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DELVACYR COSTA 1 RESERVADO PARA DEDICATÓRIA DELVACYR COSTA 2 DELVACYR COSTA 3 DELVACYR COSTA 4 Copyright © 2020 – Delvacyr Costa Todos os direitos autorais reservados: É expressamente proibida a reprodução deste livro, no seu todo ou em parte, por quaisquer meios, sem o devido consentimento por escrito. Capa: ?????????? Revisão: Alvacyr Costa Diagramação: Carlos Siqueira Editor Gráfico: Augusto Balbino Impressão Gráfica – D7 Editora - Brasil Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. _____________________________________________________________ COSTA, Delvacyr Epitáfios 1ª Edição: Março 2020 Campinas/SP Classificação: Literatura Religiosa/Teologia/Devocional _____________________________________________________________ Facebook: Delvacyr Costa E-mail: prdelvacyr@hotmail.com Contato: (45) 99912.0113 DELVACYR COSTA 5 SUMÁRIO Prefácio................................................................................07 Epitáfios..............................................................................08 Andava com Deus...............................................................13 Falava face a face com Deus...............................................22 Tentou ajudar a Deus...........................................................26 Vou pelo caminho de todos os mortais...............................31 Se foi sem deixar saudades..................................................37 Nu sai do ventre de minha mãe e nu tornarei......................43 Ele foi amigo de Deus.........................................................49 Ele amou ao presente século...............................................55 O perturbador de Israel........................................................61 O melhor rei de Israel..........................................................70 Deus se tornou favorável para com ele...............................76 Eis que vejo os céus abertos................................................81 Combati o bom combate.....................................................85 Morreu por não dar glória a Deus.......................................89 O homem segundo o coração de Deus................................97 Aprovado em Cristo..........................................................103 DELVACYR COSTA 6 Ele não está aqui................................................................107 Qual será seu epitáfio........................................................111 Referências........................................................................114 DELVACYR COSTA 7 PREFÁCIO Epitáfios... Nem todos tiveram, tem ou terão o seu... Não sei se terei o meu. E, se tiver um, não imagino qual será. Algumas vezes, pregando sobre homens da mais alta estirpe como, por exemplo, Enoque, Moisés, Elias, lhes invejei o que poderiam ser os respectivos "epitáfios". Em algumas dessas ocasiões, afirmei aos meus ouvintes que gostaria de viver de tal forma que, ao deixar minha peregrinação terrena, eu merecesse que, na mais honesta sinceridade, se pudesse inscrever em minha lápide: "Ele andou com Deus". Delvacyr, neste novo trabalho, aborda o sugestivo tema. E o faz de maneira bem edificante: Aponta o persona- gem, analisa e expõe sua trajetória e concluí como desceu à última morada. E, naturalmente, dentro de seu escopo, destaca a marca final de sua existência e que bem poderia ser lavrada em sua pedra sepulcral, quer lamentando, quer enaltecendo a existência então finda. Daí conclui, não poderia ser diferente, lançando o desafio - ou a advertência - pertinente, procurando induzir o leitor a refletir sobre como conduzir uma vivência que lhe permita deixar de si uma mais louvável recordação. Parabéns, meu filho! Belo trabalho! Alvacyr Costa DELVACYR COSTA 8 EPITÁFIOS O "ep(i)-" de "epitáfio" vem do grego e, nesse caso, significa "por cima de", "sobre". Está presente, por exemplo, em "epiderme", "epiglote", "epicentro". O elemento pospo- sitivo "-táfio", também grego, significa "funeral", "sepultu- ra". Pois bem: "Epitáfio" significa sobre o túmulo e nada mais é do que uma inscrição tumular, ou seja, algo que se escreve numa pedra tumular. Muitas pessoas, principalmente escritores famosos, celebridades diversas, comentam que frase gostariam que fosse escrita em suas lápides. Porém, nem sempre a família cumpre o desejo do falecido por não a considerarem apro- priada. Os epitáfios no passado procuravam narrar os atos heróicos do nobre, rei ou membro proeminente da corte. Com o passar dos tempos, começou a ser usado por toda população, para lembrar as qualidades daquele ente querido que partiu, deixando muita saudade. Epitáfios famosos: “Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino” (Mário Quintana, escritor e poeta brasileiro) DELVACYR COSTA 9 “É uma honra para o gênero humano que tal homem tenha existido." (Isaac Newton, cientista e físico inglês) “Foi poeta, sonhou e amou na vida." (Álvares de Azevedo, escritor brasileiro) "O tempo não pára..." (Cazuza, cantor brasileiro) Epitáfios Engraçados É difícil imaginar que algo tão sério possa ser engra- çado ou curioso, mas algumas pessoas mantêm seu humor até após a morte. Mel Blanc foi um grande ator norte-americano. Você pode não conhecer o seu rosto, mas sem dúvidas conhece a sua voz: ele era o responsável por dublar personagens como Pernalonga, Patolino, Gaguinho, Frango- lino, entre outros. Por isso, a frase escolhida para a sua lápide foi “Isso é tudo, pessoal”. A morte do jovem George Spencer Millet foi tão incomum que ficou gravada em sua lápide: “Perdeu a vida por facada ao cair sobre um removedor de tinta, fugindo de seis jovens que tentavam lhe dar beijos de aniversário no escritório do Edifício Metropolitan Life”. Em 15 de fevereiro de 1909, 15º aniversário de George e um dia após o Dia dos Namorados, suas colegas de trabalho saíram correndo atrás do jovem, para lhe darem beijos em comemoração pelas duas datas. Assustado, ele saiu correndo e acabou caindo sobre um removedor de tinta, um pequeno instrumento de metal, semelhante a uma faca. Chocados com o ocorrido, os funcionários chamaram uma ambulância, mas nada pôde ser feito. DELVACYR COSTA 10 Este curioso epitáfio fica no Cemitério da Universi- dade do Tennessee: “Enquanto ele viveu, ele estava vivo”. Ninguém pode dizer que Murphy A. Dreher Jr. não era uma pessoa otimista: “Isto não é tão ruim, uma vez que você se acostuma”. Merv Griffin, apresentador de televisão, músico, cantor, ator e magnata da mídia norte-americana, escolheu a seguinte frase: “Eu não vou voltar depois desta mensagem”. Frank Sinatra cantor, ator e produtor, escolheu o nome de sua famosa canção: “O melhor ainda está por vir”. Epitáfio de um sapateiro: "Bati as botas!" Epitáfio de um confeiteiro: “Acabou-se o que era doce!" Aqui descansa minha querida sogra MARIA GERTRUDES 1940 – 2002. “Senhor, recebe-a com a mesma alegria com que te mando” Aqui descansa PANCRÁCIO JUVENALES 1968 – 1993. “Buén esposo. Buén padre. Mal electrecista casero” TOMÁS JIMOTEO CHINCHILA 1967 – 1989. “A hora estás con El Señor. Señor, cuidado com la cartera” Titãs é uma banda de rock formada na cidade de São Paulo, em 1982. Embora originalmente tocassem pop-rock alternativo em seus primórdios, o grupo também já utilizou diversos outros gêneros ao longo de mais de 30 anos de carreira, como new wave, punk rock, grunge, MPB e música eletrônica. Um de seus grandes sucessos, com mais de cem mil cópias vendidas no ano de seu lançamento, é Epitáfio, composição de Sérgio Britto. DELVACYR COSTA11 A música “Epitáfio” original de 2002 com a vocali- zação de Sérgio Brito fala de alguns arrependimentos que todos nós temos na vida. Algumas frases pontuam a canção como “devia ter me importado menos com problemas pequenos” e “queria ter aceitado as pessoas como elas são”. Foi dedicada ao guitarrista Marcelo Fromer, que morreu atropelado no ano anterior aos 39 anos. Marcelo era um artista de muitas funções e estava escrevendo um livro para o comentarista e ex jogador Casagrande. O livro foi concluído em 2013 por Gilvan Ribeiro. A letra de Britto parece o auto epitáfio de um morto- vivo de lucidez tardia. Veja a canção completa: Devia ter amado mais Ter chorado mais Ter visto o sol nascer Devia ter arriscado mais E até errado mais Ter feito o que eu queria fazer Queria ter aceitado As pessoas como elas são Cada um sabe a alegria E a dor que traz no coração O acaso vai me proteger Enquanto eu andar distraído O acaso vai me proteger Enquanto eu andar Devia ter complicado menos Trabalhado menos Ter visto o sol se pôr Devia ter me importado menos DELVACYR COSTA 12 Com problemas pequenos Ter morrido de amor Queria ter aceitado A vida como ela é A cada um cabe alegrias E a tristeza que vier O acaso… Espero, sinceramente, que esse não seja nosso epitáfio. Uma declaração triste e trágica de fracasso nas relações humanas. A Bíblia também apresenta muitos epitáfios. O próprio Deus escreveu alguns deles. São verdades sobre personagens bíblicos, definindo suas vidas, seu caráter ou, até mesmo, a falta deles. São frases curtas, mas extremamente reveladoras. Algumas nos motivam, nos servem de exemplo. Outras são trágicas e mostram como não devemos ser e agir. Um fato muito marcante em minha infância foi o testemunho que ouvi de um missionário sueco que pasto- reava a Igreja Batista de Rio Grande, cujo nome era Bo Tengo. Após longo e doloroso período de enfermidade, ele senta-se na cama e dá um brado: “Aleluia! Eu venci!” E depois tomba sem vida. Que belo epitáfio! Que testemunho. Que fé! Neste livro que lhe chega às mãos, vamos analisar alguns destes epitáfios. Minha ideia inicial era uma série de pregações, mas resolvi transformar em livro. Espero que essa leitura lhe faça refletir profundamente sobre a vida, a sua vida, mas também sobre o testemunho que se dará dela um dia, testemunho em forma de Epitáfio. DELVACYR COSTA 13 ANDAVA COM DEUS! Estas são as gerações de Noé. Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus (Gênesis 6.9) A Bíblia afirma que a maldade dos homens havia se multiplicado por sobre a terra de tal forma, que o Senhor se arrependeu de ter criado o homem. Era tempo de grande violência e desregramento. Os homens não respeitavam a vida de seus iguais. Eram violentos em todos os sentidos. A luxúria e a falta de respeito também eram enormes. Hoje, as notícias de crimes terríveis e de desrespeito pela vida nos assustam também. Mas não são novidades trazidas pela modernidade. Já nos primeiros tempos, antes mesmo do dilúvio, a maldade do homem e suas atitudes desrespeitosas e grosseiras eram conhecidas. Imaginamos, às vezes, que estupros, homicídios, rou- bos, maledicências, grosserias, falta de respeito são frutos da modernidade. Que “hoje em dia as coisas estão indo de mal a pior...”. Mas a maldade do homem é absurda desde os dias anteriores a Noé. No entanto, havia um homem que achara graça diante do Senhor. Ele não havia se contaminado. DELVACYR COSTA 14 Seus dias eram maus. Ele, provavelmente, aprendera que várias coisas “não tinham nada a ver...”. Ele foi bombardeado com toda informação negativa que levava à violência e à luxúria. Ele era um homem comum, vivendo o seu tempo, mas, entre todos os homens, Noé achara graça diante de Deus. Hoje, eu me pergunto se é possível manter valores e crenças em um mundo tão devastado pelo pecado. O nosso pecado. Mas, através desse texto de Gênesis, eu posso dizer que é possível. É possível terminar sua jornada e ter na sua lápide a inscrição: ELE ANDAVA COM DEUS! Andar com Deus é um propósito eterno do próprio Deus. Vemos no Velho Testamento, no livro de Gênesis, que Deus criou o homem com um propósito: para andar com Ele. A Bíblia diz que na viração do dia, lá no Jardim do Éden, Deus caminhava com o homem. Deus tinha prazer em procurar o homem e caminhar com ele. Deus passeava – só se passeia com alguém que se ama. Há um hino muito antigo, lembro de meus queridos pais, Alvacyr e Delma, cantando em dueto: Meu Deus e eu andamos pelos prados, Quais bons amigos, juntos a passear; Dadas as mãos, alegres conversamos, Sem nada, nada a nos atrapalhar; Dadas as mãos, alegres conversamos, Sem nada, nada a nos atrapalhar. DELVACYR COSTA 15 Meu Deus me conta de outros tempos, quando Eternos planos ele fez por mim; Quando o que vejo era apenas sonho, Quando ele o mundo fez tão belo assim; Quando o que vejo era apenas sonho, Quando ele o mundo fez tão belo assim. Meu Deus e eu, eternamente juntos, Quais bons amigos, vamos sempre andar; Inda que o céu e a própria terra passem, Nada de Deus me pode separar; Inda que o céu e a própria terra passem, Nada de Deus me pode separar. Esse era o plano de Deus. Foi para isso que ele nos criou. Para andarmos com Ele. Mas houve o momento em que Adão decide se afastar do Senhor, a criatura afronta o Criador. O homem resolve caminhar sozinho. Ele não quer mais ter seus passos dirigidos por Deus, ele quer decidir por onde andar. Ele se acha autosuficiente. O engano passa a tomar conta do seu coração. Ele acredita ser capaz de determinar o que era bom ou mau. Adão acredita que ser independente de Deus era a melhor opção, o melhor caminho a seguir. E inicia sua jor- nada que o leva para longe de Deus. E, como representante da raça humana, nos leva junto. Com Adão, todos nós nos afastamos de Deus. Todos deixamos de andar com Ele. Andar com Deus é uma questão de escolha. Aprendi que tudo na vida é uma questão de escolha. Ninguém é obrigado a andar com Deus. Deus nos dotou de capacidade de escolha. Um dos termos mais discutidos na teologia é o Livre Arbítrio. Sem entrarmos na questão DELVACYR COSTA 16 teológica, percebo que “Quem quiser”, “Se alguém quiser” - são termos comuns nas Escrituras. Você tem liberdade de ir e vir por onde bem entender e fazer o que quiser. Você pode escolher sua própria condição e seu próprio destino. E as opções são várias. Vejamos algumas: Egoísmo – seguir a si mesmo. Egoísmo é um substantivo masculino que nomeia um amor próprio excessivo, que leva um indivíduo a olhar só para os suas opiniões, interesses e necessidades, e que despreza as necessidades alheias. Egoísmo é um exclusi- vismo que faz o indivíduo se referir em tudo a si próprio. É um orgulho, uma presunção. A pessoa que trata só de seus interesses, que carrega consigo os sentimentos do egoísmo é adjetivada de egoísta. Na psicologia, tal atitude é chamada de egocentrismo. O egoísmo é um comportamento que leva o indivíduo a desejar total exclusividade sobre o sentimento alheio, gerando ciúme, um sentimento negativo, que quando exage- rado, torna-se uma paranoia. O contrário de egoísmo é o altruísmo, ou seja, um comportamento de quem tem amor ao próximo, que é abne- gado, solidário com os outros. De certa forma, o egoísmo é a causa da queda, é a raiz de todo o pecado. Hedonismo – satisfazer a si mesmo. O hedonismo é uma doutrina filosófica que proclama o prazer como fim supremo da vida. Por isso, os hedonistas DELVACYR COSTA 17 baseiam a sua existência na busca pelo prazer e na supressão da dor. Trata-se de um grupo de teorias morais que destacam que, de uma forma geral, tudo o que o homem faz é uma forma de conseguir/obteroutra coisa. Só o próprio prazer é procurado por si só. A ambiguidade intrínseca do conceito de prazer faz com que pensadores bastante diferentes eles sejam agru- pados na trama geral do Hedonismo. Convém destacar que muitas religiões condenam o hedonismo por considerarem que lhe falta moral. O cris- tianismo, por exemplo, considera que o hedonismo vai contra os princípios bíblicos, uma vez que coloca o prazer à frente do amor a Deus e do amor ao próximo. Ateísmo – não crer. O Ateísmo representa a negação categórica da exis- tência de divindades e entidades sobrenaturais, ou seja, da presença de Deus ou de outros deuses no Universo. Ateísmo é o conceito oposto ao do teísmo, à crença em Deus. O Ateísmo se desenvolveu a partir do crescimento de ideias baseadas no ceticismo científico e da difusão do pen- samento livre. As constantes e crescentes críticas à religião também representaram um reforço para que os argumentos ateístas ganhassem força e destaque. No entanto, somente a partir do século XVIII, com o Iluminismo, é que começaram a surgir os primeiros indiví- duos que se autodeclaravam ateus. Atualmente, a Suécia é o país com maior concentração de ateus no mundo, apro- ximadamente 85% da população local. DELVACYR COSTA 18 O ateísmo não é uma religião, pois não se baseia nos preceitos básicos das doutrinas religiosas, como a crença em um ser superior, a prática de rituais ou de outras regras dou- trinais, por exemplo. O ateísmo consiste numa visão e posi- ção filosófica sobre a vida. Etimologicamente, a palavra ateísmo se originou a partir do grego atheos, que pode ser traduzido literalmente como "sem deus". Inicialmente, este termo, tido como pejo- rativo, costumava ser usado para se referir às pessoas que não acreditavam nos deuses que eram adorados pela sociedade da época. Esse é mais um dos caminhos que o homem escolheu para andar, ao invés de andar com Deus. Religiosidade – ser religioso e andar com Deus são coisas diferentes. Certa vez Stanley Jones, missionário da Igreja Meto- dista na Índia, definiu assim a religião: “A religião é a busca do homem por Deus, por isso há muitas religiões. Mas o Evangelho é Deus buscando o homem, por isso há somente um Evangelho”. A frase do Rev. Stanley é pertinente se consideramos que consciente ou não, o homem busca a Deus para preencher o vazio da sua alma. Mas ele o faz à sua maneira – formas diversas e comumente erradas. Mas o Evangelho é Deus resgatando o homem por meio de Jesus, com a palavra da Verdade. Deus é único, e ímpar é a sua Palavra. Por isso, assim como só existe um Deus, também só existe um Evangelho. Muitos deuses e muitas promessas de salvação existem, contudo, só um pode libertar e salvar. A palavra “religião” vem do latim religio, que signi- fica “religar”. O conceito implícito nesta palavra é o de uma tentativa do homem de ‘religar-se’ a Deus, reatando uma DELVACYR COSTA 19 comunhão rompida. Esse sentimento religioso é comum a todos os homens, não importando sua origem social ou geográfica”. Assim, a religião surgiu no vácuo provocado pela ausência da comunhão autêntica com Deus. O homem foi feito para viver em comunhão com Deus e, na falta dessa comunhão, ele experimenta, ainda que inconscientemente, um sentimento de profunda frustração. Esse anseio é que originou na humanidade a busca religiosa. A religiosidade é o caminho do esforço pessoal, das regras, das doutrinas, dos mandamentos, das proibições, da lei, dos dogmas, dos rituais litúrgicos, dos sacrifícios, das repetições, da ascese. É o caminho do homem. É a tentativa do homem. E, normalmente, o religioso julga os diferentes. A religiosidade é exclusiva e excludente. Exclusiva, porque tem que ser assim como eu creio e faço. Excludente porque julga e afasta os que pensam e agem de forma diferente. Religiosidade é diferente de espiritualidade. Espiritua- lidade é o caminho da comunhão, da intimidade, bem dife- rente da religiosidade. Mas andar com Deus é escolher o caminho do próprio Deus. É permitir que o Senhor reestabeleça seu propósito original. É aceitar as regras de Deus. É submeter-se inteira e incondicionalmente à sua vontade e buscar a intimidade a cada dia. Andar com Deus é relacionamento. Pessoal, direto, íntimo e personalizado. Foi assim com Adão no Éden. É assim com aqueles que hoje decidem andar com Deus. O que é andar com Deus? O andar com Deus inicia-se com a conversão. No No- vo Testamento um dos termos usados é “Metanóia”. Metanoia significa a ação de mudar de ideia ou pensamento, DELVACYR COSTA 20 ou seja, deixar de seguir ou acreditar em determinada coisa para vivenciar um novo modo de enxergar a vida, por exemplo. Do ponto de vista teológico, a metanóia representa o processo de arrependimento e conversão do indivíduo para determinada doutrina. Consiste na reinterpretação que a pessoa tem da sua vida, seja moral, intelectual ou espiri- tualmente. Ou seja, quando uma pessoa escolhe andar com Deus, os valores mudam. Sua forma de encarar a vida muda. Seus conceitos mudam. Seus princípios e valores mudam. O estilo de vida não é mais o mesmo, pelo contrário, torna-se totalmente diferente. Os planos e propósitos agora são ou- tros. Andar com Deus é um modo, é uma expressão de comportamento. Aquele que anda com Deus se torna dife- rente das outras pessoas. Ele ou ela manifesta a própria vida do Senhor em sua história. Quando uma pessoa se entrega a Jesus, ela não muda de religião. Ela muda de caminho. Ela caminhava em direção à morte, agora caminha em direção à vida. Andar no caminho do Senhor é andar no bom caminho. É andar sem dureza no coração, mas quebrantado, humilde, despojado de orgulho. Andar humildemente com Deus é andar na dependên- cia dele. É andar com o seu coração voltado para Ele. É andar desejando o Senhor acima de todas as coisas. É estar disposto a servi-lo em tudo e sempre. Andar com Deus sempre traz consequências e resultados. DELVACYR COSTA 21 Andar com Deus, assim como a maioria das escolhas que fazemos, produz consequências e resultados. Noé foi zombado e desprezado. Foi considerado louco. Mais de mil e quinhentos anos de história do mundo e nunca havia chovido. Nem uma pancadinha de chuva sequer. O povo nem sabia o que era uma chuva. A ideia de água caindo do céu em grande quantidade era absurda. Noé foi declarado louco, demente, fora da realidade, fora da casinha. E ainda mais, ele estava construindo um navio num lugar onde não havia mar; alguns pequenos riachos talvez, e nada mais. Noé perdeu amigos e seus familiares se afastaram. Tornou-se um homem solitário e mal compreendido. Na verdade, provavelmente, ele era visto como um excêntrico. Todo excêntrico é solitário. Num mundo que anda consigo e para si, andar com Deus pode não ser popular. Mas além das consequências, existem os resultados. Quando alguém escolhe andar com Deus, Deus passa a andar com ele. Você nunca mais estará só. Deus estará sempre, em todo lugar, com você. O resultado final de andar com Deus é a salvação. Noé foi salvo do dilúvio. Ele e sua família foram preservados com vida na destruição que assolou a Terra. Quem anda com Deus terá o céu como resultado dessa caminhada. O céu é a morada final, o destino eterno, daqueles que andam com Deus aqui na Terra. O que estará escrito no seu epitáfio? No de Noé estava escrito: “Ele andava com Deus!” DELVACYR COSTA 22 FALAVA FACE A FACE COM DEUS Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, com quem o SENHOR houvesse tratado (fala- do) face a face. (Deuteronômio 34.10) Moisés teve seu túmulo construído pelo próprio Deus. No alto de um monte, com uma vista maravilhosa. De seu túmulo se avistava a Terra Prometida. O túmulo de Moisés poderia ter uma lápide. Não possuía foto, mas umepitáfio: “ELE FALAVA COM DEUS FACE A FACE”. Como isso foi possível? Ele tinha uma relação direta, pessoal e personalizada com Deus. O povo de Israel, em Êxodo 20.19, conversa com Moisés e lhe diz que não querem uma relação direta com Deus. Eles querem um mediador, um intermediário: o próprio Moisés. E disseram a Moisés: Fala tu conosco, e ouviremos: e não fale Deus conosco, para que não morramos. Ainda hoje as pessoas agem da mesma maneira. Mas Moisés era diferente. Ele não buscou intermediários. Nem pastor, nem padre, nem sacerdote. Não buscou uma igreja, ou mesmo rituais, velas, missas, sacrifícios, rezas. Moisés buscou a Deus. Ele desejava conhecer a Deus. Ele desejava andar com Deus. Ele estava disposto a servir a Deus. Não quero ver outra DELVACYR COSTA 23 face a não ser a Tua. Não quero conhecer outro ser a não ser a Ti. Não quero ouvir outra voz, senão a Tua. Esse era Moisés. Ele foi ousado em sua relação com Deus. Exatamente por conhecer a Deus Moisés agia como agia. Ele desafiou a Deus em diversas circunstâncias. Não foi tímido, não foi medroso. Ele brigou com Deus. Meu querido e saudoso amigo, Reverendo Roberval Andrade me disse uma vez: “Deus gosta de gente que tem coragem de brigar com ele”. Moisés foi além da religiosidade. Muito além das ora- ções repetidas, formatadas, decoradas, rezas. Ele não ligava para posturas ou posições, muito menos para lugares espe- cíficos. Moisés foi além da formalidade. Não tentou impres- sionar Deus com orações eloquentes. Não se apegou a repetição dos títulos divinos. Suas orações revelam inti- midade crescente. Cada vez mais perto. Cada vez mais ousa- do. Cada vez mais íntimo. Ele tinha tempo e disposição para ouvir a Deus. Para falar e ouvir a Deus é preciso ter tempo para ele. Não ter pressa na presença de Deus. Tem gente que vai para o templo e passa o tempo olhando para o relógio. Ter pressa de retornar para casa. Ouvir a Deus não é despejar sua lista de pedidos e desejos e sair correndo. Nosso estilo de vida é uma roda viva. Vivemos na correria. Estamos sempre com pressa. Administramos mal nosso tempo. Temos prioridades não definidas ou pior, erradas. Gostamos do instantâneo, do DELVACYR COSTA 24 imediato, do fast food inclusive na vida espiritual e ecle- siástica. Para conversar com Deus é preciso ter tempo para Deus. Priorizar Deus na sua agenda, no seu tempo. Não ter pressa de sair de sua presença. Buscar com intensidade. Moisés ficou, por duas vezes, quarenta dias na presença de Deus. Hoje as pessoas têm dificuldade em ficar quarenta minutos. Para ouvir a Deus é preciso ter disposição para ouvir Deus. Não é apenas ser ouvido por Deus. É ouvir o que Deus tem para nos dizer. É ficar lá, até que ele fale. Tem muita gente com medo de ouvir o que Deus tem para dizer. E se Ele me repreender? E se Ele me ordenar algo que não quero? E se Ele exigir algo que não sou capaz? Essa é a atitude e o medo de quem não conhece a Deus. Deus sempre tem e quer o melhor para nós. A atitude de Moisés era: “Não vou sair da Tua pre- sença enquanto o Senhor não falar comigo”. Por isso Deus falava com ele. E ele com Deus. Prontidão para obedecer a Deus. Depois de uma breve relutância inicial, no episódio da sarça ardente, ele se rendeu incondicionalmente a Deus. Moisés obedecia sempre e em tudo ao Senhor. Ele não escolhia as ordens a serem seguidas. Ele não recusava missões dadas. Para ele não existia normalidade ou bom senso. Deus falava e ele fazia. Simples assim. “Estende teu cajado para o Mar”, e ele estendeu. “Fala com a rocha”, e Moisés falou”. Tem gente querendo ouvir a Deus sem disposição para obedecer. Deus não fala com gente tímida, covarde e muito DELVACYR COSTA 25 menos com rebeldes à sua Palavra. Lembrando que se você não ouve Deus através da Palavra, não ouvirá de outra forma. Renda-se incondicionalmente a Deus e à sua vontade. Nunca mais houve alguém como Moisés com quem Deus falava face a face. Moisés não era um super-homem, um ser especial, um privilegiado. Ele buscou a Deus intensa e insistentemente. Pronto, sempre pronto, a obedecer. O epitáfio de Moisés poderia ter sido: ELE FALAVA COM DEUS FACE A FACE! E foi o próprio Deus quem escreveu. O que estará escrito na sua lápide tumular? Qual será seu epitáfio? DELVACYR COSTA 26 TENTOU AJUDAR A DEUS E, chegando à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus, e pegou nela; porque os bois a deixavam pender. Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus (II Samuel 6.6-7). Davi está levando a Arca da Aliança de volta para casa. Ela ficou por cerca de vinte anos na casa de Aminadabe, pai de Uzá. Agora Davi vai buscá-la! Uzá não podia carregar a arca da aliança, nem mesmo tocar nela. Mas ele tocou! Somente os levitas poderiam trabalhar no Tabernáculo, e depois no Templo. E cada um tinha sua função específica e exclusiva. Eram três as famílias dos levitas que trabalhavam no tabernáculo: a família de Coate (coatitas), a família de Gér- son (gersonitas) e a família de Merari (meraritas). Cada família tinha uma obrigação, um “ministério específico” no Tabernáculo. Coatitas - Os filhos de Coate tinham como serviço no tabernáculo o de levar o santuário e todos os móveis dele, porém, não podiam tocar nas coisas santas, por isso, antes de levarem o santuário e seus móveis, vinham os sacerdotes e o cobriam com peles finas (Números 4: 15). Os sacerdotes que determinavam o que cada um deveria carregar (Núme-ros DELVACYR COSTA 27 4.19) e os coatitas jamais poderiam ver as coisas santas, para não morrerem (Números 4.20). Gersonitas - Tinham como serviço levar as cortinas do tabernáculo, a tenda da congregação, sua coberta, a coberta de peles finas, que está sobre ele, o reposteiro da porta da tenda da congregação, as cortinas do pátio, o reposteiro da porta do pátio, que rodeia o tabernáculo e o altar, as suas cordas e todos os objetos do seu serviço e serviam em tudo quanto diz respeito a estas coisas (Números 4.24-26). Meraritas - Seu serviço era levar as tábuas do taberna- culo, os seus varais, as suas colunas e as suas bases; as colunas do pátio em redor, as suas bases, as suas estacas e as suas cordas, com todos os seus utensílios e com tudo o que pertence ao seu serviço (Números 4.31-33). Uzá era levita, mas da família de Merari. Portanto, não podia tocar na arca. E a arca deveria ser levada sobre os ombros dos sacerdotes e não num carro de boi. Por isso seu epitáfio foi: TENTOU AJUDAR A DEUS. Muitas pessoas erraram por tentar ajudar a Deus. Nessa narrativa bíblica vemos duas pessoas agindo fora dos princípios divinos, agindo fora da vontade de Deus. Davi e Uzá. OS ERROS DE DAVI E UZÁ Erros de Davi Davi chamou primeiramente as pessoas importantes de Israel. “Consultou Davi os capitães de mil, e os de cem, e todos os príncipes” (1 Crônicas 13:1). As pessoas “impor- tantes” – os ricos, os políticos, e outros de alguma influência entre o povo – frequentemente são as menos interessadas em DELVACYR COSTA 28 fazer a vontade do Senhor, pois acham que já têm tudo de que precisam sem o Senhor. Davi queria saber a opinião da congregação do povo. Disse Davi, “Se bem vos parece” e depois, “Se vem isso do Senhor… tornemos a trazer para nós a arca do nosso Deus; porque nos dias de Saul não nos valemos dela” (1 Crônicas 13.2-3). Davi colocou a opinião do povo acima da opinião do Senhor. Na verdade, se a coisa “vem do Senhor”, já não é preciso mais saber “se bem vos parece”. Houve uma incon- gruência, uma incoerência aqui. Uma vez que o Senhor falou sobre a coisa, é a opinião dele que devemos seguir. Davi se agradou com a opinião do povo. “Toda a congregaçãoconcordou” e “isso pareceu justo aos olhos de todo o povo” (1 Crônicas 13.4). Quando o povo deu seu apoio, Davi não queria saber mais “se vem isso do Senhor”. Infelizmente, quando vêem que algo agrada “toda a congregação” ou “todo o povo”, muitos líderes esquecem do que agrada ao Senhor! Muitas igrejas atualmente erram da mesma maneira, fazendo de tudo para agradar a congregação, mas descuidan- do em agradar ao Senhor. Erros de Uzá Esqueceu da Palavra expressa do Senhor. Os fins nunca justificam os meios. Ele queria fazer a obra de Deus, e nisso ele estava correto, mas a maneira foi errada. Se é para Deus, tem que ser do jeito de Deus. Se é para Deus tem que ser o melhor. Os detalhes também importam quando se serve ao Senhor. Uzá tentou assumir uma função que não lhe foi designada por Deus. Deus não deixa isso barato. Deus leva essas questões muito a sério. Nadabe e Abiú morreram por DELVACYR COSTA 29 não observarem os princípios divinos. Fogo estranho era proibido, mesmo que fosse para o Senhor. Saul não morreu por ser um mau rei, morreu por oferecer sacrifício, quando não poderia fazê-lo. Uzá achou que por ser para Deus poderia ser do seu jeito, mas não é assim que Deus vê. Tentando ajudar Deus nos dias atuais. As pessoas ainda tentam ajudar Deus. Quando insis- tem e tentam forçar conversões. Quando sufocam as outras com o evangelho sem deixar espaço para o Espírito Santo atuar. Quando emitem palavras de juízo e condenação sobre pecadores ou pessoas que pensam diferente. Quando conde- nam ao fogo do inferno quem não aderem ao evangelho ouvindo suas pregações. Quando profetizam sem ter sido mandadas. É absolutamente comum vermos pessoas ocupando púlpitos e dizendo em alto e bom som: “Eu profetizo”. Se Deus não falou, cale-se! Não diga o que Deus não disse. Não tente ajudar a Deus. Não dá certo. Não é certo. Pessoas tentam ajudar Deus a abençoar pessoas quando dão ordens sem respaldo divino. “Suspende a medicação”, “Dá tudo que tem no bolso ou na carteira”, “Vá, venha, etc”. Isso nunca dá certo. Isso traz problemas, confusão e morte. Porque as pessoas tentam ajudar a Deus? Por incredulidade. Não acham que Deus irá fazer; então elas dão o seu próprio jeito. Fazem o que acham que Deus deveria fazer. Por impaciência. Deus tem seu tempo! Vivemos no cronos, Deus age no Kairós. Mas nós queremos que ele faça, e faça já. E se ele não faz, tentamos fazer do nosso jeito. Colocamos a Arca no carro de bois. Estendemos a mão para DELVACYR COSTA 30 a Arca. É por causa da misericórdia de Deus que não somos consumidos. Espere Deus agir. Acalme seu coração e confie. Por irreverência. Uzá cresceu brincando ao redor da Arca. Vinte anos é muito tempo. Ele acostumou-se com a Arca. Ela tornou-se apenas mais um móvel na sala de seu pai. Ele perdeu o temor, a reverência, e achou que podia ajudar Deus a ser Deus. Muita gente começa bem, sendo instrumento usado poderosamente por Deus, mas vai se acostumando com o mover de Deus, com o agir de Deus. Milagres tornam-se normais, quase corriqueiros. Perdem o senso de temor e reverência. E acabam mortos. Por vaidade pessoal. Tem muita gente que se orgulha de ser um “grande servo de Deus”. Se é servo jamais poderá ser grande; se é grande, já não serve. Gostam do show, do espetáculo. Amam brilhar, aparecer. E usam Deus para isso! Usam Deus para que o show não pare e para que a glória pessoal não acabe. Uzá estragou um dia de festa nacional. Morreu no dia errado! Qual foi seu problema? Ele tentou ajudar a Deus. Deus não precisa de mim ou de você como não precisava de Davi ou de Uzá. Ele quer me usar, quer lhe usar, mas do jeito dele. O epitáfio de Uzá é trágico: TENTOU AJUDAR A DEUS. Como será o nosso? DELVACYR COSTA 31 VOU PELO CAMINHO DE TODOS OS MORTAIS Eu vou pelo caminho de todos os mortais. Coragem, pois, e sê homem! (I Reis 2.2) Em breve irei para onde toda a gente da terra acaba por ir. (Bíblia Gateway) Davi agora estava velho, muito velho, as portas da morte. Chama seu filho Salomão e, antes de morrer, lhe dá instruções a respeito de muitas coisas. Primeiramente, ele fala da transitoriedade da vida. Do fim certo e inexorável de todo ser humano. Não há ilusão. Ele sabe que está morrendo. E sabe que a morte é algo natural a todos. Ele foi o homem segundo o coração de Deus, mas nem por isso, escapará a morte. Se existe algo inevitável em nossa trajetória terrena, algo à que todos estamos fadados, é a certeza de que um dia seguiremos pelo caminho inevitável da morte. Quem de nós, em algum momento em nossas vidas, deixou de se questionar sobre qual o sentido da vida? Para que nos serve esse período tão breve de tempo que passamos por esse mundo? Muitos encontram o sentido da vida nos mais diversos propósitos, seja no trabalho, no acumulo de riquezas, em https://www.bible.com/pt/bible/1608/1KI.2.2.ARA https://www.bible.com/pt/bible/1608/1KI.2.2.ARA DELVACYR COSTA 32 paixões dessa vida. Mas em algum momento já paramos para pensar em qual o sentido da morte? “Bem, todos morrem um dia, é simples matemática. Nada de novo. A espera é que é um problema...” Charles Bukowski. Por quê morremos?" Morremos por que algo ocorreu no Éden que trouxe a morte para o nosso mundo. O final de todos os seres humanos é a morte Para alguns mais cedo, para outros mais tarde. Morrem recém-nascidos. Morrem jovens. Morrem adultos. Morrem idosos. Para uns inesperadamente, para outros, algo desejado ou anunciado. Alguns têm mortes trágicas e extremamente dolorosas, enquanto outros morrem dormindo tranquila e suavemente. Mas uma coisa é certa: Todos morrem. Gênesis, no capítulo cinco, discorrendo sobre os descendentes de Adão, são citados vários homens que alcan- çaram idades impressionantes: oitocentos e noventa e cinco anos, novecentos e trinta anos, novecentos e sessenta e dois anos, novecentos e sessenta e nove anos, mas, (com uma única exceção, Enoque) de todos se diz: e morreu! Todos tiveram o mesmo fim. Todos foram pelo caminho de todos os mortais. Davi venceu animais selvagens, derrotou gigantes, dizimou exércitos inimigos; e depois morreu. Davi conquis- tou muitas mulheres; e depois morreu. Gerou muitos filhos; e depois morreu. Davi acumulou riquezas; e depois morreu. Compôs muitas músicas; e depois morreu. DELVACYR COSTA 33 Um vídeo viralizou na internet quando do rompimento da Barragem de Brumadinho. Inicialmente dizia-se ser do dono da Pousada que desapareceu soterrada pela lama. Posteriormente o jornalista Sérgio Cursino, veio a público esclarecer que o texto e o vídeo eram dele. Independente do autor, o texto nos leva à reflexão, e fiz questão de reproduzí- lo aqui. Quando a Gente Vai Embora A GENTE VAI EMBORA e fica tudo aí, os planos em longo prazo e as tarefas de casa, as dívidas com o banco, as parcelas do carro novo que a gente comprou para ter status. A GENTE VAI EMBORA sem sequer guardar as comidas na geladeira, tudo apodrece, a roupa fica no va- ral. A GENTE VAI EMBORA, se dissolve e some toda a importância que pensávamos que tínhamos, a vida continua, as pessoas superam e seguem suas rotinas normalmente. A GENTE VAI EMBORA as brigas, as grosserias, a impaciência, serviram para nos afastar de quem nos trazia felicidade e amor. A GENTE VAI EMBORA e todos os grandes pro- blemas que achávamos que tínhamos se transformam em um imenso vazio, não existem problemas. Os problemas moram dentro de nós. As coisas têm a energia que coloca- mos nelas e exercem em nós a influência que permitimos. A GENTE VAI EMBORA e o mundo continua caótico, como se a nossa presença ou ausência não fizesse a menor diferença. Na verdade, não faz. Somos pequenos, DELVACYR COSTA 34 porém, prepotentes. Vivemos nos esquecendo de que amorte anda sempre à espreita. A GENTE VAI EMBORA, pois é. É bem assim: Piscou, a vida se vai.... O cachorro é doado e se apega aos novos donos. Os viúvos se casam novamente, andam de mãos dadas e vão ao cinema. A GENTE VAI EMBORA e somos rapidamente substituídos no cargo que ocupávamos na empresa. As coisas que nem sequer emprestávamos são doadas, algumas jogadas fora. Quando menos se espera, A GENTE VAI EMBO- RA. Aliás, quem espera morrer? Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse melhor. Talvez a gente colo- casse nossa melhor roupa hoje, talvez a gente comesse a sobremesa antes do almoço. Talvez a gente esperasse menos dos outros. Se a gente esperasse pela morte, talvez perdoasse mais, risse mais, saísse à tarde para ver o mar, talvez a gente quisesse mais tempo e menos dinheiro. Quem sabe, a gente entendesse que não vale a pena se entristecer com as coisas banais, ouvisse mais música e dançasse mesmo sem saber. O tempo voa. A partir do momento que a gente nasce, começa a viagem veloz com destino ao fim e ainda há aqueles que vivem com pressa! Sem se dar o presente de reparar que cada dia a mais é um dia a menos, porque A GENTE VAI EMBORA o tempo todo, aos poucos e um pouco mais a cada segundo que passa. DELVACYR COSTA 35 O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO com o tempo que lhe resta? Que possamos ser cada dia melhores e que saibamos reconhecer o que realmente importa nessa passagem pela Terra! Até porque, A GENTE VAI EMBORA... A morte é um fato inevitável. Na Bíblia há diversas passagens que tratam da transitoriedade da vida. Tiago com- parou a vida à neblina que se levanta pela manhã, mas com o aparecimento do sol, logo se dissipa (Tg 4.14). Moisés, escrevendo o Salmo 90, diz que a vida é como o dia de ontem que se foi; alguns vivem até setenta anos, outros até oitenta, mas “tudo passa rapidamente, e nós voamos” (Sl 90.4-6, 9- 10). O que fazer ante essa realidade? Tiago nos recomenda que a incerteza da vida deve nos lembrar quanto dependemos de Deus (Tg 4.15). Moisés nos aconselha que, diante da brevidade da vida, devemos pedir a Deus que nos ensine a administrar os nossos dias de tal forma que alcancemos coração sábio (Sl 90.12). Davi, no salmo 54, afirma: “… o Senhor é quem me sustenta a vida”. Diante disso, diz o salmista: “louvarei o teu nome, ó Senhor, porque é bom” (Sl 54.4 e 6). Jesus Cristo foi enviado ao nosso mundo (Jo 1.1-14), para reestruturar, restabelecer e reconectar o que foi perdido no Éden. Em toda a nossa história através das Escrituras Deus quer habitar entre os homens, e desde o princípio todos os fatos apontam para Jesus, aquele que venceria a morte (Rm 5.5-9)” e, vencendo-a, Ele nos libertou para que não vivês- semos limitados somente a vida mortal (1 Co 15.19). DELVACYR COSTA 36 Davi escreveu seu próprio epitáfio, consciente de sua transitoriedade e de sua partida muito próxima: “Eu vou pelo caminho de todos os mortais”. Estamos conscientes da transitoriedade de nossa vida ou vivemos como se fôssemos eternos? E a mais importante pergunta: Estamos preparados para irmos pelo caminho de todos os mortais? DELVACYR COSTA 37 SE FOI SEM DEIXAR SAUDADES Tinha trinta e dois anos de idade quando começou a reinar. Reinou oito anos em Jerusalém, e morreu sem deixar saudades. Foi enterrado em Jerusalém, mas não no cemitério real (II Crônicas 21.20) Já assisti incontáveis serviços fúnebres. Já visitei inúmeras famílias enlutadas. Já conversei com centenas de pessoas que perderam entes queridos. Uma coisa que sempre é manifestada é a saudade que essas pessoas deixaram. Quanto mais querida foi a pessoa, maior é o número de pessoas que se faz presente ao funeral e mais sentimentais são as manifestações e declarações de apreço e saudades. Já morei em muitas cidades em seis diferentes Estados brasileiros. Fiz muitas amizades, e sempre que precisava mudar, levava e deixava saudades. Se deixamos saudades é sinal que as pessoas nos guar- dam em seus corações, maior e mais precioso cofre do mundo. Deixar saudades nas pessoas é sinal que significa- mos algo para estas pessoas. A mãe sente saudades do filho quando este sai de casa, porque o ama. Se nós não deixamos saudades nas pessoas é porque fomos insignificantes e apenas estávamos lá como número e não como ser, como pessoa. Acredito que as pessoas seriam bem mais próximas das outras se conseguíssemos deixar saudades, boas lembranças. DELVACYR COSTA 38 É triste quando uma pessoa tem que se retirar de algum lugar porque os outros pedem para ela sair. Isto indica que essa pessoa é muito egoísta, pensa somente em si, ignorando os outros. Precisamos aprender a sermos pessoas humildes e servidoras e não fazermos dos outros nossos servidores. Precisamos aprender a conquistar o coração das pessoas, pois lá nossos nomes ficam eternizados. A saudade demonstra que não somos um peso para as pessoas, mas uma lembrança agradável. Jeorão um exemplo de alguém que não deixou saudades e foi sepultado sem nenhuma honra. O texto sagrado em II Crônicas 21.20, afirma: "(Jeorão) Era da idade de trinta e dois anos quando começou a reinar, e reinou em Jerusalém oito anos, e foi-se sem deixar de si saudades; e o sepultaram na Cidade de Davi, porém não nos sepulcros dos reis". Jeorão tinha tudo para deixar de si uma boa lembrança, pois era o filho mais velho do grande rei Josafá, um homem que buscou e levou seu povo a buscar uma vida de santidade diante de Deus. A pergunta que me faço é: Por que Jeorão não deixou saudades? A Bíblia nos revela os motivos. Ele era um homem muito mau. Ao tomar posse do reino em Judá, Jeorão manifestou toda sua arrogância e maldade, assumindo uma postura tirânica e cruel. Perdido em sua arrogância, numa imensa cegueira moral e espiritual, Jeorão não pensou duas vezes ao assassinar seus irmãos a sangue frio, em um ato cruel e totalmente contrário à normalidade humana, contrário as expectativas DELVACYR COSTA 39 naturais do homem, pois ninguém nunca espera que alguém assassine seus irmãos e ainda mais com tamanha crueldade e frieza! Ele não assassinou apenas uma ou duas pessoas. Jeorão assassinou seis pessoas, seus seis irmãos, sangue de seu sangue, carne de sua carne! Acredito que a maioria de nós conhece um caso de assassinato entre irmãos. Mas não paramos por aí. Quem nunca ouviu um ditado que diz “a língua mata?”. Sem dúvida, suas palavras tanto podem ser construtivas como destrutivas, tanto podem vivificar alguém como podem matá-lo! E quantas pessoas têm assassinado os sonhos de outras, de forma cruel e irresponsável, pessoas más ou desprovidas de sabedoria. Tome cuidado com o que você diz, suas palavras podem estar carregadas de morte. No ato de humilhar alguém ou caçoar dos simples você pode estar cometendo um assassinato sem perceber. Não faça como Jeorão que assassinou seus irmãos: DEIXE SAUDADES! Ele fez alianças erradas. Pesquisando sobre a vida de Jeorão, eu esperava uma atitude de mudança, uma atitude de arrependimento, esperava que pelo menos ele escolhesse alguém em sua vida que o influenciasse para o bem; uma mulher sábia que edificasse a sua casa, uma mulher que fosse uma bênção para sua vida, que o ajudasse em sua missão como rei; porem quando Jeorão resolve se casar, ele se casa com uma pessoa totalmente influenciada para o mal, ele se casa com a filha de Acabe e Jezabel, duas pessoas desprovidas da graça de Deus, inici- ando uma aliança com esta família. Quantos de nós desprezam a sabedoria divina e buscam para si a companhia de pessoas descomprometidas com Deus. DELVACYR COSTA 40 Se empolgam com a aparência, dão prioridade ao seu desejo carnal ou a “necessidade” de companhia por se sentirem “carentes”. Nãoobservam a vontade de Deus, pois seus olhos estão “reluzindo o brilho da paixão” e por isso não enxergam a vontade de Deus, não estão sensíveis à voz de Deus, pois sua sensibilidade “está aguçada para o seu amado ou amada”, desprezam a aliança com Deus pois “seu dedo esquerdo já se encontra ocupado”. Esta inobservância da realidade de que não há nem uma parte da luz com as trevas, de que não podemos caminhar por dois caminhos ou coxear por dois pensamentos, resulta em um grande desastre, pois geralmente esta inobservância, afasta o indivíduo de Deus. Não seja inconsequente em seus atos como foi Jeorão, DEIXE SAUDADES! Jeorão não deixou saudades por causa de seu fana- tismo. Nessa altura Jeorão me parece completamente perdido em sua trajetória; tomou por mulher alguém que o ajudou a se tornar pior do que já era, assassinou seus irmãos e alguns príncipes de Judá, não observou a revolta dos edomitas como um aviso para o arrependimento dos seus maus caminhos; e provavelmente tendo grande aprovação de sua mulher, cometeu tamanha loucura, tamanha irracionalidade, tamanha perda de sentidos levantando altares a outros deuses. E quantos que nos dias de hoje tem levantado altares a ídolos ou até mesmo a deuses estranhos! Muitos trocam a presença do Espírito Santo por uma estátua de madeira, gesso, metal, ou seja, lá do que for. Se curvam em atitudes de adoração e usam a desculpa de estarem apenas venerando, caindo no mesmo erro, pois venerar significa também “render culto”, e só o Deus vivo e verdadeiro é digno de ser cultuado; outros mudam seu foco do Criador para alguém que tem por DELVACYR COSTA 41 muito especial, alguém de muito prestígio, um cantor ou cantora, uma banda favorita, um time de futebol, ou até mesmo um programa de televisão, uma novela, ou melhor dizendo, algumas novelas, novelas depravadas, que não edifica em nada! Passam horas e mais horas adorando seus ídolos e não tem a paciência e muito menos o desejo de meditar em apenas um só capítulo da palavra de Deus! Não repita os erros de Jeorão, faça o contrário, destrua esses “altares” e centralize apenas o Senhor em sua vida. DEIXE SAUDADES! Jeorão não se arrependeu de seus erros. Foi um rei cruel, mau e idólatra perante o Senhor. As- sim que assumiu o trono, matou todos os seus irmãos e alguns dos príncipes de Israel. Levou Judá a se desviar dos caminhos do Senhor praticando a idolatria. Preferiu antes ouvir os conselhos do rei de Israel Acabe, seu sogro. Como resposta de Deus, os edomitas se rebelaram e constituíram seu próprio rei. Jeorão é avisado pelo profeta Elias do castigo que receberia por suas atrocidades. Não demorou e os filisteus e arábios, sobem a Judá, invadem o palácio do rei, levam tudo o quanto tem inclusive suas mulheres e filhos que são mortos, escapando apenas o filho mais novo, Acazias. Em nenhum momento no decorrer da narrativa nos é dito que Jeorão se arrependeu. Ele persistiu no erro, no pecado e na maldade. Ele não se voltou para Deus. Ele não sentiu o peso de sua loucura. Ele foi mau até o fim de seus dias. Não tinha como deixar saudades. A recompensa do pecado é a derrota e a desgraça. Foi o que aconteceu com o rei Jeorão, de Judá e, não somente isso, mas também morreu relativamente jovem, com qua- DELVACYR COSTA 42 renta anos, de uma doença horrível, um tumor no intestino que aumentou tanto que este órgão saiu para fora do abdome. E, para completar, nem foi sepultado junto com os outros reis. Ele não apenas morreu tragicamente, em grande agonia por causa da terrível doença, morreu também das mentes das pessoas. O povo, em seu velório, não lhe prestou as honras devidas aos reis, muito menos o enterraram entre eles. Por esses fatos Jeorão foi o único rei relatado na Bíblia que não deixou saudades. Ainda que teve melhores oportu- nidades de vida, trilhou por caminhos que pensava serem bons, mas o levaram a morte, ao esquecimento. Pelo que percebemos, se alguém naquela época se lembrasse de Jeorão era com grande terror e repugnância. Seu governo foi um desastre. Tão grande, que o povo não teve motivos para lamentar sua morte nem honrar seu legado. É como diz o sábio: “Quando os justos prosperam, a cidade se alegra; quando os ímpios perecem, há júbilo” (Pv.11.10). É bem provável que o povo tenha comemorado a morte desse rei iníquo. Portanto, não ande por esses caminhos, faça o contrário e certamente deixarás saudades por onde passares e todos se lembrarão de você por causa de sua boa história. No túmulo de Jeorão não existia fotos, nem flores, nem coroas, nem sequer saudades. Ele se foi sem deixar saudades foi seu epitáfio. E eu? E você? Deixaremos saudades? O maior legado que alguém pode deixar neste mundo é a saudade. DELVACYR COSTA 43 NU SAÍ DO VENTRE DE MINHA MÃE E NU TORNAREI Esta é uma das frases mais emblemáticas do livro de Jó: "Nu saí do ventre da minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, o Senhor o tomou, bendito seja o Seu Santo Nome" (Jó 1.21) Nós nada temos. Tudo quanto julgamos ter veio de Deus e, um dia, ao partirmos para a eternidade, tudo deixa- remos aqui. Nada poderemos levar conosco. Não podemos nem devemos confiar nas riquezas, porque elas são deste mundo e aqui ficarão. Nós, ou ajun- tamos tesouros no céu, onde nem traça, ferrugem ou ladrões destroem, ou ficaremos paupérrimos no sofrimento eterno. Jó entendeu isto mesmo e, depois de ter perdido todos os seus bens, não estava amargurado, antes, louvava a Deus dizendo "o Senhor o deu, o Senhor o tomou". Lembro do homem rico, que comia e bebia regalada- mente, vestia-se de púrpura e linho finíssimo, mas acordou no inferno, miserável, cego e nu, que nem uma gota de água tinha para lhe refrescar a língua. Outro, porém, nesta terra, nada teve e sempre viveu nas maiores necessidades, foi levado para o céu pelos anjos, onde, feliz, se alegrava no seio de Abraão (Leia Lucas 16:19-31). DELVACYR COSTA 44 Que grande visão a de Jó! Qual é o teu pensamento acerca das riquezas? Que significam para ti? Tens posto nelas a tua confiança? Ou são elas apenas meios para atingires os fins de glorificação do Criador? Jó tinha uma concepção muito concreta dos bens deste mundo. Usá-los da forma mais digna, já era bastante. Como lidar com as perdas? Não é fácil para ninguém perder alguma coisa. Das menores e mais corriqueiras para nós, como perder o ônibus, o trem, o elevador, etc. E quando se trata de coisas impor- tantes? Exemplos: roubaram meu carro, roubaram meu pagamento, perdi todos os meus documentos, perdi o emprego, etc; será que é fácil lidar com isto? E quando se trata de perdas irreparáveis? Perder a mãe ou pai, irmã ou irmão, filhos, perda da esposa ou marido, etc. Meus amados diante de tantas perdas ou possíveis perdas; como eu devo lidar com isto? As perdas de Jó foram grandes e não corriqueiras: Foram perdas irreparáveis. Vejamos o que Jó possuía e quais foram suas perdas. Tinha quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas (Jó 1.3). Ladrões vieram roubaram os bois (Jó 1.14-15). Tinha Sete mil ovelhas (Jó 1.3). As ovelhas morreram queimadas por fogo que caiu do céu (Jó 1.16). Tinha três mil camelos (Jó 1.3). Ladrões em três bandos roubaram os camelos (Jó 1.17). Tinha dez filhos, sendo sete homens e três mulheres (Jó 1.2). Perdeu os dez, pois veio um vento forte (tornado) e DELVACYR COSTA 45 derrubou a casa do mais velho deles no dia em que estavam todos reunidos num banquete (Jó 1.18-19) Perdeu a saúde (Jó 2.7). E tudo isto aconteceu a Jó em um único dia; com exceção à sua saúde. Como Jó conseguiu suportar tudo isto? Pois era o homem mais rico de toda a terra do oriente (Jó 1.3), o mais respeitado por todos os homens, sem contar o fato de não ser um milionário egocêntrico, pois, o próprio Deus deutestemunho de Jó na ocasião em que o diabo, o acusador dos homens, subiu ao céu afim de acusar alguém, pois, é isto que ele faz até agora diante de Deus (Jó 1.6; Apocalipse 12.4), mas Deus disse ao diabo: “Você viu o meu servo Jó, ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal” (Jó 1.8). Perceba que Jó não andava com arrogância, cheio de razão, fazendo o que bem lhe parecia, não; pelo contrário Deus o aprova em seus caminhos. Agora eu lhe pergunto: Se isto lhe acontecesse, tendo você todas estas riquezas e muitos filhos, sem contar as virtudes pessoais; como você lidaria com tantas perdas? Deus foi injusto com você? Veja a seguir como Jó lidou com tudo isto. Reconheceu a soberania de Deus: “Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça e, lançando-se em terra, adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor”. Jó 1.21. Jó não foi indiferente ao que lhe estava acontecendo, pois, rasga sua roupa, raspa a cabeça e lança-se por terra para se humilhar diante de Deus, o Senhor, por tudo que acontecia. Mas suas palavras foram de adoração e reconhecimento da DELVACYR COSTA 46 soberania de Deus sobre todos os homens, e ele não podia se esquivar disto. E, enquanto adora a Deus, reflete que quando nasceu nada trouxe para este mundo, e quando se morre nada se leva daqui e conclui “Bendito seja o Senhor”. Por reconhecer a soberania de Deus sobre si, Jó pode se humilhar diante de Deus e adorá-lo em oração. Muitos, numa situação semelhante iriam blasfemar, praguejar, murmurar ou dizer: “Eu procuro ser o mais honesto possível, sou humilde; e é isto que Deus me reserva!” Jó reconheceu a soberania divina e, ao fazer isto, Deus o conforta trazendo ao seu entendimento uma reflexão da razão do viver e do morrer, do ganhar e no perder, e de tudo o que realmente importa e o que não importa. E isto aconteceu enquanto resolveu adorar a Deus em meios às aflições das perdas. Existiu algum segredo na vida de Jó para lidar com as perdas, foi o reconhecer que tudo o que temos veio de Deus, nada trouxemos a este mundo e tudo ficará aqui. Conta-se que Alexandre, o Grande, depois de conquis- tar muitos reinos, estava voltando para casa quando no caminho adoeceu e esta doença o levou para seu leito de morte. Com a morte à espreita, Alexandre percebeu como suas conquistas, seu grande exército, sua espada afiada e toda a sua riqueza eram de pouca importância. Desse modo, o poderoso conquistador quedou-se prostrado e pálido, impotente à espera de seu último suspiro. Ele chamou seus generais e disse: “Vou partir deste mundo em breve e tenho três desejos, por favor, realizem-nos DELVACYR COSTA 47 sem falhas”. E os generais concordaram em cumprir a última vontade de seu rei. 1º pedido: Que seu caixão fosse carregado pelos me- lhores médicos da época. 2º pedido: Que os tesouros que tinha fossem espa- lhados pelo caminho até seu túmulo. 3º pedido: Que suas mãos ficassem fora do caixão e à vista de todos. Os generais, surpresos, perguntaram quais eram os motivos de tais pedidos. Ele respondeu: 1º. Eu quero que os melhores médicos carreguem meu caixão, para mostrar que eles não têm poder nenhum sobre a morte. 2º. Quero que o chão seja coberto pelos meus tesou- ros, para que todos possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui ficam. 3º. Eu quero que minhas mãos fiquem para fora do caixão, de modo que as pessoas possam ver que viemos com as mãos vazias, e de mãos vazias voltamos. Jó entendeu isso muito bem. Não é difícil notar que sua fé estava em Deus e não nas riquezas. E seu amor por Deus era maior que amor que sentia por si e por sua família, e é exatamente isto que Deus, o Senhor, espera: que o amemos acima de todas as coisas, pois este é o maior de todos os mandamentos “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças”. (Deuteronômio 6.5). E quando isto é obedecido, fica claro de se notar que estas pessoas são inabaláveis, pois: “Os que DELVACYR COSTA 48 confiam no Senhor serão como os montes de Sião que não se abalam, mas, permanecem para sempre” (Salmo 125.1). Na lápide tumular de Jó tem uma inscrição: “Nu saí do ventre da minha mãe e nu tornarei para lá”. Sem desespero! Sem apego! Apenas confiança! DELVACYR COSTA 49 ELE FOI AMIGO DE DEUS Porém tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de Abraão, meu amigo (Isaías 41.8). Desde o momento em que uma pessoa nasce até sua morte, ela precisa de amor. E todos nós precisamos do amor de bons amigos. Também precisamos de um amor muito mais importante, o amor de Deus. Mas muitos acham que não podem ser amigos de Deus porque não podem vê-lo e porque ele é muito poderoso. Mas nós sabemos que é possível ser amigo de Deus. Abraão foi. A Bíblia diz que alguns personagens do passado foram amigos de Deus. Nós devemos imitar essas pessoas. Porque ser amigo de Deus é a coisa mais importante na vida de um ser humano. Uma dessas pessoas foi Abraão. Vamos conversar um pouco sobre ele. Como Abraão se tornou amigo de Deus? Por meio da fé que ele tinha. Por isso, a Bíblia chama Abraão de “o pai de todos os que têm fé”. (Romanos 4.11) Ao ler a história de Abraão, devemos nos perguntar: ‘Como eu posso imitar a fé que Abraão teve? Como a minha amizade com Deus pode ser mais forte?’ Qual o maior teste de fé que Abraão passou? Imagine Abraão com uns 125 anos de idade subindo bem devagar uma montanha. Atrás dele estava seu filho Isaque, que tinha uns 25 anos. Isaque estava carregando a https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/romanos/4/#v45004011 DELVACYR COSTA 50 lenha, e Abraão estava levando material para queimar a lenha e uma faca. Essa subida talvez tenha sido a viagem mais difícil da vida de Abraão. Não porque Abraão era muito idoso. Ele ainda tinha muita energia. A viagem era difícil porque Deus tinha pedido que Abraão sacrificasse seu filho Isaque (Gênesis 22.1-8). Para Abraão, esse deve ter sido o maior teste de sua fé. Algumas pessoas acham que Deus foi cruel quando pediu que Abraão sacrificasse o filho. E outras acham que Abraão obedeceu a Deus porque não amava Isaque. As pessoas falam isso porque elas não têm fé nem entendem o que é fé. Abraão não obedecia a Deus sem pensar. Abraão sabia que Deus nunca pede que façamos algo que nos prejudique para sempre. Ele sabia que se obedecesse, Deus o abençoaria e também abençoaria seu filho. Ele obedecia porque tinha verdadeira fé. Como Abraão conseguiu ter uma fé tão forte? Por aprender sobre Deus e por sentir a ajuda e intervenção de Deus quando obedecia a ele. Abraão foi criado numa cidade chamada Ur. As pessoas de Ur, incluindo o pai de Abraão, adoravam deuses falsos (Josué 24:2). Então, como Abraão aprendeu sobre Deus? A Bíblia mostra que um dos filhos de Noé, chamado Sem, era parente de Abraão. Eles conviveram por muitos anos. Só por curiosidade, Sem viveu 600 anos, Abraão 175; isso quer dizer que Sem viveu mais 135 anos depois da morte de Abraão. Sem era um homem que tinha muita fé em Deus. Não sabemos com certeza, mas Sem deve ter falado sobre Deus para seus parentes. O que Abraão aprendeu sobre Deus o levou a amar a Deus e a ter fé nele. Abraão sentiu sempre a ajuda de Deus, e isso fortaleceu sua fé. Como isso aconteceu? Alguns dizem que aquilo que pensamos cria sentimentos em nós e que, esses sentimentos, https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/G%C3%AAnesis/22/#v1022001-v1022008 https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/Josu%C3%A9/24/#v6024002 DELVACYR COSTA 51nos levam a fazer alguma coisa. O que Abraão aprendeu sobre Deus tocou o seu coração. Isso criou nele um profundo respeito pelo “Senhor, o Deus Altíssimo, aquele que fez o céu e a terra” (Gênesis 14.22). A Bíblia chama esse profundo respeito de “temor de Deus”. Para sermos bons amigos de Deus precisamos temer a ele. Esse temor fez Abraão obedecer a Deus. Deus disse a Abraão e Sara que se mudassem de Ur para um país diferente. Eles não eram jovens e teriam que morar em barracas pelo resto da vida. Abraão sabia que passaria por muitas situações perigosas, mas estava determinado a obedecer a Deus. Abraão obedeceu, e por isso foi abençoado e protegido por Deus. Por exemplo, dois reis diferentes quiseram casar com Sara porque ela era muito bonita, e Abraão poderia ser morto por causa disso. Mas Deus protegeu milagrosamente tanto Abraão como Sara (Gênesis 12.10-20; 20.2-7, 10-12, 17, 18). Abraão obedeceu a Deus e sentiu na pele a ajuda dele. Isso aumentou a fé que ele tinha. Podemos ser grandes amigos de Deus? Sim, com cer- teza! Para isso, assim como Abraão, precisamos aprender sobre Deus e obedecer a ele, sentindo como ele nos protege e abençoa. Hoje, sabemos muito mais coisas do que Abraão. A Bíblia está cheia de informações sobre “aquele que fez o céu e a terra”. O que aprendemos sobre Deus nos faz amar e respeitar muito a ele. Por causa desse amor e respeito por Deus, temos vontade de obedecer a ele. Quando obedecemos a Deus, nós sentimos (experimentamos) que ele nos protege e nos abençoa. Isso aumenta nossa fé. Servir a Deus, fazendo o nosso melhor, nos dá alegria, satisfação e paz. Quanto mais aprendemos sobre Deus e o obedecemos, mais forte fica nossa amizade com ele. https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/G%C3%AAnesis/14/#v1014022 https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/G%C3%AAnesis/12/#v1012010-v1012020 https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/G%C3%AAnesis/20/#v1020002-v1020007 https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/G%C3%AAnesis/20/#v1020002-v1020007 https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/G%C3%AAnesis/20/#v1020017-v1020018 DELVACYR COSTA 52 Uma grande amizade é como uma flor muito bonita e valiosa (Provérbios 17.17.) Ela não é como uma flor de plástico, usada só para enfeitar. Uma grande amizade é uma flor viva, que precisa ser bem cuidada para crescer e ficar forte. Abraão dava muito valor à amizade que tinha com Deus e cuidava bem dessa amizade. Como ele fazia isso? Abraão cuidava dessa amizade por continuar respei- tando e obedecendo a Deus. Por exemplo, quando Abraão viajou para Canaã com sua família e seus servos, ele continuou obedecendo a Deus. Ele fazia isso quando tomava decisões grandes e pequenas. Antes de Isaque nascer, quan- do Abraão tinha 99 anos, Deus ordenou que ele circun- cidasse todos os homens da sua casa. Será que Abraão ficou se perguntando se essa ordem estava certa? Será que ele ficou inventando desculpas para não fazer o que Deus tinha pedido? Não. Ele confiou em Deus e o obedeceu “naquele mesmo dia” (Gênesis 17.10-14, 23). Abraão sempre obedecia a Deus, até nas coisas meno- res. Por isso, a amizade dos dois ficou cada vez mais intensa. Ele se sentia à vontade para conversar com Deus sobre qualquer coisa. Mesmo que fosse para pedir ajuda quando não entendia alguma decisão divina. Por exemplo, Deus disse que destruiria as cidades de Sodoma e Gomorra. Isso deixou Abraão preocupado. Por quê? Porque ele tinha medo de que as pessoas boas morressem junto com as pessoas ruins. Talvez ele estivesse preocupado com seu sobrinho Ló e a família dele, que moravam em Sodoma. Abraão confiava em Deus, “o Juiz de toda a terra”. Por isso, com humildade, ele falou com Deus, mostrou sua preocupação. E Deus foi paciente com seu amigo Abraão e mostrou compaixão e bondade. Deus explicou que, antes de trazer uma destruição, ele sempre procura pessoas boas para poder salvá-las. https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/Prov%C3%A9rbios/17/#v20017017 https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/G%C3%AAnesis/17/#v1017010-v1017014 https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/G%C3%AAnesis/17/#v1017010-v1017014 DELVACYR COSTA 53 Abraão continuou a ser um grande amigo de Deus. Tudo o que Abraão aprendeu sobre Deus e toda ajuda que obteve quando obedeceu a Deus fez essa amizade ficar mais consistente. Por isso, mais tarde, quando Deus pediu que ele sacrificasse Isaque, Abraão conseguiu obedecer. Ele sabia que podia confiar em Deus. O Senhor sempre o tinha protegido e agido com compaixão e paciência. Abraão tinha toda certeza de que Deus não tinha, de repente, se tornado alguém cruel e sem amor. Como sabemos disso? Antes de subir a montanha, Abraão disse aos seus ser- vos: “Fiquem aqui com o jumento enquanto eu e o ra- paz vamos até lá para adorar; depois retornaremos a vocês” (Gênesis 22.5). Abraão ia sacrificar Isaque. Então, por que disse que ele e o filho voltariam? Será que ele estava mentindo? Não. A Bíblia diz que Abraão sabia que Deus tinha o poder para fazer Isaque viver de novo (Leia Hebreus 11.19.) Abraão já tinha experimentado o poder de Deus, quando ele e Sara tiveram um filho, mesmo sendo bem idosos. Então, Abraão aprendeu que nada era impossível para Deus. Ele não sabia o que ia acontecer naquele monte, mas confiava em Deus. Abraão tinha certeza de que, se fosse preciso, Deus res- suscitaria Isaque. Dessa forma, todas as promessas de Deus se cumpririam. Não é à toa que Abraão é chamado de “o pai de todos os que têm fé”. Hoje, Deus não pede que sacrifiquemos nossos filhos. O que ele pede é que obedeçamos a ele. Às vezes, não entendemos por que Deus manda a gente fazer certas coisas ou pode ser difícil obedecer a ele. Isso já aconteceu com você? Para alguns, pregar é difícil. Talvez sejam tímidos e achem difícil conversar com alguém que não conhecem. Outros têm medo de ser diferentes das pessoas na escola ou https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/G%C3%AAnesis/22/#v1022005 https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/hebreus/11/#v58011019 DELVACYR COSTA 54 no trabalho. Se você tiver que fazer algo que ache muito difícil, pense na grande fé e coragem que Abraão mostrou. Parar e pensar na fé que vários servos de Deus mostraram nos leva a querer imitá-los e a ser mais amigos de Deus. Uma amizade que traz bênçãos. Será que Abraão alguma vez se arrependeu de ter obedecido a Deus? A Bíblia diz que ele “morreu numa boa velhice, idoso e satisfeito” (Gênesis 25.8). O que esse texto quer dizer? Que, antes de morrer, aos 175 anos, Abraão olhou para trás e ficou satisfeito com a vida que tinha levado. Por quê? Porque ele sempre colocou sua amizade com Deus em primeiro lugar na vida. Por essas coisas é que o epitáfio de Abrão diz: ELE FOI AMIGO DE DEUS! O que estará escrito no meu ou no seu? De quem somos amigos? https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/biblia-de-estudo/livros/G%C3%AAnesis/25/#v1025008 DELVACYR COSTA 55 ELE AMOU AO PRESENTE SÉCULO Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia (II Timóteo 4.10) Há um hino do Cantor Cristão que diz: “Muitos que corriam bem, já não mais contigo vão”. Por que isso acontece? Qual a causa do esfriamento espiritual? Por que as pessoas se “desviam” dos caminhos do Senhor? Essa foi a história de Demas. Um homem que tinha um triste epitáfio: Ele amou ao presente século. Mas, quem foi Demas? Um cooperador sem muito destaque, sem expressão, citado apenas em Colossenses 4.4. Paulo, escrevendo a Timóteo diz que, por haver amado ao presente século,ele foi para Tessalônica. Ele não voltou para Tessalônica, ele foi; não era de lá. Tessalônica - Capital e principal metrópole da Mace- dônia. O nome primitivo era Termas (Banhos Quentes). O nome Tessalônica foi dado pelo General macedônio Cassandro em honra de sua mulher, que era irmã de Ale- xandre Magno. Era a estação central da estrada Egnaciana, que ia da Trácia até Roma. O porto marítimo numa excelente baía aumentava suas riquezas e negócios. Uma florescente cidade comercial de população mista de gregos, romanos e DELVACYR COSTA 56 judeus. Foi primeira cidade em que a alta sociedade foi atingida pelo evangelho. Demas foi para a metrópole. Não foi para um fim de mundo, para um vilarejo escondido no meio do nada. Ele queria movimento, agitação, glamour, luzes. O sonho de muitos jovens ainda hoje. O que é amar o presente século? Amar ao presente século é o desejo de sucesso, de fama. Ter o reconhecimento público, ser uma celebridade. É a vontade de receber aplauso, aprovação humana. É a ênfase no “SER”. Amar ao presente século é o desejo de bens, de rique- zas. Esse desejo, na maioria das vezes, vem acompanhado da cobiça e da inveja. É fazer qualquer coisa para enriquecer, de levar vantagem sempre. É a famosa Lei de Gérson. Na cultura midiática brasileira, a Lei de Gérson é um princípio em que determinada pessoa ou empresa obtém vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais. A "Lei de Gérson" acabou sendo usada para exprimir traços bastante característicos e pouco lisonjeiros do caráter midiático nacional, que passa a ser interpretado como caráter da população, associados à disse- minação da corrupção e ao desrespeito às regras de convívio para a obtenção de vantagens. A expressão nasceu em meados da década de 1980, quando o jornalista Maurício Dias entrevistava o professor e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, para a revista Isto É, por ocasião de seu artigo "Narcisismo em tempos sombrios". Foi nesta entrevista que Dias batizou como "Lei de Gérson" o desejo que grande parte dos brasileiros tem de levar vantagem em tudo. Mais tarde, em https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89ticas https://pt.wikipedia.org/wiki/Moral https://pt.wikipedia.org/wiki/Corrup%C3%A7%C3%A3o DELVACYR COSTA 57 1992, na edição 18 da revista Teoria e Debate, o termo "Lei de Gérson" foi novamente lembrado por Maria Rita Kehl em entrevista com o mesmo Jurandir Freire da Costa. Ao cunhar a expressão "Lei de Gérson", Maurício Dias fez alusão à propaganda televisiva de 1976 criada pela agência Caio Domingues & Associados, que havia sido contratada pela fabricante de cigarros J. Reynolds, proprie- tária da marca cigarros Vila Rica, para a divulgação do produto. O vídeo apresentava o meia-armador Gérson, jogador da Seleção Brasileira de Futebol, como protago- nista. O vídeo tem início com a afirmação de que Gérson foi o "cérebro do time campeão do mundo da Copa do mundo de 70". A narração é feita pelo entrevistador, que se apresenta de terno, gravata e microfone à mão. A cena se passa em um sofá de uma sala de visitas. O entrevistador pergunta por quê Gérson escolheu os cigarros Vila Rica. Ao iniciar a resposta, Gérson saca um maço de Vila Rica e oferece um cigarro ao entrevistador. Enquanto o entrevistador fuma seu cigarro, Gérson explica os motivos que o fizeram preferir aquela marca. "Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!". Mais tarde Gérson se disse arrependido por ter as- sociado sua imagem ao anúncio, visto que qualquer compor- tamento pouco ético foi sendo aliado ao seu nome nas expressões Síndrome de Gérson ou Lei de Gérson. Nos anos 1980 os meios de comunicação em massa brasileiros começaram a divulgar notícias sobre corrupção na https://pt.wikipedia.org/wiki/1976 https://pt.wikipedia.org/wiki/Cigarro https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_Rica_(cigarros) https://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%A9rson_de_Oliveira_Nunes https://pt.wikipedia.org/wiki/Sele%C3%A7%C3%A3o_Brasileira_de_Futebol DELVACYR COSTA 58 política brasileira e a população começou a utilizar o termo "Lei de Gérson". Essa atitude demonstra uma grande ênfase no “TER”. Amar ao presente século é o desejo intenso de diver- timentos, de sentir prazer. É a busca por alegria fácil, intensa, mesmo que passageira. É a filosofia do Hedonismo. Aqui a ênfase está no “FAZER” Quais são as causas desse amor ao presente século? São várias e diversas. Não existe um padrão definido ou determinado, mas normalmente inclui algumas das situações a seguir. Desmedida preocupação com coisas materiais. A espi- ritualidade dá lugar ao materialismo. As coisas eternas são ofuscadas pelas terrenas. O amor deixa de ser a Deus e passa a ser aos bens e ao dinheiro. Descuido na vida de oração. A oração começa a ser deixada em segundo plano. Outras atividades, mesmo que espirituais e eclesiásticas, vão ocupando o tempo que deve- ria ser consagrado à oração. De forma lenta, mas constante, se deixa de orar. Essa forma vital e insubstituível de comu- nhão com Deus é negligenciada, até ser totalmente abando- nada. Falta de comunhão com os irmãos. A presença nos cultos, as conversas pós culto, a visitação aos irmãos em Cristo vai sendo deixada de lado. Por diversas causas ou razões. Murmuração. Críticas demais. Só se enxerga os aspectos negativos, os defeitos dos irmãos. Deixa-se de sentir prazer na comunhão cristã. DELVACYR COSTA 59 A pessoa passa a cultivar amizades e hábitos que não edificam. Amizades com não crentes, com escarnecedores da Palavra, com pessoas sem o Temor ao Senhor. O afastamento continua com músicas profanas, progra- mas de TV, tais como novelas, programas de humor recheados de piadas imorais, cheias de malícia e até mesmo blasfêmias, filmes de terror, etc. É um processo, ninguém cai repentinamente. Vai acontecendo lenta, mas gradativamente. Uma queda espi- ritual nunca é repentina. Lembram de Davi. No tempo em que os reis saíam à guerra, ele ficou em casa. Quando todos estavam trabalhando ele estava ocioso no terraço. Um passo, depois mais um, outro e mais outro. O amor ao presente século não é uma paixão arrebatadora. É algo lento, mas persistente e extremamente perigoso. É possível deter-se. Pode ser revertido. Mas é preciso abrir os olhos e clamar ao Senhor. É preciso ter consciência dos riscos e fugir logo no início do processo. As consequências desse amor. Quando o amor ao presente século domina, a primeira consequência é o esfriamento na fé. O vigor espiritual se esvai. Em seu lugar surge uma tristeza profunda, acom- panhada da falta de desejo de ir ao templo. É um lento afastamento dos cultos, dos irmãos e do próprio Deus. Quando esse quadro se estabelece, acontece a após- tasia total. A pessoa perde a comunhão com Deus, o temor, a reverência e entrega-se à prática de pecados, afastando-se cada vez mais do Senhor. Como consequência final, o amor ao presente século tem a condenação eterna. Viver eterna e irreversivelmente DELVACYR COSTA 60 separado de Deus. Trágico fim para quem um dia amou ao Senhor Deus. Demas, tendo amado o presente século abandonou Paulo, abandonou a igreja, abandonou o próprio Deus. Seu epitáfio é curto e triste: Ele amou ao presente século. E você? Como está seu coração? A quem tens amado verdadeiramente? A Deus ou ao presente século? Qual será seu epitáfio? DELVACYR COSTA 61 O PERTURBADOR DE ISRAEL E transgrediram os filhos de Israel no anátema; porque Acã filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zerá, da tribo de Judá, tomou do anátema, e a ira do SENHOR se acendeu contra os filhos de Israel. Israel pecou, e
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