado na transmissão de determinada 
condição clínica do paciente e também na diminuição do impacto emocional associado, 
a fim de proporcionar um entendimento maior da nova realidade. Quando a comunicação 
é realizada de forma satisfatória, o processo de assistência é beneficiado, visto que 
favorece a adesão a tratamento, a aceitação da terapêutica e a satisfação do 
atendimento. A comunicação na relação médico-paciente/familiares é um desafio, no 
entanto, é algo que, sendo exercitado e corrigindo os erros, será possível de ser realizado 
com benefício direto ao paciente (LEITE, 2019). 
É importante compreender que quando falamos de más notícias, não é só a morte 
de um familiar ou o surgimento de uma doença terminal ou trauma, pode ser o 
diagnóstico de HIV, diabetes, doenças crônico-degenerativas, mas também pode 
ser uma gravidez indesejada, por exemplo, a qual não está associada a um mau 
prognóstico, mas que para o paciente representa uma má notícia. A forma como 
cada pessoa responde à revelação de diagnóstico pode ser diferente e cabe aos 
profissionais da saúde saberem lidar com as diferentes formas de expressão das 
emoções e dos sentimentos (FREIBERGER; CARVALHO; BONAMIGO, 2019; 
MONTEIRO; QUINTANA, 2016 apud LEITE, 2019). 
 
28 
 
5 O QUE É GENÉTICA 
 
Fonte: comciencia.br 
De acordo com Becker (2018), essa jornada começa em um mosteiro, localizado 
na Europa central, onde o monge Gregor Mendel realizou experimentos com ervilhas de 
jardim. Ao observar características das ervilheiras (p. ex., cor da flor e altura da planta), 
Mendel concluiu que as características dos seres vivos seguem um modo previsível de 
transmissão dos pais para os filhos. Sendo um par de genes, os quais se separam 
durante a formação dos óvulos e dos espermatozoides, os responsáveis pelo controle 
dessas características. Esse trabalho, publicado em 1865, só foi reconhecido pela 
comunidade científica 35 anos depois, quando os pesquisadores Hugo De Vries, Carl 
Correns e Erich von Tschermak-Seysenegg confirmaram os resultados obtidos pelo 
monge. Dessa forma, os experimentos utilizando ervilhas de jardim foram responsáveis 
pelo estabelecimento das bases da genética. Contudo, o termo genética (do grego geno; 
fazer ou nascer) foi determinado somente em 1906, pelo biólogo William Bateson, sendo 
definido como o ramo da biologia dedicado ao estudo da hereditariedade e da variação 
de características visíveis dentre os organismos (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013; 
KLUG et al., 2012 apud BECKER, 2018). 
 
29 
 
Os pesquisadores Sutton e Boveri (1903 apud BECKER, 2018), após observaram 
os cromossomos durante a divisão celular, propuseram que eles seriam os portadores 
dos genes, termo usado por Wilhelm Johannsen para nomear os fatores hereditários 
descobertos por Mendel. Posteriormente, na década de 1940, a análise molecular 
permitiu identificar componentes do material genético, como o ácido desoxirribonucleico 
(DNA). Entre as grandes descobertas da genética molecular estão a descrição da 
estrutura molecular do DNA, por James Watson e Francis Crick, em 1953 (A 
DESCOBERTA..., 2005, documento on-line apud BECKER, 2018), e a determinação dos 
processos de transcrição do DNA para o ácido ribonucleico (RNA) e, desse último, para 
uma sequência de aminoácidos na proteína. Com introdução das tecnologias de 
manipulação e análise do DNA na década de 1970, foi possível determinar quais são os 
genes associados à produção de proteínas humanas essenciais, assim como associar 
as mutações nesses genes com a ocorrência de diversas doenças. O Projeto Genoma 
Humano (PGH), finalizado em 2003, permitiu o sequenciamento de todos os 
cromossomos humanos, trazendo significativos avanços para a medicina. Os avanços 
observados na genética permitiram uma melhor compreensão da patogênese das 
doenças (p. ex., diabetes melito e doenças cardiovasculares), assim como uma melhora 
no manejo dos pacientes. A maior contribuição dessa jornada, iniciada com um monge e 
suas ervilhas, é a prevenção de doenças, seja por meio do rastreamento de indivíduos 
de risco ou do aprimoramento do diagnóstico e do aconselhamento genético (BORGES-
OSÓRIO; ROBINSON, 2013 apud BECKER, 2018). 
Com exceção dos traumatismos, os fatores genéticos desempenham um papel 
importante papel na etiologia das doenças, sendo difícil determinar uma doença 
que não apresente relação com os componentes genéticos. Mesmo nas doenças 
infecciosas, como a gripe, os fatores genéticos estão relacionados com a 
resposta do sistema imunológico frente aos agentes exógenos. Dessa forma, o 
desenvolvimento da genética básica está diretamente relacionado à evolução da 
própria ciência clínica da medicina. Essa importante relação será apresentada a 
você na sequência deste capítulo (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013 apud 
BECKER, 2018). 
 
30 
 
5.1 Genética básica e medicina clínica 
Inicialmente, os conhecimentos genéticos foram aplicados principalmente no 
melhoramento de plantas e animais. Nas plantas (soja, arroz e milho), as pesquisas são 
direcionadas para melhoramento das seguintes características: resistência a herbicidas, 
insetos e vírus; aumento do conteúdo oleaginoso; atraso do amadurecimento;aumento 
do valor nutritivo. Em 1996, a ovelha Dolly foi clonada por meio da transferência do núcleo 
de uma célula adulta diferenciada para o interior de um óvulo, no qual o núcleo havia sido 
removido. A clonagem de animais é utilizada, por exemplo, para garantir uma grande 
produção de leite nas vacas, uma vez que essa técnica permite reproduzir animais que 
já apresentam essa característica na idade adulta. Dessa forma, a biotecnologia é a 
utilização desses organismos modificados e dos seus produtos, que atualmente podem 
ser encontrados em fazendas, supermercados, farmácias e hospitais (KLUG et al., 2012 
apud BECKER, 2018). 
Apesar do interesse inicial ter sido direcionado para o melhoramento de plantas e 
animais, a partir do século XX, importantes conceitos relacionados à nossa espécie 
começaram a ser estudados com maior profundidade. Com o sucesso do PGH, os 
conhecimentos da genética dos laboratórios foram impulsionados para dentro dos 
hospitais e das clínicas médicas. Dessa forma, todos os profissionais que trabalham na 
assistência à saúde necessitam de conhecimentos básicos sobre os princípios genéticos. 
De fato, a genética humana está relacionada com o estudo da genética nas pessoas, 
sendo composta por diversos campos de estudo, entre os quais estão os descritos a 
seguir. 
 Genética médica: estudo da etiologia, da patogênese e da história natural 
das doenças genéticas. 
 Genética clínica: diagnóstico e tratamento de pacientes com condições 
genéticas. 
 Genética do comportamento: estudo da relação entre os genes e os 
distúrbios psiquiátricos e cognitivos. 
 
31 
 
 Genética bioquímica: estudo dos distúrbios genéticos relacionados com 
alterações em reações bioquímicas, os quais são denominados erros inatos 
do metabolismo. 
 Citogenética: estudo da estrutura e das funções dos cromossomos. 
 Genética do desenvolvimento: estudo do desenvolvimento humano, 
incluindo as malformações congênitas. 
 Genética forense: emprego do conhecimento genético nas investigações 
médico-legais. 
 Aconselhamento genético: utilização da genética no aconselhamento e 
apoio aos pacientes com condições genéticas. 
 Genética molecular: o estudo das alterações moleculares do material 
genético, que podem apresentar implicações na saúde humana. 
 Farmacogenética: o estudo das influências genéticas na resposta e no 
metabolismo de medicamentos. 
 Genética de populações: o estudo dos genes dentro das populações. 
 Genética da reprodução: o estudo dos aspectos genéticos no contexto 
reprodutivo, por exemplo, o diagnóstico pré-natal (SCHAEFER; 
THOMPSON JUNIOR, 2015 apud BECKER, 2018). 
A relação entre a genética básica e medicina clínica pode ser exemplificada por 
meio do conceito de doença molecular, que foi descrito inicialmente na anemia falciforme, 
uma doença grave e complexa causada pela alteração de um único nucleotídeo. É 
importante destacar aqui que o genoma humano é o conjunto completo de informações 
hereditárias da nossa espécie, sendo formado por uma longa sequência de DNA, a qual, 
por sua vez, é composta por bilhões de nucleotídeos (bases nitrogenadas, açúcar e 
fosfato). Considerando os efeitos que uma única alteração genética pode causar, foi 
necessário interrelacionar a descrição da doença e a elucidação da sua etiologia, e, 
dessa forma, surgiu a genética médica (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013 apud 
BECKER, 2018). 
 
32 
 
5.2 Conceito básico em genética 
A vida depende, basicamente, da capacidade das células de realizar os 
processos de armazenamento, recuperação e tradução da informação genética. 
Essa informação está armazenada nos genes, que são os elementos que 
determinam as características das espécies e dos indivíduos. As informações 
contidas nos genes são copiadas e transmitidas para as células filhas milhões de 
vezes durante a vida, sobrevivendo a esse processo praticamente sem 
alterações. No final do século XIX, cientistas descobriram que essa transmissão 
era realizada por intermédio dos cromossomos, estruturas semelhantes a uma 
corda, que estão contidos no núcleo das nossas células e são constituídos 
principalmente por DNA e proteínas (ALBERTS et al., 2017 apud BECKER, 
2018). 
O DNA é uma longa macromolécula que apresenta o formato de hélice dupla, 
semelhante a uma escada espiralizada. Os componentes básicos de cada uma das fitas 
são os nucleotídeos, que são formados por uma base nitrogenada (Adenina, Guanina, 
Timina e Citocina), um açúcar e fosfato. As variações de combinações de sequências 
dessas bases estão relacionadas com a determinação da proteína que será formada. Os 
pesquisadores James Watson e Francis Crick desenvolveram o modelo de hélice dupla, 
no qual duas fitas complementares formam a molécula de DNA, de forma que os pares 
de bases são adenina e timina (A-T) e guanina e citocina (G-C). A sequência de 
nucleotídeos é utilizada para construir uma sequência de RNA complementar, a qual é 
semelhante ao DNA, exceto pela presença de um açúcar diferente e da base nitrogenada 
uracila substituindo a timina. Esse RNA, agora denominado RNA mensageiro (RNAm), 
move-se para o citoplasma com o intuito de localizar os ribossomos, que são organelas 
celulares responsáveis pela síntese proteica. As proteínas, produtos finais de muitos 
genes, são constituídas por sequências de aminoácidos. Dessa forma, podemos dizer 
que o DNA faz o RNA (Transcrição), o qual, na maioria das vezes, faz a proteína 
(Tradução). Essa sequência dos processos de transcrição e tradução é denominada 
Dogma Central da Biologia Molecular (KLUG et al., 2012 apud BECKER, 2018). 
Conforme Becker (2018), o entendimento de alguns conceitos básicos em genética 
é fundamental para o estudo mais aprofundado dessa disciplina. A seguir, serão 
apresentados alguns desses conceitos: 
 
33 
 
 alelos: são genes que ocupam o mesmo lócus no par de cromossomos 
homólogos. Em geral, os alelos são formas alternativas de um gene no 
mesmo lócus; 
 característica dominante: é a característica que necessita de apenas um 
gene para se manifestar externamente, ou seja, irá se manifestar mesmo 
que o gene seja heterozigoto; 
 característica recessiva: é a característica que necessita de dois genes para 
se manifestar externamente, ou seja, irá se manifestar somente na 
homozigose; 
 cromossomo: é a unidade básica do genoma, constituído de cromatina 
(DNA e proteínas), ao longo da qual estão localizados os genes; 
 cromossomo sexual: cromossomos X (feminino) e Y (masculino) em 
humanos, que estão relacionados à determinação do sexo; 
 cromossomos homólogos: os cromossomos, um de origem paterna e outro 
de origem materna, contém o mesmo conjunto de lócus, mas não são 
cópias um do outro; 
 diploide: é o número de cromossomos encontrados nas células somáticas. 
Na espécie humana, o número diploide de cromossomos é 46; 
 DNA: molécula de ácido desoxirribonucleico, que representa o material 
genético das células dos seres vivos eucariotos; 
 gene: segmento de DNA responsável por determinar a síntese proteica; 
 genoma: sequência completa do DNA que contém todas as informações 
genéticas de um indivíduo ou de uma espécie; 
 genótipo: é a constituição genética ou o conjunto de genes de um indivíduo; 
 fenótipo: é a manifestação externa do seu genótipo ou o conjunto de 
características físicas, bioquímicas e fisiológicas determinadas pelo 
genótipo, que podem ser influenciadas pelo ambiente; 
 haploide: número de cromossomos presentes em um gameta, com apenas 
um membro de cada par cromossômico. Na espécie humana, o número 
haploide de cromossomos é 23; 
 
34 
 
 heterozigoto: em relação a um par de alelos, o indivíduo que possui alelos 
diferentes em um mesmo lócus; 
 homozigoto: em relação a um par de alelos, o indivíduo que possui alelos 
iguais em um mesmo lócus; 
 lócus: é a posição que o gene ocupa no cromossomo; 
 nucleotídeo: molécula constituída de uma basenitrogenada, um açúcar e 
um fosfato; 
 terapia gênica: inserção de um gene normal em um organismo para corrigir 
um defeito genético; 
 transgênico: organismo produzido pela engenharia genética por meio da 
inserção de uma sequência de DNA de um organismo de uma espécie em 
outro de uma espécie diferente; 
 variação: ocorrência de diferenças hereditárias ou não, na estrutura 
permanente das células, entre indivíduos de uma população ou entre 
populações (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013 apud BECKER, 2018). 
6 O QUE É ENGENHARIA GENÉTICA 
A biotecnologia é assim denominada devido ao uso de organismos vivos para 
desenvolver um produto ou processo que tenha como objetivo a melhoria da qualidade 
de vida dos humanos ou de outros organismos. A biotecnologia moderna necessita muito 
da engenharia genética (KLUG et al., 2012 apud ZAVALHIA, 2018), ciência que trata da 
manipulação do material genético. 
Trata-se de um agrupamento de procedimentos que resultam em uma modificação 
predeterminada e remetida no genótipo de um organismo e conta com muitas aplicações 
em distintas áreas, como medicina, odontologia, agricultura, indústria (BORGES-
OSÓRIO; ROBINSON, 2013, p. 591 apud ZAVALHIA, 2018). 
Em suma, a engenharia genética está relacionada com a modificação genômica 
de um organismo e utiliza tecnologias para adicionar ou remover genes de um 
genoma. As novas variedades de plantas e organismos vivos com traços 
genéticos específicos foram geradas por cientistas graças à capacidade de 
 
35 
 
manipular o DNA in vitro e de introduzir genes em células vivas (KLUG et al., 
2012, p. 634 apud ZAVALHIA, 2018). 
Como uma nova ciência, vem demonstrando resultados surpreendentes. Por 
exemplo, a partir dos resultados apontados pelo Projeto Genoma Humano e da discussão 
envolvendo os transgênicos, que impulsionaram essa área da engenharia, foi possível 
mapear o ser vivo geneticamente, gerar clones, desenvolver a terapia gênica e produzir 
transgênicos (BATISTA, 2018 apud ZAVALHIA, 2018). 
O medicamento pioneiro que a engenharia genética utilizou foi a insulina humana, 
gerada a partir de bactérias modificadas de Escherichia coli, no ano de 1982. No decorrer 
das últimas três décadas, foram desenvolvidos inúmeros medicamentos que permitiram 
o tratamento para diversas alterações (SCHAEFER; THOMPSON JUNIOR, 2015 apud 
ZAVALHIA, 2018). 
No setor agrícola, as plantas geneticamente modificadas demonstraram grande 
impacto. Com base na engenharia genética, foram realizadas melhorias em culturas 
agronomicamente importantes, incluindo a geração de culturas resistentes a herbicidas 
e a insetos e o reforço do valor nutricional das plantas alimentícias. Outra aplicação da 
engenharia genética que pode ser citada é o seu uso para fortalecer a qualidade dos 
animais de pecuária, criando animais transgênicos com características melhoradas, 
como o crescimento e a resistência a doenças (KLUG et al., 2012 apud ZAVALHIA, 2018). 
6.1 DNA recombinante e a tecnologia 
A tecnologia do DNA recombinante é definida como um conjunto de técnicas 
moleculares que objetiva localizar, isolar, alterar e estudar segmentos de DNA. O termo 
recombinante é utilizado devido ao objetivo principal da tecnologia, que é combinar DNAs 
de origens diferentes. As moléculas de DNA recombinante assim geradas contêm 
combinações novas de sequências nucleotídicas que poderão ser introduzidas em uma 
nova célula hospedeira, na qual controlarão a síntese de um produto gênico que não é 
feito por essa célula ou modificarão a expressão de um gene ali já existente. Logo, a 
tecnologia do DNA recombinante é usualmente chamada de engenharia genética 
(BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013 apud ZAVALHIA, 2018). 
 
36 
 
A partir de 1970, foram desenvolvidas as tecnologias do DNA que têm auxiliado 
muito na percepção do genoma das células de eucariotos. Essas tecnologias permitem 
(BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013 apud ZAVALHIA, 2018): 
 conhecer a estrutura e a função dos genes dos eucariotos; 
 viabilizar a ocorrência de recombinação gênica entre diferentes espécies e 
o alcance de organismos com características novas, não encontradas na 
natureza; 
 viabilizar a transferência de genes de mamíferos para bactérias, tornando-
as capazes de produzir em abundância proteínas de importância médica e 
também econômica, como hormônios, vacinas, fatores de coagulação, 
insulina, etc.; 
 contribuir para a área das ciências forenses (análises de paternidade, 
identificação de suspeitos). 
Conforme mencionado, a tecnologia do DNA recombinante teve seu início em 
meados de 1970, quando os pesquisadores descobriram que as bactérias protegem-se 
de infecções virais por meio da produção de enzimas que cortam o DNA em sítios 
específicos; quando cortado, esse DNA não consegue comandar a síntese das partículas 
de fagos (que são vírus associados a procariotos, também denominados bacteriófagos). 
Instantaneamente, percebeu-se que essas enzimas, denominadas enzimas de restrição, 
poderiam ser extremamente úteis para cortar o DNA de qualquer organismo em 
sequências de nucleotídeos específicas, originando um agrupamento de fragmentos 
reproduzíveis. Esse feito estabeleceu a fase de desenvolvimento da clonagem do DNA, 
ou seja, a produção de múltiplas cópias das sequências de DNA (KLUG et al., 2012, p. 
08 apud ZAVALHIA, 2018). 
Após a constatação de que as enzimas de restrição geram fragmentos 
específicos de DNA, foram estabelecidos os métodos para inserir esses 
fragmentos em moléculas portadoras de DNA, utilizando vetores chamados de 
plasmídeos (que são pequenas moléculas circulares de DNA que se replicam 
separadamente) (KLUG et al., 2012, p. 08 apud ZAVALHIA, 2018). 
Para iniciar o processo de clonagem de um fragmento de DNA em plasmídeo, o 
DNA plasmideal purificado é linearizado por uma nuclease de restrição que o cliva em 
um único sítio; logo, o fragmento de DNA a ser clonado é, então, colocado nesse sítio, 
 
37 
 
utilizando DNA-ligase (ALBERTS et al., 2017 apud ZAVALHIA, 2018). Depois disso, essa 
molécula de DNA recombinante (uma molécula que contém DNA de duas fontes distintas, 
até mesmo de espécies diferentes) está apta para ser introduzida em uma bactéria. 
Então, o plasmídeo é introduzido na célula bacteriana, dando origem a uma bactéria 
recombinante. 
Por sua vez, essa célula isolada reproduz-se por meio de repetidas divisões 
celulares e gera um clone celular, uma população de células geneticamente iguais 
(REECE et al., 2015 apud ZAVALHIA, 2018). 
A maioria dos métodos de clonagem de segmentos de DNA laboratorial 
compartilha certas características gerais. Comumente, essa abordagem utiliza bactérias 
— com frequência, a Escherichia coli — que têm plasmídeos (REECE et al., 2015 apud 
ZAVALHIA, 2018). 
No processo de introduzir o DNA recombinante em uma célula bacteriana, os 
pesquisadores se beneficiam do fato de que algumas bactérias naturalmente captam 
moléculas de DNA que estão presentes no seu meio, e o mecanismo que controla essa 
captação é denominado transformação A tecnologia do DNA recombinante propicia 
novas e potentes ferramentas para alterar a constituição genética de organismos de 
relevância também na agricultura. Os cientistas identificam, isolam e clonam genes que 
conferem as características almejadas e, depois disso, de modo específico e eficiente, 
introduzem esses genes nos organismos. Com isso, é possível inserir rapidamente a 
resistência a herbicidas, insetos e até mesmo características nutricionais a esses 
organismos (KLUG et al., 2012, p. 638 apud ZAVALHIA, 2018). 
6.2 Organismos geneticamente modificados (OGMs) 
Organismo geneticamente modificado (OGM) é o termo usado para um organismo 
que adquiriu, por meios artificiais, um ou mais genes de outra espécie ou até mesmo de 
outra variedade da mesma espécie. 
Um OGM pode ser transgênico ou cisgênico: o transgênico é assim denominado 
devido à relação com a inserção de materialgenético em ser vivo de uma espécie distinta; 
o cisgênico, devido ao fato de um organismo vivo receber material genético de outro 
 
38 
 
organismo de mesma espécie (BATISTA, 2018 apud ZAVALHIA, 2018). Um exemplo são 
alguns salmões que foram modificados geneticamente pela adição de um hormônio de 
crescimento de salmão mais ativo (REECE et al., 2015). 
Essas alterações são possíveis devido a técnicas de engenharia que promovem 
a quebra da cadeia de DNA em locais estipulados para, posteriormente, inserir 
segmentos de genes de outros organismos, fazendo com que a sequência 
novamente se una (BATISTA, 2018, p. 202 apud ZAVALHIA, 2018). 
É notório o crescimento populacional, o que exige um maior aumento na produção 
no que se refere à agricultura. A introdução de OGMs em maiores escalas se deve ao 
fato de que a produção agrícola necessita atender à demanda crescente (BATISTA, 2018 
apud ZAVALHIA, 2018). 
Nesse sentido, a biotecnologia utiliza algumas abordagens principais para a 
melhoria de lavouras, como, por exemplo, adicionar a uma variedade em cultivo uma 
característica específica denominada “característica de primeira geração”, que inclui 
proteção contra seca, tolerância a herbicidas, além de proteção contra insetos. Outras 
abordagens tratam da melhoria qualitativa, como óleos vegetais com maiores níveis de 
ácidos graxos ômega-3. Com o uso da engenharia genética, foram desenvolvidas plantas 
que crescem com menos uso de pesticidas, variedades novas de batata que, sem 
conservantes, podem ser armazenadas por mais tempo. Além disso, a biotecnologia 
proporciona que os cientistas desenvolvam frutos e grãos com maior teor de alguns 
nutrientes, como betacaroteno, vitaminas E e C (WARDLAW; SMITH, 2013 apud 
ZAVALHIA, 2018). 
Assim, resumidamente, algumas razões para gerar culturas transgênicas, incluem 
(KLUG et al., 2012, p. 639 apud ZAVALHIA, 2018): 
 melhoramento em características como crescimento e produtividade de 
culturas de valor na agricultura; 
 complemento do valor nutricional das culturas; 
 resistência das culturas contra insetos, pragas, secas e herbicidas. 
Um quesito promissor dos alimentos geneticamente modificados possivelmente 
esteja na criação de vegetais especialmente ricos em alguns micronutrientes que 
proveem aos países em desenvolvimento uma estratégia para tratar e precaver carências 
 
39 
 
nutricionais específicas das populações. A biotecnologia provavelmente, visando o futuro, 
será uma estratégia benéfica para combater a subnutrição (WARDLAW; SMITH, 2013 
apud ZAVALHIA, 2018). 
6.3 Terapia gênica: princípios e aplicações 
Uma das grandes esperanças para o progresso geral na terapêutica de doenças 
genéticas é a terapia gênica, que tem como base a existência de métodos laboratoriais 
bem estabelecidos para introduzir genes nas células (READ; DONNAI, 2018 apud 
ZAVALHIA, 2018). 
A transferência de material genético novo para as células de um indivíduo, de 
modo que resulte em benefícios terapêuticos, está sob investigação clínica desde 1990, 
época em que French Anderson e Michael Blaese usaram essa tecnologia com o objetivo 
de aliviar a doença da imunodeficiência grave combinada. Na atualidade, já são 
conhecidas aproximadamente 4000 doenças genéticas, que são alvo em potencial para 
a terapia gênica. Inúmeros protocolos de transferência de genes estão, atualmente, em 
desenvolvimento para utilização (VOET; VOET, 2013 apud ZAVALHIA, 2018). 
A introdução de genes nas células é a base da terapia gênica. Para tal, existe a 
necessidade de um carreador que facilite a entrada do DNA nessas células vivas 
— esse carreador é denominado “vetor”. Três classes de vetores estão atualmente 
em desenvolvimento: plasmídeos, vetores virais e vetores nanoestruturados 
(LINDEN, 2010 apud ZAVALHIA, 2018). 
Existem três categorias de terapia gênica (VOET; VOET, 2013): 
1) Ex vivo (fora do corpo): as células são retiradas do corpo, incubadas com 
um vetor e, então, reintroduzidas no corpo. Esse procedimento, 
normalmente, é realizado com células da medula óssea. 
2) In situ: o vetor é aplicado sobre os tecidos afetados, de forma direta. Esse 
procedimento pode, por exemplo, ser útil para tratamento tumoral por 
injeção no tumor de um vetor que porte o gene que tenha capacidade de 
tornar esse tumor suscetível a um agente quimioterápico. 
3) In vivo: o vetor é injetado diretamente na corrente sanguínea. Essa 
modalidade ainda não foi experimentada clinicamente. 
 
40 
 
Aproximadamente dois terços de todos os protocolos clínicos aprovados de terapia 
gênica são voltados para o câncer e têm algumas funcionalidades (STRACHAN; READ, 
2014 apud ZAVALHIA, 2018): 
 recuperar a função de um gene supressor de tumor a partir da adição gênica 
(exemplo: TP53 ou BRCA1); 
 prevenir a expressão de um oncogene ativado a partir da inativação gênica 
(exemplo: ERBB2); 
 desencadear a apoptose a partir da manipulação genética de células 
tumorais; 
 modificar células tumorais visando torná-las mais antigênicas, permitindo 
que o sistema imune destrua o tumor; 
 modificar células dendríticas de modo que aumente a reação imunológica 
específica contra o tumor. 
Uma utilização da modificação genética tem envolvido a produção de proteínas 
terapêuticas. A expressão de clones em microrganismos, culturas celulares ou 
estoques transgênicos vivos (nos quais a proteína de interesse é expressa em 
ovos, leite) reduz os riscos à saúde associados à obtenção dessas proteínas de 
fontes humanas ou animais (STRACHAN; READ, 2014 apud ZAVALHIA, 2018). 
As terapias gênicas ainda se encontram em fase experimental, pois são 
procedimentos novos. Estudos nos laboratórios de pesquisa experimental, por meio de 
testes em modelos experimentais e ensaios pré-clínicos, analisam o potencial de eficácia 
de uma estratégia terapêutica e também possibilitam detectar potenciais riscos aos seres 
humanos. A principal barreira no desenvolvimento da terapia gênica para a prática 
médica é a segurança. 
Existem motivos que geram otimismo e expectativa de sucesso das tecnologias 
de terapia gênica, visto que, em futuro próximo, ela pode ser viável, considerando a 
esperança de investimento crescente vindo de empresas de biotecnologia (LINDEN, 
2010 apud ZAVALHIA, 2018). 
 
41 
 
7 TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA 
 
Fonte: justificando.com 
De acordo com Gomes (2019), as técnicas de reprodução assistida (ART, do 
inglês assisted reproductive technology) foram criadas, inicialmente, com o objetivo de 
auxiliar casais inférteis a estabelecer uma gestação saudável, porém, com o avanço das 
tecnologias associadas, surgiram também novas demandas, como a preservação da 
fertilidade e a produção independente, por exemplo. 
O tipo de tratamento utilizado é individualmente determinado de acordo com os 
objetivos e as condições clínicas de cada paciente. Cada técnica desenvolvida dentro do 
laboratório de fertilização in vitro (FIV) visa a garantir a melhor chance para que se 
obtenha o resultado esperado: seja um bebê saudável ou o armazenamento de gametas 
e/ou embriões (GOMES, 2019). 
As ARTs incluem diferentes tipos de tratamentos que podem ser desde um simples 
monitoramento da ovulação até a manipulação mais crítica de gametas e embriões. O 
tipo de técnica utilizada poderá variar de acordo com o objetivo final do paciente e o seu 
fator de infertilidade, se houver. Basicamente, a Medicina Reprodutiva busca investigar e 
superar possíveis dificuldades de concepção de um indivíduo. Cada técnica utilizada, 
 
42 
 
mesmo que para diferentes objetivos, seguirá sempre os conceitos fisiológicos de todo o 
processo, a fim de mimetizar ao máximo as condições naturais de gestação. Entre as 
inúmeras técnicas já desenvolvidas, destacam-se algumas principais: estímulo hormonal, 
aspiração folicular, capacitação seminal, FIV convencional, ICSI (injeção 
intracitoplasmática de espermatozoides) e transferência

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