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TRANSFORMANDO O
SISTEMA DE INDICADORES
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO GLOBAL SOB A ÓTICA DO MEG
1ª EDIÇÃO
Autor: Marco Antonio Nutini
EXEMPLAR
EXCLUSIVO
PARA FILIADOS
SUPERINTENDENTE-GERAL FNQ
Jairo Martins da Silva
AUTOR
Marco Antonio Nutini
COLABORAÇÃO
Caterine Berganton
Gustavo Utescher
Kamila Mota
Regina Aguiar
EDIÇÃO
1ª Edição
PRODUÇÃO GRÁFICA E REVISÃO
Inah de Paula Comunicações
DIREÇÃO DE ARTE
Inah de Paula Comunicações
IMPRESSÃO
Gráfi ca Stilgraf
TIRAGEM
3000 exemplares
AGRADECIMENTO
"Agradeço ao apoio e incentivo de todos
meus colegas da FNQ: funcionários,
avaliadores e especialistas, a quem
considero como irmãs e irmãos. Porém,
acima de tudo e todos, agradeço à
minha esposa, Anete; sem seu carinho,
compreensão e estímulo, este livro não
teria se concretizado."
Marco Antonio Nutini
Av. das Nações Unidas, 13.797
Conjunto Morumbi — Bloco III — 16º andar
CEP: 04794-000 — São Paulo — SP — Brasil
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REALIZAÇÃO
© 2015 FNQ – Fundação Nacional da Qualidade – todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio
consentimento, por escrito, da FNQ.
FNQ – Fundação Nacional da Qualidade
Transformando o Sistema de Indicadores – São Paulo, 2015.
ISBN 978-85-8139-025-3
1. Indicadores de Desempenho. 2. Excelência Empresarial. 3. Gestão.
4. Medição do desempenho. 5. Desempenho organizacional. 6. Monitoramento
7. Modelo de Excelência da Gestão
SUGESTÕES
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FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE
TRANSFORMANDO O
SISTEMA DE INDICADORES
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG
ISBN 978-85-8139-025-3
TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES
1ª Edição - 200 páginas
1ª Edição | Junho/2015
© 2015 FNQ – Fundação Nacional da Qualidade – todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio
consentimento, por escrito, da FNQ.
FNQ – Fundação Nacional da Qualidade
Transformando o Sistema de Indicadores – São Paulo, 2015.
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2222
2525
2626
3030
3737
3838
PRÓLOGO
Histórico e Propósitos da Publicação
Desafi os da Publicação
O que não esperar da publicação
Panorama geral da gestão do desempenho
Sinopse do conteúdo
Dize-me como medes e dir-te-ei
como gerencias
MEG e outros modelos
O porquê do título
Sistema de indicadores não é óleo de cobra
CONCEITOS BÁSICOS
Defi nição de Indicador
O adjetivo “de desempenho”
Função de um indicador
Conectando os indicadores para formar
um sistema
A observação afeta a ação
As causas das fragilidades dos sistemas
SELEÇÃO DE ATRIBUTOS
RELEVANTES
Por que atributos são importantes
A importância do modelo causal para
o aprendizado
Seleção de atributos por dedução
da estratégia
Seleção de atributos com base na
experiência disponível
1
2
CAPÍTULO
CAPÍTULO
7
2121
4343
88
1010
1111
1212
1414
1515
1616
1717
1818
4444
4646
48 48
6969
SUMÁRIO
EXEMPLAR
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SCORECARDS, METAS E
RECONHECIMENTO
Mapa do desdobramento
Sistemas de reconhecimento
Revisão do sistema de metas
Os insumos para a geração de metas
Estruturação do scorecard
Diagnóstico de um sistema de metas
5
CAPÍTULO 131131
133133
134134
136136
138138
142142
145145
SISTEMIZAÇÃO DA
ÁRVORE DE INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Incorporando o sistema de indicadores no
sistema de gestão do desempenho
Insumos e produtos do sistema de indicadores
Análise crítica do desempenho global
A questão dos referenciais comparativos
O desafi o de demonstrar causa e efeito
Elaboração de comentários
4
CAPÍTULO 9797
98 98
103103
110110
112112
119119
128128
ENCADEAMENTO DE
ATRIBUTOS E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Vantagens e desvantagens dos frameworks
mais conhecidos
Confecção da árvore de atributos e indicadores
Como julgar indicadores
Uso de proxies e outras soluções
3
CAPÍTULO 7575
7777
8585
8989
9494
ANEXO
ATRIBUTOS E INDICADORES MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
Atributos de controladores, acionistas, fi nanciadores e
indicadores econômico-fi nanceiros
Atributos da sociedade e indicadores socioambientais
Atributos de clientes e indicadores de clientes e mercado
Atributos e indicadores das pessoas
Atributos e indicadores da cadeia de valor
Atributos e indicadores de fornecedores e parceiros
Atributos e indicadores dos ativos, recursos e competências
149149
151151
160160
169169
177177
184184
189189
192192
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PREFÁCIO
Se alguém ainda acredita que indicadores são um aglomerado de
dados e números que não dizem nada sobre a gestão de uma empresa,
esta publicação é contraindicada.
Agora, se você considera que os indicadores são indissociáveis de uma boa
gestão, está no caminho certo e se surpreenderá com o trabalho a seguir.
A publicação “Transformando o Sistema de Indicadores” foi
minuciosamente elaborada para que você conheça tudo o que está
relacionado à vanguarda do assunto, considerando, principalmente,
a volatilidade dos cenários das últimas décadas, os novos desafi os
enfrentados pelos empresários diante dos conceitos da gestão
moderna, que considera todas as partes interessadas e, ainda, a
sustentabilidade expressa pelo Triple Bottom Line.
Os indicadores são, sem dúvida, diário de bordo de uma organização
para medir o seu desempenho, avaliar a efi ciência e a efi cácia dos seus
processos, diagnosticar problemas e tomar decisões assertivas de curto,
médio e longo prazos.
Aqui, você encontrará as formas de estabelecer indicadores
apropriados, além de aprender a gerenciá-los de maneira que o
auxiliem na gestão da sua organização.
O grande diferencial do material, no entanto, fi ca por conta do Anexo,
que traz uma visão crítica de atributos e indicadores mais usados
no mercado. Um abrangente material de consulta para o dia a dia
da gestão das organizações que têm a excelência operacional como
estratégia principal.
A nova publicação é resultado de horas de dedicação voluntária de
especialistas que encontram, na Fundação Nacional da Qualidade,
uma parceria de sucesso e um fórum de debates na busca constante da
excelência da gestão em toda a sua amplitude, discussão que o Brasil
tanto necessita e almeja.
Desejo a todos uma ótima leitura e um aproveitamento profundo de
todo o conteúdo.
Jairo Martins da Silva
Superintendente-geral da FNQ
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PRÓLOGO
“O que nós medimos e como
nós medimos determinam
o que será considerado
relevante, e determinam,
consequentemente,
não apenas o que nós
enxergamos, mas o que nós –
e outros – fazemos.”
Peter Drucker, Management, 1974
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PRÓLOGO HISTÓRICO E PROPÓSITOS
DA PUBLICAÇÃO
A importância dos indicadores para a gestão é inquestionável. Desde
sua primeira edição, nosso Modelo de Excelência da Gestão (MEG)
vem enfatizando o papel fundamental ocupado pela competência de
uma organização em medir desempenho e em aprender com isso para
tomar decisões.
Em 1999, criamos um Comitê Temático coordenado pelo autor para debater
as potenciais convergências ou divergências do MEG com as então recentes
metodologias para tratamento de indicadores estratégicos, com destaque
para o Balanced Scorecard. No ano seguinte, as conclusões do Comitê foram
transformadas em curso e em uma publicação do Relatório Final do Comitê,
a qual, devido a seu sucesso, teve sua segunda edição publicada em 2002
(conduzida por Ricardo Motta) e uma terceira em 2011 (por Orlando Pavani
e Rafael Scucuglia), ambas as edições também muito bem recebidas.
Muita coisa mudou no mundo, no Brasil e no MEG em 16 anos,
mas as premissas do material do Comitê, bem como as adições das
revisões subsequentes, continuam válidas. Por outro lado, outras
necessidades surgirame acarretaram novas preocupações para os
executivos, sobre as quais os sistemas de indicadores precisam refletir.
Dentre outros eventos, testemunhamos:
· A crescente agilidade imposta às decisões, exigindo maior
planejamento e disponibilidade de informações quantitativas;
· A prevalência da teoria das partes interessadas como base da teoria
moderna da gestão empresarial, tendo como pano de fundo a
Sustentabilidade e o conceito de triple bottom line;
· A derrocada de empresas cuja gestão e cujos sistemas de indicadores
aparentavam robustez;
· A evidente superioridade dos resultados das empresas inovadoras e
que atuam em ecossistemas abertos.
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PRÓLOGO
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
A 20ª edição do MEG, publicada em 2014, acolheu respeitosamente essas
grandes mudanças. Em consequência, o curso de Sistema de Indicadores
foi amplamente revisado para alinhamento de conceitos e prioridades e
agora resulta neste livro, fundamentado no refinamento dos conceitos
proporcionado pelo exercício didático.
Além de manter a coerência com o modelo, o principal propósito da FNQ
é estimular a direção das organizações brasileiras a avaliar seu próprio avaliar seu próprio
desempenho de forma abrangente, tecnicamente correta, corajosa e desempenho de forma abrangente, tecnicamente correta, corajosa e
com mente abertacom mente aberta, todas elas condições essenciais para o aprendizado
organizacional e para a Sustentabilidade.
Outros efeitos positivos esperados do curso e do livro são:
· Esclarecer eventuais dúvidas surgidas na absorção do MEG por novos
praticantes, por meio do aprofundamento de questões relevantes
colocadas pelo modelo sobre o tema de indicadores;
· Uniformizar conceitos de avaliação do desempenho de empresas e
instituições, com base em contexto estratégico, reduzindo dispersão e
controvérsias desnecessárias entre praticantes e avaliadores;
· Facilitar a compreensão do processo de análise crítica do desempenho,
conforme preconizado pelo MEG.
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10 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
PRÓLOGO DESAFIOS DA PUBLICAÇÃO
Estamos plenamente conscientes de que esta publicação busca atender às
necessidades de vários públicos, com perfis diversos, desde o praticante
novato com prioridades operacionais até ao executivo experiente com
ênfase estratégica, passando por avaliadores, tanto externos como internos.
Tentamos alcançar um balanceamento dessas necessidades, expressas nos
cursos e nos diálogos da FNQ com suas partes interessadas.
Um segundo desafio (cá para nós, bastante complexo) foi evitar que
o responsável pela compilação e elaboração do material do curso e da
publicação se afastasse do senso comum trazido pelo conhecimento coletivo
de todos que militam junto à FNQ e que enveredasse por caminhos,
digamos, individualistas. Sendo assim, para deixar claro quando uma opinião
ou parecer é individual do autor, foi empregada a primeira pessoa do singular.
Nesse caso, a FNQ deve ser eximida de qualquer responsabilidade por algo
formulado por uma única pessoa. Outrossim, o nósnós prevalece, caracterizando
o pensamento coletivo dos especialistas da FNQ. Agradecemos, em especial,
aos especialistas da FNQ: Fabio Santana Dias, Ricardo Motta, Antonio
Tadeu Pagliuso e Antonio João Correia Barata, co-instrutores do curso de
Sistema de Indicadores da FNQ, que analisaram criticamente vários dos
conceitos mais controversos aqui defendidos.
As metodologias mencionadas ao longo do livro são amplamente conhecidas,
estando disponíveis publicamente. Procuramos ao máximo evitar a prescrição
de técnicas, mesmo tendo noção de que a fronteira entre o que é ou não
prescrição seja um tanto tênue.
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11
PRÓLOGO
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
O QUE NÃO ESPERAR
DA PUBLICAÇÃO
Este livro não ensina técnicas de elaboração de relatório para candidatura
ao Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), ainda que reconheçamos a
utilidade do livro para alguém que queira compreender as demandas do
Critério 8 do MEG.
Embora este livro seja editado e publicado pela FNQ, ele nãonão deve ser
entendido como componente ou anexo do MEG. O tema de sistema de
indicadores é, de fato, um aprofundamento em um aspecto do MEG, mas
este trabalho não caracteriza uma posição oficial da FNQ sobre o tema;
sendo assim, deve-se ter cautela no uso das terminologias e metodologias
preconizadas, quando esse uso tem o único fim de justificar adequação a
requisitos do MEG em processos de avaliação conduzidos pela FNQ.
Não espere fórmulas mágicas para criar indicadores “bacanas”. Em relação a
esse assunto, não há soluções simples. Seja paciente e ponha a mão na massa,
pois trabalhar com indicadores exige ampla experiência e requer vivência em
negócios. Os frutos desse labor serão compensadores.
Outra coisa que o livro não aborda é como lidar com uma alta direção que
não esteja engajada na transformação do sistema de indicadores. Esse é um
tema fascinante, mas que escapa ao escopo da publicação. Entendemos que
é uma situação complicada, enfrentada por muitos praticantes. Se for esse o
caso, quem sabe, se você fizer seu superior ler este livro, ele (ou ela) não se
interessa e passa a se envolver mais e a lhe dar ouvidos?...
O livro dá inequívoca prioridade aos aspectos conceituais da mudança
necessária para que um sistema de indicadores esteja alinhado à busca da
excelência da gestão, não sendo este um manual técnico para construção
de dashboards ou scorecards, nem apoiando a seleção de produtos para
informatização do sistema de indicadores.
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12 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
PRÓLOGO PANORAMA GERAL DA
GESTÃO DO DESEMPENHO
Houve um avanço significativo nos últimos trinta anos no Brasil, na área
de medição do desempenho, a partir da implantação dos programas da
Qualidade Total na década de 80, passando pela introdução de ferramentas
de integração nos anos 90, tais como o Balanced Scorecard e os sistemas ERP,
além do advento das normas ISO e dos modelos para sistemas de gestão,
todos eles obviamente interconectados e dependentes da qualidade dos
indicadores que uma determinada organização adota.
Entretanto, mesmo em empresas com gestão sofisticada e madura, ainda
há muito a aprimorar na área de gestão do desempenho. Os sistemas de
indicadores continuam voltados para o próprio umbigo das empresas, sendo
dominados pelos esquemas de orçamento, metas e remuneração variável,
como veremos adiante. Isso não ocorre somente no Brasil, como a crise de
2008 teve a oportunidade de comprovar. Generalizando, os sistemas de
indicadores apresentam três fragilidades principais:
· Não medem os impactos da organização nas partes interessadas e o
comportamento delas perante esses impactos. Em outras palavras, são
deficientes em indicadores finalísticos;
· Não estimulam comparações com outras organizações e, sendo assim,
não medem desempenho real;
· Têm foco no curto prazo. Não avaliam risco e não apoiam projeções
futuras, especialmente fora do ambiente financeiro.
Diversas pesquisas internacionais(1) vêm revelando que, há pelo menos
20 anos, existe uma situação paradoxal e crônica no mundo empresarial: a
maioria dos executivos (sempre mais de 80% dos entrevistados) de grandes
empresas privadas e de entidades do setor público acredita que o sistema
de indicadores e gestão do desempenho é uma ferramenta essencial para a
sustentação do negócio; no entanto, cerca de metade desses executivos acha
que o sistema de sua organização é eficaz em realizar sua função.
1. Towers Watson – A Study on
Performance Management
practices in the UK - 2014,
PABC Survey of Developments
in Performance Measurement
Structures in Public Sector
Entities - 2008, Mercer GlobalPerformance Management
Survey - 2013, PWC European
Corporate Survey – 2008-2009,
Institute of Management
Accountants Survey - 1996.
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13
PRÓLOGO
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Dessa metade, somente 25% entendem que o sistema influencia o
desempenho de todos os que trabalham para a organização. Confirmando
esse ponto de vista, a pesquisa da Mercer de 2013 sobre sistemas de
avaliação individual de desempenho mostrou que míseros 3% das
empresas entendem que seu sistema de avaliação entrega valor superior,
demonstrando ainda haver a percepção de falta de alinhamento estratégico
entre a organização e o indivíduo que nela atua. A mesma pesquisa aponta
que 71% dos gestores intermediários não estão preparados para desenvolver
objetivos adequados para suas equipes, no entendimento dos executivos do
alto escalão.
A experiência pessoal dos especialistas da FNQ nos faz acreditar que a
maioria dos executivos e conselheiros de grandes grupos empresariais
brasileiros está insatisfeita e adoraria renovar o sistema de indicadores –
se tivessem o tempo, o recurso e a oportunidade. Além das fragilidades
acima mencionadas, também são fontes de insatisfação: a dificuldade para
explorar relações de causa e efeito e fazer análises mais profundas com
maior agilidade; a dificuldade para orientar a medição do desempenho
para processos, ao invés de áreas funcionais; e a resistência dos gestores
intermediários para aceitar sistemas complexos de medição.
Muitos desses líderes insatisfeitos cobram as áreas responsáveis por
aprimoramento, mas sem desdobrar essa pretensa ação em uma iniciativa
coletiva. O resultado é óbvio: o sistema não progredirá só com cobranças
isoladas, pois isso depende de consenso e de mudança de cultura
organizacional. Outro desvio de conduta muito comum é tratar melhoria de
sistema de indicadores como projeto de TI, resultando na famosa síndrome
de asfaltar o caminho da vaca. Afortunadamente, em seu trabalho de
consultoria, o autor tem se deparado com executivos que entendem muito
bem as questões conceituais envolvidas e que dispararam iniciativas de
amplo espectro. Torcemos para que eles sejam apenas pequena amostra de
um grande universo de executivos, ávidos por extrair o maior valor possível
do sistema de suas organizações. É a esses executivos e conselheiros,
bem como àqueles que estão, ou serão, incumbidos por eles de operar tal
transformação, que este livro é destinado.
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14 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
PRÓLOGO SINOPSE DO CONTEÚDO
Nossa primeira preocupação foi uniformizar alguns conceitos que,
à primeira vista, parecem já estar consolidados. Isso ainda não é realidade,
em especial quando adicionamos o tempero semântico da nossa língua mãe.
O capítulo 1, Conceitos Básicos, lida com essas armadilhas e pavimenta a
compreensão sobre o papel do sistema de indicadores no processo decisório
de uma organização.
O Capítulo 2 explica como identificar e mapear os atributos relevantes para
o contexto estratégico da organização. Nossa experiência indica que esse é o
principal calcanhar de Aquiles dos sistemas de indicadores.
No Capítulo 3, buscamos desenvolver o pensamento sistêmico e trazer o
conceito de causa e efeito para o âmbito prático, por meio da concepção de
uma árvore de atributos e indicadores. Se tivermos sucesso, você perceberá a
importância de questionar a finalidade dos indicadores e seu papel dentro do
modelo mental que norteia decisões dentro da empresa.
Discutimos ainda, neste capítulo, as formas de estabelecer indicadores
apropriados e gerenciá-los, de maneira que sejam úteis e honrem sua
finalidade. Você conhecerá uma entidade abstrata – o indicador ideal –, que
ainda não foi visto por um ser humano, e aprenderá a questionar a qualidade
técnica dos indicadores existentes.
O capítulo 4 contempla a necessidade de capturar as relações de causa
e efeito usadas nas decisões no software de gestão de desempenho, para
permitir a criação de sistemas de monitoramento (dashboards) adequados.
A seguir, explicamos como deve ser conduzida uma avaliação do
desempenho organizacional no âmbito estratégico.
O interesse por métodos de desdobramento dos indicadores estratégicos para
dentro da estrutura organizacional tem sido enorme nos cursos. O Capítulo 5
explora abordagens possíveis e analisa os desafios referentes à implantação
de um sistema de metas e de reconhecimento baseado em resultados.
O livro é encerrado com um Anexo, na forma de guia dos indicadores mais
usados em cada atributo padrão do MEG, com discussão de prós e contras.
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PRÓLOGO
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
DIZE-ME COMO MEDES E DIR-TE-EI
COMO GERENCIAS
O sistema de indicadores é a espinha dorsal da gestão, andando de mãos
dadas com os planos estratégicos. A capacidade de medir o que aconteceu,
de aprender e de projetar cenários futuros com a informação obtida é a
própria essência da gestão. Um sistema de indicadores competente faz
a conexão do passado conhecido e medido com o futuro desconhecido e
imaginado, possibilitando melhores decisões no presente. Quanto maior é
o porte da organização, mais crítica é a função do sistema de indicadores
na qualidade da gestão, posto que os altos executivos tendem a ficar mais
afastados da realidade operacional. Fascinantes tragédias empresariais
tiveram sua origem em falhas dessa competência, sendo que alguns desses
casos ótimos para estudo estão discutidos ao longo do livro.
Após quase três décadas de diagnósticos e de muitas centenas de avaliações
formais de modelos de gestão, hoje a equipe de avaliadores seniores da FNQ
consegue ter uma boa ideia da maturidade da gestão de uma empresa com
base na análise dos indicadores acompanhados internamente no dia a dia e
dos indicadores divulgados ao mundo externo. Um sistema de indicadores
eficaz reflete processos gerenciais adequados e, por conseguinte, gestão
madura. Tentaremos passar essa experiência coletiva ao leitor, mesmo
sabendo do desafio que é traduzir experiência em conhecimento explícito.
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16 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
PRÓLOGO
MEG E OUTROS MODELOS
Este livro não defende um modelo específico de gestão do desempenho
ou alguma corrente teórica radical. Os principais frameworks(2) tratados na
literatura estão apresentados de forma isenta, esperamos. O framework
sugerido no livro é bastante genérico e democrático, visando somente a
facilitar a compreensão das escolhas que precisam ser exercidas quando
concebemos um sistema de indicadores.
O arcabouço conceitual do livro é o Modelo de Excelência da GestãoModelo de Excelência da Gestão®
(MEG)(MEG) da FNQ, obviamente. O MEG é uma consolidação, ou um
compêndio, das grandes tendências em gestão validadas pela academia e
pelos autores reconhecidos. Nada que está no MEG viola alguma crença
fundamental ensinada em todo MBA ou em qualquer faculdade de
administração séria no planeta.
2. Peço desculpas ao leitor, pois
framework é uma palavra
complicada para traduzir
em linguagem de negócios:
moldura de trabalho não
é exatamente um termo
popular. Framework é o
termo empregado para um
padrão derivado de alguma
metodologia, em que
precisamos preencher espaços
em branco de uma forma
preconcebida. Alguns autores
têm usado a palavra Canvas,
com o mesmo significado.
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17
PRÓLOGO
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
O PORQUÊ DO TÍTULO
De acordo com Drucker, medir é uma das atribuições fundamentais
e inescapáveis de um gestor. Da padaria da esquina ao grande grupo
farmacêutico, passando por bancos, quitandas, hotéis e usinas hidrelétricas,
toda e qualquer organização játem um sistema de indicadoresqualquer organização já tem um sistema de indicadores. Esse sistema,
neste exato momento em que você lê, está em algum ponto de uma escala
que vai do extremo informalismo à sistematização total. O fato de usarmos
a palavra sistema não significa que presumimos a obrigatoriedade de haver
um sistema informatizado, mas, sim, de que não há gestão possível sem o
acompanhamento de um conjunto de indicadores que contenha premissas
implícitas ou explícitas de causa e efeito. Certamente, o dono da padaria
do bairro onde você mora monitora o preço e o consumo de farinha, a
quantidade de pães produzidos e o consumo de energia elétrica do forno,
conseguindo estimar o quanto os resultados desses indicadores afetarão o
resultado final do seu negócio.
Por conta dessa constatação, este livro é sobre transformar, repensar, transformar, repensar,
renovarrenovar, e não sobre iniciar ou criar do zero. É sobre aumentar a potência e a
relevância do sistema de indicadores vigente.
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18 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
PRÓLOGO SISTEMA DE INDICADORES NÃO É ÓLEO
DE COBRA(3) OU POÇÃO MÁGICA
Não há dúvida de que medir corretamente o desempenho de uma organização é
uma ferramenta essencial na reviravolta de uma gestão deficiente ou ineficaz por
gente bem intencionada, ou simplesmente para manter a competitividade em
patamares condizentes com a ambição dos controladores.
Infelizmente, uma empresa com gestão executiva fraudulenta pode aparentar
ter um ótimo sistema de indicadores, o qual pode ser manipulado, maquiado,
torcido e torturado até confessar – durante um certo tempo, até porque matéria
fecal sempre acaba flutuando. O sistema de indicadores não salva por si só
essa situação, pois sempre estará subordinado aos fraudadores. Por outro lado,
se a governança da organização for concreta, os controladores sempre terão
a oportunidade de usar o sistema de indicadores a seu favor. Os que não o
fizeram e deixaram o excremento acumular não podem reclamar.
Em 2002 e 2008, todos nós que batalhamos na área de excelência da gestão
ficamos entusiasmados com a perspectiva de que, enfim, os conselhos de
administração iriam despertar para a importância de aferir a qualidade da
gestão que, supostamente, são responsáveis por supervisionar. Foram dois
períodos emblemáticos, em que ocorreram colapsos importantes de sistemas
de governança e de regulação nos EUA, cujos principais ícones foram a Enron
e o Lehman Brothers. Como você já deve ter percebido, pouco mudou, e
ainda vemos que as empresas são vulneráveis à teimosia radical ou à mera má
intenção dos executivos. É claro que você deve ter associado essa opinião aos
casos que estão na mira da mídia (no início de 2015, Petrobras e OGX, em
especial. Há alguns anos atrás, chamaram atenção os casos de empresas que
estavam apostando em derivativos atrelados a câmbio, como a Sadia, e que quase
naufragaram na crise de 2008). Ex post (após o fato) é comum que os conselheiros
aleguem que não sabiam de nada – e, na maioria dos casos, não sabiam mesmo.
Por outro lado, será que é possível medir ex ante superfaturamento de contratos,
ou exposição a derivativos, ou incerteza geológica em exploração de petróleo, de
modo a tomar alguma ação corretiva antes de a coisa cheirar mal? Depende da
sensibilidade que você quer da medição: 200 reais de desvio talvez seja difícil de
captar, mas 80 bilhões de discrepância em valor de ativos... sim, um sistema de
indicadores eficaz deveria revelar.
3. Segundo Moacyr Scliar,
no site da ABL
(http://www.academia.org.br/)
“A expressão snake oil, óleo de
cobra, é geralmente usada nos
Estados Unidos para designar
substâncias supostamente
medicamentosas que na
verdade não passam de ilusão,
de fraude. Snake Oil Science,
foi o título que o pesquisador
norte-americano R. Barker
Bausell escolheu para dar a um
livro recentemente publicado
pela importante editora da
Universidade de Oxford.”
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CONCEITOS
BÁSICOS
1CAPÍTULO
“Uma coisa eu aprendi em
minha longa vida: que a
nossa ciência, medida contra
a realidade, é primitiva e
infantil – e que, ainda assim,
é a coisa mais preciosa
que temos.”
Albert Einstein
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22 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
4. O emprego dos dois termos
a seguir, com o significado de
indicador, é comum, embora
tecnicamente incorreto.
Parâmetro: um fator mensurável
de um modelo que tenta
explicar matematicamente um
objeto, evento ou fenômeno.
Variável: a representação
operacional de um
determinado parâmetro
ou atributo ao longo de
uma escala. Pode ser uma
quantificação direta ou a
descrição de um estado
qualitativo ou sensorial (p. ex.,
liso-áspero, alegre-triste).
DEFINIÇÃO DE INDICADOR
Antes de entrarmos no conceito de sistema, vamos ao que é básico mesmo:
a semântica. Português é uma língua rica e, quando aplicada à linguagem de
negócios, pode migrar de rica para confusa. Vários termos são utilizados na
literatura de forma intercambiável com o termo “indicador”: medição, métrica,
parâmetro(4), variável, dado, informação quantitativa, dentre outras, são algumas
das palavras empregadas alternativamente a indicador.
O MEG 20ª edição (no Glossário, à pág. 119) define indicador desta forma:
informação quantitativa ou fato relevante que expressa o desempenho de um
produto ou processo, em termos de eficiência, eficácia ou nível de satisfação, e
que, em geral, permite acompanhar sua evolução ao longo do tempo.
A definição do MEG é oriunda do fato de que um indicador é o produto final de
uma cadeia que se inicia na necessidade de observar um objeto, um evento ou
um fenômeno.
Necessidade de observar objeto Seleção do atributo Defi nição da métrica
Medição Dados Informação quantitativa Indicador
Compreensão do comportamento do objeto
MediçãoMedição é o primeiro ato do conjunto de atividades que a ciência denomina
de observaçãoobservação. Medição é o ato de designar um número à comparação de um
atributo ou característica do objeto observado com um padrão predefinido
(a métricamétrica, ou seja, a técnica escolhida para medir). Cada medição gera um
dadodado. A interpretação desse dado, que ocorre quando analisamos o contexto
do objeto observado (ou seja, outras características do objeto e o ambiente ao
redor do objeto), vira informação quantitativainformação quantitativa, porque o dado, a partir desse
momento, pode ser associado a esse contexto.
Quando a informação quantitativa pode ser comparada com outra informação
quantitativa para julgarmos o comportamento do objeto, obtemos um
indicador. Em outras palavras, um indicador é uma informação quantitativa um indicador é uma informação quantitativa
relativizada de forma a permitir a avaliação do comportamento de um objetorelativizada de forma a permitir a avaliação do comportamento de um objeto
(ou evento, ou fenômeno).
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23
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Vejamos o exemplo de um médico que deseja observar o sangue (que é o
objetoobjeto, no caso) de um paciente e pede um hemograma. O laboratório colhe
o sangue para avaliar sua propensão para formar ateromas (um atributoatributo do
objeto), aquelas placas perigosas nas artérias, pois alguém inventou um
método padronizado (a métrica) que permite atribuir um número a essa
característica. O laboratório analisa a amostra de sangue (a mediçãomedição), e o
médico recebe um dado de volta, chamado taxa de colesterol total no sangue.
Ele consegue interpretá-lo, porque existem tabelas de normalidade para
colesterol em função da idade e de outros fatores. Com base no contexto
daquele paciente, ele já pode traçar umalinha de tratamento ou
de prevenção.
Se o paciente repetir o exame dali a seis meses, o médico será capaz, com as
duas informações quantitativasinformações quantitativas disponíveis, de avaliar o comportamento do
paciente e o impacto do conteúdo de colesterol em seu organismo.
Isso é possível, não apenas porque ele pode traçar um gráfico de tempo
– nossa associação mental imediata com indicadores –, mas porque ele
começou a ter conhecimento suficiente para julgar comportamento. Para
isso é que serve um indicadorindicador. A fig. 1 mostra como a taxa de colesterol
é apresentada na forma correta, com os referenciais de normalidade e
as informações que são “irmãs” dessa última. A taxa de colesterol é um
indicador que permite avaliar o risco de o sangue depositar ateromas nas
artérias, que é um atributo.
Fig 1. O que é necessário para ser um indicador
COLESTEROL TOTAL..................................................: 102 mg%
Material....: Sangue Método: Colorimétrico enzimático - Automação Cobas 6000
Referência: Desejável: < 200 mg% / Limite: 200-239 mg% / Alto: > = 240 mg%
Nota..........: Valores de referência segundo V Diretriz Brasileira de Dislipidemias
e Prevenção da Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
“ Valores de Colesterol Total >= 310 mg/dl podem ser indicativos de Hipercolesterolemia Familiar (HF)”
Data de coleta: 15/01/2015 - Data de Liberação: 16/01/2015
Protocolo Entrada Resultados Anteriores
14-00-104127 24/02/2014 113 mg%
13-00-088514 28/10/2013 92 mg%
13-00-072588 05/07/2013 184 mg%
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24 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Voltando agora aos negócios, há três métodos tradicionais de relativização
de uma informação quantitativa: compará-la a suas irmãs, obtidas ao longo
do tempo, como no exemplo do colesterol; compará-la a uma informação
equivalente de outra organização (no caso do colesterol, os referenciais de
normalidade); e compará-la a um valor acordado com uma parte interessada.
Para um avaliador externo à organização, o ato de relativizar uma informação
frente a uma meta interna não caracteriza desempenho: em avaliações
formais pelo MEG, por exemplo, as metas internas não são consideradas,
pois, de alguma forma, são ancoradas nos outros três métodos, ou seja, não
caracterizam um tipo diferente de relativização.
A visualização convencional do indicador na forma de um gráfico de
barras ou linhas é a representação do primeiro tipo de comparação: entre
informações quantitativas que são irmãs, distribuídas no tempo em que
foram geradas (fig. 2).
Polaridade: sentido desejável
Limite máximo de controle
mg/dl
200
184
92
113 102
100
TEMPO
ATRIBUTO: Sangue sem propensão a causar ateromas
CONTEXTO:
Fig 2. Gráfico clássico de tempo: Taxa de Colesterol Total
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25
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
O ADJETIVO “DE DESEMPENHO”
No âmbito empresarial, nem sempre um indicador é empregado para
avaliar desempenho. Indicadores podem ser usados para muitos outros fins,
tais como:
· Alertar sobre uma situação anormal;
· Diagnosticar um risco (p. ex., colesterol);
· Manter um processo sob controle;
· Influenciar o comportamento das pessoas;
· Estudar o relacionamento entre processo e produto;
· Estudar a influência do produto no cliente;
· Estudar a influência das iniciativas da empresa no comportamento
das partes interessadas.
Embora o termo “indicador de desempenho” seja usado, no dia a dia, e em
todas as situações acima, por uma questão de correção semântica, usaremos o
termo “sistema de indicadores”, sem o “de desempenho”, evidenciando que
o sistema de que falamos abrange todos os tipos de indicadores.
FATOS RELEVANTES PODEM SER VISTOS COMO INDICADORES
Como já vimos, a definição de indicador do MEG aceita que um fato relevante
possa ser considerado um indicador. São exemplos de fatos relevantes:
· Um hospital tem um certificado ONA;
· O sistema de gestão ambiental de uma fabricante de tintas é certificado
pela ISO 14001;
· Uma desenvolvedora de software foi bem classificada em um ranking
de produtos;
· Um hotel foi reconhecido como uma das melhores empresas para trabalhar
no Brasil.
Para um avaliador externo, esses fatos permitem aferir a qualidade da gestão
da organização e devem ser levados em consideração em avaliações pelo MEG,
sendo transformados em indicador com base na relativização do fato relevante.
Para tal, a informação deve ser comparada por um dos três métodos
referidos anteriormente.
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26 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
FUNÇÃO DE UM INDICADOR
Por qualquer ângulo que você tentar compreender a função de um indicador,
vai chegar à conclusão de que ele só tem uma: apoiar decisõesapoiar decisões. Foi para isso
que ele nasceu, afinal. O objeto da decisão é que varia:
· Deixar o processo como está?
· Parar alguma atividade?
· Mudar a estratégia?
· Reformular o produto?
· Reduzir o risco?
· Melhorar a oferta de valor a um segmento de clientes?
· Recompensar o pessoal?
· Pressionar uma unidade para resolver uma questão ambiental?
· Promover um recall do produto?
· Alterar a meta de um processo de suporte?
· Interromper o serviço no site agora ou mais tarde?
· Reinvestir o lucro no próprio negócio?
· Trocar a diretoria?
· Emprestar dinheiro para a empresa?
Indicadores realizam sua função muito melhor quando estão em grupo – em
outras palavras, formando um sistema.
Decisões que concernem à organização são tomadas continuamente, o tempo
todo, interna e externamente (vide os três últimos exemplos na lista acima)
à organização, em todos os níveis, desde o estratégico de longo prazo até o
mais operacional possível. Em um extremo, podem ser tomadas baseadas
apenas em experiência e instinto; no outro extremo, por um algoritmo
matemático. Indicadores existem para evitar o primeiro extremo, ou seja,
permitir que decisões tomadas no âmbito humano sejam aprimoradas pelo
método científico.
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27
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
O segundo extremo, o tal algoritmo matemático que está na moda, não é o
foco deste livro, pois só existe, na prática, no âmbito de processos regidos por
regras bem definidas, tais como a lei da gravidade de Newton. Infelizmente,
nosso sonho de ter um modelo quantitativo que tenha como insumo os dados
que estão sendo gerados em campo e como saída indicadores atualizados,
incluindo sua relativização, permanece um sonho de ficção científica (fig. 3).
Informações Quantitativas
Medições
Sistema de Indicadores
Fig 3. Um sonho coletivo
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28 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Por outro lado, o método científico, quando usado de forma consciente e
deliberada em decisões humanas sobre processos humanos, não mata ou
invalida a experiência e o instinto; muito pelo contrário, amplia seu poder.
A abordagem subjetiva é complementada pela objetiva, principalmente
quando a decisão é tomada em grupo (vide a tabela da fig. 4).
ABORDAGEM OBJETIVA ABORDAGEM SUBJETIVA
Sistema de Indicadores Informações qualitativas, sinais e sintomas
Método Cientí fi co (teoria e comprovação de causalidade) Intuição e gut feeling
Análise Estatística (modelo quantitativo) Análise Heurí stica (senso comum)
Referências validadas Experiências similares ("já vi esse fi lme")
Fig 4. Duas abordagens complementares
Qualquer ser humano razoavelmente inteligente aplica, mesmo que
inconscientemente, o método científico, pois sabe que confiar demais
em sua experiênciapode ser perigoso. Por conta dessa nossa característica,
não é surpreendente que grupos inexperientes em determinado campo
do conhecimento tomem decisões melhores e mais bem fundamentadas
que um grupo superexperiente, que já passou da fase de ter dúvidas.
O método científico formulado por Karl Popper(5), quando adaptado
à gestão empresarial, é composto pelos seguintes passos:
· Observamos um comportamento, seja de pessoas, ou processos,
ou clientes, ou produtos etc.;
· Separamos o sinal do ruído das observações;
· Formulamos uma hipótese sobre esse comportamento;
· Criamos um modelo de causa e efeito para planejar uma alteração do
comportamento observado;
· Testamos ou criticamos esse modelo para tentar falseá-lo e confirmar
sua robustez;
· Tomamos ação na causa, em magnitude adequada ao efeito que
desejamos provocar;
· Observamos o efeito, e o ciclo volta ao início ou é encerrado.
5. Karl Popper, em A Lógica da
Pesquisa Científica (1934),
desenvolveu o conceito de
que a única forma de defender
uma teoria é tentando falseá-
la. Segundo a Wikipedia:
“Popper argumentou que a
teoria científica será sempre
conjectural e provisória.
Não é possível confirmar a
veracidade de uma teoria pela
simples constatação de que
os resultados de uma previsão
efetuada com base naquela
teoria se verificaram. Essa teoria
deverá gozar apenas do estatuto
de uma teoria não (ou ainda
não) contrariada pelos fatos.
O que a experiência e as
observações do mundo real
podem e devem tentar fazer é
encontrar provas da falsidade
daquela teoria. Este processo
de confronto da teoria com as
observações poderá provar a
falsidade da teoria em análise.
Nesse caso há que eliminar essa
teoria que se provou falsa e
procurar uma outra teoria para
explicar o fenômeno em análise.
Em outras palavras, uma teoria
científica pode ser falsificada por
uma única observação negativa,
mas nenhuma quantidade de
observações positivas poderá
garantir que a veracidade de
uma teoria científica seja eterna
e imutável.”
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29
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
6. Deming não criou o PDCA
(PLAN, DO CHECK, ACT), mas
foi o responsável por sua
popularização. O PDCA é tratado
hoje como uma ferramenta
técnica. Para análise de decisões
de nível tático ou estratégico, o
termo mais usado é o adotado
pelo MEG: PDCL = PLAN, DO,
CHECK, LEARN.
7. Paul C. Nutt, Why Decisions Fail
- Avoiding the blunders and traps
that lead to debacles, Berrett-
Koehler Publishers, 2002.
Se você enxergou acima o bom e antigo ciclo de PDCA e o PDCL do MEG,
não é coincidência, eles são fundamentados no método científico. Toda
decisão pode, e talvez devesse, usar o ciclo tornado célebre por Deming(6).
É comum testemunhar o uso consciente do método científico em decisões
técnicas, mas é bem raro observar esse uso em decisões nos âmbitos
gerencial e estratégico.
Quando uma decisão tem que ser tomada muito rapidamente, o quinto passo
tende a ser suprimido – não há tempo suficiente para criticar o modelo e,
infelizmente, o método científico fica prejudicado. É estranho observar que
muitas decisões que tomamos na vida empresarial, mesmo em se tendo prazo
mais que suficiente, falham justamente nesse aspecto, criticar o modelo de
causa e efeito. E é aí, claro, que os indicadores encontram sua nobre missão,
que não é somente indicar.
Por volta de metade das decisões estratégicas tomadas nas organizações
falham, segundo o renomado especialista em teoria da decisão Paul
Nutt(7). Segundo ele, a principal causa de falha é a escolha prematura da
ação a ser tomada, seja por pressa, por vaidade, por agenda pessoal ou
por incompetência. O grupo decisor foca naquela solução já selecionada
previamente, e todo o esforço daí para a frente é dedicado a demonstrar sua
viabilidade econômica. Para não cair nessa armadilha, é necessário definir o
objetivo da decisão de uma forma isenta, bem como ter visão sistêmica das
opções de ação e das consequências de cada uma dessas opções.
Para isso, duas competências são cruciais: envolver pessoas com capacidade
crítica e medir as consequências das potenciais linhas de ação.
Ambas são promovidas pelo uso constante, sistemático e inteligente
de indicadores.
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30 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
CONECTANDO OS INDICADORES
PARA FORMAR UM SISTEMA
Se você quer selecionar indicadores úteis, você precisa compreender quais
são as decisões tomadas na organização, tanto em estado normal como em
estado de crise. Para tal, você precisa se colocar nos sapatos dos tomadores de
decisão e formular questões que, se bem respondidas, permitirão decidir os
destinos daquela instituição com maior chance de sucesso.
Imagine que você acabou de assumir a reitoria de uma universidade e que,
logo de cara, já aparece um desafio: vários docentes e técnicos deixaram
a instituição voluntariamente no último ano. Para entender o problema e
tomar algumas decisões para resolvê-lo, você vai, certamente, fazer uma série
de questões aos diretores e assistentes:
· Como o turnover voluntário tem se comportado nos últimos anos?
· Qual é a correlação com o clima organizacional?
· Qual é o perfil de quem se demitiu?
· Quais conhecimentos estão sendo retidos ou perdidos?
· Quanto havíamos investido no desenvolvimento desses profissionais?
Para algumas dessas questões, uma resposta qualitativa talvez seja suficiente;
para outras, você espera ver não somente números, mas indicadores, do jeito
que definimos acima.
Suponha que haja grande dificuldade e demora em obter os indicadores
que você quer analisar. Aliás, essa é a vida real, bem-vindo ao clube.
Passada a tormenta, se você for um gestor competente, vai solicitar que
seja desenvolvido um grupo de indicadores que permita tomar esse tipo de
decisão de forma mais proativa, visando a prevenir os problemas, para não ter
que passar a vida apagando incêndios (e daí faz o curso da FNQ).
Pois bem, resumindo: o sistema de indicadores deveria prover respostas às o sistema de indicadores deveria prover respostas às
questões sugeridas pelo contexto estratégico da organização, que podem e questões sugeridas pelo contexto estratégico da organização, que podem e
merecem ser respondidas quantitativamentemerecem ser respondidas quantitativamente.
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31
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
O que queremos dizer com “podem e merecem”? O sociólogo William B.
Cameron(8) disse (e não Einstein, como muita gente acredita):
Seria ótimo se todos os dados que os sociólogos precisam pudessem ser
transformados em números, porque aí nós poderíamos rodá-los em máquinas
IBM e desenhar gráficos, como fazem os economistas. Entretanto, nem tudo que
pode ser medido é importante, e nem tudo que importa pode ser medido.
Analogia aceita: nem todas as questões importantes sobre um negócio podem
ser respondidas quantitativamente. Além disso, cada indicador acarreta em
um custo para ser gerado; gerar dados é bem mais barato do que gerar um
indicador, pois é necessário relativizar e interpretar, o que, por enquanto,
somente um ser humano sabe fazer.
Muita gente pergunta como determinar se um indicador é bom; eu costumo
responder que um indicador sempre é horrível. Piadinhas à parte, o pior
indicador é o indicador solitário. Indicadores deveriam, por força de lei, andar
em grupo.
Agora, vamos arriscar uma definição.
SISTEMA DE INDICADORES
Um conjunto de indicadores que permite, por meio de modelos de causa e efeito
e sob vários ângulos, compreender o comportamento e o desempenho de uma
organização, estabelecer projeções em relação ao seu futuro e tomar decisões
bem fundamentadas.
O sistema de indicadores simplesmente reflete alógica implícita das
questões que fazemos para compreender o desempenho de uma organização.
É o lado visível de uma lógica complexa, a qual, mesmo com o ferramental
computacional disponível na atualidade, só existe no cérebro humano.
A comunidade financeira foi a pioneira na modelagem de sistemas de
indicadores, com o advento da célebre análise pelo modelo DuPont na
década de 20 (fig. 5). Os economistas e os financistas, de uma certa forma,
são felizardos, pois eles conseguem obter modelos quantitativos bastante
razoáveis com essa lógica (sem esquecer a famosa frase de George Box(9):
nenhum modelo representa a realidade, mas alguns até são úteis).
8. W. B. Cameron, Informal
Sociology: A Casual Introduction
to Sociological Thinking (1963).
9. G. Box e N. Draper, Empirical
Model Building and Response
Surfaces, John Wiley & Sons,
1987.
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32 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
D
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L
Vendas
Ativo Circulante
Lucro Líquido
Vendas
Exigível Total
Margem Líquida
Giro do Ativo Total
Custo dos Produtos
Vendidos
Ativo Realizável a LP
Vendas
Ativo Total
Patrimônio
Líquido
Patrimônio Líquido
Despesas Operacionais
Ativo Permanente
Despesas Financeiras
Passivo Circulante
Provisão IR
Passivo Exigível a LP
menos
mais
menos
mais
menos
mais
dividido por
dividido por
dividido por
mais
menos
mais
Passivo Total
Multiplicador de
Alavancagem
Financeira
Taxa de Retorno sobre
o Ativo Total
Taxa de Retorno sobre
o Patrimônio Líquido
Fig 5. Modelo DuPont de índices financeiros
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33
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Porém, a sorte deles terminou, no momento em que tentaram conectar
o universo financeiro com o não financeiro, o que é só possível,
matematicamente falando, em lâminas muito discretas do modelo geral da
organização. Adicione-se a essa complexidade o fato de que a organização
tem que atender aos anseios das partes interessadas e avaliar a exposição
a risco, além da obrigação de ser viável economicamente. A fig. 6 mostra a
visão geral esquemática de um sistema de indicadores abrangente, evoluído
a partir da pirâmide financeira.
SVA
Lucro (Caixa)
Receitas
Capital
de Giro
Margem
Operacional
Mercado
Produtos
Subprodutos
Processos
Pessoas
Conhecimento
Inovação
Fornecedores
etc.
Impostos
Investimentos
Custo do
Capital
Composição
Direcionadores
Genéricos
Não-
Financeiros
Aplicações
Operações
Taxa de
desconto
EVA
Fig 6. O modelo financeiro é insuficiente
RISCO
SATISFAÇÃO DAS PARTES INTERESSADAS
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34 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Todo sistema tem a mesma estrutura (fig. 7): há uma necessidade externa
ao sistema; uma saída visível que atende a essa necessidade; e uma cadeia
interna de funções estruturadas e interligadas para produzir essa saída. É
esse conceito que norteia nosso modelo mental, quando analisamos um
problema ou quando projetamos um software. O mesmo ocorre quando
analisamos a performance de uma empresa em uma determinada dimensão,
ou quando desenhamos uma cadeia de valor.
Duas pessoas que tiverem acesso a níveis idênticos de informação sobre uma
determinada organização formarão modelos mentais diferentes sobre como a
organização entrega valor, porque entram em cena os valores e as experiências
anteriores de cada indivíduo. Daí decorre a constatação óbvia: é por isso que
as pessoas discordam tão facilmente das linhas de ação propostas durante
uma tomada de decisão, e é por isso que quanto mais transparentes forem os
modelos causais adotados, melhor tende a ser a decisão.
Todo mundo conhece a milenar fábula hindu dos cegos que encontram um
elefante (fig. 8) e tentam explicá-lo recorrendo às mãos. Isso é uma árvore,
...não, isso é uma serpente, ...não, isso é um muro etc.. Certamente, parece
uma reunião de diretoria, com o executivo de Marketing olhando o elefante
de um jeito, e o Financeiro de outro. Quando avaliamos uma empresa e
analisamos seus indicadores, temos que evitar cometer o equívoco análogo.
Um sistema de indicadores não deve ser somente uma coleção desarticulada Um sistema de indicadores não deve ser somente uma coleção desarticulada
dos indicadores das áreas organizacionais.dos indicadores das áreas organizacionais.
Fig 7. Características de um Sistema
Necessidade Externa
Saída
Função 1
Função 1.1
Função 2
Função 1.2
Função 3
Função 1.3
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35
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
O desempenho de uma organização é uma entidade imaginária, um modelo
mental; daí, deduzimos que os apalpadores precisam conversar entre si, se
quiserem chegar a um modelo coletivo mais representativo da realidade,
ou seja, do elefante. Segundo Michel Lebas e Ken Euske(10), professores de
Contabilidade e Controle Gerencial na França (Groupe HEC) e nos EUA
(Naval Postgraduate School):
Indicadores de desempenho às vezes são contraditórios. Essas contradições
podem ser gerenciadas se você tiver uma boa compreensão do processo que gera
os vários tipos de resultado; daí vem a importância do modelo causal como
um meio para entender a organização e sua interação com o ambiente externo.
Entretanto, uma vez que um modelo está adotado, a performance não é mais
separável do modelo, pois é o modelo que está criando a realidade do que
performance significa. Performance é um constructo social.
Se você já estudou a metodologia do Balanced Scorecard(11) (mais conhecido
pelos íntimos como BSC), então deve ter concluído que um mapa estratégico
é um modelo causal de objetivos, ao qual devem ser agregados atributos
relevantes para a estratégia.
Fig 8. Reunião de Diretoria
10. M. Lebas e K. Euske, Business
Performance Measurement,
capítulo 6. Editado pelo
Dr. Andy Neely, Cambridge
University Press, 2ª edição, 2007.
11. R. Kaplan e D. Norton, Balanced
Scorecard – A Estratégia em Ação,
1996, Harvard School Press,
editado no Brasil pela
Editora Campus.
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36 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Fig 9. Questões, atributos e indicadores
• O produto tem
boa reputação?
• O produto
traz riscos
ao usuário?
• Segurança
do usuário
• Quantidade de pessoas que buscaram
socorro após uso
• Número de reclamações de usabilidade no
Procon sobre o total de reclamações
• Satisfação
dos clientes
com o produto
• Índice de notas 8, 9
ou 10 na questão D
da pesquisa anual
ATRIBUTO 1A
INDICADOR 1A1
QUESTÃO 1 QUESTÃO 2
ATRIBUTO 2A
INDICADOR 2A1
INDICADOR 2A2
A fig. 9 mostra um exemplo de um recorte de um modelo causal, com duas
questões com relação de causa e efeito entre si. O modelo (que pode ou não
estar explícito) presume que a segurança do usuário afeta a satisfação dos
clientes com o produto. Usamos esse exemplo no curso, para mostrar que,
enquanto a relação entre os atributos é óbvia, provavelmente não seria fácil
evidenciá-la estatisticamente com os indicadores selecionados no exemplo.
Por conta desse fato, o modelo causal é de atributos, e não de indicadores.
Em resumo: nós não conectamos indicadores, nós conectamos atributos.nós não conectamos indicadores, nós conectamos atributos.
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Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
A OBSERVAÇÃO AFETA A AÇÃO
O sistema de indicadores tem como função observar a realidade e, ao fazê-
lo, influenciar a ação em ciclos de curto e longo prazo (fig. 10). Se a direção
de uma organização prefere enxergar arealidade através das lentes de
um modelo grosseiramente equivocado, está colocando a organização em
risco e vai tomar ações também equivocadas. Especialistas em gestão do
desempenho devem ser capazes de reconhecer essa situação, ao verificar a
coerência entre ambiente externo, contexto estratégico e modelo causal.
Fig 10. A Observação influencia a Ação
MISSÃO
VISÃO
CONTEXTO ESTRATÉGICO
AÇÃO
OBSERVAÇÃO DA REALIDADE
AÇÃO
PROJEÇÃO
Ciclo
Longo
Ciclo
Curto
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38 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
AS CAUSAS DAS FRAGILIDADES
DOS SISTEMAS
Indicadores são normalmente associados, em nosso imaginário coletivo, à
figura do dono de uma empresa sentado em seu aquário no canto superior
do prédio de uma indústria, acompanhando os números do que está sendo
produzido lá embaixo no chão da fábrica, como o empresário engravatado
de Tempos Modernos, de Charlie Chaplin. Essa imagem reflete o conceito de
command-and-control: para manter as rédeas do negócio, é necessário medir a
produtividade. Esse conceito continua tão fortemente presente neste século
quanto esteve no século passado, quando foi criado.
A partir da Segunda Guerra Mundial, aumentou exponencialmente a
inserção do método científico no gerenciamento e controle das empresas,
com base no sucesso do taylorismo nas indústrias automobilísticas e bélicas.
O cenário mudou muito, é óbvio, desde então: estamos na era da informação
e do conhecimento, e a maioria das organizações compete também por meio
de ativos intangíveis, de medição mais complexa. Acontece que as soluções
técnicas evoluíram mais rápido do que as soluções socioeconômicas dentro
das empresas, a exemplo do que ocorre no mundo e, de forma mais aguda,
no Brasil. Os sistemas de indicadores, por conseguinte, ainda sofrem com
problemas antiquados, mas bem reais.
CAUSA 1
FOCO EXCESSIVO NO CURTO PRAZO
Os executivos não acreditam no conceito de sustentabilidade e em
medir valor para as partes interessadas.
Uma pesquisa recente da PriceWaterhouseCoopers(12) sobre gestão
do desempenho concluiu que:
Abordagens de gestão do desempenho baseadas em entrega de valor
não estão presentes na maioria das empresas participantes da
pesquisa, a qual revelou que somente 30% avaliam indicadores
como o EVA (Valor Econômico Adicionado). A negligência em
relação a esse tipo de medição pode resultar em não avaliação do
preenchimento das necessidades de partes interessadas importantes.
Somente empresas que oferecerem retornos adequados e enxergarem o
desempenho sob o ponto de vista delas sobreviverão.
12. Pricewaterhouse Coopers,
European Corporate
Performance Management
Survey - How do you manage
your business?, 2008-2009.
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39
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
CAUSA 2
PREDOMÍNIO DO ORÇAMENTO
Uma ilusão coletiva de que tudo que não é orçável não existe.
Indicadores de coisas não orçáveis e que não estão nas metas das
pessoas gerando bônus não são interessantes e, portanto, não são
analisados. Isso pode ocorrer porque não há incentivo sistêmico,
a exemplo do que ocorre na administração pública e em outras
organizações em que as partes interessadas têm pouco poder.
CAUSA 3
MODELO MENTAL FOSSILIZADO
Os executivos são reféns de seu próprio sucesso e não querem
mais questionar seu modelo mental. Há um termo muito usado
em gestão de risco para esse problema: confirmation bias, ou
viés da confirmação. Informações que contrariam ou desafiam o
que já sabemos não são bem vistos; queremos informações que
confirmem nossa teoria (ou seja, o oposto do método científico).
CAUSA 4
SÍNDROME DA ECONOMIA PEQUENA (PETTINESS)
Queremos melhorar o sistema de indicadores, mas sem investir em
processos gerenciais. Ou seja, queremos fazer pequenas melhorias,
aprimoramentos discretos e paulatinos. E, enquanto patinamos, o
mundo lá fora está mudando; quando percebermos, nossa relevância
estratégica já se foi e, finalmente, conseguiremos atingir o objetivo
de ser medíocres.
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40 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS
CAUSA 5
CAMISA DE FORÇA DO ORGANOGRAMA
O modelo causal é baseado nas funções e nas pessoas, ao invés
de nas decisões e nos processos. Esses são os sintomas da doença:
os indicadores e as metas estimulam antagonismo em relação à
estratégia global; há incapacidade para realizar sacrifícios locais,
com o intuito de obter ganhos estratégicos; e os gestores só
aceitam indicadores em que saiam bem na foto. A gestão por
processos tem tentado quebrar esse muro, que é alto, largo e feito
de concreto armado.
É importante que você tenha consciência dos aspectos vulneráveis do
sistema que pretende aprimorar, bem como do porquê deles.
Mesmo que você não tenha poder para mitigá-los, o projeto de transformação
pode e deve incluir iniciativas para introduzir as mudanças culturais
compatíveis e cabíveis. Sabemos o quanto isso é difícil; a dica é aproveitar
momentos cruciais, em que a falha cultural se revela de maneira inequívoca.
Não deixe passar essas oportunidades, seja assertiva e direta. Agora, se você
for o executivo que descrevemos acima, está na hora de rever seus conceitos.
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SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
2 CAPÍTULO
“Se nós mergulharmos profundo
o sufi ciente, iremos verifi car que
existem poucos elementos na
base: as causas-raízes, que através
das conexões de causa e efeito
governam o sistema como um todo.
O resultado de sistematicamente
fazer a pergunta ‘por quê?’ não é
enorme complexidade, mas sim
maravilhosa simplicidade.”
Dr. Eliyahu M. Goldratt, Th e Choice, 2008
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44 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
13. O modelo de relato de
sustentabilidade mais usado
no mundo, o GRI (Global
Reporting Initiative), usa o
termo aspect, uma questão
de gosto. Já Ittner e Larcker,
professores da Wharton School
muito influentes na área de
medição de performance,
preferem attribute. A escolha
de “atributo” para o curso e este
livro não o torna um termo
oficial do MEG. O importante
para nós é que o aluno/leitor
incorpore o conceito.
14. Prêmio Nacional da Qualidade,
reconhecimento anual
à excelência da gestão,
administrado pela FNQ.
Como já vimos, não há indicador bom ou ruim, o que há é questão não formulada,
questão não respondida ou questão respondida de forma equivocada.
POR QUE ATRIBUTOS SÃO IMPORTANTES
ATRIBUTO (Houaiss): 5 est aspecto, qualitativo ou quantitativo, que distingue um
integrante de um conjunto observado(13).
O termo “atributo de performance” foi popularizado, na década de 80, por
Noriaki Kano, criador do Modelo Kano para desenvolvimento de produto
e satisfação do cliente. Na linguagem convencional empresarial, usamos
o termo “indicador” com dois significados: o de indicador propriamente
dito, conforme a definição técnica já apresentada, e o de atributo, que é o
que indicador ajuda a avaliar. Por exemplo, um atributo importante de uma
organização pode ser o desempenho dos fornecedores; esse atributo pode
ser medido por um ou mais indicadores, tais como índice de lotes aceitos,
percentual de itens contratuais cumpridos, média das questões de uma
pesquisa com os contratantes, índice de não conformidades etc.
No MEG, o termo “atributo” não é empregado, para não tornar o modelo
mais complexo ou mais prescritivo desnecessariamente: o modelo causal
de atributos é uma ferramenta do especialista em sistema de indicadores,
não um processo gerencial. Já o termo “requisito” é empregado em
diversos pontos do MEG: requisito é um atributo que foi especificado,requisito é um atributo que foi especificado,
registrado e está visívelregistrado e está visível. O MEG exige a especificação de requisitos
legais e regulamentares, requisitos de partes interessadas, requisitos de
produto e processo e requisitos de fornecimento. Adicionalmente, no
padrão de relatório para o PNQ(14), é solicitado que a candidata classifique
os indicadores, ou seja, que os agrupe em torno de um atributo, tal como
insatisfação de clientes ou imagem perante a sociedade. Nesse caso, o termo
usado é “classe de indicadores”, ou seja, atributos genéricos.
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45Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Pensando no desempenho global de uma organização como um prisma (fig.
11), um atributo é uma das faces desse prisma. Atributos são importantes,
porque o nosso modelo mental sobre como uma empresa entrega valor é
uma árvore (ou cadeia, ou hierarquia) de atributosárvore (ou cadeia, ou hierarquia) de atributos. O sistema de indicadores
é a resultante tangível e mensurável dessa rede de questões e atributos
que modelamos mentalmente quando tomamos as decisões. Como nem
todo atributo pode ser medido, a consciência do atributo qualitativo é
muito importante. Quando ignoramos um atributo que não é mensurável, a
qualidade da avaliação fica deteriorada, porque o modelo de causa e efeito
fica incompleto.
Fig 11. Prisma do desempenho
DESEMPENHO DA ORGANIZAÇÃO
Atributo
Indicador
ATRIBUTO INDICADOR
Estável, inevitável, gerencial Temporário, maleável, técnico
Na Bíblia dos especialistas da área, o compêndio Business Performance
Measurement(15), Stephen Pike e Goran Roos explicam por que atributo é um
conceito tão importante para projetistas de sistemas de indicadores:
O conjunto de atributos a serem medidos deve incluir todos os atributos
que qualquer observador ou parte interessada acredita que componham o
desempenho da entidade que é o objeto de medição. Medições parciais criam
perigos óbvios, pois características contributivas importantes (para o sucesso
da organização) podem ser omitidas e a gravidade da omissão pode passar
despercebida, o que pode levar à crença de que a organização tem desempenho
satisfatório e cria valor, quando o que ocorre é bem diferente disso.
15. Business Performance
Measurement – Unifying theories
and integrating practice, editado
por Andy Neely, capítulo 10,
Cambridge University Press,
2ª edição, 2007
(Rock 11 - escultura em acrílico por Gemma Smith, artista plástica australiana)
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46 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Em resumo:
· ATRIBUTO é o queo que deve ser avaliado (qualitativa ou
quantitativamente).
· REQUISITO é um atributo especificado e assumido como um
compromisso pela organização.
· INDICADOR é comocomo o atributo é medido (se for avaliado
quantitativamente).
A IMPORTÂNCIA DO MODELO
CAUSAL PARA O APRENDIZADO
Segundo uma pesquisa(16) citada na Harvard Business Review pelos
professores e especialistas Christopher Ittner e David Larcker, somente 23%
das 157 grandes empresas norte-americanas pesquisadas tinham chegado
a um acordo sobre o modelo causal da sua estratégia e tornado o modelo
explícito. Esse grupo apresentava resultados nitidamente superiores ao
formado pelas outras 77%.
A fig. 12 ilustra o ponto que queremos defender: o aprendizado efetivo só
ocorre, quando testamos o modelo causal de atributos.
16. C. Ittner e D. Larcker, Coming
Up Short on Nonfinancial
Performance Measurement,
artigo para a Harvard Business
Review, Novembro 2003.
Fig 12. Aprendizado baseado em resultados
Resultados do Atributo 2Resultados do Atributo 1
Aprendizado
Modelo
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Recomendamos que a transformação do sistema de indicadores contenha
– no mínimo – as seis etapas apresentadas no fluxograma da fig. 13, com o
propósito de consolidar o aprendizado e a melhoria do processo decisório.
Os demais capítulos detalharão as etapas nessa sequência. Mãos à obra!
Reiteramos que essa recomendação não caracteriza a defesa de qualquer
metodologia específica.
Fig 13. Etapas para Transformação do Sistema de Indicadores
Selecionar os atributos relevantes por dedução da Estratégia
Selecionar os atributos relevantes explorando a experiência disponível
Incorporar o sistema de indicadores revisado no sistema de gestão de desempenho
Confeccionar a árvore de atributos e indicadores
Planejar e implantar a análise crítica do desempenho global
Revisar o sistema de metas
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
PRIMEIRA ETAPA DA TRANSFORMAÇÃO DO SISTEMA DE INDICADORES
SELEÇÃO DE ATRIBUTOS POR
DEDUÇÃO DA ESTRATÉGIA
Sua primeira missão nessa jornada é mapear os atributos e requisitos que
modelam o desempenho da organização e selecionar aqueles que são
considerados mais relevantes, sob a ótica de quem tem que tomar decisões a
respeito da organização, sejam internas ou externas.
Assim como no método científico e na gestão de risco, há duas abordagens
complementares para mapear atributos (fig. 14):
· O método dedutivométodo dedutivo é baseado na desconstrução de uma teoria com
base em seus alicerces lógicos. Em outras palavras, você avalia o
contexto estratégico e deduz dele o que deveria ser medido.
· O método indutivométodo indutivo é fundamentado em evidências e em empirismo:
você observa o que já é medido e busca entender a finalidade, para
construir uma teoria que suporte o que foi observado.
Fig 14. Dois métodos complementares
MÉTODOS DEDUTIVOS
Partindo dos objetivos estratégicos
MÉTODOS INDUTIVOS
Entendendo o boi a partir dos bifes
Os dois métodos têm direções opostas (de cima para baixo e de baixo para
cima), por isso, são complementares. O mapeamento de atributos deve valer-
se de ambos.
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
MÉTODO DEDUTIVO: DECOMPONDO
O CONTEXTO ESTRATÉGICO
O contexto estratégico pode ser interpretado como sendo uma cebola com
cinco camadas (fig. 15). Vamos descascá-la a seguir, mas antes vamos olhá-la
inteira, de fora. A Estratégia é a interação das cinco camadas, e não somente
uma das camadas (daí o emprego da maiúscula na letra inicial E). Sim, a
Estratégia pode e deve ser traduzida para objetivos, conforme exige o MEG,
mas os objetivos não são suficientes para se compreender a Estratégia(17).
O fato é que um mapa estratégico ajuda a comunicar a Estratégia, mas
é somente uma representação simplificada. Ademais, a Estratégia inclui
também a preparação para um futuro ainda incerto, que não consegue ser
capturada em um diagrama, representada na figura por uma nuvem com
os trade-offs (efeitos colaterais, contrapartidas ou aspectos negativos da
Estratégia) e os riscos assumidos pela Estratégia.
TRADE-OFFS E RISCOS
PART
ES INTERESSADAS
OB
JETI
VOS ESTRATÉGICOS
MO
DELO
DE NEGÓCIO
CA
DEI
A DE VALOR
ATIVOS,
RECURSOS E
COMPETÊNCIAS
Estratégia:
como esse arranjo tem
funcionado e como nos
posiciona frente aos
cenários futuros? O que
precisa ser mudado?
Fig 15. O que é Estratégia?
17. Esse modo de ver não é
unânime e é controverso na
literatura, chocando um
pouco os aficionados do
Balanced Scorecard que têm
feito o curso.
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
PARTES INTERESSADAS
Na camada mais externa, estão as partes interessadas, termo que em inglês
tem um apelo mais contundente,na opinião do autor (que já foi acusado, um
tanto injustamente, de anglófilo): stakeholders, ou seja, aqueles que possuem aqueles que possuem
um pedaço da organização ou um interesse legítimo nelaum pedaço da organização ou um interesse legítimo nela – daí a palavra em
português. O significado do termo ganhou corpo ao longo do tempo e hoje
tem uma abrangência que inclui pessoas ou grupos que podem influenciar
o rumo de uma organização, ou seja, o conceito de interesse legítimo se
expandiu para além do âmbito legal. Na terminologia do MEG, as partes
interessadas têm o desejo de que a organização tenha sucesso; caso contrário,
o termo correto seria partes antagônicas ou oponentes, seu antônimo.
O conceito de que as partes interessadas são o alvo definitivo de qualquer
Estratégia é controverso; muitos autores entendem que o objetivo final da
Estratégia sempre será determinado exclusivamente pelos controladores,
e que a satisfação das demais partes interessadas é um meio, quando
importante, para se atingir esse objetivo. Essa é a base conceitual original
do Balanced Scorecard e do Gerenciamento pelas Diretrizes japonês (Hoshin
Kanri), popularizado no Brasil por Vicente Falconi. Outros autores (Porter
e Drucker dentre eles) entendem que o fim de uma organização é sempre
ditado pela sociedade, cujas necessidades a organização tenta preencher,
e que os controladores são simplesmente representantes temporários dos
acionistas que, por algum motivo, detêm o poder atual sobre a direção
executiva. O MEG, por sua vez, adota os preceitos da ISO 26000 (de
Responsabilidade Social) e da Sustentabilidade: todas as partes interessadas
são importantes, e a organização deve buscar o equilíbrio no atendimento das
suas necessidades e expectativas. Por isso, o Critério 8 do MEG (Resultados
da Organização) tem a estrutura de triple bottom line(18) nos itens 8.1 e 8.2,
seguidos de clientes, pessoas, cadeia de valor e fornecedores (esses últimos
incorporados à cadeia de valor na 20ª edição). Para o MEG, uma organização
só terá sucesso sustentável, se entregar valor para as partes interessadas de
forma balanceada, ou seja, ajustada à sua importância e influência.
O número de partes interessadas, é claro, varia de entidade para entidade.
Se a sua organização nunca fez o exercício de mapeá-las, determinar suas
necessidades e expectativas, e traduzi-las em requisitos de desempenho
(atributos) para a organização, é muito provável que requisitos relevantes
estejam sendo ignorados na análise crítica de desempenho. Não prossiga Não prossiga
antes de assegurar que esse exercício seja conduzidoantes de assegurar que esse exercício seja conduzido.
Cinco grandes grupos e vários subgrupos compõem o quadro natural
de partes interessadas, sendo necessário compreender o que cada um desses
subgrupos pensa da organização, o que eles esperam dela, o que significa
entregar valor para o subgrupo e o que deveria ser monitorado.
18. Triple bottom line
(people, planet and profit)
é o tripé da sustentabilidade:
pessoas (o aspecto social),
planeta (o aspecto ambiental)
e lucro (o aspecto
econômico-financeiro).
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
GRUPOS E SUBGRUPOS TRADICIONAIS DE PARTES INTERESSADAS
· Controladores, acionistas e financiadores;
· Clientes e seus segmentos, bem como usuários indiretos;
· Sociedade: poder público, reguladores e comunidades impactadas;
· Força de trabalho: colaboradores próprios, terceirizados, estagiários
e aprendizes;
· Fornecedores, parceiros, distribuidores e representantes.
As empresas com modelos de gestão avançados lançam mão de inúmeros
métodos, todos válidos e complementares entre si, para capturar as
necessidades das partes interessadas:
· Analisam suas manifestações;
· Analisam seu comportamento;
· Conversam pessoalmente com elas, sempre que possível;
· Realizam encontros, diálogos ou grupos focais periódicos;
· Pesquisam sua opinião regularmente;
· Levantam seu perfil demográfico.
A tabela da fig. 16 é um exemplo simples de ferramenta que pode ser aplicada
para compilar e desdobrar as informações obtidas a partir dessas atividades.
Fig 16. Levantamento de requisitos de uma parte interessada
GRUPO SUBGRUPO NECESSIDADES
REQUISITOS DA
PARTE
INTERESSADA (RPI)
Sociedade Comunidade vizinha
• Apoio na inserção no mercado
de trabalho
• Projetos profi ssionalizantes
que preparem as pessoas
para o mercado
• Empregabilidade dos
participantes
• Efi cácia dos projetos
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
O relacionamento de uma organização com uma parte interessada pode se
dar por meio de um representante ou procurador, como mostra a fig.17.
No exemplo, para o grupo Clientes, há dois subgrupos, clientes do segmento
A e clientes do segmento B; cada um dos subgrupos tem canais de
relacionamento diferentes e suas necessidades também diferem.
Na mesma medida, os compromissos que a organização assume e o
retorno de cada subgrupo (outcomes) continuam diferindo. Os requisitos Os requisitos
de desempenho em relação a uma parte interessada são a expressão dos de desempenho em relação a uma parte interessada são a expressão dos
compromissos que a organização assumiu com essa parte interessada compromissos que a organização assumiu com essa parte interessada
(diretamente ou via representantes)(diretamente ou via representantes). A figura mostra que, no exemplo, há
uma terceira entidade, o Conselho de Clientes, que representa ambos os
segmentos. As necessidades comuns aos dois subgrupos, expressas por esse
tipo de representante, devem também ser consideradas, pois estão em nível
institucional. Todo relacionamento com Parte Interessada ocorre ou em nível
institucional ou operacional, sendo ambos igualmente importantes.
Fig 17. Anatomia do relacionamento com parte interessada
Organização
(Representantes)
Conselho de Clientes
Clientes
Necessidades
Institucionais
(Ex.: Não atuar
em cartel)
Segmento “A”
Fronteira
com a
sociedade
Segmento “B”
Contrapartidas (Outcomes)
Atendimento das Necessidades (Compromissos e outputs)
Necessidades Técnicas e Operacionais
Contrapartidas (Outcomes)
Necessidades Técnicas e Operacionais (Ex.: Especificação de produto)
Atendimento das Necessidades (Compromissos e outputs)
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
A tabela da fig. 18 mostra uma forma de verificar se há boa correlação entre
necessidades e requisitos, com o fim de detectar se há necessidades mal
avaliadas, ou seja, foi acrescentada uma terceira dimensão, que é a correlação
dos requisitos identificados com as necessidades captadas.
Fig 18. Correlacionando requisitos com necessidades
FORNECEDORES DE MATERIAIS PRODUTIVOS Resp.: Suprimentos
NECESSIDADES IDENTIFICADAS REQUISITOS DE DESEMPENHO
Observações
Tipo Origem Descrição
Não mudar
plano de
produção
Pagamento
em dia
Emitir
licitações
com
antecedência
Emitir não
conformidades
em tempo
adequado
Compras
por
comprador
designado
Desvio em
relação a
preço de
mercado
Institucional
Encontro de
Fornecedores
Permitir
concorrência de
fornecedores
em igualdade de
condições
Praticar preços
que permitam
sustentabilidade
do fornecedor
Formal Contratos
Pagar conforme o
contrato vigente
Designação de
comprador
Operacional Manifestações
Manter a
programação de
pedidos estável no
horizonte fi rme de
planejamento
Informar
problemas
assim que forem
identifi cados
Emergente
Encontro de
Fornecedores
Manter um
esquema de skip
lot ou passe livre
Não foram
identifi cados
requisitos.
Disponibilizar
sistemas de
informação
integrados
Expectativa
Fazer o fornecedorsentir que faz parte
da cadeia de valor
Pesquisa
Apoiar o
fornecedor em
épocas de redução
de demanda
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Os requisitos das Partes Interessadas, levantados por meio desses mecanismos,
são os atributos relevantes que buscamos na camada externa da "cebola".
OBJETIVOS ESTRATÉGICOS
Como já dissemos, a Estratégia pode ser traduzida em objetivos, para fins
de decomposição de seus aspectos mais tangíveis (fig. 19), uma prática
popularizada, desde a década de 50, pelas ondas do Hoshin Kanri no Japão
e do Management by Objectives nos EUA, até ser quase universalizada pela
metodologia BSC, disseminada a partir de um artigo seminal de Kaplan
e Norton, na Harvard Business Review em 1992. Estima-se que 80% das
grandes empresas já fizeram alguma incursão nesse método ou flertaram
com o BSC em seu planejamento estratégico.
Fig 19. Estratégia traduzida em objetivos
Quais são nossas
forças e fraquezas?
Quais cenários levaremos em conta?
COMO iremos evoluir e fi car preparados?
OBJETIVOS ESTRATÉGICOS
O QUE queremos alcançar?
METAS
QUANTO queremos alcançar?
INICIATIVAS
COMO iremos alcançar?
Revisão do Modelo de Negócio
frente aos cenários futuros
O BSC preconiza a construção de um modelo causal de objetivos
distribuídos em quatro perspectivas, temas ou dimensões (fig. 20), que são
padronizadas: perspectivas financeira, de clientes, de processos internos
e de aprendizado e crescimento. Uma vez identificados e conectados
os objetivos, associa-se atributos a eles, assumindo que as relações
causais sejam transferidas aos atributos. O problema é que a maioria das
organizações adeptas da metodologia intui essas conexões de forma bastante
superficial, sem questionar a robustez do modelo de atributos. Faça um
teste e questione as relações de causa e efeito do Mapa Estratégico da sua
organização, se for o caso.
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Fig 20. Um exemplo de mapa BSC
“OFERECER PRODUTOS E SERVIÇOS CONSISTENTES, PONTUAIS E DE BAIXO CUSTO”
“FORÇA DE TRABALHO CAPAZ, MOTIVADA E TECNOLOGICAMENTE CAPACITADA”
FI
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A
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O
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ES
SO
S
IN
TE
R
N
O
S
Estratégia de produtividade Estratégia de crescimento de receita
Torna-se líder de
custo no setor
Maximizar o uso dos
ativos existentes
Receita oriunda de
novos clientes
Aumentar a participação
nas compras dos clientes
Valor a longo prazo para os acionistas
Gestão Operacional
Capital humano Capital da informação Capital organizacional
Gestão de Clientes Inovação Regulatório e Social
Custo mais baixo Qualidade perfeita Compra veloz Seleção adequada
Capacidade de melhoria de
processos: Seis sigma e TQM
Criação de meios eletrônicos
para relacionamento com
os clientes e fornecedores
Melhoria de processos
“melhores, mais rápidos e
mais baratos“
Facilitar o compartilhamento
do conhecimento e a replicação
das melhores práticas
Produzir bens e serviços:
custo, qualidade e prazo
Fornecer processos
convenientes de
atendimento de pedidos
Inovação de processos
Evitar acidentes
ambientais e de
segurança
Oferecer variedade
desejada de produtos e
serviços
Gerenciar projetos
de capital
Contribuir para as
comunidades
Relacionamentos notáveis
com os fornecedores
Distribuição
pontual e
efi ciente
Gerenciar
riscos
Prestar Serviços
Contínuos
Esse tipo de problema possivelmente ocorre, porque as implementações de
BSC são, com frequência, rápidas e rasteiras. Outro motivo é que há uma
camada por debaixo do mapa de objetivos estratégicos que o BSC trata com
o termo “iniciativas”. O Comitê Temático da FNQ(19) adotou o termo “fatores
críticos de sucesso”, os quais estão para os planos de ação assim como os
atributos (que são fatores críticos de avaliação) estão para os indicadores.
Essa camada que contém esses viabilizadores da Estratégia deve fazer parte
do modelo causal, e não ser entendida como algo à parte.
19. Comitê Temático da FNQ
“Planejamento do Sistema de
Medição do Desempenho”,
Relatório Final, 2001.
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Fig 21. Mapa de objetivos e fatores críticos de sucesso
FCS A1
FCS B2
FCS D1
FCS D3
FCS B3
FCS C1
FCS D2
FCS E2FCS E1
FCS B1
OBJ A1
OBJ C1
OBJ B1
OBJ D1
OBJ E1
OBJ B2
OBJ D2
OBJ E2
Perspectiva
A
B
C
D
E
O mapa estratégico deveria, portanto, conter objetivos estratégicos e fatores objetivos estratégicos e fatores
críticos de sucessocríticos de sucesso (fig. 21) que se conectam, formando um modelo causal
digno do nome. A classificação por perspectivas ajuda na estruturação e
comunicação, mas muitas organizações preferem revelar sua estratégia por
meio de diagramas abertos (fig. 22), com duplas direções, retornos e ciclos
virtuosos, tal como nos fluxos de dinâmica de sistemas. Essa é a forma
advogada por Michael Porter(20), que entende estratégia como um sistema
dinâmico de posicionamentos que diferencia a organização de outras.
O MEG não toma partido nessa questão, exigindo somente a definição clara
da Estratégia e a sua tradução para objetivos. De qualquer forma, um mapa
auxiliará muito na etapa seguinte, quando formos montar uma árvore de
atributos e requisitos.
20. M. Porter, What is Strategy?,
Nov-Dez 1996, Harvard
Business Review.
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Fig 22. Mapa Estratégico da Pizzaria Fornaci di Barga
Incrementar
Margem
Operacional
Ativos
plenamente
utilizados
Incrementar giro
do estoque
Logística
centralizada
Clientes
satisfeitos
Imagem
de empresa
responsável
Melhorar
uniformidade da pizza
Reduzir impactos
ambientais
Controle
estatístico
Qualifi cação dos
pizzaiolos
Identifi cação e
tratamento
Comunicação com
comunidades
Incrementar
lucratividade por
cliente
Clientes
VIP fi éis
Aprimorar
entretenimento
Ambiente de
trabalho propício
Força de
trabalho motivada
Competência de
desenvolvimento
Adequação das
instalaçõesATRIBUTOS
Os atributos relevantes deverão brotar do mapa naturalmente, como
no exemplo da fig. 23. Se forçarmos a criação de indicadores de forma
impensada e pulando etapas, o resultado final do trabalho causará uma
sensação geral de artificialidade e estranheza (caso da fig. 24) e o modelo não
será defensável.
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58 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
OBJETIVO
INDICADOR INDICADOR
ATRIBUTO ATRIBUTO
FATOR CRÍTICO DE SUCESSO
Taxa de clientes visitados
Taxa de clientes muito
satisfeitos na pesquisa anual
Superar as expectativas
dos clientes
Atendimento personalizado
Visitas mais
frequentes
Satisfação dos clientes
Fig 23. Do objetivo ao indicador
Aumentar
rentabilidade
Negociar mais
agressivamente
Margem RPL % de protocolos atualizados
% SUS% ParticipaçãoFavorabilidade
Satisfação
Nº de
ocorrências
Nº de
especialidades
% de perda de
pessoas-chave
% de
especialidades
em nível 3
% de especialidades
em “estado-da-arte”
Satisfação com
autonomia
R$ / protocolo
% de protocolos
padronizados
Reduzir ocorrências
adversas
Imagem de
qualidade superior
Aumentar participação
em Top/Silver
Reduzir
clientes SUS
Atingir estágio de
excelência
Manter
pessoas-chave
Aumentar
autonomia
Investir em tecnologia
e infraestrutura
Padronizar
protocolos
Reduzir custo dos
protocolos
Eliminar especialidades
frágeis
Conhecer
custo real
Fig 24. Onde estão os atributos?
EXEMPLAREXCLUSIVO
PARA FILIADOS
59Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
21. Destacamos o artigo
Reinventing your Business Model,
de M. Johnson, C. Christensen
e H. Kagermann, Harvard
Business Review, dez/2008, e o
livro Business Model Generation,
de Alexander Osterwalder e
Yves Pigneur, John Wiley and
Sons, 2010.
22. Veja o vídeo de Steve Jobs,
apresentando o iPhone em
2007, para sentir o que é usar
narrativa de forma eficaz. Às
vezes, palavras valem mais que
imagens...
MODELO DE NEGÓCIO
A importância do conceito de modelo de negócio vem, sem dúvida,
aumentando nos últimos 15 anos, tendo sido popularizado pela onda de
formação de empresas pontocom, as filhas da Internet. Essas empresas
precisavam provar que iriam gerar lucro no futuro, e o modo para fazê-lo era
explicitar o modelo de negócio. Google, Facebook & Cia., todas tiveram que
se mostrar viáveis economicamente.
Modelo de negócio é uma representação da máquina que faz uma empresa
gerar valor para os clientes e capturar rentabilidade suficiente para manter a
máquina funcionando e retornar o investimento do acionista. Para nós, o que
interessa é que o modelo de negócio é a consequência imediata da Estratégia,
sendo inseparável dela. Devido a isso, o MEG presume que, quando você
revisa a Estratégia, tem que avaliar na sequência o impacto no modelo de
negócio. Na prática, há uma simbiose entre os dois, pois um é insumo do outro.
Em 2003, a Apple lançou o iPod e, em 2007, o iPhone. Essas iniciativas a
tornaram a empresa de maior valor de mercado do mundo (no início de
2015), e a Apple também se tornou o melhor exemplo de mudança de
paradigma em modelo de negócio. Na esteira desse megassucesso, várias
teses, livros e artigos de ponta foram gerados sobre o assunto(21), ensinando
como identificar e representar um modelo de negócio. Muitas organizações
passaram a representar ou narrar seu modelo de negócio e as alterações nele
pretendidas, para comunicação efetiva com os públicos interno e externo (22).
Um framework para questionar o modelo de negócio tem sido bastante
aplicado no mundo inteiro: o Business Model Canvas (fig. 25), introduzido
pelo livro destacado anteriormente(21), cujo sucesso se deve à sua
simplicidade e eficácia. O BMCanvas tem a estrutura do método SIPOC
(Supplier, Input, Process, Output, Customer), empregado para representar
processos, com a diferença de que, ao invés de o centro do fluxo ser um
processo, o centro é a proposta de valor ao cliente. Adicionalmente, na parte
de baixo do mapa, são destacadas a estrutura de custo e as fontes de receita.
O BMCanvas foi criado para ser usado, no formato de brainstorming, em
reuniões de planejamento estratégico.
Um mapa ou uma narrativa de modelo de negócio revela atributos que
nãonão são, necessariamente, visíveis, ao decompormos um mapa estratégico;
daí reside a importância da sua análise cuidadosa. A maior utilidade
dessa análise é percebermos o fluxo de valor atual dentro, ao redor e
externamente à organização, e definirmos quais atributos seriam relevantes
para avaliar o comportamento desse fluxo de valor, com a intenção de
tomar decisões sobre ele.
EXEMPLAR
EXCLUSIVO
PARA FILIADOS
60 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Fig 25. The Business Model Canvas
Parceiros-
chave
Atividades-
chave
Recursos-chave
Canais
Relacionamento
com clientes
Proposta de
valor
Estrutura de
custo
Fontes de
receita
Segmento de
clientes
Veja o exemplo de uma usina de geração de energia hidrelétrica (fig. 26),
cujo modelo de negócio, para quem não é do ramo, pode ser chamado de
“exótico”. O produto dela não vai diretamente ao cliente que comprou a
energia, mas, sim, para o sistema nacional de energia elétrica, por via de
uma empresa transmissora, e daí para o país, por meio das distribuidoras.
Se a usina parar, ela sofre consequências, mas não diretamente pelas mãos do
cliente que comprou a energia. Se o avaliador do sistema de indicadores não
compreender esse fluxo de valor (fig. 27), não perceberá atributos relevantes.
Um mapa estratégico tipo BSC em nada o ajudará.
A proposta de valor ao cliente tem que ficar clara na análise do modelo
de negócio, pois dela serão deduzidos os atributos relevantes do produto
(lembrando: tanto os qualitativos como os quantitativos).
EXEMPLAR
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61Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Fig 26. Modelo físico de uma usina
1. Reservatório
2. Comporta
3. Barragem
4. Conduto forçado
5. Turbina hidráulica
1
2
3
4
5
9
6
10
7
11
8
12 13
14
ÉUSINA HIDRELÉTRICA
Fig 27. Modelo de negócio de uma usina hidrelétrica
Fornecedores Distribuidoras
Transmissora
ANEEL
ONS
Fluxo econômico
Fluxo do produto
Fluxo contratual
Fluxo de informação
GERADORA DE
ENERGIA ELÉTRICA
Comparação
de plano com
oferta real
Contrato Contratos
Plano de
oferta de
energia
Plano de
remuneração
dos ativos
Oferta real
de energia
A fi gura revela a importância de monitorar a qualidade do
planejamento de ativos e de oferta.
6. Gerador
7. Canal de fuga
8. Transformador elevador
9. Linha de transmissão
10. Subestação abaixadora
11. Rede de distribuição
12. Transformador
13. Medidor
14. ConsumidorEXEMPLAR
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62 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
CADEIA DE VALOR
O conceito de cadeia de valor foi universalizado (mas não inventado) por
Michael Porter (23), a ponto do Comitê de Critérios da FNQ tê-lo incorporado
ao MEG na 20ª edição como título do item 7.1 (Processos da Cadeia de
Valor). No curso de Processos da FNQ, apresentamos um exemplo de
framework para cadeia de valor (fig. 28).
23. M. Porter, Estratégia
Competitiva – Técnicas
para Análise de Indústrias e
da Concorrência, de 1988
(Campus).
Fig 28. Framework para Cadeia de valor
A
m
b
iente de negócios e
SO
C
IED
A
D
E
C
LIEN
TES
Processos de
GESTÃO
Processos que captam requisitos e diretrizes do ambiente externo
para serem incorporados aos processos principais e de apoio.
No estado da arte devem infl uenciar a sociedade.
Processos de
APOIO
Processos que
apoiam e servem
aos processos principais
do negócio.
Processos principais do
NEGÓCIO
(Finalísticos)
Processos que agregam valor ao cliente,
isto é, que atendem ou superam as
expectativas dos clientes.
A cadeia de valor revela quais são os processos críticos, no ponto de vista da
direção e da Estratégia. A maioria das grandes empresas brasileiras já investiu
um bocado de energia no desenvolvimento de requisitos e indicadores para
os processos, portanto é natural, se esse é o caso, que você fique tentado
a sair avaliando o que já existe e está na mão. Recomendamos que, antes
de mais nada, você seja um pouco cético e avalie como foi efetuada a
determinação de requisitos dos processosdeterminação de requisitos dos processos da cadeia de valor.
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63Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
24. G. Rummler e A. Brache,
Improving Performance -
How to Manage the White Space
on the Organization Chart,
3ª edição, John Wiley, 2013.
25. K. Martin e M. Osterling,
Value Stream Mapping – How
to Visualize Work and Align
Leadership for Organizational
Transformation, McGraw-Hill
Education, 2014.
A cadeia de valor surgiu da necessidade de compreender a organização
horizontal e transversalmente, ou seja, por processos, ao invés de por
organograma. Entretanto, muitas organizações implantaram a medição do
desempenho dos processos de forma fragmentada, por caixinha, ao invés de
medir a eficácia do fluxo completo para engajar todas as áreas.Rummler e
Brache(24) criaram um conceito muito útil para definir o problema: as empresas
não gerenciam o “espaço branco” entre as caixinhas do organograma.
A determinação dos requisitos dos processos pode ser derivada de:
REQUISITOS DAS PARTES INTERESSADAS
Alguns requisitos obtidos da tradução de necessidades (como na fig. 18)
podem ser diretamente vinculados a processos, tais como: um limite máximo
de violação orçamentária determinado pelos controladores; um prazo máximo
de atendimento tolerado pelos clientes; uma especificação de produto
acordada com os clientes; um limite determinado pela legislação; ou uma
antecedência para licitações demandada pelos fornecedores. Entretanto,
o caminho oposto não deve ser encarado como compulsório: para cada
indicador de processo tentar “forçar” um requisito de parte interessada é algo
artificial e que não tem utilidade na gestão.
MAPA ESTRATÉGICO
Se a Estratégia tem um tema ou perspectiva específico para processos, é
natural que brotem requisitos para os processos considerados mais críticos
para a Estratégia.
ANÁLISE DO ENCADEAMENTO DOS PROCESSOS AO FLUXO DE
VALOR DO MODELO DE NEGÓCIO
Várias técnicas de encadeamento de processos são amplamente aplicadas no
Brasil, tais como:
· SIPOC (Supplier, Input, Process, Output, Clustomer) dos macroprocessos,
muito popular há várias décadas, adaptado e denominado de
Relationship Map por Rummler e Brache.
· Mapeamento do fluxo de valor entre processos, ou Value Stream
Mapping(25), técnica de mapeamento de macroprocessos bastante
difundida, em que se avalia os tempos dos processos e sua
conformidade (ancorada no atributo “entregas perfeitas”).
DEDUÇÕES TÉCNICAS INERENTES AO PROCESSO
Os requisitos de um processo podem ser definidos tecnicamente, seja por
comparação a outros processos similares, seja por aplicação de uma teoria a
respeito daquele tipo de processo (p. ex., literatura técnica).
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64 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Em uma organização que não adotou ainda a gestão de processos (conforme
o item 7.1 do MEG), será mais complicado para o projetista do sistema
de indicadores deduzir quais seriam os atributos relevantes, se ele ou ela
não tiver experiência prévia. Nesse caso, a sugestão é recorrer ao método
indutivo (explicado mais à frente), utilizando a experiência do pessoal que
está na frente de batalha e no campo onde ocorre a ação.
ATIVOS, RECURSOS E COMPETÊNCIAS
Chegamos ao coração da cebola, do que faz uma organização ser capaz ou
não de implantar sua Estratégia. É, sem dúvida, a camada mais complexa do
ponto de vista de gestão do desempenho, pois os atributos não brotam mais
tão espontaneamente como nas outras. Você vai precisar torturar mais
as informações.
Há dois tipos de ativos: tangíveis e intangíveis. Os tangíveis são aqueles que
devem constar do lado esquerdo do balanço contábil da empresa, enquanto
os intangíveis só entram no balanço, no caso de compra de outra empresa (ou
fusão), ocasião em que os ativos intangíveis (nem todos, aliás) são valorados e
reconhecidos contabilmente. Os ativos intangíveis provocam ou incitam, de
forma geral, a diferença entre o valor contábil de uma empresa e seu valor de
mercado, o tal do “múltiplo”.
Há farta literatura a respeito de valoração de ativos, de pouca utilidade,
no entanto, para o nosso objetivo de selecionar atributos, pois a questão é:
o que torna um ativo valioso ou diferenciado? Esse é o atributo (como na
tabela da fig. 29). Por exemplo, sabemos valorar a marca de uma empresa,
mas isso não nos ajuda a monitorar ou a tomar decisões sobre ela, pois
temos que identificar os viabilizadores ou promotores do valor da marca,
se quisermos criar indicadores úteis no fim do dia. E não custa relembrar:
nem todo atributo é mensurável; em especial, nesta camada da cebola, esse
pseudoproblema é muito comum. Muitas decisões efetivas e lúcidas são
tomadas nesse campo sem a presença de indicadores.
O mesmo ocorre com os recursos, um termo normalmente empregado para
identificar um ativo externo, pertencente a outrem, porém importante para
a Estratégia. Por exemplo, se a empresa está privilegiada pela proximidade
de uma fonte de matéria-prima e isso a torna mais competitiva, isso é um
recurso, e a proximidade das matérias-primas, ou algo equivalente, é um
atributo relevante.
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65Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Fig 29. Exemplos de ativos e seus atributos
ATIVOS, RECURSOS E COMPETÊNCIAS ATRIBUTO
Marca
Facilidade com que o consumidor lembra
da marca
Equipamentos
Atualização tecnológica
Tempo de vida
Software Integrabilidade com outros sistemas
Conhecimento dos compradores sobre a
rede de fornecedores
Grau de explicitação do conhecimento
Em seguida, aplique o raciocínio analogamente às competências
essenciais da organização, tais como:
· Habilidade em negociação com distribuidores;
· Capacidade de gerenciar estoques centralizados;
· Geração de planos assertivos;
· etc.
O método recomendado para delinear a decomposição de ativos,
recursos e competências em atributos é a boa e velha tabela de
desdobramento, feita em Excel ou equivalente, tal e qual os exemplos
das partes interessadas (figs. 16 e 18). A ferramenta é fácil, porém, o
conteúdo, não tanto.
TRADE-OFFS E RISCOS
Phil Rosenzweig escreveu um dos livros mais perturbadores da
literatura de negócios: The Halo Effect(26), no qual ele demole vários
outros livros antecessores. Ele lista nove delírios que acometem os
executivos e os autores de livros. Eis um deles, em suas palavras:
O delírio da performance absoluta é imensamente importante, porque
ele sugere que as empresas podem atingir altos níveis de desempenho
seguindo uma fórmula simples, independentemente das ações tomadas
por seus concorrentes… demanda incerta dos clientes, concorrentes
imprevisíveis, tecnologia que muda – está claro que a escolha de uma
Estratégia contém riscos inerentes... O sucesso atrai imitadores, e alguns
deles vão correr riscos aparentemente tolos – só que alguns poucos deles
podem se dar espetacularmente bem, criando graves desequilíbrios para
as empresas estabelecidas.
26. Publicado no Brasil: P.
Rosenzweig, Derrubando Mitos:
como Evitar os Nove Equívocos
Básicos no Mundo dos Negócios,
Editora Globo, 2008.
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66 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Mathew Olson e Derek Van Bever(27) analisaram meticulosamente a história
de uma grande quantidade de corporações com mais de 50 anos de vida e
identificaram que quase todas tinham estolado(28) em algum momento de sua
trajetória. Eles concluem que:
Testar as premissas implícitas da Estratégia da empresa é a forma mais pura
e, talvez, mais útil, de gestão de risco. Poucos executivos de alto escalão e
conselheiros perceberam o estol chegando: as métricas de performance geralmente
falharam em avisar que o problema havia surgido no horizonte.
Ainda segundo Olson e Bever, erros estratégicos responderam por 70% dos
estóis causados por fatores plenamente controláveis pelas organizações que
estolaram (os quais foram 87% do total, sendo 13% atribuídos a fatores fora
do controle, tais como, mudança brusca de regulamentação ou questões
políticas imprevisíveis).
Atributos e indicadores de risco não precisam ser tratados como uma
categoria ou casta isolada: na verdade, são atributos e indicadores que
deveriam surgir naturalmente, muito mais do que os indicadores de ativos
que acabamos de ver. Muitos indicadores que são classificados como
indicadores de mapa estratégico, de modelo de negócio, ou de processo etc.
são também indicadores de risco, na medida em que testam as premissas da
Estratégia. Qual é o problema, então,citado por Olson e Bever?
Temos uma dificuldade inerentemente humana para aceitar atributos e
indicadores que não estão sob nosso controle. Indicadores de risco que brotam
dos processos de compliance e auditoria interna, por exemplo, não são abraçados
com muito entusiasmo pelos gestores de linha, quando os indicadores não
estão sob o gerenciamento direto deles ou não pode ser influenciado por ações
específicas. Junte isso ao problema já mencionado de “espaço branco” entre as
caixinhas do organograma, e você entenderá a raiz da equação.
O problema se agrava, quando tentamos identificar atributos externos, em
especial um comportamento das partes interessadas, ou um movimento
alienígena dos concorrentes, que revela algum efeito negativo da nossa
Estratégia ou caracteriza ameaça à sua lógica. Ninguém quer admitir
responsabilidade por algo que é um efeito externo ainda não comprovado e
registrado em cartório, um sinal de fumaça apenas. Num mundo orientado para o
orçamento e para o curto prazo, isso não acontece, como diria o mestre Cartola.
27. M. Olson e D. Van Bever, Stall
Points, Yale University Press,
2008, um livro que recomendo
fortemente pela visão de amplo
espectro e imparcialidade
dos autores.
28. Um termo derivado da
aeronáutica, usado quando um
avião vem subindo e, por falta
de empuxo suficiente, perde
a sustentação e tomba,
tal como no célebre acidente
da Air France entre Rio e Paris.
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67Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
A dedução de quais atributos são relevantes nesse campo pode exigir a
participação de pessoas experientes em gestão de risco estratégico, sejam
internas ou externas. É claro que, se a organização já tem uma gestão
de risco sólida, a tarefa fica muito simplificada. Além disso, uma parcela
do mapeamento aqui preconizado faz parte da função ainda jovem de
Inteligência de Negócios (BI), que certamente contribuirá muito.
Os principais tipos de atributo procurados são:
· Restritivos:Restritivos: fatores éticos, legais, de compliance, regulamentares ou
equivalentes, que podem restringir o funcionamento projetado da
Estratégia e que ainda não estão sob controle total. Significa que, no afã
de executarmos a Estratégia, podemos pisar falso em questões delicadas.
· Premissas:Premissas: a Estratégia, para dar certo, precisa que algumas coisas
aconteçam. Por exemplo, espera-se uma determinada contrapartida de
um parceiro, que pode não acontecer conforme planejada.
· Ameaças competitivas:Ameaças competitivas: sinais de que a Estratégia está sendo
neutralizada ou subvertida por empresas rebeldes, também chamadas
de concorrentes ou substitutos, que insistem em desacreditá-la.
· Impactos socioambientais ou de imagem:Impactos socioambientais ou de imagem: fatores que levam a situações
que podem causar danos à reputação, sejam diretamente ligados a
atividades da empresa, ou provocados por terceiros que se confundem
com a imagem da organização, deveriam ser monitorados pelo sistema
de indicadores. Um exemplo: o cancelamento do contrato de um
fornecedor pode causar problemas sociais que serão amplamente
publicados pela mídia.
· Reposicionamento das partes interessadas:Reposicionamento das partes interessadas: mesmo que vocês tenham
feito a tarefa de selecionar atributos relativos aos requisitos das
partes interessadas, pode ser que elas mudem de ideia no meio do
caminho e reajam de forma inesperada às propostas estratégicas. A
Estratégia, afinal, foi criada para elas, mas, e se a Estratégia estiver
equivocada? Geralmente, a Estratégia é encarada como uma deusa
inatacável, indiscutível, a tábua de Moisés. Pois bem, recomendamos
que Estratégia seja uma mera abstração que deve ser questionada – o
tempo todo. Lembre-se do que ocorreu com a Kodak (fig. 30), onde o
autor, aliás, desenvolveu sua carreira na Qualidade.
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Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
90
80
70
60
50
40
30
20
10
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
ATRIBUTOS DEMANDADOS PELO MEG
O MEG é um grande apoio na dedução de quais atributos e requisitos
devem ser monitorados. Nem todos os atributos sugeridos devem ser
considerados relevantes, embora estejam no MEG, e a maioria deles
pareça ser óbvia. Por exemplo, do atributo “segurança no trabalho” (item
6.3a) podem ser derivados vários outros atributos e requisitos, conforme as
peculiaridades do negócio. Entretanto, há empresas em que segurança não é
um assunto crítico e não será selecionado nenhum atributo relevante para a
Estratégia; em outras, é literalmente uma questão de vida ou morte, e vários
atributos surgirão naturalmente.
No Anexo, você encontrará os atributos demandados pelo MEG e uma
discussão sobre os indicadores mais comuns ligados a cada um deles.
Agora vamos de baixo para cima: compilaremos o que existe e que já é
medido por meio de indicadores. Dos indicadores, induziremosinduziremos quais são os
atributos e requisitos a que eles estão vinculados e faremos um “bate”, uma
checagem cruzada, com os atributos deduzidos na fase anterior.
Fig 30. Quando não monitoramos o ambiente externo
Adoção mundial da
fotografi a digital
Impacto do iPhone
e congêneres
VALOR DA AÇÃO DA KODAK
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69Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
SEGUNDA ETAPA DA TRANSFORMAÇÃO DO SISTEMA DE INDICADORES
SELEÇÃO DE ATRIBUTOS COM
BASE NA EXPERIÊNCIA DISPONÍVEL
O método indutivo é o preferencialmente usado por quem redesenha um
sistema de indicadores para fins de informatização; entretanto, se ficarmos
restritos a ele, asfaltaremos o caminho da vaca. Podemos lhe garantir que isso
ocorre mais vezes do que você imagina.
Antes de mais nada, você precisa entender como é o processo decisórioprocesso decisório na
organização, ou seja, quais são os fóruns existentes, o que e como se decide
neles, quais são os indicadores acompanhados e com qual finalidade. Utilize
algum método para capturar as informações sobre cada fórum, tal como um
mapa de quadrante “frequência de apuração do indicador vs regularidade
da análise do indicador” (fig. 31), em que cada indicador é posicionado em
um dos quadrantes: alta frequência e alta regularidade (p. ex.,, execução do
orçamento), baixa frequência e alta regularidade (p. ex., satisfação do cliente
na pesquisa), alta frequência e baixa regularidade (p. ex., não conformidades
de inspeção) e baixa frequência e baixa regularidade (p.ex., manifestações de
fornecedores à Ouvidoria). Os indicadores de baixa regularidade são aqueles
considerados como alarmes ou alertas, pois só chamam a atenção do grupo
decisor se estiverem fora da normalidade.
Fig 31. Capturando fóruns de decisão
A
lta
Alta
Ba
ix
a
FR
EQ
U
ÊN
C
IA
REGULARIDADEBaixa
Em seguida, determine quais são os atributos e requisitos cuja avaliação esses
indicadores estão apoiando. Faz sentido? Surgiram novos requisitos e atributos
que o método dedutivo não havia detectado? Eles estão claros para quem está
tomando decisão? Qual é a relevância desses atributos e requisitos?
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70 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Ao fazer esse exercício, você perceberá que, possivelmente, atributos e
requisitos relevantes não estão sendo avaliados no fórum adequado, e que
o oposto também acontece (e muito), ou seja, o indicador está boiando no
fórum de decisão, sem estar ligado a um atributo ou requisito relevante.
Aproveite o ensejo e, quando for apresentar o levantamento, questione os
executivos sobre quais indicadores eles gostariam de ter na mão agora, neste
momento, sem se preocupar se isso é viável ounão, e procure compreender
qual é o atributo em questão.
A análise do processo decisório lhe revelará os principais atributos vinculados
às partes interessadas, aos objetivos estratégicos e ao modelo de negócio (as
três camadas de fora da cebola), na visão pragmática de quem toca o negócio.
APLICAÇÃO DE FRAMEWORK DE
REQUISITOS DE PROCESSO
Na sequência, precisamos avaliar o que já existe para avaliar o desempenho
da cadeia de valor. Ao invés de sair catando papel na ventania, é
recomendável o emprego de um framework para vincular os indicadores
existentes a atributos, os quais podem ser predeterminados, como na fig.
32. Você define um framework (no exemplo, com nove grupos de requisitos-
padrão de processo) e solicita o preenchimento ao pessoal de cada processo,
com o fim de determinar se há lacunas relevantes de avaliação de processos.
Fig 32. Framework para análise de indicadores de processo
REQUISITOS-PADRÃO
PROCESSOS
1 2 3 4 5
Efi cácia
Receita do processo
Satisfação do cliente
Efi ciência Índice de retrabalho
Estabilidade Variação de cor
Conformidade Entregas no prazo
Compliance Nº de irregularidades
Custo relativo Gap de custo do produto
Adaptabilidade Prazo de horizonte fi rme
Agilidade Ciclo de produção
Ambiental / Segurança
Nº de acidentes
Consumo de água por unidade
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71Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
Fig 33. Avaliação de indicadores de um processo com nove requisitos-padrão
Publicação autorizada pelo Itaú Private Bank, 2015
Outra alternativa é você obter os fluxogramas de processo e alocar os
indicadores existentes e potenciais sob cada atributo-padrão (fig. 33), para
cada fluxograma de processo crítico. Isso permitirá distinguir com maior
facilidade os atributos quantitativos daquele processo.
ENTREVISTAS COM PESSOAL DE CAMPO
Agora, entreviste a equipe responsável por cada um dos processos da cadeia
de valor. Nunca subestime o conhecimento do pessoal técnico e operacional
sobre atributos e indicadores. Envolva-os e ouça sua experiência: esteja certo
de que eles dominam a parte que lhes cabe do negócio. Embora a soma
desse conhecimento possa parecer confusa ao final, com certeza o conjunto
de informações será enriquecido.
Vá a campo, não fique trancado na sala de reuniões. Segundo o autor de
suspenses de espionagem, John Le Carré, uma escrivaninha é um lugar
perigoso para se observar o mundo. Verifique os quadros de gestão à vista e
peça para ver os indicadores monitorados pelas equipes.
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72 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
CONSULTA A RELATÓRIOS E DIVULGAÇÕES DE RESULTADOS
Relatórios Anuais (CVM, 20-F e outros) e de Sustentabilidade são fonte
importante de atributos que podem somente estar subentendidos.
INVENTÁRIO DOS INDICADORES
EXISTENTES
A próxima tarefa é inventariar os indicadores existentes em uma base
comum (como a da fig. 34). Se a organização já possui um sistema de
informações que cumpre essa função, tanto melhor, você irá auditá-lo
para checar sua completeza. De qualquer forma, o inventário pode ser
complementado ou feito totalmente em uma planilha Excel.
Fig 34. Documentando indicadores
Título do indicador IDF - Índice de Desempenho dos Fornecedores
Unidade %
Fórmula de cálculo
Índice médio dos fornecedores (média aritmética); Lotes aceitos/entregues, com dedução
de 5 pontos percentuais para cada não conformidade grave
Atributo Desempenho dos fornecedores
Abrangência Fornecedores de matérias-primas
Frequência Bimensal
Ajustes permitidos Não conformidades graves são ajustadas pelo Comitê de Suprimentos
Função do indicador Incentivar os fornecedores a melhorar; avaliar impacto de ações preventivas e corretivas
Responsável Diretor de Suprimentos
Atualizador Especialista II Qualidade Suprimentos
Forma de apresentação primária Gráfi co de barras
Referencial comparativo (se aplicável) Não aplicável
Requisito de parte interessada
(se aplicável)
Não aplicável
Limites aceitáveis (se aplicável) >70 - satisfatório; >80 - bom; >90 - ótimo
Vínculo ao orçamento? Não
Meta? Meta#2 Divisão de Suprimentos
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73Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 2
SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS
RELEVANTES
O primeiro passo para construção de um sistema de indicadores eficaz é ter uma
base única de dadosbase única de dados sobre os indicadores e seus resultados. É muito importante
que o atributo ou requisito, bem como a finalidade de cada indicador, sejam
registrados, para possibilitar a checagem da coerência do modelo causal.
Chamamos a atenção para duas linhas importantes do exemplo de ficha
de indicador, que muitas vezes são desprezadas: o registro da finalidade do
indicador e o registro de quais são os ajustes autorizados na fórmula de cálculo.
Ao final do processo, você deve obter uma planilha com todos os indicadores
monitorados atualmente, a qual atributo ou requisito cada um deles está
vinculado e qual é a finalidade do indicador, ou seja, qual é a decisão que ele
busca suportar – em suma, qual é sua missão na vida de indicador.
RESUMO DO PROCESSO DE SELEÇÃO DE
ATRIBUTOS RELEVANTES
1)1) Mapear por dedução os atributos e requisitos oriundos de:
· partes interessadas;
· mapa de objetivos estratégicos;
· modelo de negócio;
· cadeia de valor;
· ativos, recursos e competências;
· trade-offs e riscos estratégicos.
2)2) Mapear por indução os indicadores existentes, investigando todos os
fóruns de decisão da organização.
3)3) Cruzar os atributos deduzidos com os atributos induzidos.
4)4) Descartar os atributos e requisitos que não forem relevantes e que não
precisam ser avaliados. Quais são? Aqueles que não ajudam a decidir algo
que faça diferença sensível no desempenho global da organização. Quem
pode responder o que é diferença sensível? Quem toma as decisões, nos
âmbitos externo(29) e interno.
29. Um avaliador de MEG é
treinado para julgar diferença
sensível como se fosse alguém
externo, ou seja, como uma
parte interessada.
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ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
3 CAPÍTULO
“Quando você consegue medir a
coisa sobre a qual você está falando
e exprimi-la em números, você sabe
algo sobre essa coisa; mas, quando
você não consegue medir e exprimir
em números, seu conhecimento
é de um tipo insufi ciente e
insatisfatório: pode até ser o início
de um conhecimento, mas você
fi cou longe de ter avançado ao
estágio de ciência, seja qual for o
assunto tratado.”
William Th omson (Lord Kelvin), Popular Lectures
and Addresses, Vol. I, 1891
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76 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Como já vimos, modelos causais de atributos e requisitos, sejam ou
não explícitos, sustentam as decisões tomadas nas empresas, externa e
internamente, em todos os níveis.
Para selecionar indicadores, ou questionar os existentes, é importante
tomar como base um modelo causal teórico, construído especificamente
para cumprir essa missão. Já temos em mãos os atributos relevantes e os
indicadores existentes. O que vamos fazer agora é organizar o que temos,
para sermos capazes de criticar os indicadores com fundamento sólido.
Uma planilha que simplesmente lista os indicadores de uma empresa não
pode ser chamada de uma estrutura ou sistema, e sim de um “catadão”.
Os indicadores precisam ser integrados à sua finalidade (representada pelo
atributo) e as finalidades precisam estar integradas ao processo decisório.
Você tem duas opções:
1)1) Faz a integração dentro da sua cabeça e a reflete na planilha por meio
de um método de conexão ou indexação;2)2) Desenha uma árvore de atributos e requisitos para outras pessoas
opinarem e se sentirem engajadas, com o fim de ter memória de
cálculo para aprendizado posterior, para só depois refletir as conexões
na planilha.
Qual opção você acha que nós recomendamos? Sem comentários...
Muitas organizações utilizam um framework para organizar os atributos e
os indicadores, ou seja, algum método de classificação que permita colocar
os indicadores em compartimentos, para discernir sua finalidade. Tenha
em mente, entretanto, que um framework pode enrijecer o sistema de
indicadores e inverter a ordem das coisas: o sistema de indicadores deve o sistema de indicadores deve
abastecer o abastecer o frameworkframework, para que este seja utilizado no processo decisório, , para que este seja utilizado no processo decisório,
e não o contrárioe não o contrário. Os frameworks são ferramentas para simplificar a decisão
e a comunicação da Estratégia, não para forçar um formato do sistema de
indicadores. O sistema de indicadores deve ser concebido para abastecer o
framework estratégico, sistemas de análise crítica, diversos relatórios externos
e as outras necessidades do processo decisório (conforme ilustrado na fig. 35),
ou seja, ele tem mais “clientes” do que o planejamento estratégico.
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77Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Fig 35. O Sistema de Indicadores abastece Fóruns de Decisão
SISTEMA DE INDICADORES
Análise do Êxito
Estratégico
Controles gerenciais
e orçamentários
Análise do
Risco
Metas e
Reconhecimento
Olhar para
o Futuro
Olhar para o
Passado e o
Presente
Análise da
Sustentabilidade
Controle de
Processos
VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS
FRAMEWORKS MAIS CONHECIDOS
De longe, mas muito de longe, o Balanced ScorecardBalanced Scorecard (figs. 20 e 36) é
o framework favorito no Brasil e no resto do mundo para organizar os
indicadores. Suas perspectivas-padrão geralmente são adaptadas pelas
empresas, mas a lógica é a mesma: um modelo causal simples de objetivos
que se interligam em fluxo cronológico, chegando a um objetivo final.
Ao redor desses objetivos, colocam-se os indicadores. Esse processo se
inicia no nível máximo da organização e é desdobrado para todos os níveis
hierárquicos inferiores, de preferência mantendo-se as perspectivas, embora
muitas organizações parem o processo no primeiro ou no segundo nível.
Alguns aspectos colocados pelos críticos da ferramenta são:
· Não integra os indicadores estratégicos com os operacionais, apesar do
desdobramento, pois não está preocupado com a cadeia de valor;
· Pressupõe que a Estratégia é um fluxo simples e cronologicamente
ordenado de ações, como um rio indo para o mar (faça isto e obterá aquilo);
· O mapa clássico não leva em consideração: a sociedade, os
fornecedores, os recursos externos e os riscos estratégicos.
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78 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
A principal crítica ao BSC é feita pelos proponentes do Performance PrismPerformance Prism(30),
que alegam que o BSC presume que a finalidade de uma organização é gerar
lucro, ao invés de atender às necessidades das partes interessadas, algo que,
como você deve ter percebido, é muito importante também para o MEG.
Entretanto, o Performance Prism não é de aplicação simples, o que explica
sua adoção ser bem inferior à do BSC. É um modelo integrado de avaliação
de desempenho desenvolvido na Cranfield University, na Inglaterra, tendo
como principal objetivo criar valor para as partes interessadas. O modelo
possui duas orientações principais: identificar o que as partes interessadas
necessitam da organização e sua contribuição para a organização, as
quais são abastecidas pela Estratégia, por Processos e por Capacidades
(Capabilities). Seu criador, o professor e especialista Andy Neely, defende
que não é possível conceber um modelo simplista (desenhável em um plano
bidimensional) como o BSC para o desempenho, pois o desempenho é
multidimensional e não ocorre em fluxo (daí a fig. 37 do prisma), do que este
autor não ousa discordar.
Fig 36. Framework do BSC
“Para termos
sucesso
fi nanceiro,
como
devemos
ser vistos
por nossos
acionistas?”
FINANÇAS
Objetivos Indicadores Metas Iniciativas
“Para satisfazer
nossos
acionistas
e clientes,
em quais
processos
de negócios
devemos nos
sobressair?”
PROCESSOS INTERNOS DE NEGÓCIOS
Objetivos Indicadores Metas Iniciativas
“Para atingir
nossa visão,
como
preservare-
mos nossa
capacidade
de mudar e
melhorar?”
APRENDIZADO E CRESCIMENTO
Objetivos Indicadores Metas Iniciativas
“Para atingir
nossa visão,
como
devemos
ser vistos
por nossos
clientes?”
CLIENTE
Objetivos Indicadores Metas Iniciativas
VISÃO E
ESTRATÉGIA
30. A. Neely, C. Adams, M.
Kennerley, The Performance
Prism: The Scorecard for
Measuring and Managing
Stakeholder Relationships,
Financial Times/Prentice Hall,
2002.
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Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
31. R. Lynch e K, Cross, Measure
Up! – How to Measure Corporate
Performance, Blackwell
Publishing, 3ª edição, 1995.
Fig 37. Framework do Performance Prism
• Satisfação dos Stakeholders
• Estratégias
• Processos
• Capacidades
• Contribuição dos Stakeholders
Outro framework bastante usado nos EUA é a Pirâmide SMARTPirâmide SMART (Strategic
Measurement and Reporting Technique), disseminada por Richard Lynch
e Kelvin Cross em 1991(31). Essa metodologia é fundamentada em uma
pirâmide que vai do estratégico ao operacional (fig. 38). O grande senão da
SMART é que ela tem um apelo claramente manufatureiro, ou industrial,
e tem que ser vastamente adaptada para outros setores. Ela também não é
desdobrável para unidades, uma grande vantagem do BSC, e não reconhece
a importância da sociedade como parte interessada.
Fig 38. Pirâmide SMART
Efi cácia externa
Efi ciência interna
Objetivos Indicadores
Unidades de negócio
Sistemas operacionais
Áreas e células de trabalho
Visão
corporativa
Operações
Qualidade Entrega Desperdício
ProdutividadeFlexibilidade
Tempo
de ciclo
Satisfação
do cliente
Mercado Finanças
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Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Tendo em vista os três frameworks mais conhecidos, minha sugestão
é: combine-os e crie seu próprio framework, no caso de não haver um
impedimento ou imposição por parte de alguma entidade superior. Construa
algo que vocês reconheçam como não sendo artificial, que de fato represente
o estilo de atuação da sua organização. Uma coisa importante a ter em mente
é que você não está desenhando o sistema de metas, e sim o modelo causal
do processo decisório da sua empresa.
Uma ótima alternativa é não se preocupar muito com frameworks, pelo menos
no início, e imaginar o modelo causal como uma grande árvoreimaginar o modelo causal como uma grande árvore, ideia ilustrada
de forma feliz por Lebas e Euske(32) na fig. 39:
Cada empresa precisará definir de forma única os conceitos que se aplicam à
sua própria situação. A figura da árvore ilustra um exemplo de um modelo
causal genérico que consiste de atributos finalísticos (outcomes), que são a copa
da árvore, processos (o tronco) e a base de apoio (foundations), que são as
raízes da árvore. A analogia está consistente com o fato de que os resultados de
uma organização são multifacetados e devem ser descritos com visão de longo
prazo: você alimenta as raízes agora e só vai ver o efeito depois de muito tempo
nos frutos e nas folhas.
Fig 39. Analogia da Árvore de Atributos
AtivosRecursos Competências
Gestão de
risco
Cadeia de valor
Controle
econômico-fi nanceiro
Viabilizadores
estratégicos
Proposta de valor
Conquista do posicionamento
estratégico almejado
Satisfação das
partes interessadas
Triple bottom line saudável
32. Business Performance
Measurement, capítulo
6. Editado por A. Neely,
Cambridge University Press,
2a edição, 2007.
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Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Para não termos que optar por este ou aquele framework aqui na publicação
e gerar controvérsias infindas desnecessariamente, adotaremos a analogia analogia
da árvoreda árvore, doravante, neste livro. Entretanto, alertamos que a árvore não
é, absolutamente, a única analogia possível, e certamente não deve ser
considerada compulsória por avaliadores de modelo de gestão. Outras
analogias viáveis: vocês imaginarem o processo decisório como um conjunto
de rios que deságuam no mesmo lago, ou de estradas que levam a um mesmo
lugar (fig. 40), com seus afluentes e estradas vicinais, ou até mesmo como
uma mandala.
Fig 40. Todos os caminhos levam a Roma
Conquistas
estratégicas
TRIPLE BOTTOM LINE
Satisfação das
Partes Interessadas
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82 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
De fato, aos atributos e requisitos pode ser atribuída uma hierarquia, em
função de seu posicionamento em relação às camadas da Estratégia,
como na fig. 41. Essa hierarquia não deve ser vista como algo rígido, e sim
meramente orientativo para posicionamento adequado na árvore de
atributos. A classificação aqui utilizada visa somente a estimular o
desenvolvimento de uma hierarquia de atributos que faça sentido para a
organização. Ela foi originada na distinção clássica de outcomes e drivers para
os atributos estratégicos.
Fig 41. Hierarquia de atributos e requisitos
Li
m
ita
do
re
s
Trade-off s e riscos
Finalísticos
Viabilizadores
Controle
Estruturais
Partes Interessadas
Estratégia e seus Objetivos
Modelo de Negócio
Cadeia de Valor
Ativos, Recursos e
Competências
ATRIBUTOS E REQUISITOS FINALÍSTICOS: OS FRUTOS DA ÁRVORE
São aqueles atributos e requisitos vinculados aos outcomes das partes
interessadas, bem como às saídas da Estratégia e do modelo de negócio
(valor final ao cliente). Os atributos finalísticos refletem o sucesso da
Estratégia e da proposta de valor. É comum que os sistemas de indicadores
sejam deficientes nesse topo da árvore, pois os indicadores e resultados
gerados são externos à organização, não estando sob controle direto dos
gestores. Note que determinados requisitos de parte interessada (p. ex.,
prazo regulamentar para realizar um serviço) não são obrigatoriamente
finalísticos, já que muitos deles podem ser oriundos de necessidades
operacionais específicas.
O professor de Harvard Michael Porter diagnosticou da seguinte forma a
ineficácia dos sistemas de indicadores dos hospitais norte-americanos(33):
33. M. Porter e T. Lee, The Strategy
that will Fix Health Care,
Harvard Business Review,
outubro de 2013.
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83Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Quando os outcomes são medidos (pelos hospitais), raramente se vai além
de monitorar algumas poucas áreas, geralmente mortalidade e segurança do
paciente. Entretanto, as únicas medições verdadeiras de qualidade na área da
saúde são os outcomes que interessam aos pacientes.
Porter foi em frente e propôs vários novos atributos finalísticos ao setor de
saúde dos EUA (health care), tais como, grau e tempo de recuperação contra o
previsto para o problema de saúde específico, eficiência geral do processo de
tratamento do paciente e sustentação da saúde do paciente pós-recuperação.
Porter (assim como Drucker) entende que a performance de qualquer
organização só pode ser entendida à luz de uma equação simples:
o quanto ela impacta o mundo externo em relação aos seus custos (fig. 42).
A lógica de Porter nesse exemplo é clara: a missão de qualquer hospital
é curar pessoas de algo que elas tinham quando entraram porta adentro,
e isso é o que deve ser medido, o que não ocorre na esmagadora maioria
dos hospitais. Aplique essa analogia ao seu negócio: qual é o efeito da sua
organização no mundo? Vocês medem esse efeito, deveras?
Fig 42. Definição de Performance empresarial
Partes
Interessadas
Outcomes
Outputs
Performance = (Outputs + Outcomes)/ Custo das Atividades
Porter e Drucker
CUSTO DAS
ATIVIDADES
A fig. 42 revela uma distinção conceitual que está vindo à tona recentemente:
a diferença entre outcomes e outputs. Segundo essa concepção, Outcomes são
atributos finalísticos relativos ao efeito do valor entregueefeito do valor entregue no comportamento
das partes interessadas, tais como, reinvestimento no negócio por parte dos
acionistas, retenção e satisfação de clientes, participação no mercado, imagem
perante a sociedade, participação em licitações dos fornecedores, retenção
de talentos, clima organizacional etc. Outputs são atributos que avaliam
diretamente o valor entregue pela organização: rentabilidade e retorno do
capital do acionista, valor líquido do produto e do serviço, crescimento na
carreira etc. Pela inexistência de consenso sobre como traduzir os dois termos
para português, mantivemos o termo “atributo finalístico” para ambos.
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Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
ATRIBUTOS E REQUISITOS VIABILIZADORES: A COPA DA ÁRVORE
São aqueles vinculados aos fatores críticos de sucesso ou iniciativas (drivers)
da Estratégia, aos processos que geram os produtos finais e a outros
componentes do modelo de negócio considerados críticos para a execução ou
a sustentação da Estratégia.
Para a British Airways e a SAS, por exemplo, já faz muitos anos, o principal
viabilizador é late planes (aeronaves atrasadas); o foco nesse atributo tem
sido o responsável pela posição de liderança de ambas em serviço ao cliente.
Para a Embraer, são viabilizadores a duração do ciclo de montagem de
uma aeronave e a entrega de aeronaves sem problemas à equipe técnica
do cliente que veio receber a aeronave; já para um fornecedor crítico da
Embraer, a unidade de turbinas da General Electric, um viabilizador é o
tempo em asa (time on wing), ou seja, quanto tempo uma turbina fica na asa
da aeronave sem precisar de manutenção em bancada.
ATRIBUTOS E REQUISITOS DE CONTROLE: O TRONCO DA ÁRVORE
São aqueles vinculados aos demais processos da cadeia de valor e aos
componentes do modelo de negócio que não impactam diretamente
a Estratégia (um julgamento às vezes difícil de efetuar, pois, no fim
do dia, tudo, de uma certa forma, afeta o desempenho). Lembre que,
nessa classificação, o escopo é o da organização: um atributo pode até
ser ultrarrelevante e finalístico no âmbito de um processo, mas, se não é
enxergado ou sentido externamente à organização, não é finalístico.
ATRIBUTOS E REQUISITOS ESTRUTURAIS (OU BASAIS): A RAIZ DA ÁRVORE
São aqueles vinculados aos ativos, recursos e competências que formam
a infraestrutura necessária para a organização operar no patamar de
desempenho esperado, tais como, segurança da informação, qualificação
básica das pessoas, atualização tecnológica ou tempo de vida dos
equipamentos críticos etc.
ATRIBUTOS E REQUISITOS LIMITADORES: FATORES INTERNOS OU
EXTERNOS QUE AFETAM O CRESCIMENTO DA ÁRVORE
São aqueles vinculados aos riscos e trade-offs, tais como, inadimplência
dos clientes, crescimento de produtos substitutos, violação de leis ou
regulamentos, penetração dos concorrentes em um determinadosegmento,
perda de especialistas para o mercado etc.
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Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
O que é estrutural ou controle em uma empresa pode ser viabilizador em
outra. Por exemplo: volume de treinamento por colaborador é usualmente
estrutural. Porém, se para uma empresa isso ganhou uma relevância especial,
passa a ser viabilizador e entra no radar do monitoramento estratégico. Quer
um exemplo real? O volume de água da represa da Cantareira (que abastece
boa parte de São Paulo) até 2013 era um indicador ligado a um requisito
estrutural. Já no início de 2015, o Presidente da Sabesp, o Governador do
Estado e o Jornal Nacional acompanhavam o resultado desse indicador todas
as noites, pois o requisito virou viabilizador.
TERCEIRA ETAPA DA TRANSFORMAÇÃO DO SISTEMA DE INDICADORES
CONFECÇÃO DA ÁRVORE DE
ATRIBUTOS E INDICADORES
Como produto da segunda etapa, a equipe do projeto de transformação tem
em mãos os atributos relevantes da organização. Imagine o seguinte cenário:
você registra cada atributo em um post-it e está com um bloco de dezenas de
post-its. Próximo passo: organizar os post-its de forma que as relações de causa
e efeito entre eles sejam refletidas, tais como:
Cultura de segurança (indicador: % de colaboradores que acham a cultura adequada)
Segurança no trabalho (indicador: acidentes)
Custo do outsourcing da operação de TI custo fi xo custo total rentabilidade
receita (34)
OFICINA DE INDICADORES
É recomendável que a árvore de atributos seja construída em grupo, usando
uma ferramenta clássica: papel de flipchart e os post-its. Alguns preferem usar
um aplicativo de fluxograma (flowchart) diretamente, com a ressalva de que o
tamanho da tela os obriga a matar o boi a bife. O tempo de um workshop varia
entre um e três dias: para falar a verdade, o mais difícil é conseguir a sala,
porque ninguém mais vai poder usá-la, já que vocês usarão as paredes.
Organizações menores podem ter a árvore de atributos representada em um
único painel, como o da Cetrel (fig. 43), primeira empresa média e do nordeste
a vencer o PNQ. Por outro lado, não dá para esperar que seja viável representar
a árvore do Itaú Unibanco inteiro em um único painel, pois serão necessários
dezenas deles. O que é possível esperar é que, mesmo em uma instituição
desse porte, as árvores de atributos estejam interligadas de forma lógica.
34. Nesse segundo exemplo, você
não precisa colocar no modelo
todos os tipos de custo fixo, só
os mais relevantes (faça análise
de Pareto).
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86 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Fig 43. Sistema de Indicadores da Cetrel (Autorizado Cetrel - 2001)
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87Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Fig 44. Hierarquizando atributos
Fig 45. Ramo de árvore de atributos
Relacionamento Valor do produto
Satisfação do Cliente
Solução de problemas
Capacitação da equipe
de assistência técnica
Retorno do Capital do
Acionista
Imagem perante
a sociedade
Participação no
mercado “A”
Participação no
mercado “B”
Os quatro objetivos estão interligados pois um impacta no outro (nesse exemplo)
Multas e penalidades
Participação efetiva
na regulação
Desvios de conduta Efi cácia do radar legal
Efi cácia dos canais de
denúncia
Efi cácia do comitê de ética
Compreensão do código
de conduta
Efi cácia dos controles
internos
Impacto Ambiental
Atendimento a requisitos
legais, regulamentares
e éticos
Retorno dos programas
sociais
Depois de finalizado o modelo na parede, tire uma foto ou leve-a para o
computador. Cada nível hierárquico da árvore terá uma cor diferente, para
facilitar a visualização, ou podem ser usados recursos gráficos típicos de
organograma ou de espinha de peixe, como nas figs. 44, 45 e 46.
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88 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Fig 46. Espinha de Atributos e Indicadores de uma distribuidora de energia elétrica
Agilidade da gestão
de ocorrências
Tempo médio de
atendimento
Índice de falha
Índice de reprovação
Cumprimento de plano
de manutenção
Disponibilidade
Índice EMR
Falhas de transformador
Disponibilidade
Disponibilidade
Grau de aderência
SLA TI
Cumprimento de plano de manutenção
Cumprimento de plano de inspeção
FEC e DEC
IDAR Fornecimento
Consumidores com tensão adequada
Grau de aderência
Qualidade do planejamento
das equipes Sensibilidade dos
sistemas
Confi abilidade
da frota
Qualidade dos
materiais
Conformidade a
Padrões
Rede
SAP
Efi cácia da
homologação
Conformidade
a padrões
SXY
SZW
Transformadores
Qualidade do
diagnóstico da rede
Efi cácia da inspeção
preventiva
Efi cácia da manutenção
planejada
Qualidade dos Sistemas
Qualidade da poda de
árvores
Efi cácia da comunicação
das equipes com o COD
Confi abilidade de
equipamentos
Qualidade da medição
e controle
Confi abilidade dos
ativos
Qualidade da
distribuição
Aloque os indicadores existentes junto ao atributo (como na própria fig. 46)
ao qual cada um deles está preferencialmente vinculado. Isso feito, vocês
enxergarão as lacunas, as inconsistências, os excessos e as inutilidades.
O exemplo em questão revela o modelo causal derivado do atributo
“qualidade da distribuição” de uma distribuidora de energia elétrica, um dos
finalísticos para qualquer empresa desse setor. Observa-se que esse atributo
é medido por quatro indicadores: FEC (frequência de interrupção de
energia), DEC (duração), satisfação do cliente com fornecimento de energia
(pesquisa da ABRADEE, na qual os resultados são chamados IDAR(35)), e
consumidores com tensão média adequada. Contribuem para esse atributo
finalístico sete atributos viabilizadores, sendo que somente quatro deles
têm indicadores diretamente vinculados, mostrando potenciais lacunas no
sistema de indicadores. O mesmo ocorre com os vários atributos estruturais e
de controle do próximo nível.
35. ABRADEE = Associação
Brasileira de Distribuidores de
Energia Elétrica; IDAR = Índice
de Desempenho de Área.
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89Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Esses atributos, que têm possíveis lacunas, não apareceriam em outro lugar,
a não ser na árvore de atributos e na cabeça das pessoas que conhecem o
negócio. Não há dúvidas de que a árvore facilita a compreensão do que está
sendo medido e por qual motivo, pois aumenta o conhecimento coletivo,
como qualquer ferramenta de colaboração e de visualização. Não temos
uma recomendação específica para a periodicidade de revisão da árvore de
atributos, pois isso depende das alterações ocorridas no contexto estratégico,
ou seja, o bom senso deve prevalecer.
Neste momento, é importante que você fixe isto: você nãonão está desenhando
um modelo organizacional, mas um modelo causal para apoiar o processo
decisório. Existe uma correlação entre as duas coisas, mas só isso. Se você
fosse convidado a fazer uma apresentação sobre como a sua empresa cria
valor e como os fatores críticos de desempenho para criar valor estão inter-
relacionados, você não usaria o organograma, concorda? Você pode construir
o modelo, alocando os atributos nas áreas da estrutura organizacional onde
o atributo é avaliado e mostrar isso na árvore, como no exemplo da Cetrel,
mas é preciso sempre ter em mente a distinção de conceitos. Desenhistas
de árvore de atributos não têm que ficar preocupados em representar toda
e qualquer avaliação feita em todas as áreas da organização, só as mais
relevantes para a Estratégia.
Em seguida, vocês vão avaliar os indicadores que “couberam” na árvore.Descarte, no bom sentido, os que não têm importância suficiente para estar lá.
COMO JULGAR INDICADORES
Já falamos sobre isso anteriormente, mas a pergunta sempre acaba surgindo
novamente: como julgar se um indicador é bom ou não? Ou, reformulando a
questão de uma forma mais pertinente: como saber se o indicador serve ou
não serve para a finalidade que lhe é destinada?
Certamente, você compreendeu a importância de ter uma árvore de atributos
em mãos: é a única forma de determinar a finalidade de um indicador,
afora conversar diretamente com quem decide com base naquele indicador.
O indicador útil é aquele que ajuda a avaliar o atributo ou o requisito.
Primeiro, vamos entender o que seria o indicador idealindicador ideal, essa criatura
mitológica jamais vista na natureza por um ser humano. Em 1954,
Drucker escreveu(36):
36. P. Drucker, The Practice
of Management, 1954,
condensado no capítulo 8,
Management by Objectives and
Self-Control, em The Essential
Drucker, 2005, Harper Collins.
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90 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
O desempenho de um negócio requer que cada atividade seja direcionada aos
objetivos do negócio como um todo. Em especial, o trabalho de cada executivo
deve estar focado no sucesso global. O desempenho esperado do executivo deve
ser derivado dos objetivos do negócio; seus resultados devem ser medidos pela
contribuição para o sucesso da empresa. Essas medições não precisam ser
rigidamente quantitativas, nem exatas. Porém, devem ser claras, simples e
racionais. Elas devem ser relevantes e direcionar atenção e esforços para levá-
las para onde elas devem ir. Elas devem ser confiáveis, ao menos até o ponto
em que a margem de erro é conhecida e entendida. E devem ser autoexplicativas,
compreensíveis sem interpretações complicadas e discussão filosófica.
Drucker, há mais de 60 anos, já havia definido como julgar um indicador.
Não espere perfeição, ele afirmava. Drucker sumarizou, em um curto
parágrafo, o que é um objetivo SMART (sem relação com a pirâmide), um
célebre acrônimo criado posteriormente por George Doran(37) para memorizar
o que se espera de um bom objetivo tangível.
· Specific: Específico, deixa claro o que esperamos que se meça.
· Measurable: Mensurável de uma forma tecnicamente viável,
permitindo a geração de um indicador.
· Achievable: Possível de ser alcançado, não é uma ilusão ou sonho.
· Relevant: Relevante.
· Time-related: Posicionado em termos de tempo (para quando).
Na verdade, provavelmente nenhum indicador usado em gestão de negócios
passaria pelo escrutínio de uma banca de cientistas, o que torna nossa
profissão mais divertida ainda. Sob a ótica científica, a medição tem que ser
controlada para assegurar que é estatisticamente válida, o que não é viável
no mundo da gestão. Entretanto, podemos ser realistas e afirmar que há
indicadores idealmente úteisidealmente úteis.
O indicador idealmente útil:
PERMITE AVALIAR O ATRIBUTO (UMA QUALIDADE TECNICAMENTE
DENOMINADA VALIDITY).
Lembra-se da taxa de colesterol no sangue? Quando desenvolveram o método
analítico, conseguiram demonstrar que esse indicador tinha ótima correlaçãocorrelação
com a formação de ateromas nas artérias. E foram mais longe ainda: mostraram
que o colesterol é uma das causascausas da formação de ateromas, o que é excelente,
pois correlação não é necessariamente causalidade. Pois bem, o indicador foi
considerado sensívelsensível ao atributo e vice-versa, ou seja, é um indicador válido
para tomada de decisão por parte do cardiologista. Em outras palavras, quando
o colesterol aumenta, também aumenta a propensão para aterosclerose.
37. G. Doran, There’s a S.M.A.R.T. way
to write management’s goals and
objectives, Management Review,
novembro de 1981.
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91Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Cá para nós, e que ninguém nos ouça: você não imagina a quantidade de
indicadores que são coletados cotidianamente, sem que ninguém saiba se
o indicador permite avaliar o atributo, até porque não se sabe nem qual é o
atributo (ou requisito).
CHEGA EM TEMPO PARA A TOMADA DE DECISÃO: É PONTUAL.
Isso é tão óbvio, que fico até constrangido de colocá-lo nesta lista. Só que
isso acontece em muita empresa de alto nível, então não custa recordar:
indicadores podem ser ex post sob o ponto de vista do atributo avaliado
(p. ex., satisfação do cliente por pesquisa), mas não em relação à decisãonão em relação à decisão
(p. ex., o que podemos melhorar na proposta de valor, com base nos
resultados da pesquisa?). Timing é tudo na vida. Não adianta pesquisar o
cliente, se demoramos três anos para compilar os dados.
É ESTÁVEL. SUA FÓRMULA DE CÁLCULO NÃO FICA MUDANDO E, SE
MUDA, OS TOMADORES DE DECISÃO FICAM CIENTES DESSE FATO.
Não fique experimentando com o indicador por muito tempo, tente
estabilizá-lo o mais cedo possível. Por isso, é importante que haja
coordenação do sistema de indicadores.
É EXPRESSO NA FORMA DE TAXA OU ÍNDICE.
Informações quantitativas que não são relativizadas perdem a força e, às
vezes, nem podem ser chamadas de indicadores. Não ajuda muito a quem
toma decisão saber, por exemplo, quantas notas ficais continham erros,
sem contar com outras informações que a relativizam, tais como, total de
notas fiscais, em quanto tempo, quantas pessoas estavam envolvidas nessa
atividade etc.
EXEMPLAR
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PARA FILIADOS
92 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
O caso do emprego dos termos “taxa” e “índice” é um bom exemplo do problema da
língua portuguesa falada no Brasil, quando aplicada à semântica técnica, em especial
na área de negócios. Em inglês, há três conceitos claramente distintos:
Rate: um valor que representa a divisão entre duas medições de grandezas distintas.
Nesse caso, apresenta-se o valor acompanhado das duas grandezas. P. ex., 8,2 km/litro,
75 batidas por segundo. A tradução presumida como correta para o português, no
âmbito da matemática, é taxataxa(38).
Ratio: um valor que representa a relação entre duas medições de grandeza idêntica.
Nesse caso, apresenta-se o valor como a razão implícita (p. ex., 4:3), ou como um
número adimensional, ou como uma porcentagem (p.ex, 92% dos clientes estão
satisfeitos). O problema: tanto taxa como índice são traduções adequadas, segundo
os dicionários(39).
Index: um valor obtido da composição ou cesta de outros valores, aplicando-se pesos,
de forma a se poder posicionar o objeto de medição em uma escala comparativa.
P. ex., Dow Jones Sustainability Index. A tradução correta é, obviamente, índiceíndice (p. ex.,
Índice Bovespa).
Em resumo: quando há duas grandezas envolvidas, é taxa; quando o valor fi nal é
adimensional, pode ser taxa ou índice; quando o indicador é composto, é índice.
NÃO SOFRE AGRESSÕES, TAIS COMO MAQUIAGEM, EXPURGO,
MANIPULAÇÃO EXCESSIVA, ACESSO POR MUITAS PESSOAS ETC.,
SEM QUE ISSO ESTEJA AUTORIZADO NA FÓRMULA DE CÁLCULO.
Quem já trabalhou em auditoria sabe o quanto isso é frequente e o quanto
ameaça a credibilidade dos resultados publicados.
TEM MARGEM DE ERRO ACEITÁVEL PARA A DECISÃO
À QUAL ESTÁ LIGADO.
Há uma história fascinante para explicar essa assertiva, contada em
detalhes pelo autor de gestão de risco Douglas Hubbard(40), que é a façanha
de Eratóstenes (filósofo e matemático grego, considerado fundador da
Geografia), ao gerar a primeira medição aceitável do perímetro da Terra,
dois séculos antes de Cristo. Uma pessoa ficou na cidade de Siena, no Egito
antigo, em um poço bem fundo. Num determinado dia, o sol batia a pino
no fundo do poço. No momento em isso aconteceu, outra pessoa estava na
coluna de Alexandria e mediu asombra que a coluna projetava no chão.
Como eles sabiam a distância entre as duas cidades, por trigonometria, eles
deduziram o diâmetro da Terra e, em consequência, seu perímetro.
38. Houaiss, Taxa = 6 mat razão
entre as variações de duas
grandezas, das quais a primeira
é dependente da segunda.
39. Houaiss, Taxa = 4 proporção
de (algo) num conjunto,
geralmente expresso em
percentagem; Índice = 7
relação entre valores de
qualquer medida ou gradação.
40. D. Hubbard, Como Mensurar
Qualquer Coisa, Qualitymark,
2013.
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93Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Vários erros foram introduzidos nessa medição, é claro: a distância entre o
poço e a coluna não era sabida com exatidão moderna, pois era estimada por
passos (estádios); não havia relógio, então a hora em que o evento ocorreu
também era deduzida por aproximação, conforme os registros disponíveis de
posição do sol; os ângulos envolvidos eram muito pequenos, então a medição
da altura da coluna e da sua sombra introduziram erros também.
Certamente, um executivo moderno torceria o nariz e repudiaria essa
técnica rudimentar, mas os geógrafos da época e dos próximos vinte séculos
a utilizaram sem problemas. Só foram revisar o número de Erastóstenes
quando surgiu o satélite. Sabe qual era o erro dele? 5%. Você acha aceitável
ou não? Margem de erro aceitável é aquela que não atrapalha a decisão.
Como calcular a margem de erro? Realizando experiências de replicação da
medição com as exatas mesmas condições e verificando o desvio encontrado.
Os institutos de pesquisa já têm esse cálculo efetuado para seus produtos.
Em outros tipos de medição, possivelmente não há como calcular a margem
de erro na ponta do lápis, e vocês vão ter que decidir se a margem de erro é
aceitável, com base na experiência dos presentes.
O RUÍDO NO AMBIENTE EM TORNO DO OBJETO
NÃO CONTAMINA A MEDIÇÃO.
Um exemplo de medição prejudicada ocorreu na última pesquisa eleitoral
do primeiro turno das eleições para Presidente da República, em 2014. Havia
ruído excessivo no ambiente, por conta da volatilidade do cenário político. As
pessoas estavam tão indecisas, que era melhor nem pesquisar. Por causa do ruído
desconhecido, não dava para afirmar que o erro era de +-2% e a assertividade de
95%, como foi o caso nos noticiários de TV às vésperas da eleição.
Anteriormente, quando falamos sobre o método científico, listamos a
separação do sinal do ruído como sendo a etapa seguinte à medição
propriamente dita. O que isso significa, em termos práticos, para negócios?
Ruído ocorre quando, ao tentar medir o que queremos medir, medimos
também o que não queremos, tal qual o pescador que busca um determinado
peixe, mas, quando puxa a rede, vêm junto outros peixes, moluscos, garrafa
PET, pneu etc. Em medição científica, o planejamento da medição é feito
com grande carinho, para minimizar ruído. O ruído é adicionado ao erro
inerente da medição, que é aquele provocado pela variabilidade do próprio
instrumento de medição (p. ex., usar passos, como Eratóstenes, provoca mais
erro do que usar uma trena moderna).
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94 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
Um fenômeno interessante é que a própria medição, ao ser efetuada, pode
gerar ruído, porque o objeto observado reage à medição. Em medição de
negócios, às vezes esquecemos desse tipo de comportamento dos objetos (na
maioria dos casos, seres humanos). Algumas medições, tais como pesquisa
de opinião ou satisfação, esgotam-se após algum tempo, porque o objeto da
medição fica cansado, ou começa a perceber que pode manipular os resultados
em benefício próprio e, consequentemente, pode vir a falsear sua resposta.
Ruído é um tipo de erro de medição, só que sua determinação estatística
é complexa. Se o senso comum da equipe que está julgando o indicador
determinar que há ruído inaceitável, o qual pode invalidar os resultados, só
há três alternativas: cancelar a medição, ou mudar a métrica (ferramenta de
medição), ou expurgar o ruído – manualmente ou usando algum algoritmo
que detecte algo no objeto que o torne inválido para coleta de dados.
TEM DONO E É INTERPRETADO POR ALGUÉM QUE ENTENDE
DO NEGÓCIO.
Para tal, um indicador precisa de comparações pertinentes (vide definição
de indicador no capítulo 1) e de conexões sistêmicas estabelecidas de forma
inteligente. O dono do indicador não é, obrigatoriamente, o coletor ou o
analista que o interpreta; é, sim, o responsável por assegurar que o indicador
faz jus à sua finalidade e responderá por sua integridade perante a direção da
empresa. Se o dono do indicador sair de férias, o substituto interino tem que
saber dessa responsabilidade.
USO DE PROXIES E OUTRAS SOLUÇÕES
O que fazer quando verificamos que um atributo importante não pode ser
medido e fica alocado no grupo dos qualitativos? Três alternativas:
CONVIVEMOS COM UMA ABORDAGEM EXCLUSIVAMENTE SUBJETIVA.
Sim, isso é plenamente aceito pelos avaliadores do MEG e deveria ser aceito
por qualquer pessoa de bom senso, desde que (sempre tem um senão...) essa
pessoa de bom senso certifique-se de que o risco da decisão tomada sobre
terreno qualitativo (em tese, mais macio) seja baixo.
EMPREGAMOS INDICADORES QUE MEDEM INDIRETAMENTE O ATRIBUTO.
Indicadores do tipo “meia-sola” são muito comuns e não devem, de forma
alguma, ser desprezados. O nome sofisticado para um indicador desse tipo é
“proxy”, um indicador por procuração. Alguns exemplos típicos são:
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95Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 3
ENCADEAMENTO
DE ATRIBUTOS
E SELEÇÃO DE
INDICADORES
· O atributo “satisfação de partes interessadas” complicadas, tais como
comunidades vizinhas, fornecedores e parceiros, em que, dependendo
do tipo de negócio, temos dúvida até se a medição seria viável do
ponto de vista de sensibilidade ao atributo (suspeita-se de que a parte
interessada não seria sincera). Nesse caso, pode-se recorrer a um proxy
que meça um comportamento que avalie indiretamente o atributo,
tal como o “grau de participação dos fornecedores em licitações”,
indicando atratividade e, por conseguinte, satisfação.
· O atributo “eficácia de treinamento” é comumente complexo de se
avaliar quantitativamente. Nesse caso, muitas empresas recorrem a
proxies válidos, tais como “taxa de sucesso na carreira dos treinandos
em contraste a um grupo de não treinandos”.
CONVENCEMO-NOS DE QUE AS AVALIAÇÕES DOS ATRIBUTOS
SUBORDINADOS, EM CONJUNTO, SÃO SUFICIENTES.
Por lógica, podemos concluir que, se avaliamos todos os atributos de um galho
da árvore, o final do galho está avaliado por default. Essa lógica falha no fato
de que, em algumas circunstâncias, há fatores externos que não podem ser
plenamente representados na árvore de atributos. Verifique se não é o caso.
Outros problemas clássicos que surgem na análise da qualidade dos
indicadores de uma organização são:
HÁ RISCO DE MANIPULAÇÃO EXCESSIVA.
Coloque um dono que seja isento e que controle a manipulação com mão
de ferro.
O INDICADOR É BASEADO EM JULGAMENTO, TIPO NOTAS OU PONTUAÇÃO.
Contrate uma empresa para avaliar a variação estatística e normalizar o critério.
HÁ RISCO DE INTEGRIDADE DOS DADOS.
Peça para a auditoria interna ficar de olho e cobre maior segurança do pessoal de TI.
NINGUÉM QUER SER DONO DO INDICADOR.
Revise seu modelo de gestão. Cadê a gestão de processos e o
pensamento sistêmico?
O INDICADOR É INÚTIL, MAS O GESTOR NÃO QUER LARGAR DO OSSO.
Desde que não apareça na árvore de atributos oficial, sem problemas: cada
um gasta mal o dinheiro da empresa do jeito que bem entender. Desde que
ele (ou ela) pague do próprio orçamento, é claro.
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EXEMPLAREXCLUSIVO
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SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
4 CAPÍTULO
“Pensamento críticoPensamento crítico é um modo
de pensar em que o pensador
se aprimora por meio da análise,
avaliação e reconstrução do seu
método de pensar. Pressupõe
anuência a padrões rigorosos de
excelência. Envolve comunicação
efi caz e habilidade para resolver
problemas, bem como requer
compromisso para sobrepujar o
sociocentrismo e o egocentrismo
nativos do ser humano.”
Foundation for Critical Th inking,
www.criticalthinking.org
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98 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
A árvore de atributos ficou pronta e os indicadores já estão avaliados e
selecionados, bem como sabemos quais são as lacunas com as quais iremos
conviver. Agora, se você preferir, pode até chamá-la de árvore de indicadores,
que é uma denominação mais comum; antes de chegar a essa etapa, não era
tecnicamente correto chamá-la dessa maneira.
A árvore pode ficar documentada em papel, fotografia ou software: não há
necessidade de enviá-la a uma agência de comunicação e design gráfico, a
não ser que se planeje divulgá-la interna ou externamente, o que pode ser
interessante para quem busca maior transparência dos resultados.
Chegou a hora de transferir a árvore para um sistema de gestão do
desempenho, ou seja, um aplicativo que guarda o banco de dados dos
indicadores e de seus resultados, bem como prepara visualizações deles.
QUARTA ETAPA DA TRANSFORMAÇÃO DO SISTEMA DE INDICADORES
INCORPORANDO O SISTEMA DE
INDICADORES NO SISTEMA DE
GESTÃO DO DESEMPENHO
É bem provável que sua organização já tenha um sistema de gestão do
desempenho disponível. Usá-lo ou não usá-lo, eis a questão. Aplicativo para
gestão de desempenho não é um item em falta no mercado: todos os ERP(41)
contêm um módulo específico, e há dezenas de produtos independentes
(desde os mais sofisticados, como o SAS, o Oracle EPM e o IBM Cognos,
até freewares fáceis de encontrar na Internet). Ainda assim, muitas
empresas optam por desenvolver o software internamente, tornando-o mais
customizado ao seu estilo de gestão e operação.
Temos uma boa notícia: não é necessário jogar fora o que vocês já têm!
Transferir a árvore para o banco de dados do aplicativo não é sinônimo
de deletar o software vigente, a não ser que vocês queiram matar dois
coelhos. O truque é transportar o que caracteriza um indicador da árvore
para o aplicativo, de forma a preservar o DNA daquele conjunto de
indicadores selecionados para compor a árvore de atributos. Se o banco de
dados comportar dez trilhões de indicadores, sem problemas, desde que a
integração entre aquelas dezenas de indicadores relevantes da árvore seja
usada para puxá-los de volta com a agilidade requerida quando necessário. 41. Sistemas de Enterprise Resources Planning (SAP, Oracle, TOTVS
etc.), sistemas de grande porte
que integram o fluxo de valor
de uma organização.
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99Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
No Índex 1229
Título do indicador IDF - Índice de Desempenho dos Fornecedores
Unidade %
Fórmula de cálculo
Índice médio dos fornecedores (média aritmética); Lotes aceitos/entregues,
com dedução de 5 pontos percentuais para cada não conformidade grave
Atributo Desempenho dos fornecedores
Abrangência Fornecedores de matérias-primas
Frequência Bimensal
Ajustes permitidos Não conformidades graves são ajustadas pelo Comitê de Suprimentos
Função do indicador Incentivar os fornecedores a melhorar; avaliar impacto de ações preventivas e corretivas
Responsável Diretor de Suprimentos
Atualizador Especialista II Qualidade Suprimentos
Forma de apresentação primária Gráfi co de barras
Referencial comparativo (se aplicável) Não aplicável
Requisito de parte interessada
(se aplicável)
Não aplicável
Limites aceitáveis (se aplicável) >70 - satisfatório; >80 - bom; >90 - ótimo
Vínculo ao orçamento? Não
Meta? Meta#2 Divisão de Suprimentos
Conexões para cima
Conexões para baixo
415 - % produto na especifi cação
1081 - Reuniões com fornecedores
674 - Planos de ação atrasados
552 - Fornecedores com ISO 9001
Fig 47. Assegurando as conexões
Para tal, uma funcionalidade importante do aplicativo é a identificação ou
indexação, ou seja, a designação de um número de identidade ao indicador,
que permita distingui-lo como uma entidade única. Se dois indicadores têm
um mesmo “nome”, mas escopo ou fórmula de cálculo diversos, devem ser
tratados como indicadores de identidades diferentes. Outra funcionalidade
crítica é poder conectar a identidade do indicador, para cima e baixo, com a
identidade de outros indicadores (fig. 47), seguindo o projeto da árvore de
atributos. É essa conexão que dará vida ao sistemaÉ essa conexão que dará vida ao sistema.
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100 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
A importância da base unificada para evitar duplicidade de indicadores não
pode deixar de ser enfatizada. Ittner e Larcker(16) descrevem o problema que
ela evita, da seguinte forma:
Nós descobrimos (na pesquisa) que é muito comum que unidades da mesma
empresa usem métricas diversas para medir a mesma coisa, às vezes até de
forma contraditória uma em relação à outra. Essas inconsistências dificultam
para a direção avaliar o progresso global e comparar uma unidade à outra.
É muito importante que o indicador não leve vida dupla ou tripla.
As empresas de hoje mantêm vários sistemas de informação (fig. 48) que,
com frequência, sofrem de integração deficiente. Se você pedir o resultado
de um indicador para cada sistema, tem grande chance de receber
números diferentes.
Fig 48. Os muitos sistemas atuais
Monitoramento
Estratégico
Relatórios Externos
SISTEMA OPERACIONAL
SISTEMA GERENCIAL
SISTEMA DE
SUSTENTABILIDADE
SISTEMA ESTRATÉGICO
SISTEMA DE METAS
ERP
Análise Crítica
Acompanhamento
Operacional
Acompanhamento
de Metas
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101Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Em grande parte, esse problema é criado pela visão organizacional
predominante, demonstrada na hierarquia clássica de indicadores (fig. 49),
que classifica os indicadores em função de seu nível hierárquico no
âmbito organizacional, e não segundo a hierarquia do atributo a que
pertence (fig. 50).
Fig 49. Hierarquia clássica de indicadores
Operacional
Gerencial
Estratégico
Estruturação do sistema
de indicadores
Sistema de
informações do
Banco de Dados
Informações
Dados
Alinhamento
Fig 50. Tradução para hierarquia convencional
Indicador
Atributo Estratégico Operacional
Finalístico
Viabilizador
Controle
Limitador
Estrutural
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102 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Como você pôde ver na fig. 47, a planilha usada para inventariar indicadores
pode se tornar a base única do aplicativo de gestão do desempenho.
Para falar a verdade, vou lhe contar um segredo, mas não espalhe: houve
um tempo em que não havia computador, e as planilhas eram feitas
manualmente, bem como as apresentações, incluindo os gráficos! Portanto,
não use a ausência de ferramentas sofisticadas como desculpa para não
organizar o sistema.
Em 1940, a Inglaterra estava imersa em uma batalha de vida e morte com a
Alemanha de Hitler, que estava tentando invadir a ilha. Winston Churchillera o primeiro ministro. Ele criou uma célebre sala de monitoramento
do campo de guerra em um bunker de Londres (figs. 51a e 51b), onde
ele e os outros ministros, além dos assistentes e militares do alto escalão,
praticamente viveram durante o período mais crítico de ataques aéreos da
Luftwaffe. Daí é que vem o termo war room, empregado para o local onde
a direção acompanha os resultados gerais de uma organização. Anexos à sala
de reunião principal de Churchill, proliferavam sistemas de informação não
informatizados (sem Skype e sem Whatsapp!), para acompanhar os cenários
que se desenrolavam. A Inglaterra sobreviveu aos ataques de Hitler, e jamais
um soldado nazista colocou os pés na ilha.
Fig 51A e 51B. Quando não havia computador, mas havia inteligência
Fonte: http://www.iwm.org.uk/visits/churchill-war-rooms
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103Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
INSUMOS DO SISTEMA DE INDICADORES
Ainda está para nascer o software que transforma matéria fecal em metal
nobre, ou seja, as entradas de dados devem ser controladas pelo dono de
cada indicador. Uma informação equivocada que chegasse à sala de guerra
de Churchill podia dar ensejo a decisões com consequências trágicas:
então, trate os dados de entrada com o mesmo zelo que o pessoal da sala
de comunicação parece ter nas fotos da fig. 52. Afinal, durante a guerra,
ninguém tinha tempo de fazer auditoria de controles internos.
Fig 52. Erro tolerado: zero
Fonte: http://www.iwm.org.uk/visits/churchill-war-rooms
O advento do computador não melhorou muito a qualidade dos dados de
entrada, para sermos realistas. Atualmente, os ERP conseguem extrair dados
automaticamente dos data warehouses e gerar relatórios com resultados de
indicadores no formato que o usuário solicitar, praticamente em regime
de tempo real. Essa funcionalidade é mais presente, contudo, no âmbito
operacional, no universo das transações concretas, no qual os dados são
prontamente confiáveis, sendo ainda pouco relevante no âmbito do
comportamento humano e dos eventos externos à organização. Por isso, a
maioria das grandes corporações criou unidades de Inteligência de Negócios,
que, dentre outras atribuições, buscam extrair significado e eliminar ruído
desse tipo de dado. Se vocês não têm esse tipo de especialista na casa,
é recomendável cautela na absorção de dados advindos de redes sociais,
pesquisas de opinião, termômetros de cliente, diálogos com comunidades etc.
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104 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Um exemplo de decisão equivocada em cima de dados aparentemente
corretos foi tomada pela direção da Coca-Cola em 1985, quando encomendou
um teste de sabor de uma fórmula mais “moderna”, que agradaria ao jovem da
época. O teste cego, ou seja, sem que o usuário soubesse a marca do produto,
foi plenamente aprovado. Quando a New Coke foi lançada para substituir a
velha Coca da década de 20, entretanto, causou uma comoção social imensa,
porque muita gente viu naquilo uma agressão a um ícone da cultura norte-
americana. A direção da Coca-Cola voltou atrás, após muita pressão, e voltou a
comercializar a fórmula tradicional, que acabou prevalecendo. Quanto à New
Coke, entrou para a história dos casos interessantes de algo que deu muito
errado, mas que acabou dando muito certo: a Coca-Cola manteve sua liderança
no segmento de colas, e sua marca continua muito valiosa. É, também, um dos
casos mais conhecidos de viés de confirmação (confirmation bias), quando só
queremos confirmar o que já tínhamos decidido.
Recursos essenciais de um software de gestão do desempenho
· Indexação com conexão hierárquica entre indicadores: navegabilidade para
drill-down e drill-up;
· Integração com a gestão de iniciativas estratégicas e de planos de ação;
· Tratamento inteligente de limites, metas, referenciais comparativos e
requisitos de partes interessadas;
· Ambiente Web multiusuário. Flexibilidade de captura eletrônica ou manual;
· Flexibilidade para agregação de indicadores e configuração de
apresentações e relatórios (não forçar o uso de classificações pré-
estabelecidas, p. ex.);
· Integração com a gestão de desvios e não conformidades.
PRODUTOS DO SISTEMA DE INDICADORES
Como já vimos na fig. 35, o sistema de indicadores deveria suportar diversos
processos decisórios, desde aqueles que controlam a operação no dia a dia até
os de conteúdo estratégico.
É um ótimo momento para aproveitar o levantamento dos processos
decisórios feito anteriormente (fig. 31), quando você estava selecionando
atributos, e gerar uma tabela dos fóruns de decisão, à luz da árvore de
atributos. Identifique quem participa, a periodicidade do fórum, as decisões
usualmente tomadas e os indicadores acompanhados. As relações de causa
e efeito estão sendo testadas? Quando um indicador importante apresenta
desvio, os executivos recebem prontamente uma análise de causa-raiz
fundamentada na árvore? A árvore está sendo útil, afinal?
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105Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Fig 53. Modelo de Painel de Bordo em Excel
Fonte: www.raphael-santos.net
Um dos produtos fascinantes do sistema de indicadores é o painel de bordopainel de bordo
(tais como os das figs. 53 e 54), também conhecido como dashboard ou cockpit,
oriundo de aplicativos voltados para o usuário final que permitem reproduzir
em um monitor o equivalente a um painel de carro ou de avião.
Se algo está errado, aparece um alerta, e você pode analisar outros indicadores
para investigar causa ou efeito. O painel de bordo é uma ferramenta para
simplificar a vida do executivo e abreviar o tempo despendido em reuniões.
Normalmente, alguém de TI pergunta ao executivo o que ele quer ver no
painel de bordo; não temos nada contra, desde que pessoas que conheçam o
sistema de indicadores participem do desenho do painel de bordo. É comum
que os executivos não percebam ainda as conexões disponíveis: por isso, faça
marketing do sistema e de suas funcionalidades lógicas.
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106 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
42. E. Tufte é professor de
Estatística, Ciências Políticas
e Ciência da Computação
da Yale University. Escreveu
um extremamente influente
conjunto de livros sobre
visualização de informações
(www.edwardtufte.com),
todos disponíveis nas grandes
livrarias internacionais. Citação
extraída do fórum de discussão
Executive Dashboard, 2003.
Fig 54. Mais um Painel de Bordo em Excel
Fonte: http://www.tomasvasquez.com.br
Na verdade, o painel de bordo informatizado, cheio de reloginhos, é uma
sofisticação de uma ferramenta clássica da Qualidade: o painel de gestão
à vista, usado no chão de fábrica ou no campo de serviço aonde a equipe
se reúne, conceito que pode ser perfeitamente estendido para a sala VIP,
usando o velho e útil papel impresso. O inverso também vale: painéis de
bordo informatizados, quando úteis, facilitam a vida das equipes de campo,
principalmente quando permitem recursos de interação e navegabilidade.
Por outro lado, muitas autoridades em informação gerencial condenam
o painel de bordo informatizado para executivos, quando ele presume
um conjunto de informações que não é dinâmico e limita o espaço de
visualização do histórico. Edward Tufte, uma das maiores autoridades em
visualização de informação no mundo, disse(42):
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107Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG- Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
No que tange a sistemas visuais de informação para executivos, evite metáforas
excitantes, tais como centro de controle da missão, comando aéreo estratégico,
cockpit, dashboard ou Star Trek. Como já disse Drucker, a gestão competente
é tediosa. Não procure diversão em um sistema de informações gerenciais.
Designs simples mostrando dados em alta resolução, com informação bem
explicada em tabelas e gráficos, acompanhada de comentários e dados
acessórios, é o que os executivos precisam.
Possivelmente, ao fazer o exercício de identificar fóruns de decisão e apoiar
a criação de painéis de bordo, você irá perceber quatro sintomas bastante
rotineiros de uso parcial e insuficiente do sistema de indicadores:
TODOS OS INDICADORES SÃO APRESENTADOS, TODAS AS VEZES, ...
EXCETO OS MAIS RELEVANTES.
Muitos de nós já participaram de algumas reuniões de análise de resultados,
com presença de executivos do alto escalão, que duraram um dia inteiro,
Dentro de dezenas de slides, somente duas ou três discussões estratégicas
mereciam atenção: o tempo despendido por executivos com apresentações
repetitivas dos resultados da mesma sequência fragmentada e torturante de
indicadores é incrível. Isso ocorre porque as apresentações são estruturadas
por área ou unidade funcional, ao invés de seguir a árvore de atributos, ou
seja, a reunião é encarada como oportunidade para fazer demandas, sair
bem na foto etc. Já vimos essa síndrome antes: analisar o desempenho por
caixinha, e não por processo, leva a esse comportamento. Indicadores que
não estão sob controle de alguém são frequentemente ignorados, por não
interessar para o acordo de metas de ninguém. A sensação de quem participa
de uma dessas reuniões é que os indicadores foram embaralhados sem
critério e que as pessoas esperavam que os executivos extraíssem algum
significado daquele oceano de dados, já que eles são tão bem remunerados.
Uma provável causa-raiz dessa situação é que a maioria dos executivos
adora o mundo operacional-transacional. Os painéis de bordo (analógicos
ou digitais) ajudam muito a mudar essa característica, pois entregam
informação já organizada o tempo todo, permitindo maior proatividade da
decisão no dia a dia e liberando a agenda para as discussões mais árduas.
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108 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
OS FÓRUNS DE DECISÃO TENDEM A OLHAR SOMENTE PELO RETROVISOR
E PARA UM HORIZONTE DE CURTÍSSIMO PRAZO.
Alfred Rappaport(43), professor da Kellogg Graduate School of Management
e colunista de longa data do Wall Street Journal, é o mais conhecido defensor
do uso do atributo “valor adicionado ao acionista” (mais conhecido como
SVA), aplicado pelo WSJ para comparar resultados de empresas de capital
aberto norte-americanas. Ele afirma que:
A maioria das empresas avalia e compara decisões estratégicas em termos
do impacto estimado nos lucros previstos já divulgados (ou seja, a maior
preocupação é prestar contas); ao invés, elas deveriam medir a estratégia frente
ao valor incremental dos fluxos de caixa futuros, que é o que interessa.
É claro que a maior parte da energia da direção de qualquer organização
está direcionada para a solução de problemas reais e crises, que já estão
em cima da mesa da reunião. Entretanto, se isso acontece de forma
crônica, o tempo todo, algo realmente não vai bem. Identificar problemas
e oportunidades potenciais, de maneira proativa e no horizonte mais
distante, é uma das atribuições facilitadas pelo sistema de indicadores,
o qual deve estimular a projeção de resultados no longo prazo e gerar
aprendizado a partir da crítica das projeções anteriores, ao invés de crises
de relações públicas.
Indicadores ligados a atributos limitadores e estruturais devem ser
monitorados em relação aos padrões esperados, pois revelam problemas
futuros. Risco não deveria ser um assunto exclusivo de especialistas
em risco, já que a linguagem de risco deve ser dominada por qualquer
gestor. Os softwares vendem muito bem a funcionalidade de drill-down,
que é possibilidade de o usuário ir descendo na árvore de indicadores
para identificar a causa de um resultado adverso, mas não exploram a
funcionalidade de drill-up: a partir de um resultado anormal, avaliar o
impacto potencial futuro e alertar os responsáveis por gerenciar o impacto.
Por exemplo: o aumento do número de não conformidades de auditoria
de processo pode significar que haverá problemas na aplicabilidade de um
produto novo, com possível repercussão negativa na aceitação do produto
pelos clientes.
43. A. Rappaport, 10 Ways to Create
Shareholder Value, Harvard
Business Review, Setembro
2006.
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109Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
O SISTEMA DE INDICADORES É POUCO USADO PARA ASSUNTOS
QUE NÃO ESTEJAM LIGADOS DIRETAMENTE AO NÚCLEO
DURO DOS NEGÓCIOS.
Quem lê um desses Relatórios de Sustentabilidade de grandes empresas tem
a impressão de que Responsabilidade Socioambiental é um tema estratégico
para aquela entidade, a qual, eventualmente, é listada no Dow Jones Sustainability
Index ou no ISE (Índice de Sustentabilidade da Bovespa). Todavia, na maioria
dos casos, é um tema que é tratado à parte, de maneira não integrada aos
demais temas críticos(44). É fácil de entender: o bicho que está pegando agora
é prioritário, e acabamos trocando o importante pelo urgente. Num mundo
em ebulição, o meramente importante tem dificuldade de ganhar atenção, e
horizontes além de seis meses têm dificuldade de subir para a mesa do war
room. O principal sintoma de que isso ocorre é que não há triple bottom line nos
objetivos estratégicos, mas, sim, mono bottom line, principalmente quando os
investidores estão à porta, pressionando para resultados de curto prazo. Como
consequência, não há uma vertente de responsabilidade socioambiental no mapa
estratégico, e não há evidência de discussão estratégica do tema nos fóruns de
decisão nos quais os atributos finalísticos são integrados.
Observe também como a elaboração de relatórios anuais de prestação de
contas dispara uma correria de última hora atrás de resultados de indicadores,
os quais, se o sistema fosse plenamente utilizado, deveriam estar prontinhos e
disponíveis nos painéis de bordo e nas apresentações para os fóruns de decisão.
NÃO HÁ ANÁLISE CRÍTICA DO ÊXITO DA ESTRATÉGIA.
Ainda segundo Rappaport, no mesmo artigo mencionado anteriormente:
Uma análise estratégica sensata deveria responder a esta questão: para a
estratégia vigente, qual é a sensibilidade do valor a ser gerado à dinâmica
competitiva e às premissas assumidas sobre tecnologia, ambiente regulatório e
outras variáveis relevantes do cenário mais provável?
Para avaliar o êxito de uma Estratégia, é fundamental evitar o viés da
confirmação e, a fim de conseguir essa proeza, periodicamente a Estratégia
deveria passar por um check-up, assim como os executivos são, comumente,
obrigados a passar. É o auge do sistema de indicadores, no qual sua
funcionalidade mais importante será demonstrada: a visão global do elefante
(lembra da fig. 8?) a distância(45).
44. Pelo lado positivo, chamamos
a atenção de que muitas
empresas, tais como, Itaú,
Braskem e tantas outras,
têm mostrado que a
sustentabilidade pode ser, sim,
um componente essencial da
Estratégia.
45. Se alguém já não tivesse se
apropriado da sigla EAD para
Educação a Distância, ela iria
cair como uma luva...
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDOE
ANÁLISES CRÍTICAS
O MEG tem um item de avaliação (1.4) dedicado ao processo de Análise do
Desempenho da Organização, alocado imediatamente antes dos processos de
formulação estratégica (item 2.1 do MEG). Dois pontos chamam a atenção
nesse item: a necessidade de comparar os resultados aos resultados de outras
organizações e a necessidade de tratar os resultados de forma integrada, o
que nos leva à próxima etapa da nossa caminhada.
QUINTA ETAPA DA TRANSFORMAÇÃO DO SISTEMA DE INDICADORES
ANÁLISE CRÍTICA DO
DESEMPENHO GLOBAL
Os entregáveis de uma análise de alto nível são a identificação de mudanças
necessárias na Estratégia em função da observação da realidade e as decisões
decorrentes. Na fig. 15, fizemos uma analogia da Estratégia com uma prosaica
cebola, esperando que o leitor não tenha chorado com esse tratamento do
nobre assunto. As alterações de que falamos abrangem as cinco camadas da
cebola, e não somente os objetivos estratégicos, como parece ser a convenção.
A mudança pode ser no modo de relacionamento com uma parte interessada;
ou na configuração de um ramo da cadeia de valor; ou na gestão de um grupo
de recursos, por exemplo. Mudanças profundas irão, certamente, ser tratadas
pelo processo de revisão da Estratégia, que, provavelmente, envolverá outros
interessados, além da direção executiva. Já as mudanças que estão dentro dos
limites de alçada da direção serão encaminhadas para implantação.
Um exemplo de fluxo para a análise crítica está apresentado na fig. 55,
conectando-a à tradicional prática da análise de SWOT (forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças). Em outras palavras, entendemos que a análise
crítica do desempenho é um insumo essencial para o redirecionamento da
Estratégia, o que, em condições normais de temperatura e pressão, é algo
que não vai acontecer semanalmente.
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Registros dos fóruns
de decisão
Seleção dos pontos-chave
para decisão e aprendizado
Seleção dos atributos
e indicadores que
serão estudados
Estudos de correlação
entre resultados
Preparacão de
comentários e achados (fi ndings)
Defi nição da
sequência de
apresentação e validação
Reunião/Workshop
dos executivos
Os atributos fi nalísticos e
viabilizadores sempre devem ser
apresentados, mesmo que não
apresentem surpresas.
Decisões Imediatas
Ações preventivas
ou corretivas
Análise de SWOT
(formulação estratégica)
Lições
aprendidas
Base de dados do
sistema de indicadores
Fig 55. Processo de Análise Critica do Desempenho Global
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Uma questão interessante surge sempre nos cursos de indicadores e de MEG
da FNQ: se é tão importante, por que as avaliações do processo de análise
do desempenho global têm, em média, uma pontuação relativamente baixa,
em contraste com os demais itens dos Critérios 1 e 2(46)? Bem, isso é verdade,
com base no histórico nas avaliações feitas pela FNQ; podemos, tão somente,
formular algumas hipóteses para dar uma resposta satisfatória a essa questão.
· Não há incentivo vindo das partes interessadas e, em especial, dos
Conselhos de Administração, para que a direção critique, de forma
isenta, o rumo estratégico no qual a própria direção possivelmente
apostou e obteve validação para implantar. Não basta acreditar em uma
Estratégia: o executivo não pode sequer parecer ter qualquer sombra
de dúvida sobre ela. Aparentemente, o ato da análise crítica sugeriria
hesitação ou insegurança;
· As organizações adotam a premissa generalizada de que o
monitoramento dinâmico da performance, por meio de reuniões
semanais, do uso de painéis de bordo e do monitoramento do alcance
dos resultados dos acordos de metas dos executivos, já seria suficiente
para entregar os entregáveis acima. Consideramos essa premissa
potencialmente falsa na maioria dos casos, porque essas atividades,
todas muito necessárias, são insuficientes do ponto de vista de
cognição de risco estratégico e não proporcionam a vista mais distante
do elefante. Pesar-se uma vez por semana e colocar o resultado numa
planilha sofisticada de monitoramento não eliminam a necessidade da
visita anual ao médico;
· As organizações não definem com clareza como determinam sua
competitividade, uma exigência do MEG.
A QUESTÃO DOS REFERENCIAIS
COMPARATIVOS
O sucesso de uma Estratégia só pode ser medido à luz da competitividade
conquistada em determinados atributos, a qual tem que ser compreendida
por meio de comparações com outras organizações. Alguns atributos já são
comparativos por definição, tais como crescimento da participação em um
determinado segmento; outros, já dependem de proatividade para obtenção
dos dados, tais como qualidade do produto.
Nossa experiência mostra que obter comparações ainda é uma dificuldade
extremamente comum para as organizações brasileiras, o que é um grande
obstáculo à análise crítica do desempenho.
46. Desconsiderando o item 1.3
da 20ª edição, introduzido
em 2014.
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113Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
K-Mart 3,45 3,75 3,66 3,85 3,98 4,01 4,22 4,75 4,56
Wal-Mart 5,14 4,88 5,16 5,67 6,37 6,91 7,29 7,79 8,08
Rosenzweig(26) afirma que uma ilusão comum entre executivos é que
é possível melhorar o desempenho de uma empresa para sempre, sem
modificar consideravelmente a Estratégia. Ele conta que:
Um estudo de Anita McGahan, da Boston University, examinou os resultados
de milhares de empresas norte-americanas entre 1981 e 1997. O estudo
evidenciou que a performance de nível superior de algumas empresas em um
determinado setor não é algo aleatório e pode persistir nesse nível por muitos
anos. Entretanto, também foi constatado (estatisticamente) que a diferença do
desempenho delas em relação ao desempenho médio do setor tende a diminuir
significativamente com o passar do tempo. A conclusão é que vantagem
competitiva é difícil de ser sustentada e que não há uma formula mágica para o
sucesso duradouro.
A melhoria contínua pode ser traiçoeira, como mostraram os casos
emblemáticos, já profundamente estudados pela academia, da Kodak
(mencionado anteriormente), da IBM e do K-Mart, pois coloca a direção em
uma zona de conforto similar à do capitão do Titanic, que foi dormir numa
noite sem lua em mar de iceberg. A análise crítica comparativa tem o mérito
de evitar esse posicionamento de “como sempre, tudo bem”, causado por
indicadores que mostram evolução favorável por um longo período.
Um exemplo interessante é o resultado de giro de estoque do K-Mart entre
1994 e 2002, quando comparado ao do Wal-Mart, mostrado na fig. 56.
Fig 56. O que parece bom pode não estar tão bom
Fonte: Thomson Reuters (dados citados em The Halo Effect and the other Eight Delusions that Deceive Managers, Phil Rosenzweig, 2007)
O MEG utiliza o termo “referencial comparativoreferencial comparativo” para se referir ao conjunto
organização-atributo-indicadororganização-atributo-indicador selecionado para aferir competitividade.
A relevância de comparar giro de estoque entre duas cadeias de
ultramercados é cristalina: é um atributo viabilizador essencial do setor,
determinante da rentabilidade. Assim como nesse exemplo, toda e qualquer
organização deveria articular, com base em sua Estratégia, aqueles atributos
em que pretende ser competitiva. A partir daí, usando a árvore de atributos,
deveria ser capaz de definir os atributos em que é importante alcançar
padrões de desempenho diferenciados para que a Estratégiaseja viável.
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114 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Mesmo organizações que, em tese, não competem, vão precisar relativizar
seu desempenho global para atender às demandas de prestação de contas
das partes interessadas: a boa performance absoluta (como a do K-Mart) será
considerada insuficiente.
O QUE COMPARAR
Não faz o menor sentido cobrar de uma organização comparações para todos
os resultados de todos os indicadores da árvore de atributos. As três questões
relevantes que você tem que propor aos executivos são:
· Em quais atributos precisamos ser competitivos e demonstrar
equivalência ou superioridade para demonstrar nosso posicionamento
estratégico?
· Quais atributos de outras organizações precisamos avaliar para
compreender seu desempenho global?
· Em quais atributos precisamos ter noção de distância relativa para
gerar aprendizado?
Note que são questões bem diferentes: na primeira, subentende-se que o
foco da Estratégia é ser melhor que alguém, e que isso tem que ser medido
para poder ser gerenciado; na segunda, queremos entender melhor o que
ocorre em uma organização que se destaca em algum atributo finalístico;
e na terceira, queremos refinar as metas, limites de controle e padrões de
normalidade dos nossos indicadores.
A primeira questão é tranquila, todo mundo entende: nenhuma Estratégia
presume perfeição de desempenho, muito pelo contrário. Tão importante
quanto saber no que queremos ser competitivos é saber no que nãonão queremos.
A segunda já é mais sutil, pois é necessário captar o conceito de aprendizado:
como encurtar o caminho para o aprimoramento, usando benchmarking?
Estamos falando do método científico aplicado à formulação estratégica: o
desempenho global é o objeto. Como vamos aprimorar a Estratégia, se não
traçarmos um paralelo com outras organizações e verificarmos o efeito das
variáveis externas?
A terceira questão também não é trivial para execução, mas é fácil de
se entender: como sabemos que nossos padrões para resultados estão
adequados, se não tivermos uma noção do que é normal?
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Além de usar a árvore de atributos para debater quais deles deveriam ser
comparados, é recomendável organizar o plano de comparações em uma
planilha (fig. 57). Note que, tecnicamente, a ordem cronológica correta
é: primeiro, definir os atributos e os indicadores a comparar; em seguida,
estipular um critério para selecionar o alvo da comparação; e só depois,
selecionar a entidade-alvo (não necessariamente uma única empresa) e o
método de obtenção dos dados.
Fig 57. Planilha de Referenciais Comparativos
Um refi namento possível é incluir uma coluna de “motivo da comparação”, ou seja, refl etindo qual das três questões fundamentais estamos
respondendo. Neste exemplo, provavelmente está sendo respondida a questão 3, calibrando a meta ou o limite do indicador em função do quartil
em que o resultado da organização se encontra.
Atributo Indicador Critério Referencial Método Periodicidade
Clima
organizacional
% acima de nota
média 7 na
pesquisa da revista
Sua Carreira (PSC)
Representação
setorial
Empresas do setor
de atuação que
participam da PSC
Relatório da PSC
com posição no
setor (quartil)
Anual
COM QUEM COMPARAR:
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO
Tudo em nome da coerência: sair comparando a esmo não parece uma
solução elegante para um problema complexo como esse. Os critérios mais
usados são descritos a seguir.
ORGANIZAÇÕES QUE DISPUTAM O MESMO ESPAÇO AO SOL
Em primeiro lugar, compare com os concorrentesconcorrentes, é claro. Essa é fácil.
O Bradesco se compara com o Itaú, a Embraer com a Bombardier, a
TAM com a GOL, a Claro com a Vivo e por aí vai. Se a organização não
tem concorrentes diretos, os concorrentes podem ser indiretos, cabendo
melhor na descrição de “rivais”, mesmo que hipotéticos: é assim que as
distribuidoras de energia elétrica, mediadas pela ABRADEE e por meio
do Prêmio do mesmo nome, se desafiam umas às outras para melhorar seu
desempenho coletivo.
Organizações que fazem parte de grandes grupos e transnacionais podem
se comparar a suas “irmãs”; o mesmo podem fazer as entidades da
administração pública, do sistema S(47), organizações sem fins lucrativos e
entidades concessionárias de serviços públicos.
47. SENAR
Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural;
SENAC
Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial;
SESC
Serviço Social do Comércio;
SESCOOP
Serviço Nacional de
Aprendizagem do
Cooperativismo;
SENAI
Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial;
SESI
Serviço Social da Indústria;
SEST
Serviço Social de Transporte;
SENAT
Serviço Nacional de
Aprendizagem do Transporte;
SEBRAE
Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas.
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Um alerta: não é porque uma empresa é sua concorrente que qualquer
indicador é comparável por default. Cuidado para não comparar laranja com
banana. Cuidado também para não comparar atributos que estão imersos em
estratégias completamente diferentes uma da outra.
GRUPOS DE ORGANIZAÇÕES (CONCORRENTES OU NÃO)
COM REPRESENTAÇÃO SETORIAL
O posicionamento ou ranking dentro de um grupo do mesmo setor ou indústria
é uma informação forte em termos de conteúdo estratégico. No exemplo
da fig. 57, a comparação de clima organizacional é feita por esse critério. É
importante que se tenha um bom controle sobre quem participa do grupo; não
adianta ser o primeiro da classe, se a classe só tem alunos fracos.
ORGANIZAÇÕES COM PROCESSO SIMILAR E DESAFIO
ESTRATÉGICO EQUIVALENTE
Isso parece complicado, mas não é. Uma boa alternativa de comparação é
escolher uma organização que tem um determinado processo muito parecido
com o processo de vocês, sem ser concorrente ou rival. Pode ser uma
organização do mesmo setor ou não, mas que, sabidamente, tem histórico
de competência naquele atributo. Por exemplo, uma usina hidrelétrica
que busca um determinado desempenho num indicador técnico pode
se comparar com uma hidrelétrica do Canadá que usa o mesmo tipo de
configuração de equipamentos. Um fabricante de automóveis pode se
comparar com a Embraer, no que tange ao desempenho dos fornecedores.
Um banco pode se comparar ao Sofitel ou à TAM, em termos de serviço ao
cliente, desde que o atributo seja similar, com o mesmo indicador.
ORGANIZAÇÕES COM CONDIÇÕES DE CONTORNO SIMILARES
Para determinados atributos, é viável fazer a comparação com organizações
que comungam de uma ou mais condições de contorno adequadas, tais como:
mesmo porte e região, para comparar satisfação com remuneração; e verba e
estratégia social similar, para comparar eficácia de programas sociais. Nesse
caso, a lógica é que, se as condições são similares, seria válido comparar os
resultados para um atributo fortemente influenciado por essas condições.
DESTAQUE EM UM ATRIBUTO RELEVANTE PARA AMBAS
Se você quer aprender, aprenda com os melhores: essa é a essência original
do benchmarking. Se vocês precisam mudar significativamente o desempenho
de um atributo, busque uma entidade que se destaque nesse atributo, não
interessa de qual setor. O foco principal, nesse caso, será compreender o
processo que leva essa organização a ter desempenho superior.
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SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
MÉTODOS DE OBTENÇÃO DE
REFERENCIAIS COMPARATIVOS
A tabelada fig. 58 analisa os métodos comuns para obtenção de dados das
entidades-alvo.
Fig 58. Métodos de obtenção de comparações
Método Descrição Prós Contras
Teórico
Uso de padrões de normalidade de
processo ou produto, com base em
dados estatísticos Exemplos: taxa de
colesterol, consumo de combustível
de um veículo, saúde ocupacional.
Já está disponível e, dependendo
da fonte, os dados tendem a ser
confi áveis.
Gera pouco aprendizado.
Só comprova normalidade.
Dedução
Levantamento de resultados
das entidades-alvo por meio de
dados de mercado obtidos de
clientes ou fornecedores, ou dados
demográfi cos. Exemplo: market
share, wallet share.
Não é necessário alinhar com
ninguém ou obter cooperação.
Gera informação muito relevante
para a Estratégia.
Restrito a poucos atributos.
Gera pouco aprendizado.
Dados podem ser não confi áveis.
Olho no olho
Obtenção de dados em contato
direto com uma organização.
Maior compreensão do contexto
leva ao aprendizado efetivo.
Dados são mais confi áveis.
Concorrentes diretos não são muito
favoráveis. Grandes empresas têm
acesso difícil.
Grupo de estudo
Dados vêm de um grupo fechado
de pequeno porte, bem estruturado.
Potencial falta de representatividade
para os atributos relevantes.
Associação de
empresas
Dados vêm de uma entidade que
coordena empresas do mesmo
setor (SEBRAE Nacional, ABRADEE,
ANBIMA, etc.)
Posicionamento ou ranking
fi ca evidenciado.
Dados podem ser não confi áveis
(dependendo do controle exercido
pela associação ou instituição).
Difi cilmente gera aprendizado, a
não ser que a comparação evolua
para outro critério acima.Instituição
independente
Dados vêm de uma entidade
que promove benchmarking em
temas específi cos (P. ex., GPtW,
FGV, Sextante, Boston Consulting,
McKinsey, etc.)
Informações
públicas
Obtenção de dados de relatórios
publicados, ou divulgados na mí dia
ou pelo site.
Já está disponí vel e os dados
tendem a ser confi áveis.
Só se tem acesso a dados “chapa
branca”. O contexto estratégico
pode não ser claro, difi cultando o
aprendizado.
Teste de produto
ou serviço
Dados coletados por meio de
comparação direta ou por cliente
oculto.
Leva ao aprendizado efetivo sobre
o valor entregue pelo modelo de
negócio. Uso da mesma métrica
minimiza erro.
Escopo é restrito a poucos atributos.
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Dados obtidos pelos métodos acima exigem ainda mais cautela, no que
se refere à sensibilidade ao atributo, margens de erro e ruído. Embora os
indicadores possam ser, à primeira vista, idênticos, é muito improvável
que sejam, pois quase sempre há alguma diferença na métrica utilizada, na
filtração de ruído, ou no direcionamento da amostragem, entre outras fontes
de variação de uma medição. O importante é julgar se essas diferenças
podem causar interpretações errôneas, o que depende do que você está
buscando com a comparação.
Para megueiros (48): RC pertinente, de liderança e de excelência
Se a sua organização está se autoavaliando ou sendo avaliada pelo MEG, deverá
comprovar sua competitividade, que é um dos quatro fatores de avaliação, em
relação aos referenciais comparativos. Os resultados comparáveis da organização
do último ciclo (normalmente o ano anterior) serão contrastados com os resultados
das entidades-alvo. Se os resultados da organização forem todos superiores, a
pontuação do fator competitividade possivelmente não passará de 60%. Como
assim?... Porque, para a pontuação subir a 80%, é necessário também demonstrar
liderança no setor em pelo menos um atributo, e para subir a 100%, você precisará
comprovar que a organização está em nível de classe mundial em pelo menos um
atributo (que pode ser o mesmo atributo nos dois casos, claro).
Uma entidade-alvo é dita um referencial pertinente, quando o avaliador concorda
que o critério de seleção para aquele atributo é razoável. Nesse caso, pode até ser a
média de um grupo ou associação.
O referencial de liderança obrigatoriamente será um grupo composto pelas
empresas de um setor; o resultado a ser apresentado será o da entidade segunda
colocada, já que a sua organização é a líder. Se não for, pelo menos vocês saberão
qual é e trabalhar para ultrapassá-la, se isso for importante.
Já o referencial de excelência deve ser capaz de demonstrar que o seu resultado
é, ou está muito próximo de ser, o que é considerado um “gabarito” de nível
internacional naquele atributo. No caso de atributos que buscam perfeição (0 ou
100; p. ex., acidentes com afastamento), estar muito próximo de 0 ou 100 conta
como excelência, mas somente se ficar evidenciado que é uma marca muito difícil
de ser alcançada.
48. Megueiro é um praticante
de avaliações pelo MEG, seja
como avaliador propriamente
dito, seja como relator do lado
da avaliada.
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SISTEMIZAÇÃO
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INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
AVALIAÇÃO DO RESPEITO AOS
COMPROMISSOS COM AS
PARTES INTERESSADAS
Como vimos anteriormente, atender às necessidades das partes interessadas
faz parte da Estratégia; então, avaliar se a organização está respeitando, no
mínimo, os compromissos divulgados (e que foram traduzidos em requisitos)
é um aspecto da análise crítica que não pode ser menosprezado, em especial
no que tange aos compromissos de caráter institucional (conforme fig. 17), os
quais tendem a não ser devidamente monitorados à luz da Estratégia. Você
provavelmente lembra da fig. 45, que apresenta um exemplo de árvore com
atributos derivados da imagem perante a sociedade. Ela reflete esse tipo de
preocupação: ao tentarmos aumentar a participação no mercado, aumentou
nosso risco legal ou regulamentar?
Em avaliações pelo MEG, os resultados do último ciclo de desempenho
são cotejados com os requisitos vigentes naquele período, mais conhecidos
como RPI (requisitos de parte interessada). Medições de satisfação (de
clientes, colaboradores, fornecedores etc.) geralmente não são consideradas
apropriadas para esse fim, pois não caracterizam diretamente um requisito
específico. Os requisitos não precisam ter sido validados pela parte
interessada, mas o compromisso a que eles estão vinculados devem, de
alguma forma, ser explícitos para a parte interessada.
AGREGAÇÃO DE RESULTADOS E OUTRAS
VARIÁVEIS: O DESAFIO DE DEMONSTRAR
CAUSA E EFEITO
A função da análise crítica não é verificar o alcance dos objetivos estratégicos,
até porque isso já é feito semanalmente, e sempre que surge um resultado
importante, possivelmente através do painel de bordo. A função dela é
explicar os resultadosexplicar os resultados do topo da árvore e identificar inconsistênciasidentificar inconsistências na
formulação anterior da Estratégia. Será que os resultados estão bons porque
a Estratégia está se materializando, ou é produto da interferência de fatores
externos? Estamos alcançando os objetivos por meio da rota traçada? Se não,
vamos adaptar-nos ou não? Se as coisas não vão bem, em alguma perspectiva,
é só uma questão de tempo para entrarem nos eixos, ou vamos pegar outra
trilha? E a questão mais importante de todas: o que aprendemos com nossos o que aprendemos com nossos
resultados e suas comparaçõesresultados e suas comparações? Essas são as questões que a análise do
desempenho global ajuda a responder.
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
O termo “análise” não é muito feliz, embora esteja consagrado. É muito
mais uma “análise sucedida por síntese”. É como numa autópsia, em que
você liga um monte de informações que foram analisadasseparadamente
e estão dispersas em cima da mesa, para compor um quadro geral que
sintetiza por que a pessoa morreu. Desculpe o caráter funesto da analogia,
mas é a que melhor se encaixa: sinceramente, espero que a sua organização
esteja vivíssima.
A visualização inteligente da correlação entre os resultados dos diversos
indicadores, à luz da árvore de atributos, é o ponto-chave da análise crítica,
confirmando nossa assertiva de que indicador é um ser social. Comprovar
causalidade não é trivial, embora pareça, pois é necessário demonstrar o
mecanismo de causa-e-efeito. Por isso, demorou para ficar comprovado que
o fumo causa câncer de pulmão, pois faltava base estatística, e o mecanismo
que faz com que as células fiquem alteradas ainda não era claro – aliás,
ainda não está plenamente dominado, embora a base estatística agora seja
inequívoca. Em gestão de empresas, não precisamos ser tão técnicos, é óbvio,
mas é crucial relembrar que correlação não é causalidadecorrelação não é causalidade, e que temos que
fazer um esforço extra para nos certificar de que o que estamos mostrando
lança alguma luz nova no processo decisório dos executivos, algo que eles
não haviam percebido.
CORRELAÇÕES HABITUAIS
A fig. 59 mostra um exemplo típico de tabela contendo os resultados de 2012
a 2014, de três indicadores de segurança no trabalho de uma organização,
acompanhados de um gráfico de tempo detalhado (por mês) de 2014 de
um dos indicadores. A intenção do analista aparenta ser explicar por que a
frequência de acidentes está subindo, algo como “Vejam, a satisfação dos
colaboradores com segurança está caindo e aumentaram os apontamentos
que eles fizeram”. Será? O que é causa e o que é efeito? Não há como
deduzir do slide, pois – acho que você concorda – faltam os comentários do
analista sobre a teoria de causa e efeito. E para que serve o detalhamento dos
apontamentos, além de revelar destreza no Excel? Esse é um slide habitual
das análises de desempenho das empresas: na correria de preparar a análise,
presumimos que a explicação vai surgir naturalmente na reunião presencial
e esquecemos do mais importante: analisar criticamente (é diferente de
estatisticamente) as correlações, algo que computadores comuns têm grande
dificuldade para fazer. Não é à toa que muitos executivos sobem as paredes
durante essas reuniões.
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121Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Fig 59. Tabela de correlação
Indicador 2012 2013 2014
Apontamentos de
segurança
100 118 134
Satisfação das
pessoas com
segurança
92 87 84
Frequência de
acidentes
4,3 5,2 7,1
Apontamentos de Segurança 2014
250,00
200,00
150,00
100,00
50,00
0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Na sequência, a fig. 60 vem do site Gapminder, criado por Hans Rosling(49),
para demonstrar a importância da visualização bem desenhada para tomada
de decisão na área de políticas públicas de saúde. O Gapminder correlaciona
dados demográficos dos países, visando a influenciar as políticas nacionais
e internacionais, com grande sucesso. O gráfico mostra quatro indicadores:
renda per capita no eixo X, expectativa de vida no eixo Y, população do
país (tamanho da esfera) e região (cor) onde está o país. O importante
desse gráfico é que ele estimula visualmente os formuladores de políticas a
buscar analisar e entender as relações de causa e efeito (observe que alguns
países violam a curva da correlação). O gráfico revela também a força do uso
adequado da cor como recurso visual essencial.
49. Hans Rosling é médico
e professor de Saúde
Internacional no Instituto
Karolinska, da Suécia. Ficou
famoso internacionalmente
por meio do Gapminder e de
suas palestras no site TED
(www.ted.com).
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122 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Fig 60. Gráfico de correlação com vários indicadores
Fonte: www.gapminder.org
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
UM EXEMPLO DE VISUALIZAÇÃO
COM FINAL FELIZ
A análise crítica não deveria empregar somente resultados de indicadores;
informações qualitativas, ou seja, que não têm respaldo em métrica
apropriada, ou que não são estatisticamente significativas, ou oriundas de
atributos ainda não mensuráveis, também podem ser relevantes quando
estamos buscando comprovar relações causais.
Em 1858, a região central de Londres sofreu uma epidemia de cólera
que matou centenas de pessoas. O indicador “mortes por dia” mostrava a
epidemia se alastrando de forma inequívoca; em duas semanas, o número
passou de zero a 150 por dia. À época, era crença generalizada que a cólera
vinha de contágio pelo ar; então, a principal contramedida era isolar as
pessoas que adoeciam. Um médico ainda jovem e desconhecido, dr. John
Snow, acreditava que a cólera era transmitida pela água. Ele mapeou aonde
haviam ocorrido as mortes e criou uma visualização tão singela quanto
eficaz, que se tornou célebre (fig. 61), para convencer os responsáveis pela
administração de saúde pública londrina que a causa da epidemia era um
poço artesiano, o qual ficava bem no centro do mapa. Sem saber, John Snow
havia inaugurado a informação gerencial útil associada à comprovação de
causa e efeito empírica, baseada em evidências. Naqueles tempos, não
havia água corrente em casa: as pessoas iam com baldes tirar água do poço,
usando uma bomba manual. A manivela da bomba foi retirada, e as mortes
caíram rapidamente a zero. Além do enorme número de vidas salvas no
ato, comprovou-se que cólera não é contagiosa de pessoa para pessoa, não
demorando muito para que se deduzisse que ela é causada por micro-
organismos que costumam habitar em água contaminada.
No exemplo do dr. Snow, o gráfico de mortes por dia em nada ajudaria a
resolver o problema, pois só confirmava o que já se sabia no dia a dia, pelo
painel de bordo dos médicos e burocratas do governo londrino. Se fizessem
uma tabela mostrando o mês de nascimento das pessoas mortas, ou a cidade
natal do avô paterno, talvez fosse possível enxergar correlações com as
mortes, já que muita coisa correlaciona com muita coisa no mundo; causa e
efeito, não -- é artigo raro que precisa ser concebido.
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Fig 61. Mapa de Londres com cólera em 1858
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
UM EXEMPLO DE VISUALIZAÇÃO
COM FINAL TRÁGICO
Na manhã de 28 de janeiro de 1986, estava programado um voo da
Challenger, espaçonave da série conhecida como ônibus espacial. Aquele
estava sendo um inverno muito rigoroso, e a NASA tinha uma decisão difícil
à frente: abortar o lançamento, a um custo aproximado de U$5 milhões,
ou seguir com o plano, correndo riscos inerentes à baixa temperatura, que
estava beirando 0ºC nas manhãs da Flórida, onde fica o Cabo Canaveral.
Ainda hoje, há muito pouca experiência da NASA com lançamentos de
espaçonaves entre 0 e 10ºC. O maior risco era a manutenção da capacidade
de vedação dos O-rings dos tanques de oxigênio líquido, que poderiam vazar,
caso os O-rings se contraíssem. A NASA pediu um parecer à fabricante do
motor, Martin Tiokol, à véspera do lançamento. Os engenheiros da Tiokol
enviaram a visualização da fig. 62, mostrando os resultados dos testes de
bancada dos motores em váriastemperaturas; a direção da NASA, com base
na insuficiência de dados e pressionada pelo fantasma dos custos, decidiu
liberar a decolagem. Após menos de um minuto do lançamento, a Challenger
explodiu, matando todos os sete tripulantes.
Fig 62. Uma tragédia evitável
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126 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Segundo a comissão do Congresso dos EUA que investigou o acidente,
sua causa principal foi a temida contração do O-ring; a principal causa-raiz,
ainda conforme o parecer da comissão, foi a visualização confusa e pouco
assertiva elaborada pela Tiokol. À época, o renomado Edward Tufte, a
quem já citamos, preparou e publicou uma visualização simples, eficaz e
contundente, contendo as mesmas informações do slide da Tiokol (fig. 63).
Acho que dá para notar a diferença. O segredo é revelar a causa e efeito que
é a chave da decisão: no caso, plotando falhas de O-ring contra temperaturas,
nos dias em que testes foram realizados anteriormente, e chamando a
atenção de que simplesmente não havia dados suficientes para avaliar o risco
do lançamento real na temperatura prevista para 28 de janeiro. Como já havia
histórico de falha em temperaturas mais altas, o risco se revelava inaceitável.
Fig 63. Visualização de E. Tufte
0-ring damage index,
each launch
Temperature (ºF) of fi eld joints at time of launch
SRM15
SRM22
26º-29º range of forecasted temperatures
(as of January 27, 1986) for the launch
of space shuttle Challenger on January 28
0
25 45 7035 55 8030 50 7540 6560 85
4
8
12
0
4
8
12
RANKINGS E ÍNDICES ESTRATÉGICOS
Um método cada vez mais popular de comparar países e empresas é a
criação de indicadores compostos, que permitam sintetizar a avaliação
de um atributo de alto nível, tal como desenvolvimento humano (IDH),
sustentabilidade (DJSI, mencionado anteriormente) ou qualidade da gestão
(MEG), permitindo a publicação de resultados no formato de uma lista dos
que passaram na prova, de uma classificação (ranking) ou de uma premiação.
Aliás, a pontuação de uma organização, resultante de uma avaliação do MEG,
permite compará-la à gestão de entidades de qualquer setor de atuação ou
porte; essa é a grande vantagem dos indicadores compostos.
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Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Um indicador composto é uma cesta de indicadores singulares que recebem
pesos que os normalizam, conforme um determinado critério desenhado
pelos projetistas do indicador. O PIB (Produto Interno Bruto) e os índices
de inflação são exemplos de indicadores compostos, assim como o grau de
risco de uma empresa avaliado por uma agência de risco e a pontuação no
questionário do Instituto Ethos.
Como você percebeu, um indicador composto “puxa” os indicadores dos
atributos subordinados a um atributo principal; os pesos são designados com
base na influência dos filhos no atributo-mãe. Você pode projetar um ou
mais indicadores estratégicos compostos, para tornar a análise crítica mais
interessante, porque as pessoas curtem sínteses e gostam de desvendá-las.
Se rolar uma competição entre unidades, então, melhor ainda.
Entretanto, o projeto de um índice estratégico não é uma tarefa trivial, tanto
é que existem várias publicações emitidas por entidades respeitáveis(50), com
o fim de orientar a criação de índices e coibir seu uso inadequado ou escuso.
O roteiro para se chegar a um indicador composto que possa ser chamado de
comercializável é complexo:
· Desenvolvimento do arcabouço teórico dos atributos envolvidos;
· Seleção de indicadores com base na sua capacidade de medir os
atributos;
· Análise multivariada para verificar a adequação dos pesos e agregações
propostas, bem como para estudar a influência de um indicador no
outro (correlações que poderiam interferir no resultado agregado);
· Normalização dos indicadores para uma base comum (p. ex., 100);
· Análise da transparência da decomposição do indicador-mãe na hora
de explicá-lo (rastreabilidade da agregação).
Embora você não precise se preocupar com a venda externa do indicador,
ainda assim terá que se preocupar com a interna; portanto, cautela e
paciência são requeridas. Os ganhos são compensadores. Mesmo que
vocês não pretendam submeter-se a uma avaliação pelo MEG, uma
customização simples do Critério 8 e da tabela de pontuação de resultados
pode reduzir o tempo e o esforço investidos na geração de índices
estratégicos para análise crítica. Uma alternativa a também considerar
é gerar índices estratégicos por tema; em especial, índices econômico-
financeiros, de qualidade dos produtos, de gestão de pessoas e de
tecnologia da informação são bastante usados.
50. Um ótimo exemplo é o
Handbook on Constructing
Composite Indicators,
editado em 2008 pela OECD -
Organisation for Economic
Co-operation and
Developement
(www.oecd.org).
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128 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
ELABORAÇÃO DE COMENTÁRIOS
O caso da Challenger é exemplar, pois, além da visualização já ser
suficientemente sinistra, os engenheiros tentaram explicá-la, no dia
anterior ao desastre, por meio de um slide de Powerpoint com bullets,
confundindo mais ainda os responsáveis por decidir o destino da
espaçonave. Comentários devem ser feitos à parte e entregues na forma de
relatório(51) com as devidas narrativas.
Comentários têm como função explicar o contexto de uma análise e
fundamentá-la e não precisam ser projetados em uma tela, a não ser que a
discussão obrigue a isso.
Se a questão que exige uma decisão está bem definida, como no caso da
Challenger, trabalhe previamente as alternativas para decisão, evitando que
os executivos resvalem para o viés da confirmação: não se trata de induzir
a decisão X ou Y, muito pelo contrário, trata-se de ampliar o escopo das
possibilidades. Seu papel é fazê-los usar os fatos e os indicadores de forma
inteligente. Quando apresentar o enunciado da questão que carece de
decisão, traga o objetivo da decisão para o nível mais alto possível, tirando-o
do nível da meta específica. Um exemplo de um comentário que tem essa
preocupação está apresentado na fig. 64: observe que o foco não está em
enforcar quem não atendeu a meta de implantar controle estatístico, mas,
sim, em apoiar a decisão sobre o impacto dessa situação nos resultados no
nível acima.
51. O leitor de uma geração
posterior aos baby boomers
deve ter pensado: papel, em
2015?... Bem, se a informação
é complexa, pode ser uma boa
ideia elaborá-la pensando no
velho formato impresso.
Quem falou que tudo tem
que ser digital?
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129Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 4
SISTEMIZAÇÃO
DA ÁRVORE DE
INDICADORES,
PAINÉIS DE BORDO E
ANÁLISES CRÍTICAS
Fig 64. Análise de relação de causa e efeito
A QUALIDADE ESTÁ PRÓXIMA DO PLANEJADO, MAS AS AÇÕES PREVISTAS PODEM SER REVISADAS.
A meta de variabilidade está próxima de ser atingida, embora a implantação de CEP tenha fi cado bem abaixo do esperado.
Na opinião de 75% dos pizzaiolos, o controle é bem-vindo, mas pode engessar a operação. A hipótese prevalecente é que sua
qualifi cação já seria sufi ciente. Há potencial para desafi ar a marca de 21% ou, alternativamente, reduzir o custo de implantação
do CEP, limitando-a a um menor número de processos.
Referencial teórico
(Standardised Process Associates)
5%
Melhorar uniformidade
da pizza
Controle estatístico
Destaques / Decisões
Franqueadas = 8 unidades
abaixo de 30%
58 planos de ação
60% realização
14 planos de ação
100% realizaçãoDestaques / Decisões
Não há
Outros fatores a considerar:
Infl uência da matéria-prima:
Estável
Qualifi cação dos pizzaiolos
Variabilidade de sabor
Meta: 30% 21%
Atual: 22%
(dez/2014)
Pizzaiolos qualifi cados
Meta: 15% 80%
Atual: 85%
(dez/2014)
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SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
5 CAPÍTULO
“Dize-me como me medes e
dir-te-ei quem sou!”.
Dr. Eliyahu M. Goldratt, em Th e Goal, 1992
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132 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
Seres humanos são complexos. Todos nós temos dois tipos de motivação: a
Intrínseca, que é a motivação que vem do senso de que estamos fazendo algo
de valor, de pertencer a uma organização e de compartilhar sua missão; e a
Extrínseca, a motivação que vem de sermos reconhecidos de forma explícita
por um trabalho bem feito.
Uma das missões críticas do sistema de indicadores é apoiar as decisões
tomadas para motivar as pessoas dos vários níveis hierárquicos e induzi-las
a também tomar decisões consistentes com a Estratégia da organização.
A maioria das organizações no Brasil rendeu-se ao argumento de que
as pessoas são motivadas extrinsecamente, de forma significativa, daí
a adoção generalizada de metas quantitativas: o reconhecimento seria
inequivocamente atrelado a resultados tangíveis, para alinhar o desempenho
individual ao desempenho organizacional.
Esse alinhamento é obtido por algum método de desdobramento ou
cascateamento (um termo que alguns preferem), que deduz, por lógica e a partir
da meta do topo, quais são as metas subordinadas do próximo nível, e assim
sucessivamente, até chegar ao último nível. O desdobramento de metas é (ou
deveria ser), por natureza, um método dedutivo. O conjunto de metas de uma
empresa, área, pessoa ou equipe é chamado habitualmente de scorecard(52).
A árvore de atributos também é uma ferramenta de desdobramento – só que
de fatores críticos de desempenho, não de metas por função. A percepção
dessa diferença entre conceitos é essencial: metas fazem com que as pessoas
persigam o que é prioritário naquele momento; atributos mostram como a
organização entrega valor. Por princípio, metas são artefatos temporários e
são muito mais voláteis que atributos. Por outro lado, metas baseadas em
resultados dependem do sistema de indicadores e são inseparáveis dele: um
sistema de indicadores ineficaz dará espaço e oportunidade para que seja
desenvolvido um sistema de metas que agrega pouco valor real.
O método BSC fez e faz sucesso, porque é uma ferramenta eficiente de
desdobramento de metas, e é assim que deve ser encarado. O próprio título
do método deixa clara sua intenção original. No entanto, muitos de nós
já testemunhamos implantações pouco eficazes de BSC, por conta de um
sistema de indicadores que não estava à altura da necessidade. Um Um scorecardscorecard
é tão bom quanto o sistema de indicadores que o suporta, jamais melhor que é tão bom quanto o sistema de indicadores que o suporta, jamais melhor que
eleele. Não implante BSC ou similar, sem que o sistema de indicadores esteja
preparado. A fig. 65 mostra como os scorecards de três níveis hierárquicos
utilizam o sistema de indicadores, mas – atenção – não sãonão são o sistema de
indicadores. Devido a esse equívoco conceitual, ou seja, confundir sistema
de metas com sistema de indicadores, é que surgiu a percepção de que o
sistema de indicadores não deveria conter mais do que determinado número
cabalístico de indicadores, algo como no máximo 15. Isso só é válido para um
scorecard, é claro. Na figura, vemos que os scorecards se conectam logicamente
pela Estratégia, enquanto usam os indicadores estruturados em claro
alinhamento com – esperamos – essa mesma Estratégia.
52. Em português sofrível,
boletim de notas. As empresas
nacionais usam termos diversos,
tais como acordo de metas,
contrato de gestão, plano anual
e por aí afora.
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133Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Scorecard Organização
Scorecard Unidade
Scorecard Área ou Equipe Scorecard
Individual
Ativos
Recursos Competências
Gestão de
risco
Cadeia de valor
Controle
econômico-fi nanceiro
Viabilizadores
estratégicos
Proposta de valor
Conquista do posicionamento
estratégico almejado
Satisfação das
partes interessadas
Triple bottom line saudável
No Index 1229
Título do indicador IDF - Índice de Desempenho dos Fornecedores
Unidade %
Fórmula de cálculo
Índice médio dos fornecedores (média aritmética); Lotes aceitos/entregues, com dedução de 5 pontos
percentuais para cada não-conformidade grave
Atributo Desempenho dos fornecedores
Abrangência Fornecedores de matérias-primas
Frequência Bimensal
Ajustes permitidos Não-conformidades graves são ajustadas pelo Comitê de Suprimentos
Função do indicador Incentivar os fornecedores a melhorar; avaliar impacto de ações preventivas e corretivas
Responsável Diretor de Suprimentos
Atualizador Especialista II Qualidade Suprimentos
Forma de apresentação primária Gráfi co de barras
Referencial comparativo (se aplicável) Não aplicável
Requisito de parte interessada
(se aplicável)
Não aplicável
Limites aceitáveis (se aplicável) >70 - satisfatório; >80 - bom; >90 - ótimo
Vínculo ao orçamento? Não
Meta? Meta#2 Divisão de Suprimentos
Conexões para cima 415 - % produto na especifi cação
Conexões para baixo
1081 - Reuniões com fornecedores
674 - Planos de ação atrasados
552 - Fornecedores com ISO 9001
FCS A1
FCS B2
FCS D1
FCS D3
FCS B3
FCS C1
FCS D2
FCS E2FCS E1
FCS B1
OBJ A1
OBJ C1
OBJ B1
OBJ D1
OBJ E1
OBJ B2
OBJ D2
OBJ E2
Perspectiva
A
B
C
D
E
FCS A1
FCS B2
FCS D1
FCS D3
FCS B3
FCS C1
FCS D2
FCS E2FCS E1
FCS B1
OBJ A1
OBJ C1
OBJ B1
OBJ D1
OBJ E1
OBJ B2
OBJ D2
OBJ E2
Perspectiva
A
B
C
D
E
Árvore de Atributos da Organização
Sistema de Indicadores da Organização
Mapa Estratégico da Organização
Mapa Estratégico da Unidade
Fig 65. Mapa do desdobramento
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134 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
Toda meta quantitativa precisa estar associada a um indicador (se não, ela
não seria quantitativa). Pode acontecer de um novo indicador surgir, somente
para subsidiar uma meta (p. ex., avanço de um projeto): nesse caso, ele
deverá ser incorporado ao sistema.
O inverso da assertiva anterior não funciona, pois nem todo indicador oficial
do sistema precisa estar associado a uma meta. O quê?... – pergunta o leitor
–, indicador não tem, obrigatoriamente, que ter meta?... Não, isso não é
compulsório, pelo menos não no sentido tradicional de meta, qual seja, uma
mudança almejada de nível de desempenho. Aliás, espera-se que muitos
indicadores tenham limites aceitáveis ou faixas normais de controle, ao invés
de metas. Se não estiver viável manter o indicador na faixa desejada, aí sim,
pode ser uma meta válida colocá-lo em controle.
SISTEMAS DE RECONHECIMENTO
O mais usado sistema de reconhecimento baseado em resultados é a
remuneração variável, sem dúvida. Seus prós são óbvios: o reconhecimento
é direto na veia e em espécie; nada mais motivante que isso. Já seus contras
não são tão óbvios assim. Deming, por exemplo, opunha-se à premiação
específica do trabalho individual(53), pois fazia com que o indivíduo não
se preocupasse com o resultado global da organização e até mesmo que
jogasse contra ele. Muitos autores são contrários a sistemas que usam
exclusivamente a motivação extrínseca, pois reduz a relação de trabalho a
uma simples troca econômica, algo não saudável na era do conhecimento.
Outro risco dos esquemas de remuneração variável, mesmo quando bem
equilibrados em relação às preocupações acima, é que o conteúdo das metas
pode levar a atitudes prejudiciais ao negóciono longo prazo, em especial
quando alguma parte interessada focada no curto prazo tem poder sobre
esse conteúdo. Um sistema de metas aparentemente bem construído pode
incentivar um comportamento indesejável dos gestores, exatamente o que
aconteceu no banco norte-americano Lehman Brothers. A direção executiva
era incentivada a tomar risco, e não havia contrapartida à exposição do capital
dos acionistas no sistema de metas. A gigantesca exposição (ao cenário
de calote generalizado dos adquirentes de planos de hipoteca imobiliária
nos EUA) era conhecida e monitorada somente no âmbito interno do
banco. Os conselheiros, como sempre, não tinham noção da dimensão do
capital ajustado a risco, que era bem negativo, e permitiram que a direção
embolsasse fortunas anuais em bônus, os quais eram atrelados ao valor das
ações do Lehman Brothers no mercado. Veio a crise do sistema imobiliário
em 2007, e o Lehman Brothers quebrou em 2008, uma quebra ruidosa,
porque se esperava que o governo fosse injetar capital para salvá-lo. O
Lehman era o quarto maior banco de investimentos norte-americano(54).
Acionistas e investidores ficaram na rua da amargura; os diretores tiveram sua
reputação destruída, mas tudo indica que terão uma aposentadoria tranquila.
53. W. E. Deming, Out of the Crisis
(A Revolução da
Administração), 1982.
54. Daí vem o título de um dos
livros e do respectivo filme
sobre o Lehman Brothers e a
crise de 2008, Too Big to Fail.
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135Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
Outro desafio de quem aplica a prática de remuneração variável é assegurar a
desassociação do conceito de gerir por metas e limites do conceito de pagar-
por-performance. Suponha que um sistema de indicadores contenha 100
indicadores: desses, suponha que 50 têm metas de desempenho especificadas
no planejamento estratégico e respectivos desdobramentos, enquanto os
outros 50 têm limites de controle ou faixas de normalidade. Dos 50 que
estão vinculados a metas, digamos que somente 35 são metas que afetam
a remuneração variável; as metas dos outros 15 acabaram não entrando em
nenhum scorecard, ficaram órfãs. O que pode acontecer é que, a partir desse
fato, os 35 serão monitorados com grande interesse, enquanto os outros 15
serão, talvez, esquecidos, pois têm metas que não afetam os indivíduos, “só”
interessando às partes interessadas. O mesmo talvez ocorra com os outros
50 indicadores de controle e risco, que precisariam ser monitorados. Por
isso, é essencial que o norteador do monitoramento do desempenho de uma
organização seja a árvore de atributos, ao invés dos scorecards. Em outras
palavras: o conjunto de indicadores é maior do que o conjunto de metas, que
é maior do que o conjunto de metas que estão em scorecards.
Obviamente, todos os indicadores da árvore de atributos deveriam
ser monitorados, seja contra a meta, ou em contraste a um referencial
comparativo, ou a uma faixa de controle, ou simplesmente contra o próprio
histórico. Por monitorar, entenda-se: criar esquemas de alerta adequados para
quando ocorre uma anomalia, que podem até ser automatizados.
Mesmo que o monitoramento seja completo, existe a possibilidade de
que haja o não envolvimento das partes interessadasnão envolvimento das partes interessadas nos alertas que lhes
interessam, porque a direção prefere seguir sua agenda pessoal, tal como
ocorreu no Lehman e na Petrobras. Para tentar evitar esse problema
clássico de governança, foram desenvolvidas diversas práticas nas grandes
corporações, como estimular a maior transparência da divulgação de
resultados(55) e deferir uma parcela da remuneração variável dos executivos
para pagamento no futuro, ou seja, o bônus fica reservado para aguardar as
consequências das decisões tomadas anteriormente, com a possibilidade de,
talvez, não ser pago(56).
OUTRAS PRÁTICAS DE RECONHECIMENTO
A motivação intrínseca tende a ser mais poderosa que a extrínseca no longo
prazo, porque o efeito dessa última passa logo. Segundo as pesquisas de
clima indicam, ter oportunidade de fazer o que se gosta, associado ao senso
de pertencer a uma organização, compõem o principal fator de retenção
de talentos, bem acima da remuneração. Ainda que a remuneração por
resultados seja uma forte vitamina motivacional, ela não pode dominar o
processo decisório – vide, de novo, o caso Lehman Brothers.
55. A regulamentação ainda é
bem deficiente em exigir uma
divulgação de resultados mais
esclarecedora. Um modelo
para relato de resultados
às partes interessadas,
emitido em 1991, nos EUA,
o Jenkins Report, do AICPA -
American Institute of Certified
Public Accountants, ainda é
considerado a referência para
transparência de resultados,
embora seja somente uma
recomendação. Esse relatório
recomenda explicitamente
o uso de um framework para
explicação de resultados que
ligue atributos financeiros a
não financeiros, exatamente o
que recomendamos ao longo
do livro. Poucas organizações
aderiram ao modelo Jenkins
no mundo, pois aumentaria
muito o nível de interferência
dos investidores na condução
das empresas; somente
regulamentação resolverá esse
problema.
56. Várias empresas no Brasil já
aplicam essa metodologia,
mais conhecida como
compensation deferral.
EXEMPLAR
EXCLUSIVO
PARA FILIADOS
136 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
Não podemos esquecer do portfólio de reconhecimentos não diretamente
financeiros que estão à disposição, que incluem: propiciar avanço na carreira;
incrementar a qualificação por meio de projetos interessantes; envolver e
engajar os colaboradores na missão da entidade; e zelar por sua qualidade de
vida, dentre outros.
Em função do exposto, chegamos à última etapa do projeto de transformação:
assegurar que o sistema de metas entre em cena delicadamente, como a
cereja do bolo, ao invés de cair como um tijolo e derrubar o bolo.
SEXTA ETAPA DA TRANSFORMAÇÃO DO SISTEMA DE INDICADORES
REVISÃO DO SISTEMA DE METAS
É provável que já exista um sistema de metas em sua organização, com um
certo impacto no reconhecimento das pessoas. Como bem o disseram Drucker
e Goldratt, a forma como medimos as pessoas não somente é determinante do
comportamento de cada uma delas, mas acaba também influindo no que os
executivos consideram prioritário, ou seja, metas são uma poderosa ferramenta
de moldagem do estilo de atuação da organização e, como toda ferramenta
potente, pode ser perigosa.
Recapitulando o que já vimos, metas precisam ser desdobradas para manter
o alinhamento com a Estratégia em todos os níveis hierárquicos. O método
mais usado no Brasil é o Balanced Scorecard, incluindo suas variações. De
qualquer forma, qualquer que seja a metodologia selecionada, uma vez
definidos os objetivos SMART e os fatores críticos de sucesso, as metas
da organização brotam naturalmente do mapa ou diagrama que representa
a Estratégia. Construímos, com base nessa e em outras informações, uma
árvore de atributos que mostra como o desempenho da organização é
construído a partir dos ativos até satisfazer as partes interessadas. Muito bem:
por lógica, o desdobramento das metas superiores da organização para dentro
da estrutura organizacional deveria seguir a árvore de atributos; entretanto,
há um obstáculo: a árvore de atributos é baseada no modelo de negócio e na
cadeia de valor, enquanto a estrutura organizacional é, tipicamente, montada
sobre especialidades funcionais. As empresas que aplicam o Balanced
Scorecard conhecem bem esse dilema e procuram efetuar o desdobramento
com a supervisão cuidadosa de um especialista interno ou externo.
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137Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
Avalie se o sistema de desdobramentode metas da sua organização apresenta
alguma das seguintes disfunções convencionais:
· Há prevalência da estrutura funcional vertical e estreitaestrutura funcional vertical e estreita: falta de visão
dos processos horizontais e do “espaço branco” de Rummler/Brache.
Indicadores importantes dos processos transversais não chegam aos
scorecards(57);
· O sistema é tolerante à seleçãoseleção: escolha preferencial de metas
convenientes, tradicionais ou que atendam à agenda individual do
gestor, mesmo que contradizendo o contexto estratégico. A prioridade
é sair bem na foto;
· O sistema é tolerante à supressãosupressão: o ato de evitar indicadores que
contenham incertezas ou que não estejam sob controle direto do
gestor; foco excessivo em indicadores que medem esforço da área, ao
invés da eficácia de sua contribuição;
· O sistema é tolerante ao gaminggaming: o ato de ajustar ou forçar resultados
para caberem na meta (p.ex., “campanha” junto aos colaboradores
para melhoria do índice de clima, expurgar fatores que prejudicam os
resultados etc.);
· O sistema não incentiva o comprometimentocomprometimento das pessoas com a causa e
efeito das suas ações nos resultados da empresa. O sistema não demanda
arriscar parte da remuneração individual em prol do bem maior.
Não desanime, pois você não está sozinho: todas as empresas, mesmo
as mais avançadas, têm algum desses problemas, em grau acima do
desejável, em alguma área. Para compreender quais são as possíveis
ações corretivas, é necessário analisar os insumos que vocês utilizam para
determinar metas e os procedimentos derivados: como os insumos foram
padronizados, como a prática de definir metas foi transmitida para as
pessoas e como ela é verificada.
57. Michael Hammer chama
esse problema de “pecado
do provincianismo”, no seu
artigo The Seven Deadly Sins
of Performance Measurement,
MIT Sloan Management Review,
edição da primavera de 2007.
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138 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
META
Histórico do indicador
Causa e efeito teórico
Lacuna de
desempenho
Lacuna de
desempenho
Lacuna de
desempenho
Ameaça ao
desempenho
superior
Causa e efeito
teórico
Decomposição
matemática
Requisito do
processo seguinte
Meta
superior
Referencial
comparativo
Requisito de
parte interessada
Objetivo estratégico
da unidade
Meta
superior
Risco da
unidade
Fig 66. Insumos para metas de um nível intermediário
OS INSUMOS PARA A GERAÇÃO DE METAS
A fig. 66 proporciona uma visão geral dos insumos potenciais, para provocar o
surgimento de uma meta no nível tático ou intermediário, detalhados a seguir.
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139Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
HISTÓRICO DE RESULTADOS DO INDICADOR
Esse é o mecanismo mais usado para definir metas – e o mais pobre. Lemann
(não é o banco que faliu!), Teles e Sicupira, do fundo 3G, são célebres por
implantar o orçamento base zero em todas as empresas que adquiriram, que
não são poucas nem fracas. Esse é um ótimo exemplo de nãonão usar histórico
para compor metas. Aparentemente, tem dado um resultado razoável...
Um outro bom exemplo inverso do problema de usar histórico surgiu na mídia
de São Paulo, no ápice do verão passado, quando houve um imenso número de
apagões de energia elétrica, causados por queda de árvores, deixando milhões
de residências sem energia por vários dias. O responsável (da Prefeitura) pelo
esquema de poda e remoção de árvores, em entrevista à Veja SP (21/01/15),
afirmou: “Temos uma meta anual de 100.000 podas e substituições de árvores
problemáticas. E estamos acima da meta.” O jornalista perguntou “Mas de
onde surgiu o número de 100.000?”. Resposta: “Não sei, trabalhamos com ele
há dez anos”.
DESDOBRAMENTO MATEMÁTICO DE METAS SUPERIORES
Esse mecanismo de desdobramento é aplicável a indicadores que vão sendo
somados de baixo para cima na mesma base (grandeza) e consolidados
em nível hierárquico superior, tais como, custo, acidentes, vendas etc. A
contribuição de uma unidade, nesse caso, é óbvia, pois a relação de causa e
efeito é matemática. Por outro lado, nem todas as áreas que contribuem para
a meta principal necessitam ter metas derivadas dessa forma, dependendo
do grau de influência. Se o custo de uma área só representa 0,5% do custo
geral, talvez não faça sentido ter meta de custo, mas, sim, limite de controle.
Em consequência, pode haver áreas que não têm meta alguma desdobrada
matematicamente, pois seu perfil não é nem sequer similar ao da organização.
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140 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
DESDOBRAMENTO DE METAS SUPERIORES POR LÓGICA
DE CONTRIBUIÇÃO
Por dedução, a unidade determina as causas que estão sob sua responsabilidade,
para gerar o efeito planejado no nível superior. Novamente, a árvore de
atributos é uma grande aliada e mostra uma de suas funcionalidades principais.
O método dedutivo demonstrado no capítulo 2 (primeira etapa do projeto)
verificou as relações de causa e efeito para entrega de valor, sem a preocupação
de quem é quem na execução das causas. O sistema de metas está mais
preocupado com quem faz o que; entretanto, se a árvore de atributos for
ignorada, o sistema provavelmente desprezará metas vinculadas aos produtos
e processos transversais da organização, problema que é justamente a primeira
disfunção de sistemas de metas relacionada anteriormente.
No exemplo da fig. 33, tratamento de manifestações é um típico processo em
que várias áreas estão envolvidas. A empresa tem que ter metas ou limites para
seus indicadores, e as áreas envolvidas deveriam reconhecê-los e considerá-los
(como é o caso da organização que cedeu o exemplo).
Portanto, é essencial que as pessoas compreendam a metodologia de dedução
e associem-na ao sistema de indicadores. Se a gestão de processos ainda não
está fortemente incorporada à cultura e ao modelo de gestão da organização,
uma campanha de disseminação ou capacitação sobre métodos dedutivos para
todos os gestores será bem-vinda.
OBJETIVO ESTRATÉGICO DA PRÓPRIA UNIDADE
Uma unidade de negócio, ou uma unidade regional, pode ter sua própria
Estratégia, obviamente alinhada à da empresa-mãe. Isso ocorre quando o
mercado atendido pela unidade tem peculiaridades que tornam seu modelo
de negócio e sua cadeia de valor distintos dos modelos e cadeias de outras
unidades da empresa-mãe. Nesses casos, o scorecard do principal executivo da
unidade terá indicadores e metas sugeridos tanto pela Estratégia-mãe, como
pela Estratégia da unidade(58), conforme representado na fig. 65.
REQUISITOS DAS PARTES INTERESSADAS
Algumas necessidades das partes interessadas devem ser absorvidas como
requisitos e metas de uma área ou unidade específica. Um exemplo: na fig.
18, o requisito “licitações emitidas com antecedência” será traduzido em
indicador na árvore de atributos, com monitoramento no painel de bordo
de Suprimentos. Esse indicador, por sua vez, será monitorado em relação
ao limite de tolerância da parte interessada – suponha que seja no mínimo
30 dias de antecedência e que, no último semestre, 30% das licitações
foram emitidas abaixo desse limite. Nesse caso, é natural que a área de
Suprimentos adote como meta atender ao requisito plenamente.
58. O sistema de indicadores, na
figura em questão, continuou
sendo um só, mas nada impede
que um grande grupo com
muitas unidades opte por
manter sistemas separados,
desde que mantida a regra de
ouro: cada indicador terá sua
identidade única preservada
em âmbito corporativo.
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141Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
REQUISITOSDOS PROCESSOS SEGUINTES
Áreas ou unidades que não entregam produto diretamente ao cliente têm
sob sua responsabilidade processos que entregam valor ao processo seguinte.
É o conceito de cliente interno, vestido com roupa de processo: a relação não
é exatamente de cliente-fornecedor, mas de processo-para-processo, o que é
um pouco diferente, pois talvez o processo-fornecedor tenha outras funções,
além de atender aos processos-clientes.
Uma vez mais, a gestão de processos se faz necessária, em parceria com
o sistema de indicadores, para mediar o encadeamento de requisitos;
porém, em tese, o encadeamento já foi discutido e validado anteriormente.
Se, nessa etapa, surgirem contenciosos ou requisitos desconhecidos, é
provável que seja necessária uma revisão da árvore de atributos nesse ramo
específico da árvore.
De qualquer forma, o que importa é que a meta principal de processos
internos que não entregam valor ao cliente deve sempre ser: entregar valor
ao processo seguinte.
REFERENCIAIS COMPARATIVOS
Na etapa de análise crítica global, falamos da importância de comparar o
desempenho da organização para alavancar o senso de competitividade
em todas as perspectivas. Referenciais comparativos podem e devem ser
usados para questionar e provocar metas desafiadoras, sendo o método mais
indicado quando desejamos estimular a cultura de que todo gestor é dono
do seu próprio negócio. O fato de que uma unidade pode ter sua própria
estratégia reforça a necessidade de comparar desempenho para medir
sucesso dessa estratégia funcional ou de negócio.
Uma abordagem fascinante foi adotada por algumas organizações
destacadas no exterior(59), tais como Handelsbanken (banco sueco),
Southwest Airlines (dos EUA) e Tomkins (fabricante de autopeças sediada
na Inglaterra), as quais criaram sistemas de metas para remuneração
variável baseados em competitividade competitividade ex postex post. Traduzindo: as metas não
são definidas previamente (ex ante), em cima do valor absoluto de um
indicador, e fixadas no início do ano, como ocorre em praticamente todas as
organizações brasileiras. O contrato de metas é construído em base relativa
a referenciais comparativos. Por exemplo, a meta seria “participação no
mercado 5% superior à da concorrente XYZ”, ao invés de “participação no
mercado superior a 18%”.59. Mencionadas por Jeremy
Hope, em Beyond budgeting
to the adaptive organization,
capítulo 8 de Business
Performance Measurement.
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142 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
RISCOS DA UNIDADE OU ÁREA FUNCIONAL
A gestão de risco só é eficaz, quando está integrada aos sistemas de
indicadores e de metas. Você deve lembrar que, no método dedutivo,
estudamos atributos vinculados a trade-offs e riscos da Estratégia. Agora,
no nível do gestor de uma unidade, a mesma lógica se aplica: os riscos
significativos que podem ser traduzidos para indicadores deveriam ser
monitorados e eventualmente ter metas, em função do tipo de risco.
Nem todo risco é monitorável quantitativamente por meio de indicadores,
embora seja possível determinar a significância de qualquer risco a qualquer
momento. Significância é, sim, um atributo; o problema é que, quando vira
indicador, é um indicador composto que carrega uma certa complexidade,
que muita gente da área de risco não percebe. Certos riscos só podem
ser expressos como um composto de faixas de probabilidade, curvas de
consequência potencial e sensibilidade a cenários, especialmente os riscos
mais incertos, tais como risco de terrorismo, sabotagem, incêndio, crise
econômica etc. Simplesmente atribuir subjetivamente uma significância tirada
da cartola é uma avaliação de latência, não uma medição propriamente dita.
Por outro lado, muitos riscos são mensuráveis, principalmente riscos que
se manifestam constantemente e que procuramos manter sob controle e
em nível tolerável, tais como: nível da represa Cantareira, discrepâncias em
valor de ativos, não conformidades de produto, inadimplência de clientes,
tentativas de invasão dos sistemas de informação, erros nas demonstrações
financeiras, não conformidade de controles internos, dentre outros. Esses
indicadores são chamados popularmente de KRI – key risk indicators, pelo
pessoal de risco. Os KRI devem ser monitorados pelo dono do processo, e é
em seu scorecard que as metas devem aparecer, não no da área de risco. Não
custa lembrar que a maioria dos KRI está vinculada a atributos limitadores.
ESTRUTURAÇÃO DO SCORECARD
O próprio scorecard deveria explicar as escolhas feitas pelo dono do acordo
de metas, o que não temos visto com frequência nas avaliações de MEG.
O padrão empregado para registrar o acordo (exemplo na fig. 67) deveria
induzir o gestor a esclarecer a finalidade da meta e a qual atributo ela está
vinculada, permitindo uma análise visual imediata do escopo e da qualidade
das metas propostas.
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143Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
Fig 67. Anatomia de um acordo de metas
Finalidade
Requisito
(ou atributo)
Indicador Meta Peso Limites e ajustes
Para o que esta
meta contribui?
(insumo da fi gura
anterior)
Qual é o requisito
ou atributo que
será avaliado?
Qual é o indicador
do sistema? Utilize
a indexação!
Qual é o
movimento
numérico
almejado?
Qual será o impacto
dessa meta na
remuneração ou
reconhecimento
(em base 100)?
Quais são as
tolerâncias
para variação
ao redor desse
número? Qual
será o impacto no
reconhecimento?
Meta superior
(decomposição
matemática)
Cultura de
segurança:
engajamento
1228 - Observações
de segurança
por colaborador
operacional
Aumentar de
30 por ano para
80 por ano
10%
< 70 = 0 (zero de
10%)
Aproximar
de referencial
comparativo
(Global Insurance)
Retenção de
clientes
534 - % de clientes
que cancelaram
contrato no ano
Reduzir de 10%
para 3%
25%
<2,8 = X 1,5
> 5 = X 0,8
>10 = 0 (zero de
25%)
Minimizar risco
Aprovação de
contratos
2177 - Qtde. de
ajustes contratuais
não validados
0 0
>0 = -10% (tira do
reconhecimento)
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144 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
Fig 68. Contrato de metas balanceado
GERENTE ÁREA B3
Atributo Indicador Peso Tipo Atributo Âmbito
Retenção de Clientes 128 5 Finalístico Unidade de negócio 1
Satisfação de Clientes 1009-A 10 Finalístico Unidade de negócio 1
Pedidos Perfeitos 1803/ 976 10 Viabilizador Área B
Qualidade do Produto 522/ 523 15 Viabilizador Área B
Efi cácia do processo 884 20 Viabilizador Área B3
Custo do processo 994 15 Controle Área B3
Conformidade do processo 1099 15 Controle Área B3
Compliance 218 5 Limitador Área B3
Atualização tecnológica 445-B 5 Estrutural Área B3
Um scorecard bem balanceado utiliza plenamente os recursos do sistema de
indicadores, na medida em que a hierarquia de atributos estará representada:
as metas devem estar fundeadas em indicadores de todos os tipos de atributos,
como no exemplo da fig. 68, revelando comprometimento do gestor com o
desempenho no nível agregado.
Hierarquia consistente
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145Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
DIAGNÓSTICO DE UM SISTEMA
DE METAS
Se você foi autorizada ou recebeu a incumbência de diagnosticar a eficácia do
sistema de metas, há vários testes que podem ser efetuados para verificar a
existência dos problemas que descrevemos, independentemente do grau de
aplicação das práticas recomendadas.
TESTE DE CONSISTÊNCIA ENTRE SCORECARDS
As metas de um scorecard não deveriam ser contraditórias em relação aos
scorecards que são seus pares. Em caso de desdobramento matemático, a conta
do agregadodeve fechar corretamente. Além disso, o grau de desafio deveria
ser similar entre eles. Não há nada que desacredite mais um sistema de metas
do que permitir graus de desafio inconsistentes entre áreas ou unidades.
TESTE DA FINALIDADE DAS METAS
Verifique se há excesso de amparo no histórico de resultados como método
de geração de metas e abuso de indicadores de estorço vinculados a atributos
que não são finalísticos ou viabilizadores. As metas também não deveriam
induzir ações antagônicas às diretrizes estratégicas, tais como, reduzir custo de
outsourcing ou não aumentar a exposição da empresa a câmbio.
TESTE DO GRAU DE ALCANCE DAS METAS
Existe um paradoxo comum no mundo empresarial moderno: os executivos
estão seguros de que desafiam as pessoas a entregarem o máximo; no entanto,
o índice de alcance de metas é altíssimo, perto de 100%. Por lógica, a soma do
máximo das pessoas significa que a empresa entregou seu máximo também.
Conclusão: ou sua empresa venceu todos os desafios e está singrando em
oceano azul, ou algo está errado. Se isso ocorre em sua organização, cheque a
realidade competitiva para questionar o alcance histórico de metas, exercício
esse que sempre gera um contraste revelador.
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146 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
De acordo com Michael Hammer(60):
Um dos erros mais comuns em medição de desempenho é forçar o uso de
indicadores que fazem com que a organização e seus gestores saiam bem
na foto. Em uma ocasião, um alto executivo me falou: “Ninguém quer um
indicador que não atinja no mínimo 95%”. Um exemplo desse erro é medir
“ordens entregues na data prometida” e ainda permitir-se usar a última data
prometida como a que vale, enquanto o certo seria medir ordens entregues
contra o requisito dos clientes.
CONCLUSÃO
Se você quiser gravar alguns pontos-chave deste livro, recomendo
os seguintes:
· Toda e qualquer organização já tem um sistema de indicadores: o que
varia é o grau de estruturação. O sistema de indicadores existe para
responder às questões -- sugeridas pela Estratégia da organização --,
que podem e merecem ser respondidas quantitativamente.
· Indicadores têm uma única missão: apoiar decisões. Como as decisões
têm diversas finalidades, assim também acontece com os indicadores.
Só julgue indicadores após compreender sua finalidade; não busque
desempenho em situações em que a decisão não é sobre desempenho.
· Indicador solitário é perigoso; é um ser social, que deve andar em
grupo. Não avalie o desempenho de uma organização um indicador por
vez: jamais perca a visão de conjunto.
· Performance sempre é definida externamente à organização.
· Antes de pensar em indicadores, pense em atributos: o que precisa ser
avaliado vem antes do como.
· Atributos qualitativos também são importantes. Negar isso
seria equivalente a um médico negar a importância de analisar
qualitativamente o paciente. Muitas coisas que aparentam ser
quantitativas são, na sua essência, qualitativas (análises de risco
e pesquisas de imagem, por exemplo). Não despreze os atributos
qualitativos, encare-os de frente.
· Uma árvore ou um framework de atributos e indicadores revela como
o processo decisório acontece em uma organização, servindo como
guia para o planejamento do sistema de indicadores. Sem esse guia,
o sistema será um catadão, um sistema capenga.
60. No mesmo artigo citado no
comentário 55; ele chamou
esse pecado de "vaidade"
(vanity).
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147Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Capítulo 5
SCORECARDS,
METAS E
RECONHECIMENTO
· A análise crítica da Estratégia e do desempenho global deveria
funcionar como um teste ácido da realidade dos números, dos fatos e
das comparações: o sistema de indicadores não existe só para dar boas
notícias.
· A qualidade do sistema de metas de uma empresa é limitada pela
qualidade de seu sistema de indicadores. Nem todo indicador precisa
ter meta; nem toda meta precisa pagar bônus; nem toda meta que paga
bônus é estratégica.
· Se alguém lhe perguntar, com um tom filosófico: "Mas, afinal, então,
para que servem indicadores e metas: só para tomar decisões...?", a
resposta com tom filosófico sugerida é: "Para aprender mais sobre um
mundo complexo e sobre como nossa organização lida com ele".
A caminhada pelas seis etapas da transformação do sistema de indicadores
chegou ao seu final. Façam bom proveito do sistema de indicadores
transformado, não se esquecendo de que ele é como uma aeronave, precisará
sempre de atenção, manutenção e atualização. Que ele ajude a sua organização
a alçar voos de longo alcance!
No Anexo a seguir, você poderá conhecer os indicadores mais usados pelas
empresas avançadas em gestão do desempenho e que também usam o MEG
como referência.
Se você ainda não participou do curso de Sistema de Indicadores da FNQ,
esperamos encontrá-lo lá o mais cedo possível. Seja executivo ou especialista,
desejamos-lhe sucesso em sua jornada em busca da excelência da gestão,
contando sempre com o apoio da FNQ.
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PARA FILIADOS
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ANEXO
ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
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Anexo
ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
A árvore de atributos apresentada a seguir é genérica, sendo fundamentada
nos atributos explícitos (a grande maioria) e implícitos (no entendimento do
autor) do MEG. Em outras palavras, isso significa que ela não representa uma
organização real, nem sequer deve ser empregada como modelo para sistemas
reais de indicadores. Como toda organização tem características específicas,
não é viável presumir que todos os indicadores apresentados a seguir sejam
considerados aplicáveis ou relevantes para o caso real da sua organização.
Em árvores reais, tipicamente não haverá tantos atributos no primeiro
nível como na árvore abaixo, pois a organização terá prioridades específicas,
enquanto o MEG, por sua vez, não estabelece prioridades entre os atributos.
Para mencionar um exemplo já usado anteriormente: em uma distribuidora de
energia elétrica, o atributo 5.3 (estabilidade da cadeia de valor) é de primeiro
nível; em uma empresa de desenvolvimento de softwares, é provável que
não o seja. Já com o atributo 3.1 (participação de mercado) ocorre o oposto:
distribuidoras de energia elétrica têm mercado cativo e já sabem sua fatia de
mercado (100%), só precisando se preocupar com a perda de faturamento
causada por ligações clandestinas; para o desenvolvedor de softwares, sua
parcela de vendas no nicho de mercado provavelmente é bem relevante.
O propósito principal deste Anexo é apoiar a construção da árvore real pela
aplicação do pensamento análogo (ao invés da aplicação da técnica ctrlC-
ctrlV), bem como estimular a pesquisa mais aprofundada.
Se você é um avaliador de modelos de gestão com base no MEG: este Anexo
também deve ser empregado com cautela e moderação, evitando a exigência
indevida de indicadores que não caberiam no contexto da organização avaliada.
Os atributos e indicadores estão numerados hierarquicamente:
1.1. Grupo de atributos e indicadores
1.1.1.1. Atributo do primeiro nível
1.1A1.1A Indicador do primeiro nível
1.1.1.1.1.1. Atributo do segundo nível
1.1.1A1.1.1A Indicador do segundo nível
1.1.1.11.1.1.1 Atributo do terceiro nível
1.1.1.1A1.1.1.1A Indicador do terceiro nível
Por questões de ordem prática, este Anexo está limitado ao terceiro nível,
lembrando que em árvores reais não há necessidade de haver esta restrição.
Usualmente, três níveis são capazes de representar bem os resultados
consolidados de uma organização, mas são obviamente insuficientes para
abranger os desdobramentos para processos e atividades específicas/locais.Há diversas estratégias possíveis para efetuar esse desdobramento, sem ficar
com uma árvore quilométrica:
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151Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Anexo
ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
· Estratificar os atributos:Estratificar os atributos: Por exemplo: satisfação de cliente desdobra-
se para três segmentos de clientes, cada um atendido por uma unidade
diversa; segurança da informação desdobra-se para dois centros de TI e
assim por diante.
· Abrir novas árvores unidade a unidade:Abrir novas árvores unidade a unidade: Nesse caso, cada unidade
tem sua própria árvore. A estrutura pode ser diferente uma da outra.
A satisfação do cliente e a segurança da informação poderão ter,
eventualmente, tratamentos diferenciados em cada árvore.
· Conectar atributos da árvore a indicadores compostos: Conectar atributos da árvore a indicadores compostos: você pode
representar a influência significativa de uma área (ou de processo)
por meio de um indicador composto que, ao ser aberto, revela os
indicadores da área (ou processo).
As opiniões expressas neste Anexo sobre a validade dos indicadores, bem
como sobre suas comparações e sugestões de uso adequado, são de exclusiva
responsabilidade do autor(61), não podendo ser empregadas como argumento,
ou entendidas como requisitos, para Relatos Organizacionais, Auto-Avaliação
Assistida ou visitas da banca avaliadora do PNQ.
1. ATRIBUTOS DE CONTROLADORES, ACIONISTAS,
FINANCIADORES E INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS
1.1. RENTABILIDADE
É o atributo finalístico por excelência. Avalia a capacidade de gerar valor financeiro
suficiente para remunerar os acionistas e financiadores, bem como para reinvestir
no negócio e satisfazer as demais partes interessadas. Os acionistas e financiadores
(investidores, bancos etc.) acompanham os resultados de rentabilidade atentamente e os
controladores sempre a tratam como um requisito, com meta claramente especificada.
Mesmo organizações sem fins lucrativos têm sua rentabilidade -- traduzida para o
conceito de sustentação econômica não lucrativa -- monitorada pelos mantenedores.
A relevância do atributo é atestada pela profusão de indicadores e pela
complexidade da sua análise.
1.1.A REMUNERAÇÃO (OU RETORNO) DO INVESTIMENTO DOS ACIONISTAS
E FINANCIADORES (62)
Vários indicadores medem retorno aos acionistas e financiadores, sempre no
formato de uma taxa de lucro líquido sobre algum denominador de capital. Não há
somente um indicador mais usado ou mais útil, pois essa escolha depende do perfil
e da situação de cada negócio.
Os acionistas e investidores aplicaram dinheiro no negócio e querem avaliar a
capacidade de ele gerar lucro suficiente para valorizar os ativos e recompensar o
investimento. O capital dessas partes interessadas está apresentado na parte direita
do balanço patrimonial da organização, sendo composto (de forma simplificada)
por dívidas de longo prazo, capital dos acionistas e lucro retido. Se a organização se
dissolvesse neste exato momento, é o montante a que eles teriam direito.
61. Se você quiser debater ou
aprofundar a discussão
de algum indicador, ou
simplesmente quiser protestar,
fique à vontade no site:
www.loopnut.com.br ou por
e-mail: nutini@loopnut.com.br
62. De forma geral, o resultado
deste indicador deveria
subir. Esta indicação é usada,
doravante, como sendo a
polaridade ou favorabilidade
padrão do indicador.
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152 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Anexo
ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
Os três retornos mais comuns são obtidos considerando diferentes parcelas do
passivo da organização:
ROEROE – – Return on EquityReturn on Equity (Retorno sobre o Patrimônio Líquido): (Retorno sobre o Patrimônio Líquido): lucro líquido/
patrimônio líquido (capital dos acionistas + lucro retido). Mede somente o
retorno para os acionistas.
ROCEROCE – – Return on Capital EmployedReturn on Capital Employed (Retorno sobre o Capital): (Retorno sobre o Capital): lucro líquido/
(dívidas de longo prazo + capital dos acionistas + lucro retido). Este retorno
inclui o investimento dos financiadores, na forma das dívidas de longo prazo.
ROAROA – – Return on AssetsReturn on Assets (Retorno sobre os Ativos): (Retorno sobre os Ativos): lucro líquido/ ativo total;
o ativo total equivale, no lado direito do balanço, ao passivo total = dívidas
de longo prazo + capital dos acionistas + lucro retido + passivo circulante.
O ideal é analisar os três indicadores em conjunto, para entender o quadro geral.
Na maioria dos casos, eles andam para o mesmo lado (de preferência, para cima),
mas pode haver discrepâncias e exceções. Por exemplo, se uma empresa está muito
endividada, o ROE fica bem na foto, mas o ROCE não. Se a liquidez está baixa, o
ROE e o ROCE podem estar OK, e o ROA não.
O problema dos indicadores de retorno mostrados acima é que eles são contábeis, e
o balanço pode esconder problemas e incorporar distorções. O numerador sempre é
o lucro líquido, que pode ser impactado por problemas ocorridos num passado mais
distante, tais como ajustes fiscais e tributários, perdas extraordinárias etc. Além
disso, os retornos tradicionais não medem risco. Por isso, ROA, ROCE e ROE são
insuficientes e precisam de apoio dos universitários, que virão na sequência.
Do lado positivo, os três são facilmente comparáveis(63) entre concorrentes ou
rivais que publicam balanço ou divulgam resultados. A regra de olhar os três juntos
também se aplica para comparações.
No caso de organizações sem fins lucrativos, o retorno do investimento deve ser
substituído por indicadores de retorno do recurso aportado na instituição, usando
estimativas do benefício causado pela aplicação do recurso -- o que é uma medição
nada, nada, trivial. Esse é o maior desafio da administração pública, do sistema S, das
fundações (inclusive a FNQ) e das ONG’s, o qual está começando a ser enfrentado.
1.1.B MARGEM DE LUCRO
Margens de lucro avaliam a proporção entre o quanto sobrou (lucro) em relação ao
quanto a empresa arrecadou (receita), ou seja, o denominador é diferente do que o
dos retornos.
O bottom line é medido pela margem de lucro líquido (lucro líquido/receita bruta).
Para não cometer injustiças contábeis com os executivos atuais, é comum a
aplicação de expurgo no lucro dos efeitos de decisões ou eventos do passado, daí o
uso quase universal da margem do EBITDA nos scorecards.
A margem de EBITDA (earnings before interest, taxes, depreciation and amortization)
usa o lucro antes de serem deduzidos juros da dívida, impostos, depreciações e
amortizações. EBITDA é maior que o lucro operacional (EBIT) e menor que
o lucro bruto; não inclui a depreciação e a amortização de bens de capital, o
que o torna (em tese) mais adequado para avaliar a performance dos executivos.
Em outras palavras, o EBITDA busca evitar as distorções que não são oriundas
do universo transacional específico daquele período de avaliação.
63. Por uma questão de
simplificação, o emprego do
termo “comparável” neste
Anexo significa “comparável
a outra organização”. A
comparabilidade em relação
ao histórico ou a um requisito
de parte interessada continua
sendo necessária para
caracterizar o indicador como
tal, de acordo com a definição
do capítulo 1.
EXEMPLAR
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153Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
Margem de EBITDA = (lucro bruto - despesas operacionais)/ receita
É indicador facilmente comparável, se a estrutura de apuração de lucro for similar
entre empresas e se as entidades-alvo de comparação (os RC, lembra?) publicam
seus resultados.
1.1C VALOR ADICIONADO AO ACIONISTA (SVA)
Economistas vivem tentado achar o Santo Graal, um indicador que de fato meça oretorno real de uma empresa, sem a influência de mágicas contábeis. O SVA é defendido
por diversos autores, com destaque para Rappaport(43), como já mencionamos.
É um indicador menos empregado, na prática, que retorno e margem de lucro
contábeis, por ser de maior complexidade. Mede a remuneração do capital, assim
como os anteriores, só que utiliza projeções, ao invés de resultados contábeis. É
um indicador excelente para avaliar retorno potencial, ao invés de avaliar histórico,
como fazem os outros. Por isso, não é muito usado em scorecards, que tendem a
olhar para o retrovisor.
SVA (Shareholder Value Added) = (Valor presente dos fluxos de caixa futuros + Valor de
mercado dos ativos) - Valor de mercado das dívidas
Todos os valores são baseados em estimativas. O termo “valor presente” significa
que os valores futuros estimados são descontados do custo de capital (ou seja, dos
juros que incidiriam sobre o capital). Se o custo de capital for 10%, multiplica-se o
valor futuro por 0,9 para gerar o valor presente. É um indicador geralmente usado
na forma absoluta, não relativizado. Para ser comparado, necessita de um processo
de benchmarking que normalize os critérios usados para estimar os fluxos de caixa e
os valores de mercado, que podem variar muito.
1.1D ÍNDICE DE PAYOUT
As empresas de capital aberto medem também a capacidade de pagar dividendos
aos acionistas, usando índices tais como dividendos pagos por ação/lucro líquido por
ação (payout ratio), os quais não são muito úteis para fins de comparação ou avaliação
de performance de executivos, mas são úteis para analistas de investimento.
Empresas que precisam reinvestir a maior parte do lucro podem não conseguir
pagar dividendos, o que reduziria, em tese, sua atratividade para novos investidores.
Entretanto, isso não necessariamente significa desempenho deficiente.
Esse indicador pode ser usado, com o emprego de analogia, para empresas de
capital fechado, não sendo aplicável para empresas sem fins lucrativos.
1.1.1.RECEITA
Avalia a capacidade de comercializar produtos ou serviços a um preço competitivo.
É um atributo finalístico ou viabilizador, avaliado externamente por acionistas e
financiadores. Em quase todos os casos, gera um requisito com meta determinada
pelos controladores.
Entidades que não vendem costumam chamar a receita de arrecadação ou recursos
recebidos (p. ex., concessionários de serviços públicos e entidades do terceiro setor).
Os bancos e gestores de fundos de investimento ou pensão consideram como
receita uma parcela sobre os ganhos financeiros obtidos da aplicação do dinheiro
dos clientes, que pode ser resultante da taxa de administração ou de um ganho
acima do teto contratado.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
1.1.1A RECEITA LÍQUIDA
Receita bruta é a soma das vendas do período (sinônimo de faturamento).
A receita líquida é mais usada como indicador de desempenho, pois deduz
descontos comerciais, devoluções e impostos sobre as vendas (ICMS). Faturamento
líquido é diferente de receita líquida, pois representa a dedução de impostos sobre
o produto (IPI).
É um indicador fácil de comparar, em tese, pois consta das demonstrações
financeiras, podendo também ser relativizado a outro indicador de escala, tal como
valor de ativos. Internamente, é comum ser relativizado à sua própria projeção
(receita realizada sobre prevista) ou somente no tempo (crescimento da receita).
1.1.2. CUSTO
Capacidade de otimizar os recursos empregados nas atividades e produtos, bem
como de adquiri-los em condições competitivas. Atributo finalístico ou viabilizador,
avaliado externamente por acionistas e financiadores. Requisito com meta
determinada pelos controladores.
Já é avaliado indiretamente na margem de lucro, em especial na margem de
EBITDA (1.1B).
1.1.2.1 CUSTO VARIÁVEL
Capacidade de otimizar os recursos usados especificamente para girar um ciclo
completo da cadeia de valor e de comprar insumos a preços competitivos. Atributo
viabilizador, nem sempre vira requisito, pois é fruto do contexto técnico e
operacional do negócio.
1.1.2.1A CUSTO DOS PRODUTOS VENDIDOS/RECEITA LÍQUIDA
(OU POR UNIDADE DE PRODUTO)
Mais conhecido como COGS (cost of goods sold) em manufatura e COS (cost
of services) nas demais. Indicador comparável por balanço, desde que sejam
normalizadas as eventuais diferenças estruturais entre as empresas, ou seja, pode
ser necessário um projeto de benchmarking.
1.1.2.2 CUSTO FIXO
Atributo limitador. Avalia a capacidade de controlar gastos com atividades
que não agregam valor direto, na veia. Pode haver um limite máximo definido
pelos controladores.
1.1.2.2A DESPESAS OPERACIONAIS (OPEX)/RECEITA LÍQUIDA
São todas as despesas inescapáveis antes do mês sequer começar, também
conhecidas como overhead, pois não estão vinculadas ao volume de produtos ou
serviços vendidos. Incluem a maior parte dos salários, despesas de marketing,
despesas administrativas e rateios corporativos (o custo da implantação do sistema
de indicadores vai aí...)
É indicador comparável por balanço, desde que sejam normalizadas as eventuais
diferenças estruturais entre as empresas.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
1.1.2.2B DESPESAS IMPRODUTIVAS/RECEITA LÍQUIDA
Indicador que não sai do balanço, capta somente a parcela das despesas
operacionais que o pessoal da controladoria define como não geradora de valor
direto ou indireto. Como essa definição é subjetiva, só pode ser comparado por
meio de benchmarking.
1.1.3. GRAU DE RISCO
Atributo limitador, sendo geralmente enxergado somente pelo ângulo negativo. Aqui,
no âmbito da rentabilidade, norteia o custo de capital. Avalia a probabilidade de a
organização não honrar seus compromissos no futuro. Vira requisito quando um grau de
recomendação para investimento é atingido e os controladores exigem sua manutenção.
1.1.3A RATING DE RISCO
Indicador composto resultante de fórmulas utilizadas pelas agências de risco
(Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch são as maiores e mais conhecidas), aplicável
também a nações. Mede risco de calote (default) no prazo de um ano, associado à
saúde dos fundamentos econômicos que dão sustentação ao negócio. É apresentado
na forma de letras (sendo AAA o máximo e D o mínimo).
Esse índice tem sofrido muitas críticas ao longo dos anos, por conta de muitas
empresas que entraram em crise aguda e tinham índice alto (igual ou acima de
BBB-, o célebre grau de investimento), como ocorreu com o Lehman Brothers e a
Petrobras, o que significa que as empresas conseguiram ocultar riscos importantes
da agência de risco.
Empresas que não têm capital aberto também podem solicitar avaliação do rating
de risco para uso interno.
1.1.3B VALOR ECONÔMICO ADICIONADO
O autor sabe que a alocação desse indicador como medição de grau de risco (ao invés
de remuneração do acionista) pode gerar controvérsia. Essa decisão parte da premissa
de que a única diferença entre valor econômico e valor contábil é o risco presumido.
Se o risco de um investimento for praticamente zero -- p. ex., aplicação em poupança
abaixo de R$ 50.000 --, os dois são idênticos. Se você aplicar em um fundo de ações, seu
lucro potencial é maior, mas o risco também é maior, o que é óbvio, pois a remuneração
é sempre proporcional ao risco. Nesse caso, o rendimento de um fundo de ações (seja
projetado ou real) deve ser debitado do risco corrido, para apurar o retorno econômico.
Valor econômico adicionado é a diferença entre o resultado contábil e o resultado
esperado pelos acionistas, tendo em vista o risco que eles acham que estão correndo.
Como se mede isso? Aí é que está o X da questão: a medição é feita usando um
fator chamado WACC (weighted averagecost of capital), mais conhecido como custo
de capital. Tentando simplificar, o custo de capital é a taxa de juros cobrada para
financiar cada bloco do capital que compõe o passivo de longo prazo, ou seja, cada
bloco (classes de dívidas e classes de ações) tem sua taxa de juros, real ou hipotética,
que é proporcional ao risco do investimento avaliado por economistas e analistas
de risco. Compreensivelmente, o acionista e o financiador esperam receber uma
remuneração do seu capital pelo menos equivalente à taxa de juros do seu pedaço de
capital. O cálculo do custo de capital não é simples, e não vamos entrar em detalhes
aqui(64). Essa medição de risco é só uma aproximação do risco real que o proprietário
de um pedaço de capital corre ao ter investido seu querido dinheiro no negócio, mas
é a melhor disponível para estimar retorno econômico.
64. Para aprofundar, recomendo
Princípios de Administração
Financeira, de Lawrence Gitman,
já na 12ª edição, com conteúdo
adaptado para o Brasil.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
O EVA (Economic Value Added) é o indicador que se propõe a entregar essa medição,
tendo sido desenvolvido e patenteado pela empresa de consultoria Stern Stewart(65).
EVA = lucro líquido - (% custo de capital X capital empregado).
RAROC (Risk-Adjusted Return on Capital) é o EVA dividido pelo próprio capital
para gerar um índice. O EVA e o RAROC são comparáveis entre empresas, mas
não saem diretamente do balanço; ou a organização-alvo publica o resultado, ou
trocamos figurinhas com ela, ou estimamos seu custo de capital.
A grande diferença entre ROCE e RAROC é a entrada do custo de capital na
equação. O RAROC pode ser (aliás, deveria ser) usado para tomada de decisão
sobre qualquer investimento: usualmente, nesse caso o termo empregado é ROI –
return on investment (retorno sobre um investimento específico).
Os bancos são os maiores usuários do EVA e RAROC, sendo esses indicadores
habitualmente desdobrados pelas várias unidades de negócio dentro de uma
instituição financeira. Nada impede que empresas de manufatura, de serviços e
sem fins lucrativos também utilizem esses indicadores(66).
1.1.3C CAPITAL ECONÔMICO/CAPITAL EMPREGADO (67)
Indicador de risco usado mais por instituições financeiras em âmbito corporativo,
mas que pode ser usado por qualquer negócio. Mede a taxa do capital (em relação
ao capital empregado) que deve ficar disponível em forma razoavelmente líquida
para enfrentar o pior cenário plausível.
O capital econômico é calculado na forma de value-at-risk consolidado: quanto
uma empresa pode perder em um ano, considerando todos os cenários plausíveis,
com 95% de assertividade. É indicador estimado, e por isso não é muito divulgado.
Geralmente não inclui black swans, os riscos catastróficos que escapam ao que
se considera probabilidade razoável (fora dos 95%). Não é comparável, devido à
subjetividade e especificidade do risco de cada organização. Não é possível afirmar
que quanto menor é melhor, pois não há risco “ideal”.
1.1.4 CAPACIDADE DE PROJEÇÃO E EXECUÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA
Atributo de controle, avalia a competência de uma organização para orçar e planejar.
Em organizações que operam com recursos pré-definidos, ou com foco em gestão
de projetos, sempre gera requisitos dos controladores, pois essa competência é
muito valorizada. Erros de previsão em orçamento e execução causam oneração
desnecessária dos recursos, desbalanceamento de fluxo de caixa ou incapacidade de
executar. Nesses casos, o atributo certamente vira viabilizador.
1.1.4A ASSERTIVIDADE ORÇAMENTÁRIA
Indicador composto que mede realizado versus planejado para os diversos tipos
de orçamento (operações, investimento, despesas operacionais, recursos humanos
etc.), em períodos determinados. É comum que seja um indicador cumulativo, com
meta anual, o que vai contra o princípio da assertividade, que é acertar as projeções
com uma granularidade razoável (anualmente é, você há de concordar, um período
não muito granular).
A assertividade é um indicador ao qual, normalmente, se impõem limites de
controle, ao invés de metas.
65. www.sternstewart.com.br
66. Cá para nós: qual é o RAROC
da Olimpíada que se aproxima?
Será que alguém já calculou?
67. Não é possível determinar
polaridade para esse indicador.
A seta lateral é usada quando
queremos informar que esse
indicador é usado para controle,
e não para buscar desempenho
cada vez melhor.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
1.2. ATIVIDADE
Avalia a capacidade de girar os ativos rapidamente, com menor emprego possível
de recursos. Por isso, usa-se também o termo “eficiência de ativos”. É atributo
de controle ou viabilizador, avaliado externamente por acionistas e financiadores.
Normalmente, não gera requisito com meta, sendo mais usado para análise e
diagnóstico. Entretanto, tem ganhado maior importância, na medida em que a
geração de caixa livre é um aspecto do desempenho cada vez mais valorizado em
determinados setores.
1.2A NECESSIDADE MÉDIA DE CAPITAL DE GIRO
A necessidade de capital de giro é o quanto de ativo é necessário manter líquido
para o negócio girar um ciclo, ou seja, comprar suprimentos faltantes e produzir (ou
servir) até que entre dinheiro de novo.
NCG = contas a receber médio + estoque médio – contas a pagar médio
Quanto mais a empresa recebe rapidamente dos clientes, mais paga lentamente
aos fornecedores e carrega menos estoque, menor será a NCG, aumentando a
disponibilidade de ativos líquidos (caixa livre). Como esse indicador sai do balanço,
é comparável em princípio, podendo ser relativizado para tal; o problema é que a
NCG varia muito ao longo de um determinado período, e o balanço só dá uma foto
anual. O ideal, então, é obter a NCG média ao longo do ano, o que já dificulta a
comparabilidade. É necessário benchmarking estruturado.
1.2.1. OTIMIZAÇÃO DE ESTOQUE
Atributo viabilizador, de controle ou estrutural, dependendo da influência do
estoque nos resultados e da possibilidade de alterá-lo. Muitos tipos de negócio não
têm estoque significativo (bancos, sistema S etc.).
1.2.1B GIRO DO ESTOQUE
Mede a capacidade de reduzir o volume de dinheiro parado no estoque, na forma
de quantas vezes o estoque é renovado no período de um ano.
GE = custo dos produtos vendidos em um ano/ valor médio do estoque
Como também é baseado em média, não sai direto do balanço e depende de
benchmarking efetivo para ser comparado.
1.2.2 INADIMPLÊNCIA
Atributo limitador, obviamente ligado ao ambiente macroeconômico. O cliente não
paga, aumenta as contas a receber, diminui a liquidez... Enfim, isso não é bom.
1.2.2A CONTAS NÃO RECEBIDAS APÓS PERÍODO DE TOLERÂNCIA
Taxa em relação ao total de pagamentos vencidos. É um KRI (indicador de risco)
clássico, pois revela se a análise de risco de crédito ou do perfil de clientes está
adequada. Mostra também se o sistema de cobrança é proativo. Muitas empresas
divulgam esse indicador em relatório anual, sendo viável sua comparação, com a
devida cautela, pois pode ser somente uma foto contábil.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
Se esse índice for relativamente alto, a empresa (ou sua concorrente) terá que
colocar uma provisão para devedores duvidosos no balanço, o que também pode ser
usado para fins de comparação (fato relevante).
1.2.2 FLUXO DE CAIXA
Atributo viabilizador ou estrutural. Não costuma gerar requisitos. Avalia a
capacidade de um negócio ser operado de forma tranquila, sem crises de falta
temporária de recursos. Pode ser avaliado indiretamente por meio de proxies.1.2.2A CAIXA LIVRE
Mede o quanto de dinheiro poderia ser retirado agora da empresa, sem que o
negócio sofra qualquer impacto. Pode ser relativizado em relação à receita ou ao
capital empregado. A comparação só é viável por meio de benchmarking. Warren
Buffet adora esse indicador(68), que considera o mais importante para analistas de
investimento checarem.
CL = Lucro operacional – NCG média – investimento médio em ativos imobilizados
(bens de capital)
1.2.2B CICLO DE CAIXA
Mede a diferença de dias entre receber dos clientes e pagar os fornecedores.
CC = (Contas a receber médio/receita média por dia) – (Contas a pagar médio/custo dos
produtos vendidos médio por dia)
A comparação é viável por meio das demonstrações financeiras, embora
a quantidade de dias do ciclo de caixa varie muito de setor para setor.
Supermercados, por exemplo, tem um CC alto, pois são um tipo de negócio
sustentado primariamente pelo caixa (que é aplicado para gerar receita financeira).
A comparação só faz sentido para comprovar grandes discrepâncias.
1.2.2.1 INVESTIMENTO EM ATIVOS IMOBILIZADOS E SUA DEPRECIAÇÃO
Atributo limitador, avalia o impacto dos investimentos em ativos no caixa da
empresa e na contabilidade de lucro, lembrando que depreciação é um artefato
contábil. Investimento em ativos é um peso inevitável no fluxo de caixa, embora,
ao mesmo tempo, seja um aspecto positivo: a empresa está investindo, espera-se
que com bom RAROC.
1.2.2.1A DEPRECIAÇÃO/RECEITA LÍQUIDA
Indicador resultante das demonstrações financeiras, exige cautela em comparações.
Uma depreciação alta pode ser reflexo de uma campanha de investimentos recente,
ou seja, não é obrigatoriamente ruim. Não é comum atribuir-se metas ou limites à
depreciação, é um indicador para diagnóstico.
1.2.2.1B. INVESTIMENTO MÉDIO (CAPEX)/RECEITA LÍQUIDA
Mede o quanto do que é arrecadado nas vendas retorna na forma de investimento
(CAPEX: capital expenditures) no crescimento da empresa. Um valor baixo significa
falta de dinamismo; um valor cronicamente alto ou com tendência a subir revela
potenciais problemas de falta de caixa livre no futuro.
68. Carta aos acionistas da sua
empresa, Berkshire Hathaway,
1986. Ele chama o indicador de
owner´s earnings (lucro do dono
do negócio).
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
1.3 LIQUIDEZ
Atributo limitador, avalia a capacidade da organização honrar seus compromissos de
curto prazo. É um requisito comum dos controladores, expresso na forma de limites
de controle (atenção: não demande metas do tipo “melhorar continuamente” para
atributos limitadores).
1.3A LIQUIDEZ CORRENTE
É a divisão simples do ativo circulante pelo passivo circulante, ou seja, quantos
reais em caixa, contas a receber e estoque temos para pagar cada real de contas que
estão vencendo ou vencidas.
Não faz sentido comparar, em princípio, com outras empresas, pois liquidez
corrente é um KRI (key risk indicator) que precisa ser monitorado e estar em um
nível aceitável para o tipo de negócio. Alguns setores convivem bem com liquidez
abaixo de 1, tais como concessionários de serviços públicos, pois seu fluxo de caixa
é estável e garantido. Outros setores já precisam de liquidez mais alta, pelo motivo
inverso. Liquidez demasiado alta, por outro lado, é uma oportunidade desprezada: o
dinheiro poderia ser usado para investimentos.
1.3B LIQUIDEZ SECA
Também chamada de teste ácido, somente exclui o estoque do ativo circulante,
em contraste com a liquidez corrente. É um indicador menos usado e somente
confirma o que já sabemos: estoque é um lugar perigoso para guardar dinheiro.
1.4 ESTRUTURA (OU ALAVANCAGEM)
Atributo estrutural, avalia quanto e de que forma a organização emprega o capital
de acionistas e de financiadores. O uso inadequado de capital de financiadores
(excessivo ou caro) evidencia risco de longo prazo e revela problemas de
desempenho. Por outro lado, o não aproveitamento de oportunidades de
financiamento em condições vantajosas pode ser encarado como excesso de zelo.
Pode gerar requisitos dos controladores, se houver algum problema potencial ou
algum histórico negativo, expressos na forma de limites de controle.
A estrutura deve ser avaliada também qualitativamente, uma vez que os indicadores
não capturam as nuances do financiamento de cada parcela do capital empregado.
1.4.1 USO ADEQUADO DE CAPITAL DE TERCEIROS
Atributo limitador. Avalia as condições em que o financiamento dos ativos foi
contratado. Os controladores e analistas de investimento monitoram regularmente,
geralmente sem impor requisitos.
1.4.1A COBERTURA DOS JUROS
Mede a capacidade de pagar os juros das dívidas de curto e de longo prazo. É outro
KRI clássico.
CJ = lucro operacional/juros a pagar no período de um ano
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
1.4.2 ENDIVIDAMENTO
Atributo estrutural, acompanhado por controladores, acionistas e analistas de
investimento. Pode gerar requisitos expressos na forma de limites de controle.
1.4.2A DÍVIDA SOBRE PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Mede a relação capital de financiadores/(capital dos acionistas + lucro retido).
Não tem polaridade “quanto menor melhor”, porque o baixo uso de capital
de financiadores (mais conhecido como dívida de longo prazo) pode significar
dificuldade para obter crédito na praça, ou falta de ambição da direção, ou excesso de
conservadorismo. É um KRI com limites mínimo e máximo, pois no outro extremo
um índice muito alto pode mostrar que a organização será insolvente no futuro. É
comparável diretamente através de balanço, entre organizações do mesmo setor com
perfil de crescimento similar, com a mesma cautela de sempre: o balanço não informa
os detalhes que são necessários para se julgar a qualidade do endividamento. Por
isso, os rankings quantitativos que usam esse tipo de indicador (o mais relevante é o
da revista Exame) podem não perceber problemas ocultos ou reduzir a nota de uma
empresa que está crescendo e investindo. Uma alternativa para denominador dessa
taxa, muito usada em análise financeira, é o EBITDA.
1.4.2B ALAVANCAGEM FINANCEIRA
Mede a relação entre o total de ativos e o patrimônio líquido. É um KRI
complementar. Um resultado próximo de 1 (sempre será maior que 1) revelaria que
os acionistas bancaram praticamente sozinhos os ativos da empresa e que, talvez,
a empresa possa crescer mais rapidamente se for injetado capital de terceiros,
enquanto um resultado alto (p. ex., 10) mostraria o oposto: a empresa pertence mais
aos financiadores do que aos acionistas. Nesse caso, o indicador anterior (dívida/PL)
também terá resultado relativamente alto e a cobertura de juros provavelmente
será baixa. Não custa lembrar: um indicador sozinho não faz verão.
2. ATRIBUTOS DA SOCIEDADE E INDICADORES
SOCIOAMBIENTAIS
Como já vimos anteriormente, para que o triple bottom line seja alcançado com
sucesso, a organização precisa assegurar que suas atividades adicionam valor não
somente aos acionistas e financiadores, mas também à sociedade que permite
que a organização funcione. Estão incluídos aqui neste tópico os riscos trazidos
à sociedade pela forma de atuação da organização, bem como os potenciais
desenvolvimentos espontâneos e voluntários que a organização deseja promover
para melhorar a sociedade e a si própria.
Segundo Porter(69), empresas de sucesso precisam de sociedades saudáveis, e vice-
versa. O MEG também não tem uma visão filantrópica do relacionamento negócio-
sociedade: entende-se que a preocupação com a sociedade é um componente natural
da gestão, por meio do qual busca-se uma imagem favorável perante a sociedade,
o direito de continuar operando normalmente e uma sociedade melhor. Como a
sociedade é uma entidade extremamentecomplexa, o maior desafio para a gestão é
identificar quais parcelas da sociedade (representantes do poder público, entidades
de comunidade, órgãos reguladores(70), associações etc.) devem ser consideradas como
influentes e formadoras de opinião, para detectar suas necessidades e definir uma
estratégia de responsabilidade social integrada à estratégia de negócios.
69. M. Porter e M. Kramer, Strategy
& Society - the link between
competitive advantage and
corporate social responsibility,
artigo para HBR de dezembro
2006.
70. Órgãos reguladores, quando
têm papel muito relevante
(p. ex., em concessão de
serviços públicos e instituições
financeiras), podem ser
classificados também como
“parte interessada não-
tradicional” independente
da sociedade, conceito
incorporado no MEG 20ª
edição. Seus requisitos e
indicadores continuam sendo
apresentados, para efeito de
relatório em avaliação do MEG,
no item 8.2.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
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UMA VISÃO CRÍTICA
2.1 IMAGEM PERANTE A SOCIEDADE
Embora esteja aqui em primeiro nível, é um atributo que pode ser classificado
em qualquer nível, conforme o grau de importância para a Estratégia; o MEG dá
a entender que é finalístico ou viabilizador, mas não de forma explícita (no item
4.2). Como é um atributo baseado em opinião, geralmente não há requisitos diretos
impostos por partes interessadas. A imagem pode ser avaliada qualitativamente
ou através de proxies (demais indicadores do tópico 2, à exceção do 2.1A, que é
medição direta).
2.1A FAVORABILIDADE DA IMAGEM EM PESQUISA
Muitas empresas medem sua imagem por meio de pesquisas endereçadas aos
representantes da sociedade que são considerados mais relevantes e influentes.
Como toda pesquisa, essas também contêm incertezas oriundas da metodologia
(amostragem, forma de perguntar etc.), do ruído característico do público
pesquisado e da interferência da mídia na opinião das pessoas. Ainda assim, é
melhor medir que não medir. Organizações da administração pública e similares
podem utilizar a mesma pesquisa que usam para aferir satisfação de clientes,
inserindo questões específicas sobre responsabilidade socioambiental(71).
O resultado é usualmente expresso no formato % de pessoas que atribuíram nota
superior a X, com X variando conforme a metodologia aplicada. Esse formato é
considerado melhor que a média das notas, que esconde resultados insatisfatórios.
Resultados de pesquisa de imagem podem ser comparados se a pesquisa for
construída com esse objetivo – aliás, isso vale para qualquer pesquisa. Pode-se
planejar uma pesquisa aberta, em que o participante não sabe quem está
pesquisando; ou pedir para o participante comparar a organização pesquisadora
com outra, em complemento às questões básicas da pesquisa.
2.1.1 CONFORMIDADE LEGAL E REGULAMENTAR
Atributo limitador, com óbvio requisito baseado em limites bastante restritivos,
já que o ideal é a conformidade plena. É um atributo acompanhado internamente
por áreas afins e por órgãos reguladores e de fiscalização. Os controladores e
a alta direção geralmente o enxergam como um pré-requisito e delegam seu
acompanhamento mais detalhado, solicitando somente alertas.
Esse atributo não possui indicadores que o avaliem de forma inquestionável,
embora diversos indicadores sejam usados para avaliar o processo gerencial de
garantia da conformidade:
· Valor de multas e penalidades pagas ou depositadas em juízo
· Número de não-conformidades graves apontadas em auditoria externa ou interna
· Número de eventos de violação de leis e regulamentos etc.
Quando esses indicadores são consolidados, percebe-se que medem a eficiência do
processo gerencial, mas não a sua eficácia, ou seja, a conformidade propriamente
dita. Esse dilema acontece em vários atributos importantes do MEG: o atributo
tem quer analisado, prioritariamente, de forma qualitativa. O desafio, como já
debatemos na seção sobre análise crítica, é evitar que a direção e os controladores
se afastem do assunto porque “não há fatos novos”.
71. A pesquisa ABRADEE de
satisfação de clientes é um
bom exemplo. Isso é aceitável
porque, em concessão de
serviços públicos, os clientes
formam uma entidade que
espelha a sociedade.
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162 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
A solução para atributos qualitativos é não descuidar do monitoramento do processo
gerencial: checar como a organização se mantém atualizada em relação a mudanças
na legislação e na regulação que a afeta, em todos os aspectos de sua atuação; como
distribui responsabilidade pela conformidade; como as atividades que geram risco
legal e regulamentar são verificadas; e quais critérios de decisão são utilizados. Não
espere crises se instalarem para culpar os pobres dos indicadores.
2.1.2 COMPROMETIMENTO COM A ÉTICA
É um atributo estrutural ou limitador, conforme a situação específica da
organização. Como a vida real tem nos mostrado, ganha cada vez mais importância e
já está presente nos acompanhamentos periódicos dos controladores e de setores da
sociedade. Os conselhos de administração e seus comitês têm um papel relevante
na avaliação do atributo, porque a direção pode simular que está comprometida.
Esse atributo gera requisitos baseados em limites restritivos (expressos nos códigos
de conduta).
Ou uma organização é ética e zela por isso, ou não. Medir ética numa escala não
é viável, pois não há meio termo. Por isso, indicadores de ética são geralmente
referentes ao controle do processo gerencial:
· Número de denúncias por colaborador
· Percentual de adesão ao Código de Conduta
· Penalidades com base em desvios de conduta
· Número de não-conformidades de ética etc.
Sendo assim, como no atributo anterior, comprometimento com ética é um atributo
a ser avaliado qualitativamente, com base em como a ética é incorporada ao dia-a-
dia dos negócios. Os indicadores citados apoiam a avaliação, mas não são suficientes
para norteá-la.
2.1.2A FATO RELEVANTE: RECONHECIMENTO COMO ORGANIZAÇÃO QUE PRATICA A ÉTICA
Existem prêmios no Brasil e no Exterior que reconhecem empresas éticas, ainda
que somente por meio da inscrição de projetos, tais como o Prêmio Ética nos
Negócios(72), da revista do mesmo nome.
2.1.3 TRANSPARÊNCIA E COMUNICAÇÃO EXTERNA
Atributo estrutural que avalia a competência para divulgar resultados e decisões que
influenciam a sociedade, bem como para responder a questionamentos e gerir crises de
imagem. Raramente transforma-se em requisito. Pode ser avaliado qualitativamente.
2.1.3A FATO RELEVANTE: LISTAGEM NO DJSI OU NO ISE
Sim, eu sei que uma listagem no Dow Jones Sustainability Index(73) ou no Índice
de Sustentabilidade da Bovespa(74) não é fácil de se obter, e que em ambos são
avaliados mais quesitos que somente transparência e comunicação. Por que está no
segundo nível, então? Por que optei por colocar imagem como atributo de primeiro
nível, e a listagem influi na imagem, mas não mede a imagem diretamente. O fato
de a organização se colocar à prova e passar no teste mostra, no mínimo, capacidade
de ser transparente, daí sua alocação nesse atributo.
72. www.premioeticanosnegocios.
org.br
73. www.sustainability-indices.com
74. www.bmfbovespa.com.br/
indices/ResumoIndice.
aspx?Indice=ISE
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163Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
Índices respondidos a distância podem ser perigosos se usados como indicadores
de desempenho; por isso, classificamos a inclusão de uma empresa nos índices
somente como fato relevante. O uso das pontuações obtidas no DJSI e no ISE
como indicadores demanda cautela. Não custa avisar, também, que a listagemé
restrita a empresas de capital aberto com free float significativo.
2.1.3B PONTUAÇÃO EM AVALIAÇÃO PELO MODELO DO INSTITUTO ETHOS
Muitas organizações se submetem a avaliações de especialistas em
Sustentabilidade, que aplicam o questionário Indicadores Ethos para Negócios
Sustentáveis e Responsáveis(75) e auditam as práticas presencialmente para
confirmar as respostas, obtendo-se uma pontuação e um percentual em relação ao
máximo possível. Apesar do título, o Questionário Ethos é um checklist (bastante
respeitado) de boas práticas de Responsabilidade Social e de Sustentabilidade.
Para fins internos, o grau de aderência ao Ethos (ou a outro modelo internacional
equivalente) é um indicador potencialmente útil, que permite incentivar a tomada
de ações concretas a fim de melhorar a estratégia para a sociedade. Exige cautela
na comparação, embora ela seja viável: se o avaliador não for o mesmo, pode haver
variação significativa na percepção e no resultado final. A resultante de avaliação
por esse modelo não abrange somente a transparência e a comunicação; quando
decomposta em seus vários elementos, permite avaliar (de uma forma qualitativa)
também outros atributos de sociedade.
2.1.3C EXPOSIÇÃO POSITIVA NA MÍDIA
Indicador bastante comum, mede a proporção do total de notícias espontâneas
(não patrocinadas pela própria organização) que são favoráveis à organização. Várias
agências prestam esse tipo de serviço, conhecido como clipping. Esse indicador
antecipa possíveis problemas de imagem e também mostra se a forma da organização
se comunicar externamente tem promovido repercussão positiva na mídia.
É comparável, mas é necessário benchmarking com normalização de critérios.
Além disso, é um indicador pouco relevante para empresas de menor porte
que têm pouca visibilidade na mídia.
2.2 VALOR RETORNADO À SOCIEDADE
É um atributo complexo: tende a ser finalístico do ponto de vista conceitual,
mas que só pode ser avaliado qualitativamente, com ajuda de proxies.
O refinamento desses proxies é que, eventualmente, tornará a avaliação desse
atributo mais robusta. Muitas empresas o tratam de forma apartada da Estratégia,
como já comentamos anteriormente. Raramente é transformado em requisito.
Em organizações sem fins lucrativos, valor retornado à sociedade se confunde com
a própria missão. Nesse tipo de organização, é necessário medir o transbordamento
das atividades previstas na missão. Por exemplo, para uma ONG o retorno dos
programas sociais é um indicador econômico-financeiro finalístico, pois essa é sua
missão; ela precisará medir os impactos indiretos desses programas.
2.2.1 RETORNO DOS PROGRAMAS SOCIAIS
Esse atributo é classificado conforme sua relevância na Estratégia. Nas empresas
tradicionais, programas sociais são atividades paralelas à missão e tendem a ser
limitadores, ou seja, pré-requisitos.
75. http://www3.ethos.org.br/
conteudo/iniciativas/
indicadores/
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
Representantes da sociedade podem expressar suas expectativas na forma de
requisitos para o desempenho desses programas.
2.2.1A SATISFAÇÃO DOS BENEFICIADOS
Mede se os programas estão surtindo os efeitos planejados na percepção de quem
foi beneficiado ou de um representante (p. ex., pais, diretor da escola etc.). Em
princípio, a avaliação deve ser feita por meio de pesquisa, valendo os comentários
feitos para o indicador 2.1A.
2.2.1B CUMPRIMENTO DOS OBJETIVOS
Mede a eficácia dos programas em provocar a mudança esperada na vida dos
beneficiados, seja inserção no meio social, maior qualidade de vida, qualificação,
empregabilidade etc. Pode-se criar um indicador composto que abranja os
diversos programas que uma empresa patrocina, atribuindo-se percentual para
o alcance de metas quantitativas de cada programa, associado ao peso de cada
programa na Estratégia.
2.2.2. IMPACTO ECONÔMICO
Atributo estrutural, fruto da própria atividade econômica inerente aos negócios.
Avalia quanto do valor econômico gerado é destinado à sociedade, em contraste
aos acionistas e financiadores. Muitos autores criticam essa forma de avaliar
responsabilidade social (inclusive Porter), pois seria o preço a pagar para a
organização funcionar, opinião corroborada por muitos executivos. De qualquer
forma, é atributo onipresente nos relatórios de sustentabilidade, nos balanços
sociais e nos critérios de listagem em índices de sustentabilidade.
2.2.2A INVESTIMENTO SOCIAL EM RELAÇÃO À RECEITA
Os modelos de balanço social mais utilizados no Brasil(76) dividem os investimentos
sociais em:
· Externos: gastos na comunidade e em programas sociais (saúde e saneamento,
cultura, educação etc.) e com os impostos.
· Internos: gastos com alimentação, educação, capacitação e saúde, dentre
outros, relacionados à força de trabalho.
É uma medição pro forma, que pouco agrega para a análise crítica do desempenho.
2.2.2.1 INCREMENTO DA DIVERSIDADE
Uma forma relevante de organizações contribuírem para melhorar a sociedade é
apoiar a inserção econômica de indivíduos ou de empresas que têm oportunidades
reduzidas em função de injustiças sociais, ou por serem classes desfavorecidas.
Esse atributo limitador avalia o efeito dessas ações, podendo ganhar relevância
em função da Estratégia. Há pelo menos um requisito legal para esse atributo: a
exigência de geração de vagas e contratação de pessoas com deficiência.
76. GRI e modelos do Instituto
Brasileiro de Análises Sociais
e Econômicas (IBASE) e
da Fundação Instituto de
Pesquisas Contábeis, Atuariais e
Financeiras – FIPECAFI.
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165Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
2.2.2.1A INSERÇÃO DE MINORIAS
Mede a proporção de pessoas na força de trabalho que pertencem a minorias:
mulheres, negros, pessoas com deficiência etc. Essas medições são demandadas
pelos critérios de listagem e estão em todos os relatórios de sustentabilidade,
podendo ser facilmente comparadas. Entretanto, não costumam abranger os
terceirizados, o que pode causar distorções na análise.
Em especial, devido à exigência legal, a retenção de pessoas com deficiência
(PCD) é um indicador interessante: percentual de PCD contratadas há um ano (ou
mais) que ainda estão na casa, pois revela a manutenção de ambiente propício e de
condições adequadas de trabalho.
2.2.2.1B USO DE MPE (MICRO E PEQUENAS EMPRESAS) E FORNECEDORES LOCAIS NA
CADEIA DE VALOR
Esse indicador só é aplicável a grandes empresas, medindo o percentual do valor
de compras ou do total de pedidos que foram atendidos por MPE ou locais, com
o fim de aferir o esforço de sua inclusão na cadeia de valor. Outra opção é medir a
abertura de oportunidades, ou seja, o percentual de licitações em que concorreram
MPE ou locais. Esses indicadores são mais adequados à análise da evolução no
tempo, e não à comparação.
2.2.2.2 INCREMENTO DA ACESSIBILIDADE
Esse atributo avalia se a organização usa seu poder econômico para permitir o
acesso a produtos e serviços, o que inclui acesso às instalações nas quais o serviço
é oferecido. Deve ser visto como um atributo alinhado à Estratégia, ou seja, a
organização deve manter um objetivo específico de incrementar a acessibilidade,
para que ela seja avaliável. O único requisito aplicável para acessibilidade é o legal,
que especifica a acessibilidade para PCD, seja colaborador, visitante ou cliente.
Embora a acessibilidade possa, em tese, ser avaliada por meio de não conformidades
em relação à exigência legal, não há indicadores relevantes para um modelo
genérico, sendo esse atributo avaliável qualitativamente.
2.3 IMPACTO AMBIENTAL
Atributo que pode ir do estrutural ao finalístico, em função do setor de atuação e
tipo de empresa. Para indústrias químicas, siderurgia,petróleo etc., a importância é
enorme. Para uma desenvolvedora de software, possivelmente muito baixa, embora
o atributo não possa ser ignorado. A avaliação deve ser quantitativa.
O requisito legal é na veia, por meio das resoluções do CONAMA e órgãos
ambientais estaduais. A avaliação de conformidade a esses requisitos pode ser
consolidada no atributo 2.1.1. Em muitas organizações, há outros requisitos
adicionais dos controladores ou de parcelas da sociedade.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
2.3A INVESTIMENTO AMBIENTAL EM RELAÇÃO À RECEITA
Vale aqui a mesma crítica feita para o atributo 2.2.2A: esse é um indicador pro
forma. O gasto com operações de tratamento de efluentes, destinação de resíduos,
recuperação de áreas, proteção e preservação etc., é consolidado em uma medição
financeira, a qual, na minha opinião, é pouco útil para análise de desempenho,
levando à conclusão que impacto ambiental necessita de uma dose de avaliação
qualitativa e proxies.
2.3.1 EFICIÊNCIA NO USO DE RECURSOS
Atributo viabilizador, de controle ou estrutural, avalia o quanto os processos da
cadeia de valor são ecoeficientes e o quanto da evolução tecnológica ambiental do
setor de atuação já foi absorvida e incorporada. Raramente resulta em requisitos
explícitos, embora seja bem possível que parcelas da sociedade acompanhem os
resultados. Não há como avaliar esse atributo apenas qualitativamente.
2.3.1A CONSUMO DE RECURSOS NATURAIS
Os consumos de água e energia elétrica são medições triviais e comparáveis,
sendo onipresentes em relatórios de sustentabilidade. Ganharam relevância
recentemente, é claro, com a crise hídrica. Devem ser relativizados ao volume
produzido ou ao número de pessoas da força de trabalho, incluindo terceirizados.
O consumo de papel também é um indicador comum, embora frequentemente
restrito ao papel usado para impressão: idealmente, deve-se incluir papel usado em
material de embalagem. A relativização é igual à anterior. Esse indicador precisa de
benchmarking com critérios de normalização para ser comparado.
Muitas organizações medem o quanto de papel oriundo de fontes certificadas
é consumido em relação ao total. Empresas que utilizam matérias-primas de
fontes naturais (p. ex., indústrias alimentícia e de cosméticos) podem desenvolver
indicadores específicos com essa mesma abordagem.
2.3.1B CONSUMO DE RECURSOS NÃO RENOVÁVEIS
Mede o uso de insumos oriundos de fontes não-renováveis: combustíveis
fósseis, plásticos, madeiras e metais nobres etc. Alguns desses consumos são
potencialmente comparáveis a benchmarks do setor de atuação, desde que
relativizados em bases comuns, tais como unidades produzidas ou pessoas.
Organizações que fazem uso intensivo de frota de veículos (p. ex., distribuidoras
de energia elétrica, distribuidoras de água e saneamento, assistência técnica
de telecomunicações etc.) podem comparar seu consumo de combustível com
médias publicadas.
2.3.2 REDUÇÃO DE DANO AMBIENTAL (IMPACTO AMBIENTAL NEGATIVO)
Atributo limitador, avalia a dimensão dos danos ao Meio Ambiente (não confundir
com o consumo de recursos, que não é considerado dano) causados pela cadeia
de valor da organização, inclusive por fornecedores com os quais a organização
é solidária ou corresponsável. Há óbvios requisitos legais aplicáveis a todos os
setores. É um atributo a ser avaliado pela direção e conselheiros, quando há
risco significativos.
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167Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
2.3.2A PASSIVO AMBIENTAL
Este indicador mede se está sendo aumentado ou reduzido o eventual passivo
ambiental da empresa, que vem a ser a emissão e a destinação cumulativas de
poluentes, bem como o manejo inadequado de áreas de preservação, em situação
considerada ilegal ou sujeita a sanções. É claro que só é aplicável a uma parcela
restrita de organizações.
Pode ser medido financeiramente como uma exposição (certamente um KRI), sob a
ótica de potenciais multas e penalidades, em relação à receita ou ao lucro operacional.
É comum que a direção não saiba que há passivo ambiental na organização, em
especial quando ele está fora dos muros (na cadeia de valor externa).
2.3.2B DESTINAÇÃO OU REDUÇÃO DE RESÍDUOS
A regulamentação de resíduos varia muito no âmbito municipal, exigindo atenção
na classificação deste indicador. A destinação voluntária é um investimento
ambiental positivo, devendo ser monitorada somente com base em sua relevância
para a Estratégia. Já a destinação prevista em lei é um dano potencial, caso saia da
linha, e deve estar ligada a um indicador de alerta (KRI).
O indicador tradicional é o percentual de resíduos destinado por empresa
autorizada ou qualificada em relação ao total daquela classe de resíduos. Se a
organização gera mais de uma classe impactante de resíduos, para cada uma delas
deveria haver um indicador.
A redução de resíduos relevantes é tão importante, obviamente, quanto sua
destinação, podendo gerar indicadores para acompanhamento da evolução. A
geração de resíduos deve ser analisada não somente no âmbito dos processos, mas
também no que se refere ao ciclo de vida completo do produto, incluindo sua
disposição final. Por exemplo, as fabricantes de aeronaves, inclusive a Embraer,
preocupam-se e têm iniciativas de grande porte, no que tange ao descarte
adequado de todas as peças das aeronaves, mesmo que isso ocorra somente daqui
a cinquenta anos. Os efeitos dessas iniciativas são mensuráveis, mas de difícil
comparação com o efeito de iniciativas equivalentes.
2.3.2C GASES DE EFEITO ESTUFA (GEE)
Esse tipo de dano ambiental ainda não está regulamentado; entretanto, todos os
critérios para reporte ambiental exigem apresentação dos resultados na forma de
toneladas de CO
2
de GEE emitidas em um ano, grandeza que pode ser relativizada,
para fins de avaliação de desempenho, ao volume produzido ou ao tamanho da
força de trabalho.
A medição de GEE é feita por empresas especializadas, com base em tabelas
padronizadas que correlacionam as atividades de uma empresa com emissão de
GEE: viagens de avião, por exemplo, têm emissão de GEE diferente de viagens
de carro.
2.3.2D FATO RELEVANTE: CERTIFICAÇÃO ISO 14001
Uma organização certificada está, em princípio, mais preparada para lidar com
impactos ambientais. A comparação com organizações do setor, ou seja, se elas estão
ou não certificadas, pode ser considerada relevante.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
A mera certificação, por si só, não é garantia de ausência de problemas. É
importante que a direção avalie se os processos de gestão de mudanças e de gestão
de risco estão devidamente integrados ao sistema de gestão ambiental, tratando
adequadamente os riscos ambientais originados em alterações de processos,
aquisição de empresas, novos fornecedores e projetos em geral.
2.4 IMPACTO SOCIAL
Atributo limitador, avalia os danos que uma empresa pode causar à sociedade ao
executar suas atividades, ou como efeito colateral de seus produtos. Só é trazido à
atenção da direção ou dos conselheiros em alguns setores de atuação, nos quais há
regulamentação específica ou nos quais a opinião pública é claramente desfavorável
ao setor, por conta desse impacto (p. ex., indústrias do fumo, cadeias de fast food
etc.). Na grande maioria das organizações, é um atributo que pode ser avaliado
qualitativamente, com apoio de proxies.
2.4.1 REDUÇÃO DE IMPACTO RELEVANTE
Atributo que só é aplicável nos casos já relatados, em que é necessário avaliar
diretamente os danos reais e potenciais.
2.4.1A DANOS À SEGURANÇA DO USUÁRIO
Mede número de incidentesou acidentes com o usuário final do produto, tais
como envenenamento, parada de elevador, choque elétrico, mau funcionamento
por negligência da organização etc. A grande dificuldade, no caso, é relativizar
a medição de maneira que faça sentido: por produtos vendidos, por número
estimado de usuários, por evento realizado, por viagens de elevador, e por aí vai
nossa imaginação... Trata-se de um KRI. A organização deve decidir se serão
incluídos incidentes causados exclusivamente por negligência do usuário, dentro
das condições de uso normais. A ABRADEE, por exemplo, classifica o número
de fatalidades de usuários oriundas de manuseio de energia elétrica como um
indicador relevante, mesmo que não haja responsabilidade direta da distribuidora.
2.4.1B CUSTO SOCIAL
Mede o valor financeiro que a sociedade precisa despender para tratar os danos
causados direta ou indiretamente pelo produto (ou serviço), descontado dos
impostos e taxas já compensados pela organização. Deve ser relativizado ao
volume produzido. Aplica-se diretamente às organizações em que esse custo social
está comprovado e estudado, como é o caso das indústrias de fumo e de bebidas
alcoólicas, que já sofrem diversos tipos de restrições, em especial tributárias. Alguns
setores estão sendo estudados para tornar essas medições mais concretas nos casos
em que há controvérsia, como ocorre atualmente com as indústrias de refrigerantes,
de alimentos etc.
Mesmo que o custo social seja indireto, é importante que sua organização avalie
esse risco, para decidir se deve ou não monitorar o custo social. Se o custo social
é alto, e há o risco de ele se tornar materialmente relevante, isso é uma exposição
futura, com possíveis repercussões no capital econômico e na rentabilidade daqui a
algum tempo.
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169Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
O custo social ainda é uma figura controversa: até que ponto uma empresa é
responsável pelo dano causado por um produto que está autorizado a ser vendido
e que está perfeitamente dentro das especificações? As fabricantes de cigarros, por
exemplo, já compensam adequadamente a sociedade, ao ter seu produto super-
taxado? A resposta a essas questões não está disponível, o que não significa que
a direção de qualquer organização não deva incluir essa preocupação em suas
análises. Esse indicador ainda não é exigido pelos critérios de listagem, mas a
preocupação aparece nos checklists de boas práticas.
2.4.2 RISCO DAS MUDANÇAS E PROJETOS
Assim como comentado no tópico 2.3.2D, os processos de gestão de mudanças
e riscos devem ser sensíveis a danos sociais potenciais, tais como: encerramento
de contratos com fornecedores pequenos ou locais, alterações em composição de
produtos, programas sociais que causem algum tipo de celeuma etc. A avaliação é
baseada em análise de risco, tendendo a ser qualitativa.
3. ATRIBUTOS DE CLIENTES E INDICADORES DE
CLIENTES E MERCADO
Sempre que você for desenvolver uma árvore de clientes, você terá dúvidas sobre
qual é o atributo mais relevante: participação no mercado, satisfação do cliente ou
sua fidelidade? O que é causa e o que é efeito? Livros e monografias sem conta
foram escritos sobre essa questão. A resposta a ela é que cada empresa é um caso à
parte, o que quer dizer que este modelo genérico não vai ajudar muito a tomar essa
decisão. Por isso, os três atributos estão no primeiro nível.
Neste modelo, coloquei a insatisfação subordinada à satisfação, embora isso possa
gerar polêmica. É importante frisar que essa escolha não significa que a insatisfação
não seja importante, mas que, na minha modesta opinião, ocorre cronologicamente
antes de se medir a satisfação, bem como a influencia imensamente.
3.1 PARTICIPAÇÃO NO MERCADO
Atributo finalístico na esmagadora maioria das organizações de fins lucrativos,
avalia a posição conquistada no mercado de atuação pela organização. Mesmo
empresas que atuam em pequenos nichos desejam ser competitivas em seu nicho;
participação só não é relevante para o setor de serviços públicos e organizações com
mercado cativo.
É atributo acompanhado firmemente pelos controladores, que costumam impor
requisitos de desempenho.
3.1A PARCELA DAS VENDAS (MARKET SHARE)
Mede a taxa das vendas conquistadas pela organização (em reais) em relação às
vendas totais do mercado. Esse indicador pode perder o significado se houver
consolidação indevida, ou seja, se forem somados segmentos de mercado e produtos
muito distintos, os quais devem ser estratificados e analisados em separado.
Em alguns setores, a parcela de vendas é publicada pela associação formada pelas
empresas concorrentes.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
3.1B PARCELA DO VOLUME DE PRODUTO (PRODUCT SHARE)
Indicador complementar ao anterior, é aplicado quando há diversas variações de um
produto para um mesmo segmento de mercado. O objetivo é eliminar a distorção
causada pelo preço dos produtos. A base empregada, nesse caso, é o número de
unidades vendidas, permitindo outra vista da competitividade.
3.1C PARCELA DOS CLIENTES-ALVO
Mede a fatia da organização da base de clientes do segmento específico
que é considerado o alvo da Estratégia. Trata-se de uma particularização da
competitividade, refletindo as prioridades de crescimento. Só é aplicável nos casos
em que a base de clientes é conhecida ou pode ser estimada (taxa de clientes
conquistados em relação ao total) e em que a conquista do cliente é inequívoca.
Alternativamente, pode ser medida como market share estratificado para o segmento
de clientes-alvo.
3.1D LUCRATIVIDADE POR CLIENTE (AVERAGE CUSTOMER VALUE)
Toda organização de grande porte gostaria de saber quanto cada cliente gera de
valor em relação ao custo necessário para atendê-lo: assistência não incluída no
preço, esforço extra para gerar o produto e demais custos específicos de um cliente.
A média dessa medição revela se as iniciativas para manter ou aprimorar uma
carteira de clientes de valor adicionado adequado à Estratégia estão funcionando.
Esse indicador é calculado desta forma: somatória (1 a n clientes) de (receita do
cliente - custo dos produtos vendidos ao cliente - custo extra de manutenção do
cliente)/ n clientes
É um indicador difícil de se obter, pois depende do correto apontamento dos custos
extras específicos de cada cliente. Com o advento dos sistemas CRM de captura de
dados dos clientes (CRM = sistema de gestão do relacionamento com os clientes),
o registro está ficando cada vez mais viável. Vale a pena investir nesse indicador, se
for importante estrategicamente, é óbvio.
3.1E PARCELA DA INDÚSTRIA (INDUSTRY SHARE)
Para organizações que competem em vários setores de uma indústria, pode ser
importante conhecer e monitorar sua fatia global de vendas, somando os vários
setores. Esse indicador também é conhecido como wallet share (fatia do bolso dos
clientes), indicando a importância da organização em um contexto mais amplo.
Com a exceção do 3.1D, os indicadores acima já são comparações automáticas
com os concorrentes, embora seja comum não se poder distinguir qual
concorrente ocupa qual posição.
3.1.1 VALOR PERCEBIDO
Esse atributo avalia o quanto um cliente está disposto a pagar a mais pelos produtos
ou serviços; em outras palavras, é o prêmio que sua organização captura devido
à sua maior competitividade. Essa pergunta até entra em algumas pesquisas de
satisfação, mas a resposta pode não ser confiável. De forma geral, é um atributo
avaliado qualitativamente, pois, na maioria dos casos, a medição direta é inviável:
você precisa saber o preço real praticado pelos concorrentes, ou analisar os
indicadores 3.1A e 3.1B em um contexto muito bem controlado.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
3.1.1.1 QUALIDADE DO PRODUTO
Atributo viabilizador, engloba não somente a conformidade do produto ao que foi
contratado, mas também o quanto ele supera as expectativas às vezes não expressas
pelo cliente. Sendo assim, preferimos classificar a conformidade do produto aos
requisitos expressos pelo cliente, como um indicador da cadeia de valor (5.4A).
3.1.1.1A POSIÇÃO OU PONTUAÇÃO EM TESTE COMPARATIVO
O ranking de um produto ou serviço é baseado em indicador composto das
várias virtudes ou pecados que caracterizam o produto na visão de especialistas,
aplicado a vários concorrentes, de forma a permitir classificação. Várias revistas
nacionais e internacionais promovem rankings: um exemplo é o teste comparativo
de automóveis publicado pela imprensa especializada; outro célebre exemplo é a
classificação publicada pelo Guia Michelin para restaurantes. A pontuação obtida
diretamente na avaliação, ou por aproximação, pode ser transformada diretamente
em indicador, e tem a vantagem de ser comparável na origem.
3.1.1.1B CARACTERÍSTICA CRÍTICA ou
O pacote produto/serviços da maioria das organizações apresenta algumas poucas
características bem tangíveis que são definidoras do sucesso (ou fracasso) no
mercado, a exemplo do consumo de combustível para aeronaves de aviação
comercial, ou do retorno da carteira recomendada por um banco. A característica
crítica também pode ser medida na forma de ausência de problemas, tal como a
incidência de infecções em um hospital, ou a contaminação de alimentos em uma
rede de restaurantes industriais.
3.1.2 IMAGEM DA ORGANIZAÇÃO PERANTE O MERCADO
Atributo de importância variável, avalia a percepção de clientes existentes e
potenciais, ex-clientes, pares e formadores de opinião sobre a organização, não
somente sobre seus produtos. A reputação de uma organização está influenciando
cada vez mais sua perspectiva futura de sucesso no mercado; a rapidez dessa
influência é que varia de setor para setor, bem como a margem de manobra para
tomar contramedidas a fim de resolver crises de imagem.
A avaliação da imagem é majoritariamente qualitativa, com potencial apoio de
proxy: algumas organizações utilizam pesquisas de satisfação para inserir questões
sobre imagem ao cliente existente; o uso desse proxy deve ser moderado, na medida
em que essas pesquisas têm abrangência restrita e não refletem plenamente a
imagem perante o mercado.
3.1.2A POSIÇÃO EM RANKING DE ADMIRAÇÃO
Em alguns setores, a imagem perante pares, clientes e o público em geral é
avaliada por publicações especializadas nacionais e internacionais, permitindo
complementar as respostas da pesquisa de satisfação de clientes. A posição nesse
tipo de ranking pode ser relevante, influenciando eventualmente as decisões dos
clientes. É um indicador naturalmente comparável.
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ATRIBUTOS E
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3.1.3 PODER DA MARCA
Atributo viabilizador, a marca tem sido endeusada na literatura de negócios.
De fato, em diversas indústrias, em especial nos setores de bens de consumo e
serviços ao consumidor, a influência da marca no processo decisório do cliente é
significativa, podendo ser até quantificada. Em outros casos, entretanto, não há essa
possibilidade, sendo suficiente uma avaliação qualitativa.
3.1.3A RECALL DA MARCA
Muitas pesquisas abertas (p. ex., Top of Mind do Instituto Datafolha) ou
encomendadas medem a facilidade com que as pessoas amostradas lembram de
uma marca (daí o emprego do termo recall), em contraste a marcas concorrentes.
Essas pesquisas geram indicador no formato de taxa do total de pessoas que
mencionaram a marca espontaneamente. É naturamente comparado.
3.1.3B VALOR DA MARCA
Há várias metodologias para determinar o valor financeiro de uma marca, sendo as
mais usadas:
· Estimativa do quanto a marca contribui para a diferença entre o valor de
mercado e o valor contábil da organização (em percentual do múltiplo).
· Estimativa do quanto a marca gera de fluxo de caixa a mais do que se a marca
fosse genérica (método Interbrand), em percentual dos fluxos futuros.
· Estimativa do quanto a organização teria que pagar em royalties se a marca
não lhe pertencesse (método Brand Finance), em percentual de royalties
sobre a receita.
Esse indicador mostra, em tese, o efeito da estratégia de marketing adotada, sendo
acompanhada por analistas de mercado e potenciais financiadores. Para análise
interna de desempenho, serve mais como uma confirmação numérica do que já se
sabia. Aliás, não custa lembrar que a Kodak tinha uma das marcas mais valiosas do
mundo em 1990, o que me leva a a crer que valor de marca é extremamente volátil.
3.2 SATISFAÇÃO DO CLIENTE
Atributo finalístico universal, é frequentemente acompanhado pelos controladores.
Faz parte de quase todas as análises críticas. Pode gerar um requisito com limite
mínimo a ser mantido, imposto pelos controladores.
3.2A CLIENTES QUE SE DECLARARAM SATISFEITOS EM PESQUISA
O indicador mais empregado é a taxa de clientes que atribuíram notas na faixa
de satisfação, tipicamente 7 ou superior em uma escala 0-10, para a questão-
chave da pesquisa: "De forma geral, qual nota você dá para sua satisfação?".
Alternativamente, algumas metodologias utilizam um indicador composto das notas
atribuídas a vários quesitos de satisfação.
Como já vimos, idealmente pesquisas devem buscar comparações para embasar
suas conclusões. No caso de clientes, é necessário, para tal, que uma parcela
estatisticamente significativa deles tenha experiência anterior com os produtos dos
concorrentes. O indicador obtido da comparação pode não ser o mesmo da satisfação
geral, dependendo dos atributo específicos que o cliente consegue ou quer comparar.
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UMA VISÃO CRÍTICA
Não custa lembrar que indicadores resultantes de pesquisa têm limitações
naturais pelo uso da própria ferramenta, ou seja, há um limite máximo de
satisfação, a partir do qual o investimento necessário para aumentar cada
ponto percentual tende ao infinito.
Para fins de análise crítica, não consolide resultados de satisfação de clientes
que tirem a média ou somem laranjas com tangerinas e abacaxis. No afã de
reduzir a quantidade de indicadores, porque o professor do MBA disse que um
executivo de alto nível deve acompanhar somente 10 indicadores, muita gente
compacta informação que não pode ser compactada. Esse indicador e muitos
outros equivalentes devem ser estratificados por segmentos, ou produtos, ou tipos
de pessoas etc., para gerar aprendizado e embasar decisões. Lembre-se de que
análise crítica de êxito estratégico não é monitoramento semanal de vendas
e operações.
3.2B NPS - NET PROMOTER SCORE
O NPS é um extrato da pesquisa de satisfação: resulta da subtração do percentual
de clientes encantados (geralmente notas 9 e 10) do percentual de clientes que
se declaram insatisfeitos (notas 5 ou inferiores). Uma empresa com NPS negativo
estaria à beira da difamação: os clientes encantados seriam os "promotores",
aqueles que fazem propaganda espontânea, enquanto os insatisfeitos seriam os
"detratores". É um indicador complementar ao anterior. Não é comparável, pois a
avaliação desse indicador para os concorrentes teria ruído elevado e margem de
erro inaceitável.
3.2C CLIENTES NOVOS OBTIDOS POR REFERÊNCIA
Mede o efeito dos promotores na conquista efetiva de clientes novos. Só pode ser
aplicado se for viável identificar a conquista e mapear sua causa. Muitas empresas
poderiam empregar esse indicador, mas desprezam a oportunidade; com frequência,
nem sabem se o cliente énovo ou não.
3.2.1 EFICÁCIA DO TRATAMENTO DE CLIENTES NOVOS
Clientes novos requerem atenção diferenciada e uma gestão específica da sua
satisfação. Geralmente, não participam da amostragem para a pesquisa regular.
Em determinados setores, a competência para lidar com clientes recentes é
essencial, sendo um atributo viabilizador: isso ocorre quando há necessidade
de adaptação ao produto pelo cliente e do produto pela organização. Por outro
lado, há setores nos quais a distinção entre cliente novo ou fiel não é considerada
detectável ou relevante, tal como na administração pública. Aliás, é comum que
esse atributo importante passe despercebido no processo de análise crítica.
3.2.1A SATISFAÇÃO DE CLIENTES NOVOS
Mede a satisfação após algum tempo determinado de contrato ou início de
consumo, por meio de entrevista direta. É praticamente inviável sua comparação.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
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UMA VISÃO CRÍTICA
3.2.2 QUALIDADE DO ATENDIMENTO
Atributo de controle que exerce grande influência na satisfação. Uma vez
estabilizado ou uniformizado o valor percebido para o produto, a satisfação será
alterada principalmente por conta do atendimento para solucionar problemas ou
resolver dúvidas sobre o produto. Esse atributo gera requisitos dos clientes, os
quais muitas vezes são baseados em conceitos intangíveis, tais como cordialidade
ou vontade de resolver, dificultando a avaliação. Tendo em vista esse fato, corre-se
o risco de a análise crítica ignorar o atributo.
3.2.2A SATISFAÇÃO COM ATENDIMENTO
Há três formas tradicionais de medição: a mais usual é pedir a opinião do cliente
ao fim de cada atendimento, um indicador operacional bastante comum. O
segundo método julga a qualidade dos atendimentos por amostragem, usando um
especialista que testemunha os atendimentos. Ambas as medições são, geralmente,
voltadas para o centro de relacionamento com o cliente, mas podem ser usadas em
outros tipos de atendimento. O terceiro método, mais abrangente e bem menos
proativo, é a própria pesquisa de satisfação, quando inclui questões específicas
sobre atendimento.
3.2.2B TAXA DE ATENDIMENTOS NO PRAZO
Mede quantos atendimentos iniciaram e encerraram dentro do prazo previsto para
cada tipo de atendimento, não precisando a medição estar restrita ao centro de
relacionamento. Esse é um exemplo de indicador cuja meta pode ser originária
de um requisito de parte interessada de ordem operacional, situação usual em
organizações de serviços.
3.2.2C NÍVEL DE SERVIÇO DO CALL CENTER
É um indicador muito empregado para avaliar a agilidade e a infraestrutura do
call center, sendo bastante comparável entre empresas de diversos setores, devido
ao alto grau de terceirização e padronização dos call centers. Mede a proporção das
chamadas que foram abandonadas ou perdidas em relação ao total de chamadas
recebidas. Para os serviços públicos, os reguladores (ANEEL, ANATEL etc.)
definem a fórmula de cálculo desse indicador de forma detalhada, de maneira a
padronizá-la no setor.
3.2.2D AVALIAÇÃO DE CLIENTE OCULTO
Medição aplicável somente a setores nos quais o cliente pode ser um indivíduo
desconhecido: utiliza um especialista que se passa por cliente e avalia o
atendimento, com base em algum critério. É um indicador complementar. Pode ser
comparado, se os métodos empregados forem mantidos constantes.
3.2.3 TRATAMENTO DA INSATISFAÇÃO DO CLIENTE
A insatisfação do cliente pode ser abordada, é claro, como o oposto da satisfação,
mas, do ponto de vista de gestão do desempenho, a coisa não é tão simples.
Insatisfação exige um tratamento diferenciado, mais ágil e em âmbito operacional.
É claro que a taxa de detratores do NPS (indicador 3.2B) é um indicador de
insatisfação, mas já foi considerado no NPS; assim, não o repetirei.
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INDICADORES
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UMA VISÃO CRÍTICA
A insatisfação pode ter um caráter estratégico, na medida em que resulta de
discrepâncias ou desalinhamentos entre necessidades do cliente e realidades do
produto. Esse tipo de insatisfação é identificado efetivamente em pesquisa ou focus
group. Em contrapartida, o tipo de que estamos falando agora é aquela insatisfação
inesperada, emergencial, aqui e agora. Os requisitos desse atributo (de controle ou
limitador) podem ser oriundos dos clientes ou dos controladores.
3.2.3A TAXA DE REJEIÇÃO
Mede a proporção do total de produtos ou serviços entregues que foram rejeitados,
de alguma forma, pelo cliente: devolvidos, trocados, recalled, não pagos, encostados,
utilizados em condições anômalas etc. É o custo da qualidade externo, medido de
uma forma abrangente, não limitado ao custo contábil. Pode ser medido em valor
financeiro, com a devida cautela e procedimento adequado. Em muitos setores,
em especial de manufatura, trata-se de um indicador relevante, que deve ser
acompanhado em nível relativamente alto.
3.2.3B EFICÁCIA DA RESPOSTA A MANIFESTAÇÕES NEGATIVAS
Manifestação de cliente é um conceito amplo, que inclui não somente reclamações:
cabem também solicitações, demandas, sugestões etc. As manifestações positivas
devem ser controladas, claro, mas a resposta às negativas deve ser acompanhada
com maior atenção.
A eficácia, usualmente, é vista sob a ótica do cliente: se ele se dá por satisfeito com
a resposta, o que é uma abordagem um tanto pontual do que é eficácia. O cliente
está satisfeito com a resposta, não com a situação ou com a empresa. O indicador é
a taxa de respostas satisfatórias sobre o total. Como não se encerra reclamação antes
de isso ocorrer, o indicador tende a 100, tendo utilidade somente como incentivo
para manter a performance.
3.2.3C MANIFESTAÇÕES NEGATIVAS GRAVES
KRI que mede a quantidade de reclamações cabeludas (ao contrário do autor):
manifestações procedentes que subiram a um nível maior de atenção, tal como
área de Qualidade corporativa, Ouvidoria, Jurídico, direção, conselho, Procon,
órgão regulador, Jornal Nacional etc.
O desafio desse indicador é definir o critério do que é uma manifestação
procedente, ou seja, cuja responsabilidade é da organização. O ideal é incluir
corresponsabilidades oriundas de fornecedores e parceiros, se aplicável. Não é
recomendada a relativização, pois ela poderia distorcer o alerta que o indicador
busca prover.
3.2.3D REINCIDÊNCIA DE MANIFESTAÇÕES NEGATIVAS
Outro KRI, avalia se a sistemática de ação corretiva funciona de forma adequada,
eliminando a causa-raiz das manifestações e evitando recorrência. Embora seja um
indicador de controle relevante em setores que apresentam muitas manifestações,
é fato que poucas organizações o utilizam, pois não conseguem ter uma vista
transversal das manifestações, nem garantem que haja coordenação.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
Mede a proporção de manifestações negativas reincidentes sobre o total de
manifestações negativas. É importante que o critério do que é reincidência seja
claro e inequívoco: se um cliente reclamou de um lote de produto sobre o qual já
havia uma reclamação, não é reincidência, é a mesma reclamação. Ou seja, alguém
tem que agrupar as manifestações.
3.3 FIDELIDADE DO CLIENTE
Fidelidade é um atributo cuja importância é bastante variável, podendo ser
finalístico e quantitativo em um setor, viabilizador e qualitativo em outro, ou não
aplicável em setores em que o cliente não consegue mudar de fornecedor.
Talvez seja um dos atributos mais subutilizados dessa lista, frente ao seu
potencial para influenciar decisões. É raramente acompanhada pela direção e
pelos controladores, que entendem a fidelidade, na maioria dos casos, atrelada à
participaçãode mercado, pois seria influenciada pelos mesmos fatores. Ao tratar a
fidelidade como coadjuvante, podem estar cometendo um equívoco e deixando
de acompanhar algo muito relevante. Mesmo em setores em que fidelidade anda
de mãos dadas com market share, a avaliação de fidelidade é mais proativa, sendo
também um contraponto à avaliação de satisfação: nem sempre os resultados são
coerentes, e o ato de investigar a incoerência é que gera aprendizado.
3.3A INTENÇÃO DE COMPRA
Mede, por meio de pesquisa (de necessidades ou de satisfação), a proporção de
clientes que pretendem manter contrato ou que pretendem comprar produtos
no curto prazo (sobre o total pesquisado). Esse indicador também costuma ser
chamado de "índice de lealdade". Na prática, é um indicador que busca antecipar
o comportamento futuro do cliente, partindo da premissa de que isso seja possível.
É importante complementá-lo, ou correlacioná-lo, com outros indicadores, antes de
usar em análise estratégica.
3.3.1 RETENÇÃO
Atributo quantitativo viabilizador ou de controle, avalia a fidelidade por meio do
comportamento real do cliente. Usualmente, não gera requisitos, sendo aplicável
somente a organizações cuja relação com o cliente é contratual ou pessoal e estável.
3.3.1A TEMPO DE VIDA MÉDIO
É a taxa do tempo decorrido desde que o cliente é cliente sobre a quantidade de
clientes. Sozinho, mostra somente a maturidade da carteira de clientes, sendo um
indicador útil para diagnóstico. No entanto, se a Estratégia busca maturidade da
carteira, aí já muda de figura. O critério usado para definir o que será considerado
continuidade contratual tem que ser claro.
3.3.1B RETENÇÃO DE CLIENTES NOVOS
Mede a proporção de clientes novos que permanece cliente após um tempo
determinado. É aplicável apenas quando é viável distinguir clientes novos e
detectar sua repetição de consumo ou continuidade contratual. Apoia as decisões
relativas ao processo de acompanhamento de clientes novos.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
3.3.1C RETENÇÃO DE PRODUTO (CLIENT SHARE)
Um cliente pode continuar cliente, mas pode reduzir, súbita ou gradualmente, a
relevância da organização como fornecedora. Esse indicador mede a taxa de clientes
que reduziram seu volume de compras além de um percentual previamente
determinado sobre o total de clientes estáveis. Na prática, é a tentativa de detectar
a infidelidade do cliente: se é um cliente que mantém a atividade em ritmo normal
e reduziu o volume de compras, então deve estar comprando de concorrente.
A aplicabilidade será maior quanto mais for comum que os clientes comprem
simultaneamente de mais de um fornecedor.
3.3.2 RETORNO
Nos setores em que não há continuidade contratual, este atributo substitui a
retenção. Ainda assim, é necessário identificar o cliente como um indivíduo
específico, o que só não é viável em setores da indústria de venda de baixo valor
agregado ao consumidor comum. É um atributo de controle, pouco visível para a
direção e para os controladores.
3.3.2A REPETIÇÃO DE COMPRAS POR CLIENTE
Mede a taxa de clientes que estão comprando ou buscando o serviço pela
enésima vez (n a determinar previamente) sobre o total de clientes que
compraram no período, sendo um indicador usado para calibrar as medidas de
satisfação com atendimento em setores em que o padrão de repetição é um fato
relevante (p. ex., hotéis, transportes aéreos, SEBRAE, assistência técnica etc.).
As empresas que oferecem vantagens a clientes fiéis têm maior facilidade para
aplicar esse tipo de métrica.
4. ATRIBUTOS E INDICADORES DAS PESSOAS
4.1 VALOR PERCEBIDO PELAS PESSOAS
O valor percebido influencia diretamente a capacidade de a organização atrair
talentos. É um atributo finalístico que avalia o quanto a organização adiciona valor à
sua força de trabalho, com base na complexa combinação de:
· senso de pertencer;
· bem-estar pessoal;
· remuneração adequada;
· e oportunidade de crescimento.
O aspecto quantitativo do valor percebido se dá por intermédio de um conjunto de
proxies apresentado na sequência.
4.1A RECONHECIMENTO COMO UMA DAS MELHORES EMPRESAS PARA TRABALHAR
Muitas empresas se inscrevem em pesquisas conduzidas por instituições que,
em parceria com a imprensa, divulgam publicamente um ranking das melhores
colocadas(77). A comprovação de estar entre as 100 ou 150 (conforme a publicação)
melhores empresas para se trabalhar no Brasil já é um fato relevante per se.
A colocação em um ou ambos os rankings chega até a ser um requisito para os
controladores de algumas organizações.
77. Destacam-se os rankings
da revista Época (Globo),
conduzido pelo instituto
GPtW (Great Place to Work), e
o da revista Você S/A (Abril),
conduzido pela FIA (Fundação
Instituto de Administração).
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
Em termos de comparação, posição em ranking é um indicador composto, que
sempre deve ser analisado com moderação, sendo muito arriscado afirmar que a 20a
colocada é melhor que a 21a.
4.1.1 CLIMA ORGANIZACIONAL
Atributo finalístico ou viabilizador que avalia a satisfação dos colaboradores com a
organização, com o fim de comprovar o acerto das políticas de recursos humanos
e aferir o ambiente interno. É comum que os controladores imponham requisitos
com limites mínimos de desempenho para os indicadores relacionados.
4.1.1A ÍNDICE DE CLIMA ORGANIZACIONAL
Mede satisfação com o empregador através de pesquisa, em formato equivalente ao
da pesquisa de clientes, permitindo diversas estratificações em temas de interesse.
Muitas organizações empregam a pesquisa de clima incluída no pacote padrão
dos rankings mencionados anteriormente, complementando-na com pesquisa
desenvolvida internamente.
O indicador resultante de pesquisa pode ser a taxa de colaboradores que atribuíram nota
igual ou superior a 7 a uma questão geral, ou pode ser um composto de várias questões.
4.1.2 REMUNERAÇÃO TOTAL COMPETITIVA
Remuneração total inclui salário fixo e variável, benefícios e prêmios adicionais.
Há dois aspectos importantes para avaliar nesse atributo estrutural:
· Equidade externa: Por meio de algum método de padronização de cargos,
comparar a média e o desvio-padrão para cada cargo com outras organizações,
sob a coordenação de uma empresa especializada.
· Equidade interna: avaliar as discrepâncias entre pessoas que, em tese,
deveriam ter remuneração total equivalente.
Os colaboradores são sensíveis a ambos e tratam o atributo como um requisito,
embora praticamente nenhum empregador revele o resultado de qualquer
avaliação efetuada.
4.1.2A QUARTIL MÉDIO DE POSIÇÃO DA REMUNERAÇÃO NO MERCADO
Mede a proporção dos cargos pesquisados que estão abaixo da posição desejada
entre as organizações do grupo pesquisado. Alternativamente, pode adotar o
formato de quartil de classificação, ou seja, indicar em qual quartil a organização
está no grupo (indicador composto de vários cargos).
Esse indicador composto tem várias limitações e ruídos potenciais: depende da
qualidade do grupo de referência, do grau de abertura dos pesquisados, dos pesos
estratégicos designados a cada cargo, da competência do moderador etc. Todavia, é
melhor do que não pesquisar e não tentar medir.
4.1.3 CAPACIDADE DE RETER TALENTOS
Atributo limitador ou viabilizador que contrapõe os resultados de clima à realidade
do mercado de trabalho, uma vez que empresas com excelente clima organizacional
podem não conseguir reter pessoas-chave, devido a fatores externos. Não raro, os
controladores impõem requisitos para esse atributo.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:UMA VISÃO CRÍTICA
4.1.3A TURNOVER VOLUNTÁRIO
Mede a taxa do número de colaboradores que pediu demissão em proporção
ao total em um determinado período, não sendo considerados os colaboradores
demitidos por iniciativa da empresa ou como parte de um acordo de redução de
quadro. É um indicador muito usado, sendo mais relevante que o turnover geral.
Não é difícil de ser comparado, pois, além de poder ser obtido por benchmarking,
diversas empresas especializadas em RH comercializam dados comparativos.
4.1.3B APROVEITAMENTO INTERNO
Indicador comum cuja relevância é extremamente variável, mede a taxa de vagas
abertas em posições intermediárias que foram preenchidas por pessoal da casa,
em oposição a pessoas de fora. Também é facilmente comparável. A importância
desse indicador depende da estratégia de pessoas da organização e do quanto os
colaboradores são sensíveis a esse fator.
4.2 AMBIENTE PROPÍCIO AO ALTO DESEMPENHO
Atributo qualitativo de controle ou viabilizador, pois não há como separar
o desempenho das pessoas do desempenho da organização: a avaliação do
desempenho das pessoas também é majoritariamente qualitativa. Por isso mesmo,
não é um atributo que costuma gerar requisitos.
4.2.A PRODUTIVIDADE
Mede a taxa da receita ou do volume produzido sobre a quantidade de pessoas.
É um indicador publicado nos relatórios tradicionais, embora revele muito pouco
sobre o desempenho da empresa, mesmo quando comparado. Com a variedade
de arranjos societários e produtivos existentes, é praticamente inviável comparar
resultados sem haver aprofundamento dos dados.
4.2B DESEMPENHO INDIVIDUAL
Atualmente, a maioria das organizações avançadas tem sistemas de avaliação de
desempenho que permitem medir o alcance de metas por indivíduo e obter média
e desvio-padrão. A taxa de alcance pode ser tratada como indicador para controle ou
diagnóstico, mas usualmente tem valor externo pouco significativo. É praticamente
inviável agregar resultados de desempenho individual no nível de uma organização
e obter indicadores relevantes.
Uma pseudoanalogia para esse problema é encontrada na área esportiva, prolífico
berço de palestrantes. No esporte, você consegue medir o desempenho individual,
avaliar o entrosamento entre os indivíduos (jogadas ensaiadas, p. ex.) e fazer um
prognóstico sobre o sucesso do time no campeonato(78). Em negócios, já não é tão
direta a relação entre qualidade individual e desempenho organizacional.
O processo de avaliação de desempenho pode gerar vários indicadores de
controle, tais como taxa de pessoas com performance deficiente, avaliações
realizadas no prazo etc., os quais, entretanto, também não caracterizam
desempenho da organização.
78. Há um livro muito interessante
sobre esse tema, que
posteriormente virou filme:
Moneyball (O Homem que
Mudou o Jogo, no Brasil, em
tradução meio estranha), que
conta a história de Billy Beane
(vivido por Brad Pitt no cinema).
Beane revolucionou o beisebol
com sua gestão no Oakland
A's, usando indicadores e
estatísticas dos jogadores.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
4.2C DESEMPENHO DE EQUIPES
A taxa de pessoas que participam de equipes (ou grupos de trabalho) e a taxa
de alcance de metas de equipes são indicadores que evidenciam a orientação
para trabalho em equipe, mas só são úteis para análise crítica se a organização
busca resultados específicos. Do ponto de vista externo, não são indicadores
habitualmente relevantes.
4.2.1 QUALIDADE DA SELEÇÃO E DA CONTRATAÇÃO
Atributo de controle ou viabilizador, cuja relevância depende do momento vivido
pela organização. Raramente é desdobrado em requisitos.
4.2.1A RETENÇÃO DE NOVOS COLABORADORES
Mede a taxa de novos colaboradores que continuam na empresa após um período
determinado. É um indicador bem comparável, desde que haja normalização dos
critérios de benchmarking (p. ex., como proceder se o colaborador é transferido para
uma empresa do mesmo grupo).
4.2.1B SATISFAÇÃO COM INTEGRAÇÃO
Permite avaliar o sucesso do programa de integração, mas não somente sob o
aspecto operacional: deve aferir se o novo colaborador se percebe integrado e
adaptado aos valores da organização. Sendo assim, não é um indicador que pertence
apenas ao RH. Raramente é comparável, sendo um indicador para diagnóstico.
4.3 PRESERVAÇÃO DA SAÚDE E DO BEM-ESTAR DO COLABORADOR
Atributo finalístico em muitas organizações, em especial naquelas em que existe
histórico de incidentes ou alto risco inerente à atividade. É frequente a imposição
de requisitos pelos controladores e pelos colaboradores. Em organizações com
índices muito baixos de eventos mensuráveis, a avaliação deve ser feita com base
em análises de risco e de manutenção de processos gerenciais, pendendo para o
lado qualitativo.
4.3.1 SEGURANÇA ASSEGURADA NO TRABALHO
Atributo auto-explicativo finalístico em organizações nas quais as pessoas estão
sujeitas a risco. Nas demais, é um atributo limitador, com relevância variável.
4.3.1A FREQUÊNCIA E GRAVIDADE DE ACIDENTES
Indicador exigido por lei para todas as organizações e reportado para órgão
regulador, devendo ser estratificado em colaboradores próprios e de terceiros,
conforme regulamentação. A frequência mede o número de acidentes por
milhão de horas trabalhadas (HT), enquanto a gravidade mede a taxa de dias de
afastamento por milhão de HT. Se a frequência está alta e a gravidade está baixa,
ocorreram muitos acidentes leves; no caso oposto, foram poucos acidentes,
porém graves.
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INDICADORES
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UMA VISÃO CRÍTICA
4.3.1B QUASE ACIDENTES E INCIDENTES
Mede a ocorrência de situações em que um acidente esteve próximo de se
materializar. É um indicador adaptado da aeronáutica: se, por exemplo, uma
aeronave cruza com outra a uma distância abaixo do mínimo determinado, é
registrado um quase acidente. No mundo aeronáutico, essa medição é praticamente
automatizada por instrumentos, enquanto em uma empresa o indicador depende
de registros confiáveis e da transparência dos colaboradores e gestores, que
reportam o ocorrido para que o aprendizado possa ser compartilhado. Sendo assim,
não pode ser usado como indicador para metas ou para punição, nem deve ser
comparado entre áreas.
4.3.1C SATISFAÇÃO COM SEGURANÇA
A maioria das pesquisas de clima incluem questões sobre segurança, gerando um
indicador cuja utilidade é verificar se o diagnóstico de risco é confirmado pela
percepção do colaborador. Todo indicador de satisfação que é usado para aferir risco
deve ser usado com cautela: só deve gerar alerta se a satisfação for baixa; se for alta,
tanto melhor, mas não significa que a segurança é assegurada.
4.3.1D FATO RELEVANTE: CERTIFICAÇÃO OSHAS 18001
Assim como comentamos para a ISO 14001, certificações de sistemas de gestão
são bem-vindas como evidência de processos gerenciais estruturados. É claro que
acidentes de graves consequências também ocorrem em empresas certificadas.
Por conta disso, certificação é como satisfação: na ausência de eventos, reforça o
diagnóstico positivo.
4.3.2 SAÚDE OCUPACIONAL
Atributo limitador e sem requisitos na maioria das organizações, muitas vezes só
gera alertas quando uma situação grave já se instalou.
4.3.2A AFASTAMENTO POR SAÚDE OCUPACIONAL
Tem formato idêntico ao da gravidade de acidentes, só que mede os eventos que
exigiram o afastamento do colaborador, tais como lesão por esforço repetitivo,
estresse, depressão, intoxicação por alimento ou produto químico etc., sempre com
responsabilidade presumida do empregador.
4.3.3 QUALIDADE DE VIDA EXTERNA
Atributo limitador, nas mesmas condições do anterior; pode ser visto somente pelo
aspecto negativo, ou seja, avalia se a empresa interfere negativamente na vidapessoal do colaborador, ou também pelo aspecto positivo, que avalia o sucesso de
programas de incentivo a uma qualidade de vida melhor, tais como redução de peso
e de tabagismo. Apesar de contar com vários indicadores de controle, a avaliação
acaba sendo mais qualitativa.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
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UMA VISÃO CRÍTICA
4.3.3A HORAS EXTRAS
Mede a taxa de horas extras por pessoa por mês. Além de haver requisitos
legais a respeito, muitas empresas monitoram esse indicador para avaliar o
dimensionamento adequado da força de trabalho e porque tem correlação com
estresse e qualidade (especialmente de atendimento). É um indicador comparável,
embora não caracterize desempenho, mas sim risco (é um KRI).
4.4 QUALIFICAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO
Atributo de controle ou viabilizador, tem relevância muito maior do que a
capacidade de medi-lo. Comumente, há requisitos dos colaboradores (acesso à
qualificação) e requisitos legais (certificação profissional obrigatória).
4.4.1 DESENVOLVIMENTO NA CARREIRA
Atributo de controle ou viabilizador, apoia o diagnóstico da retenção de talentos.
É considerado o principal fator motivacional na era do conhecimento e é um
requisito comum dos colaboradores.
4.4.1A SATISFAÇÃO COM APOIO AO AUTODESENVOLVIMENTO
Confesso: o colaborador da minha geração (denominado "empregado" ou
"funcionário") nem sabia o que era autodesenvolvimento, pois ter um emprego
já era bom demais. É claro que isso não é mais suficiente para as gerações
subsequentes: as organizações devem prover ambiente propício e ferramentas que
permitam ao colaborador perseguir sua carreira por conta própria, espera-se que
dentro da casa. A satisfação com esse aspecto é mensurável por pesquisa de clima,
quando inserida.
4.4.1B AVANÇO NA CARREIRA
Mede a taxa de pessoas que foram promovidas ou que tiveram aumento de salário
fixo por mérito (não vale por ajuste de faixa). É fácil de comparar, embora não
capture certos tipos de movimento que as pessoas consideram como avanço,
tais como atuar em projeto relevante para a carreira, ser transferido para uma
área compatível com a estratégia de carreira etc. Dependendo da estrutura
organizacional, deve ser estratificado: organizações com grandes bases operacionais
e técnicas (como meu ex-empregador Embraer) não conseguem analisar esse
indicador de forma consolidada.
4.4.2 EFICÁCIA DE CAPACITAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Atributo estrutural, de controle, ou viabilizador, dependendo do contexto
estratégico. Pode ser um requisito legal e também dos colaboradores. Eficácia
propriamente dita não é um atributo plenamente quantificável, sendo usados
proxies como os apresentados a seguir.
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4.4.2A ALCANCE DOS OBJETIVOS DA GRADE DE PROGRAMAS
Indicador composto que mede o alcance dos objetivos (para um determinado
período) dos principais programas de capacitação e desenvolvimento. É o típico
indicador que gera controvérsia, pois pode ser facilmente desenhado para chegar
perto de 100%. Geralmente, mede-se o índice de aprovação dos treinandos, mas
o denominador deve ser o número de treinandos previsto no plano original. Pode
ser medido também o índice de aprovação na primeira tentativa, para aferir o
alinhamento do programa didático à realidade.
4.4.2B CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL
Mede a taxa de profissionais certificados em funções para as quais a certificação não
é compulsória, mas desejável; a definição do que é desejável deve ser coerente com
a estratégia de pessoas. Faz todo sentido compará-lo, pois avalia a diferenciação da
organização em relação a outras. Algumas instituições incluem esse indicador em
seus estudos comparativos, para cotejar os players de um mercado.
4.4.2C VOLUME OU INVESTIMENTO DE T&D
São os indicadores mais comuns, a despeito de revelarem pouco e medirem somente
esforço. Medem a taxa de horas de T&D (treinamento e desenvolvimento) por
pessoa e a taxa de despesas com treinamento por pessoa. Geralmente, precisam
ser estratificados, pois ocorrem distorções na consolidação. Por conseguinte,
comparações também precisam ser efetuadas no nível estratificado.
4.4.2.D RESULTADO DO GRUPO DE CONTROLE
Quando for viável e justificável, um grupo de treinandos pode ser usado como grupo
de controle para verificar a eficácia de um programa de capacitação. Mede-se o efeito
em algum resultado correlacionado à capacitação (p. ex., produtividade, taxa de erros
etc.) e compara-se com o resultado equivalente de um grupo que ainda não passou
pela capacitação. Obviamente, essa métrica só é aplicável em casos específicos.
4.5 LIDERANÇA
Atributo estrutural ou limitador avaliado qualitativamente, com apoio dos proxies
abaixo. Raramente há requisitos aplicáveis. Na verdade, a qualidade da liderança
no nível executivo é percebida nos próprios resultados da organização, sendo esse
atributo mais usado para avaliar o risco de que a nova geração de líderes não esteja
se desenvolvendo a contento.
4.5A SATISFAÇÃO COM A LIDERANÇA
Indicador de diagnóstico extraído da maioria das pesquisas de clima, pode ser
comparado. Como os indicadores de satisfação com segurança, é mais útil como
alerta do que como comprovação de alto desempenho.
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4.5.1 DESENVOLVIMENTO DE LÍDERES
Atributo de controle que avalia o sucesso do programa de transformação de líderes
potenciais em líderes efetivos. Devido à dificuldade inerente à definição do que
é liderança efetiva, a avaliação tende a ser qualitativa. Esse atributo pode ganhar
relevância na medida em que há um déficit significativo de líderes preparados para
os desafios previstos na Estratégia.
4.5.1A SUCESSORES POR POSIÇÃO
Mede a taxa de posições de liderança com pelo menos dois sucessores prontos para
assumir sobre o total de posições.
5. ATRIBUTOS E INDICADORES DA CADEIA DE VALOR
Os atributos elencados a seguir já foram empregados anteriormente neste livro,
na forma de exemplos de requisitos genéricos (fig. 32) que podem ser aplicados
a qualquer processo para facilitar o questionamento de seus indicadores de
desempenho. Deliberadamente, eu uso uma fórmula fácil de memorizar: 3E/3C/3A,
ou ECA3. Tais atributos são, não custa repetir, nada mais que referências ou truque
de consultor; cabe a cada organização estabelecer seus atributos importantes, após a
análise proposta no capítulo 2.
Você dispõe de duas alternativas viáveis para decompor a cadeia de valor na forma
de atributos:
· Usar indicadores compostos, consolidados no primeiro nível da cadeia de
valor para cada atributo padrão (se vocês optarem por trabalhar com atributos
padrão); em seguida, conectar cada atributo padrão à árvore de atributos, no
local adequado. Ou...
· Selecionar os atributos críticos dos processos críticos e conectá-los
diretamente à árvore de atributos.
5.1 EFICÁCIA
Atributo viabilizador ou finalístico, avalia a entrega efetiva do que era esperado
pelo cliente. Não é sinônimo de satisfação do cliente, mas se espera uma forte
relação de causa-e-efeito (eficácia influencia satisfação). Não há como ser
acompanhado externamente.
5.1A ENTREGAS PERFEITAS
Mede a taxa de entregas que atenderam a todos os compromissos explícitos e
implícitos no pedido ou no contrato (sobre o total de entregas). Abrange prazo,
produto, condições de entrega, condições comerciais etc., atendidos plenamente,
independentemente do cliente reclamar ou não. Só é comparável se os critérios de
atendimento forem idênticos.
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5.2 EFICIÊNCIA
Atributo de controle ou viabilizador, avalia o uso de ativos e recursos na cadeia de
valor e o êxito de iniciativas para aumentar a produtividade. Por ter forte relação
de causa-e-efeito com custos e margens, é habitualmente acompanhado pelos
controladores e, quando divulgado, pelos financiadores.
5.2A CAPACIDADE UTILIZADA
Indicador geralmente composto, mede a taxa de ocupação da capacidade instalada,
usando como denominador a capacidade máxima nominal ou comprovada. É um
conceito aplicável não apenas à manufatura: p. ex., hotéis, empresas de transporte
e qualquer setor que conte o número de assentos disponíveis medem taxa de
ocupação. Pode ser adaptado para medir o uso da capacidade da força de trabalho
de atendimento, tempo ocioso em qualquer processo etc. É comparável, por via de
benchmarking com critérios normalizados.
5.2B PERDAS
Potencial vetor do custo de produtos vendidos, é um indicador clássico de todos
os setores de manufatura. Pode ser adaptado para organizações de serviços que
lidam com perdas materiais, tais como supermercados, hospitais, concessionárias
de veículos etc. Mede a taxa de suprimentos ou produtos descartados sobre o total
consumido. É comparável, idem indicador anterior.
5.2C RETRABALHO
Mede a taxa de atividades realizadas mais de uma vez por falha de processo ou
produto (sobre o total de atividades). É aplicável a qualquer organização e processo
(quando relevante). É mais difícil de comparar, embora isso seja viável, sendo
necessário um grande esforço de normalização de critérios de apontamento de
repetição de atividade.
5.3 ESTABILIDADE
Atributo com posição hierárquica variável, avalia a capacidade da cadeia de valor
funcionar sem variações significativas ou interrupções. Pode ser um requisito dos
controladores ou dos clientes.
5.3.1 CONTINUIDADE
Atributo finalístico em alguns setores (hospitais, energia elétrica, transportes,
serviços de TI etc.) que incomodam um pouco o mundo externo quando param.
5.3.1A MTBF - MEAN TIME BETWEEN FAILURES (TEMPO MÉDIO ENTRE FALHAS)
Mede o tempo médio que um processo crítico opera sem interrupções. É
comparável, idem indicador anterior. Se há vários processos críticos, pode virar um
indicador composto, tal como a disponibilidade de sistemas de informação.
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5.3.1B DURAÇÃO E FREQUÊNCIA DE FALHA
Taxas equivalentes às taxas de frequência e gravidade de acidentes (4.4.1A),
aplicadas a um processo crítico. Um exemplo: as concessionárias de serviços
públicos informam, por força de regulamentação, o resultado desse indicador
individualizado para cada cliente (vide DIC e FIC na conta de energia elétrica)
e depois o consolidam no nível da empresa. É comparável, com critérios
normalizados.
5.3.2 VARIABILIDADE
Atributo de controle, avalia a sensibilidade da cadeia de valor ou de um processo
crítico a determinados fatores que possam vir a causar flutuação (além da aceitável)
do produto. Na grande maioria dos casos, é um atributo qualitativo que apoia
o diagnóstico dos atributos anteriores; é quantitativo somente em processos
razoavelmente repetitivos, com volume suficiente de dados.
5.3.2A CAPACIDADE (CAPABILITY)
Mede a proporção dos dados de uma variável crítica de processo que ocorrem
dentro de uma faixa de controle especificada (em relação ao total de dados). O
famoso termo seis-sigma vem daí: um processo seis-sigma tem capacidade de
99,99966%, ou seja, saem fora 3,4 partes por milhão. Em controle estatístico de
processo, mede-se também se a distribuição da curva é normal e o desvio da média
dos dados em relação ao centro da faixa.
5.4 CONFORMIDADE
Atributo de controle ou viabilizador que avalia a capacidade de um processo
cumprir seus compromissos, seja com clientes, com fornecedores ou com padrões
internos. É um requisito comum de clientes e reguladores, e até mesmo de
controladores (manter certificação, p. ex.).
5.4A CONFORMIDADE DE PRODUTO
Mede a taxa de produtos que atendem à especificação do cliente ou do regulador,
podendo ser comparado, se a especificação for a mesma entre concorrentes ou entre
unidades do mesmo grupo.
A especificação de clientes internos também pode ser considerada para medição
de conformidade de processos não finalísticos, desde que seja mantida a visão do
todo, ou seja, assegurando que os clientes internos não forcem metas que não façam
sentido para a organização.
5.4B CONFORMIDADE DE PROCESSO
Organizações que buscam padronização como fator crítico de sucesso da Estratégia,
frequentemente realizam auditorias dos processos críticos(79). Os apontamentos das
auditorias podem ser transformados em indicador, tal como não conformidades por
processo, atribuindo-se um peso relativo a cada desvio encontrado. É um indicador
para controle e diagnóstico, não sendo recomendado para compor metas.
79. Não se trata de auditoria
de controles internos, mas
sim de auditoria técnica de
alinhamento do que está sendo
praticado em relação a um
padrão determinado.
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5.4C FATO RELEVANTE: CERTIFICAÇÃO ISO 9001
A manutenção de um certificado para o sistema da qualidade demonstra haver
estrutura adequada para traduzir os requisitos de entrada dos clientes em
especificações e contratos que serão respeitados.
5.5 COMPLIANCE(80)
Atributo limitador qualitativo, embora apoiado por KRIs, avalia a capacidade da
cadeia de valor respeitar os valores adotados pela organização e as exigências
da sociedade. Também é fundamentado em auditorias, nesse caso de controles
internos. Atenção: auditorias atuam por amostragem; a ausência de evidências
não significa a evidência de ausências. Pode gerar requisitos dos controladores
ou do regulador.
5.5A OBSERVAÇÕES DE AUDITORIA INTERNA
Indicador composto (KRI) equivalente ao indicador de conformidade de processo
(5.4B), atribui peso a cada observação emitida pela auditoria, soma-as e divide
pelo número de processos auditados. Valem os mesmos comentários, não sendo
recomendável usar metas, somente limites de controle para fins de monitoramento.
5.5B MULTAS E PENALIDADES
Mede a taxa do valor financeiro de multas e penalidades (causadas por desvios
de processo) em relação à receita ou ao custo de produtos vendidos. É um
indicador (KRI) comum nas organizações cujos processos são submetidos a uma
regulamentação severa (bancos, concessionárias de serviços públicos etc.). Se esse
indicador for usado como meta ou limite em remuneração variável, pode apostar
que muitas multas e penalidades não serão reportadas: só compensa punir se houve
má intenção comprovada.
5.6 CUSTO DE PROCESSO
Atributo de controle útil para a gestão por processos, pois avalia a evolução do
custo de um determinado processo transversal (que atravessa diversas áreas da
organização), cujo custo não é visível no orçamento. Não é sujeito a requisitos e não
é monitorado externamente.
O custo consolidado da cadeia de valor, sob uma ótica pragmática, já faz parte do rol
de indicadores financeiros: representa o custo dos produtos vendidos menos o custo
dos insumos.
5.6A ÍNDICE DE CUSTO
Mede a taxa entre os custos reais efetivos do processo e os custos de referência
mantidos pela área financeira para cada componente crítico de custo. É um
indicador para diagnóstico, cuja complexidade só faz valer a pena medir se houver a
percepção de oportunidades significativas.
80. Compliance é conformidade
a normas, leis, regulamentos,
códigos de adoção voluntária
e princípios éticos; em inglês
de negócios, conformity
ou conformance são
mais empregados para a
conformidade de sistemas,
produtosou processos a
padrões. Como só temos em
português uma palavra para
abranger ambos os conceitos,
preferi manter o termo
compliance, que é usado
no original por muitas
empresas brasileiras.
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5.7 AGILIDADE
Atributo finalístico em setores cujos clientes são muito sensíveis ao tempo de
espera pelo produto, sendo tratado como um requisito nesses casos.
5.7A LEAD TIME
Mede o tempo total médio que leva entre um pedido e a entrega do produto ou
serviço, incluindo os tempos mortos, ou seja, tempos em que há espera interna
em uma ou mais etapas do processo (devido a filas, falta de recursos etc.). É
comparável, não sendo difícil obter dados dos concorrentes, pelo menos no que se
refere ao produto final da organização.
O lead time, obviamente, pode e deve ser usado para a análise de qualquer processo,
mesmo quando não é crítico no nível consolidado.
5.7B TEMPO DE PROCESSO
Representa o lead time menos os tempos mortos; em outros termos, é o melhor
tempo possível do processo. É um indicador usado para diagnosticar a oportunidade
embutida em um processo, não para ser monitorado.
5.7C THROUGHPUT
Mede o tempo médio que um insumo demora para ser pedido ao fornecedor,
estocado até virar produto, ser estocado novamente e depois ser entregue ao cliente.
Representa o lead time acrescido dos tempos médios de aquisição e dos tempos
médios em estoque. É um conceito muito caro à filosofia lean e à teoria das restrições,
pois revela todos os desperdícios crônicos de um processo. Não é comparável, devido
à alta quantidade de estimativas e premissas que devem ser feitas.
5.8 ADAPTABILIDADE
É um atributo essencialmente qualitativo, que avalia flexibilidade e tolerância a
circunstâncias externas, sejam causadas por clientes, ou fornecedores ou eventos
inesperados. O oposto da adaptabilidade é a rigidez excessiva: a incapacidade
de se moldar ao dinamismo do mundo externo. Essa premissa vale também para
processos não finalísticos, na ótica dos clientes internos.
Nos casos em que a Estratégia demanda inequivocamente maior adaptabilidade,
vale a pena, se viável, desenvolver indicadores e metas de redução do tempo
congelado de planejamento para alteração de pedidos, por exemplo, ou estudar o
aumento de estoques para balancear a gangorra adaptabilidade X throughput
e custo.
5.9 ADEQUAÇÃO AMBIENTAL E SEGURANÇA DE PROCESSOS
Atributo limitador ou estrutural, é um desdobramento do impacto ambiental (2.3)
e do risco (1.1.3), particularizados para um processo. Apesar das medições possíveis
para gerar proxies, normalmente é um atributo qualitativo, fundamentado em
análise de riscos.
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INDICADORES
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5.9A IMPACTO AMBIENTAL DE PROCESSO (ECOEFICIÊNCIA)
Mede o consumo de recursos renováveis ou naturais em um processo, permitindo
monitorar a eficácia das medidas tomadas. É um indicador usado somente para
apoiar projetos de redução de impacto ambiental. A consolidação desse indicador
resulta no impacto ambiental da organização.
5.9B EXPOSIÇÃO A RISCO OPERACIONAL
Mede o grau de exposição da imagem ou do capital da organização a incidentes
operacionais de grandes proporções e a outros riscos significativos da cadeia de
valor. É um KRI baseado em estimativa, próprio para diagnóstico, não sendo
adequado para monitoramento.
6. ATRIBUTOS E INDICADORES DE FORNECEDORES
E PARCEIROS
O MEG 20a edição deletou o item 8.6, Resultados de Fornecedores, porque há
empresas que não têm fornecedores críticos: é injusto que seja exigido delas o
mesmo que se exige das empresas com cadeia de valor tradicional. Para essas
últimas, que são a grande maioria, os resultados de fornecedores são apresentados
juntamente com os resultados dos processos da cadeia de valor, no item 8.5.
6.1 CONFIABILIDADE DA CADEIA DE SUPRIMENTOS
Atributo limitador essencialmente qualitativo, avalia a exposição ao risco
de dependência excessiva de fornecedores e parceiros. Deve-se entender
"suprimentos" de forma ampla, incluindo os serviços agregados ao longo da
cadeia de valor. Esse atributo abrange também o risco de corresponsabilidade da
organização por atos dos fornecedores. Raramente gera requisitos, sendo um tanto
ignorado: somente modelos de negócio em que o fornecedor entrega diretamente
ao cliente são sujeitos a exigências dos próprios clientes.
6.1 A FORNECEDORES POR SUPRIMENTO CRÍTICO
Mede a taxa de fornecedores homologados em relação ao número de suprimentos
classe A. É um KRI que deve ser analisado cuidadosamente, pois o resultado
consolidado pode mascarar risco real. O ideal é que ele seja acompanhado pela taxa
de suprimentos classe A com mais de um fornecedor homologado (sobre o total de
suprimentos classe A).
Esse indicador depende da classificação adequada dos fornecedores e dos
suprimentos, para que não sejam misturados no mesmo balaio uma matéria-prima
importante com o guardanapo para o restaurante interno da empresa. A classificação
tradicional é aquela que os segmenta com base na curva ABC de valor para o
negócio versus valor financeiro.
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INDICADORES
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6.1B FORNECEDORES (OU PARCEIROS) CERTIFICADOS
Mede a taxa de fornecedores classe A com certificação ISO 9001, ISO 14001,
OHSAS 18001 e outras, conforme relevante e aplicável, sobre o total de
fornecedores classe A. É uma maneira de avaliar a evolução dos sistemas de
gestão da base de fornecedores ou parceiros críticos. Muitas organizações
usam normas para sistemas de gestão desenvolvidas especificamente para seus
parceiros, principalmente quando o modelo de negócio depende de distribuidores,
franqueados, representantes ou autorizados.
É um indicador comparável, embora demande um certo esforço para normalizar a
classificação dos fornecedores.
6.1C ESTOQUE DE SEGURANÇA
Mede a necessidade de carregar estoque para o caso de um ou mais fornecedores
falharem e quebrarem o compromisso de entrega de suprimentos. Esse indicador
depende da classificação adequada dos níveis de estoque planejados em sistema
ERP. Não é um indicador dinâmico, portanto serve mais para diagnóstico e análise
das políticas de estoque. É medido na forma de taxa de estoque de segurança
sobre o estoque total, podendo sofrer distorções de vários tipos -- ou seja, não é
recomendada a comparação. Sua aplicação é restrita à manufatura e aos setores de
serviços que carregam estoques relevantes (p. ex., supermercados).
6.2 DESEMPENHO DOS FORNECEDORES OU PARCEIROS
Atributo de controle ou viabilizador que avalia a contribuição dos fornecedores
à cadeia de valor; só é acompanhado pela direção ou controladores quando os
fornecedores entregam direto ao cliente.
6.2A ENTREGAS PERFEITAS
Indicador equivalente ao 5.1A, com as devidas adaptações. Busca medir não
somente os defeitos tangíveis dos suprimentos, incluindo os diversos tipos de
estresse organizacional causados por problemas dos fornecedores ou parceiros. Só é
comparável se os critérios forem normalizados.
6.2B CONFORMIDADE AO SLA(81)
Esse é o indicador mais usado para feedback formal do desempenho aos
fornecedores classe A na atualidade. Baseia-se no eventual desvio em relação
a cada item do Service Level Agreement (Acordo de Nível de Serviço) de cada
entrega efetuada: no nível consolidado, é obtido pela somatória das taxas de itens
discrepantes em relação ao total de itens. Pode ser comparado se os SLA forem
idênticos e a forma de avaliação também, o que é raro ocorrer.
6.2C DEVOLUÇÕES
Mede a taxa de suprimentos classe A e B devolvidos ou rejeitados (não pagos) em
relação ao totalde suprimentos idem entregues. É o indicador mais comparável desse
atributo, embora diferenças entre critérios de rejeição possam invalidar a comparação.
81. Muitas empresas usam o
termo IDF para esse indicador
(Índice de Desempenho
dos Fornecedores) ou para
seus similares.
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INDICADORES
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6.2D CUSTO DA QUALIDADE
Mede as despesas incorridas em inspeção de recebimento e os custos estimados
da perda de eficiência devida a problemas com suprimentos classe A, na forma de
taxa do custo da qualidade sobre o custo dos produtos vendidos. Foi mais usado no
passado, quando as fronteiras entre as organizações e seus fornecedores eram mais
inequívocas. Não é comparável.
6.2E PASSE LIVRE
Mede a taxa de fornecedores classe A que não precisam de inspeção de
recebimento, sendo aplicável somente aos setores de manufatura. Não é
comparável, salvo raras exceções.
6.2F AVALIAÇÃO PELO CLIENTE OU CONTRATANTE
Outro indicador muito comum, mede a nota média atribuída pelos clientes aos
fornecedores com base em um questionário (nos casos em que essa medição faz
sentido), bem como pelos contratantes internos. É um proxy usado quando não há
como medir a conformidade ao SLA, servindo também como seu complementar.
6.3 VALOR PERCEBIDO PELOS FORNECEDORES E PARCEIROS
Atributo limitador ou viabilizador, busca avaliar a qualidade do relacionamento
da organização com essas partes interessadas. Como esse atributo avalia o risco da
relação se deteriorar no futuro, tende a ser parcialmente qualitativo. Não é habitual
seu acompanhamento pelos controladores e financiadores, com raras exceções,
embora possa ser determinante do sucesso futuro da Estratégia.
6.3.1 ATRATIVIDADE
Atributo limitador ou viabilizador, avalia se a organização é atraente aos olhos do
mercado fornecedor ou distribuidor. Não está no radar dos controladores e não pode
ser enxergado como exigência dos próprios fornecedores e distribuidores. Dessa forma,
seu uso como requisito de parte interessada é, de forma geral, visto como indevido.
6.3.1A SATISFAÇÃO DOS FORNECEDORES
Mede a satisfação de forma similar às demais pesquisas já mencionadas neste
capítulo. Não é comparável. É um indicador para verificar se as políticas relativas
a fornecedores e parceiros são eficazes, bem como para apoiar a decisão sobre
possíveis linhas de ação. Assim como acontece nas outras pesquisas, pode ser
decomposto em temas relevantes, tais como percepção de preço justo, de segurança
no trabalho, satisfação com a sistemática de programação etc.
6.3.1B FORNECEDORES POR LICITAÇÃO
É um indicador apropriado a organizações que fazem uso intenso de processo
licitatório. Mede a taxa de fornecedores participantes sobre o total de licitações,
apoiando diagnósticos e avaliações de risco. É comparável, sem grandes ganhos.
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ATRIBUTOS E
INDICADORES
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6.4 RESPEITO AO CONTRATO
Atributo limitador ou viabilizador, avalia se a organização adere à sua parte do
contrato. É o atributo que gera mais requisitos dos fornecedores e parceiros.
6.4A CONTRATOS PERFEITAMENTE ATENDIDOS
Versão reversa das entregas perfeitas, mede a taxa de itens de contrato que são
atendidos pela organização sobre o total de itens. Não é comparável e pode ser
construído com base em estimativas.
6.4B COMPRAS CENTRALIZADAS OU DEDICADAS
Em muitos setores, os fornecedores são sensíveis à disponibilidade de gestores de
contrato, que permitem melhor relacionamento e garantem intermediação isenta
nas situações de conflito contratual. Esse indicador mede a taxa dos valores
de compras efetuadas com contratos geridos dessa forma em relação ao total de
compras. Não é comparável.
6.5 TRATAMENTO EQUÂNIME
Atributo limitador, avalia se as políticas de compras e de parcerias são aplicadas de
maneira uniforme. Pode gerar requisitos dos fornecedores.
6.5A LICITAÇÕES COM ANTECIPAÇÃO SUFICIENTE
Mede a taxa de licitações publicadas dentro de um prazo aceitável, conforme
acordado com os fornecedores. É um KRI clássico em organizações com alta
tensão no campo das licitações, não sendo comparável, pois depende de acordos
específicos da organização. Como a maioria dos KRI, é um indicador de alerta, que
exige análise cuidadosa.
Como você deve ter percebido, indicadores de fornecedores e parceiros são de
difícil comparação; esse é outro motivo pelo qual o item 8.6 foi mesclado ao 8.5 na
20a edição do MEG.
7. ATRIBUTOS E INDICADORES DOS ATIVOS,
RECURSOS E COMPETÊNCIAS
PARA MEGUEIROS
Com a exceção do desenvolvimento de produtos (questão 7.1B do MEG, cujos
resultados são apresentados no item 8.5), os demais atributos e indicadores
sugeridos a seguir estão dispersos ou até mesmo implícitos no MEG. Seus
resultados serão encaixados no item do Critério 8 que está mais alinhado com a
forma como a organização enxerga seu modelo causal. Por exemplo, atualização
tecnológica pode ser um requisito dos clientes (item 8.3), ou pode ser somente
algo que a direção perceba como secundário no âmbito da cadeia de valor
(item 8.5).
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INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
Nesta seção estão os atributos que dão base e sustentação à árvore de atributos;
por isso, tendem a aparecer na parte de baixo da árvore (lembra da fig. 39?),
o que não lhes diminui a importância. Sim, são mais qualitativos..., mas será
que isso é tão ruim assim? Atributos qualitativos são tão importantes quanto
os quantitativos!
7.1 CULTURA E VALORES COERENTES
Atributo estrutural, avalia se a cultura real da organização é coerente com as
demandas feitas a ela pelas partes interessadas. Embora seja essencialmente
qualitativa, a avaliação desse atributo pode ser apoiada por pesquisa. Em algumas
transnacionais e grupos de grande porte em que esse tipo de pesquisa é usado, há
requisitos dos controladores, na forma de limites mínimos para aderência à cultura
e valores.
7.1A DESVIO DA CULTURA-PADRÃO
Mede a taxa de respostas discrepantes do questionário da pesquisa de cultura
(sobre o total de questões), com a intenção de detectar elementos culturais
adversos. Isso ocorre quando o colaborador não reconhece como realista um
elemento cultural ou valor considerado relevante pela organização. Algumas
empresas buscam incluir questões sobre cultura na pesquisa de clima, o que pode
gerar uma confusão na cabeça do colaborador: uma coisa é responder se você está
satisfeito com algo, a outra é responder se você reconhece um determinado traço
cultural como sendo forte naquele meio social.
Note que pesquisas de cultura não medem se a cultura é “boa” ou não, pois cultura
é algo subjetivo e não mensurável, mas sim a percepção da realidade em confronto
com um conceito abstrato. Desvios muito altos da cultura-padrão mostram que a
direção e os controladores gostariam de ter uma cultura que, em termos práticos,
ainda não se materializou. O entendimento do processo gerencial de fortalecimento
e disseminação da cultura e valores é a raiz dessa equação.
7.2 CONHECIMENTO(82) ADEQUADO À ESTRATÉGIA
Atributo estrutural qualitativo, avalia a vulnerabilidade e a maturidade do
conhecimento acumulado pela organização. O apoio de proxies é possível, exigindo,
porém, a presença de um processo de gestão do conhecimento, o qual provê um
framework para análise do conhecimento. Poucas empresas no Brasil têm esse
processo gerencial em estágio refinado.
7.2A GRAU DE VULNERABILIDADE DOS CONHECIMENTOS
KRI pouco comum, que só é viável se houver processo gerencial e, mesmo
assim, que só deve ser usado para diagnóstico e gestão do risco. Mede a taxa de
conhecimentos vulneráveissobre o total de conhecimentos, ou a média do grau de
vulnerabilidade. É uma pseudomedição, pois é totalmente baseada em julgamento,
não podendo ser comparada ou sujeita a metas.
82. Conhecimento é um tipo de
ativo intangível, mas nem
todo conhecimento pode ser
chamado de ativo intangível;
em termos técnicos, somente
aquele conhecimento que
implica em aumento do valor
de mercado da organização é
ativo intangível.
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Anexo
ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
Um conhecimento é considerado vulnerável, na medida em que pode ser perdido,
ou transferido para um rival, ou disseminado ao ambiente externo, deixando de
representar um diferencial da organização. Todas as organizações têm iniciativas
intuitivas e espontâneas para evitar perder conhecimento, tais como explicitá-lo
mais, criar sistemas de memória, proteger bancos de dados, evitar a demissão de
pessoas que o detêm etc.; a diferença das empresas mais avançadas nesse campo é
que elas o fazem de forma deliberada, mais ágil e mais consciente.
7.2B GAP DE CONHECIMENTO FRENTE À ESTRATÉGIA
Mede o grau de deficiência dos conhecimentos requeridos pela Estratégia, na
forma de exposição de fluxos de caixa futuros a risco estratégico (por deficiência de
conhecimento). É um KRI baseado em avaliação de risco e estimativa do valor-em-
risco, não sendo um indicador adequado a comparações e metas.
7.3 INOVAÇÃO EM PROCESSOS E PRODUTOS
Atributo estrutural ou viabilizador, dependendo da Estratégia. Para empresas como
3M, Apple e Google, é o ar que respiram. Para outras, é algo importante como
oportunidade. Para muitas, tornou-se imperativo para sobrevivência; de qualquer
forma, é um atributo inevitável na atualidade. Do ponto de vista de gestão do
desempenho, é um desafio, porque só podemos avaliá-lo por meio dos proxies
abaixo, que dependem de processos gerenciais robustos para que signifiquem algo
relevante, ou de observação do efeito da inovação nos custos e receitas. Apesar
disso, muitos controladores e financiadores acompanham os proxies, às vezes
impondo requisitos.
7.3A RETORNO DOS PROJETOS DE INOVAÇÃO E IDEIAS ADOTADAS
Mede o retorno do investimento em programas de inovação, criatividade e
colaboração, na forma de retorno (ganho menos custo) sobre a receita. É baseado
em estimativas, portanto não cabem comparação ou meta (para remuneração
variável; é válida a meta para fins de gestão do programa, é claro).
7.3B INVESTIMENTO EM DESENVOLVIMENTO DE SOLUÇÕES E PRODUTOS NOVOS
É um indicador comum, embora signifique esforço, não eficácia. Não deixa de
ser um balizador comparável, portanto é divulgado externamente, inclusive em
relatórios de sustentabilidade. Mede a taxa do investimento feito em relação ao
investimento total ou em relação à receita.
7.3C RECEITA DE PRODUTOS NOVOS
Também é um indicador bem comum em organizações com portfólio amplo
de produtos, tendo sido popularizado pela 3M. Mede a taxa da receita vinda
de produtos lançados há menos de 3 anos em relação à receita total. Pode ser
comparado, desde que se normalize o critério do que é produto novo: valem
versões melhoradas de produto existente? Não deveria entrar em metas, pois o
denominador é sujeito a flutuações independentes de grande magnitude.
EXEMPLAR
EXCLUSIVO
PARA FILIADOS
195Avaliação do Desempenho Global sob a Ótica do MEG - Todos os direitos reservados
Anexo
ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
7.3D TIME-TO-MARKET
É um indicador de processo da cadeia de valor, mas pode ganhar importância
própria, dependendo do modelo de negócio. Apoia a avaliação da agilidade da
inovação, medindo o tempo médio para uma solução ou produto se materializar.
Pode ser considerado como KRI, pois na verdade mede se a lentidão das inovações
não representa uma ameaça. Não cabem comparação e meta.
7.3E TIME-TO-BREAK-EVEN
Mede quanto tempo demora para as soluções e produtos novos se pagarem, ou seja,
quando o ganho iguala o custo. É uma forma de aferir a rapidez do retorno, sendo
usado como complemento do 7.3A. Não cabem comparação e meta.
7.4 QUALIDADE DA INFRAESTRUTURA
Atributo estrutural, como não poderia deixar de ser, hoje em dia tem um grande
foco comum a todas as organizações: Tecnologia da Informação e Comunicação.
Outras questões de infraestrutura são dependentes de modelo de negócio e
setor de atuação, não sendo possível tratá-las em um modelo genérico. Apesar
dos proxies abaixo, a avaliação é majoritariamente qualitativa; há muito pouca
transparência para o ambiente externo, é óbvio, pois ninguém vai revelar
vulnerabilidades nessa área.
7.4.1 SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO
Atributo estrutural muito relevante em vários setores, é o melhor exemplo de um
atributo qualitativo bem amparado por proxies e controle de processos. Só é visível
para o mundo externo quando ocorrem incidentes públicos, não sendo comum
haver requisitos.
7.4.1A FATO RELEVANTE: CERTIFICAÇÃO ISO 27001
A manutenção de um sistema de gestão de segurança da informação é uma
evidência significativa de seriedade no tratamento da questão e deveria ser um
requisito dos controladores em muitos setores.
7.4.1B VULNERABILIDADE DE DADOS CRÍTICOS
KRI composto usado somente para diagnóstico, baseado em auditoria e teste de
controles de segurança de sistemas que abrigam informação crítica, tais como dados
de clientes, de projetos, de produtos novos etc. Devem ser testados também os
controles sobre informação não digital. É apresentado em diversos formatos, tais
como: tentativas de invasão, não conformidades de auditoria, pontuação obtida
em simulação etc.
A grande maioria das organizações assume que não é viável quantificar segurança
da informação e trata o assunto em âmbito basicamente operacional. É um
exemplo claro de atributo que, muitas vezes, não sobe para a pauta de revisão de
performance, por não ser quantitativo; no entanto, há muito que se pode fazer para
subsidiar decisões, mesmo que qualitativas na sua essência, com base em KRIs.
EXEMPLAR
EXCLUSIVO
PARA FILIADOS
196 TRANSFORMANDO O SISTEMA DE INDICADORES - Todos os direitos reservados
Anexo
ATRIBUTOS E
INDICADORES
MAIS USADOS:
UMA VISÃO CRÍTICA
7.4.2 INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS
Atributo estrutural que avalia a perda de eficiência e eficácia causada por falta
de integração de sistemas. A avaliação é qualitativa, fundamentada em testes de
fluxo e entrevistas com usuários. Esse é outro atributo relevante frequentemente
ignorado nas avaliações que fundamentam o plano estratégico para sistemas de
informação.
7.4.3 ATUALIZAÇÃO TECNOLÓGICA
Atributo estrutural essencialmente qualitativo, avalia a capacidade da organização
de acompanhar as mudanças no cenário tecnológico, abrangendo não somente
os sistemas de informação e comunicação, mas também os sistemas produtivos e
logísticos. É acompanhado por controladores e financiadores, de maneira intuitiva,
sem imposição de requisitos.
7.4.3A GAP EM RELAÇÃO AO ESTADO DA ARTE
KRI composto usado somente para diagnóstico de risco estratégico, baseado em
avaliação de distância de cada componente tecnológico em relação a uma referência
de estado da arte.
O comentário feito para segurança da informação cabe plenamente aqui também.
7.5 GOVERNANÇA APROPRIADA AO GRAU DE RISCO DO NEGÓCIO
Atributo estrutural qualitativo que avalia se as partes interessadas em uma
organização são devidamente representadas nas decisões sobre os rumos da
organização e se há supervisão adequada sobre os atos da direção executiva. É uma
das principais causas-raiz da deterioração do desempenho de muitas empresas:
interesses pessoais ou políticos acabaram prevalecendo e dominaram as decisões,
em detrimento dos interesses econômicos das outras partes interessadas. Isso
ocorre tanto em empresas de capital aberto (Lehman, Petrobras, Sadia etc.)
como em empresas familiares, de grande ou pequeno porte. Os mecanismos