Buscar

o Novo ja nasce velho

Prévia do material em texto

O NOVO JÁ NASCE VELHO: CONTRIBUIÇÕES À ANTROPOLOGIA JURÍDICA 
 
Kleiber Gomes Reis1 
 
Resumo: Fundamental para a compreensão da diversidade, a Antropologia cada vez mais tem assumido 
destacado espaço no mundo jurídico. Sendo assim, buscar-se-á demonstrar, neste trabalho, como a 
Antropologia Jurídica é uma categoria elementar para o saber/pensar o Direito. Trabalhar-se-á de forma 
sumária algumas questões que envolvem e perfazem o delicado elo de ligação entre o Direito e a 
Antropologia. Com isso, tentar-se-á instigar a descoberta e compreensão desse ramo jurídico fundamental. 
Sobretudo hoje, pois a Antropologia não se ocupa mais exclusivamente do “exótico”, “estranho” e 
“diferente”. 
 
Palavras-chave: Antropologia; Antropologia Jurídica; Formação do Estado moderno; Pluralismo Jurídico. 
 
Abstract: Fundamental as it is for an understanding of diversity, Anthropology has steadily assumed a more 
marked presence in the legal world. This being so, we seek to demonstrate in the current work how Legal 
Anthropology is a fundamental category for understanding and thinking about the Law. The paper makes a 
brief examination of a series of questions which both surround and make up the delicate link between the 
Law and Anthropology. In this way we attempt to instigate both the discovery and understanding of this 
fundamental branch of the law. This is especially relevant today because Anthropology is no longer 
exclusively occupied with the “exotic”, the “strange” and the “different”. 
 
Keywords: Antnropology. Legal Antnropology. Formation of the Modern State; Legal Pluralism. 
 
Sumário: 1. Introdução – 2. Antropologia: breve histórico – 3. A Antropologia Jurídica – 3.1. A união 
homoafetiva – 3.2. Antropologia, Direito e os Povos ameríndios – 4. A influência jurídico-antropológica nas 
Constituições da América Latina – 5. O território – 6. O Pluralismo Jurídico – 7. Conclusão – 8. Referências 
Bibliográficas. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O despertar para a diversidade e a alteridade e o reconhecimento jurídico do pensamento antropológico 
proporcionam ao Direito a percepção da imensa amplitude e riqueza que o torna tão especial. 
 
Nesse pensamento, enfim, procurar-se-á demonstrar a importância da reflexão jurídico-antropológica. 
Abordar-se-á, de modo sumário, a Antropologia para, então, iniciar-se na compreensão dessas reflexões 
por sobre o jurídico. 
 
As questões sobre gênero, índio, quilombolas, comunidades tradicionais e território, servirão de base para 
fundamentar a importância de um diálogo idiossincrático, o respeito e reconhecimento da diferença. 
 
Sendo assim, buscar-se-á demonstrar como o Estado brasileiro, em sua formação, propiciou uma cultura 
jurídica monolítica e excludente pouco comprometida com a diversidade cultural e jurídica de nosso país. 
Todavia, será posta em evidência uma série de transformações jurídicas, de maneira exemplificativa, como 
forma de demonstrar a importância da reflexão antropológica e as suas possíveis consequências na vida 
cotidiana, sobretudo, em se tratando da aplicabilidade e eficácia do Direito. 
 
Este trabalho tem, sobretudo, o intento de ser um instrumento no auxílio da compreensão básica da 
Antropologia Jurídica, demonstrando como o Direito acaba, inevitavelmente, por transbordar para além do 
jurídico estatal, a despeito de sua pretensa primazia. 
 
Com isso, será parte desse trabalho mostrar que o Pluralismo Jurídico merece destaque na compreensão 
(contemporânea) desse ramo do Direito, principalmente em se tratando de Brasil e América Latina e, por 
isso, pela sua extensão territorial, por suas raízes históricas, sua diversidade e riqueza cultural e por suas 
manifestações cotidianas em busca da concretização e defesa de “velhos” e “novos” direitos. 
 
1 Graduado em Direito pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Especialista em Direito Público pela 
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e Mestre em Direito, Estado e Sociedade pela Universidade 
Federal de Santa Catarina (UFSC). 
2 ANTROPOLOGIA: BREVE HISTÓRICO 
 
Antes de qualquer abordagem acerca do tema da Antropologia Jurídica, por óbvio, faz-se mister a 
compreensão, por mais limitada que seja, do que vem a ser a Antropologia. 
 
Sendo assim, inicialmente, torna-se importante compreender a etimologia desta palavra. O termo 
Antropologia tem origem na fusão dos vocábulos gregos anthropos [homem] e logía [estudo], significando, 
assim, o estudo do homem. 
 
No que tange à origem dessa ciência cumpre destacar seu surgimento na Modernidade.[1] Com isso, Thais 
Colaço, a partir das lições de J. Copans, destaca que a Antropologia origina-se na etnografia e na 
etnologia.[2] Ainda, observa a jurista catarinense: 
 
“Entre os séculos XVII e XVIII têm início os primeiros contornos empíricos de uma análise sistemática das 
sociedades não-européias mediante relatos dos viajantes e dos missionários”.[3] 
 
Contudo, somente no século XIX a etnografia e a etnologia “se enquadram como complementares”.[4] 
 
Nesse processo de compreensão da Antropologia um outro elemento tem grande importância: a cultura. 
Esse termo tem suas origens no século XIX com Edward Tylor a partir da síntese de dois conceitos, um de 
origem francesa (Civilization) e outro de origem germânica (Kultur), o que resultou no vocábulo 
inglês Culture.[5] 
 
Grosso modo, pode-se definir Antropologia como “o estudo do homem como ser biológico, social e 
cultural.”[6] Ainda, como “la ciencia de la alteridad sociocultural”[7]. Vale destacar que, segundo Esteban 
Krotz, “la alteridad es su categoría fundamental”.[8] 
 
Entretanto, apesar da diversidade de conceituações do que vem a ser Antropologia, é possível entendê-la 
como “a resposta para conhecermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo ‘outro’.”[9] 
 
Interessante observar que o processo histórico que produz e elabora aquilo que mais tarde viria ser a 
Antropologia como ciência tem suas origens com as grandes navegações. É a partir da descoberta do novo 
mundo e da exploração das grandes rotas de navegação (o prenúncio da Globalização) que se dá a 
descoberta e o estudo do “outro”, do “diferente”, do nativo, do não-europeu. 
 
Todavia, a “Antropologia se constitui como disciplina científica nos quadros do pensamento social europeu 
do século XIX, em torno, dentre outras, das problemáticas obrigatórias do ‘progresso’ e da ‘evolução 
social’.”[10] Esse processo se dá, pois, sob forte influência da matriz epistemológica positivista e das teorias 
evolucionistas. Além disso, vale notar que, inicialmente, a coleta de dados e o contato com o 
“primitivo”/“exótico” ocorre não por via do pesquisador, mas – como já salientado – através dos relatos 
realizados por “missionários, militares, viajantes, administradores coloniais, etc.”[11] 
 
Sendo assim, podemos afirmar que “nas raízes do saber antropológico, está a dominação política dessas 
sociedades, que é preciso melhor conhecer para melhor controlar.”[12] 
 
Com isso, no desenvolvimento histórico da Antropologia, confere-se grande destaque ao norte-americano 
Henry Lewis Morgan. Este fora o “primeiro antropólogo a elaborar um modelo de desenvolvimento da 
humanidade”.[13] Mas era um trabalho estéril, sem o contato direto com as sociedades estudadas, 
impregnado por uma visão evolutiva linear. 
 
Somente no século seguinte, porém, haveria uma junção dos trabalhos de campo com a interpretação de 
seus resultados. Assim explica Thais Colaço, conforme as lições de Robert Shirley: 
 
“A partir dessa nova postura dos antropólogos, a Antropologia, como ciência moderna, disciplina 
universitária e profissão, surgiu no começo do século XX, sendo seus precursores o judeu-alemão 
naturalizado norte-americano Franz Boas, com formação em Física, e o polonês expatriado, acolhido na 
Inglaterra, Bronislaw Malinowski com formação em Matemática”.[14] 
 
O grande mérito de Franz Boas foi contestar o evolucionismo e fundar a escola difusionista, muitos o 
consideram o fundador da Antropologia contemporânea. Já Malinowski corroboraessa contestação 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn1
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn2
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn3
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn4
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn5
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn6
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn7
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn8
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn9
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn10
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn11
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn12
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn13
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn14
combatendo o evolucionismo, de uma vez por todas, através da corrente funcionalista sistemática. Além 
disso, foi o primeiro a realizar o trabalho de campo através da observação participante, ou seja, tendo 
contato direto com o seu “objeto” de estudo.[15] “A partir dele a Antropologia se torna a ciência da 
alteridade, dedicando-se ao estudo das lógicas próprias de cada cultura.”[16] 
 
Cabe salientar, ainda, que a Antropologia contemporânea tem sofrido um alargamento de seu objeto. Para 
além do estudo do exótico, “o objeto da pesquisa da Antropologia não está mais nas sociedades distantes, 
intocáveis, ‘primitivas’ e sim dentro das nossas sociedades”.[17] 
 
Essa transformação, pois, torna possível a transposição de elementos como primitivo, exótico, distante, 
diferente, aborígine e permite a análise de temas muito mais familiarizados ao modo ocidental como o 
mundo urbano, os conflitos sociais, a cultura do consumo, a alienação, o subúrbio/periferia, as favelas etc. 
 
Carlos Vladimir Zambrano, assim, explica: 
 
“La antropología consolidó paulatinamente desde sus orígines una preocupación por lo distinto, que la 
condujo a demonstrar y a poner en evidencia que la realidad es diversa. Luego, a partir de su constatación, 
se empeñó en promover y construir una concepción de mundo pluralista. Tal obsesión la paseó por caminos 
tan distintos como el evolucionismo, funcionalismo, relativismo cultural, particularismo histórico y el 
neoevolucionismo.”[18] 
 
 Cabe destacar, assim, sobretudo atualmente, a emergência de estudos e pesquisas em países ditos 
“periféricos”. Contudo, não há como negar a predominância, por um longo período, das teorias europeias. 
Daí a interessante observação feita por Roberto Kant de Lima, para quem “a Antropologia evidentemente 
não conseguiu produzir nenhum estudo etnográfico de peso sobre a própria Europa ou os Estados 
Unidos.”[19] 
 
Nesse processo também se instala a Antropologia Jurídica, esta se ocupa, primeiramente, em compreender 
o Direito “primitivo”, as instituições jurídicas das sociedades ágrafas. E posteriormente, o Direito 
comparado, os sistemas de Justiça contemporâneos. 
 
Na verdade, a Antropologia – em suas origens –, segundo Esteban Krotz, tem fortes laços com o Direito. 
Isso se deu em razão dos médicos e dos juristas comporem os grupos profissionais mais numerosos, assim, 
é justamente destes setores que se originam os primeiros especialistas em Antropologia. Destaca-se, por 
exemplo, o inglês Henry James Sumner Maine. Mas também vale citar outros jurista que se converteram 
em antropólogos: John Ferguson McLennan, Lewis Henry Morgan (já citado anteriormente) e Johann Jakob 
Bachofen.[20] 
 
Todavia, a aproximação entre essas duas ciências (o Direito e a Antropologia) se dissipa quando essa 
última se transforma em disciplina científica autônoma com categorias, subdivisões, características e 
princípios próprios.[21] 
 
Passemos, agora, a uma rápida análise do que seja Antropologia Jurídica e, assim, à compreensão de sua 
incomensurável importância para o Direito, sobretudo, aos estudantes e aos seus operadores, no que tange 
aos desafios de nossa realidade cotidiana. Especialmente se levarmos em consideração a emergência dos 
diversos discursos insurgentes de uma grande gama de autores de países periféricos e que, por isso, 
trazem um outro significado para o “outro”. 
 
3 A ANTROPOLOGIA JURÍDICA 
 
Ramo das Ciências Sociais da mais alta relevância para o Direito, a Antropologia ainda configura-se como 
campo do conhecimento incógnito da grande maioria dos operadores do Direito estatal oficial.[22] 
 
Tal constatação mostra sua importância ainda mais acentuada quando observamos 
 
a realidade latino-americana, sobretudo, em face do nosso processo histórico de colonização e de formação 
dos Estados-nação. 
 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn15
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn16
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn17
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn18
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn19
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn20
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn21
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn22
Inicialmente, pode-se conceituar a Antropologia Jurídica como o “estudo do Direito das sociedades 
‘simples’, das instituições do Direito da sociedade contemporânea, do Direito comparado e do pluralismo 
jurídico.”[23] 
 
A Antropologia Jurídica surge no final do século XIX, especialmente após o início da colonização da África 
e da Ásia pelos europeus.[24] Assim, à semelhança da Antropologia, tem forte influência evolucionista e 
reducionista, concebendo as sociedades analisadas a partir do prisma da linearidade temporal[25], do 
progresso, da evolução, do desenvolvimento. 
 
Importante destacar que Henry James Sumner Maine fora “o primeiro europeu a dedicar-se ao estudo do 
Direito dos estrangeiros.”[26] Todavia, com “Malinowski a Antropologia Jurídica começa a tomar outros 
rumos. Em 1926 publicou ‘Crime e Costume na Sociedade Selvagem’.”[27] 
 
Passada essa breve nota introdutória acerca do viés histórico das reflexões antropológicas sobre o Direito, 
torna-se importante destacar como a Antropologia Jurídica no Brasil tem avançado, quais são as 
preocupações atuais, quais são os temas mais recorrentes. 
 
A concepção antropológica acerca do Direito, atualmente, tem ultrapassado, como já observado em relação 
à Antropologia, a mera análise e interpretação do Direito “primitivo” ou das instituições jurídicas das 
sociedades ‘simples’. 
 
Cada vez mais o espectro de abrangência desse ramo do conhecimento tem se alargado. Uma ampla 
variedade temática tem constituído essa faceta contemporânea da Antropologia Jurídica.Cumpre anotar que esse alargamento conceitual e pragmático tem se ocupado sobremaneira dos 
fenômenos cotidianos da vida urbana e rural, sobretudo, periférica. 
 
A consciência antropológica, no saber/pensar o Direito, implica uma série de problematizações, além do 
refinamento da abordagem de uma infinidade de questões que concernem à existência humana coletiva, 
por todo o planeta terra, do nível local ao mais abrangente. 
 
A discussão jurídico-antropológica hoje traz como consequência um cenário acadêmico rico em discussões 
e debates acerca de temas contemporâneos, em grande parte, produto da evidenciação de processos e 
manifestações de luta e concretização de direitos “velhos” e “novos” nos vários processos comunitários e 
tensões sociais no interior das sociedades do capitalismo periférico dependente. 
 
Sem a intenção de catalogar ou mesmo esmiuçar o conteúdo dessa variedade imensa de processos e 
manifestações, pode-se destacar: o interculturalismo, o transculturalismo, as “novas” formas de 
manifestação da Cidadania, a diversidade, a alteridade, o multiculturalismo, as manifestações insurgentes 
de cunho libertário, o pluralismo jurídico de novo tipo, a construção crítica dos Direitos Humanos. 
 
Essa discussão, no Brasil, particularmente, tem implicações práticas e teóricas de modo muito diversificado 
e, por isso, mais complexo do que na maioria dos países latino-americanos e periféricos. 
 
A extensão territorial de nosso país e o processo de criação e legitimação desse território tem forte e 
determinante influência na multiplicidade e riqueza de povos e culturas, biodiversidades e climas, mas 
também nos conflitos e manifestações insurgentes[28]. 
 
Quanto à nossa extensão territorial, interessante evidenciar as observações de Darcy Ribeiro, para quem: 
 
“Esse é, sem dúvida, o único mérito indiscutível das velhas classes dirigentes brasileiras. Comparando o 
bloco unitário resultante da América portuguesa com o mosaico de quadros nacionais diversos a que deu 
lugar a América hispânica, pode se avaliar a extraordinária importância desse feito.”[29] 
 
Todavia, logo em seguida, conclui, o antropólogo mineiro, explicando que: 
 
“Essa unidade resultou de um processo continuado e violento de unificação política, logrado mediante um 
esforço deliberado de supressão de toda identidade étnica discrepante e de repressão e opressão de toda 
tendência virtualmente separatista.”[30] 
 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn23
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn24
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn25
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn26
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn27
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn28
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn29
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn30
O processo histórico colonial, político, econômico, jurídico, cultural – em razão da forma como se deu a 
construção do Estado-nação – pode nos auxiliar na compreensão de nossa sociedade, das diferenças 
regionais[31] (não apenas do ponto de vista econômico e tecnológico[32], mas, mormente, cultural), no 
baixo grau de participação popular na vida política do Estado (local, regional e nacional) e da comunidade, 
na análise e crítica das formas de preconceito étnico, religioso, social, de gênero, de condição física. 
 
Sem aprofundar-se muito nesse aspecto, importante salientar que o processo que culminou na 
consolidação dos Estados-nação latino-americanos fora um processo impositivo de incorporação de formas 
políticas, jurídicas, sociais e culturais descontextualizadas, a importação de um modo de pensar ocidental, 
europeu, burguês-liberal. 
 
A própria origem histórica do Estado tem essa característica, tendo em vista a necessidade de centralização 
política e delimitação territorial. Assim são as observações de Antônio José Guimarães Brito: 
 
“Quando do surgimento do Estado Nacional e, por ocasião da definição dos limites territoriais e políticos de 
poder, existiam, e continuam existindo, muitos grupos étnicos diferenciados, que acabaram historicamente 
sendo subjugados e admitidos no contexto em condições marginais.”[33] 
 
Nesse sentido, são de grande valia, também, as lições de Burdeau quando explica que: 
 
“Em todos os países antigos, é a nação que fez o Estado; ele formou-se lentamente nos espíritos e as 
instituições foram unificadas pelo sentido nacional. No Estado novo, tal como surge no continente africano, 
é o Estado que deve fazer a nação. Só que, como o Estado só pode nascer de um esforço nacional, o 
drama político se fecha num círculo vicioso”.[34] 
 
Além disso, a independência política desses países não significou a extinção da dominação intelectual, 
econômico-financeira, cultural, social e jurídica[35], o que permitiu a emergência dos chamados países do 
capitalismo periférico dependente[36]. 
 
O processo de independência do Brasil, por exemplo, se deu a partir da negociação entre a elite brasileira, 
a coroa portuguesa e a Inglaterra.[37] Sendo assim, pode-se concluir pela ausência da maior parte das 
camadas mais populares de nossa sociedade na formação e consolidação do Estado e, com isso, no plano 
da Cidadania – sendo esta intimamente ligada ao Estado (enquanto lealdade) e a nação (enquanto 
identidade)[38] – pode-se concluir como principal característica sua negação. O que nos leva a subentender 
como se deu o processo de criação e aplicação de um ordenamento jurídico completamente desapartado 
das múltiplas formas de manifestações sociais existentes no interior desse corpo social diversificado. 
 
Com isso, destacam-se algumas questões que têm suscitado importantes discussões no âmbito da 
Antropologia Jurídica no Brasil. Mais do que a sua enumeração, busca-se evidenciar a importância do 
pensamento antropológico e sua influência sobre o Direito. Sendo assim, destaca-se de forma sumária, 
aqui neste trabalho, a questão de gênero que traz à tona a discussão da união de pessoas do mesmo sexo, 
a legislação indígena, o território (indígena, quilombola e das comunidades tradicionais) e o pluralismo 
jurídico. 
 
3.1 A UNIÃO HOMOAFETIVA 
 
A discussão política e jurídica atual[39] – o Estatuto das famílias – que trata, dentre muitos temas 
contemporâneos e importantes para a sociedade brasileira, do reconhecimento jurídico da União 
Homoafetiva, face às transformações do que se compreende tradicionalmente como família, demonstra 
bem como a cultura brasileira (e mundial) vem transformando a concepção anacrônica da família nuclear. 
Ou seja, põe em evidência como as transformações culturais têm fundamental importância para o Direito. 
Na verdade, não se trata de algo novo, os exemplos na história da humanidade não são pouco. O que se 
verifica é a insurgência e a defesa jurídicas de condições verificáveis, há muito tempo, no plano da 
faticidade. 
 
Nesse aspecto, em especial, a Antropologia tem um campo de análise rico, principalmente se observarmos 
a história do Código Civil brasileiro. Até bem pouco, nossa legislação, em matéria de Direito Civil, era regida 
pelo Código Civil de 1916, com forte traço patrimonialista, essa lei fora revogada, posteriormente, pelo novo 
Código de 2002. Essa última lei, por seu turno, trouxe uma série de mudanças já exigidas e desejadas pela 
sociedade. Como exemplo, podemos citar o reconhecimento de direitos, no âmbito do Direito de Família e 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn31https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn32
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn33
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn34
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn35
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn36
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn37
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn38
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn39
das Sucessões, aos filhos havidos fora do casamento[40], a retirada de termos preconceituosos como pátrio 
poder e concubina[41] etc. Agora uma nova mudança, em matéria de Direito de Civil, tem grande 
possibilidade de ocorrer.[42] Esses são apenas alguns exemplos ilustrativos da amplitude da Antropologia 
Jurídica. 
 
Contudo, não há como não observar que as reflexões antropológicas sobre o Direito, em nosso país, ainda 
são muito limitadas, além de recentes, face à importância do tema. 
 
3.2 ANTROPOLOGIA, DIREITO E OS POVOS AMERÍNDIOS[43] 
 
Um dos temas mais recorrentes na área da Antropologia Jurídica diz respeito às questões indígenas. Sem 
a intenção de se aprofundar por demais nesse aspecto, cumpre destacar alguns traços que imprimem 
grande valor e riqueza à questão do índio. 
 
Thais Colaço, nesse sentido, realiza uma interessante análise histórica acerca das transformações dos 
direitos indígenas em nosso ordenamento jurídico. Inicialmente, explica que desde o processo de 
colonização, na América, “não havia nenhuma preocupação em garantir os direitos das populações 
autóctones, mas sim em normatizar e regularizar as relações de exploração do colonizador em relação aos 
colonizados.”[44] 
 
Primeiramente, quanto à legislação, destaca-se o Alvará de 14 de abril de 1755, que buscava igualar os 
direitos dos colonos e dos índios em relação ao trabalho, facilitava o casamento inter-racial e tornava a 
língua portuguesa a língua oficial da colônia, proibindo, assim, o uso das línguas nativas.[45] 
 
Posteriormente, cumpre observar que a Lei de 27 de outubro de 1831 atribuía a competência aos Juízes 
de Paz no que concerne à liberdade dos índios e aos Juízes de Órfãos quanto às questões trabalhistas.[46] 
 
Já em 1833, uni-se “as duas tutelas, a individual – ligadas às questões da liberdade e do trabalho – e a 
coletiva – ligada às questões da terra indígena.”[47] 
 
Aliás, vale observar que “no decurso do século XIX os interesses se voltam para as terras indígenas em 
vez da exploração de mão-de-obra.”[48] 
 
A legislação sobre o índio era escassa e geralmente preconceituosa, a Carta Régia de 1808 legitimava a 
violência e a escravidão indígena.[49] Colaço destaca, ainda, que, “em 1845, a única norma indigenista 
geral do governo imperial era o Regulamento das Missões”.[50] Posteriormente, a Lei de Terras de 
1850[51] agravou esse situação expropriando os índios de suas terras, já que não reconhecia a 
posse.[52] O Código Civil de 1916, os classificava entre os incapazes.[53] 
 
Pode-se lembrar, ainda, a criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores 
Nacionais (SPI-LTN), em 1910: 
 
“Por meio do SPI conteve-se a repressão e o extermínio, alguns territórios foram reservados e muitas 
populações foram contatadas. No entanto, com o tempo, a instituição foi-se burocratizando, a ponto de não 
sabermos mais o que fazer com os indígenas contatados e ainda havendo denúncias de seus funcionários 
estarem envolvidos com a dilapidação do patrimônio e o extermínio indígena.”[54] 
 
Com isso, diante de tais constatações cria-se, em 1967, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), 
substituindo o antigo SPI.[55] 
 
No que tange às questões constitucionais, Thais Colaço destaca que a Constituição de 1824 “sequer 
mencionava a existência de índios no Brasil.”[56] 
 
Somente com a Constituição de 1934 os índios alcançam reconhecimento no plano constitucional, “sendo 
estabelecida a competência da União para legislar sobre a integração do índio à comunidade nacional. 
Também ficou garantida a posse da terra onde os ‘silvícolas’ se achassem localizados e proibiu-se a sua 
alienação.”[57] 
 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn40
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn41
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn42
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn43
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn44
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn45
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn46
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn47
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn48
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn49
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn50
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn51
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn52
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn53
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn54
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn55
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn56
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn57
Ainda, a Constituição de 1937 suprimiu o item relativo à integração indígena. A Constituição de 1946, por 
sua vez, aborda a questão da posse da terra e atribui à União a competência legislativa sobre a inserção 
dos índios na comunidade nacional.[58] 
 
A Carta Constitucional de 1967 passa a permitir “o direito ao usufruto dos recursos naturais das terras 
indígenas e todas as suas utilidades.”[59] E o Ato Institucional n. 1, traz mudanças quanto a matéria em 
seus artigos: 4º., IV; 8º., XVIII, o; 198, §§ 1º. e 2º. A autora destaca, ainda, o Estatuto do Índio (Lei n. 
6.001/1973).[60] 
 
Contudo, a grande mudança deu-se com a Constituição da República de 1988. “Pela primeira vez uma 
constituição estabelece novos elementos jurídicos para fundamentar as relações entre os índios e os não-
índios e garantir a manutenção de seus direitos diante da sociedade nacional.”[61] 
 
O fato é que o Direito estatal que aqui se estabelece, desde suas origens, renega ao esquecimento e à 
ausência, uma série de práticas jurídicas e um amplo espectro de normatividades próprias dos povos 
indígenas e africanos. Esses últimos, como é sabido e como o próprio nome diz, fora um povo aqui 
implantado e que, também, é rico em expressõesculturais – inclusive jurídicas – próprias e plurais. Tanto 
que influência a cultura nacional desde sua chegada com suas línguas, costumes, culinária etc.[62] 
 
4 A INFLUÊNCIA JURÍDICO-ANTROPOLÓGICA NAS CONSTITUIÇÕES DA AMÉRICA LATINA 
 
Nos últimos anos, em alguns países latino-americanos, esse quadro jurídico-histórico acima descrito, tem 
sofrido significativas transformações. De modo explicativo e didático, procura-se, nesse momento, 
demonstrar como essas mudanças têm operado no Direito estatal, enquanto ordenamento jurídico. 
 
Sendo assim, neste comenos, utilizam-se as constituições do Brasil, México, Bolívia, Equador, Colômbia e 
Paraguai, de forma simples, para a demonstração desse reconhecimento da diversidade, diferença e 
pluralismo, no plano constitucional, em países latino-americanos. 
 
Com isso, sob o aspecto histórico, não há como não observar que esses países vieram de períodos 
recentes de ditadura, assim como também trazem em suas raízes um longo período de dominação, 
sobretudo, econômica e cultural, por parte dos países centrais. 
 
O Brasil é um exemplo histórico disso. Pode-se citar a influência da Inglaterra nos interesses internos, 
desde o período colonial, interferindo diretamente no processo de declaração da independência, no fim da 
escravidão ou, ainda, a influência estadunidense desde o século passado, por exemplo, quando passa a 
controlar a região tentando afastar a Inglaterra e a França, utilizando o Brasil como “área de experimentação 
para métodos modernos de desenvolvimento industrial.”[63] Ainda, nesse mesmo contexto, podemos citar 
o período de ditadura militar brasileira, período influenciado por questões internas, mas também externas. 
Pois contou “com apoio e envolvimento constante dos Estados Unidos.”[64] 
 
Por essa razão, são constituições recentes, produto de tensões sociais, luta e afirmação de direitos 
resultantes na ruptura política e jurídica com a ordem imediatamente anterior. Mas que, também, e não 
menos importante, influenciada por tratados e convenções internacionais. 
 
Sendo assim, inicialmente, cita-se a nossa Carta Fundamental, a Constituição da República Federativa do 
Brasil de 1988 que em seus artigos 215 e 216 trata especificamente da questão da Cultura, esse tópico 
será melhor abordado logo abaixo. 
 
O México, em sua Constitución Política de los Estados Unidos Mexicanos (1917), reconhece que a nação 
mexicana tem uma composição pluricultural: 
 
“Artículo 2. La Nación Mexicana es única e indivisible. 
 
La Nación tiene una composición pluricultural sustentada originalmente en sus pueblos indígenas que son 
aquellos que descienden de poblaciones que habitaban en el territorio actual del país al iniciarse la 
colonización y que conservan sus propias instituciones sociales, económicas, culturales y políticas, o parte 
de ellas. 
 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn58
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn59
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn60
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn61
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn62
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn63
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn64
La conciencia de su identidad indígena deberá ser criterio fundamental para determinar a quiénes se aplican 
las disposiciones sobre pueblos indígenas. […].”[65] 
 
Por sua vez, a Bolívia em sua Nueva Constitución Política del Estado (2008), em posição de vanguarda, 
reconhece como forma de Estado o Estado Unitário Social de Direito Plurinacional Comunitário, como se 
depreende de seu artigo primeiro: 
 
“Artículo 1. Bolivia se constituye en un Estado Unitario Social de Derecho Plurinacional Comunitario, libre, 
independiente, soberano, democrático, intercultural, descentralizado y con autonomías. Bolivia se funda en 
la pluralidad y el pluralismo político, económico, jurídico, cultural y lingüístico, dentro del proceso integrador 
del país.”[66] 
 
O Equador em seu estatuto fundamental, a Constitución de la República del Ecuador (2008), cinge-se 
também de normas constitucionais muito avançadas e adota a forma de Estado constitucional intercultural 
e plurinacional, além de um governo descentralizado. 
 
“Art. 1. El Ecuador es un Estado constitucional de derechos y justicia, social, democrático, soberano, 
independiente, unitario, intercultural, plurinacional y laico. Se organiza en forma de república y se gobierna 
de manera descentralizada.”[67] 
 
A Colômbia, em sua Constitución Política de Colombia (1991), proclama o Estado Social de Direito, 
descentralizado e plural. Ainda, em seus artigos sétimo e oitavo, estabelece norma protetiva da diversidade 
étnica, cultural e natural, sendo dever não somente do Estado, mas também de toda a sociedade tal 
proteção. 
 
“Articulo 1. Colombia es un Estado social de derecho, organizado en forma de República unitaria, 
descentralizada, con autonomía de sus entidades territoriales, democrática, participativa y pluralista, 
fundada en el respeto de la dignidad humana, en el trabajo y la solidaridad de las personas que la integran 
y en la prevalencia del interés general. 
 
Articulo 7. El Estado reconoce y protege la diversidad étnica y cultural de la Nación colombiana. 
 
Articulo 8. Es obligación del Estado y de las personas proteger las riquezas culturales y naturales de la 
Nación.”[68] 
 
Ainda, o Paraguai, em sua Constitución de la República de Paraguay (1992), também afirma o Estado 
descentralizado e pluralista. Como se observa em seu artigo primeiro. 
 
“Artículo 1 – De la forma del Estado y de gobierno 
 
La República del Paraguay es para siempre libre e independiente. Se constituye em Estado social de 
derecho, unitario, indivisible, y descentralizado en la forma que se establecen esta Constitución y las leyes. 
 
La República del Paraguay adopta para su gobierno la democracia representativa, participativa y pluralista, 
fundada en el reconocimiento de la dignidad humana.”[69] 
 
5 O TERRITÓRIO 
 
Outro tema de fundamental importância, no que concerne ao Direito e à Antropologia, é a questão territorial. 
Como se pôde observar, na breve explanação acerca da história da legislação indígena no Brasil, a questão 
territorial sempre fora objeto de interesse das classes dominantes nacionais. 
 
Atualmente, a questão voltou a ganhar notoriedade, no plano nacional, com a discussão no Supremo 
Tribunal Federal (STF) acerca da demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol, no estado de 
Roraima. 
 
O território possui uma multiplicidade de significações e a relação que os povos nativos do Brasil[70], os 
quilombolas e as comunidades tradicionais têm com a terra e o meio ambiente detém uma riqueza 
incomensurável. Aliás, importante notar que, no plano jurídico, a “Constituição adotou uma concepção 
unitária de meio ambiente que compreende tanto os bens naturais quanto os bens 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn65
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn66
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn67
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn68
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn69
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn70culturais.”[71] Interessante, por isso, observar que para José Afonso da Siva: “O meio ambiente é, assim, 
a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento 
equilibrado da vida em todas as suas formas.”[72] 
 
Nesse sentido, pode-se afirmar que a Constituição da República de 1988: 
 
“claramente segue o paradigma do multiculturalismo, ao reconhecer direitos territoriais e culturais aos povos 
indígenas, quilombolas e a outras populações tradicionais e ao romper com o modelo assimilacionista e 
homogeneizador. Ganharam força as noções constitucionais de titularidade coletiva de direitos, de uso e 
posse compartilhados de recursos naturais e territórios e de respeito às diferenças culturais”.[73] 
 
Para os índios, por exemplo, a relação com a terra é determinante para os hábitos alimentares, litúrgicos, 
as plantas, as trilhas, a roça, a caça e a pesca.[74] 
 
Sendo assim, cumpre observar que: 
 
“Para as sociedades indígenas a terra é muito mais do que simples meio de subsistência. Ela representa o 
suporte da vida social e está diretamente ligada ao sistema de crenças e conhecimento. Não é apenas um 
recurso natural mas – e tão importante quanto este – um recurso sociocultural.”[75] 
 
Nesse sentido, as terras indígenas têm característica essencialmente comunal, coletiva. A propriedade 
privada, individual não faz parte da realidade dos povos nativos do Brasil. Inclusive os limites territoriais 
não são muito bem definidos. “Considerações de limites territoriais não são estranhas às tradições das 
sociedades indígenas. O que é estranho é o sentido de exclusividade e de policiamento de um dado 
território.”[76] De acordo com Alcida Rita Ramos, tal sentido vem sendo imposto em razão da espoliação 
dessas terras em razão de interesses nacionais e alienígenas.[77] 
 
Essa ausência de rigidez nos limites territoriais possibilita que diversas comunidades indígenas convivam 
no mesmo espaço territorial, numa espécie de “consenso partilhado”.[78] Adiante, a autora, com base em 
Darcy Ribeiro, explica, por exemplo, que para os Urubu-Kaapór (grupo Tupí do Maranhão) essa “divisão 
natural do território tribal foi possibilitada pela sua extensão”.[79] 
 
A própria relação espacial entre os índios e o terra possui proporções e significados distintos das 
populações urbanas brasileiras, pois 
 
“[…] uma comunidade indígena necessita de uma área utilizável bem maior do que a que circunda a aldeia 
e as roças. Para uma população relativamente pequena como é, por exemplo, a Yanomami (aliás uma das 
maiores populações indígenas que ainda vivem suas tradições praticamente inalteradas pelo contato), com 
cerca de vinte mil pessoas vivendo no Brasil e na Venezuela, a quantidade de terra necessária foi 
cuidadosamente calculada em, aproximadamente, 750 hectares por habitante, o que é bem mais do que 
os 100 hectares por família distribuídos pelo Incra a colonos na Amazônia.”[80] 
 
Como se pôde observar no início desta seção, outro elemento importante, no que diz respeito à questão do 
território, concerne aos direitos territoriais dos povos quilombolas. 
 
Cabe salientar, preliminarmente, que – juntamente com os povos indígenas – os quilombolas possuem 
um status jurídico especial em matéria de direitos territoriais, se comparados às populações 
tradicionais.[81] 
 
A história dos negros, no Brasil, tem importante significado para as concepções jurídicas em nosso 
ordenamento jurídico, acerca dos direitos[82], sobretudo territoriais, destes povos oriundos da África[83]. 
 
Mais recentemente, por exemplo, dispensou-se atenção à questão territorial que envolve a Ministérios da 
Defesa, e também da Ciência e Tecnologia e a Agência Espacial Brasileira (AEB) de um lado, e as 
comunidades quilombolas da Ilha de Alcântara (Maranhão) de outro, acerca do Centro de Lançamento de 
Alcântara (CLA). 
 
Mas pode-se citar, ainda, pela importância: Marambaia (Rio de Janeiro), Matacavalos (Mato Grosso) e 
Invernada dos Negros (Santa Catarina). 
 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn71
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn72
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn73
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn74
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn75
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn76
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn77
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn78
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn79
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn80
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn81
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn82
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn83
Quanto ao território podemos destacar, como reflexo da importância das discussões antropológicas no 
Direito sobre esse tema, o art. 68 do ADCT, o Decreto n. 4.887/2003[84] e a Instrução normativa n. 20, de 
19 de setembro de 2005, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)[85], que em seu 
artigo 1º. tem como objetivo estabelecer procedimentos do processo administrativo para identificação, 
reconhecimento, delimitação, demarcação, desintrusão, titulação e registro das terras ocupadas pelos 
remanescentes de comunidades dos quilombos. 
 
No que toca às populações tradicionais, deve-se notar que seu conceito, conforme Juliana Santilli, 
“desenvolvido pelas ciências sociais e incorporado ao ordenamento jurídico, só pode ser compreendido 
com base na interface entre biodiversidade e sociodiversidade.”[86] Assevera, todavia, que “o Direito ainda 
dá os primeiros passos na formulação de uma definição – jurídica – de ‘populações tradicionais’”.[87] 
 
Para além da pretensão de conceituar tais populações, importa notar que no plano da Antropologia Jurídica 
as manifestações práticas e o reconhecimento das ações desse segmento da sociedade têm grande 
importância para o Direito. Exemplificativamente, pode-se citar algumas populações tradicionais não-
indígenas, tais como: 
 
“açorianos, babaçueiros, caboclos/ribeirinhos amazônicos, caiçaras, caipiras/sitiantes, campeiros 
(pastoreio), jangadeiros, pantaneiros, pescadores artesanais, praieiros, quilombolas, sertanejos/vaqueiros 
e varjeiros (ribeirinhos não-amazônicos).”[88] 
 
Como exemplo da influência que uma cultura particular pode exercer sobre o nosso ordenamento jurídico, 
faz-se referência aos seringueiros. Segundo Santilli: 
 
“A proposta das reservas extrativistas surgiu no contexto da luta pela reforma agrária e a partir de 
mobilizações sociais e políticas realizadas inicialmente pelos seringueiros do vale do rio Acre, 
especialmente do município de Xapuri, no Acre, sob a liderança de Chico Mendes.”[89] 
 
Interessante notar que essa miríade de comunidades tradicionais também guarda um sentido peculiar para 
o território. Podemos citar os caboclos/ribeirinhos amazônicos. Vários fatores são determinantes para a 
compreensão de seu mundo vivido. Nesse sentido, podemos destacar a concepção de tempo ecológico 
(essencialmente cíclica), determinado pelo movimento das águas.[90] Além disso, a ideia de distância e a 
religiosidadetambém são elementos da dinâmica espacial. Os fenômenos naturais também imprimem certa 
fluidez à comunidade uma vez que – em decorrência ao que se chama de terras “caídas” –, por exemplo, 
“a comunidade de várzea não está implantada naquele lugar de modo imutável.”[91] 
 
6 O PLURALISMO JURÍDICO 
 
Outro elemento de fundamental importância para a Antropologia Jurídica é o Pluralismo Jurídico. 
Fundamentado substancialmente na constatação de que subsiste uma multiplicidade de manifestações 
práticas de caráter jurídico em um mesmo contexto social e que não se limita ao oficial institucionalizado 
no Estado. Justamente por isso, concebe amplo espectro ao Direito reconhecendo uma gama imensa de 
normatividades que se evidenciam nas interações da coletividade, por vezes consensuais, mas em alguns 
casos conflituosas e que encontram a sua essência na busca e realização das necessidades fundamentais 
(existencial, material e cultural).[92] 
 
As discussões acerca desse pluralismo se instalam a partir da contestação de que o Direito não se esgota 
no Estado. Compreende o reconhecimento de que o Direito estatal canonizado nos códigos e leis, na forma 
de rituais solenes, é apenas mais uma das várias formas de produção e aplicação daquilo que costumamos 
chamar de Direito. 
 
O monismo jurídico é fator que suscita, hoje, grandes debates. A reflexão antropológica possibilitou a 
percepção de que o Direito Oficial do Estado não é a única forma de manifestação jurídica em nossas 
sociedades. Vale notar, inclusive, que a monocultura do saber jurídico jamais conseguiu impedir o 
surgimento de outras formas de normatividade nas práticas sociais cotidianas. Nesse sentido são as lições 
do jurista gaúcho Antonio Carlos Wolkmer: 
 
“Por mais ampla, forte e totalizadora que possa ser esta “regulamentação jurídica” da sociedade moderna 
por parte da ação monopolizadora do Estado, este não consegue erradicar e inviabilizar todo fenômeno de 
regulação informal proveniente de outros grupos sociais não-estatais”.[93] 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn84
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn85
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn86
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn87
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn88
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn89
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn90
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn91
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn92
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn93
 
Wolkmer, assim, propõe um Pluralismo Jurídico de novo tipo, designado de comunitário-participativo[94], 
calcado numa racionalidade libertária e emancipatória.[95] 
 
Vale destacar, contudo, no que tange ao Pluralismo Jurídico, as lições de Agustí Nicolau Coll e Robert 
Vachon. Segundo esses autores, a partir de um enfoque sobre a etnicidade e Direito, acerca do Pluralismo 
Jurídico e do Direito Comparado: 
 
“Para comprender las otras culturas jurídicas no occidentales y no modernas, no basta tomar conciencia de 
la originalidad de sus procesos y lógicas sociojurídicas (sistemas y estructuras propias), sino también de 
sus visiones y horizontes, es decir de los mitos de sus topoi propios (interpretación diatópicas).”[96] 
 
Sendo assim, esses autores concluem que o Pluralismo aqui em análise, não se trata de Direito 
Comparado, pois não há como comparar culturas jurídicas “cuando precisamente no hay ni puede haber 
un modelo o paradigma al cual compararlas”.[97] 
 
Com isso, Vachon e Coll observam que “sólo podremos comprender una cultura jurídica en la medida que 
la comprendemos tal y como ésta es para aquellos que viven en ella.”[98] 
 
Por fim, esses mesmos autores trazem exemplos bem significativos para a compreensão da complexidade 
que se instala por sobre a reflexão jurídico-antropológica. 
 
“Tengamos en cuenta que la palabra ‘Derecho’ no existe como tal en las culturas autóctonas tradicionales 
(Inuit, Ameríndias, Hindú, Jain, Budista,…); más aún, en su concepción del mundo, estas culturas no se 
plantean ni tan sólo la posibilidad que el ser humano pueda tener derechos, puesto que lo que prima es un 
sentimiento y una responsabilidad de agradecimiento y de solidaridad cósmica.”[99] 
 
Com isso, de forma ilustrativa, Vachon e Coll citam o modo jurídico de pensar de duas culturas distintas. 
Primeiramente, citam a cultura hindu, para quem “el equivalente de derecho sería 
el Swadharma”.[100] Logo em seguida, falam da cultura autóctone norte-americana dos Hau-de-no-sau-
nee, para estes “el equivalente de la ley se denomina en sus lenguas paz cósmica.”[101] 
 
Assim, ao passo que na cultura ocidental a noção de Direito fundamenta-se na idéia de que o ser humano 
é distinto e apartado de tudo o que é a biosfera[102], para muitas culturas jurídicas indígenas e tradicionais 
a ideia de Direito encontra-se relacionada “a lo sagrado, al cosmos y a la vida globalmente.”[103] 
 
7 CONCLUSÃO 
 
A Antropologia Jurídica deve auxiliar, pois, na construção de um saber científico que respeite e dialogue 
com as diferenças culturais. O reconhecimento da necessidade de descobrir o outro também pelo olhar 
desse outro. O jurídico deve ser pensado partindo da significação que o outro possui sobre seu próprio 
modo de ser e sobre aquilo ao qual o ocidente chama de Direito. Para além da simples comparação, há 
uma infinidade de fatores que interferem na prática cotidiana. 
 
O universo cultural implica diversidade (alteridade), assim a forma de pensar o outro deve partir de seu 
modo peculiar e específico. Somente se pode pensar a eficácia e aplicabilidade do Direito, enquanto 
ordenamento jurídico, se sua compreensão genuína é o fundamento da aplicação da lei. 
 
Como pode o Estado dos países do capitalismo periférico dependente pretender reafirmar o seu império, 
sobretudo pelas leis, se a maior parte da população as desconhece[104], se as formas do jurídico (as várias 
normatividades) dessas populações em regra não são reconhecidas[105], se não há diálogo no processo 
legislativo oficial estatal, se não há igualdade de acesso aos bens materiais, existenciais e culturais, se na 
maioria das vezes essa lei é produto de uma minoria mesquinha que, em regra, pensa e aplica a coerção 
ao invés da conciliação, reparação e diálogo? 
 
A crise é, pois, epistemológica. Sendo assim, pensar a Antropologia Jurídica implica compreender que há 
e sempre houve uma pluralidade de manifestações de formas e modos de viver. E é essa pluralidade o 
objeto desse ramo jurídico. 
 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn94
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn95
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn96
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn97
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn98
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn99
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn100https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn101
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn102
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn103
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn104
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftn105
Com isso, neste trabalho, buscou-se demonstrar de modo simples a complexidade que se instala a partir 
do reconhecimento das diversas formas de organização social e territorial, além disso, mostrou-se como 
hoje a Antropologia Jurídica está também ocupada em analisar e compreender questões que nos são 
familiares. Assim, não basta tentar compreender o outro. A própria cultura jurídica estatal aqui estabelecida 
tem sido objeto de estudo desse ramo. 
 
Todavia, não há como omitir-se de que se trata de empreendimento novo que, por isso, passa por um 
constante processo de aprimoramento. Basta citar, nesse sentido, a escassez de estudos que tratam da 
visão jurídico-antropológica acerca das crianças e dos adolescentes. 
 
Ainda, como se pode depreender neste trabalho, outra observação tem grande importância. Apesar da 
Antropologia Jurídica ser considerada uma parte nova do Direito, não se pode ignorar que as diversas 
questões que podem fazer parte de suas reflexões não são questões novas. Na verdade, a novidade reside 
na forma da abordagem desses temas. O reconhecimento da diversidade, das diferenças culturais e a sua 
recente apropriação também pela ciência do Direito. Fato deveras importante frente às transformações de 
nosso tempo, do mundo globalizado e da emergência de discursos periféricos insurgentes. 
 
Por fim, espera-se que a análise empreendida neste trabalho tenha sido capaz de instigar a curiosidade, 
sobretudo, daqueles que se propõem a estudar e aplicar o Direito. As questões levantadas neste trabalho, 
a despeito da incompletude e impossibilidade de aprofundamento – tendo em vista as limitações do objetivo 
e do próprio trabalho – servem como demonstração da riqueza e multiplicidade das formas de manifestação 
do viver coletivo e, por isso, também, como alerta ao saber/pensar o Direito. Se , ao menos, despertou o 
leitor para essa reflexão, muito já se alcançou. 
 
 
Referências bibliográficas 
 
BÔAS FILHO, Orlando Villas. A constituição do 
campo de análise e pesquisa da antropologia jurídica. 
In: Prisma Jurídico. São Paulo, v. 6, p. 333-349, 2007. 
 
BOLÍVIA (2008). Nueva Constitución Política del 
Estado. Disponível em: 
<http://www.defensalegal.gob.bo/>. Acesso em: 18 
maio 2010. 
 
BRASIL. Lei n. 601, de 18 de setembro de 1850. 
Dispõe sobre as terras devolutas do Império. 
Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L0601-
1850.htm>. Acesso em: 18 abril 2010. 
 
BRASIL. Lei nº. 3.701 de 1 de janeiro de 1916. 
Código civil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3071.htm>. 
Acesso em: 18 abril 2010. 
 
BRASIL. Decreto-lei n. 4.657, de setembro de 1942. 
Lei de introdução ao código civil brasileiro. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-
Lei/Del4657.htm>. Acesso em: 26 abril 2010. 
 
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 
Institui o código civil. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L1040
6.htm>. Acesso em: 20 abril 2010. 
 
BRASIL. Projeto de lei n. 2.285, de 25 de outubro de 
2007. Dispõe sobre o estatuto das famílias. 
Disponível em: 
<http://www.camara.gov.br/sileg/prop_detalhe.asp?id
=373935>. Acesso: 10 outubro 2010. 
 
BRASIL. Lei n. 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui 
o Estatuto da igualdade racial. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2010/Lei/L12288.htm>. Acesso em: 20 julho 
2010. 
 
BRITO, Antônio José Guimarães. Estado nacional, 
etnicidade e autodeterminação. In: COLAÇO, Thais 
Luzia (Org.). Elementos de antropologia jurídica. 
Florianópolis: Conceito Editorial, 2008, p. 59-73. 
 
BURDEAU, Georges. O estado. São Paulo: Martins 
Fontes, 2005. 
 
CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO 
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Institui as 
Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de 
Graduação em Direito e dá outras providências. 
Resolução CNE/CES n. 9, de 29 de setembro de 
2004. Disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ces092004d
ireito.pdf>. 
 
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o 
longo caminho. 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 2007. 
 
CHOMSKY, Noam. Democracia e mercados na nova 
ordem mundial. In: GENTILI, Pablo 
(org.). Globalização excludente: desigualdade, 
exclusão e democracia na nova ordem mundial. 
Petrópolis, RJ: Vozes; Buenos Aires: CLACSO, 2000, 
p. 7-45. 
 
COLAÇO, Thais Luzia. Os “novos” direitos indígenas. 
In: WOLKMER, Antonio Carlos; LEITE, José Rubens 
Morato. Os “novos” direitos no Brasil: natureza e 
perspectivas: uma visão básica das novas 
conflituosidades jurídicas. São Paulo: Saraiva, 2003, 
p.75-97. 
 
___________________. O despertar da antropologia 
jurídica. In: COLAÇO, Thais Luzia (Org.). Elementos 
de antropologia jurídica. Florianópolis: Conceito 
Editorial, 2008, p. 13-40. 
 
COLÔMBIA (1991). Constitución Política de 
Colombia. Disponível em: 
<http://www.anticorrupcion.gov.co/marco/documentos/
constitucion.pdf>. Acesso em: 18 maio 2010. 
 
EQUADOR (2008). Constitución de la República del 
Ecuador. Disponível em: 
<http://www.presidencia.gov.ec/>. Acesso em: 18 
maio 2010. 
 
FRAXE, Therezinha de Jesus Pinto et. al. Natureza e 
mundo vivido: o espaço e lugar na percepção da 
família cabocla/ribeirinha. In: SCHERER, Elenise; 
OLIVEIRA, José Ademir de. (Org.). Amazônia: 
políticas públicas e diversidade cultural. Rio de 
Janeiro: Garamond, 2006. p. 233-258. 
 
KROTZ, Esteban. Sociedades, conflictos, cultura y 
derecho desde uma perspectiva antropológica. In: 
KROTZ, Esteban (Ed.) Antropología jurídica: 
perspectivas socioculturales em el estudio del 
derecho. Rubí (Barcelona): Anthropos; México: 
Universidad Autónoma Metropolitana – Iztapalapa, 
2002, p. 13-49. 
 
LIMA, Roberto Kant de. Por uma Antropologia do 
Direito, no Brasil. In: CERQUEIRA, Daniel Torres; 
FRAGALE FILHO, Roberto. (Org.). O ensino jurídico 
em debate: o papel das disciplinas propedêuticas na 
formação jurídica. Campinas, SP: Millennium, 2007, p. 
89 – 115. 
 
MÉXICO (1917). Constitución Política de los Estados 
Unidos Mexicanos. Disponível em: 
<http://www.diputados.gob.mx/LeyesBiblio/pdf/1.pdf>. 
Acesso em: 18 maio 2010. 
 
MÓRAN, Emilio F. Ecologia humana das populações 
da Amazônia. Petrópolis: Vozes. 1990. 
 
PARAGUAI (1992). Constitución de la República de 
Paraguay. Disponível em: 
<http://www.constitution.org/cons/paraguay.htm>. 
Acesso em: 18 maio 2010. 
 
RAMOS, Alcida Rita. Sociedades indígenas. 2. ed. 
São Paulo: Ática, 1988. 
 
________________. Memórias Samuná. Brasília: 
UNB, 1990. 
 
SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos 
direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e 
cultural. São Paulo: Peirópolis, 2005. 
 
SANTOS, Boaventura de Sousa. A Gramática do 
Tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: 
Cortez, 2006. 
 
VACHON, Robert; COLL, Augustí Nicolau. Etnicidad y 
Derecho: un enfoque diatópico y dialogal del estudio y 
la enseñanza del pluralismo jurídico. In: ORDÓÑEZ 
CIFUENTES, José Emilio Rolando. 
(Coord.). Etnicidad y Derecho: un diálogo postergado 
entre los científicos sociales. V Jornadas 
Lascasianas. México: UNAM, 1996, p. 267-290. 
 
WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: 
fundamentos de uma nova cultura no Direito. 3. ed., 
rev. e atual. São Paulo: Alfa Ômega, 2001. 
 
ZAMBRANO, Carlos Vladimir. Derechos, pluralismo y 
diversidad cultural. Bogotá: Universidad Nacional de 
Colombia. Facultad de Derecho, Ciencias Políticas y 
Sociales, 2007.Notas: 
 
[1] Interessante destacar que, apesar das 
divergências, alguns autores afirmam que a 
Antropologia tem uma origem muito antiga e que 
remonta a Heródoto. Contudo, como bem enfatiza 
Thais Colaço, não é pacífico o entendimento de que 
os gregos da Antiguidade tiveram uma “atitude 
antropológica”. Para mais detalhes, ver: COLAÇO, 
Thais Luzia. O despertar da antropologia jurídica. In: 
COLAÇO, Thais Luzia (Org.). Elementos de 
antropologia jurídica. Florianópolis: Conceito Editorial, 
2008, p. 21. 
 
[2] Ibid., p. 20. 
 
[3] Ibid., p. 21. 
 
[4] Ibid.2008, p. 22. 
 
[5] Para mais detalhes, ver: COLAÇO, Thais Luzia. 
Op. Cit., 2008, p. 14. 
 
[6] Idem. 
 
[7] KROTZ, Esteban. Sociedades, conflictos, cultura y 
derecho desde una perspectiva antropológica. In: 
KROTZ, Esteban (Ed.) Antropología jurídica: 
perspectivas socioculturales em el estudio del 
derecho. Rubí (Barcelona): Anthropos; México: 
Universidad Autónoma Metropolitana – Iztapalapa, 
2002, p. 28. “a ciencia da alteridade sociocultural”. 
(tradução nossa) 
 
[8] Ainda, para Esteban Krotz, “la antropología es la 
ciencia que estudia todos los fenómenos sociales 
desde la perspectiva de la alteridad”. Ibid., p. 28-29. 
 
[9] COLAÇO, Thais Luzia. Op. Cit., 2008, p. 15. 
 
[10] LIMA, Roberto Kant de. Por uma Antropologia do 
Direito, no Brasil. In: CERQUEIRA, Daniel Torres; 
FRAGALE FILHO, Roberto. (Org.). O ensino jurídico 
em debate: o papel das disciplinas propedêuticas na 
formação jurídica. Campinas, SP: Millennium, 2007, p. 
89. Veja também: COHN, Clarisse. Antropologia da 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref1
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref2
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref3
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref4
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref5
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref6
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref7
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref8
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref9
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref10
criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p.8; 
KROTZ, Esteban. Op. Cit., 2002, p. 14. 
 
[11] LIMA, Roberto Kant de. Op. Cit., 2007, p. 94. 
Nesse sentido, ver também: COLAÇO, Thais Luzia. 
Op. Cit., 2008, p. 21. 
 
[12] LIMA, Roberto Kant de. . Op. Cit., 2007, p. 95. 
Nesse sentido, ver também: BÔAS Filho, Orlando 
Villas. A constituição do campo de análise e pesquisa 
da antropologia jurídica. In: Prisma Jurídico. São 
Paulo, v. 6, 2007, p. 341. 
 
[13] COLAÇO, Thais Luzia. Op. Cit., 2008, p. 24. 
 
[14] Ibid., 2008, p. 26. 
 
[15] Ibid., 2008, p. 26-27. 
 
[16] Ibid., 2008, p. 27. 
 
[17] GEERTZ, Clifford. Os usos da diversidade. 
In: Nova luz sobre a Antropologia. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2000, p. 88 apud COLAÇO, Thais Luzia. 
Op. Cit., 2008, p. 16. 
 
[18] ZAMBRANO, Carlos Vladimir. Derechos, 
pluralismo y diversidad cultural. Bogotá: Universidad 
Nacional de Colombia. Facultad de Derecho, Ciencias 
Políticas y Sociales, 2007, p. 31. “A antropologia 
consolidou paulatinamente desde suas origens uma 
preocupação com o diferente, que a levou a 
demonstrar e a por em evidência que a realidade é 
diversa. Em seguida, a partir de sua constatação, se 
empenhou em promover e construir uma concepção 
de mundo pluralista. Tal obsessão a levou a caminhos 
tão distintos como o evolucionismo, funcionalismo, 
relativismo cultural, particularismo histórico e o neo-
evolucionismo.” (tradução nossa) 
 
[19] LIMA, Roberto Kant de. Op. Cit., 2007, p. 91. 
 
[20] KROTZ, Esteban. Op. Cit., 2002, p. 14. 
 
[21] Ibid., p. 16. 
 
[22] Todavia, vale notar que desde 2004 tornou-se 
obrigatória a abordagem de conteúdos de 
Antropologia no ensino superior de Direito, como 
categoria propedêutica, em seu eixo de formação 
fundamental. Ver: Resolução CNE/CES n. 9, de 29 de 
setembro de 2004, art. 5º., I. Disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ces092004d
ireito.pdf>. Acesso: 15 maio 2010. 
 
[23] COLAÇO, Thais Luzia. Op. Cit., 2008, p. 29. 
 
[24] COLAÇO, Thais Luzia. Op. Cit., 2008, p. 35; 
LIMA, Roberto Kant de. . Op. Cit., 2007, p. 92. 
 
[25] Idem. 
 
[26] COLAÇO, Thais Luzia. Op. Cit., 2008, p. 35. 
 
[27] Ibid., p. 36. 
 
[28] Manifestações insurgentes essas – fruto de 
práticas sociais comunitárias de coletividades 
atuantes – que ocorrem como demonstração da 
insatisfação de suas condições perante a sociedade e 
criação, defesa e manutenção de direitos perante a 
sociedade e o Estado. Podemos citar como exemplo: 
os sem-teto e os sem-terra, as comunidades 
quilombolas, entidades sindicais representativas de 
suas categorias, associações e representações de 
bairro, os mestres da cultura popular, organizações 
não governamentais etc. 
 
[29] RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e 
o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2006, p. 20. 
 
[30] Idem. 
 
[31] Segundo Georges Burdeau, o Brasil tem 
“dificuldade em alcançar a estabilidade política em 
razão do desequilíbrio no grau de produção das 
diferentes partes do país.” BURDEAU, Georges. O 
estado. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 15. 
 
[32] Vale notar que Leslie White, adepto da corrente 
evolucionista, dispensa destaque para o elemento 
tecnologia. Esse autor teve grande influência na 
Antropologia. Segundo seu modelo teórico, “as 
culturas são compostas de três aspectos: tecnologia, 
organização social e ideologia.” MÓRAN, Emilio 
F. Ecologia humana das populações da Amazônia. 
Petrópolis: Vozes. 1990, p. 61. Ver, também: 
COLAÇO, Thais Luzia. Op. Cit., p. 26, nota de rodapé 
11; LIMA, Roberto Kant de. Op. Cit., p. 93-94. 
 
[33] BRITO, Antônio José Guimarães. Estado 
nacional, etnicidade e autodeterminação. In: 
COLAÇO, Thais Luzia (Org.). Elementos de 
antropologia jurídica. Florianópolis: Conceito Editorial, 
2008, p. 59. 
 
[34]BURDEAU, Georges. Op. Cit., 2005, p. 18. 
 
[35] SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do 
tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: 
Cortez, 2006, p. 28. 
 
[36] Esse processo, por exemplo, possibilitou ao 
Brasil, no final do Império e início da República, 
combinar, de forma estrambólica – sobretudo no 
plano econômico e político – o modelo liberal e o 
modelo escravagista. 
 
[37] CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: 
o longo caminho. 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 2007, p. 26. 
 
[38] Ibid., p. 12. 
 
[39] Para mais detalhes, ver: Estatuto das Famílias 
(PL 2285/2007), em especial, seus artigos 68 e 164 
a167. Disponível, na versão inicial e na íntegra no 
sítio do IBDFAM: 
<http://www.ibdfam.org.br/artigos/Estatuto_das_Famili
as.pdf>. Acesso em: 20 abril 2010. 
 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref11
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref12
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref13
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref14
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref15
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref16https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref17
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref18
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref19
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref20
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref21
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref22
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref23
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref24
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref25
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref26
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref27
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref28
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref29
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref30
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref31
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref32
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref33
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref34
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref35
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref36
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref37
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref38
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref39
[40] BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 
Institui o código civil. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L1040
6.htm>. Acesso em: 20 abril 2010. Ver, a título de 
exemplo, o art. 1.607. 
 
[41] BRASIL. Lei nº. 3.701 de 1 de janeiro de 1916. 
Código civil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3071.htm>. 
Acesso em: 18 abril 2010. Ver, a título de exemplo, o 
art. 248, IV. 
 
[42] Vale citar que esta não é apenas uma tendência 
jurídica, social e antropológica exclusivamente 
brasileira, a união entre pessoas do mesmo sexo já é 
reconhecida em 10 países, em todo o mundo, e a 
mais nova conquista legal no campo do Direito estatal 
oficial ocorreu na Argentina, que no mês de julho 
deste ano reconheceu de forma ampla e pioneira a 
união homoafetiva. Como exemplo, pode-se citar a 
possibilidade da adoção. Numa postura de vanguarda 
e que demonstra uma tendência de luta e conquista 
de direitos dessa parcela da sociedade. 
 
[43] Interessante notar, nesse momento, que no 
território brasileiro ainda sobrevivem 210 povos 
indígenas. Ver: COLAÇO, Thais Luzia. Os “novos” 
direitos indígenas. In: WOLKMER, Antonio Carlos; 
LEITE, José Rubens Morato. Os “novos” direitos no 
Brasil: natureza e perspectivas: uma visão básica das 
novas conflituosidades jurídicas. São Paulo: Saraiva, 
2003, p. 78; Para Santilli, com base no Instituto 
Socioambiental, esse número pode chegar a 220 
povos, falando mais de 180 línguas, totalizando 
aproximadamente 400.000 indivíduos. Ver: SANTILLI, 
Juliana. Socioambientalismo e novos direitos: 
proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. 
São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 83, nota de rodapé 93. 
 
[44] COLAÇO, Thais Luzia. Op. Cit., p. 76. 
 
[45] Ibid., p. 79. 
 
[46] Ibid., p. 80-81. 
 
[47] Ibid., p. 81. 
 
[48]Idem. 
 
[49]Idem. 
 
[50] Ibid., p. 82. 
 
[51] BRASIL. Lei n. 601, de 18 de setembro de 1850. 
Dispõe sobre as terras devolutas do Império. 
Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L0601-
1850.htm>. Acesso: 20 abril 2010. 
 
[52] COLAÇO, Thais Luzia. Op. Cit., 2003, p. 82. 
 
[53]Ver Código Civil de 1916, art. 6º., III e parágrafo 
único. 
 
[54] COLAÇO, Thais Luzia. Op. Cit., 2003, p. 84. 
 
[55]Idem. 
 
[56] Ibid., p. 85. 
 
[57] Idem. 
 
[58] Idem. 
 
[59] Ibid., p. 86. 
 
[60]Idem. 
 
[61] Ibid., 2003, p. 88. 
 
63 A título de exemplo, vale observar como o contato 
entre povos distintos tem reflexos muito mais 
profundos e em diferentes sentidos do que se pode 
imaginar. O algarismo arábico dos números, as casas 
com varanda, a telha mourisca, o vocabulário etc, são 
exemplos de modos de viver trazidos pelos lusitanos, 
mas que tem uma origem mais antiga intimamente 
relacionada à dominação árabe sobre a Península 
Ibérica e que durou vários séculos. Os árabes, muitos 
séculos antes da Europa, já possuíam biblioteca, e 
iluminação pública, por exemplo. 
 
[63] CHOMSKY, Noam. Democracia e mercados na 
nova ordem mundial. In: GENTILI, Pablo 
(org.). Globalização excludente: desigualdade, 
exclusão e democracia na nova ordem mundial. 
Petrópolis, RJ: Vozes; Buenos Aires: CLACSO, 2000, 
p. 14. 
 
[64] CHOMSKY, Noam. Op. Cit. 2000, p. 20. Os 
exemplos não são poucos: a Guerra do Golfo, p. 10; o 
Haiti, p. 13; o Panamá, p. 14. 
 
[65] MÉXICO. Constitución Política de los Estados 
Unidos Mexicanos. Disponível em: 
<http://www.diputados.gob.mx/LeyesBiblio/pdf/1.pdf>. 
Acesso: 18 maio 2010. 
 
[66] BOLÍVIA. Nueva Constitución Política del Estado. 
Disponível em: <http://www.defensalegal.gob.bo/>. 
Acesso: 18 maio 2010. 
 
[67] EQUADOR. Constitución de la República del 
Ecuador. Disponível em: 
<http://www.presidencia.gov.ec/>. Acesso: 18 maio 
2010. 
 
[68] COLÔMBIA. Constitución Política de Colombia. 
Disponível em: 
<http://www.anticorrupcion.gov.co/marco/documentos/
constitucion.pdf>. Acesso: 18 maio 2010. 
 
[69] PARAGUAI. Constitución de la República de 
Paraguay. Disponível em: 
<http://www.constitution.org/cons/paraguay.htm>. 
Acesso: 18 maio 2010. 
 
[70] Essa relação entre os ameríndios, o território e a 
biosfera é milenar. Nesse sentido, ver: RIBEIRO, 
Darcy. Op. Cit., p. 26. Com isso, pode-se subentender 
que o extermínio desses povos destruiu, 
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref40
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref41
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref42
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref43
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref44
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref45
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref46
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/o-novo-ja-nasce-velho-contribuicoes-a-antropologia-juridica/amp/#_ftnref47

Continue navegando