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RESENHA-RESUMO: OS NANOMATERIAIS E A QUESTÃO AMBIENTAL Matheus P. Paschoalino, Glauciene P. S. Marcone e Wilson F. Jardim. Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, CP 6154, 13083-970 Campinas - SP, Brasil Nanotecnologia é um dos ramos que mais cresce no mundo, fruto de altos investimentos em pesquisas. Processos como nanociência e nanotecnologia envolvem materiais na escala de 1 a 100 nanômetros que podem ser utilizados em seguimentos como, alimentícios, eletrônicos, farmacêuticos, biotecnologia, cosméticos e etc. A produção de nanomateriais deu um salto muito grande nos últimos anos, de 2004 a 2009 houve um aumento de 500% desse seguimento. Esse crescimento de produção e aplicação de nanomateriais está provocando um discussão sobre os potenciais riscos à saúde e ao meio ambiente que esses tipos de matérias podem causar. A reflexão a esse respeito é bastante pertinente visto que além das perspectivas de que haja um aumento considerável de produtos oriundos do desenvolvimentos de produtos com essa tecnologia, há também um potencial grande de risco de contaminação do meio ambiente, visto as características intrínsecas das nanopartículas, como tamanho, área superficial e capacidade de aglomeração e dispersão os quais podem facilitar o deslocamento no ambiente e ocasionar danos a cadeia alimentar. Estes aspectos justificam um estudo/investigação sobre a disposição e toxicidade dos nanomateriais. Diferentes tipos de materiais em tamanho nano estão sendo lançados no mercado, por serem mais leves, eficientes e resistentes e terem custos mais baixos, são mais chamativos e interessante ao mercado. Porém, as mesmas propriedades que os tornam tão atrativos podem os tornarem também nocivos aos organismos vivos, conforme estudos realizados em micro- organismos, algas, peixes, ratos e células humanas. A grande preocupação com relação a esses tipos de materiais é que nunca foram produzidos e utilizados em produtos comerciais em tão larga escala como na atualidade. Alguns estudos sugerem que devidos os nanomateriais terem tamanhos tão pequenos esses teriam uma facilidade ainda maior de penetrar na pele, mucosa e membrana celular, podem seus efeitos de toxicidade se manifestarem. Identificar a fonte de emissão de nanopartículas é um passo importante para entender melhor os fenômenos físicos e químicos provenientes desses tipos de materiais e assim relaciona-los com os possíveis efeitos ao ambiente a saúde humana. Existem dois tipos de fontes de nanopartículas que são elas: as fontes naturais e as fontes antrópicas (geradas pelo homem). As fontes antrópicas estão relacionados a queima de combustíveis fosseis e geram grande quantidade de nanomateriais. As fontes antrópicas podem ser divididas em nanopartículas engenheiradas e nanopartículas não-engenheiradas. As nanopartículas engenheiradas são criadas para fins comercias, ou seja, criadas artificialmente. Já as nanopartículas não- engenheiradas envolvem atividades comuns, com cozinhar, e são importantes geradoras de nanopartículas inaláveis. Sob a ótica da aplicação para os mais variados fins e dos efeitos que tais materiais podem causar ao ambiente, destacam-se: os cosméticos (tendo como principal aplicação dos nanomateriais os protetores solares, que apresentam nanopartículas em torno de 10nm de diâmetro; os nanomateriais de carbono (como os negro de fumo, fulerenos, nanotubos de carbono de parede simples ou múltipla, nanopartículas de carbono e nanofibras, são atualmente os mais atrativos devido a suas diferentes formas); nanomateriais usados para descontaminação ambiental (a aplicação de nanomateriais na descontaminação ambiental é decorrente da alta reatividade química apresentada por estes materiais. O fotocatalisador TiO2 (dióxido de titânio), principalmente na sua forma anatase, é o nanomaterial mais estudado para a fotodegradação de compostos orgânicos); nanomateriais usados para desinfecção (após extensivos estudos demonstrando a atividade fotocatalítica do TiO2, atualmente um grande número de pesquisas comprovam sua ação biocida/desinfetante, principalmente em trabalhos em fase aquosa, apesar de seu maior uso comercial ser em purificadores destinados à fase gasosa; aplicações em nanomedicina (a busca pelo diagnóstico mais preciso e a administração controlada de fármacos configura como objetivos relevantes na busca por novas tecnologias para a prevenção e tratamento de doenças oncológicas). Estudos de toxicidade e ecotoxicidade de partículas em componentes não tóxicos em casos de microscópio ou macroscópico torna-se necessário pela mudança das propriedades deste material para a escala nano. Os sistemas aquático, atmosférico, o solo e sedimento são as principais rotas de exposição de um nanomaterial no ambiente. Desta forma as principais rotas de entrada dos nanomateriais no organismo são: absorção no nível celular (quando os nanomateriais alcançam as células esses materiais podem ser envolvidas pela membrana celular por vários processos até ser totalmente absorvida, esse tipo de absorção acontece principalmente em ambiente aquático); inalação (o maior risco de nanopartículas para seres terrestres é advinda através da inalação, estudos clínicos realizados com humanos, roedores e células pulmonares, mostrou que a maioria tinha algum efeito relacionado as nanopartículas como asma, inflamação no pulmão obstrução crônica pulmonar ou até morte); ingestão (a ingestão involuntária de nanopartículas acontece geralmente pelo consumo de água proveniente de aparelhos purificados que utilizam nanomateriais filtrantes ou desinfetantes. Além da água pode ocorrer a ingestão de alimentos que tiveram um contato prolongado com utensílios que utilizam essa tecnologia. Apesar dessas possibilidades, estudos mostram que esse consumo é muito pequeno); assimilação através de superfícies epiteliais externas (Pouco se sabe sobre a possibilidade de nanopartículas permeabilizar a pele ou sobre a interação de células da epiderme com esses tipos de partículas. O risco baseia-se na hipótese de que nanopartículas possam atingir a corrente sanguínea e assim circularem por todo o organismo, sendo distribuídas para células e órgãos. Alguns estudos sugerem que os materiais vesiculares usados em cosméticos (50 a 5000 nm) podem penetrar o estrato córneo humano, porém não atravessariam a parte viva da pele). Estudos realizados no século XX, mostraram que materiais na escala micrométrica não apresentavam toxicidade, porém quando o estudo foi realizado para materiais na escala nanométrica houve o surgimento de algum efeito tóxico. Um dos trabalhos da época mostrou que em ensaios realizados em ratos observaram a inflamação de tecidos intersticiais somente em indivíduos que foram expostos a partículas manométricas de 20nm, já em indivíduos que foram expostos a partículas manométrica de 250nm nada ocorreu. Com necessidade de conhecimento sobre o assunto surgiu o termo nanotoxicologia, que tem como objetivo de estudar e avaliar os efeitos de nanomateriais e nanodispositivos ao homem. De forma análoga, também foi criado o termo nanoecotoxicologia que tem como objetivo estudar os efeitos ao meio ambiente. A caracterização de nanomateriais é de vital importância, visto que sua atividade biológica pode ser alterada com a variação das propriedades físico-químicas dos mesmos. Na caracterização alguns parâmetros são fundamentais, tais como o tamanho médio das partículas, a área e a composição química superficial. Quanto ao tamanho das nanopartículas, o principal problema é que raramente uma partícula será encontrada no ambiente em sua forma primária e isolada, mas sim formando aglomerados que podem variar enormemente de tamanho (> 100 nm) pela mudança das condições ambientais como força iônica e pH. Existem várias técnicas para determinar o tamanho, a área superficial e a composição de nanopartículas,como a Difração de raio-X, Espalhamento dinâmico da luz, entre outras. A quantificação de nanopartículas para estudos ecotoxicológicos é possivelmente o aspecto menos desenvolvido nos estudos toxicológicos. Estes materiais, por possuírem características físico-químicas muito diferentes de seus precursores macroscópicos, necessitam do desenvolvimento de adaptações validadas das técnicas analíticas comumente empregadas. Outro ponto de avaliação dos compostos nanoestruturados é o teste de toxicidade. Os testes de toxicidade podem ser realizados em culturas de células (in vitro) ou em organismos vivos (in vivo) como peixe e até mesmo em seres humanos. Grande parte dos testes de toxicidade de nanomateriais é realizada in vitro. Para tais testes são utilizadas culturas de mamíferos. A maioria dos testes realizados em nanomateriais focaram investigar possíveis alterações na taxa de crescimento. As técnicas in vitro são mais utilizadas pelo fato de que estas são menos onerosas do que os estudos in vivo e requerem um tempo menor. No entanto, as técnicas in vivo são mais eficientes para inferir implicações que signifiquem riscos para saúde humana. Os principais testes in vivo têm objetivo de avaliar a toxicidade dos nanomateriais no meio aquático, já que as águas continentais e marinhas seriam o principal compartimento receptor. Nestes testes normalmente são utilizadas bactérias (V. fischeri), peixes (peixe-zebra), crustáceos (Daphnia) e algas. O teste permite calcular estatisticamente os indicadores que irão possibilitar a comparação de toxicidade entre diferentes nanomateriais e/ou entre nanomateriais e substâncias químicas tradicionais. Grande parte dos estudos de ecotoxicidade utilizou nanopartículas de TiO2 e C60, visto que estes tem grande aplicação comercial. Existe também a preocupação com a contaminação de animais de vida terrestre. Por isso alguns estudos já simulam a exposição direta de animais às nanopartículas, principalmente em mamíferos roedores. A regulamentação dos nanomateriais é essencial, visto que o número de produtos à base de nanotecnologia só aumenta no mundo. Estima-se que em 2015 este mercado movimentará cerca de US$ 1 trilhão e que o setor de semicondutores e metade do setor farmacêutico estará dependente de nanomateriais. Com todos os riscos que a nanotecnologia pode causar ao meio ambiente e com as estimativas de crescimento os Estados Unidos e a União Europeia através de seus órgãos competentes, abarcaram as primeiras discussões para a avaliação de risco de nanomateriais, bem como a necessidade de futura implementação de regras e legislação específica aplicada a produtos que contenham em sua composição substâncias em nanoescala. A fim de contribuir com o estágio atual de desenvolvimento e evolução da nanotecnologia, iniciativas estão sendo tomadas por diferentes órgãos mundiais que têm como principais objetivos avaliar os riscos quanto à saúde humana e ao ambiente, além de estabelecer padrões para a produção e uso de novas tecnologias. Os órgãos de regulamentação exigem dos fabricantes evidências científicas de que o uso de nanomaterias, empregados em seus produtos, não causa danos ambientais e riscos à saúde pública. Em 2008 foi lançado o programa NMSP (Nanoscale Materials Stepwardship Program), que consiste primeiramente no cadastro voluntário de empresas de médio e grande porte que produzem e/ou comercializam nanomateriais com finalidade principal de reunir informações sobre os mesmos e também obter dados sobre defeitos que o produto possa apresentar, potencial exposição e análise do ciclo de vida do nanomaterial. A certificação ISO (International Organization for Standardization) para nanomateriais abrange a padronização de três aspectos fundamentais: a) terminologia e nomenclatura, b) caracterização e c) avaliação de risco sobre saúde, segurança e ambiente. Para tal foi criado a ISO/TC 229 (ISO/Technical Committee) que tem como um dos principais desafios uniformizar as definições acerca do tema nanotecnologia e afins, de modo que as transações comerciais sejam as mais transparentes possíveis. Além disso, pretende criar métodos precisos para a medição das propriedades dos nanomateriais, de modo que seja avaliada a qualidade do processo de produção, bem como estabelecer protocolos de utilização pelo consumidor. Estimativas do governo brasileiro mostram que o país nos próximos anos deve conseguir ter uma fatia referente a 1% de toda a produção mundial de produtos com nanotecnologia. Deste modo, novas legislações devem surgir num futuro próximo indicando valores guia para cada nanomaterial e cada situação, além das novas tecnologias de tratamento para este tipo de resíduo. O conhecimento dos riscos que os nanomateriais podem causar ao ambiente será importante para que a sua produção, comercialização e descarte sejam feitos de forma adequada e sustentável. Deste modo, visando a comercialização de produtos seguros, os mesmos deverão obedecer aos padrões exigidos pela legislação quanto aos aspectos ambientais e de saúde pública.
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