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Resenha do texto Estruturalismo história, definições, problemas

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Resenha do texto Estruturalismo: histórico, definição, problemas
SALES, Léa Silveira. Estruturalismo – história, definições, problemas. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis: EDUFSC, n33, p.159-188, abril de 2013. 
Referências
Sales, L. S. (2003). Fonte: Revista de Ciências Humanas UFSC: https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/25371
Estudante: Flávio da Silva Duarte 
Matrícula: 201811516-0
Disciplina: Teoria Geral da Administração
Professora: Andréia Cristina
O seguinte texto reflete sobre o conceito de estruturalismo, suas possíveis definições, sua abrangência e usos acadêmicos por parte de diferentes disciplinas. Léa Silveira Sales também trata, no texto, de possíveis problemas teóricos e eventuais críticas teóricas existentes em relação ao estruturalismo enquanto perspectiva teórico metodológica de análise.
A autora nos diz que embora o estruturalismo tenha um ápice considerável entre as décadas de 50 e 60 do século XX, especialmente na França, este possui uma construção teórica muito anterior. As raízes do conceito surgem por fora do que conhecemos como ciências humanas e possui uma história de desenvolvimento que, posteriormente, perpassa a linguística e a antropologia social.
Sobre o histórico do conceito de estrutura Sales considera que existem duas ideias distintas a respeito do vocábulo. Para ela existe um conceito diacronizado de estrutura e um outro conceito mais especifico desenvolvido a priori na França. Oriunda do latim a terminologia designa o ato de construir e tem seu uso inicial muito vinculado a prática da arquitetura, contudo a partir do século XVII também passa a ser usado em relação ao corpo biológico e a linguagem.
Nos campos da Anatomia e Gramática o conceito ganha particularidades próprias, mas a nação de harmonia acompanha seu desenvolvimento teórico. A partir do século XIX, com as obras de Spencer, Morgan, Marx e Durkheim a ideia de sistema e estruturas sociais vai tomando forma e embasando o conceito de estrutura. Com Bastide e Lévi-Strauss a “estrutura” vai se tornando uma possibilidade de refutar uma certa tendência naturalística e vai sendo pensada a partir de uma ideia de organismo.
Os sistemas de parentesco, contribuição da antropologia, ajudam a pensar a sociedade a partir da premissa da estrutura. Eles se constituem enquanto uma explicação teórica a respeito, especialmente das comunidades primitivas, que analisa as relações sociais, as funções desempenhadas, os comportamentos e crenças e demais aspectos destas sociedades a partir de uma perspectiva de elementos que estão no interior de um sistema com normas e regras próprias e intrínsecas a ele.
No bojo dessa construção histórica do conceito, a dialética da tese e da antítese permeiam o texto lido, ou seja, parte considerável da obra analisada reflete a respeito das discussões teóricas que foram moldando o conceito. A autora compreende ainda o caráter inacabado da estrutura, suas críticas contemporâneas e sua necessidade de aprimoramentos.
No que se refere a crítica direcionada a Karl Marx, Sales nos diz que Lefebvre aponta para o não aprofundamento de Marx na caracterização das partes do sistema, tais como o todo, o indivíduo, a forma, a estrutura e o próprio sistema. Para ele o autor utiliza os vocábulos em sua teorização a respeito da economia política e da caracterização do capitalismo, contudo não foca na explicação dos mesmos.
As críticas a respeito da Escola de Wurzburg estão na consideração da estrutura enquanto um determinante abstrato para as formulações dos processos mentais, a autora nos diz que o uso do conceito para a área da psicologia ocorreu de forma mais apropriada a partir dos desenvolvimentos da psicologia da Gestalt. Estes consideram que os elementos da estrutura não podem necessariamente ter um surgimento sem explicação e existirem de forma natural.
Sales aponta para o método estruturalista moderno e reflete sobre o seu vínculo com os campos da Matemática e da Linguística. Em ambas as áreas as contribuições da lógica são fundamentais para perceber os possíveis arranjos que podem se conformar no interior de um sistema qualquer.
Nesse mesmo contexto, um impasse que foi presente aos intelectuais que estavam pensando o conceito foi a relação entre a história e o sistema. Ou seja, a indagação sobre o sistema ser autoexplicativo ou ter a necessidade de uma compreensão retroativa permeou os debates. Nesse sentido as tensões entre uma percepção sincrônica ou diacrônica da estrutura foram se conformando no plano intelectual.
A autora menciona no texto as considerações de Ricoeur em relação ao inconsciente presente na linguagem e ao sistema de signos presente na mesma. Reflete também sobre as contribuições de Saussure e da escola de Praga. No que se refere ao primeiro podemos dizer que uma teoria importante foi a percepção da estrutura a partir da concepção fonológica sobre a sintaxe e ao segundo a ideia de semântica relacionada ao conceito de estrutura.
Uma questão epistemológica que a autora menciona tem a ver com o uso da linguística desenvolvido pela antropologia sócia com Levi-Strauss e Jakobson. O que intencionavam eles, era um diálogo entre a linguística e o sistema de parentesco. Piaget por conseguinte, já se aproximava mais dos fundamentos matemáticos para pensar uma estrutura do grupo que contivesse os elementos.
Sobre os fatos históricos, o que o texto analisa é a ocorrência de um pensamento que percebe estes enquanto uma evidência de desarmonia no interior da estrutura. Ou seja, nesse sentido os fatos são compreendidos por alguns autores estruturalistas como diferenças que ferem a organização interna dentro da órbita das estruturas. Esse pensamento é corroborado pela ideia de que dentro das estruturas os elementos estão inter-relacionados, portanto, uma mudança altera a todos eles por consequência desta relação.
Uma crítica bastante recorrente, como evidencia a obra analisada, se refere ao grau de generalidade com o qual alguns autores tradicionais concebem o conceito na sua realidade prática. Uma outra crítica se encontra numa certa aproximação do conceito com a teoria positivista, e com isto, o fomento da ideia de que a estrutura é autossuficiente e possui um centro imutável por essência.
Sales, em seu texto reflete ainda sobre as críticas feitas por Ricoeur em relação ao tempo histórico, no sentido de perceber um certo determinismo sincrônico que permeava a ideia de estrutura. Uma outra crítica faz referência ao grau de inconsciência presente na contribuição da linguística aplicada por Levi-Strauss, Ricoeur considera que existem possibilidades de compreensão dos sujeitos que integram o sistema.
Da mesma forma o referido autor reflete sobre o papel da historicidade e do sentido histórico presentes nos signos de uma determinada estrutura. O que Ricoeur propõem é uma percepção dos limites do conceito e uma reflexão a respeito das generalizações, o que é recomendado é prudência na teorização do conceito.
No que se refere aos paradoxos presentes nessa noção de Antropologia Estrutural baseada nas noções de parentesco e linguagem estão contidas, especialmente, na noção de código. Para a linguística a comunicação se dá através da emissão de um código a um receptor que conhece antecipadamente o código. Para a Antropologia Estrutural essa operação de comunicação também se reproduz na ordem da organização social no interior das estruturas.
O paradoxo está exatamente no fato de que na comunicação os códigos são expressões de significantes que precedem os significados das palavras, ou seja, os significantes não podem ser condicionados pela estrutura visto que eles podem preceder as estruturas do tempo presente. Uma outra questão se encontra nas criações linguísticas, para a Antropologia Estrutural, o que existe em termos de comunicação em uma determinada estrutura possui sua origem no interior dela. Contudo com as palavras que já existem não é possível construir sentido novo, pois formular algo novo seria romper as fronteiras dos códigos que existem no interior de uma
estrutura para criar a partir do sem-sentido. Por fim Sales reflete sobre a impossibilidade de traçar uma correspondência exata entre a língua e a experiência prática vivida.
As contradições são muitas e consideram o fato de que a origem da teoria da informação consiste numa tentativa de buscar uma maior autonomia dos homens para alcançar um maior controle da comunicação. Mas, ao ser utilizada pela Antropologia Estrutural, a teoria da informação passa a ser usada como uma teoria que ajuda a fundamentar um conceito que submete os sujeitos aos significantes (que para esta vertente estão contidos na estrutura).
Sales ainda nos diz que, sendo o centro da estrutura permanente, imutável e fixo, este não segue os parâmetros de classificação estipulados pelo próprio conceito de estrutura. Nesse sentido o texto nos faz refletir sobre o quanto o centro da estrutura não possui estruturalidade, ou seja, o centro da estrutura é ao mesmo tempo o centro da estrutura e não se encontra dentro dela. Estas reflexões foram fundamentais para se pensar as posteriores teorias sobre as estruturas não centralizadas, ou melhor, estruturas que podem possuir centros que possam ser substituídos no curso do tempo histórico. No que se refere ao advento desta prerrogativa teórica a autora menciona a importância de Nietzsche, Freud e Heidegger.
Enfim, podemos dizer que muitos autores mencionados na obra estão se propondo, nos seus respectivos contextos, a pensar a ideia de estrutura e contribuir com o conceito de estruturalismo. Nesse sentido, entendemos que o que temos hoje a respeito deste conceito é uma construção histórica desenvolvida por refutações e o advento de contrapropostas teóricas. Sendo assim, este texto reforça a ideia de historicidade e de processos históricos, da mesma forma que nos faz refletir sobre a presença deles no desenvolvimento teórico do conceito.
Para concluir, é possível dizer que ao fazer esta caracterização histórica do conceito e explicitar a sua trajetória, Sales está nos mostrando a fragilidade existente na construção dele. Da mesma forma que está nos possibilitando a compreensão da existência de um movimento coerente de desenvolvimento teórico que está muito atrelado aos usos da terminologia e seus possíveis objetivos dentro das diferentes áreas de conhecimento. A autora também nos faz compreender que ainda existem críticas plausíveis e pertinentes, ou seja, Sales nos mostra que o estruturalismo enquanto prerrogativa teórica para a análise da sociedade contemporânea não está acabado enquanto conceito.

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