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Fisioterapia Preventiva e Saúde Pública - 2021.1 Pós-Constituinte- Sistema Único de Saúde- SUS (1989 - 1994) A saúde na Constituição Federal de 1988 O direito à saúde foi inserido na Constituição Federal de 1988 no título destinado à ordem social, que tem como objetivo o bem-estar e a justiça social. Com sua peculiar importância, o direito à saúde, por estar intimamente atrelado ao direito à vida, manifesta a proteção constitucional à dignidade da pessoa humana. Ao reconhecer a saúde como direito social fundamental, o Estado obrigou-se a prestações positivas (disponibilidade de recursos públicos para sua concretização), e, por conseguinte, à formulação de políticas públicas sociais e econômicas destinadas à promoção, à proteção e à recuperação da saúde. Nos Arts. 198 a 200 atribuíram ao Sistema Único de Saúde a coordenação e a execução das políticas para proteção e promoção da saúde no Brasil. O início do SUS se deu nos anos 70 e 80, quando diversos grupos se engajaram no movimento sanitário, com o objetivo de pensar um sistema público para solucionar os problemas encontrados no atendimento da população defendendo o direito universal à saúde. Após a Constituição Federal de 1988, foi reconhecido o direito de todos de obter os serviços e ações de saúde independentemente de contribuição, diferentemente do que ocorre no sistema de previdência social, essencialmente contributivo. O Sistema Único de Saúde substituiu o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), autarquia responsável pela saúde dos contribuintes da Previdência. Diretrizes estabelecidas pela própria Constituição Federal de 1988: “Art. 196”. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade. Para conseguir atender à população, o SUS conta com rede própria e contratada, sendo que a participação da iniciativa privada dá-se apenas de forma complementar tendo preferência às entidades filantrópicas e as sem fim lucrativo. No Art. 200 da Constituição Federal de 1988, as atribuições do SUS variam da competência fiscalizatória e de controle das atividades que envolvam a saúde, passando pela produção de medicamentos e insumos, preparação dos profissionais e a busca pela inovação na saúde. O atendimento integral abrange apenas prestações exigíveis dos serviços do SUS, de caráter preventivo ou curativo, relacionadas a ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. Mesmo sendo fatores que influenciam e são importantes para saúde, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o lazer não devem ser considerados como ações e serviços de saúde a serem exigidos do SUS. A integralidade deve ser interpretada de modo a incluir atividades de prevenção epidemiológica, como vacinação, além dos atendimentos e consultas médicas, cirurgias, internações e de assistência farmacêutica, incluindo fornecimento de medicamento e de outros insumos como próteses, dentre outros. https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/o-direito-a-saude-na- constituicao-federal-de-1988/ Leis 8.080 e 8.142 regulamentam os serviços, a participação da sociedade e as bases de funcionamento do SUS. A implementação do SUS começou em 1990, mesmo ano da posse de Fernando Collor de Melo, que instaurou uma agenda neoliberal e não se comprometeu com a reforma sanitária. Ainda assim, em 1990, foi aprovada a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90), que especificava as atribuições e a organização do SUS. O projeto da reforma sanitária foi retomado em 1992, após o impeachment do presidente Collor (PAIM et al, 2011). A Lei 8.080/90 definiu os papéis institucionais de cada esfera governamental no plano da gestão da saúde, a estrutura de financiamento e as regras de transferência de recursos entre os diferentes níveis de governo, por meio dos Fundos de Saúde (CARVALHO; BARBOSA, 2010). Entretanto Collor não hesitava em vetar, quando da aprovação do SUS, os artigos referentes à participação da comunidade, entre outros temas de interesse da Reforma Sanitária. Esse veto à lei da saúde levou o movimento sanitário a pressionar o poder legislativo para uma tomada de posição, no que seria logo depois traduzido na nova Lei 8.142 (BRASIL, 2006). A Lei 8.142/90 dispôs sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde, instituindo assim os Conselhos de Saúde e conferiu status público aos organismos de representação de governos estaduais e municipais (CARVALHO; BARBOSA, 2010). O SUS é concebido como o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. A iniciativa privada poderá participar do SUS em caráter complementar (POLIGNANO, 2001). Um dos principais avanços da implementação do SUS, ao longo da década de 1990, se relaciona ao acelerado processo de descentralização político-administrativa, com progressiva transferência de responsabilidades e recursos do nível federal para os gestores estaduais e municipais (SOUZA, 2001). Ao longo da década de 1990, foram editadas quatro dessas normas — as NOB 01/91, NOB 01/92, NOB 01/93 e NOB 01/96, sendo que as duas últimas foram resultantes de processos de negociação progressivamente mais intensos entre os atores setoriais, particularmente no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite e do Conselho Nacional de Saúde. (SOUZA, 2001). Vendo-se a deficiência dessas normas, que não apresentavam na maioria das vezes aplicabilidade na prática, programaram-se os Pactos pela Saúde. O Pacto pela Saúde foi estabelecido para responder aos desafios atuais da gestão organização do sistema, para dar respostas concretas às necessidades de saúde da população brasileira, e tornar a saúde uma política de Estado mais do que uma política de governo. 1991- Estruturações da rede de atenção básica São estabelecidas nesta Norma tanto os aspectos de natureza operacional como também aqueles intrinsecamente necessários ao gerenciamento dos serviços e ações de saúde estabelecidas pela constituição de 1988, nos três níveis de governo, como também do controle, acompanhamento e fiscalização da aplicação dos recursos. Pretende–se que através do conhecimento e domínio total das instruções aqui contidas e da subsequente familiarização com o sistema de financiamento implantado possa ser adotada a política proposta, baseada na concessão de um crédito de confiança aos Estados e Municípios, sem prejuízo do acompanhamento a ser exercido pelos mecanismos de controle e avaliação que estão sendo desenvolvidos. Visando a adoção da nova política de financiamento do SUS, o orçamento do INAMPS, definido para o exercício de 1991, será dividido em cinco itens: a) financiamento da atividade ambulatorial proporcional à população; b) recursos transferidos na forma de AIHs (Autorização de Internação Hospitalar) a cada unidade executora proporcionalà população; c) custeio da máquina administrativa do INAMPS/MS; d) custeio de Programas Especiais em saúde. e) investimentos (despesas de capital), alocados no Plano Quinquenal de Saúde MS/ INAMPS, em lei orçamentária de iniciativa do Poder Executivo aprovados pelo Congresso Nacional, e em caráter excepcional a critério do Ministro de Estado da Saúde. É importante para o êxito do programa o pressuposto da contrapartida dos Estados e Municípios de valores estabelecidos nos seus orçamentos, em conformidade com os Planos Estaduais e Municipais aprovados pelos respectivos Conselhos e referendados pelo Poder Executivo. Descentralização e municipalização dos serviços e extinção do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) A descentralização surge como um princípio organizativo do SUS, o conceito de municipalização deriva dessa mesma prerrogativa, que é definida pelo seguinte: a retirada do poder em sua totalidade das mãos da esfera Federal e a garantia da autonomia dos estados e dos municípios, contanto que estes não violem os princípios básicos sob os quais o SUS é pautado (universalidade, equidade e integralidade). Em suma, essa descentralização compartimentaliza e distribui de forma justa e útil administrativamente entre União, Estado e Municípios, que ficam com a responsabilidade de formular, coordenar e aplicar políticas de saúde pública respectivamente. Esse princípio foi proposto inicialmente na VII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, juntamente à criação do SUS, e foram posteriormente aprovadas e inscritas na Constituição de 88, tendo sua regulamentação efetivada pelas leis n° 8080 e 8142, de 1990 (YUNES, 1999). O Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS) foi criado em 1977, pela Lei n° 6.439. Neste modelo podíamos observar uma autarquia de caráter federal que prestava seus serviços com base em princípios meritocráticos de seguro social, priorizando apenas um determinado grupo detentor do capital quando estes necessitavam de acesso aos serviços de saúde. Durante a década de 1980, o INAMPS enfrentava problemas advindos da crise financeira enfrentada pela nação, e lidava também com problemáticas geradas pela má administração do dinheiro que deveria ser voltado à sua manutenção. Dessa forma, as alternativas adotadas para reduzir as consequências visavam controlar os gastos gerados por evasão de investidores e fraudes, bem como a contenção da expansão dos contratos com prestadores privados, privilegiando o setor público. Em 1993, o INAMPS foi extinto pela Lei n° 8.689, as competências passaram então a ser de responsabilidade dos setores federal, estadual e municipal que então geriam o SUS, fato este que assegurou o princípio de descentralização mencionado anteriormente, e o direito universal à saúde pela população (CORDEIRO et al, c2009). Diante o contexto do ano de 1994, período ao qual o Brasil vinha enfrentando uma forte crise econômica, FHC foi um dos nomes mais credibilizados pelo sucesso do Plano Real, implantado com o intuito de controlar a hiperinflação. Na época, FHC tinha sido nomeado Ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco e em 1994 tornou-se Presidente da República, sendo sucedido devido ao sucesso do plano. Durante esse período, podem ser citados alguns pontos ao qual fizeram parte da trajetória e desenvolvimento da saúde no país, dentre eles estão: Aprovação do Regimento Interno dos Órgãos que compõem a Estrutura Regimental da Fundação Nacional de Saúde (Portaria GM/MS nº 1.835, de 1/11/1994); Obtenção, pelo Brasil, do Certificado Internacional de Erradicação da Transmissão Autóctone do Poliovírus Selvagem; A vacinação contra a febre amarela passou a ser responsabilidade do PNI; Instalação de CRIE em Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pará; Revisão, atualização e ampliação do Guia Nacional de Vigilância Epidemiológica (1ª edição); Surgimento do Programa de Saúde da Família (PSF) que trouxe seguridade de atendimento às famílias; Formação das primeiras equipes de Saúde da Família com a normatização do programa através da Portaria n° 692, de 25 de Março de 1994. A ênfase foi dada ao Programa de Saúde da Família (PSF) que surgiu no final de 1993, para atender o núcleo familiar, enfrentando os problemas na implantação do SUS e buscando atender as necessidades da população manifestadas como prioritárias. Em 1994, o Ministério da Saúde determina que para a implantação do PSF seria necessário atender alguns requisitos, como: uma clientela de, no máximo, 4.500 pessoas e uma equipe composta de no mínimo, um médico, um enfermeiro, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Teve seu início com a formulação do PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde) em 1991, partindo do olhar individual para uma visão voltada à família. Já em 1994 foram formadas as primeiras equipes de Saúde da Família, ano em que ocorreu a normatização desse programa, mediante a promulgação da Portaria nº. 692, de 25 de março de 1994. O Programa de Saúde da Família, hoje conhecido como Estratégia de Saúde da Família, propõe uma nova dinâmica para estruturação dos serviços de saúde, assumindo o compromisso de prestar assistência integral à população de acordo com as necessidades prioritárias, buscando também humanizar as práticas, desenvolver ações de promoção à saúde (preventivas, curativas e de reabilitação), incluir a família como partícipe do processo saúde- doença e garantir cidadania à comunidade, ou seja, busca substituir o modelo tradicional, levando a saúde para mais perto da família e, com isso, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. Além disso, está no primeiro nível de atenção do SUS, sendo considerado uma estratégia primordial para a organização e fortalecimento da atenção básica. É indispensável o trabalho de equipes multiprofissionais que devem atuar em uma perspectiva interdisciplinar. Os membros da equipe articulam suas práticas e saberes no enfrentamento de cada situação identificada para propor soluções conjuntamente e intervir de maneira adequada já que todos conhecem a problemática. O agente comunitário de saúde é fundamental na comunicação entre a equipe e a família, pois trabalha diretamente com a população acompanhando-a e criando subsídios para obtenção de informações que serão transmitidos à equipe. Diante disso, o Programa de Saúde da Família foi uma ferramenta que ampliou o conceito de saúde – doença, uma vez que aproximado diretamente da população, havia a possibilidade de assistir aos problemas enfrentados que influenciavam diretamente na saúde da comunidade. Problemas esses não só ligados a doença em si, mas a qualidade de vida das pessoas do local, contando com questões sociais, financeiras, educacionais..., ou seja, passando a avaliar o paciente dentro de todo um contexto, intervindo assim diretamente nos determinantes de saúde com intuito de promover melhorias na saúde da população. Dessa forma, o modelo biomédico seria substituído pelo biopsicossocial, o olhar o ser humano amplamente (visão holística), pois os fatores externos são grandes influências que garantem ou não o bem-estar completo (físico, social, mental), garantindo além do direito à cidadania, uma assistência integral e humanizada para a população, melhorando consequentemente a sua qualidade de vida. LINHA DO TEMPO 1989 – Eleição de Fernando Collor leva à adoção de uma política neoliberal que resulta em uma oferta de serviços discriminatória e seletiva no âmbito do sistema público. 1990 – Lei n° 8.080 que previa direito à saúde pública para toda a população, embora tenha sido alterada em parte pelos vetos do então Presidente Collor. Lei n° 8.142, recuperou o direito à Gestão Participativa no SUS que havia sido previamente proposta pela Lei n° 8.080.1991 – Estruturação da rede de atenção básica em saúde com o Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Formulação do Programa de Agentes Comunitários em Saúde (PACS), que surge como uma tentativa de melhorar as condições de saúde de determinadas áreas do território brasileiro. 1992 – IX Conferência Nacional de Saúde aborda temas como: Sociedade, Governo e Saúde; Seguridade Social, Implementação do SUS e Controle Social. Redução dos recursos de custeio e paralisação nos investimentos em manutenção e ampliação da rede de serviços. 1993 – Fraudes e problemas relacionados à evasão do setor privado nos investimentos do sistema de saúde levam à extinção do INAMPS. Início do processo que investe de fato na descentralização proposta nas Leis 8.080 e 8.142 que dividiram o poder entre as esferas Federal, Estadual e municipal que geriam o SUS. 1994 – Surgimento do Programa de Saúde da Família (PSF) que trouxe seguridade de atendimento às famílias em suas necessidades consideradas básicas, buscando humanizar o atendimento nos níveis básicos. Formação das primeiras equipes de Saúde da Família com a normatização do programa através da Portaria n° 692, de 25 de Março de 1994.
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