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Prévia do material em texto

1 
 
 
DESCRIÇÃO 
Características das línguas de sinais e das comunidades surdas. Traços culturais das 
comunidades surdas: literatura, humor e arte surda. Variações linguísticas, regionalismo e 
padronização das línguas de sinais. 
PROPÓSITO 
Compreender os conceitos relacionados às línguas de sinais e à perspectiva da 
comunidade surda para tornar o mundo um lugar mais acessível. 
OBJETIVOS 
MÓDULO 1 
Apontar equívocos e senso comum a respeito das línguas de sinais e comunidades surdas 
MÓDULO 2 
Reconhecer aspectos importantes das culturas surdas, como arte, literatura e humor 
MÓDULO 3 
Identificar as variações linguísticas e as contradições dos processos de padronização das 
línguas de sinais 
INTRODUÇÃO 
Apresentaremos conceitos relativos às línguas de sinais e à cultura das comunidades 
surdas. 
 Fonte: Pixabay. 
2 
 
As comunidades surdas são minorias linguísticas com artefatos culturais 
riquíssimos, marcadas pela peculiaridade linguística. 
As línguas de sinais são de modalidade visoespacial que, por meio das mãos, em 
articulação com o corpo e a face, produzem sinais e discursos complexos. Organizada 
espacialmente diante da pessoa que produz a língua, por meio de um sistema linguístico 
regrado, tem o mesmo status de qualquer outra língua. 
 Fonte:Símbolo Internacional da Língua de Sinais. | Fonte: UFMG. 
No Brasil, temos a Língua de Sinais Brasileira (Libras), reconhecida pela Lei nº 10.436, de 
24 de abril de 2002, como meio legal de expressão e comunicação da comunidade surda 
brasileira. Além dela, temos no país línguas de sinais indígenas e de comunidades surdas 
locais. 
A popular Lei de Libras é regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 24 de abril de 2005, 
que institui a disciplina de Libras como componente curricular obrigatório nos cursos de 
licenciatura, fonoaudiologia e pedagogia, bem como disciplina optativa nos demais cursos 
de instituições de ensino superior. Portanto, esse decreto tem o intuito de disseminar a 
Libras e possibilitar que você curse essa disciplina e tenha contato com aspectos 
interessantes do povo surdo. 
MÓDULO 1 
 
Apontar equívocos e senso comum a respeito das línguas de sinais e comunidades 
surdas 
Vamos começar nossos estudos com alguns questionamentos. 
 Fonte: Syda Productions/Shutterstock 
3 
 
São exatamente essas questões – ou fatos que podem ser considerados interessantes a 
respeito das línguas de sinais e das comunidades surdas – que serão trabalhadas neste 
módulo. 
LINGUAGEM DE SINAIS É A LÍNGUA DOS SURDOS-MUDOS? 
Aqui temos dois equívocos frequentes de pessoas que não conhecem as comunidades 
surdas e as línguas de sinais. Primeiro, o correto é língua e não linguagem de sinais. 
As línguas de sinais (QUADROS; KARNOPP, 2004) possuem todos os níveis linguísticos 
existentes nas línguas orais, ou seja, fonologia, morfologia, semântica, sintaxe e 
pragmática. Portanto, é tão língua quanto a língua oral, apenas expressada e percebida 
por outra modalidade. 
LINGUAGEM 
Linguagem é uma capacidade humana. Nossa habilidade de produzir, desenvolver e 
compreender gestos, músicas, artes em geral, além de língua, é possibilitada pela 
capacidade da linguagem. Já a língua é um conjunto organizado de elementos que 
possibilitam a comunicação. A língua surge naturalmente nas sociedades e nos grupos 
humanos. As línguas ainda podem ter diferentes modalidades, como a oral-auditiva, no 
caso das línguas orais, ou visoespacial, no caso das línguas de sinais. Portanto, a Libras é 
uma língua natural utilizada pela comunidade surda no Brasil. 
 SAIBA MAIS 
Além de ser incorreto, do ponto de vista teórico, usar o termo “linguagem de sinais” é 
pejorativo, já que diminui a língua de sinais, como se por meio dela não fosse possível 
expressar conceitos abstratos e complexos, levando à ideia equivocada de que a Libras é 
apenas mímica, pantomima e gestos. O segundo equívoco é o termo “surdo-mudo”. Trata-
se de um termo antigo, ainda muito difundido por meio de canais de comunicação. Veja 
mais sobre isso a seguir: 
MUDO 
A mudez ou afonia é a incapacidade total ou parcial de produzir fala, uma deficiência que 
nada tem a ver com a surdez 
SURDO 
javascript:void(0)
4 
 
Um surdo ou um deficiente auditivo pode aprender a falar frequentando um fonoaudiólogo 
e fazendo fonoterapia, se assim desejar. 
Portanto, o termo correto é apenas “Surdo”, e com frequência escrito com a primeira letra 
maiúscula, demarcando uma concepção cultural das pessoas surdas em oposição a uma 
abordagem clínica e normatizadora que tem o objetivo de consertar os corpos surdos 
(SKLIAR, 1999). Temos aqui uma concepção sociológica, não clínica, do indivíduo 
surdo. Os Surdos possuem uma língua, que no caso brasileiro é a Língua Brasileira de 
Sinais (Libras), adquirida naturalmente, da mesma forma que pessoas ouvintes aprendem 
a língua portuguesa. 
 Fonte: Anukul/Suttterstock 
No entanto, no caso das crianças surdas, temos uma peculiaridade, já que cerca de 95% 
dos bebês surdos nascem em famílias ouvintes que não sabem língua de sinais e têm 
pouca ou nenhuma informação a respeito das possibilidades de educação bilíngue para 
crianças surdas. 
O QUE SERIA, ENTÃO, O BILINGUISMO SURDO? 
Os indivíduos Surdos são uma minoria linguística e aprendem a língua de sinais de forma 
natural quando entram em contato com seus pares, isto é, com a comunidade surda 
sinalizadora. A língua da comunidade ouvinte, que é majoritária, é aprendida 
como segunda língua – no caso dos Surdos brasileiros, a língua portuguesa. No entanto, 
por conta da falta de informações a respeito das possibilidades linguísticas de uma criança 
surda, os pais tendem a optar primeiramente por intervenções clínicas e tecnologia 
assistiva, e com frequência proibir a língua de sinais. 
 Fonte: Andrey_Popov/Suttterstock 
É um equívoco, cometido por alguns profissionais da área da saúde, afirmar que a aquisição 
de uma língua de sinais prejudica a fala. Esse argumento já foi refutado diversas vezes, já 
que a aquisição de uma língua não atrapalha, de modo algum, a aprendizagem de 
outra. 
5 
 
A LÍNGUA DE SINAIS RESUME-SE AO ALFABETO MANUAL? 
A resposta é não! 
VOCÊ JÁ VIU UMA LISTA DO ALFABETO COM A RESPECTIVA SOLETRAÇÃO 
MANUAL OU DATILOLOGIA EM LIBRAS E PENSOU QUE, CASO DECORASSE 
AQUELAS CONFIGURAÇÕES, CONSEGUIRIA SE COMUNICAR PLENAMENTE COM 
OS SURDOS? 
SIM NAO 
Você pode ter respondido sim ou não. E não há problemas nisso porque falta conhecimento 
sobre a relação entre o alfabeto e a língua de sinais. 
Você pode ter respondido sim ou não. E não há problemas nisso porque falta conhecimento 
sobre a relação entre o alfabeto e a língua de sinais. 
O alfabeto manual, ou a soletração digital, é apenas um dos recursos utilizados por 
sinalizantes das línguas de sinais. É um código que representa as letras do alfabeto como 
um empréstimo linguístico. Portanto, soletrar não é um meio com um fim em si mesmo. 
ATENÇÃO 
Um ponto importante ressaltado por Gesser (2009) é que a soletração digital, tanto na sua 
forma produtiva (do ponto de vista de quem articula) quanto na receptiva (do ponto de vista 
de quem lê), pressupõe que a pessoa seja alfabetizada. Assim, como as crianças surdas 
que ainda não são alfabetizadas se comunicariam? O Surdo/ouvinte não alfabetizado 
(leitura/escrita) na língua oral da comunidade ouvinte majoritária teria a mesma dificuldade 
que um indivíduo iletrado para utilizar esse recurso. 
Veja o alfabeto manual e aproveite para treinar seu nome em Libras: 
 Alfabeto Manual | Fonte: Ensine.Me. 
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps1
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps2
6 
 
Para a maioria das palavras e dos representantes no mundo real, existe uma forma de 
expressão em língua de sinais que não requer o uso da soletração digital.No entanto, esse 
recurso é importante em alguns casos específicos na língua de sinais. 
O alfabeto manual não é uma língua, e sim um código de representação das letras 
alfabéticas. É, portanto, um empréstimo linguístico da língua portuguesa ou de outra língua 
oral da comunidade ouvinte. Por consequência, o alfabeto manual também não é 
universal, sendo, por exemplo, o alfabeto manual da Língua Britânica de Sinais (BSL) 
completamente diferente do alfabeto manual da Libras. 
CASOS ESPECÍFICOS 
Eis algumas situações em que o alfabeto manual se torna importante: 
 para expressar nomes próprios e de locais específicos; 
 quando o sinalizante não conhece o sinal apropriado; 
 para intercomunicação entre línguas orais e de sinais, quando o objetivo é superar 
barreiras durante a comunicação; 
 para um ouvinte alfabetizado aprender alguma língua de sinais; 
 na sinalização de siglas como CPU, USB; 
 para terminologias específicas. 
EXEMPLO 
Temos ainda um processo em que um sinal começa com a soletração manual e depois se 
transforma em um sinal lexicalizado. Podemos citar como exemplo o sinal de NUNCA. 
 
Fonte:Sinal NUNCA SOLETRADO e sinal NUNCA LEXICALIZADO | Fonte: Ensine.Me 
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7 
 
A LÍNGUA DE SINAIS É A VERSÃO SINALIZADA DA LÍNGUA ORAL? 
A Libras não é a língua portuguesa sinalizada. Nenhuma língua de sinais segue a 
mesma estrutura da língua oral. 
A LÍNGUA DE SINAIS TEM ESTRUTURA PRÓPRIA, E É AUTÔNOMA, OU SEJA, 
INDEPENDENTE DE QUALQUER LÍNGUA ORAL EM SUA CONCEPÇÃO LINGUÍSTICA. 
(GESSER, 2009) 
Do ponto de vista da sociolinguística, o fato de a comunidade surda estar inserida e cercada 
pela comunidade ouvinte majoritária faz com que as línguas de sinais estejam em contato 
direto com as línguas orais – portanto, é natural ocorrerem empréstimos linguísticos. 
Isso acontece com qualquer língua com que se esteja em contato. Quantos 
empréstimos da língua inglesa nós, brasileiros, usamos no nosso cotidiano? Várias, 
correto? 
Portanto, mesmo que existam empréstimos linguísticos, como a soletração manual, isso 
não quer dizer que as línguas de sinais tenham suas raízes históricas nas línguas orais. As 
línguas de sinais emergem naturalmente em suas comunidades surdas. 
A LÍNGUA DE SINAIS É UNIVERSAL? 
Certamente uma das crenças mais frequentes em relação à língua de sinais é que ela seria 
universal, que todos os surdos ao redor do mundo se comunicariam com a mesma língua. 
Sabemos que as línguas orais variam geograficamente. 
Então, por que com as línguas de sinais seria diferente? Seria muito interessante 
aprender uma língua de sinais e ser capaz de se comunicar com todos os surdos do 
mundo, não é mesmo? 
Mas isso não acontece. As línguas de sinais variam muito, até mesmo dentro de um país 
ou estado, como veremos no último módulo. Segundo Sofiato (2011), podemos citar como 
exemplos: 
SURDOS FRANCESES: Língua de Sinais Francesa (LSF) 
SURDOS NORTE-AMERICANOS: Língua de Sinais Americana (ASL) 
SURDOS BRASILEIROS: Língua de Sinais Brasileira (Libras) 
 
 SAIBA MAIS 
8 
 
Um fato interessante é que a Libras tem forte influência da LSF e nenhuma influência da 
Língua Gestual Portuguesa (LGP), de Portugal. Desse modo, podemos apenas determinar 
parentescos e influências entre as línguas. A influência da LSF na Libras é apontada em 
vários trabalhos acadêmicos, conforme Sofiato (2011) e Martins (2017). 
Os registros históricos sobre a educação de surdos no Brasil mostram que ela está presente 
desde a vinda do Surdo francês Eduard Huet para fundar a primeira escola para surdos do 
país, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em 1857. 
A influência da LSF sempre esteve presente na Libras. Aliás, também teve forte influência 
na ASL por meio de Edward Miner Gallaudet, que foi até a França observar como os surdos 
franceses eram ensinados. Em homenagem a Gallaudet, temos a única universidade 
específica para surdos no mundo, a Gallaudet University, onde a ASL é a língua de 
instrução. 
As línguas de sinais são línguas naturais das comunidades surdas, ricas e complexas, tão 
variáveis quanto as línguas orais. Como afirma Gesser (2009), em qualquer lugar em que 
existam surdos existe língua de sinais, e o que é universal é o impulso para comunicação 
dos indivíduos, não a língua em si. 
 Fonte: New Africa/Shutterstock 
Seria possível nos cinco continentes termos apenas uma língua de sinais? 
É bem possível, na verdade, que as línguas de sinais tenham uma quantidade maior de 
variação que lembre-se que, com a mudanç línguas orais, já que não possuem registro 
gráfico difundido, como veremos no fim deste módulo. 
A LÍNGUA DE SINAIS TEM GRAMÁTICA? 
Sim! As línguas de sinais são naturais da comunidade surda e possuem estrutura e 
gramática próprias. 
Os estudos linguísticos das línguas de sinais começaram com William Stokoe na década 
de 1960. Stokoe, considerado o pai da Linguística das línguas de sinais, fez análise 
linguística da ASL por meio das publicações seminais como: 
9 
 
 
*Estrutura da língua de sinais: um esboço dos sistemas de comunicação visual dos surdos 
americanos (STOKOE, 1960) 
 
*Um dicionário de línguas de sinais americanas sobre princípios linguísticos (STOKOE; 
DOROTHY; CRONEBERG, 1965). 
Essas obras foram fundamentais para o reconhecimento do status linguístico das línguas 
de sinais, permitindo desenvolvimentos teóricos e metodológicos de análise de línguas de 
sinais, de sua estruturação interna e gramática. A língua de sinais, como afirmou Stokoe, 
tinha os mesmos parâmetros linguísticos das línguas orais, sendo eles fonologia, 
morfologia, sintaxe, semântica e pragmática. Apesar das diferenças de modalidade de 
realização e percepção entre as línguas orais e as de sinais, estas seguem princípios de 
organização estrutural semelhantes aos das línguas orais. Stokoe analisou sinais da ASL 
em suas unidades mínimas e propôs três parâmetros constitutivos independentes, como 
indicados a seguir. 
CONFIGURAÇÃO DE MÃO 
LOCALIZAÇÃO 
MOVIMENTO 
CONFIGURAÇÃO DE MÃO 
Forma que a mão e os dedos apresentam durante a articulação do sinal 
LOCALIZAÇÃO 
Lugar no corpo ou no espaço em que o sinal é articulado 
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps3
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps4
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps5
10 
 
MOVIMENTO 
Maneira como a mão se move no decorrer da articulação do sinal 
Posteriormente, mais dois parâmetros foram propostos por Battison (1974) e Friedman 
(1975): a orientação da palma e os aspectos não manuais. 
RESUMINDO 
Esses cinco parâmetros, portanto, são itens de composição fonético-fonológica das línguas 
de sinais, e a presença deles forma o sinal. É interessante lembrarmos que, enquanto nas 
línguas orais as expressões faciais demarcam sentimentos e intensidades, nas línguas de 
sinais temos expressões faciais gramaticais. 
Observe o sinal a seguir com os indicativos das unidades mínimas e lembre-se de que, com 
a mudança de apenas um parâmetro, o significado do sinal é completamente diferente. 
 Fonte: Ensine.Me 
SINAL DESCULPA 
 Fonte: Ensine.Me 
SINAL TELEFONE 
 SAIBA MAIS 
No Brasil, os primeiros trabalhos sobre Libras são de Ferreira-Brito (1995) e, 
posteriormente, Quadros e Karnopp (2004). Temos também, lançado mais recentemente, 
um dicionário de Libras (CAPOVILLA et al., 2017), com cerca de 14.500 entradas 
registradas. 
A LÍNGUA DE SINAIS É APENAS MÍMICA/GESTOS E ICÔNICA? 
Mais uma vez, a resposta é não! As línguas de sinais são naturais, complexas, 
recombinativas, arbitrárias e também icônicas em certo grau. 
Para compreendermos melhor, vamos retomar os conceitos de língua e iconicidade: 
LÍNGUA 
11 
 
Para Saussure (1969), considerado o pai da Linguística,a língua, ou signo linguístico, é 
uma convenção entre os membros de uma comunidade e estabelece significado e 
significante. Um som, por si só, não possui nenhum significado. No entanto, se ele existe 
dentro de uma língua, esse som passa a ter significado por meio de uma convenção. 
Portanto, para Saussure, a relação entre a forma do referente e a forma das unidades 
básicas da língua falada, ou seja, palavras e morfemas, é essencialmente arbitrária. Isso 
significa dizer que não há necessariamente uma relação natural entre a língua (imagem 
acústica ou som) e o sentido a que ela remete (significante, representante no 
universo). 
ICONICIDADE 
Iconicidade é a propriedade linguística contrária à arbitrariedade e se caracteriza pela 
semelhança, em certos signos linguísticos, entre a forma (do sinal ou da palavra) e a “coisa” 
representada no universo. Iconicidade também existe nas línguas orais e ocorre, por 
exemplo, em onomatopeias, como “atchim” e “tique-taque”, e palavras onomatopaicas, 
como “sussurrar” e “zumbido”. 
Segundo Taub (2001), que é uma importante pesquisadora das línguas de sinais, a 
iconicidade é comum nas línguas orais e nas sinalizadas, e está presente em todos 
os níveis da estrutura linguística, incluindo desde morfologia e sintaxe até itens 
lexicais singulares. 
MAS E A LÍNGUA DE SINAIS? É SÓ ICÔNICA? 
Veja os seguintes sinais retirados do Dicionário da língua de sinais do Brasil, o maior 
dicionário impresso de língua de sinais do mundo! 
 Fonte: Ensine.Me 
SINAL CASA 
Certamente, mesmo sem ser fluente em Libras, você consegue reconhecer esses sinais. 
Agora observe este: 
 Fonte: Ensine.Me 
12 
 
SINAL ARBITRÁRIO 
Segundo Martins (2017), se as línguas de sinais fossem constituídas apenas de elementos 
icônicos, mímicos, pantomímicos e pictóricos, o significado deveria ser imediatamente 
compreendido por observadores ingênuos. Se esse fosse o caso, as línguas sinalizadas 
não teriam o mesmo status das línguas faladas. 
Ainda segundo a autora, a iconicidade de um sinal não decorre simplesmente da 
semelhança entre a forma e o significado desse sinal, mas de um processo 
sofisticado em que os recursos fonéticos dos sinais permitidos pela língua são 
construídos em analogia com a imagem associada ao referente. Esse processo 
envolve uma quantidade substancial de trabalho conceitual, que inclui seleção de imagem, 
mapeamento conceitual e esquematização de itens para se enquadrar nas regras da língua. 
A iconicidade só existe por meio de esforços mentais dos seres humanos, e depende das 
nossas associações conceituais naturais e culturais. 
 Fonte: Ensine.me 
SINAL CASA 
A arbitrariedade da relação entre significante e significado é que permite a recombinação 
generativa entre as unidades mínimas abstratas que compõem a assim chamada 
“fonologia” das línguas de sinais. Em sinais icônicos transparentes, algum aspecto da forma 
física do sinal se assemelha à imagem sensória concreta do referente desse sinal. Assim, 
sinais icônicos transparentes podem representar analogicamente apenas referentes mais 
concretos. Há um paradoxo interessante sobre a iconicidade das línguas de sinais. Klima 
e Bellugi (1979) e Martins (2017) conduziram estudos explorando sistematicamente como 
a iconicidade poderia facilitar a compreensão de sinais por ouvintes ingênuos nessa língua. 
Temos duas observações, em parte, contraditórias entre si: Quando expostos a sinais e a 
informações acerca dos significados desses sinais, e solicitados a atribuir uma nota para 
avaliar o grau de iconicidade desses sinais, observadores ingênuos tendem a atribuir notas 
elevadas, e a persistir em buscar, nos sinais, aspectos que justifiquem, em maior ou menor 
grau, a sua forma a partir de seu significado. Quando expostos aos mesmos sinais, mas na 
ausência de informação acerca dos significados desses sinais, e solicitados a adivinhar-
13 
 
lhes o significado, esses mesmos observadores ingênuos tendem a atribuir a esses sinais 
significados díspares e inadequados. 
ESSES ESTUDOS REVELAM QUE A MAIORIA ABSOLUTA DOS SINAIS É MUITO 
OPACA, APESAR DE SER VISTA, QUASE SEMPRE, COMO BASTANTE ICÔNICA. 
INTERESSANTE, NÃO É MESMO? 
A LÍNGUA DE SINAIS É ÁGRAFA? 
Mais uma vez: não! 
Então as línguas de sinais possuem uma escrita única e difundida? 
Também não. Vejamos: 
A escrita é uma representação da língua falada ou sinalizada por meio de símbolos gráficos; 
portanto, o sistema de escrita é um conjunto de símbolos. 
Até pouco tempo atrás, as línguas de sinais eram consideradas uma língua sem escrita. 
Veja a seguir mais sobre a origem da escrita de sinais no mundo: 
 Fonte: Jaturawutthichai/Shutterstock 
Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock 
A primeira tentativa de escrita de sinais de que se tem registro é a do francês Roch-
Ambroise Auguste Bébian, que publicou uma obra chamada Mimographie. 
 Fonte: Jaturawutthichai/Shutterstock 
Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock 
Nos Estados Unidos, há o sistema de notação de William Stokoe (1960) – sim, o mesmo 
que fez a descrição fonético-fonológica das línguas de sinais. Também nos Estados Unidos 
temos o sistema de escrita de línguas de sinais mais difundido, o Signwritting (SW), 
baseado em um sistema para grafar coreografias. 
Os sistemas são como alfabetos e podem ser usados para grafar qualquer língua de sinais. 
Veja um exemplo da grafia do sinal casa em SW, preste atenção na transparência do 
sistema: 
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javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
14 
 
 
Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock 
Na Alemanha, há o Sistema de Notação de Hamburgo (HamNoSys) desde a década de 
1980. 
 Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock 
No Brasil, temos a Escrita das Línguas de Sinais (ELiS), o primeiro sistema de transcrição 
criado no país por Mariângela Estelita Barros. 
ROCH-AMBROISE AUGUSTE BÉBIAN 
O professor da Guadalupe Roch-Ambroise Auguste Bébian (1789-1839) é uma figura 
essencial na história da surdez. Considerado por seus contemporâneos surdos como o 
primeiro professor ouvinte que dominava perfeitamente a linguagem de sinais, Bébian foi 
também professor dos pioneiros do movimento associativo de surdos, o primeiro teórico de 
um modelo bilíngue para escolas para surdos e o primeiro a demonstrar que os signos 
dos surdos podem ser escritos a partir da análise de suas formas. 
Fonte: Oviedo (2009), grifo nosso. 
ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS (ELIS) 
“ELiS é a sigla para Escrita das Línguas de Sinais. Esse sistema de escrita foi criado por 
mim, em 1998, em dissertação de mestrado. Anos depois, durante meu doutorado, realizei 
verificação teórica e prática do sistema, em pesquisa que contou com a participação de 
vários surdos adultos, fluentes em Libras, alunos do curso de Letras/Libras.” 
Fonte: Barros (2008). 
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javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
15 
 
No vídeo a seguir, a professora Antonielle Martins nos ajuda a desmitificar a Libras e os 
Surdos. Vamos assistir! 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. VIMOS NO COMEÇO DO PRIMEIRO MÓDULO QUE LINGUAGEM SE REFERE A UM 
PROCESSO DE COMUNICAÇÃO POR MEIO DE MECANISMOS QUE TRANSMITEM 
TODO TIPO INFORMAÇÕES. PORTANTO, QUALQUER CONJUNTO DE 
SINAIS/SIGNOS PODE SER CONSIDERADO LINGUAGEM – UMA PLACA DE CARRO, 
MÚSICAS, GESTOS E ASSIM POR DIANTE. ESTUDAMOS QUE O CORRETO É 
LÍNGUA DE SINAIS, NÃO LINGUAGEM DE SINAIS. 
QUAL DAS SENTENÇAS ABAIXO É UMA JUSTIFICATIVA CORRETA PARA ESSA 
AFIRMAÇÃO? 
As línguas de sinais são padronizadas. 
As línguas de sinais têm estrutura complexa e são naturais. 
A linguagem leva em conta a complexidade das línguas. 
As línguas de sinais ainda não são reconhecidas. 
2. CHAMAMOS DE “SURDO ORALIZADO” O INDIVÍDUO COM PERDA AUDITIVA QUE 
SE COMUNICA ORALMENTE E FAZ LEITURA OROFACIAL. É COMUM PESSOAS QUE 
NASCERAM OUVINTES PERDEREM A AUDIÇÃO COM O TEMPO. TEMOS OS 
“SURDOS SINALIZANTES”,QUE SE COMUNICAM POR MEIO DA LIBRAS. JÁ O 
TERMO “SURDO-MUDO” É ANTIQUADO, AINDA MUITO UTILIZADO POR PESSOAS 
QUE NÃO CONHECEM A COMUNIDADE SURDA. NESSE CONTEXTO, ANALISE AS 
AFIRMATIVAS A SEGUIR. 
 
I) MUDEZ É UMA CONSEQUÊNCIA DA SURDEZ. 
II) SURDOS PODEM SER ORALIZADOS COM FONOTERAPIA. 
III) A MUDEZ OU AFONIA É A INCAPACIDADE TOTAL OU PARCIAL DE PRODUZIR 
FALA. 
 
DAS AFIRMATIVAS ACIMA: 
 
Somente III é verdadeira 
Somente I é falsa 
Somente II é verdadeira 
II e III são falsas 
16 
 
GABARITO 
1. Vimos no começo do primeiro módulo que linguagem se refere a um processo de 
comunicação por meio de mecanismos que transmitem todo tipo informações. 
Portanto, qualquer conjunto de sinais/signos pode ser considerado linguagem – uma 
placa de carro, músicas, gestos e assim por diante. Estudamos que o correto é língua 
de sinais, não linguagem de sinais. Qual das sentenças abaixo é uma justificativa 
correta para essa afirmação? A alternativa "B " está correta. 
 
Diferentemente de linguagem, o conceito de língua remete especificamente a um código 
verbal, um conjunto de léxico que corresponde a significados dentro de um grupo social. As 
línguas de sinais possuem todos os níveis linguísticos existentes nas línguas orais, ou seja, 
fonologia, morfologia, semântica, sintaxe e pragmática – portanto, são línguas naturais e 
complexas. 
2. Chamamos de “surdo oralizado” o indivíduo com perda auditiva que se comunica 
oralmente e faz leitura orofacial. É comum pessoas que nasceram ouvintes perderem 
a audição com o tempo. Temos os “surdos sinalizantes”, que se comunicam por meio 
da Libras. Já o termo “surdo-mudo” é antiquado, ainda muito utilizado por pessoas 
que não conhecem a comunidade surda. Nesse contexto, analise as afirmativas a 
seguir. 
 
I) Mudez é uma consequência da surdez. 
II) Surdos podem ser oralizados com fonoterapia. 
III) A mudez ou afonia é a incapacidade total ou parcial de produzir fala. 
 
Das afirmativas acima: A alternativa "B " está correta. 
Afonia ou mudez não tem nenhuma relação com a surdez. A pessoa ter deficiência auditiva 
ou surdez não significa que ela seja muda. Na verdade, é muito raro que uma pessoa surda 
seja também muda. O que acontece é que, por conta da falta de feedback auditivo, surdos 
congênitos precisem de treinamento clínico para articular a fala e fazer leitura orofacial, 
caso desejem. 
MÓDULO 2 
 
17 
 
Reconhecer aspectos importantes das culturas surdas, como arte, literatura e humor 
CULTURA SURDA 
Apesar de ser bastante utilizado, o termo “cultura” nem sempre é bem compreendido, pois 
sua abrangência por vezes não é clara. Em geral, o senso comum atribui prestígio somente 
à cultura erudita, reconhecendo o seu valor estético, e a trata como única forma válida de 
cultura, como se fosse mais desenvolvida. 
No entanto, cultura abrange o conjunto de hábitos, conhecimentos e crenças de um povo. 
Em nosso estudo, vamos partir do que é cultura para a Sociologia, já que essa ciência tem 
como premissa que “é por meio da cultura que buscamos soluções para nossos problemas 
cotidianos, interpretamos a realidade e produzimos novas formas de interação social” 
(SILVA et al., 2017). 
 Fonte: melitas/Shutterstock 
Pensamos em cultura como o produto da interação de indivíduos que compartilham valores, 
experiências e visões semelhantes. Não é possível afirmar que há culturas inferiores ou 
superiores, visto que tal conceituação é advinda de preconceitos e visões de mundo há 
muito ultrapassados. Acreditamos numa visão sociológica, em que todos os artefatos 
culturais tenham valor. A fim de que isso possa ser explorado, é necessário que 
respeitemos valores, tradições, costumes e práticas dos povos, sem exceção, e deixemos 
de lado estereótipos e classificações sem fundamento. Esse conjunto de conhecimentos e 
ações é transmitido de geração a geração através de interações que podem ocorrer nas 
atividades do cotidiano ou em festividades especiais. Partindo desse pressuposto, 
lançamos uma questão: 
EXISTE UMA CULTURA SURDA? 
SIM NAO 
Pode ser questionado que o fato de os surdos utilizarem a mesma língua não lhes assegure 
nem proporcione outra cultura além daquela do local em que vivam. Contudo, os surdos 
contam com uma história de lutas e conquistas que os une como sujeitos com 
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps6
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps7
18 
 
características subjetivas bastante específicas decorrentes de sua experiência de interação 
com o mundo pela visualidade e pela língua de sinais. 
Pode ser questionado que o fato de os surdos utilizarem a mesma língua não lhes assegure 
nem proporcione outra cultura além daquela do local em que vivam. Contudo, os surdos 
contam com uma história de lutas e conquistas que os une como sujeitos com 
características subjetivas bastante específicas decorrentes de sua experiência de interação 
com o mundo pela visualidade e pela língua de sinais. 
A CULTURA SURDA TRAZ EM SI ELEMENTOS IMPORTANTES QUE A IDENTIFICAM, 
CONSTITUEM-NA E A COLOCAM NO ROL DAS DIFERENTES CULTURAS QUE 
PERFAZEM O PANORAMA DAS POSIÇÕES DA MODERNIDADE TARDIA. OS 
ESPAÇOS DAS CULTURAS SÃO REGIDOS POR TRAMAS DE PODER. CADA 
CULTURA É, EM SI MESMA, AUTORIDADE. (PERLIN, 2006, p. 138) 
Para Gladis Perlin, primeira doutora surda do Brasil na área dos estudos surdos (deaf 
studies), subárea dos estudos culturais, existe sim uma cultura dos surdos que é fruto da 
sua forma de ver o mundo. Vejamos alguns desses aspectos a seguir. 
VISUALIDADE 
A vivência surda é muito visual. A visão é o principal sentido de contato com o mundo, de 
apreensão e significação das informações. 
LINGUÍSTICO 
Como vimos no módulo anterior, as línguas de sinais, de modalidade visoespaciais, são as 
línguas naturais para as pessoas surdas. A língua de sinais é tão complexa quanto qualquer 
outra. Não se trata de uma versão em sinais de uma língua oral como o português, nem de 
simples gestos ou mímica. Em salas de aula, eventos públicos ou mesmo na televisão, 
deve ser feita a tradução entre a língua oral e a de sinais por um intérprete. 
FAMÍLIA 
Ligada ao nascimento de filhos surdos em lares ouvintes e de filhos ouvintes em lares 
surdos, ou mesmo de filhos surdos em lares surdos. Nesse âmbito, muitas questões ligadas 
à aceitação, à superproteção e à concepção sobre a surdez são discutidas. 
19 
 
COMUNIDADE SURDA 
Composta por surdos e por ouvintes militantes da causa, como professores, familiares, 
intérpretes, amigos, entre outros. 
ASSOCIAÇÕES E ORGANIZAÇÕES 
Centros cuja importância se manifesta, por exemplo, na possibilidade de o surdo interagir 
com outras pessoas surdas, o que favorece a construção da sua identidade, a possibilidade 
de aprender a língua de sinais, as lutas sociais do segmento por vezes abraçadas nessas 
organizações etc. 
LITERATURA SURDA 
Arte que abarca produções literárias em língua de sinais produzidas ou adaptadas por 
pessoas surdas. 
ARTES VISUAIS 
Englobam o teatro surdo e as artes plásticas. 
CRIAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES MATERIAIS 
Exemplificadas pelas soluções alternativas para as pessoas surdas, como campainhas 
luminosas, telefones adaptados, dispositivos de vibração (relógios, celulares) em 
substituição ao despertador etc. 
Existem vários aspectos que demarcam a existência da cultura surda. O mês de 
setembro, chamado de Setembro Azul, é um marco importante para comunidade surda, 
já que contém várias datas importantes como veremos a seguir: 
SETEMBRO AZUL 
O Setembro Azul é destinado a reflexões sobre as conquistas da comunidade surda, bem 
como à conscientização sobre acessibilidade linguística. Nessa época do ano, ocorrem 
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20 
 
festas, congressos e manifestações por mais escolas bilíngues para surdos e mais 
acessibilidadelinguística. 
 Fonte:Fonte: Jane Kelly/Shutterstock 
 6/9 a 11/9 
Esses dias relembram um triste marco histórico para a comunidade surda, o Congresso 
de Milão, de 1880, onde as línguas de sinais foram proibidas e a educação de surdos 
passou a ser oralista. 
 23/9 
Dia Internacional das Línguas de Sinais. 
 26/9 
Dia Nacional do Surdo, data escolhida por conta da fundação da primeira escola de surdos 
do país, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). 
 30/9 
Dia do Tradutor, dia de homenagear os intérpretes de Libras, profissionais de extrema 
importância para a acessibilidade dos surdos. 
CONGRESSO DE MILÃO 
“O II Congresso Internacional de Educação de Surdos, mais conhecido como Congresso 
de Milão, foi antecedido por um pequeno ‘congresso internacional’ realizado dois anos 
antes (1978), em Paris, no qual que estiveram presentes 27 professores de surdos (quase 
todos franceses e ouvintes). Dos 164 membros do Congresso de Milão, apenas um era 
surdo: James Denison que, ao lado de Isaac L. Peet, de Charles Stoddard e dos irmãos 
Edward e Thomas Gallaudet, integrava a delegação estadunidense. O Congresso de Paris 
(1878) e o Congresso de Milão (1880) foram promovidos pela Pereire Society, uma 
fundação mantida por descendentes de Jacob Rodrigues Pereira, educador luso-francês 
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21 
 
(1715-1780) pioneiro na educação de surdos. Tanto Pereira quanto a organização que 
levava o seu nome eram grandes defensores de abordagens oralistas.” 
(Fonte: CulturaSurda) 
IDENTIDADES SURDAS 
A comunidade surda não é homogênea; existe outro conceito muito presente trazido por 
Perlin (2006) que merece nossa atenção: as identidades surdas. Segundo ela, não existe 
apenas uma forma de ser surdo e de se entender como tal. Vejamos a seguir quais são 
essas identidades. 
IDENTIDADE DE TRANSIÇÃO 
Refere-se aos surdos que, após alguns anos vivendo sem conhecimento sobre a língua de 
sinais nem contato com a comunidade surda, aprendem a comunicar-se em uma língua 
visoespacial. 
IDENTIDADE FLUTUANTE 
Refere-se aos surdos que se expressam através da maneira de ser ouvinte, vivem e 
interagem na sociedade buscando ser ouvintes. 
IDENTIDADE INCONFORMADA 
Refere-se aos casos em que o surdo não se enxerga como bem compreendido pelos 
ouvintes, criando assim um sentimento de subalternidade. 
IDENTIDADE HÍBRIDA 
Nesta identidade, incluímos os surdos que nasceram ouvintes e perderam a audição ainda 
na infância. Essas pessoas utilizam a comunicação através da língua oral e também da 
língua sinais. 
IDENTIDADE SURDA 
São os surdos que utilizam a língua de sinais, participam da comunidade surda e têm 
orgulho de sua história, sua cultura e suas manifestações sociais. 
É fato que entendemos que as pessoas surdas de identidade surda são aquelas que 
se sentem à vontade com a sua diferença e, por isso, apresentam a surdez não como 
perda da audição. Também é fato que jamais poderemos nos referir às demais identidades 
como menores ou inferiores. 
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22 
 
COMENTÁRIO 
A comunidade surda é heterogênea; os indivíduos surdos são atravessados por diversas 
questões. Surdos podem ser filhos de pais surdos ou ouvintes, podem usar aparelho 
auditivo ou ter implante coclear, podem ser oralizados ou não, e assim por diante. 
SUBGRUPOS DA COMUNIDADE SURDA 
Existem outras características que também unem os surdos em subgrupos menores dentro 
da comunidade surda. Podemos citar diversas relações de identificação que extrapolam a 
questão do ser surdo em um mundo ouvinte. 
Como exemplo de agrupamentos de surdos com outras características, estão: 
 RELIGIOSIDADE 
Podemos citar os surdos espíritas, testemunhas de Jeová, católicos e evangélicos. 
 IDENTIDADE DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL 
Comunidades surdas que se encontram em associações e que também participam de 
paradas de diversidade. Nesses subgrupos, as questões relativas às necessidades 
específicas desses sujeitos são apresentadas e debatidas. 
 
 ESPORTES 
A prática de esportes também é muito presente nas comunidades surdas pelo mundo, 
estimulando a organização de jogos intermunicipais, estaduais, nacionais e internacionais. 
A XXIV Surdolimpíadas de Verão, um evento internacional, acontecerá no Brasil, na 
cidade de Caxias do Sul-RS, entre os dias 5 e 21 de dezembro de 2021. 
 
23 
 
As manifestações culturais surdas são criações coletivas ou individuais relacionadas ao 
sistema artístico ouvinte e suas produções. Nisso, vemos o fato de que as expressões 
poéticas configuram um grande polissistema, constituído por sistemas menores 
independentes como o da arte surda. 
A LITERATURA SURDA 
Outro exemplo de uma atividade produtiva surda é a literatura surda, que costuma utilizar 
adaptações de contos famosos para a cultura surda, apresentando personagens surdos. 
Nesses contos, a experiência visual é enfatizada, bem como a valorização da língua de 
sinais e da surdez. Existem também produções originais produzidas por autores surdos e 
que não são adaptações. 
 Fonte: Pixabay. 
Essa literatura serve como meio de identificação e representatividade para seus leitores – 
apresentando histórias em que a narrativa sobre a surdez não é vista como uma perda, 
mas sim uma diferença, ajuda a construir no imaginário uma visão positiva de si. Os autores 
se utilizam também de estratégias da semiótica para destacar o uso das mãos e a 
visualidade, pois o objetivo é marcar a presença da visualidade e da Libras como 
empoderadoras, não como deficit. 
É possível afirmar que os surdos são seres biculturais, já que, além da cultura surda, 
experienciam a cultura de seu país, da comunidade ouvinte majoritária. Por meio das mais 
diversas relações sociais, todos compartilhamos da cultura de nosso país – na música, na 
dança, nas tradições e nos mais variados produtos culturais. 
Isso também inclui as pessoas surdas que interagem nesse grande sistema cultural 
brasileiro. O polissistema literário brasileiro inclui o sistema literário surdo, que busca 
protagonizar a experiência vivida por pessoas que nasceram no país e compartilham com 
os ouvintes de muitos traços culturais. Portanto, não se limita apenas a adaptar contos, mas 
a ajudar a interagir e a transformar através de um diálogo entre a tradição e a necessidade 
de ver-se representado. 
LIVROS INFANTIS 
PATINHO SURDO 
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps8
24 
 
CINDERELA SURDA 
TIBI E JOCA 
Fala de um patinho que nasceu em um lugar com patinhos ouvintes. O ápice da história é 
o momento em que ele encontra patos surdos e aprende a “Língua de Sinais da Lagoa”. 
Esse livro é uma adaptação que relaciona a experiência prévia à língua de sinais com a 
ideia de exclusão, apresentando a possibilidade de aceitação e pertencimento. 
(KARNOPP; ROSA, 2005) 
Nessa adaptação, a Cinderela e o príncipe são surdos e, em vez de perder o sapatinho de 
cristal, a personagem principal perde uma das luvas. A escolha da luva se dá para fazer 
uma referência às mãos, amplamente utilizadas pelos surdos para se comunicar. 
(HESSEL; ROSA; KARNOPP, 2005) 
Uma produção original, que conta a história de um surdo nascido em uma família de 
ouvintes até o seu encontro com a língua de sinais. 
(BISOL, 2001) 
HUMOR SURDO 
Dentro do sistema da literatura surda, podemos também falar do humor surdo e das piadas 
com personagens surdos. Essas anedotas são muito frequentes em encontros de surdos, 
tanto nos formais (congressos/fóruns de educação) como nos informais (associações de 
surdos). 
Fica clara a ideia de surdez constituída como diferença, não como limitação. Ao trazer 
o humor para as suas vidas, os contadores tratam de si mesmos com leveza e possibilitam 
que os interlocutores, da mesma forma, consigam compreender que não existe lutopor 
serem surdos. Veja o exemplo de uma piada para crianças: 
 
O LENHADOR 
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps9
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps10
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25 
 
Um homem trabalhava em uma floresta. Ele cortava árvores. 
E procurava árvores grandes para cortar. 
Quando encontrava alguma, usava seu machado para cortá-las. E então ele gritava: 
– Madeira! – E a árvore caía no chão. 
Um dia ele encontrou uma árvore enorme, e começou a cortá-la. 
Ele gritou para árvore, mas a árvore não caiu. 
Ele chamou um médico que entendia de árvores, que, após examiná-la, percebeu que ela 
era surda. 
Então o lenhador chamou um intérprete, que falou para a árvore, em Libras: 
– Madeira. – E ela caiu! 
Nas piadas, outro fator que fica evidente é o “ganho surdo”, devido à possibilidade de 
comunicar-se em uma língua desconhecida para a maioria e a perda sofrida pelos ouvintes 
por não se comunicarem por meio dela. São denominados “ganhos surdos” (do inglês deaf 
gain) as relações que se dão com o mundo através da visualidade e os benefícios que isso 
pode trazer. Aqui a desvantagem não é do surdo, e sim do ouvinte, que desconhece os 
aspectos culturais relativos à visualidade. 
Na anedota surda, podem ser trazidas a diferença e as experiências difíceis vivenciadas 
pelos surdos como meio para o humor. Inclusive o elemento religioso é representado em 
sátiras de cura da surdez. Rir de si mesmo, do sagrado e do outro é uma forma de criar 
uma relação de proximidade. 
Vejamos um exemplo de humor. 
 
O WAFFLE 
Em um café, dois amigos conversam sentados a uma mesa, enquanto na outra, um rapaz 
acompanhado por uma garota come seu lanche fazendo um enorme barulho com os 
talheres e também ao mastigar! 
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26 
 
Ao fim do lanche, o rapaz faz vários sinais com as mãos, em libras, dizendo “Este foi o 
melhor waffle que comi na vida!”. 
A garota, ao compreender a mensagem, diz em voz baixa e constrangida: “Todos aqui 
notaram!”. 
 
NA AULA DE MERGULHO 
Professor: Seu marido é surdo? Não tenho certeza se poderemos fazer isso. 
Esposa: O que você quer dizer? 
Professor: Eu preciso me comunicar com ele embaixo d’água e ele não pode ouvir! 
Esposa: Como você se comunica embaixo d’água com pessoas que podem ouvir? 
Professor: Bem, nós usamos sinais manuais para... não, peraí! 
Professor: Dã! Desculpa! 
TODOS AQUI NOTARAM! 
O humor se dá no fato do ganho surdo quanto a não se perturbar pelo barulho dos talheres 
no prato: enquanto os ouvintes estão claramente incomodados, o surdo nem se deu conta 
e somente desfrutou da refeição. 
O DESAFIO DA INCLUSÃO 
Com o passar dos anos (BAUMAN e MURRAY, 2014), diversos questionamentos surgiram 
sobre por que lutar pelo direito à diferença para se contrapor às práticas educacionais e 
médicas com visão negativa da surdez – pela valorização da diferença, pela necessidade 
de lutar e pela preservação do que é visto como falta pela maioria. 
Nessa busca por uma autocompreensão da subjetividade surda, foi possível observar 
diversos ganhos com a aquisição da língua de sinais, por exemplo: 
Crianças surdas 
Percepção de ganho com sua experiência visual 
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27 
 
Crianças ouvintes de famílias ouvintes 
Vantagens cognitivas, como a possibilidade de desfrutar de mais de uma cultura, e ter 
acesso a duas modalidades de língua 
Toda a materialidade concernente à compreensão do que significa ser surdo e o que isso 
gera é fruto do trabalho de Paddy Ladd quanto aos deaf studies no Reino Unido e seu 
trabalho de “descolonizar” os trabalhos de pesquisa sobre a surdez: “A pesquisa de Paddy 
Ladd inaugura um amplo e multifacetado campo teórico investigativo que se propõe dar 
protagonismo à mentalidade surda (deaf way) e sua história de resistência” (TERCEIRO; 
FERNANDES, 2019). 
Na continuidade de visões sobre os ganhos surdos, há alguns autores que citam os 
seguintes exemplos: 
 Fonte:Fonte: zealous/ Shutterstock 
 a possibilidade de não ouvir barulhos e conversas em locais tumultuados; 
 a questão da visão periférica, aguçada em indivíduos surdos; 
 as diferentes perspectivas sobre o mundo. 
ATENÇÃO 
Ao falarmos de ganhos surdos, não estamos jamais tentando diminuir ou negar as 
dificuldades encontradas pelas pessoas surdas por viverem em uma sociedade 
predominantemente ouvinte. Sabe-se que a falta de comunicação enfrentada por muitos 
surdos com suas famílias pode causar-lhes muitos problemas, até mesmo na vida adulta. 
A visão de diferença e não de deficiência é capaz de nos ajudar a perceber que existem, 
sim, alguns ganhos na experiência da visualidade, e até mesmo no fato de não ser exposto 
a tudo que os ouvintes são sem poderem escolher. 
O que se propõe aqui não é falar apenas sobre a Libras ou o que será preciso em relação 
às práticas educativas necessárias ao atendimento bilíngue. Na verdade, visamos a uma 
inclusão que atenda a todas as problemáticas das diferença dos sujeitos. Tem-se uma 
língua, uma cultura e diversas identidades que necessitam ser contempladas. 
28 
 
 Fonte: Agência Brasília- Criative Commons 
Atualmente, os mais variados grupos sociais estão lutando por sua representatividade na 
arte, na mídia e no meio acadêmico – e isso inclui os surdos. O processo de autonomia, 
contrário ao de assujeitamento, requer manifestações de todas as ordens porque, nesse 
momento, não se quer ocultar e sim mostrar as especificidades concernentes a cada um. 
Com o advento da tecnologia e das mídias sociais, temos um gama de produções surdas, 
com protagonismo surdo. 
 SAIBA MAIS 
Podemos citar dois canais interessantes no YouTube: Porta dos Surdos e o canal do 
youtuber Leo Venturino. São excelentes fontes para aprender Libras! 
VÍDEO COM AVALIAÇÃO 
No vídeo a seguir, a professora Antonielle Martins nos apresenta um pouco da sua vivência 
com as culturas surdas. Vamos assistir! 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. A COMUNIDADE SURDA NÃO É HOMOGÊNEA. OS SURDOS SÃO ATRAVESSADOS 
POR VÁRIAS OUTRAS QUESTÕES SOCIAIS E INDIVIDUAIS. AS QUESTÕES 
INDIVIDUAIS ESTÃO FORTEMENTE RELACIONADAS À IDADE DA PERDA AUDITIVA, 
A PROCESSOS DE ESCOLARIZAÇÃO, À UTILIZAÇÃO OU NÃO DE APARELHOS 
AUDITIVOS, E ASSIM POR DIANTE. OS SURDOS SE IDENTIFICAM ENTRE SI 
ESPECIALMENTE POR CONTA DA LÍNGUA EM COMUM – NO CASO DOS SURDOS 
BRASILEIROS, A LIBRAS. A PARTIR DO QUE NOS APRESENTA GLADIS PERLIN, 
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA DA CORRESPONDÊNCIA IDENTIDADE-
CARACTERÍSTICA. 
 
I) IDENTIDADE DE TRANSIÇÃO 
II) IDENTIDADE INCONFORMADA 
III) IDENTIDADE HÍBRIDA 
IV) IDENTIDADE SURDA 
 
( ) SURDOS QUE NÃO SE SENTEM COMPREENDIDOS POR OUVINTES E TÊM 
SENTIMENTO DE SUBALTERNIDADE. 
( ) SURDOS QUE DEPOIS DE UM TEMPO VIVENDO SEM LÍNGUA DE SINAIS 
ENCONTRAM A COMUNIDADE SURDA. 
29 
 
( ) SURDOS QUE PERDERAM A AUDIÇÃO E SE COMUNICAM EM LÍNGUA DE 
SINAIS E LÍNGUA ORAL. 
( ) SURDOS QUE UTILIZAM LÍNGUA DE SINAIS E SE ORGULHAM DA COMUNIDADE 
SURDA. 
I, IV, III, II 
IV, III, II, I 
III, IV, I, II 
II, I, III, IV 
2. PELA ÓTICA DA SOCIOLOGIA E DE PESQUISADORES DA ÁREA DOS ESTUDOS 
SURDOS, A COMUNIDADE SURDA SE CONFIGURA EM UMA MINORIA LINGUÍSTICA, 
COM HISTÓRIAS DE LUTAS E CONQUISTAS QUE SE UNE ENQUANTO SUJEITOS 
COM CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DECORRENTES DE SUA EXPERIÊNCIA DE 
INTERAÇÃO COM O MUNDO. SOBRE OS ARTEFATOS CULTURAIS SURDOS, 
ANALISE AS ALTERNATIVAS A SEGUIR. 
 
I) A LITERATURA SURDA SERVE COMO UM MEIO DE IDENTIFICAÇÃO E 
REPRESENTATIVIDADE PARA OS SEUS LEITORES. 
II) É POSSÍVEL AFIRMARMOS QUE OS SURDOS SÃO SERES BICULTURAIS. 
III) HUMOR NÃO FAZ PARTE DA CULTURA SURDA, POIS É PEJORATIVO. 
IV) A LITERATURA SURDA TEM PRODUÇÕES ORIGINAIS OU ADAPTAÇÕES DE 
CLÁSSICOS. 
 
QUAL ALTERNATIVA ESTÁ CORRETA?I, II, IV 
I, II, III, IV 
I, II, III 
I, IV 
GABARITO 
1. A comunidade surda não é homogênea. Os surdos são atravessados por várias 
outras questões sociais e individuais. As questões individuais estão fortemente 
relacionadas à idade da perda auditiva, a processos de escolarização, à utilização 
ou não de aparelhos auditivos, e assim por diante. Os surdos se identificam entre si 
especialmente por conta da língua em comum – no caso dos surdos brasileiros, a 
Libras. A partir do que nos apresenta Gladis Perlin, assinale a alternativa correta da 
30 
 
correspondência identidade-característica. 
 
I) Identidade de transição 
II) Identidade inconformada 
III) Identidade híbrida 
IV) Identidade surda 
 
( ) Surdos que não se sentem compreendidos por ouvintes e têm sentimento de 
subalternidade. 
( ) Surdos que depois de um tempo vivendo sem língua de sinais encontram a 
comunidade surda. 
( ) Surdos que perderam a audição e se comunicam em língua de sinais e língua 
oral. 
( ) Surdos que utilizam língua de sinais e se orgulham da comunidade surda. 
A alternativa "D " está correta. 
De acordo com Gladis Perlin, temos algumas identidades surdas passíveis de classificação. 
Surdos oralizados ou sinalizadores podem, por vezes, sentir-se inferiores aos ouvintes, 
configurando-se como uma identidade inconformada. Pessoas podem perder a audição 
depois de já terem a língua oral adquirida e optar por aprender a língua de sinais também, 
o que Perlin chama de identidade híbrida. Surdos podem demorar algum tempo para entrar 
em contato com a comunidade surda e passar por um período de identidade de transição. 
Outros surdos se sentem felizes com o fato de serem surdos e têm orgulho da língua de 
sinais. 
2. Pela ótica da Sociologia e de pesquisadores da área dos estudos surdos, a 
comunidade surda se configura em uma minoria linguística, com histórias de lutas e 
conquistas que se une enquanto sujeitos com características específicas 
decorrentes de sua experiência de interação com o mundo. Sobre os artefatos 
culturais surdos, analise as alternativas a seguir. 
I) A literatura surda serve como um meio de identificação e representatividade para 
os seus leitores. 
II) É possível afirmarmos que os surdos são seres biculturais. 
III) Humor não faz parte da cultura surda, pois é pejorativo. 
31 
 
IV) A literatura surda tem produções originais ou adaptações de clássicos. 
 
Qual alternativa está correta? A alternativa "A " está correta. 
Vimos que o traço mais importante da cultura surda está relacionado à língua de sinais e 
ao histórico de luta das comunidades surdas. É possível afirmar que os surdos são seres 
biculturais – já que, além da cultura surda, experienciam a cultura de seu país, da 
comunidade ouvinte majoritária – e seres bilíngues. A literatura surda, bem como o humor 
surdo, são artefatos culturais importantes que valorizam a diferença surda e as línguas de 
sinais. 
MÓDULO 3 
 
Identificar as variações linguísticas e as contradições dos processos de 
padronização das línguas de sinais 
LÍNGUA E SOCIEDADE 
Para compreendermos a variação linguística e a padronização, precisamos nos atentar 
para a língua em suas relações com a sociedade. Essas relações são estudadas pela: 
SOCIOLINGUÍSTICA 
Ramo da linguística que estuda a língua como um fenômeno social, tendo como seu 
expoente os estudos de William Labov (2008) 
 Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock 
Labov, desde meados dos anos 1960, levantou discussões acerca da pluralidade e 
heterogeneidade da língua nos seus estudos seminais. Como língua e sociedade são 
fortemente correlacionadas, a língua varia no espaço geográfico, no decorrer do tempo, e 
nos diferentes espaços sociais, bem como nas diferentes situações comunicativas. 
EXEMPLO 
Percebemos no cotidiano essas variações por meio dos sotaques de indivíduos de outros 
estados, de uma palavra que uma pessoa mais velha utiliza e que não conhecemos, da 
formalidade de um tribunal do júri, e assim por diante. 
32 
 
No primeiro módulo, vimos que as línguas de sinais não são universais e variam 
geograficamente – surdos franceses utilizam a Língua de Sinais Francesa (LSF), surdos 
norte-americanos utilizam a Língua Americana de Sinais (ASL), e assim por diante, certo? 
Este é o primeiro tipo de variação que notamos: existem línguas diferentes no mundo. 
Pensamos primeiramente nas “grandes línguas” associadas a grandes civilizações ou 
impérios. Isso nos remete à relação de língua e poder político. 
O mandarim é língua nativa de quase 1 bilhão de pessoas. Para termos uma ideia, se 
juntarmos o mandarim às outras sete línguas mais faladas no mundo (inglês, espanhol, 
hindi/urdu, árabe, russo, bengali e português), chegaremos a uma porcentagem entre 40% 
e 45% da população mundial. 
 
Fonte: 
 Assim, 45% falam oito línguas; 
 Os outros 50% falam trezentas línguas; 
 A minoria, 5%, fala mais de 6 mil línguas restantes. 
Antes da tecnologia da escrita e das grandes civilizações, cada grupo ou tribo tinha a sua 
própria língua; portanto, havia muito mais línguas no mundo, mesmo com uma população 
bem menor. 
 SAIBA MAIS 
Antes da colonização portuguesa do Brasil, imagina-se que havia aproximadamente 1.175 
línguas indígenas. Atualmente, temos cerca de 180 e dezenas estão ameaçadas de 
extinção. 
EXEMPLO 
Isso também acontece com as línguas de sinais. Segundo pesquisa publicada por Johnston 
(2006), a população de surdos nativos e sinalizadores na Austrália está diminuindo muito. 
33 
 
Isso por conta do controle da rubéola, do mapeamento genético, do implante coclear e das 
políticas de inclusão. Com essa medida, a comunidade surda australiana pode diminuir a 
ponto de a Língua de Sinais Australiana (Auslan) desaparecer. 
 Fonte: danceyourlife/ Shutterstock 
No Brasil, temos um fenômeno frequente que chamamos de regionalismo. Por se tratar 
de um país continental – cuja riqueza cultural é impressionante, constituída pela mistura de 
várias nacionalidades da Europa, África e, ainda, dos povos autóctones, sem falar da gama 
de empréstimos linguísticos, especialmente da língua inglesa –, o regionalismo é muito 
frequente, sendo o dialeto uma de suas formas de expressão. 
POR EXEMPLO, QUAL PALAVRA ESTÁ CORRETA: MACAXEIRA, AIPIM OU 
MANDIOCA? 
Todas. Mas caso você utilize a palavra macaxeira no sul do Brasil, pode não ser 
compreendido. O fato de variarem dentro da mesma língua mostra o quanto as línguas 
naturais são orgânicas e vivas. A língua circula entre as pessoas e não pode estar “presa” 
em dicionários e gramáticas. Quando essa variação vai além do “sotaque” e de algum 
léxico, é chamada de: 
DIALETO 
Dialetos são variedades de uma língua falada por comunidades geograficamente definidas. 
O dialeto às vezes é entendido como uma forma menos importante e complexa da língua, 
como uma língua inferior. No entanto, para a Linguística, o dialeto é apenas uma variante 
regional, uma variedade da língua com a mesma complexidade da língua-padrão. Portanto, 
linguisticamente falando, cada dialeto é uma língua, mesmo que política ou socialmente 
o dialeto esteja sempre vinculado ou subordinado a uma língua-padrão. 
Segundo Amorim e Di Santi (2019), a concepção de uma língua-padrão surge na tentativa 
de unificação política dos Estados centrais modernos com o objetivo de apagar a 
diversidade linguística regional e social dos cidadãos com seus dialetos. 
A padronização da língua está especialmente relacionada à tecnologia da escrita e 
se dá por meio da elaboração de instrumentos normativos, como as gramáticas e os 
dicionários. 
34 
 
RESUMINDO 
Portanto, devemos compreender que, quando nos referimos à norma padrão, não nos 
referimos exatamente a uma variedade da língua, e sim a um abstrato construto histórico-
social e cultural usado como referência para que se promova um processo de uniformização 
da língua. 
Partindo da perspectiva da norma padrão,temos a: 
NORMA CULTA 
Tida como a variedade de uso corrente entre falantes que vivem em meio urbano e com 
escolaridade superior, com forte influência da mídia. É um termo mais abrangente que 
língua-padrão, pois refere-se não só ao padrão que é para além do regional, mas também 
às variedades cultas informais de cada região. Assim, norma culta pode ser tanto formal 
quanto informal. 
A língua-padrão pode ser considerada a variável linguística mais difundida, aquela língua 
utilizada nos telejornais, por exemplo, geralmente entendida por todos os falantes da língua. 
É a variante da língua utilizada neste texto, frequentemente a forma usada na educação 
formal e a mais amplamente utilizada pela mídia. 
ATENÇÃO 
Apesar de existir a chamada norma culta ou língua-padrão, quando ela está na “boca do 
povo”, a língua falada não deve ser tida como certa ou errada, caso contrário isso se 
configura, frequentemente, como preconceito linguístico. Sabemos que cada indivíduo 
tem sua história e seu contexto cultural, e o objetivo principal da língua é a comunicação. 
VOCÊ JÁ PERCEBEU QUE MESMO SEM CONHECIMENTOS METALINGUÍSTICOS A 
RESPEITO DE SINTAXE OU MORFOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 
CONSEGUIMOS FORMAR FRASES COMPREENSÍVEIS? 
 Fonte: Agência Brasília- Criative Commons. 
Sabemos também, de forma automática e intuitiva, que o tipo de linguagem que usamos 
para nos comunicar com nossos avós, médicos ou em situações que demandem mais 
formalidade é diferente da forma que nos comunicamos com nossos amigos do bairro. Esse 
35 
 
processo por vezes é automático e saudável; afinal, ficaria estranho chamar um amigo de 
senhor, não é mesmo? 
Portanto, alternar entre padrões linguísticos é adequado e devemos atentar para a 
pertinência de cada um deles. 
E nas línguas de sinais, como ocorrem as variações linguísticas? 
Vimos no módulo 1 que a Libras varia tanto quanto as línguas orais, certo? A grande maioria 
dos estudantes de Libras, já desde o início, costuma ouvir que existem regionalismos nessa 
língua. Muitos ficam desapontados pelo fato de não haver uma língua de sinais única, 
uniforme e utilizada em todos os países; outros compreendem que isso está presente nela 
como está em seu próprio idioma. 
 Fonte: Elysangela Freitas/Shutterstock 
No caso do Brasil, com sua vasta extensão territorial, seria ainda mais difícil pensarmos em 
uma uniformidade linguística. Assim como no português brasileiro, a Libras possui 
características vinculadas à sua regionalidade decorrente de aspectos geográficos e 
culturais. Visto que aqui existem diversas culturas, em estados com hábitos bem singulares, 
não é possível evitar a variação linguística, nem “contorná-la”. De Norte a Sul, existem 
danças, tradições, culinária e outros artefatos culturais que não pertencem ao folclore de 
outras partes do país, o que influencia também o léxico da região. 
A variação linguística em Libras é um assunto muito complexo e apresenta diversas 
questões que devem ser analisadas. Compreender as variações linguísticas da língua de 
sinais requer uma visão histórica sobre os surdos enquanto minoria linguística, já que a 
Libras é uma língua de resistência da comunidade surda (MACHADO; WEININGER, 2018). 
 
Fonte: Ensine.Me 
Esses são exemplos de variações lexicais regionais da Libras. Enquanto o primeiro sinal 
“Branco” é utilizado em São Paulo, o segundo é utilizado em vários estados, e o último 
somente no Rio Grande do Sul. 
36 
 
Existe um sinal melhor do que o outro? 
Não! Mas existe um sinal que é amplamente utilizado, que nesse caso é o segundo sinal. 
Os processos de variação linguística são naturais e estão presentes em todas as 
línguas, tanto orais como de sinais. 
EXEMPLO 
Quando aprendemos inglês, sempre nos apresentam as variações norte-americana e 
britânica como se fossem somente essas as opções. Porém, mesmo dentro do que 
chamamos norte-americano ou britânico, há várias diferenças de sotaque e léxico. 
Em razão do exposto, precisamos compreender que, do ponto de vista linguístico, os 
regionalismos, os dialetos e as variações não são consequências da “falta de instrução”. 
Todas as variedades de uma língua têm o mesmo valor, nenhuma é melhor do que a 
outra. 
Já do ponto de vista social e político, há uma variedade considerada melhor, que é a 
variedade padrão de uma língua e a norma culta. Quando alguém vai aprender inglês ou 
qualquer outra língua estrangeira, normalmente quer aprender a variedade padrão. 
Fonte: FrankHH/Shutterstock 
O respeito à diversidade linguística deve estar presente nas conversas, nos momentos de 
troca e nas práticas de ensino. A linguagem apresenta-se em diferentes momentos, dentro 
de situações comunicativas e, por isso, todas as suas manifestações são válidas. 
ATENÇÃO 
Todas as outras formas de variações linguísticas presentes nas línguas orais acontecem 
também nas línguas de sinais. Podemos citar as variações linguísticas entre os surdos nas 
associações de surdos e os surdos acadêmicos, bem como as variações entre surdos 
jovens e surdos mais velhos e em diferentes situações comunicativas. 
Vimos que os processos de padronização da língua estão atrelados especialmente à 
tecnologia de escrita em dicionários, obras didáticas e obras literárias. Apesar dos sistemas 
de notação (escrita) das línguas de sinais, nenhum deles é difundido. Assim, podemos ter 
uma variabilidade ainda maior no léxico das línguas de sinais do que nas línguas orais. 
37 
 
 
Fonte: Ensine.Me 
Tomemos como exemplo a palavra “abacaxi”, registrada no Dicionário da Língua de Sinais 
do Brasil (CAPOVILLA et al., 2017): 
Ela apresenta seis sinais referentes! 
O excesso de variação lexical pode gerar alguns desafios, especialmente em relação a 
questões terminológicas específicas. Vejamos o exemplo a seguir. 
Se temos seis sinais de Libras diferentes para “membrana plasmática” e precisamos 
traduzir a prova do ENEM a fim de torná-la acessível aos surdos, qual dos sinais devemos 
utilizar? O ENEM é uma prova nacional. Por essa razão, alguma padronização da língua 
se faz necessária. 
Processos de padronização pressupõem no mínimo uma gramática prescritiva com as 
regras e estruturas da linguagem, que recomenda uma em prol de outra, e um dicionário 
padrão que apresente o vocabulário. 
No caso da Libras, podemos citar duas obras de extrema importância, que não almejam 
padronização linguística em si, mas apresentam léxico representativo da Libras e 
descrições linguísticas pertinentes: 
DICIONÁRIO DA LÍNGUA DE SINAIS DO BRASIL. (CAPOVILLA ET AL., 2017) 
LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA: ESTUDOS LINGUÍSTICOS. (QUADROS; KARNOPP, 
2004) 
EXEMPLO 
Inúmeras inovações tecnológicas vêm impulsionando a propagação do conhecimento 
produzido pelos grupos de pesquisas. Podemos citar as pesquisas no campo da linguagem 
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as quais influenciam as demais 
pesquisas no Brasil. 
38 
 
Os termos utilizados nas produções acadêmicas muitas vezes não possuem sinal – os 
sinais criados em salas de aula ou por pesquisadores podem integrar o léxico da Libras. 
Essas iniciativas podem gerar discussões sobre tentativas de padronização. 
Podemos perguntar: os sinais criados em outras localidades devem ser 
descartados? 
Não! Mas, quando uma entidade com maior alcance cria sinais e divulga as suas produções, 
isso faz com que a escolha lexical seja feita pelos termos criados por ela. 
COMENTÁRIO 
Além da tecnologia, a participação em eventos faz com que aconteça a difusão dos sinais, 
principalmente para aquelas áreas em que a terminologia é muito específica. Para os 
surdos e profissionais intérpretes, a procura por glossários terminológicos específicos 
acontece sempre que um aluno surdo ingressa em uma área de estudos para a qual ainda 
não existem sinais oficiais. 
Com as novas políticas de inclusão, muitos surdos ingressaram em universidades e cursostécnicos e profissionalizantes. Assim, a necessidade de traduzir as aulas ocorre, fazendo 
com que os intérpretes procurem aprender a terminologia. Atualmente, pela facilidade de 
difusão do conhecimento, muitos grupos compartilham seus termos locais, possibilitando 
que essa lacuna seja preenchida por seus colegas surdos/intérpretes de outras regiões. 
Fonte: Agência Brasília - Criative Commons 
Apesar de não existir qualquer restrição quanto à utilização de sinais locais, os surdos e 
ouvintes sempre optam pela utilização de sinais produzidos em contextos acadêmicos. 
Dessa forma, as apresentações poderão ser mais bem compreendidas por pessoas de 
estados diferentes e criar certa uniformidade, pelo menos em relação à área de estudo. 
ATENÇÃO 
Contudo, os pesquisadores têm se atentado à relevância de evitar a dominação da língua 
portuguesa sobre a língua de sinais. Como muitos sinais apresentam marcas ligadas ao 
alfabeto manual, por exemplo, são realizadas novas discussões, e novos termos são 
criados. 
39 
 
A relação binária “ouvinte ou surdo” e “língua oral ou língua de sinais” gera muitos 
conflitos decorrentes do desejo surdo de protagonizar a sua própria história. Por isso, os 
sujeitos surdos têm o papel principal na produção de terminologia. 
TRADUTORES E PROFESSORES SURDOS, BEM COMO INTÉRPRETES DE LS, 
UTILIZAM SINAIS DIALETAIS PRÓPRIOS, SENDO QUE A PADRONIZAÇÃO É MAIS 
FACILMENTE PERCEBIDA SÓ COM O USO DE SINAIS MAIS DIRECIONADOS 
ESPECIFICAMENTE A DETERMINADA ÁREA DE CONHECIMENTO (POR EXEMPLO: 
MORFOLOGIA, FONOLOGIA, SINTAXE ETC.), POR CAUSA DOS CONTEÚDOS 
EMINENTEMENTE LINGUÍSTICOS DOS TEXTOS-BASE. (AVELAR, 2008, p. 374) 
PADRONIZAÇÃO DE SINAIS 
Apesar da busca por uma padronização dos sinais, mesmo em produções acadêmicas na 
plataforma educacional virtual, o uso de sinais regionais não deve deixar de ser utilizado 
(AVELAR, 2008). No entanto, acontece um movimento “natural” de pesquisar e utilizar 
aqueles sinais específicos aos conteúdos da área de tradução. 
 Fonte: Allison C Bailey/Shutterstock 
Assim como nas línguas orais, a opção consciente ou não pela utilização de sinais gera 
algumas dificuldades para os tradutores-intérpretes de Libras, profissionais imprescindíveis 
para a acessibilidade linguística das pessoas surdas, que por vezes desconhecem o signo 
apresentado. 
DICA 
Nesses casos, a solução é solicitar o auxílio de colegas durante a tradução. Outra solução 
é pesquisar e registrar as diferenças dialetais, como uma estratégia de antecipação ao que 
poderia representar um problema. 
Vimos no começo deste módulo que língua e sociedade se relacionam fortemente, certo? 
E que poderes políticos e sociais atravessam essas relações. Podemos então questionar: 
Como deveria acontecer um processo de padronização das línguas de sinais, já que 
são consideradas línguas minoritárias? 
40 
 
Processos de padronização são questionáveis e conduzem normalmente à discussão do 
que é a norma de uma língua. Eles, por vezes, servem para controlar a variação dialetal 
inerente aos sistemas linguísticos. 
Outro questionamento inerente aos processos de padronização das línguas de sinais são 
os interesses políticos que permeiam o processo. 
A quem interessa esse processo? Quem lidera esse processo? 
Hanna Eichmann (2009), por meio de entrevistas com professores surdos e análises 
teóricas, faz uma crítica aos processos de padronizações que por vezes são impostos e 
liderados por ouvintes. 
ATENÇÃO 
Segundo os resultados da pesquisa, os principais interessados nesse processo de 
padronização das línguas de sinais são os ouvintes, especialmente aqueles aprendizes de 
língua de sinais como segunda língua, já que os surdos, em sua maioria, não têm nenhuma 
dificuldade de compreender as variações linguísticas. 
A autora faz a distinção entre dois tipos de processos de padronização linguística, como 
podemos ver a seguir. 
PADRONIZAÇÃO IMPOSTA DE “CIMA PARA BAIXO” 
PADRONIZAÇÃO NATURAL 
PADRONIZAÇÃO IMPOSTA DE “CIMA PARA BAIXO” 
Carrega a noção de intenção, intervenção deliberativa em uma língua, formando uma 
variante que incorpora as características de uma língua-padrão. Desse modo, uma língua-
padrão não surgiria naturalmente, mas de forma intencional. 
PADRONIZAÇÃO NATURAL 
Carrega a noção de processo espontâneo pelo fato de as línguas se transformarem 
naturalmente com o tempo. 
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps11
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps12
41 
 
Pela ausência de um código escrito difundido, as línguas de sinais possuem uma grande 
variação, especialmente a lexical. Sendo assim, os processos de padronização 
são naturais e por vezes passíveis de intervenções. Quando feitos como intervenção, 
devem ser examinados com cuidado e procedidos com muito respeito aos direitos 
linguísticos e ao protagonismo dos surdos em relação à própria língua. 
No vídeo a seguir, a professora Antonielle Martins comenta sobre limites e possibilidades 
linguísticos da língua de sinais. Vamos assistir! 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. ESTUDAMOS QUE A LÍNGUA-PADRÃO PODE SER CONSIDERADA A VARIÁVEL 
LINGUÍSTICA MAIS DIFUNDIDA E ENTENDIDA POR TODOS OS FALANTES DA 
LÍNGUA. NO ENTANTO, VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS OCORREM EM TODAS AS 
LÍNGUAS E SÃO FENÔMENOS NATURAIS QUE MOSTRAM SUA ORGANICIDADE; NO 
BRASIL, O REGIONALISMO É MUITO COMUM. 
ASSINALE A AFIRMATIVA CORRETA SOBRE O TEMA. 
O regionalismo é mais frequente na língua inglesa. 
Dialetos são variedades de uma língua falada por comunidades geograficamente mal 
definidas. 
A língua varia no espaço geográfico, no decorrer do tempo e nos diferentes espaços sociais, 
bem como nas diferentes situações comunicativas. 
As línguas possuem relação superficial com a sociedade. 
2. O ESTUDO DE EICHMANN (2009) FAZ CRÍTICAS PERTINENTES AOS PROCESSOS 
DE PADRONIZAÇÕES QUE POR VEZES SÃO IMPOSTOS E LIDERADOS POR 
OUVINTES. A AUTORA DIFERENCIA DOIS TIPOS DE PADRONIZAÇÃO LINGUÍSTICA. 
SOBRE ESSA DIFERENCIAÇÃO, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA. 
As línguas se transformam naturalmente com o tempo; sendo assim, há uma padronização 
espontânea. 
Padronizações podem ser impostas de “cima para baixo”. 
Nos processos de padronização, o protagonismo surdo deve ser respeitado. 
A única padronização possível acontece naturalmente. 
GABARITO 
42 
 
1. Estudamos que a língua-padrão pode ser considerada a variável linguística mais 
difundida e entendida por todos os falantes da língua. No entanto, variações 
linguísticas ocorrem em todas as línguas e são fenômenos naturais que mostram sua 
organicidade; no Brasil, o regionalismo é muito comum. Assinale a afirmativa correta 
sobre o tema. A alternativa "C " está correta. 
Vimos no texto que variação linguística é objeto de estudo da Sociolinguística, tendo como 
seu expoente os estudos de William Labov. Nos estudos seminais do autor, fica claro que 
língua e sociedade são fortemente correlacionadas. Por conta dessa correlação, a língua 
varia no espaço geográfico, no decorrer do tempo, e nos diferentes espaços sociais, bem 
como nas diferentes situações comunicativas. O regionalismo é um fenômeno natural, 
muito comum no Brasil por conta da riqueza cultural e extensão geográfica. 
2. O estudo de Eichmann (2009) faz críticas pertinentes aos processos de 
padronizações que por vezes são impostos e liderados por ouvintes. A autora 
diferencia dois tipos de padronização linguística. Sobre essa diferenciação, assinale 
a alternativa incorreta. A alternativa "D " está correta. 
A ausência de código escrito difundido das línguas de sinais faz com que alguma 
padronização deliberada se faça necessária – como vimos no exemplo do ENEM, uma 
prova que atinge todo o país e necessita de escolhas lexicais adequadas. Portanto, quando 
os códigos escritos são inseridos deliberadamente emcerto contexto, devem ser 
procedidos com cuidado e respeito aos direitos linguísticos e ao protagonismo dos surdos 
em relação à própria língua. 
CONCLUSÃO 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Nos três módulos aqui apresentados, compreendemos os conceitos relativos às 
comunidades surdas e às línguas de sinais. No caso dos surdos brasileiros, a língua 
utilizada é a Língua de Sinais Brasileira (Libras). Vimos que as línguas de sinais não são 
universais, mas línguas complexas que surgem naturalmente nas comunidades 
surdas. As línguas de sinais possuem gramática própria e todos os níveis linguísticos 
existentes nas línguas orais, ou seja, fonologia, morfologia, semântica, sintaxe e 
pragmática. Portanto, possuem o mesmo status das línguas orais e sua peculiaridade mais 
importante é o fato de serem línguas visoespaciais, isto é, expressas pelo corpo no espaço 
43 
 
e compreendidas visualmente. Estudamos que é uma língua recombinativa e arbitrária, 
apesar de ter presente a iconicidade. 
Entramos em contato com o universo da cultura surda, com artefatos culturais riquíssimos 
como a literatura surda, o humor surdo e assim por diante. As identidades surdas são 
diversas e heterogêneas, atravessadas pela cultura ouvinte. Nesse sentido, temos uma 
percepção sociológica dos indivíduos surdos e não clínica e normatizadora, que se 
preocupa apenas com reabilitação e grau de perda auditiva. 
Por conta da enorme variabilidade das línguas de sinais, o que as torna complexas, vivas 
e orgânicas, estudamos também o desafio dos processos de padronização das línguas 
de sinais. Esperamos que a história da comunidade surda inspire você a lutar por uma 
sociedade mais acessível e inclusiva, e que o conteúdo aqui disponibilizado lhe seja útil 
caso receba um aluno surdo em sala de aula ou encontre uma pessoa surda na sua 
trajetória de vida. 
EXPLORE+ 
 Compare diferentes línguas de sinais do mundo por meio da plataforma Spreadthesign 
na web. O banco de dados reúne 400.000 sinais de diferentes línguas de sinais ao redor 
do mundo. 
 Para compreender melhor os desafios das pessoas surdas, assista ao vídeo Os surdos 
têm voz, estrelado pelo artista surdo Leonardo Castilho. 
 Você pode conhecer um pouco mais sobre o francês Eduart Huet no vídeo Manuário – 
E. Huet, da TV INES. Pesquise na web. 
 Você pode conhecer um pouco mais sobre o educador norte-americano E. M. Gallaudet 
no vídeo Manuário – Gallaudet, da TV INES. Pesquise na web. 
 Você pode conhecer um pouco mais sobre o educador norte-americano William Stokoe 
no vídeo Manuário – William Stokoe, da TV INES, pesquise na web. 
 Conheça o org/brazil/ e descubra as múltiplas possibilidades do sistema de escrita da 
língua de sinais. 
 Para saber mais sobre sociolinguística, leia o livro de graduação de Letras/Libras da 
UFSC escrito pelo professor Leland McCleary. 
44 
 
 A inclusão escolar não atende às especificidades linguísticas das crianças surdas. 
Assim, a comunidade surda brasileira luta por escola bilíngue específica para surdos. 
Para saber mais sobre políticas linguísticas e educação de surdos, leia o artigo Educação 
bilíngue para surdos e inclusão segundo a Política Nacional de Educação Especial e o 
Decreto nº 5.626/05, de Ana Claudia Balieiro Lodi. 
 
 
DEFINIÇÃO 
As políticas linguísticas e inclusivas como parte das políticas públicas. Os efeitos sociais, 
educacionais, inclusivos, práticos e comportamentais dessas políticas na comunidade 
surda. 
PROPÓSITO 
Conceituar políticas linguísticas, planejamento linguístico, comunidade linguística e minoria 
linguística, além de conhecer as políticas inclusivas e sua relação com o preconceito, em 
especial o que se relaciona com a comunidade surda. 
OBJETIVOS 
MÓDULO 1 
Definir os conceitos gerais de políticas linguísticas voltadas para a comunidade surda, como 
conquistas e garantias de direitos linguísticos 
MÓDULO 2 
Reconhecer como as políticas inclusivas ou de inclusão, com foco nos sujeitos surdos, 
contribuem para mitigar os preconceitos sociolinguísticos e culturais 
45 
 
INTRODUÇÃO 
Prepare-se para conhecer um assunto importante no âmbito da inclusão social: a relevância 
das políticas linguísticas e inclusivas como parte das ações do poder público para a 
elaboração e efetivação de políticas públicas sociais, objetivando a proteção, a 
preservação, a perpetuação, o uso, o ensino e a interpretação de línguas de minorias 
linguísticas. Para tanto, é válido o levantamento de algumas questões: 
 O que é política? 
 O que são políticas públicas? 
 As políticas linguísticas e inclusivas são políticas públicas sociais? 
Embora não seja o objetivo esgotar o conceito de “política” aqui, basta nos lembrarmos de 
que, basicamente, a política é um processo de tomada de decisões que norteia diretrizes, 
ações, programas, projetos por diversos âmbitos (sociais, econômicos, linguísticos, 
educacionais, políticos, dentre outros) e sua aplicação com efeitos e atribuições na 
sociedade que vigora. É um processo de desenvolvimento dentro da própria sociedade e 
resulta da dinâmica de cooperação e competição entre os grupos que convivem no mesmo 
espaço, compartilhando ambientes, motivações, valores, aspirações sociais. 
As políticas públicas sociais são instrumentos ou mecanismos que institucionalizam a 
proteção e a promoção de todos os cidadãos integrantes de uma sociedade ou grupos 
sociais específicos, como uma comunidade etnolinguística. É o Estado quem exerce o 
papel de efetuar o desenvolvimento de políticas públicas para atender aos direitos, às 
garantias fundamentais e ao bem-estar de todos os cidadãos. As políticas linguísticas e 
inclusivas são direitos e garantias que se caracterizam como políticas públicas sociais para 
a equidade, o equilíbrio, a promoção do valor humano e a democratização de acesso aos 
serviços com qualidade, atendendo às peculiaridades individuais e coletivas. 
Mas não se preocupe: ao longo de nosso estudo, tudo isso ficará mais claro! 
MÓDULO 1 
 
Definir os conceitos gerais de políticas linguísticas voltadas para a comunidade 
surda, como conquistas e garantias de direitos linguísticos 
46 
 
POR QUE AS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS SÃO IMPORTANTES PARA A COMUNIDADE 
SURDA? 
Os surdos foram proibidos de falar as suas respectivas línguas de sinais (pois não há uma 
língua de sinais universal) a partir de 1880, após o Segundo Congresso Internacional de 
Educação de Surdos – também conhecido como Congresso de Milão ‒, onde se reuniram 
educadores de surdos, que decidiram pela remoção das línguas de sinais na educação de 
surdos. Os professores surdos, à época, foram afastados da docência e, assim, os alunos 
surdos passaram a ter aulas (das diversas disciplinas) somente com professores ouvintes, 
que, por sua vez, nem eram bilíngues, nem seriam modelos – ou pares linguísticos culturais 
– para esse alunado. 
 Fonte: Shutterstock.com | Por r.classen 
 SAIBA MAIS 
As comunidades surdas, como espaços de partilha linguística e cultural presentes em 
milhares de cidades do mundo, reúnem surdos e ouvintes – em geral, usuários das línguas 
de sinais – com expectativas, histórias, olhares ou costumes comuns. A ideia de 
comunidade, aqui, apoia-se na presença de vínculos simbólicos que congregam sujeitos – 
concentrados no mesmo local ou dispersos territorialmente – com interesses convergentes 
e propostas coletivas. Entende-se comunidade surda, então, como um espaço de trocas 
simbólicas em que as línguas de sinais, a experiência visual e os artefatos culturais surdos 
são partilhados entre sujeitos surdos (e ouvintes) que congregam interesses comuns e 
projetos coletivos. Fonte: Hugo Heiji, no site cultura surda. 
Implantou-se, nesse cenário, uma filosofia educacional denominada oralismo. A educação 
oralista passou a seguir as 8 (oito) Resoluções aprovadas nessa conferência, funcionando 
como uma espécie de “declaração”, “orientação” que os governos e seus

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