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Filoso�a e Ética Aula 9: Ética moderna e contemporânea INTRODUÇÃO A história da ética ganha um novo rumo, entre os séculos XIV e XVI (Renascimento), a partir da valorização do homem nas ciências (as quais se prestam às necessidades humanas) e nas artes (representações com características humanas). Retomam-se algumas tendências éticas antigas no início da Renascença, o estoicismo, em particular, demarcando-se, em seguida, o início do que se conhece como ética moderna (séculos XVI-XIX). No vídeo que abre esta aula, você vê cenas da reprodução de um festival típico do período renascentista, período este que marcou a redescoberta e a revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, e que norteou mudanças em direção a um ideal humanista e naturalista. O festival em questão foi realizado em 2007, na cidade de Kansas, USA, e buscou recriar o cenário vivido pelo homem naquele período histórico. OBJETIVOS Reconhecer as principais escolas que caracterizam a ética moderna, ressaltando-se a dimensão humana, o papel da ação política, a autonomia, as vantagens que os efeitos de ações podem trazer e o intuicionismo no plano moral; Identi�car as duas grandes re�exões que caracterizam os problemas éticos contemporâneos: a essência, origem, �nalidade da ética e a linguagem ética. Entendendo o cenário Esse período (o da ética moderna) é marcado pela criação de uma nova sociedade que substitui a ordem feudal da Idade Média, sob uma série de mudanças. Vamos ver como essas mudanças se deram? Fonte da Imagem: No plano econômico, incremento de forças produtivas em relação ao desenvolvimento cientí�co, constituindo a ciência moderna, mediante uma perspectiva cientí�ca mais prática (tendo, como maior defensor, Francis Bacon, 1561- 1626), e pela importância atribuída à técnica e experiência, inaugurando o método das ciências naturais, com Galileu- Galilei (1564-1642). Fonte da Imagem: No plano social, aparecimento de uma nova classe social – a burguesia –na França (com a Revolução Francesa, 1789) inicialmente, desenvolvendo-se, no século seguinte, principalmente na Inglaterra. Implantou-se, assim, um sistema em que o trabalhador, ao trocar sua força de trabalho por um salário, não é dono dos meios de produção. Os meios de produção passam ao domínio da classe burguesa que, ao vender as mercadorias produzidas pelos trabalhadores, atribui um sobrevalor ao produzido, obtendo uma mais-valia ou lucro: o capitalismo. Fonte da Imagem: No plano espiritual, perda do papel de guia atribuído à Igreja Católica, pois a religião deixa de ser a forma ideológica dominante. Separam-se, em linhas gerais: • Razão/fé; • Natureza e homem/Deus; • Estado/Igreja. Dominando a maior parte dos pensadores modernos, a questão da origem das ideias morais desponta nos séculos XVI-XVII. MAQUIAVEL Nicolau Maquiavel (1469-1527) chamou atenção sobre o papel da ação política – visando à sobrevivência de um grupo, não de indivíduos isolados – na formação de conceitos éticos. HOBBES Thomas Hobbes (1588 – 1679) defende a tese de que o homem é antissocial, comportando-se sempre para satisfazer seu interesse pessoal e absorvendo aquilo que é bom ou vantajoso para si: egoísmo ético. ESPINOSA Baruch Espinosa (1632 – 1677) buscou na correspondência alma-corpo fundamentos de uma ética voltada para o exercício da liberdade, a�rmando que são os homens que causam as paixões, não que estas devam estar subjugadas à razão ou vice-versa: como a�rma, a liberdade é autodeterminação, autonomia. Seríamos autônomos quando explicássemos pela nossa natureza o que acontece em nós, não recorrendo a causas externas. HUTCHESON Já Francis Hutcheson (1664 – 1746) encontra uma capacidade inata que tem o homem de diferenciar as ações moralmente boas e más: um sentimento moral, base da consciência moral (admite, no entanto, que a percepção das qualidades (ideias) morais é adquirida pela experiência). Teoria moral de Kant No século XVIII, marcado pelo movimento intelectual denominado Iluminismo, exalta-se a capacidade que tem o homem de conhecer e agir por uma luz própria da razão. São criticadas posições éticas que conduzem à heteronomia (glossário), debatendo-se, antes, a liberdade da vontade em relação ao determinismo da natureza, ou do vínculo entre leis morais e naturais. Saiba mais , Para Kant, o único bem em si mesmo é a boa vontade, aquela que age por puro respeito ao dever, visando à sujeição do homem à lei moral – autonomia humano-moral. O dever torna-se, nesse quadro, incondicionado ou absoluto, abrangendo algo que se estende a todos os seres humanos em quaisquer tempos ou condições: forma universal que não tem um conteúdo concreto – formalismo ético kantiano. Deontologia da norma Como devemos agir, que tipos de atos somos moralmente obrigados a realizar, por sua vez, conduzem à elaboração de uma teoria da obrigação moral em Kant, denominada deontologia (glossário) da norma (do grego déon, dever): aquela que não faz a obrigatoriedade de uma ação depender exclusivamente das consequências dos atos ou das normas. A tendência de derivar a obrigatoriedade de uma ação unicamente de suas consequências marca, nos séculos XVIII e XIX, uma ética utilitarista, abrangendo dois sentidos (cf. formulação original de Jeremy Bentham e John Stuart Mill): Numa outra vertente do século XIX, encontramos o intuicionismo ético, desenvolvido principalmente na Inglaterra, cujos representantes principais foram George Edward Moore (1873-1958), William David Ross (1877-1971), Harold Arthur Prichard (1871-1947) e Henry Sidgwick (1838-1900). Para esses autores, a bondade e a obrigatoriedade (avaliação de que algo constitui um dever) não são propriedades apreendidas pela observação empírica, dos fatos, nem tampouco mediante um processo racional de análise e demonstração. O bom seria inde�nível (cf. Moore), impondo-se os deveres sem necessidade de prova, por serem evidentes e captados de uma maneira direta e imediata: através da intuição (Prichard, Ross). Segundo Sidgwick, a intuição abrangeria a coincidência do dever individual com o dever dos seres humanos nas mesmas circunstâncias. Nietzsche e Brentano Duas últimas importantes contribuições para o domínio ético são encontradas ainda no século XIX: Friedrich Nietzsche (1844-1900) e de Franz Brentano (1838-1917). O primeiro, analisando os valores da cultura europeia, os quais vê encarnados no cristianismo, socialismo e igualitarismo democrático, sustenta que são formas de uma moral a ser superada mediante a formulação de um ponto vista além do bem e do mal, pois são manifestações de uma vitalidade decadente, ou ascetismo. A essa degradação valorativa, ele opõe a vontade de viver ou vontade de potência, girando em torno da dimensão de forças e instintos como criadoras de valores situados fora da moral tradicional. Já para Brentano, seria possível estabelecerem-se leis universais de caráter axiológico (axiologia – �loso�a dos valores), na medida em que há um subjetivismo ético que se relaciona a uma teoria objetiva do valor. Este é enunciado sob atos de preferência (valorização) ou repugnância (desvalorização); assim, a experiência que algo seja bom inclui um aspecto subjetivo (para alguém) e a intenção que leva um homem a preferir algo. Ética contemporânea Os problemas éticos contemporâneos podem ser divididos em duas grandes re�exões: Sobre a essência/origem/�nalidade da ética Sua linguagem Glossário HETERONOMIA Conceito criado por Kant, signi�cando “as leis que recebemos”. Difere de autonomia, pois consiste na sujeição do individuo à vontade de terceiros ou de uma coletividade. Está relacionado ao Estado de Direito, em que todos devem se submeter à vontade da lei. A este respeito, ressalta a obra de Immanuel Kant (1724-1804), para quem a consciência cognoscente ou moral é suscitada em um homem ativo, criador e legislador. Na Crítica da razão prática (KANTa:1957), e na Fundamentação da metafísica dos costumes(KANTb:1957), ele descobre princípios racionais na vida prática dos homens, compreendendocomo certos costumes podem orientar as ações humanas. Segundo a�rma, a vontade é verdadeiramente moral quando é regida por imperativos categóricos – referem-se a ações objetivamente necessárias, em que suas realizações estejam subordinadas tanto a �ns quanto condições; a moralidade, neste sentido, diz respeito ao fundamento da bondade dos atos, averiguando em que consiste o bom. DEONTOLOGIA Sentido que se opõe, no entanto, ao termo puro deontologia, este criado por Jeremy Bentham (1748-1832), numa obra póstuma (1834), Deontology or the Science of Morality (Deontologia ou a Ciência da Moralidade), signi�cando estudo empírico dos diferentes deveres relativo a uma situação social dada (LALANDE:1999,239): para Kant, quando agimos como seres racionais, e sendo a razão a faculdade que alcança o que é universal (válido para todos os homens), a boa vontade, ao agir pelo dever, atua de modo universal. Ou seja, os motivos que guiam as diversas ações humanas devem se tornar leis universais para todos os homens.
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