Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1, Definição ....................................................................... 3 2. Epidemiologia .............................................................. 3 3. Fisiopatologia .............................................................. 4 4. Clínica ............................................................................. 9 5. Diagnóstico ................................................................13 6. Tratamento .................................................................17 7. Prognóstico ................................................................23 Referências bibliográficas .........................................26 3ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO 1, DEFINIÇÃO Acidente vascular encefálico é defi- nido por uma lesão encefálica se- cundária a um mecanismo vascular e não traumático, caracterizado pela instalação súbita de um déficit neu- rológico, geralmente focal, de rápida evolução, com duração maior que 24 horas (ou menor, quando leva o pa- ciente à morte). É conhecido tam- bém como acidente vascular cerebral (AVC) ou derrame cerebral, mas sua nomenclatura mudou para abranger todo o encéfalo, visto que estruturas do tronco cerebral, diencéfalo e ce- rebelo também podem sofrer esses eventos vasculares. CONCEITO! O AVE (ou AVC) é um défi- cit neurológico agudo, de origem vascu- lar, com duração maior que 24 horas INTRODUÇÃO LESÃO ENCEFÁLICA Secundária a uma lesão vascular Não traumático Déficil neurológico Irreversível naturalmente Instalação súbita, geralmente focal 2. EPIDEMIOLOGIA Atualmente, é 2ª causa mais comum de óbito no mundo (atrás apenas da cardiopatia isquêmica, mostrando a predominância dos eventos vascula- res como causas de morte), e é o dis- túrbio neurológico mais incapacitante. No Brasil, é a causa mais freqüen- te de óbito da população adulta, e corresponde a grandes gastos anuais nos setores de saúde pública – por- tanto sua prevenção é de interesse não só para a saúde, mas para a eco- nomia nacional. 4ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Sendo assim, os fatores de risco para o AVE podem ser divididos em modificáveis (que podem ajudar na prevenção) e não modificáveis. IN- SERIR SLIDE 1 Os AVEs são classificados como is- quêmicos (AVEi) ou hemorrágicos (AVEh), em relação ao processo fisio- patológico subjacente. Os AVEi são os mais comuns, representando até 85% dos casos, e têm como fatores de risco principais a HAS e a fibrilação atrial (portanto, fatores de risco modi- ficáveis). Já os AVEh, correspondendo a 15% dos casos, têm como princi- pais fatores de risco a HAS, angio- patia amilóide (condição comum em pacientes com idade avançada), má formações vasculares (MAV) e uso de drogas ilícitas, em especial a cocaína (principalmente após as primeiras 48 horas de uso). Figura 1 AVE isquêmico. A seta aponta para a interrup- ção do fluxo sanguíneo por um trombo. Fonte: Socieda- de Brasileira de Doenças Cerebrovasculares Figura 2: AVE hemorrágico. Fonte: Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares SE LIGA! A hipertensão arterial é o prin- cipal fator de risco para ambos os tipos de AVE, isso porque é importante causa de aterosclerose de artérias carótidas e vertebrais, causando o AVE isquêmico, além de ser um dos fatores responsá- veis pela formação dos aneurismas de Charcot-Bouchard, pequenos aneuris- mas que promovem fragilidade vascular e contribuem para o AVE hemorrágico quando rompidos, em geral durante um pico hipertensivo. 3. FISIOPATOLOGIA O AVE isquêmico é causado por uma obstrução súbita do fluxo arterial en- cefálico, devido, na maioria das vezes, a uma causa embólica (trombo pro- veniente de circulação distante) ou, mais raramente, trombótica (o trom- bo é formado na própria artéria envol- vida no AVE). Quando não é possível determinar a causa do AVE, o deno- minamos AVE criptogênico. 5ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO O AVE criptogênico é responsável por grande partes dos AVEs. Embora não tenha fisiopatologia esclarecida, estu- dos sugerem que seja decorrente de embolia paradoxal através de um fo- rame oval patente no coração, ou que seja causado por êmbolos provenien- tes de placas ateromatosas instáveis da aorta ascendente. Têm, em geral, quadro clínico semelhante aos AVEs isquêmicos embólicos! EPIDEMIOLOGIA DO AVE ISQUÊMICO – 85% DOS AVES AVE embólico – 45% dos casos AVE criptogênico – 30% AVE trombótico lacunar - 20% AVE trombótico de artéria de médio calibre – 5% Tabela 1: Epidemiologia dos tipos de AVE SE LIGA! O AVE isquêmico trombótico mais comum é o AVE lacunar! São pe- quenos infartos causados pela oclusão das artérias cerebrais perfurantes – que nutrem tálamo, cápsula interna e gân- glios da base – em razão do espessa- mento hialino da camada média dessas artérias (a chamada “lipo-hialinose”, que tem como um dos fatores de ris- co também a HAS!). O AVE isquêmico trombótico de artérias médias é mais raro, sendo o mais comum o AVE por trombose de artéria basilar, devendo ser suspeitado quando o déficit neurológico se instala de forma subaguda (é o cha- mado “AVE em evolução”). Nas primeiras 24 horas após o AVE, métodos como o PET scan podem delimitar as áreas infartadas e as zo- nas de penumbra A interrupção do fluxo sanguíneo subsequente gera isquemia, privan- do neurônios e células gliais de oxi- gênio e glicose, e causando disfunção neuronal (quando o fluxo cerebral de oxigênio cai abaixo de 20ml/100mg/ min). Caso essa não haja reversão dessa situação, acontece o infarto do núcleo isquêmico, a morte do tecido e uma lesão irreversível. Ao redor da região infartada, existe a zona de pe- numbra, onde um mecanismo de ex- tração aumentada de oxigênio ape- sar do baixo fluxo permite que a lesão causada seja potencialmente rever- sível, contanto que o fluxo sanguíneo seja restaurado (por recanalização do vaso ocluído ou circulação colateral, altamente dependente da pressão arterial – por isso, é preciso ter cuida- do no controle da PA na fase aguda do AVE isquêmico!). SE LIGA! Existem 2 tipos de AVE isquê- mico de causa embólica: Cardioembóli- co: o êmbolo é proveniente do coração, na maior parte das vezes formado em razão da fibrilação atrial (trombo no átrio esquerdo); seguido do IAM de parede anterior (trombo no ventrículo esquer- do) e pelas cardiomiopatias (trombos no átrio ou ventrículo esquerdo) 6ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Arterioembólico: o êmbolo é prove- niente de uma artéria – em geral, uma placa aterosclerótica instável prin- cipalmente em artérias carótidas ou vertebrais (logo, como vimos, a HAS é fator de risco para AVE isquêmico arterioembólico por causar ateroscle- rose nessas artérias!) Após o infarto neuronal, instala-se principalmente o edema citotóxico (intracelular, devido ao desbalanço da bomba de Na/K pela falta de ATP), mas o edema vasogênico também pode acontecer (mais raramente e principalmente nos estágios tardios do infarto, extracelular, por extrava- samento do líquido dos vasos para o parênquima em razão da perme- abilidade capilar aumentada), e têm seu pico de 3-4 dias após o AVE, podendo causar complicações como hipertensão intracraniana e hernia- ção cerebral. FISIOPATOLOGIA Interrupção do fluxo Privação neural de oxigênio e glicose Privação neural de oxigênio e glicose Disfunção neuronal Lesão irreversível Não reversão do quadro 7ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Figura 3: RM de crânio em corte axial demonstrando edema citotóxico em hemisfério esquerdo. Observe que o edema é difuso e não segue um percurso definido. Fonte: radiopaedia Figura 4: RM de crânio em corte axial demonstrando edema vasogênico em hemisfério direito. Observe que o edema é delimitado e segue o percurso arterial. Fonte: radiopaedia Nas primeiras 48 horas após o AVE, há migração de neutrófilos e monócitos para a região infartada, contribuindo para a inflamação local e edema cere- bral. Após cerca de 10 dias, o edema citotóxico é resolvido, e a zonainfarta- da fica nítida na fotografia. Após esse período, as células fagocitárias produ- zem necrose de liquefação nessa re- gião, deixando um aspecto cístico pelo centro liquefeito. O Ataque isquêmico transitório (AIT) é um evento também isquêmico, mas não pode ser considerado AVE visto que trata-se de um déficit neurológico focal reversível, transitório, e de dura- ção inferior a 24 horas. Em geral, é proveniente de causas arterioembóli- cas, e um pequeno número de casos advém de trombose em evolução. Além de ter manifestações clínicas se- melhantes ao AVE isquêmico, é também um fator de risco para o mesmo: Cerca de 25% dos AVEs isquêmicos são pre- cedidos de ataques isquêmicos transi- tórios, muitas vezes não identificados. SE LIGA! Alguns sinais são bem carac- terísticos de AVE de território vertebro- basilar: hemianopsia, agnosia visual, sín- drome de Balint (apraxia oculomotora) e síndrome de Anton-Babinski (o paciente perde a visão mas afirma ser capaz de enxergar) Se o AIT do tipo sintomas transitórios com infarto (TSI) faz lesão irreversível, como diferenciá-lo do AVE isquêmico? Pelo tempo, visto que o AIT tem sin- tomas com tempo inferior a 24 horas. Além disso, a região infartada do TSI 8ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO costuma ser bem inferior que a do AVE isquêmico. Entretanto, seu reconhe- cimento é importante por se tratar de uma condição com altíssimo risco para AVE isquêmico. Já o AVE hemorrágico ocorre pela ruptura de estruturas vasculares ce- rebrais, fazendo compressão das es- truturas encefálicas e causando is- quemia secundária e edema. Pode ser devido a uma Hemorragia In- traparenquimatosa (HIP), quando o sangramento acontece dentro do parênquima cerebral, principalmente devido à fragilidade da parede vascu- lar e rompimento dos aneurismas de Charcot-Bourchard (causados pela adaptação do vaso à HAS); ou devi- do a uma Hemorragia Subaracnói- dea (HSA), quando o sangramento ocorre entre as meninges aracnóide e pia-máter, principalmente pelo rom- pimento de aneurismas saculares. Figura 5: Diferença entre hemorragia intraparenquima- tosa e hemorragia subaracnóidea. Fonte: msdmanuals. SE LIGA! O tipo mais comum de AVE hemorrágico é o hipertensivo! Causa- do pelo rompimento dos aneurismas de Charcot-Bouchard, durante um pico hi- pertensivo, principalmente nas artérias perfurantes (as mesmas acometidas pelo AVE isquêmico lacunar).O acúmu- lo de sangue no parênquima cerebral ou no espaço subaracnóide (por compres- são) eleva agudamente a pressão intra- craniana, em razão do edema vasogêni- co causado em volta do hematoma pelo rompimento vascular. Quanto maior a extensão do sangramento e o volume do hematoma, maior será a hi- pertensão intracraniana e pior será o prog- nóstico. Além disso, outros fatores podem piorar esse prognóstico, como a presença de sangue nos ventrículos (hemoventrícu- lo) ou hemorragia subaracnóidea. Esses parâmetros são analisados na Escala de Fisher modificada, criada inicialmen- te para análise seletiva de hemorragias subaracnóideas mas hoje utilizada para mensurar prognóstico de qualquer AVE hemorrágico. O hematoma aumenta de tamanho nas 12-36 horas seguintes ao AVE, pela inflamação local, contribuindo para a piora clínica e para o pior desfecho. ESCALA DE FISHER MODIFICADA Grau 0 Ausência de sangramentos Grau 1 HSA < 1mm, sem HIP ou sangue nos ventrículos Grau 2 HSA < 1mm, com sangue nos ventrículos laterais, sem HIP Grau 3 HSA > 1mm, sem HIP ou sangue nos ventrículos Grau 4 HSA > 1mm, com sangue nos ventrículos laterais OU HIP Tabela 2: Escala de Fisher modificada. Observe que a presença de sangramento intraparenquimatoso, independente de sangue nos ventículos ou no espaço subaracnóideo, já classifica Fisher 4. 9ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Ao comprimir as estruturas encefáli- cas que contém os neurônios do sis- tema reticular ascendente, (respon- sáveis pela vigília), como o tálamo e mesencéfalo, o sangramento provoca rebaixamento do nível de consciência e até coma. SE LIGA! A letalidade da hemorragia in- traparenquimatosa (HIP) é extremamen- te alta, em torno de 50%. O paciente vai a óbito, em geral, por consequências da hipertensão intracraniana, como a her- niação cerebral (que causa compressão do tronco encefálico por protusão de es- truturas cerebrais para além de seu limi- te anatômico) 4. CLÍNICA Devemos ter em mente que o AVE é uma doença tempo-dependente, ou seja, reconhecer precocemente seus sinais clínicos é de extrema importância para se agir rápido no tratamento e aumentar as chances de recuperação completa. Os sinais e sintomas dependem da área acometida do encéfalo; por isso, ter conhecimento da anatomia vascu- lar encefálica e das suas regiões de irrigação é de extrema importância para a avaliação clínica. O encéfalo é irrigado por dois siste- mas arteriais: um mais anterior (siste- ma carotídeo) e outro mais posterior (sistema vertebrobasilar). Figura 6: Anatomia da vascularização do encéfalo – Polígono de Willis. Fonte: www.auladeanatomia.com.br 10ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO A depender da região infartada no AVE isquêmico, diferentes manifes- tações clínicas podem ser observadas: Sistema carotídeo • Artéria oftálmica: alterações vi- suais monoculares • Artéria cerebral anterior: sinais de frontalização, déficit motor e sensitivo na região proximal do membro superior contralateral • Artéria cerebral média: déficit motor; perda sensorial em face ou membro superior; afasia de Werni- ck (área da compreensão da fala) e Broca (área motora da fala) no he- misfério dominante; Neglingência no hemisfério não dominante; he- miplegia fascio-braquio-crural (por atingir cápsula interna); síndrome piramidal contrala- teral (por interrupção da via corticoespi- nhal) Obs.: Síndrome do 1º neurônio motor: ocorre quando atinge as arté- ria perfurantes do sis- tema lentículo-estria- do, que irriga a cápsula interna (local mais atingido no AVE lacunar!). O pa- ciente apresenta sincinesias, sinal de Babinski, hiperreflexia, espasticidade e sinreflexias. Sistema vertebrobasilar • Artéria cerebral posterior: ce- faléia ipsilateral, alterações de me- mória, hemibalismo, alterações do campo visual, rebaixamento do nível de consciÊncia, déficit sensi- tivo, alterações de funções nervo- sas superiores • Artéria vertebral ou cerebelar póstero-inferior: síndrome bulbar (vertigem central, disfagia, náuse- as, vômitos, nistagmo e ataxia ipsi- lateral) e síndrome de Horner ipsi- lateral (ptose palpebral, anisocoria, perda da sensibil ida- de térmica e dolorosa em face ipsilate- ral, disartria e nistagmo para o lado infartado). 11ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO SE LIGA! Dentre as causas do RNC as- sociado ao AVE, podem estar: Edema cerebral Transformação hemorrágica do AVE is- quêmico nas primeiras 48 horas Crises convulsivas Distúrbios hidroeletrolíticos (principal- mente hiponatremia e hiperglicemia) Infecções de repercussão sistêmica A artéria mais afetada pelo AVE isquêmico é a cerebral média, afe- tando locais irrigados por essa artéria, enquanto as mais atingidas pelo AVE hemorrágico são os ramos perfuran- tes. Se incluem nesse quadro pare- sias e parestesias plenas ou no lado contralateral à artéria afetada, altera- ções na visão, afasias, rebaixamen- CLÍNICA LESÃO ENCEFÁLICA Sistema carotídeo Sistema vertebrobasilar A. Cerebral posterior A. vertebral/cerebelar postero/inferior Cefaleia ipsilateral; alterações de memória; hemibalismo; alterações campo visual; RNC Síndrome bulbar; síndrome de Horner; A. oftálmica A. Cerebral anterior A. Cerebral média Sinais de frontalização; déficit motor e sensitivo Déficit motor; perda sensorial em face; afasia; síndrome piramidal Alterações visuais monocoulares 12ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO to de nível de consciência, tontura e distúrbios de marcha (principalmen- te nos AVEs cerebelares), cefaléias súbitas (muito relacionadas à HSA), dentreoutros. O chamado “AVC isquêmico maligno” ou “infarto maligno cerebral” é defi- nido como o infarto de mais de 50% do território de irrigação da artéria ce- rebral média, representando grande parte do hemisfério cerebral, e têm mortalidade de 80% apesar do tra- tamento conservador adotado, sendo uma importante causa de morte en- cefálica No AVE hemorrágico, os sintomas aparecerão de acordo com o local em que a hemorragia esteja concen- trada. Os locais mais acometidos na Hemorragia Intraparenquimatosa (HIP) são: Putâmen, Tálamo, Cerebe- lo e Ponte. LOCAIS MAIS ACOMETIDOS NA HIP Putâmen – 30 a 50% dos casos Tálamo – 15 a 20% Cerebelo – 10 a 30% Ponte – 10 a 15% Tabela 3: Locais mais acometidos pela hemorragia intraparenquimatosa. • Hemorragia no putâmen: Cos- tuma atingir a cápsula interna, cursando com quadro súbito de hemiplegia fasciobraquiaquicrural contralateral. Desvio do olhar con- jugado contrário à hemiplegia tam- bém pode ocorrer. Aqui, a hemor- ragia pode se estender e causar hemoventrículo. • Hemorragia talâmica: Também atinge a cápsula interna, gerando os mesmos sintomas da hemor- ragia no putâmen, associada a hemianestesia para todas as sen- sibilidades. Pela extensão da he- morragia ao hipotálamo e teto do mesencéfalo, são comuns: desvio dos olhos em direção ao nariz, ou para o lado da hemiplegia; pupi- las mióticas; anisocoria com pupila menor ao lado da hemorragia (sín- drome de Horner) e afasia talâmi- ca. É comum a hemorragia se es- tender ao terceiro ventrículo. • Hemorragia de cerebelo: gera quadro idêntico ao AVE isquêmi- co cerebelar (náuseas, vertigem central, vômitos e ataxia cerebe- lar aguda). Têm grande efeito ex- pansivo, podendo comprimir o IV ventrículo e levar à hidrocefalia obstrutiva, piora da HIC e coma. A complicação mais temível é a herniação através do forame mag- no e conseqüente compressão de estruturas como amígdalas cere- belares e bulbo, levando à apnéia súbita e morte. • Hemorragia de ponte: Tem um quadro muito característico: qua- driplegia súbita, coma e pupilas mióticas e fototorregentes, além de perda dos reflexos oculocefá- licos. Decerebração, hiperpneia e 13ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO hiperidrose são achados comuns, e a letalidade é alta: quase 90% dos casos. A hemorragia lobar (ou seja, dos lo- bos frontal, parietal, temporal e occi- pital) é um tipo de HIP que acomete principalmente os idosos, em razão de sua causa: a angiopatia amilóide que ocorre nesta idade, a rotura de microvasos subcorticais cujas pare- des contém depósitos amilóides. Os pacientes com doença de Alzheimer são, portanto, ainda mais propensos a esta condição! Já na Hemorragia Subaracnóidea (HSA), o quadro clínico é caracteri- zado por uma súbita cefaléia holo- craniana de forte intensidade (a “pior da vida”), do tipo “tunderclap” ou em “trovoadas”, podendo evoluir com síncope, vômitos, rigidez de nuca e sinais de meningismo e associada ou não a déficit neurológico focal – o principal é a paralisia do nervo ocu- lomotor, gerando anisocoria, diplo- pia e estrabismo divergente. Crises convulsivas são uma complicação freqüente nestes casos. A escala de Hunt-Hess é a principal utilizada para determinação clínica do prog- nóstico, e também como definidora de condutas. ESCALA DE HUNT-HESS I Assintomático ou cefaléia ou rigidez de nuca leves; ECG = 15 II Cefaléia ou rigidez de nuca moderadas a grave; possível acometimento de par craniano; ECG 13- 14 III Estado confusional; possível déficit focal leve; ECG 13-14 IV Torpor; possível hemiparesia moderada a grave; ECG 7-12 V Coma; com ou sem descerebração; ECG 3-6 Tabela 4: Escala prognóstica de Hunt-Hess. ECG = escala de coma de Glasgow. 5. DIAGNÓSTICO • Escala FAST: É usada na triagem para reconhecimento rápido de si- nais clínicos de AVE, baseada na escala de suspeita pré-hospitalar de Cincinnati, que se baseia em Face (paralisia facial), Arms (fra- queza nos MMSS), Speech (alte- rações de fala) e Time (tempo dos sintomas). Déficit neurológico focal súbito > 15 minutos = internação e exame de imagem! Saber o tempo do início de sintomas é essencial, já que a janela terapêutica para se fazer uma trombólise intrave- nosa no caso de AVE isquêmico é de apenas 4,5 horas! 14ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO • Escala NIH: A escala frequente- mente utilizada para quantifcar o défcit neurológico é a National Institute of Health (NIH), poden- do ser executada de forma rápida por uma ampla gama de profssio- nais da saúde. Ela avalia o déficit do AVE através da pontuação de 15 parâmetros, variando de 0 (sem déficit) a 42 (maior déficit). Os pa- râmetros são: nível de consciência observado, orientação no tempo (em relação a mês e idade), res- posta a comandos, olhar, campo visual, movimento facial, função motora de membros superiores e inferiores, ataxia de membros, sensibilidade, linguagem, articula- ção da fala, e extinção ou desaten- ção durante o exame. • Tomografia Computadorizada sem contraste: é o exame de imagem de escolha, por ser mais acessível e ter boa sensibilidade. Recomenda-se realizá-la em duas etapas: ◊ A primeira TC na chegada do paciente (importante na ex- clusão do AVE hemorrágico e também diagnóstico de pos- síveis tumores, sangramentos meníngeos e intraparenqui- matosos) ◊ A segunda TC após 72 horas do início dos sintomas (TC de controle e definidora da an- ticoagulação do paciente no caso de AVE isquêmico). A primeira TC deve estar laudada em menos de 45 minutos para se proceder ao tratamento o mais rápido possível. Lembrando que este NÃO é o exame para diagnóstico de peque- nos infartos corticais e subcorticais, ou daquelas lesões localizadas em fossa posterior. SE LIGA: TC de crânio deve ser reali- zada em dois momentos: Uma TC sem contraste assim que o paciente chegar com suspeita de AVE, que deve estar laudada em no máximo 45 minutos e uma TC de controle após 72 horas de início dos sintomas Figura 7: Escala pré-hospitalar de Cincinnati. Fonte: https://www.portalenf.com/2018/01/escala-do-avc-cincinnati/ 15ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO O escore ASPECTS é usado para avaliação do dano isquêmico na TC de crânio do AVE isquêmico, sub- dividindo o território de irrigação da artéria cerebral média (ACM) em 10 regiões que serão avaliadas em dois cortes: o primeiro na altura do tálamo e núcleos da base e o segundo acima dos núcleos da base. Figura 8: Regiões da ACM subdivididas pelo score as- pects. A= circulação anterior; P = circulação posterior; C = lobo caudado; L = núcleo lentiforme; IC = cápsula interna; I = ínsula; MCA = artéria cerebral média; M1 = córtex anterior; M2 = córtex da ACM lateral à ínsula; M3 = córtex posterior da ACM; M4, M5 e M6 são territórios da ACM anterior, lateral e posterior, lateral e posterior imediatamente superiores a M1, M2 e M3, rostraisaos núcleos da base. Fonte: www.ineuro.com.br A TC normal corresponde a um escore ASPECTS de 10, e o escore 0 se refe- re à isquemia difusa de todo o territó- rio da ACM. Cada área hipodensa na TC sem contraste diminui um ponto no escore. Pacientes com escore me- nor ou igual a 7 têm um maior risco de transformação hemorrágica e pior evolução neurológica. Figura 9: TC de crânio: AVE isquêmico em hemis- fério direito. Fonte: radiopaedia.com Figura 10: TC de crânio: Hematoma intraparenqui- matoso secundário à AVE hemorrágico em hemisfério esquerdo. Fonte: anatpat.unicamp. 16ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Figura 11: TC de crânio: Hemorragia subaracnóidea. Fonte: ineuro.com.br Em caso de suspeita de HSA e TC normal, devemos realizar uma pun- ção liquórica – que apresentará sangue se nas primeiras 12 horas após o even- to, e aspecto xantocrômico (amarelado, devido à conversão de hemoglobina em bilirrubina) após esse período. • Ressonância Magnética com di- fusão: mais sensível que a TC, diagnóstica área isquêmica muito precocemente, tendo mais acura- cia que a TC no AVEi; porém,é um exame que demora e não tão aces- sível, é a TC é superior à RM na he- morragia subaracnoidea. Muito útil nos casos de dúvida se há AVE na TC, ou então nos pacientes com janela terapêutica desconhecida ou fora da janela, para se avaliar melhor a zona de penumbra. Além disso, é o exame de escolha para avaliação da fossa encefálica pos- terior, região que não pode ser bem avaliada na tomografia. • Coagulograma: Devemos esperar seu resultado antes de realizar a trombólise (no caso de AVE isquê- mico) caso haja história de uso de anticoagulantes ou suspeita de alterações. • Outros exames laboratoriais: Uréia, Creatinina, Eletrólitos, he- mograma completo, gasometria, marcadores de necrose miocárdica e ECG também devem ser realiza- dos nesses pacientes. Não atra- sam a trombólise! Para o diagnóstico etiológico, pode- mos utilizar de outros exames, como: • Angiotomografia helicoidal: faz rápida análise dos grandes vasos intra e extracranianos e permite re- conhecer obstruções e estenoses nos grandes vasos; quando com- parada à angiografia cerebral, apre- senta grande acurácia na identifica- ção de obstrução de grandes vasos. • Doppler transcraniano: determi- na a artéria intracraniana obstruída no AVE isquêmico • Ecocardiograma: podemos verifi- car causas de AVE isquêmico, como aneurisma vorticular de ventrículo esquerdo, doença de chagas... • Doppler de carótidas: permite verificar aterosclerose 17ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO 6. TRATAMENTO Objetiva preservar a vida, limitar o dano cerebral, diminuir as incapaci- dades e evitar repetição do AVE. O manejo na urgência é oposto em cada tipo de AVE: No isquêmico, quere- mos desobstruir as artérias e permitir maior afluxo sanguíneo para o cére- bro, enquanto que, no hemorrágico, precisamos controlar o sangramento. AVE isquêmico Medidas de suporte: • Suporte respiratório: não neces- sitam de suplementação de oxi- gênio, exceto em casos em que a oximetria de pulso indicar uma sa- turação menor que 92%. • Temperatura: a temperatura cor- poral deve ser monitorada e manti- da dentro da faixa normal, próxima aos 36,5 °C, isso leva a uma redu- ção na morbimortalidade dos pa- cientes com AVCI. Já a hipertermia aumenta a liberação de radicais DIAGNÓSTICO • Análise dos grandes vasos • Obstruções e estenoses nos grandes vasos AngioTC helicoidal Doppler transcraniano Ecocardiograma Doppler de carótidas • Determina a artéria obstruída no AVCi • Aneurisma vorticular • Trombos • Avalia aterosclerose 18ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO livres no tecido isquêmico, eleva a atividade metabólica neuronal, além de alterar a atividade de al- guns neurotransmissores. • Monitorização cardíaca: é obriga- tória nas primeiras 24 horas, pois as arritmias cardíacas geralmente estão presentes no período pós-A- VCI, e algumas delas são causado- ras de eventos isquêmicos. • Pressão arterial: Se hiperten- são arterial: não baixar no primei- ro dia. Exceto quando PA > 220 x 120 mmHg; Droga de escolha: Nitroprussiato de Sódio (0,5 mcg/ kg/min) 24 horas após Trombo- lítico se PA > 185 x 110 mmHg. Nos pacientes não submetidos à trombólise, somente adminis- trar anti-hipertensivos se PA > 220x120mmHg. • Glicemia: deve ser monitorada de 6/6 horas; Deve-se descartar a hipoglicemia, que isoladamente já causa lesão cerebral. Se hipergli- cemia, iniciar insulina se glicemia > 140-185 mg/dL nas primeiras 24 horas, pois indicam pior desfecho clínico, sendo necessária interven- ção terapêutica para hiperglicemia. Outras medidas: • Paciente deve permanecer deitado com a cabeceira do leito elevada a 30º • Manter nutrição adequada: a dieta deve ser iniciada nas primeiras 48 horas. • Monitorizar: Natremia (diariamen- te, normal 135-145 mEq/l) e Hi- dratação (se necessário, usa-se ringer lactato) • Deve-se evitar a hiper-hidratação e o uso de soro glicosado (pelo ris- co de hiponatremia dilucional e hi- perglicemia) Medidas específicas: • Antiagregante plaquetário: o áci- do acetilsalicílico (AAS) é a droga de escolha no AVE, podendo ser usado em pacientes sem indicação de rtPA e como forma de preven- ção de recidiva, na posologia 100 a 325mg/dia VO. • Heparina: Deve ser usada na dose profilática para tromboembolismo venoso, e não a heparinização ple- na. Usa-se HNF 5000 UI 8-12h ou HBPM (enoxaparina 40mg SC/ dia). O anticoagulante oral de es- colha é a warfarina sódica. • Trombolítico: Devemos conside- rar a possibilidade de terapia trom- bolítica endovenosa (TEV) com ativador de plasminogênio tecidual recombinante (rtPA) se os pacien- tes preencherem os critérios de inclusão e não tiverem contra-indi- cações absolutas. O mais utilizado 19ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO é o Alteplase, na posologia 0,9mg/ kg EV, 10% em bolo e o restante em 1 hora. Ela diminui as seqüe- las, mas não reduz a mortalidade, quando iniciada até 4,5 horas do início dos sintomas. Critérios de inclusão da TEV: Idade > 18 anos; diagnóstico de ACVI em qualquer território cerebral; evolução < de 4,5 horas até a infusão do trom- bolítico; TC de crânio sem evidências de hemorragias; possibilidade de se estabelecer precisamente o horário do início dos sintomas; paciente ou fami- liar responsável capacitado a assinar termo de consentimento informado. Critérios de exclusão da TEV: • Uso de anticoagulantes orais ou TP > 15 segundos (INR > 1,7); uso de heparina nas últimas 48 horas e PTTa elevada; • AVC ou traumatismos cranioencefáli- cos (TCE) grave nos últimos 3 meses; • História pregressa de alguma forma de hemorragia cerebral (HSA, AVCH); • TC de crânio mostrando evidências de hemorragias ou edema cerebral em desenvolvimento; • PAS > 185 mmHg ou PAD > 110 mmHg (medidas em 3 ocasiões, com 10 minutos de intervalo); • Sintomas melhorando rapidamente; • Défcits neurológicos leves ou iso- lados; • Cirurgia de grande porte ou pro- cedimento invasivo dentro das úl- timas 2 semanas; Hemorragia ge- niturinária ou gastrointestinal nas últimas 3 semanas; Punção arterial não compressível ou biópsia na úl- tima semana; • Coagulopatia com TAP, PTTa eleva- dos, ou plaquetas < 100.000/mm³; • Glicemia < 50 md/dL ou > 400 mg/dL; • Crise convulsiva precedente ou durante a instalação do AVC; • Evidência de pericardite ativa, en- docardite, êmbolos sépticos, gra- videz recente, doença inflamatória intestinal, ou lactação; abuso de ál- cool ou drogas. CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO DA TEV AVEi em qualquer território Ictus ≤ 4,5 horas Idade ≥ 18 anos TC sem evidência de hemorragia Tabela 5: Critérios principais de indicação da terapia trombolítica endovenosa. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO TEV Risco de sangramento Suspeita de HSA Suspeita de endocardite infecciosa ou dissecção aguda de aorta Antecedente patológico de sangramento recente TA > 185X110mmHg Tabela 6: Alguns dos principais critérios de exclusão da indicação da terapia trombolítica endovenosa. 20ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Após verifcar os critérios de inclusão e exclusão, é necessário: • 2 acessos venosos periférico. • Controle rigoroso de PA (PA < 180 x 105 mmHg nas 24 horas após trombolítico). • Evitar acesso venoso central ou punção arterial antes da trombóli- se até 24 após. • Evitar sondagem vesical ante e após 30 minutos da trombólise. • Evitar sonda nasogástrica antes e nas 24 horas após a trombólise. Trombólise: uso de rt-PA com dose total = 0,9 mg/kg, até no máximo de 90 mg, sendo 10% da dose em bolus EV e 90% em 60 minutos, de prefe- rência em bomba de infusão. • Cuidados pós trombólise: manter a cabeceira a 0º nas primeiras 24 horas, e depois a 30º; PA e NIHSS a cada 15 min por 2h, depois a cada 30 min por 6h, depois a cada 1h por 24h (objetivo é manter PA <180x105 mmHg, a droga de es- colha é o nitroprussiato de sódio); não realizar cauterização e sonda naso nas primeiras 24h e não pas- sar sonda vesical pelo menos 30 min após; realizar TC de controle em 24h; não utilizar antiagregan- tes e anticoagulantesnas primei- ras 24h; fazer controle glicêmico e de temperatura. Devemos ter cui- dado especial com o controle da PA, para evitar uma transformação hemorrágica! Trombectomia mecânica: deve ser considerada em pacientes com oclu- são de vaso proximal ou que não apresentaram resposta à trombólise com rtPA, contanto que estejam den- tro dos critérios de inclusão: ictus < 6h; idade ≥ 18; oclusão de carótida interna ou ramo M1 da artéria cere- bral média; NIHSS ≥ 6. Cirugia descompressiva: Existem estudos que mostram benefício da craniectomia descompressiva pre- coce, quando realizada até 48 horas da instalação do AVC, em pacientes com infarto maligno da ACM, idade < 60 anos, e pacientes que apresentam condiçoes clinicas; o que propiciou re- dução da mortalidade e um número maior de pacientes com evolução fa- vorável. Tratamento das principais complicações agudas Edema cerebral: O tratamento inicial começa com algumas medidas tam- bém profiláticas, como o controle de PA e a elevação da cabeceira. Em ca- sos em que a hipertensão intracrania- na é uma urgência (PIC>20mmHg), medidas como o uso de diuréticos osmóticos e descompressão cirúrgica podem ser adotadas. 21ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Transformação hemorrágica: o uso precoce do AAS pode aumen- tar o risco dessa complicação, além de ser influenciada por fatores como localização da isquemia, tamanho e mecanismo. Eventos petequiais pe- quenos não têm importância clínica em comparação aos hematomas pa- renquimatosos, que evoluem com de- terioração neurológica. Convulsões: em geral, acontecem nas primeiras 24 horas após o AVEi. Hoje, a profilaxia anticonvulsivante com fenitoína está indicada apenas se secundária. AVE hemorrágico Aqui, devemos aproveitar a “golden hour”, ou seja, a primeira hora depois do AVE, para promover cuidados in- tensivos e avaliar a necessidade de cirurgia. Para parar o sangramento, temos que: fazer controle rígido da PA e reverter possíveis coagulopatias. A avaliação de um neurocirurgião também é necessária, embora as in- dicações de reversão cirúrgica ainda sejam restritas e pouco estabelecidas Hemorragia intraparenquimatosa O tratamento da HIP é basicamente de suporte: pacientes com RNC de- vem ser intubados, suportados por ventilação mecânica, bem como mo- nitorização hemodinâmica com cate- ter de PA invasiva e, na maioria das vezes, um cateter ventricular para a monitorização da PIC (pressão intra- craniana). Controle da PA: Busca manter PAS < 140mmHg e PAM<130mmHG; uso: labetalol e nitroprussiato de sódio. O controle glicêmico deve ser realizado tal como o AVE isquêmico. Se a causa da hemorragia intracra- niana for um distúrbio da hemostasia, este deve ser tratado o mais rápido possível, com transfusão de hemo- componentes (plasma, plaquetas etc.). Se o paciente estiver em uso de anticoagulante ou antiplaquetário, esses devem ser descontinuados e os efeitos revertidos com antídotos. MEDICAÇÕES DE USO REVERSÃO DE COAGULOPATIA Varfarina Vitamina K (10mg, IV) + PFC/ CCP Antiagregantes plaquetários Desmopressina (0,4mcg/kg, IV) Novos anticoagulantes Inibidor + carvão ativado (se uso < 2h) ou PFC/CCP Heparinas Protamina (1mg/100U, max: 50mg) se HNF<2h e HBPM<8h Tabela 7: Antídotos utilizados para as principais medi- cações anticoagulantes de uso contínuo. Reversão de coagulopatias: É dire- cionada de acordo com a causa base, e realizada reversão quando RNI > 1,4. Aqui, é essencial saber as medi- cações de uso do paciente e quando foi a última dose, visto que muda a conduta de acordo com o uso de an- 22ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO tiagregantes ou anticoagulantes! A neurocirurgia de drenagem do hematoma pode ser necessária se: • Hematoma cerebelar > 3 cm ou entre 1-3 cm com repercussão neurológica; • Hematoma lobar ou putaminal vo- lumoso, com extensão para a peri- feria e repercussões clínicas Obs.: A instalação de uma derivação ventricular externa (DVE) está indica- da na presença de hidrocefalia com repercussão clínica. Hemorragia subaracnóidea Assim dado o diagnóstico, o paciente deve ser internado na UTI e avalia- do por um neurocirurgião. Se estiver dentro das primeiras 72 horas após o início dos sintomas e tiver pontuação < III na escala de Hunt-Hess, o exa- me padrão ouro a ser realizado é a arteriografia cerebral, para locali- zar o aneurisma. Após constatação do aneurisma, a ci- rurgia de clipagem aneurismática é a primeira escolha ( já que é a medida mais eficaz para prevenir ressangra- mento, a complicação com maior letali- dade da HSA). Uma outra abordagem possível para o aneurisma é a terapia endovascular com embolização. Se houver RNC, uma monitorização invasiva da PIC deve ser realizada (o procedimento de escolha é o cateter intraventricular, já que tem caráter diagnóstico e terapêutico, permitindo a drenagem do LCR). Se o aneurisma não for clipado, a PA sistólica deve ser mantida entre 140- 150mmHg, com o uso de nitroprus- siato de sódio. A manutenção de al- tos níveis pressóricos traz elevado risco de ressangramento, enquanto uma PA muito baixa aumenta o risco de vasoespasmo. O uso de anticonvulsivantes, como a fenitoína 100mg IV a cada 8 horas, hoje está indicado apenas se o pa- ciente apresentou crise convulsiva em algum momento. O uso de nimodipino 60mg via en- teral a cada 4h é indicado pois há a prevenção de seqüela neurológica do vasoespasmo, e seu uso deve ser mantido até o 14º dia após o evento. O vasoespasmo é uma das principais complicações da HSA e é reconheci- do pelo surgimento de novo déficit focal a partir do 3º dia. O tratamento dessa condição baseia-se nos “3 Hs”: hemodiluição hipervolêmica (com 3l de soro fisiológico isotônico) e hiper- tensão (se o aneurisma já foi clipado, pode se deixar a PAS chegar a níveis até 200mmHg). INSERIR SLIDE 20 23ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO 7. PROGNÓSTICO Após um AVE, o resultado do quadro é influenciado por vários fatores, mas dentre eles existem dois principais: a natureza e a gravidade do déficit neu- rológico resultante. Idade do pacien- te, etiologia do AVE e comorbidades também são fatores importantes. O prognóstico de AVEs hemorrági- cos é pior do que AVEs isquêmicos, e depende de alguns fatores princi- pais, dentre eles: tamanho do hema- toma intraparenquimatoso (> 30cm³), presença de hemoventrículo, nível de consciência (glasgow < 8), idade (>80 anos), localização (infratentorial tem pior prognóstico) e uso prévio de anti- coagulantes. Pacientes com sinais de herniação trasntentorial dificilmente sobrevivem. De forma geral, 80% desses pacientes sobrevivem pelo menos um mês após o episódio, mas apenas 35% têm um prognóstico superior a 10 anos. Gran- de fator de piora é a recidiva do AVE, que acontece em 25% desses pacien- tes nos 5 anos subseqüentes, e costu- ma deixar seqüelas mais debilitantes que o primeiro episódio. TRATAMENTO • ABCD primário e secundário • AVP • Glicemia capilar + monitorização + exames gerais • TC de crânio: Reconhecimento do AVE pela escala FAST Excluir diagnósticos diferenciais: Sem sangramento Com sangramento AVE hemorrágico Afastadas doenças que simulem AVE AVE isquêmico Síncopes; Crise epiléptica; Uremia; Hipo ou Hiperglicemia; Neoplasia/infecção do SNC; Distúrbio psiquiátrico; Distúrbio hidroeletrolítico; Intoxicação aguda; Insuficiência hepática; Hematomas traumáticos do SNC 24ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO A recuperação neurológica completa ocorre em apenas 10% dos pacien- tes, e a maioria dos déficits que per- manecem após 12 meses é perma- nente. Porém, um fator de esperança é a neuroplasticidade cerebral: os pri- meiros 3 meses após o AVE são os mais importantes para o cérebro rea- prender antigas atividades e funções, mostrando a importância do trata- mento correto e atividades fisioterá- picas para a recuperação e reabilita- ção pós-AVE. 25ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO RESUMO AVC Clínica Tratamento CondutaDiagnóstico Presença de sangramento AVCh AVCi Manter PAS ~ 140mmHg Controle HIC Avaliação cirúrgica >4,5H Controle pressórico Medidas de suporte <4,5H Candidato a trombólise • Controle PA ~180x110mmHg • Afastar contraindicações absolutas • Rt-PA 0,9mg/Kg (máx 90mg). 10% em bólus e 90% em 1h em BIC Afastar Stroke mimics Neuroimagem Déficit neurológico focal súbito Outros Hipoestesia Afasia Hemianopsia Hemiparesia Escala pré-hospitalar: Cincinatti Sorria Abrace Música Urgente ligue 192 Medidas gerais Cálculo do NIHSS Glicemia TC sem contraste 26ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Goldman, L.; Schafer, AI. Goldman’s Cecil Medicine. 25th ed. Medicina de Emergência, Abordagem Prática,, Emergências Clínicas USP 13ª Edição. KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran – Patologia – Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. Machado, A. Neuroanatomia funcional. 2ª Ed. Atheneu, Rio de Janeiro, 2006. KASPER, Dennis L. et al. Medicina interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017 27ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
Compartilhar