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art_Mafei_tema, problema e técnica

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From the SelectedWorks of Rafael Mafei
Rabelo Queiroz
January 2010
Artigo Científico: concepção, temas, métodos e
técnicas
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Available at: http://works.bepress.com/rafaelmafei/10
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http://works.bepress.com/rafaelmafei
http://works.bepress.com/rafaelmafei/10
QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
1 
 
ARTIGO CIENTÍFICO: CONCEPÇÃO, TEMAS, MÉTODOS E 
TÉCNICAS 
Rafael Mafei Rabelo Queiroz1 
 
1. Por que um artigo científico? 
Uma forma útil de refletir sobre o que deve ser um artigo é tentar responder à seguinte 
questão: por que nos pedem artigos científicos como requisitos para conclusão de cursos 
de pós-graduação? O artigo científico não é uma prova-mestra de conteúdo e 
capacidades. Ele pretende ser um instrumento que permite a verificação e avaliação de 
certo conjunto de habilidades, que são sensatamente exigíveis dentro de certos contextos 
específicos. É evidente que não faria sentido exigir a entrega de um artigo científico de 
um candidato a professor de dança de salão ou de capoeira: as habilidades que tais 
profissões exigem não são mensuráveis através da redação de um artigo. Mas pensemos 
em um concurso público para juízes, promotores e procuradores: todas essas são 
profissões “analíticas”, e não corporais; mesmo assim, concursos de ingresso nessas 
carreiras não exigem que candidatos redijam artigos científicos, via de regra. Algumas 
delas conferem pontos classificatórios para quem tenha produção científica publicada, 
mas a vasta maioria dos aprovados não a tem. Eles têm apenas de se classificar (muito 
bem!) em concorridas provas objetivas e dissertativas, respondendo a questões pontuais 
e detalhadas, que revelam outras habilidades e capacidades que não aquelas que um 
bom artigo científico é capaz de explicitar. Por que, então, cursos de pós-graduação 
exigem artigos científicos? Que têm eles de tão especial? 
Um artigo científico é o veículo preferencial pelo qual pesquisadores tornam públicos 
resultados recentes que julgam relevantes, obtidos nas investigações por eles 
conduzidas. Invariavelmente, jornais de grande circulação mencionam artigos 
científicos, em colunas ou cadernos que dão espaço a notícias científicas. Por que tais 
reportagens citam sempre artigos científicos – e não livros clássicos, que são muito mais 
 
1 Mestre e doutor em Direito pela Faculdade de Direito da USP. Coordenador de Pesquisas e de 
Metodologia de Ensino da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. 
QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
2 
 
lidos? É simples: porque são artigos científicos que contam à comunidade científica, em 
primeira mão, as novidades da ciência, que os jornais traduzem para o público geral. 
Artigos científicos não são relatórios de estudos, são meios de divulgação 
descobertas feitas em pesquisas. Um cientista estuda e lê coisas quase todos os dias, 
mas nem por isso produz um artigo científico a partir de cada coisa que lê. Daí segue 
que um texto que se limite a reproduzir ou resumir textos de terceiros, mesmo que 
competentemente, pode ser um bom resumo de livros, um bom roteiro de estudos, um 
bom fichamento... mas não será um artigo científico, pois artigos científicos são 
precedidos não só de estudos e leituras, mas principalmente de atividades específicas de 
pesquisa, investigação e reflexão. Tais atividades gerarão, se bem conduzidas, 
resultados ou conclusões, que darão, eles sim, o bojo de um artigo científico. Nesse 
sentido, o tema de um artigo científico será sempre específico (monográfico), e seu 
conteúdo procurará apresentar a pesquisa e informar os resultados ou conclusões que 
dela se podem extrair. Finalmente, mas não menos importante, deve-se anotar que 
artigos científicos são escritos quando pesquisadores têm algo de relevante a dizer em 
termos de descobertas científicas: um resultado novo, uma descoberta instigante, a 
confirmação de algo de que já se desconfiava, uma reinterpretação de velhos fatos – 
qualquer coisa relevante, enfim. Também por esta razão, meros resumos do que já 
disseram outros autores não se constituem em verdadeiros artigos científicos. 
Sabendo de tudo isso, já é possível ter alguma idéia do porquê de artigos científicos 
serem cobrados em cursos de pós-graduação. Um bom artigo científico é capaz de 
mostrar que seu autor consegue se inserir em um debate relevante, bem como 
demonstrar familiaridade com o estado da arte da produção acadêmica dentro de seu 
assunto de pesquisa, além de conseguir produzir conhecimento sólido, relevante e 
inovador na matéria. Essas são habilidades que qualquer instituição de ensino se orgulha 
em conseguir incutir em seus alunos, além de contribuírem, positivamente, para um 
exercício qualificado de variadas atividades profissionais e acadêmicas. Por tudo isso, 
um bom artigo científico tem muito a dizer sobre seu autor e suas capacidades e, quando 
bem executado, é uma ótima maneira de se demonstrar a apreensão de capacidades e 
conteúdos transmitidos ao longo de um curso de pós-graduação – e por isso são 
freqüentemente exigidos como requisito para sua conclusão. Nas páginas seguintes, 
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
3 
 
veremos um pequeno roteiro para a produção de um artigo que atenda bem a esses 
requisitos. 
 
2. O tema do artigo 
A escolha do tema é fundamental para uma monografia científica, seja ela um artigo, 
uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutoramento. Para que o texto produzido 
seja verdadeiramente “científico”, não basta que o tema seja restrito e instigante. É 
preciso, antes de qualquer coisa, que ele seja suscetível de ser cientificamente estudado. 
Para tanto, é preciso que o pesquisador guarde em mente algumas características que ele 
deve ostentar: 
2.1. O tema deve ser um problema, um objeto de dúvida 
Já foi dito que trabalhos científicos comunicam resultados relevantes de pesquisa a seu 
público leitor. Que significa relevância, neste contexto? Significa, resumidamente, 
produção de conhecimento inovador. Cientistas e pesquisadores são socialmente 
apreciados porque são capazes de fazer algo importante: eles descobrem coisas, através 
de procedimentos intelectuais sofisticados que exigem treinamento específico 
(“métodos científicos”), que geralmente respondem a dúvidas relevantes. Estas 
relevância e inovação manifestam-se de muitas formas distintas. 
Algumas vezes, pesquisadores publicam artigos científicos que trazem uma resposta 
nova para uma velha pergunta. Tome-se, por exemplo, a questão da orientação sócio-
ideológica dos juízes em suas sentenças: os juízes brasileiros, visando a aplacar seus 
sentimentos pessoais de injustiça social, costumam favorecer a parte mais fraca em suas 
sentenças? Um ensaio de 20052 aventou, a partir de entrevistas com magistrados 
brasileiros, a hipótese de que o Judiciário teria a tendência de desrespeitar cláusulas 
contratuais e dispositivos legais para favorecer o litigante economicamente mais fraco e, 
assim, fazer “justiça social” ao arrepio das formas jurídicas. Tal hipótese foi, e bem 
provavelmente continua sendo, tratada como verdade inconteste por muitos. Porém, no2 ARIDA, Pérsio; BACHA, Edmar e RESENDE, André Lara. “Credit, interest, and jurisdictional 
uncertainty: Conjectures on the case of Brazil”, Rio de Janeiro: IEPE/CdG, Texto para Discussão n.2, 
2003, Publicado em GIAVAZZI. F.; GOLDFAJN, I; HERRERA, S. (orgs.); Inflation targeting, debt, and 
the Brazilian experience, 1999 to 2003. Cambridge, MA: MIT Press, may 2005. 
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
4 
 
ano seguinte, uma pesquisa foi levada a cabo com o específico propósito de testar a 
veracidade, ou não, da tal hipótese. Resultado: ela provou-se falsa. De acordo com essa 
última investigação, os litigantes economicamente mais fortes têm 45% mais chances de 
saírem vitoriosos em uma disputa judicial do que os mais fracos, em casos iguais.3 Uma 
pesquisa com esse objeto é certamente relevante, e seus resultados dão o perfeito 
recheio para um bom artigo. 
Outras vezes, pode-se simplesmente fazer uma pesquisa com o propósito de organizar 
e sistematizar algo que está confuso por, digamos, sucessões legislativas pouco claras. 
Tome-se, por exemplo, um trabalho que procure estipular qual é, afinal, o regime de 
juros vigentes no Brasil. Um tal trabalho perguntar-se-ia: a Lei da Usura foi ou não 
revogada pelo Código Civil de 2002? Trata-se de uma questão bastante discutida 
atualmente, cuja relevância é evidente. 
Ainda, outros trabalhos procuram determinar o significado jurídico de algo novo. 
Também este tipo de situação é terreno fértil para boas pesquisa, que geram bons 
artigos. Exemplo: há algum tempo, funciona um serviço de internet chamado Second 
Life, em que cada usuário é capaz de construir uma vida virtual paralela. Pois bem, neste 
mundo paralelo, é possível que empresas comprem espaços publicitários virtuais e 
“construam”, por exemplo, outdoors virtuais, em ruas virtuais, mas anunciando 
produtos verdadeiros: roupas, perfumes, eletrônicos, carros etc. Pergunta-se: estes 
outdoors virtuais devem ser considerados como outdoors reais para fins jurídicos, como 
a incidência de ISS por prestação de serviços publicitários?4 Em todo campo da vida 
social onde haja fatos sociais novos, juridicamente relevantes, perguntas deste tipo 
podem surgir. Outro exemplo: diversas comunidades no Brasil estabeleceram, entre 
seus membros, um complexo sistema de trocas baseados em títulos comunitários de 
depósito. São as chamadas “moedas sociais”, de que o Banco Palmas é o mais 
conhecido exemplo. Estas moedas sociais seriam “moeda”, no sentido jurídico da 
palavra? Ou seja, estariam sujeitas ao controle administrativo e à proteção jurídica 
(penal, consumerista, administrativa etc.) a que se sujeitam os demais bancos, que 
trabalham com a moeda oficial? 
 
3 FERRÃO, Brisa L. M.; RIBEIRO, Ivan C. “Os Juízes Brasileiros Favorecem a Parte Mais Fraca?”. UC 
Berkeley: Berkeley Program in Law and Economics. Disponível em: 
http://escholarship.org/uc/item/0715991z. Acesso em 13/07/2010. 
4 “No Second Life, vida é virtual e dinheiro real”. Valor Econômico, 18/07/2007, p. B2. 
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
5 
 
Todos esses temas são muito diferentes entre si, mas compartilham uma característica 
relevante. O leitor atento terá notado que todos os temas foram apresentados como 
perguntas. Isso indica que são objetos de verdadeiras dúvidas, de indagações 
significativas. O mesmo leitor terá notado, ainda, que nenhuma das perguntas é singela 
ou simplória; todas são razoavelmente difíceis, e demandam certa reflexão e estudo para 
que sejam respondidas com substância. Tais reflexões e estudos são justamente as 
pesquisas – que, se bem feitas, serão capazes de construir boas respostas para cada uma 
dessas perguntas. Eis a diferença entre uma pesquisa, que é capaz de gerar um artigo, e 
o mero estudo diletante, que, por mais que contribua positivamente para o aumento de 
conhecimentos de um estudante, não suscita, via de regra, o tipo de reflexão necessária 
a um artigo científico. 
É importante também notar que os temas citados, tais como formulados – como dúvidas 
ou perguntas – são diferentes de coisas como “Da ideologia da decisão judicial”, ou 
“Dos juros”, ou “Da tributação da publicidade na Internet”, ou ainda “Da moeda social: 
aspectos jurídicos”. Postas desta forma, aquelas perguntas, que eram férteis temas de 
pesquisa, convertem-se em meros assuntos. A diferença entre um mero assunto e um 
verdadeiro tema de pesquisa é que o assunto indica um campo de interesse, mas não 
necessariamente um objeto de inquietação, de dúvida, que será respondido por um 
trabalho de pesquisa. Posso ler e estudar sobre um assunto, mas para fazer uma 
pesquisa, preciso de uma pergunta, um objeto de dúvida para o qual busco uma 
resposta. É provável que o leitor deste texto, às voltas com os preparativos para a escrita 
de um trabalho científico, tenha já um assunto, mas ainda não um tema. Como fazer 
para transformar um assunto em um tema? Um bom exercício é justamente buscar 
extrair dele uma pergunta, um problema, uma dúvida – com ponto de interrogação 
ao final, inclusive. Na visão de senso comum, pesquisadores são como detetives do 
mundo da ciência, pois uns e outros investigam as coisas com métodos científicos e 
descobrem verdades até então ignoradas, mas há uma importante diferença entre 
detetives e cientistas: enquanto detetives recebem o problema pronto (um crime para o 
qual não se encontra o culpado), cujo sentido é mais ou menos óbvio (encontrar o 
assassino), o cientista primeiro constrói o problema para só depois resolvê-lo por meio 
da pesquisa científica. 
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
6 
 
É fundamental que o pesquisador tenha clareza, portanto, que "Serviços Públicos" 
indica um assunto interessante, mas está longe de se constituir em um tema de pesquisa 
pronto e acabado; tal assunto precisa ser trabalhado, moldado, para que se extraia dele 
uma pergunta interessante e atual, que possa ser criteriosamente respondida através de 
uma pesquisa jurídica - digamos, por exemplo, "Pode a concessão de serviços públicos 
ser feita por decreto do Poder Executivo, ou deve o art. 175 da Constituição de 1988 ser 
interpretado no sentido de exigir que a concessão se dê através de lei em sentido 
estrito?". Note bem a diferença: a primeira hipótese traz um assunto, uma área; a 
segunda, uma entre muitas possíveis perguntas dentro desta área. Um outro exemplo 
esclarecedor: "Intervenção do Estado na Economia" é um assunto interessante, mas não 
um tema de pesquisa; já "Que modelo de intervenção judicial sobre planos de 
estabilização econômica é possível extrair através de um estudo de caso do controle do 
Plano Real?"5 é, ao contrário, um verdadeiro tema de pesquisa tema dentro daquele 
assunto. 
Daqui em diante, quando se falar de tema de pesquisa, ter-se-á em mente um verdadeiro 
tema, e não um mero assunto. 
2.2. O tema deve ser relevante 
A pergunta ou problema que serão tema de pesquisa devem refletir um objeto relevante 
para a discussão acadêmica. O fato de um tema ser objeto de freqüentes discussões entre 
pesquisadores e juristas é bom indicativo de sua relevância enquanto pauta de 
investigação. O filósofo italiano Umberto Eco, em sua clássica obra Como se faz uma 
tese, diz, a certa altura, que “livros conversam entre si”.6 Ao fazê-lo, aponta para o fato 
de que acadêmicos e pesquisadores freqüentemente escrevem diversos livros sobreassuntos repetidos. Tome-se, por exemplo, o campo da filosofia: quanta coisa já não foi 
escrita ao longo da história sobre objetos de dúvida como “como sabemos alguma 
coisa?”, ou “que é a justiça?”, ou ainda “como as palavras podem ter significados?”, 
entre outras. A mesma coisa vale para o Direito, que também tem seus “campeões da 
audiência” entre os problemas jurídicos: “como determinar o valor de indenizações por 
danos morais?”, “o sistema recursal brasileiro determina a morosidade judicial?”, “que 
 
5 Conforme DURAN, Camila Vilardi. Direito e Moeda: o Controle dos Planos de Estabilização 
Monetária pelo Supremo Tribunal Federal. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 103 e ss. 
6 ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 20ª Ed. São Paulo: Perspectiva. 
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
7 
 
proteção adicional confere o Direito do Consumidor às pessoas excessivamente 
endividadas?”, “que circunstâncias supervenientes permitem a flexibilização do vínculo 
contratual anteriormente estabelecido?”, e assim por diante. Eduardo Marchi lembra que 
temas profícuos de pesquisa podem nascer de debates doutrinários ou jurisprudenciais7 
– e estes, se de fato são debates, envolverão invariavelmente partidários de uma e de 
outra posição, os quais defenderão seus pontos de vista através de textos que, 
provavelmente, citam-se uns aos outros, seja para expressar concordância, seja para 
registrar discordância. (Vale mencionar que, evidentemente, encontrar e ler tais textos 
será uma boa forma não só de especificar um verdadeiro tema de pesquisa, mas também 
de já se familiarizar com a bibliografia mínima a seu respeito, que certamente precisará 
ser lida ao longo da pesquisa.) 
Assim, uma primeira maneira de determinar a relevância de um tema é saber o quanto 
ele está na pauta dos debates jurídicos atuais. Há diversos veículos informativos que são 
úteis nesse sentido. Os primeiros e mais evidentes são os periódicos científicos, tanto 
nacionais quanto estrangeiros. Neles é que são publicados artigos científicos da área do 
direito, que são, como já foi dito, os principais meios de divulgação de novidades de 
pesquisa à comunidade jurídica. Assim, um pesquisador que queira escrever sobre 
contratos bancários e direito do consumidor, mas tenha dificuldade em formular um 
problema, uma pergunta, dentro deste assunto terá muito proveito em consultar, 
digamos, os últimos exemplares da Revista de Direito Bancário e do Mercado de 
Capitais, da Revista de Direito Mercantil, ou ainda da Revista de Direito do 
Consumidor, onde ele encontrará o que de mais recente tem sido escrito dentro de seu 
campo de interesse, o que talvez lhe ajude a construir o tema-problema sem o qual a 
pesquisa sequer pode começar. Alguns periódicos têm seus textos disponíveis na 
internet gratuitamente, e podem ser acessados por portais como o Periódicos Capes, o 
Scielo, ou o SSRN (este último com textos em inglês).8 Com o mesmo proveito, o autor 
poderá consultar também teses e dissertações jurídicas, produzias no âmbito programas 
de mestrado e doutoramento no Brasil e no mundo. Esta estratégia é viável mesmo para 
quem não disponha de tempo para freqüentar o acervo de uma biblioteca universitária 
 
7 MARCHI, Eduardo Cesar Vitta. Guia de Metodologia Jurídica. Teses, Monografias, Artigos. São Paulo: 
Saraiva, 2009, p. 48. 
8 Respectivamente, conforme citados no texto: http://www.periodicos.capes.gov.br; http://www.scielo.org 
; http://www.ssrn.com/. Até a data de escrita deste artigo, a Revista Direito GV era o único periódico 
jurídico disponível no Scielo: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1808-
2432&lng=pt&nrm=iso. 
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
8 
 
pública, já que, por exigência dos organismos governamentais que cuidam dos 
programas de pós-graduação no Brasil, os programas de mestrado e doutoramento 
devem disponibilizar, pela internet, as dissertações e teses defendidas em bibliotecas 
digitais virtuais. Todas as grandes universidades já possuem bibliotecas digitais com 
bom volume de teses e dissertações disponíveis gratuitamente na rede: USP,9 
Unicamp,10 UFRGS,11 UERJ,12 UFPE,13 etc. Para facilitar a vida dos pesquisadores, o 
Ministério da Ciência e Tecnologia oferece um portal que unifica as buscas em algumas 
bibliotecas digitais.14 O pesquisador que dominar línguas estrangeiras poderá também 
consultar bibliotecas de teses estrangeiras, fartamente disponíveis na internet.15 Artigos 
científicos, teses e dissertações devem ser a principal fonte de consulta de um 
pesquisador, pois é através deles que nos inserimos nos debates da comunidade 
acadêmica. 
Além desses veículos, há algumas fontes subsidiárias que podem ser úteis na construção 
de um tema-problema, mas que de forma alguma bastam para se fazer uma pesquisa, e 
nem devem ser a principal fonte de um pesquisador. Entre essas fontes subsidiárias, 
destacam-se, em primeiro lugar, os jornais de grande circulação. Jornais são úteis para 
apontar situações problema: uma polêmica em torno de novas formas de fiscalização da 
Receita Federal, uma dúvida jurídica sobre a competência para a exploração econômica 
de certo recurso natural, um debate sobre concentração de mercado e danos à 
concorrência em razão de alguma recente operação de fusão entre empresas e assim por 
diante. Notícias desse tipo são habituais na grande mídia e indicam situações-problema 
que envolvem debates jurídicos. Não por acaso, grandes juristas são freqüentemente 
entrevistados em tais reportagens e dão breves opiniões sobre as polêmicas retratadas. 
Entretanto, como os argumentos jurídicos por elas ventilados costumam ser 
 
9 http://www.teses.usp.br/. 
10 http://libdigi.unicamp.br/. 
11 http://www.lume.ufrgs.br/. 
12 http://www.bdtd.uerj.br/. 
13 http://www.bdtd.ufpe.br/tedeSimplificado/. 
14 http://bdtd.ibict.br/pt/a-bdtd.html. 
15 A busca pela internet revelará muitos portais desse tipo. Assim como no Brasil, a maioria das 
universidades disponibiliza a produção intelectual de seus programas de doutorado na rede. Alguns 
exemplos, que estão longe de ser exaustivos, todos de portais em língua inglesa: http://adt.caul.edu.au/ 
(Ásia e Austrália); www.unisa.ac.za/Default.asp?Cmd=ViewContent&ContentID=15350 (África do Sul); 
http://www.collectionscanada.gc.ca/thesescanada/index-e.html (Canadá); 
http://ethesis.helsinki.fi/english.html (Finlândia); http://etd.ncsi.iisc.ernet.in (Índia); 
http://www.lib.ncsu.edu/etd, http://etd.library.vanderbilt.edu/ETD-db, http://www.pitt.edu/~graduate/etd, 
etda.libraries.psu.edu, http://etd.ils.unc.edu/dspace (EUA). 
QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
9 
 
excessivamente simplificados para se tornarem acessíveis ao grande público, eles pouco 
servem como fontes de pesquisa, para além da mera indicação de uma situação-
problema. (A não ser, é claro, que minha pesquisa investigue como a mídia simplifica 
argumentos jurídicos em suas reportagens.) Os argumentos jurídicos sobre essas e 
outras situações, em toda a sua profundidade e complexidade, estarão principalmente 
em artigos científicos, teses e dissertações, e não nas bancas de jornais. 
Outra espécie de fontes subsidiárias são os portais jurídicos (Conjur, Direitonet, Jus 
Navegandi, Boletim Jurídico, Migalhas etc.), aos quais se chega com muita facilidade 
quando se consultam temas jurídicoscom qualquer ferramenta de busca na internet 
(Google, Bing, Yahoo etc.). Esses portais contêm, no mais das vezes, pequenos artigos 
escritos por profissionais do direito, bacharéis e estudantes. Além de indicarem a 
existência de alguma situação-problema que esteja atualmente na pauta dos juristas, 
esses sítios poderão também sugerir alguma bibliografia desconhecida ao pesquisador, 
que eventualmente apareça citada nos artigos em que abrigam. Não mais do que isso. 
De todas as fontes de informação até aqui citadas, portais jurídicos são os que menos 
têm critérios de qualidade para a seleção do material que publicam: periódicos 
científicos são avaliados por agências públicas e normalmente têm conselhos editoriais 
e pareceristas externos que opinam sobre a qualidade dos textos publicados; 
dissertações e teses passam por uma argüição pública em banca com examinadores 
internos e externos; e mesmo os grandes jornais costumam selecionar suas fontes entre 
juristas de prestígio e atores diretamente envolvidos na situação-problema reportada. 
Portais jurídicos não têm nada disso, e com um agravante adicional: não há 
constrangimento de espaço físico que os obrigue a ser seletivos em relação ao material 
que recebem, já que tudo “cabe” na internet. Por tudo isso, recomenda-se muito cuidado 
com o uso desse tipo de material, que não deve, de forma alguma, protagonizar a 
bibliografia de um artigo científico. 
Além de o tema estar na pauta de debates dos juristas, contribuirá para a sua relevância 
uma certa originalidade em sua forma de construção ou abordagem. Note-se bem: 
originalidade não é a mesma coisa que ineditismo, que é requisito apenas das teses de 
doutoramento, mas indica apenas uma forma inovadora e criativa de tratamento de um 
assunto que pode muito bem não ser inédito. Um exemplo singelo: o instituto da 
repercussão geral como requisito de admissibilidade de recursos extraordinários, criado 
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
10 
 
pela Emenda Constitucional 45 de 2004, tem sido exaustivamente debatido pela 
doutrina desde sua aprovação. Assim, um trabalho intitulado, digamos, “Da repercussão 
geral”, que se limite a descrever as principais posições doutrinárias e jurisprudenciais a 
este respeito, pouco acrescentaria a este tema já muito discutido. Mas isso não quer 
dizer que nenhum trabalho original e criativo possa ser feito tendo a repercussão geral 
por assunto, pois sempre haverá formas originais de se revisitar um tema, por mais 
repisado que seja: como, empiricamente, o Supremo Tribunal Federal tem avaliado a 
repercussão geral nos casos por ele analisados? Pelo valor da causa? Pela qualidade das 
partes? Pela importância da questão política de fundo? Os ministros têm, todos, 
pensamentos iguais nesse sentido? Como é possível explicar semelhanças e diferenças 
em seus votos? Há variações conforme o tipo de matéria tratada? Note-se que se trata de 
o mesmo assunto abordado de outra forma – com outra metodologia, leia-se –, um tanto 
mais original do que a costumeira abordagem exegética, que se limita a falar da 
natureza jurídica do instituto, da intenção do legislador etc. Pode-se ainda pensar em 
outras tantas formas de abordagem desse mesmo instituto: ao invés de uma pesquisa 
empírica de jurisprudência, por que não fazer uma avaliação comparada da norma 
criada pela Emenda 45 com outras congêneres de jurisdições estrangeiras, como o writ 
of cert da Suprema Corte dos EUA? Quais são os critérios utilizados pela corte suprema 
norte-americana para escolher os recursos que julgará? Seriam eles comparáveis à 
“repercussão geral” que a Emenda 45 pretendeu criar? Por que sim, ou por que não? É 
possível, a partir disso, extrair conclusões sobre o papel institucional do tribunal 
supremo dentro do sistema político-jurídico de cada um dos países? Que papéis seriam 
estes, da Suprema Corte e de nosso Supremo Tribunal Federal? Estaríamos aqui, como 
se percebe, diante de uma pesquisa com nuances de direito comparado que, a despeito 
de revisitar um assunto já batido, de forma alguma padeceria de falta de criatividade. O 
pesquisador que se preocupar em imprimir uma tal originalidade em seu trabalho terá 
dado um passo decisivo no sentido de construir um tema relevante, mesmo que não 
inédito, além, é claro, de uma pesquisa mais instigante e desafiadora para si próprio. 
2.3. O tema deve estar dentro das limitações do pesquisador 
Todas essas características do tema – situação-problema, originalidade – devem, por 
outro lado, ir ao encontro de um conjunto de características pessoas e limites 
circunstanciais de todo e qualquer pesquisador. Nada adianta um tema que seja em si 
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ótimo, mas que, por qualquer circunstância, esteja além das capacidades de quem 
pretende trabalhá-lo. 
Em primeiro lugar, o pesquisador dever ter um razoável nível de familiaridade prévia 
com o tema. Por mais que estudemos e pesquisemos sempre com o objetivo de 
aprender coisas novas, o tema escolhido deve sempre ser aquele diante do qual o 
pesquisador se sinta confortável, em termos dos conhecimentos que já possui. A escrita 
de um artigo científico não é um bom momento para se aprender um tema do zero. Ao 
contrário, é o momento em que o autor demonstra todo seu conhecimento e proficiência 
em um tema no qual já é razoavelmente perito. Sem expertise prévia, a tendência é o 
pesquisador não conseguir formular um tema-problema suficientemente interessante, e 
terminar por se limitar à leitura de textos básicos, como cursos e manuais, cujo 
conteúdo fica distante do conhecimento acadêmico inovador que é o motor dos debates 
científicos em qualquer área. 
Em segundo lugar, as fontes relativas ao tema devem ser intelectualmente acessíveis a 
quem irá lê-las. Um grande obstáculo nesse sentido são idiomas estrangeiros. Sim, é 
verdade que a China é o país-coqueluche do momento, mas não conseguirei pesquisar 
coisa alguma sobre o direito chinês se as fontes relativas ao meu tema estiverem todas 
em mandarim, sem tradução confiável para algum idioma cuja leitura me seja acessível. 
Em muitos temas, como aqueles relativos a direito econômico, bancário e de mercado 
de capitais, a bibliografia de ponta é majoritariamente em língua inglesa, de forma que 
convém saber bem o idioma antes de se aventurar a pesquisar poison pills ou algum 
aspecto polêmico da Lei Sarbanes-Oxley. O mesmo valerá para pesquisas que utilizem a 
metodologia do direito comparado: por razões evidentes, convém dominar a leitura nos 
idiomas das jurisdições que servirão de parâmetro comparativo. 
Adicionalmente, o pesquisador deve atentar-se para as limitações de acesso aos 
materiais dos quais ele precisará para fazer sua pesquisa. Pensemos, por exemplo, em 
uma pesquisa que queira reconstruir o debate jurídico em torno da formação do mercado 
de seguros no Brasil desde o século XIX. Certamente haverá fontes históricas de difícil 
acesso para tal trabalho: livros sobre direito dos seguros do século XIX no Brasil só são 
encontráveis em bibliotecas com bons acervos de obras raras, para não falar em 
documentação específica das primeiras seguradoras brasileiras, que provavelmente 
estão confinadas arquivos públicos e/ou particulares. O pesquisador que insista em 
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aventurar-se por este assunto terá de dispor de tempo livre para visitar estes arquivos e 
bibliotecas, para consultarin loco os livros e documentos. Registre-se, contudo, que 
algum alívio nesse sentido é dado pela internet, pois muitos documentos históricos já 
são abertamente acessíveis na rede: os debates parlamentares da Câmara e do Senado 
desde a Independência até o presente, por exemplo, já estão digitalizados nos sítios de 
cada uma dessas casas,16 com boas ferramentas de consulta, sobretudo para períodos 
mais recentes, quando a informação é mais organizada. 
Uma boa quantidade de livros – entre eles alguns clássicos – é oferecida em sítios 
brasileiros e estrangeiros de domínio público, como o Portal Domínio Público do 
Ministério da Educação,17 o Gutenberg Project,18 um portal de base wiki com mais de 
30.000 títulos disponíveis, ou o ainda a Online Books Page19 da Universidade da 
Pensilvânia (EUA), além de ferramentas de busca específicas para livros on-line.20 
Todos esses serviços permitem ainda a conveniência adicional de se realizar buscas 
dentro do conteúdo da obra pelas ferramentas usuais de “localizar” de processadores de 
texto ou navegadores de internet, facilitando assim a identificação de passagens 
específicas de interesse. Por fim, quando o conteúdo do livro não for de domínio 
público, restará sempre a opção, mais custosa mas que às vezes vale o investimento, de 
se adquirir o livro, também com a ajuda da internet. Além de sítios de livrarias, que 
possibilitam a compra de qualquer livro em catálogo em qualquer lugar do mundo, há 
também boas opções de “sebos” (comércios de livros usados) na internet, tanto no 
Brasil21 quanto no exterior,22 que possibilitam não só a compra de livros usados a bons 
preços, mas também de livros atualmente fora de catálogo. 
A estratégia de coleta de material, realização da pesquisa e escrita da monografia deve 
ser pensada – e aqui se chega à última importante limitação de que convém falar – em 
face das limitações de tempo do pesquisador: uma pesquisa, como qualquer projeto cuja 
execução se protrai no tempo, deve ser concebida a partir de um cronograma e 
executada de acordo com os seus prazos. O tempo de se ler todo o material inerente à 
 
16 Respectivamente, http://imagem.camara.gov.br/diarios.asp e 
http://www.senado.gov.br/publicacoes/anais/asp/AP_Apresentacao.asp 
17 http://www.dominiopublico.gov.br 
18 http://www.gutenberg.org 
19 http://onlinebooks.library.upenn.edu/ 
20 http://books.google.com.br/ 
21 http://www.estantevirtual.com.br 
22 http://www.abebooks.com 
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pesquisa (bem como, evidentemente, o tempo de obtenção desse material, como no caso 
de importação de livros ou consulta a arquivos e bibliotecas) deve ser computado a esse 
cronograma. 
Como todo o tempo para a realização de uma pesquisa sempre será justo, em função da 
complexidade do trabalho de investigação e escrita de um artigo científico, convém que 
o pesquisador restrinja, o quanto possível, o tema a ser pesquisado, de forma a torná-lo 
plenamente “estudável” diante dos inerentes percalços de uma investigação. Temas 
muito amplos tendem a levar a trabalhos impossíveis de serem executados em toda sua 
plenitude, ou, o que é mais comum, a uma abordagem superficial e simplória do objeto 
de estudos, o que não convém a uma investigação científica. Um exemplo: em trabalho 
recente sobre direito sucessório de cônjuges e companheiros no Brasil, o autor 
estabeleceu o seguinte escopo para seu trabalho de investigação: 
Na medida do possível, analisar-se-ão todos os aspectos da legislação 
brasileira sobre o tema, seja da legislação que vigorou, seja da legislação 
meramente projetada, começando pelo direito português que vigorou no 
Brasil durante todo o Império e até depois dele, passando pelas tentativas de 
legislação brasileira do século XIX, pelo monumental Código Civil de 1916, 
pelas suas modificações, feitas ou projetadas, até chegar no atual Código 
Civil.23 
Para além da observação de que “evolução do direito de sucessão de cônjuges e 
companheiros” não é propriamente um tema de trabalho científico, mas sim um assunto, 
o que importa aqui é registrar o quanto a amplitude do objeto do trabalho, tal qual 
proposto pelo autor, torna difícil o aprofundamento da investigação a seu respeito: entre 
projetos de legislação civil aprovados e não aprovados e todo o gigantesco volume de 
discussões parlamentares e doutrinárias a seu respeito (que estão compreendidos dentro 
de “todos os aspectos” da legislação, que o autor prometeu investigar), muito tempo e 
leitura serão necessários para que se esgotem as fontes, se é que isso será possível. 
Bem melhor é a estratégia de restringir o escopo de investigação àquilo que é 
efetivamente fundamental para a resposta do tema-problema da pesquisa. Em outra tese 
de doutoramento, voltada a responder à pergunta de quais são os elementos 
 
23 CARVALHO NETO, Inácio Bernardino de. A evolução do direito sucessório do cônjuge e do 
companheiro no Direito brasileiro: da necessidade de alteração do Código Civil. Tese de doutoramento. 
Faculdade de Direito da USP. 2005. 
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característicos da concessão no Direito Administrativo atual (notem como aqui, 
diferentemente, há um tema-problema), a autora iniciou sua investigação por “uma 
pesquisa realizada sobre a teoria jurídica brasileira que tratou da concessão dos anos 30 
a 60 do século XX (chamada teoria clássica)”, visando a demonstrar que o esforço 
doutrinário sobre a matéria estivera focado “na construção de argumentos e 
classificações para afirmar a existência de prerrogativas públicas na relação concessória, 
cuja natureza contratual foi amplamente aceita para viabilizar a prestação de serviços 
públicos”.24 Note-se bem os dois recortes feitos pela autora nesta parte de sua pesquisa: 
o estudo do histórico das concessões no Brasil sofreu um recorte de tempo (décadas de 
1930 a 1960), e as fontes foram qualitativamente selecionadas (doutrina jurídica), em 
face daquilo que é necessário para responder ao problema de pesquisa. Isso leva a um 
objeto de estudos bastante mais controlável do que a opção anterior, permitindo à autora 
saber a exata quantidade de material que terá de estudar (sua bibliografia tem não mais 
de 10 itens dentro deste recorte) e garantindo a viabilidade de um planejamento 
adequado à exaustão do tema, em toda a sua profundidade, dentro dos limites propostos. 
 
 
 
24 MONTEIRO, Vera Cristina Caspari. A caracterização do contrato de concessão após a edição da lei 
11.079/2004. Tese de doutoramento. Faculdade de Direito da USP. 2009. 
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QUADRO SINTÉTICO: O TEMA DO ARTIGO CIENTÍFICO 
• O tema deve ser um problema , um objeto de dúvida, e não mera indicação de assunto. 
Construa seu tema como uma pergunta, com ponto de interrogação! 
• De um mesmo assunto , podem ser extraídos muitos temas-problema distintos , cada 
qual ensejando uma pesquisa diferente. 
• O tema deve ser relevante : procure informar-se sobre os debates acadêmicos atuais em 
sua área de interesse, preferencialmente nos veículos de divulgação próprios da 
comunidade acadêmica . 
• A internet pode ser uma poderosa aliada, mas também uma traiçoeira arapuca: é preciso 
ter critério ao buscar informações na rede. 
• Escolha temas dentro de assuntos que lhe sejam familiares : trabalhos científicos nãosão o momento de aprender coisas absolutamente novas. 
• O tema deve também ser suficientemente restrito , de forma que o pesquisador tenha 
tempo de pesquisar todas as fontes necessárias. 
• Alguns temas e métodos demandam conhecimentos de línguas estrangeiras , que 
deverão ser conhecidas pelo pesquisador que os escolher. 
• Fontes de fácil acesso devem ser privilegiadas , e o tema da pesquisa deve ser definido 
com isto em mente. Algumas fontes estão restritas a poucas bibliotecas ou a arquivos 
públicos. É importante ter certeza de que se poderá ter pleno acesso às fontes 
necessárias para a pesquisa. 
• O tema deve ser suficientemente restrito , de forma que possa ser exaustivamente 
pesquisado dentro das limitações de tempo do pesquisador. Recortar um tema amplo é 
fundamental para a viabilidade da pesquisa. 
 
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3. Alguns tipos possíveis de temas-problema 
Estando claro que o primeiro passo na construção de um trabalho científico é evoluir de 
um assunto interesse para um tema-problema, é preciso agora saber como prosseguir a 
partir daí. Nesse mister, convém anotar que há diferentes tipos de temas-problema que 
se pode extrair de um assunto, e que cada um deles deve ser trabalhado de uma maneira 
particular – isto é, com uma metodologia própria. O pesquisador deve ter clareza a 
respeito da natureza do tema-problema com que trabalhará, a fim de saber como tratá-lo 
de forma adequada. Há ao menos três tipos diferentes de problemas de que uma 
pesquisa científica pode ser ocupar: problemas descritivos e problemas propositivos. Os 
principais traços de cada um são comentados a seguir. 
3.1. Problemas descritivos: qual é o retrato de uma situação? 
Os objetos de que podemos nos ocupar em um trabalho de pesquisa são geralmente 
muito complexos quando vistos compreensivamente. Tome-se por exemplo um assunto 
singelo como “contratos de adesão”. O que, exatamente, pesquisa alguém que estuda 
contratos de adesão? Estudaria ele a posição dessa forma de contratos em face da teoria 
contratual clássica, que preza pela autonomia da vontade do contratante? Ou seus 
limites e restrições em face de um campo específico do direito, como o Direito do 
Consumidor? Talvez estivesse preocupado apenas com os problemas jurídicos surgidos 
em contratos de adesão dentro de uma atividade específica, com a bancária ou a de 
serviços de saúde. Mesmo assim, poderíamos ser mais específicos: no caso de contratos 
de adesão celebrados entre bancos e correntistas, o que exatamente ele estudaria? A 
definição de taxas de juros? Neste caso, como ele estudaria este problema? Sabendo o 
que diz a doutrina? Como se posicionam os tribunais? Talvez ele queira fazer uma 
pesquisa de campo, como fazem os antropólogos, e verificar, na prática de uma 
determinada agência bancária, que tipos de esclarecimentos os correntistas de fato 
recebem quando assinam seus contratos, se é que os recebem, e se isso está de acordo 
ou não com as boas práticas determinadas pela legislação consumerista. Ou, ainda, 
talvez ele queira saber como este mesmo problema jurídico é tratado em outras 
jurisdições. Finalmente, ele pode querer fazer um estudo interdisciplinar e avaliar qual é 
o impacto econômico de uma dessas muitas coisas mencionadas. As possibilidades são 
muitas, enfim, e tudo isso faz de qualquer instituto jurídico um objeto que, à primeira 
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vista, é confuso de ser observar em sua totalidade (se é que a sua totalidade é 
observável, tão complexa que é). 
Descrever de forma organizada uma parte de realidades assim complexas é uma 
possibilidade interessante para uma pesquisa científica. Esse tipo de tema-problema é o 
que se chama aqui de problema descritivo: nele, o pesquisador quer oferecer um 
retrato compreensível de fenômenos complexos, que ajudam a entender melhor as 
particularidades neles envolvidas. 
Tomemos um exemplo conhecido e esclarecedor: a questão da morosidade judicial. 
Imaginemos que um pesquisador queira investigar o porquê de a justiça brasileira ser 
tão lenta. Uma maneira ruim de fazê-lo será simplesmente desembestar-se a escrever 
sobre “Da morosidade judicial”, dizendo que o problema é antigo, e vem desde a 
Colônia, e que as suas causas são múltiplas, e que o sistema judicial é complexo e de 
tudo pode-se agravar, mas que por outro lado há os princípios da ampla defesa e do 
duplo grau de jurisdição, mas que um processo de duração razoável também é direito de 
todos segundo Pacto de São José da Costa Rica, etc. etc. etc. Um trabalho assim não 
diria nada de novo, e certamente não concluiria novidade alguma: provavelmente 
exortaria as autoridades a fazerem reformas de toda sorte, que são urgentes e exigidas 
pela boa Justiça! – assim mesmo, com maiúscula e exclamação ao final. Nada disso é 
novidade e nada disso é relevante como problema de pesquisa. (Ao menos não da forma 
apresentada aqui, que é caricata mas não é tão distante de muita coisa que se lê por aí.) 
Se o primeiro teste para um bom trabalho científico é sua relevância e mínimo de 
originalidade no trato do tema, um trabalho assim deve ser descartado de plano. 
Para remediar esse estado de coisas, dever-se-ia começar buscando uma forma original 
de abordar este velho problema. Uma possibilidade seria avaliar o desempenho 
individual de juízes que trabalham sob as mesmas condições no que diz respeito à 
celeridade com que julgam. Note-se bem: o problema original do pesquisador – “Por 
que a justiça é lenta?” –, que era muito amplo e complexo, ficou agora mais simples e 
instigante: “Há diferenças de desempenho, em termos de celeridade, entre juízes que 
trabalham sob as mesmas condições materiais e processuais?”.25 Outro dado de se notar 
 
25 Este é um dos problemas abordados pelo Projeto Meretíssimos, da ONG Transparência Brasil, de onde 
se tirou a inspiração para este exemplo. O leitor poderá, com muito proveito, acessar os relatórios de 
pesquisa do projeto em http://www.meritissimos.org.br/stf/index.php. Recomenda-se também a leitura 
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aqui é que boa parte das fontes que normalmente usamos em pesquisas jurídicas não 
serão úteis para responder a esta pergunta: o problema, da forma apresentado, não é um 
problema de interpretação legal, nem de divergências doutrinárias. É um problema 
fático: quanto demora cada juiz para julgar, e como posso explicar as eventuais 
diferenças de desempenho entre eles? Pois bem, o pesquisador descobrirá rapidamente 
que sua tarefa será identificar, dentro de um conjunto de julgados, a data de recebimento 
de cada ação por um magistrado, a data de seu respectivo julgamento, medir o tempo de 
sua duração e comparar os desempenhos de cada juiz. Por uma questão de facilidade no 
acesso a informação, ele poderá restringir-se ao STF ou ao STJ, que oferecem essas 
informações on line em seus sítios de internet. Poderá também medir os intervalos entre 
diferentes etapas processuais (pedidos de vista, pedidos de informações, providências 
administrativas internas da corte) e ensaiar algumas hipóteses explicativas mais 
específicas sobre certas causas de demora pontuais, o que faria sua observação um tanto 
mais interessante. Suas principais fontes de pesquisa, em uma investigação desse tipo, 
seriam os extratos processuais disponíveis nessas páginas. 
Um problema descritivo depesquisa pode perfeitamente ter por objeto a dogmática 
jurídica. Pesquisas assim simplesmente propõem-se a descrever qual é o estado da arte 
da regulação jurídica de certo assunto ou problema, com vistas a facilitar a construção 
de respostas jurídicas naquela matéria. São muito úteis quando o pesquisador se 
interessa por temas cuja regulamentação jurídica está dispersa por diversas leis e áreas 
do direito. Imaginemos, por exemplo, que alguém que se interesse por bioética queria 
saber com precisão os termos e limites em que o ordenamento jurídico brasileiro tutela 
o direito à vida. Sua pesquisa poderia ser um levantamento, feito em todo o 
ordenamento, dos dispositivos legais que tutelam a vida (ou, ao contrário, permitem o 
seu sacrifício) em qualquer etapa do seu desenvolvimento biológico: desde a 
Constituição, que consagra o direito à vida mas permite a pena de morte em casos de 
guerra declarada; até o Código Penal, que pune o homicídio mas permite descriminantes 
e exculpantes em certas situações, como também o faz com o aborto; passando por toda 
a legislação sobre pesquisas com células tronco embrionárias, o Estatuto da Criança e 
do Adolescente (que contém dispositivos sobre gestação e saúde fetal), além das leis e 
instruções normativas que eventualmente disciplinem o cuidado médico e respeito à 
 
das explicações metodológicas da pesquisa, que estão disponíveis em 
http://www.meritissimos.org.br/stf/@metodo.php. 
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autonomia de pacientes acometidos por doenças terminais, como o Estatuto de Ética 
Médica. A depender da específica corrente filosófica a que se filie, poderá ser também 
útil comparar a tutela jurídica das diversas formas de vida (humana, demais animais, 
vegetais, biomas, ecossistemas) umas com as outras, e então a legislação a ser 
pesquisada seria um tanto ampliada. A tarefa do pesquisador que se aventure por esse 
campo será reconstruir as normas jurídicas que podem ser extraídas de toda essa 
legislação, bem como o de organizá-la de forma ordenada, a partir das boas regras de 
hermenêutica jurídica. Ao final, ele terá ajudado a esclarecer o disciplinamento jurídico 
do importante conjunto de temas que tangem o seu trabalho. 
3.2. Problemas propositivos: qual é a melhor resposta jurídica para um 
problema? 
Há outro tipo de tema-problema do qual trabalhos jurídicos normalmente se ocupam, 
que podemos chamar de problemas propositivos: aqueles que, ao invés de meramente 
retratarem o seu objeto de pesquisa, esforçam-se em oferecer uma resposta, bem 
construída e bem fundamentada, sobre como o problema deve ser juridicamente 
considerado, ou tratado, ou classificado, ou respondido. Chamamos este tipo de resposta 
de normativa, pois ela se baseia não em regras causais de experiência natural, mas sim 
em regras sociais (éticas, morais, jurídicas, econômicas) que nos dizem, com um viés 
eminentemente prático,26 como devemos agir em face da situação-problema abordada. 
A primeira coisa a ter em mente talvez seja óbvia, mas é demasiadamente importante 
para não ser explicitada: respostas normativas sempre são dadas a partir de um critério, 
um parâmetro, e no caso das respostas jurídicas, este parâmetro é dado pelas normas 
jurídicas. Estas normas provêm principalmente do direito posto, que é aquele criado 
pela atividade oficial do Estado através dos procedimentos legislativos aceitos na 
prática jurídica de cada nação (aprovação bicameral no Congresso seguida de sanção 
presidencial no Brasil; “Raínha no Parlamento” na Inglaterra; aprovação pelos Majlis e 
aprovação pelo Conselho de Guardiões no Irã; etc.). O direito posto, antes de ser 
aplicado a um caso concreto, tem de ser interpretado, e esta atividade interpretativa é 
compartilhada por diversos atores jurídicos em uma dada comunidade: alguns o 
 
26 SASTRE ARIZA, Santiago. “Para ver com mejor luz. Una aproximación al trabajo de la dogmática 
jurídica”. In: C. COURTIS (org.), Observar la ley. Ensayos sobre metodología de la investigación 
jurídica. Madrid: Trotta, 2006. 
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interpretam oficialmente, como os juízes de direito; outros o interpretam com vistas às 
atividades práticas do direito, como advogados e tabeliães; e outros ainda o fazem em 
caráter mais acadêmico e menos comprometido com casos particulares, como os 
chamados “juristas”. Todos estes profissionais, conjuntamente (uns mais, outros menos, 
mas ainda assim conjuntamente) contribuem para a formação de um grande repositório 
de regras que nos dirá, diante dos mais variados casos, como devemos entender o 
regramento jurídico de uma dada situação e, assim, como devemos agir para “seguir o 
direito” em diante dela. Podemos chamar este grande depositório de entendimentos 
jurídicos coletivos de dogmática jurídica. Este contrato é válido? Como devo realizar 
esta operação societária? Este tributo é constitucional? As respostas a estas perguntas 
são dadas a partir da dogmática jurídica (dogmática civil, comercial, tributária) e 
conhecê-las bem é aquilo que se espera de um bacharel em Direito. É este tipo de 
conhecimento que dá valor social aos egressos das academias jurídicas. 
Conforme opiniões particulares vão ganhando aceitação dos membros da comunidade 
jurídica, elas ganham força normativa: tornam-se normas jurídicas cujo cumprimento é 
revestido de grande expectativa social, por parte de todos os atores do sistema jurídico e 
da comunidade em geral. Quando o Código de Defesa do Consumidor foi aprovado pelo 
Congresso e sancionado pelo presidente, tendo tornado-se direito posto, algumas 
dúvidas interpretativas surgiram a respeito de diversos dispositivos seus. Uma delas 
dizia respeito à aplicabilidade, ou não, do CDC às atividades bancárias: muitos bancos 
alegavam que sua atividade só poderia ser disciplinada por lei complementar, nos 
termos da Constituição de 1988; entidades ligadas à defesa do consumidor, ao contrário, 
diziam que a legislação ordinária bastava para regulamentar relações de consumo entre 
bancos e correntistas. Formou-se grande debate jurídico que envolveu práticos do 
direito (advogados, juízes, desembargadores e ministros de tribunais superiores), 
acadêmicos de diversas áreas, experts contratados como pareceristas por ambas as 
partes, entidades de representação dos bancos e de defesa dos consumidores etc. Com o 
passar do tempo, depuraram-se os argumentos e prevalece hoje a opinião, já 
fundamentada pelo muito debate que a precedeu, de que o CDC aplica-se, sim, às 
relações entre bancos e seus correntistas. O argumento contrário já é percebido como 
juridicamente fraco, de pouca força normativa. Há, entre todos os envolvidos (bancos, 
advogados, juristas, juízes e consumidores) uma firme expectativa de que os bancos 
seguirão as normas de proteção ao consumidor porque elas lhes dizem respeito, e 
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qualquer desvio nesse sentido poderá ensejar reprovação jurídica (multas, condenações 
judiciais em ações individuais ou coletivas, etc.) e social (publicidade negativa, danos 
reputacionais) à instituição violadora. Supondo, assim, que um banco estrangeiro queira 
iniciar operações no Brasil e pergunte a seu corpo de advogados se o CDC será ou nãoaplicável a suas atividades, a resposta terá de ser positiva. Tal resposta positiva terá por 
fundamento uma interpretação da dogmática do Direito do Consumidor, nas linhas já 
mencionadas, na qual se reconhece existir uma norma jurídica, interessubjetivamente 
compartilhada pelos diversos operadores do direito, que manda aplicar a legislação 
consumerista às relações entre bancos e seus clientes. 
Pois bem, uma evidente possibilidade para um trabalho científico, seja ele um artigo, 
uma monografia ou uma tese, será o de responder normativamente a uma pergunta de 
caráter dogmático: tal coisa é permitida? proibida? obrigatória? quais são as 
conseqüências jurídicas da violação à regra posta? tal operação é ou não uma compra e 
venda, para fins tributários? esta outra operação é crime? é ilícito administrativo? Seria 
ilícito civil? Todas estas perguntas, que são jurídicas no sentido mais estrito da palavra, 
têm natureza dogmática (quem as faz quer saber como deve agir, à luz dos dogmas do 
direito), e trabalhos acadêmicos podem muito bem se ocupar de lhes propor respostas 
dogmaticamente fundamentadas. Podemos subdividir em dois grupos as pesquisas desse 
tipo: pesquisas de lege lata e de lege ferenda.27 
3.2.1. Pesquisas propostivistas de lege lata 
Um primeiro tipo de investigação dogmática é a que pode ser chamada de lege lata. Em 
latim, de lege lata significa “segundo a lei criada” ou “de acordo com a lei existente”. 
Este tipo de pesquisa elege um problema interpretativo-jurídico como objeto, e busca 
esclarecê-lo e oferecer a resposta que entende ser-lhe a melhor resposta jurídica, 
considerando os dispositivos legais válidos para a matéria em questão. Sinteticamente, 
podemos traçar um roteiro de cinco etapas para um trabalho científico que trabalhará 
um problema de interpretação jurídica de lege lata: 
 
27 A subdivisão a seguir é proposta em: COURTIS, Christian. “El juego de los juristas. Ensayo de 
caracterización de la investigación dogmática. In: C. COURTIS (org.), Observar la ley. Ensayos sobre 
metodología de la investigación jurídica. Madrid: Trotta, 2006. O conteúdo de cada uma das subdivisões 
foi parcialmente tirado da proposta de Courtis, mas modificado quando se entendeu necessário. 
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress 
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1. Identificação do problema interpretativo a ser tratado, com explicitação da 
natureza do problema. Quer-se dizer com isto que nem todos os problemas 
interpretativos são iguais. Algumas vezes, a dúvida interpretativa pode estar mais ou 
menos restrita a um conceito ou palavra, como no caso de saber se aeronaves seriam ou 
não “automóveis” para fins de pagamento do IPVA. Outras vezes, a legislação 
propositadamente usa expressões de conteúdo mais aberto, como “de forma 
proporcional” ou “conforme seja necessário e suficiente” – para não falar dos casos em 
que há uso de vocabulário de cunho marcadamente filosófico, como “justiça”, 
“dignidade”, “isonomia” etc. 
Saber o tipo de problema interpretativo ajudará na identificação dos tipos de materiais 
com que se precisará trabalhar, além do método apropriado para a pesquisa: um artigo 
sobre o conceito de “automóvel” para fins do IPVA não precisará passar por Kant; já 
um outro que tenha por tema o princípio da dignidade humana sob um viés filosófico 
dificilmente poderá deixar de considerá-lo. 
2. Seleção do conteúdo normativo relevante para a resposta à pergunta. Se a 
matéria-prima desta espécie de trabalho são as normas jurídicas, entendidas como os 
textos de direito posto e suas principais correntes interpretativas, é fundamental que, 
após identificado o problema e sua natureza, o pesquisador identifique e separe os textos 
legais e interpretativos que lhe sejam pertinentes. Assim, os diversos tipos de normas 
jurídicas pertinentes ao tema (leis, decretos, súmulas), bem como suas principais 
interpretações (correntes doutrinárias e jurisprudenciais, opiniões de jurisconsultos) 
devem ser coletadas nesta segunda fase. 
3. Precisar as respostas interpretativas rivais que têm sido propostas pelos 
principais debatedores do tema. Esta terceira etapa consistiria, por assim dizer, em um 
esmiuçar do estado da arte dos trabalhos dogmáticos já escritos sobre o assunto. Se 
minha dúvida interpretativa é sobre, digamos, a revogação ou não da Lei de Usura pelo 
artigo 406 Código Civil de 2002, preciso saber o que os juristas de referência no tema 
têm dito a este respeito. Aqui, mais do que simplesmente elencar as diferentes posições, 
há um exercício muito útil: tentar identificar qual é a questão de fundo sobre a qual 
discordam os adversários do tema. Não vale dizer que é sobre a vigência ou não da Lei 
de Usura, pois esta não é a questão de fundo, é a questão de frente. Existiria a dúvida, 
por exemplo, porque a corrente pró-vigência exige revogação explícita da dita lei, em 
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cumprimento ao que exige a Lei Complementar 95?28 Ou porque a corrente pró-
revogação identificaria a limitação às taxas de juros como uma intervenção já obsoleta 
na autonomia privada? 
Este método supõe que as divergências interpretativas sobre aspectos pontuais de textos 
legais são como meras pontas de icebergs, que escondem divergências mais 
substantivas que nem sempre aparecem explícitas. Ler textos dogmáticos “adversários” 
buscando a questão subjacente é uma boa maneira de trabalhar divergências 
interpretativas de forma mais convincente do que o simples “há quem diga A... por 
outro lado, há quem diga B...”, de onde pouca coisa se pode efetivamente concluir. 
Outro exemplo, insistindo neste mesmo ponto, que ajudará a esclarecer as coisas um 
pouco mais. Tomemos o debate em torno dos programas de ação afirmativa no ensino 
público superior - as impropriamente chamadas “políticas de quotas”. Há juristas 
competentes, esclarecidos e bem intencionados que são a favor dessas políticas, como 
há outros, com os mesmos predicados, que lhes são contrários. Sobre o que, afinal, 
divergem essas pessoas? O debate em geral aparece na mídia como se girasse em torno 
da existência ou não de raças, ou ainda da culpa das gerações presentes em relação aos 
atos discriminatórios do passado, sempre temperadas, num caso e noutro, por 
dispositivos constitucionais relativos à educação como direito de todos, ou ainda ao 
princípio da igualdade. Mas será este mesmo o âmago da disputa? Será que algum 
desses grandes juristas desconhece o estado da arte das pesquisas genéticas sobre raças, 
ou nosso passado escravista, ou os dispositivos constitucionais em questão? É de se 
duvidar. Haveria então algo mais profundo, e menos aparente, sobre o que discordam 
partidários e opositores das políticas de ação afirmativa? Esta é uma boa forma de 
começar a construir uma resposta dogmática para esta dúvida interpretativa. Será que 
estes adversários concordam, por exemplo, sobre qual a natureza e propósito do ensino 
superior, para fins de julgamento da (in)aceitabilidade das ações afirmativas? Como não 
há vagas no ensino superior em número suficiente para todos os interessados, o debate 
gira em torno da melhor forma de se distribuir um bem escasso, e fazer isso pressupõe 
que saibamos qual é a natureza do bem que estamos distribuindo, pois isso influi 
decisivamente na determinação dos critérios válidos para sua distribuição: se não 
 
28 Lei Complementar 95/1998, art. 9º: “A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis 
ou disposições legais revogadas”. 
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houver vinho de primeira linha em quantidade suficiente para todos os enófilos, posso 
aumentar o preço da garrafa e vendê-lo apenas para os que pode pagar mais por ele, mas 
este mesmo critério não será adequado para se determinar a forma de distribuição de 
vacina de poliomielite infantil em caso de escassez. Voltando à educação superior, se eu 
a enxergar como um mecanismo de integração e ascensão sociais, bem assim como 
parte de uma política distributiva mais ampla, talvez eu me incline em favor dos 
partidários das políticas de ação afirmativa; mas se eu a enxergar como parte de uma 
política de desenvolvimento tecnológico de ponta, ao contrário, talvez eu não esteja 
disposto a abrir mão dos candidatos mais bem preparados no presente, por mais que a 
seleção de alunos por este critério aprofunde desigualdades sociais historicamente 
construídas. Seria esta questão quanto à natureza do ensino superior a dúvida subjacente 
à polêmica em questão, escondida por debaixo da ponta do iceberg? Admitindo que sim, 
o pesquisador teria então de lhe buscar a resposta entre as normas jurídicas brasileiras: 
que dizem as normas pertinentes que deve ser a função atribuída à educação pelo 
Estado, para fins de resolução de conflitos jurídicos a seu respeito? Que diz a 
Constituição? E a legislação infraconstitucional? Estas perguntas de fundo, 
“descobertas” ou construídas pelo pesquisador, são, note-se bem, ótimos temas-
problemas para trabalhos dogmáticos. Note-se também que a questão posta nestes 
termos abre outras portas até agora pouco aventadas: critérios de ação afirmativa são 
igualmente (in)aceitáveis no ensino médio e no ensino superior? Na graduação e na pós-
graduação? Questões assim tratadas ganham novos horizontes com muita facilidade. É 
por isso que certa quantidade de reflexão e pesquisa iniciais são necessárias antes de o 
pesquisador estabelecer em caráter definitivo qual será o tema-problema de sua 
pesquisa. 
4. Encontrar o melhor critério a partir do qual é possível eleger uma “vencedora” 
entre as diversas respostas rivais analisadas. Aqui, o pesquisador dará a sua resposta 
para o problema jurídico que escolheu tratar. Sigamos com a questão das políticas de 
ação afirmativa no ensino superior: se estipulo, por exemplo, que a questão de fundo diz 
respeito à forma de alocação de um bem escasso (vagas no ensino superior gratuito) 
com vistas à redução dos níveis de desigualdade, posso então decidir que a melhor 
resposta será aquela que determinar a forma mais justa de alocação dessas vagas. O 
critério que me permitiria escolher entre respostas rivais, caso seja esta a minha escolha, 
seria uma teoria da justiça distributiva. Mas há outras opções: posso me convencer de 
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que a verdadeira questão é não a maneira mais justa, mas sim a maneira mais eficiente, 
do ponto de vista da geração social de riquezas, de alocação desses recursos sociais 
escassos, por onde eu provavelmente desaguaria em alguma teoria de análise econômica 
do direito. A escolha entre ambas é possível, e há juristas de primeiro time que optaram 
por cada uma delas. 
5. Conclusão. Apresenta-se, ao final, o resultado da análise da questão interpretativa à 
luz do problema identificado considerado em face da matriz teórica escolhida para seu 
tratamento. Este caminho permite a construção de uma opinião interpretativa bem 
fundamentada, e explícita em seus critérios de escolha, o que lhe agrega valor um bom 
valor metodológico. 
 
QUADRO SINTÉTICO: ROTEIRO PARA PESQUISA DOGMÁTICA DE LEGE LATA 
• Identificação do problema interpretativo , com especificação de sua natureza . 
• Seleção do conteúdo normativo relevante . 
• Identificação das respostas rivais ao caso , dadas pelos principais autores no tema. 
• Explicitação do critério (matriz teórica) que permitirá escolher entre respostas rivais. 
• Identificação da resposta escolhida , à luz do critério eleito. 
 
3.2.2. Pesquisas propositivas de lege ferenda 
“De lege ferenda” é uma expressão latina que significa “de encontro à lei”, ou “contra a 
lei”. Pesquisas deste tipo não querem investigar uma dúvida interpretativa para um 
problema jurídico, como fazem as de lege lata. Elas já partem de uma a resposta 
dogmática estabelecida, mas com a qual não concordam; por isso, criticam a resposta 
juridicamente válida e / ou propõem-lhe alterações.29 
Em termos metodológicos, não há muita diferença substantiva entre este tipo de 
pesquisa e as de lege lata: a questão passará pela identificação de um problema, a 
 
29 “Bajo este rótulo [investigación de lege ferenda], considero las investigaciones dedicadas a la propuesta 
de reformas o modificaciones del derecho positivo. La motivación de este tipo de investigación es la 
insatisfacción del jurista com una regulación vigente em el derecho positivo – o com la ausência de 
regulación de un determinado caso”. COURTIS, Christian, “El juego de los juristas...”, p. 125. 
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Realce
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avaliação de propostas alternativas de acordo com determinada matriz teórica, e 
finalmente uma proposta de alteração. 
O problema identificado pode dizer respeito à redação concreta de uma dada lei, ou 
ainda à interpretação predominante de um dispositivo legal. Pode também dizer 
respeito a um elemento de legislação antigo, que permaneça vigente mas esteja já em 
desacordo com o contexto (político, econômico, social) do atual arranjo social. A idéia 
será sempre mostrar que uma determinada parte da ordem normativa vigente, 
considerada a redação com que está positivada e / ou o entendimento dominante a seu 
respeito, é por alguma razão ruim ou insatisfatória e precisa de alteração. Campos 
férteis para colheita deste tipo de problemas são as áreas da vida social em que houve 
significativas mudanças de paradigmas, sem a devida atualização legislativa. Os direitos 
civis dos casais homoafetivos são um exemplo. Outro exemplo atual vem de área 
bastante diferente, o penal: faz sentido manter um estrito controle penal sobre a evasão 
de divisas, como faz a Lei 7.492/86, elaborada em uma década econômica e 
monetariamente tormentosa, se considerarmos a atual estabilidade financeira e a 
plenitude de reservas cambiais que o Brasil hoje tem? Não seria o caso de se rever a 
interpretação dos dispositivos legais pertinentes, ou mesmo de se lutar por sua 
derrogação? 
A etapa seguinte seria mostrar os argumentos que sugerem a inadequação da atual 
regulamentação legal da situação-problema – argumentos econômicos, como no caso da 
Lei 7.492/86, ou argumentos políticos (de teoria democrática), no dos direitos dos casais 
homoafetivos –, bem como que apontem os rumos de uma desejada alteração das 
normas que disciplinem a situação. Tudo isso partirá da matriz teórica com que a 
questão for analisada: uma teoria da intervenção jurídica desejável por parte do Estado 
na arena macroeconômica, ou uma teoria dos direitos fundamentais das minorias, em 
cada um dos exemplos citados. A questão de fundo, conforme identificada pelo 
pesquisador, indicará o tipo de teoria de que se necessita. Esta etapa é análoga à quarta 
etapa da pesquisa de lege lata, descrita pouco atrás. 
Finalmente, o artigo poderá indicar, a título de conclusão, e com base na mesma matriz 
teórica, as alterações legislativas necessárias para um melhor tratamento jurídico da 
situação problema. 
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QUADRO SINTÉTICO: ROTEIRO PARA PESQUISA DOGMÁTICA DE LEGE FERENDA 
• Identificação do problema legislativo , com especificação de sua natureza (mudança de 
paradigma, efeitos indesejados da redação legislativa atual). 
• Identificação critério (matriz teórica) que mostra a imperfeição do quadro normativo 
vigente. 
• Formulação de proposta alternativa , à luz do critério eleito. 
 
 
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Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei 
 
 
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al do artigo científico. 
	From the SelectedWorks of Rafael Mafei Rabelo Queiroz
	January 2010
	Artigo Científico: concepção, temas, métodos e técnicas

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