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Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Acidente Vascular Encefálico Isquêmico Definição: O acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico é definido como um episódio de disfunção neurológica causada por estenose ou oclusão vascular que resulta em infarto focal no cérebro, na medula espinal ou na retina sem um território vascular específico. Epidemiologia: Atualmente, é 2ª causa mais comum de óbito no mundo (atrás apenas da cardiopatia isquêmica, mostrando a predominância dos eventos vasculares como causas de morte), e é o distúrbio neurológico mais incapacitante. No Brasil, é a causa mais frequente de óbito da população adulta. Os AVEi são os mais comuns, representando até 85% dos casos, e têm como fatores de risco principais a HAS e a fibrilação atrial (portanto, fatores de risco modificáveis). Fisiopatologia O AVE isquêmico é causado por uma obstrução súbita do fluxo arterial encefálico, devido, na maioria das vezes, a uma causa embólica (trombo proveniente de circulação distante) ou, mais raramente, trombótica (o trombo é formado na própria artéria envolvida no AVE). Quando não é possível determinar a causa do AVE, o denominamos AVE criptogênico. O AVE criptogênico é responsável por grandes partes dos AVEs. Embora não tenha fisiopatologia esclarecida, estudos sugerem que seja decorrente de embolia paradoxal através de um forame oval patente no coração, ou que seja causado por êmbolos provenientes de placas ateromatosas instáveis da aorta ascendente. Têm, em geral, quadro clínico semelhante aos AVEs isquêmicos embólicos! Nas primeiras 24 horas após o AVE, métodos como o PET scan podem delimitar as áreas infartadas e as zonas de penumbra. A interrupção do fluxo sanguíneo subsequente gera isquemia, privando neurônios e células gliais de oxigênio e glicose, e causando disfunção neuronal (quando o fluxo cerebral de oxigênio cai abaixo de 20ml/100mg/ min). Caso essa não haja reversão dessa situação, acontece o infarto do núcleo isquêmico, a morte do tecido e uma lesão irreversível. Ao redor da região infartada, existe a zona de penumbra, onde um mecanismo de extração aumentada de oxigênio apesar do baixo fluxo permite que a lesão causada seja potencialmente reversível, contanto que o fluxo sanguíneo seja restaurado (por recanalização do vaso ocluído ou circulação colateral, altamente dependente da pressão arterial – por isso, é preciso ter cuidado no controle da PA na fase aguda do AVE isquêmico!). Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Nas primeiras 48 horas após o AVE, há migração de neutrófilos e monócitos para a região infartada, contribuindo para a inflamação local e edema cerebral. Após cerca de 10 dias, o edema citotóxico é resolvido, e a zona infartada fica nítida na fotografia. Após esse período, as células fagocitárias produzem necrose de liquefação nessa região, deixando um aspecto cístico pelo centro liquefeito. Etiologias: O processo microscópico de infarto cerebral agudo é precedido por oclusão intravascular do território em questão. A classificação acurada da etiologia do AVE isquêmico agudo é importante para a compreensão do prognóstico pós-AVE, para a quantificação do risco de recorrência e para orientação de estratégias de prevenção secundária do AVE. Embora não sejam perfeitos, os critérios de classificação TOAST é o sistema de classificação de AVE isquêmico mais amplamente aceito e inclui os seguintes cinco subtipos: • aterosclerose de grande artéria (15 a 40%) • cardioembólico (15 a 30%) • oclusão de pequenos vasos ou “lacunar” (15 a 30%) • criptogênico (até 40%) • “outras” causas (<5%) Aterosclerose de grandes artérias A placa de aterosclerose pode surgir em qualquer ponto ao longo da árvore arterial extracraniana ou intracraniana, mas geralmente é encontrada nos pontos de ramificação vascular onde ocorre fluxo turbulento, mais comumente na bifurcação da artéria carótida comum, na origem da artéria vertebral, na junção vertebrobasilar ou na origem das artérias cerebrais anterior ou média. A placa aterosclerótica provoca AVE isquêmico por um de dois mecanismos: hipoperfusão através de uma região de estenose crítica ou, mais frequentemente, ruptura da placa resultando na formação de trombo e subsequente embolização distal do trombo ou dos fragmentos da placa. A embolia arterioarterial ocorre quando fragmentos da placa aterosclerótica ou um trombo “novo” formado no topo da placa emboliza(m) e oclui(em) um vaso distal. As placas com cerne necrótico rico em lipídios e envoltório fibroso delgado implicam em risco de ruptura espontânea e ativação da cascata da coagulação que resulta em formação de trombo superposto. Forças biomecânicas induzidas pelo fluxo sanguíneo turbulento ao longo dessa parte irregular do vaso podem desestabilizar a placa de colesterol ou desalojar um tombo superposto. Quando isso ocorre, o trombo dissolve rapidamente e isso faz com que os sinais/sintomas sejam fugazes ou inexistentes ou pode provocar oclusão persistente de um vaso distal com consequentes sinais/sintomas persistentes de AVE isquêmico agudo. Do ponto de vista clínico, é difícil diferenciar a isquemia consequente a aterosclerose de grandes artérias do AVE de origem cardíaca (AVE cardioembólico). A favor do diagnóstico de aterosclerose de grandes artérias existe a ocorrência de repetidos ataques isquêmicos transitórios ou infartos completos no mesmo território vascular e o melhor exemplo consiste em episódios repetidos de cegueira monocular transitória indolor relacionada com aterosclerose da artéria carótida ipsilateral. Essa condição, conhecida como amaurose fugaz, resulta de êmbolos de colesterol provenientes da placa na artéria carótida e provoca oclusão da artéria retiniana central ou uma de suas ramificações. Quando o lúmen da artéria carótida está quase totalmente ocluído, ataques isquêmicos transitórios também podem ser causados por hipoperfusão retiniana e se manifestam clinicamente como perda visual à exposição à luz brilhante. Da mesma maneira, episódios repetidos de vertigem, diplopia, hemiparesia, hemianestesia, alteração da marcha e perda da consciência podem ser um sinal de estenose substancial das artérias basilar ou vertebral. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Acidente vascular encefálico cardioembólico O AVE cardioembólico inclui todos os episódios de AVE causados por tromboembolia secundária a um evento cardíaco. Mais comumente, cardioembolia ocorre a partir de trombo formado no apêndice atrial esquerdo do coração de pacientes com fibrilação atrial, contudo, cardioembolia também pode resultar de lesão em valva nativa ou em prótese valvar ou de trombo em parede ventricular resultante de infarto do miocárdio recente ou miocardiopatia dilatada grave. Os AVE cardioembólicos também podem ter causas neoplásicas, tais como mixoma atrial ou endocardite marântica, ou causas infecciosas, como endocardite infecciosa. Nas técnicas de imagem, AVE dispersos na junção das substâncias branca e cinzenta nos dois hemisférios ou nas circulações anterior e posterior são, mais provavelmente, cardioembólicos. Todavia, AVE que aparecem em associação com oclusões proximais de grandes vasos ou que parecem mais consistentes com infarto de pequenos vasos também podem ser de origem cardioembólica. Infarto de pequenos vasos AVE lacunares consequentes à oclusão de pequenos vasos são definidos clinicamente por cinco subtipos gerais: (1) hemiparesia motora pura, (2) síndrome sensorial pura, (3) síndrome sensorimotora atáxica e (4) disartria-mão desajeitada, embora várias outras manifestações possam ocorrer dependendo do território do vaso acometido. Esses AVE resultam do bloqueio de pequenas artérias perfurantes oriundas da artéria cerebral média (ACM) (lenticuloestriadas), das artérias cerebral posterior ou comunicantes posteriores (tuberotalâmica, paramediana, coroidal posterior, inferolateral) e da artéria basilar (perfurantespontinas). Esses vasos são propensos a desorganização e fibrose da parede arterial segmentar, um processo conhecido como lipo-hialinose, e formação de microateroma. Com o passar do tempo, a parede arterial se torna espessada e ocorre redução do lúmen do vaso, provocando o aparecimento de uma região de isquemia aguda que geralmente tem menos de 1,5 cm de diâmetro. Hipertensão arterial é o maior fator de risco, embora diabetes melito, envelhecimento e tabagismo também sejam fatores contribuintes. Infarto lacunar ocorre mais frequentemente nos núcleos da base, no tálamo, na cápsula interna, na coroa radiada e na ponte. As técnicas de imagem ajudam a diferenciar o AVE lacunar de outros tipos de AVE por sua localização subcortical e por suas dimensões relativamente pequenas. Causa indeterminada de acidente vascular encefálico A etiologia de até 40% dos AVE permanece criptogênica ou indeterminada, mesmo após investigação laboratorial e radiológica substancial. No entanto, muitos desses pacientes têm fibrilação atrial não diagnosticada. Alguns estudos já mostraram que 10 a 20% dos pacientes com AVE “criptogênicos” têm fibrilação atrial oculta após monitoramento cardíaco prolongado. Embora persistência do forame oval (PFO) e comunicação interatrial (CIA) também estejam associadas a AVE criptogênico nos pacientes mais jovens, o fechamento do forame oval persistente ainda não tem eficácia comprovada na prevenção de recorrência de AVE. Outras causas de acidente vascular encefálico As “outras” causas de AVE representam menos de 5% dos AVE isquêmicos agudos e são definidas por um processo mórbido específico que apresenta correlação temporal ou associação com o AVE. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Além disso, a investigação diagnóstica não deve revelar outro mecanismo mais comum. Os exemplos incluem AVE consequente a distúrbios hematológicos (p. ex., hipercoagulabilidade, anemia falciforme), doença infecciosa ou inflamatória, doença intrínseca da parede arterial (ou seja, vasculopatia), dissecção vascular, infarto associado a infarto, distúrbios genéticos ou causas iatrogênicas. Manifestações Clínicas Os AVE isquêmicos podem ser definidos clinicamente pela natureza do déficit neurológico associado com os sinais e sintomas se encaixando em síndromes definidas que representam territórios vasculares específicos. O conhecimento das seguintes síndromes maiores de AVE pode frequentemente predizer com acurácia o território do infarto e o vaso específico envolvido. As exceções ocorrem quando existe lesão preexistente do SNC, circulação colateral ou variações na anatomia vascular ou cerebral que podem resultar em quadros clínicos atípicos ou inesperados. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Diagnóstico O retardo no reconhecimento pré-hospitalar dos sinais/sintomas do AVE é a maior barreira à instituição imediata de tratamento e explica por que apenas 6% dos pacientes com AVE isquêmico agudo recebem terapia fibrinolítica. Apesar do benefício comprovado da avaliação oportuna e do potencial de recuperação neurológica associado ao tratamento precoce, apenas cerca de 20% dos pacientes são avaliados nas primeiras 2h após o aparecimento dos sinais/sintomas e aproximadamente 25% na janela terapêutica de 4,5h. Parte disso se deve à compreensão limitada e à falta de conscientização da comunidade em relação à necessidade de instituir o tratamento em tempo hábil, com os estudos sugerindo que apenas 5% das pessoas em uma população urbana conhece pelo menos três sinais/sintomas de AVE. ▪ Tomografia computadorizada A TC de crânio não contrastada é um exame rápido, extremamente sensível e disponível em muitas unidades para detectar os derivados do sangramento agudo. Seu valor na diferenciação entre hemorragia cerebral e isquemia presumida tornou esse exame uma etapa vital e necessária na avaliação do AVE agudo. Os achados precoces na TC do AVE isquêmico agudo incluem desaparecimento da diferenciação entre as substâncias branca e cinzenta (observada primeiro no córtex insular), obscurecimento da substância cinzenta nos núcleos da base e trombo agudo visualizado na parte proximal da ACM, também conhecido como sinal da ACM densa. Todavia, os achados na TC em pacientes com AVE isquêmico agudo não são observados de modo confiável até terem transcorrido 6h desde o aparecimento dos sinais/sintomas de AVE. Portanto, TC de crânio não contrastada normal na vigência de uma síndrome clínica de AVE sugere etiologia isquêmica. ▪ Ressonância magnética Embora a TC seja a modalidade de imagem mais sensível para a detecção de AVE hemorrágico agudo, a RM e especialmente a sequência DWI é a modalidade mais sensível para detectar AVE isquêmico nas primeiras 6h a partir dos primeiros sinais/sintomas. Todavia, apesar de sua sensibilidade superior, a utilidade da RM no manejo agudo do AVE isquêmico agudo é limitada devido a sua relativa indisponibilidade na maioria dos setores de emergência e ao período de tempo (prolongado) para a aquisição de imagens. Apesar de sua sensibilidade superior, infartos pequenos e infartos na circulação posterior podem não ser detectados na sequência DWI, especialmente nas primeiras horas após o infarto. Embora isso restrinja sua utilidade no quadro agudo, a realização de uma RM após a tomada de decisão terapêutica pode ajudar na confirmação da existência de AVE isquêmico agudo, na identificação do local específico do AVE e no diagnóstico da etiologia do AVE. ▪ Técnicas de imagem vasculares A angiotomografia computadorizada (ATC) possibilita a avaliação aguda dos vasos cervicais e cerebrais por meio da opacificação da vasculatura com contraste. O contraste delineia quaisquer irregularidades, estenoses ou oclusões que possam existir. A angiorressonância magnética (ARM) detecta fluxo nos vasos sanguíneos, possibilitando a visualização da vasculatura e de desaparecimento de sinal (flow voids) em seu interior. Contudo, como na RM, a ARM é limitada pelo tempo necessário para a aquisição de imagens. Técnicas especializadas de RM, como visualização de paredes vasculares e marcação arterial, podem mostrar detalhes da parede vascular e da dinâmica do fluxo, entretanto, seu valor na prática clínica ainda está sendo Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 investigado. A avaliação por ultrassonografia das artérias carótidas ou da vasculatura intracraniana proximal pode fornecer informações sobre o sentido do fluxo sanguíneo e definir os locais de estenose ou oclusão arterial. Embora a visualização dos vasos não seja preconizada para todos os casos de AVE isquêmico agudo, seu uso em pacientes selecionados pode ajudar no planejamento de terapias intervencionistas. ▪ Técnicas de imagem de perfusão Uma TC de perfusão pode ser realizada juntamente com a ATC para determinar o intervalo de tempo até a chegada e o volume de contraste que alcança várias áreas do cérebro por escaneamentos repetidos durante uma injeção intravenosa de duração programada de contraste. O hemisfério oposto é usado para fins de comparação e imagens são criadas para mostrar partes relativas do fluxo sanguíneo cerebral (FSC), o volume sanguíneo cerebral (VSC) e o tempo de trânsito médio (TTM) do contraste. A técnica de perfusão ajuda a diferenciar a área de penumbra do cerne infartado. A área de penumbra conserva a capacidade de autorregulação vascular cerebral e apresenta vasodilatação e recrutamento de vasos colaterais em resposta à hipoperfusão relativa. A penumbra é definida por FSC baixo e TTM prolongado com aumento compensatório do VSC promovido por vasodilatação. Em contrapartida, o cerne infartado perde sua capacidade fisiológica de autorregulação e, assim, o sangue é desviado para longe desse cerne e cria um déficit relativo de VSC. Se a área de penumbra se desestabilizar ainda mais, a autorregulação desaparece e a área com baixo VSC se expande.A ressonância magnética de perfusão (RMP) é semelhante à TC de perfusão e consegue diferenciar o tecido infartado do tecido em risco ao comparar imagens de perfusão com as sequências DWI, contudo, é mais demorada que a TC de perfusão. Apesar de seu valor teórico, os estudos usando técnicas de perfusão para orientar a necessidade e a cronologia das terapias de reperfusão não mostram melhora dos desfechos clínicos. Portanto, o uso de imagens de perfusão não é rotineiramente recomendado, embora possam ser empregadas para responder questões clínicas individuais. Escalas pré hospitalares (Cincinnati, Los Angeles, FAST) Após o serviço de atendimento móvel de urgência ser acionado, os primeiros socorristas precisam caracterizar, de modo rápido e acurado, os sinais/sintomas de um AVE. As escalas préhospitalares de AVE devem ser empregadas para ajudar no processo de rastreamento e no rastreamento rápido. As mais usadas são Cincinnati, Los Angeles e FAST. A avaliação rápida do AVE deve ser seguida por notificação pré-hospitalar porque já foi constatado que isso aumenta o uso do ativador do plasminogênio tecidual (tPA) IV e reduz o intervalo de tempo entre o aparecimento dos sinais/sintomas e a instituição do tratamento. Escala FAST: É usada na triagem para reconhecimento rápido de sinais clínicos de AVE, baseada na escala de suspeita pré- hospitalar de Cincinnati, que se baseia em Face (paralisia facial), Arms (fraqueza nos MMSS), Speech (alterações de fala) e Time (tempo dos sintomas). Déficit neurológico focal súbito > 15 minutos = internação e Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 exame de imagem! Saber o tempo do início de sintomas é essencial, já que a janela terapêutica para se fazer uma trombólise intravenosa no caso de AVE isquêmico é de apenas 4,5 horas! Avaliação hospitalar inicial (NIHSS) A anamnese inicial deve ser direcionada para a definição do déficit e do momento específico do aparecimento dos sinais/sinais de AVE ou do último momento conhecido quando o paciente estava normal. A seguir, o médico precisa realizar uma avaliação neurológica rápida usando a NIHSS. Escala NIH: A escala frequentemente utilizada para quantificar o défcit neurológico, podendo ser executada de forma rápida por uma ampla gama de profissionais da saúde. Ela avalia o déficit do AVE através da pontuação de 15 parâmetros, variando de 0 (sem déficit) a 42 (maior déficit). Os parâmetros são: nível de consciência observado, orientação no tempo (em relação a mês e idade), resposta a comandos, olhar, campo visual, movimento facial, função motora de membros superiores e inferiores, ataxia de membros, sensibilidade, linguagem, articulação da fala, e extinção ou desatenção durante o exame. Exames Complementares Coagulograma: Devemos esperar seu resultado antes de realizar a trombólise (no caso de AVE isquêmico) caso haja história de uso de anticoagulantes ou suspeita de alterações. Outros exames laboratoriais: Uréia, Creatinina, Eletrólitos, hemograma completo, gasometria, marcadores de necrose miocárdica e ECG também devem ser realizados nesses pacientes. Não atrasam a trombólise! Tratamento O tratamento de emergência com administração intravenosa de ativador de plasminogênio tecidual (tPA) é fundamental para se conseguir reperfusão no AVE isquêmico agudo. Os efeitos benéficos estão diretamente relacionados com o intervalo de tempo até a instituição do tratamento com uma correlação linear entre o intervalo de tempo entre o aparecimento dos sinais/sintomas de AVE e a administração por via intravenosa de tPA e melhora do desfecho Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 funcional 3 meses depois. Os efeitos benéficos diminuem após 4,5h e logo depois o risco de reperfusão provocando transformação hemorrágica excede a capacidade de resgate do tecido em risco (área de penumbra). A redução do intervalo de tempo entre o aparecimento dos sinais/sintomas de AVE até a instituição do tratamento sempre será o fator mais importante no tratamento do AVE isquêmico agudo. Medidas de suporte: • Suporte respiratório: não necessitam de suplementação de oxigênio, exceto em casos em que a oximetria de pulso indicar uma saturação menor que 92%. • Temperatura: a temperatura corporal deve ser monitorada e mantida dentro da faixa normal, próxima aos 36,5 °C, isso leva a uma redução na morbimortalidade dos pacientes com AVCI. Já a hipertermia aumenta a liberação de radicais livres no tecido isquêmico, eleva a atividade metabólica neuronal, além de alterar a atividade de alguns neurotransmissores. • Monitorização cardíaca: é obrigatória nas primeiras 24 horas, pois as arritmias cardíacas geralmente estão presentes no período pós-AVCI, e algumas delas são causadoras de eventos isquêmicos. • Pressão arterial: Se hipertensão arterial: não baixar no primeiro dia. Exceto quando PA > 220 x 120 mmHg; Droga de escolha: Nitroprussiato de Sódio (0,5 mcg/ kg/min) 24 horas após Trombolítico se PA > 185 x 110 mmHg. Nos pacientes não submetidos à trombólise, somente administrar anti-hipertensivos se PA > 220x120mmHg. • Glicemia: deve ser monitorada de 6/6 horas; Deve-se descartar a hipoglicemia, que isoladamente já causa lesão cerebral. Se hiperglicemia, iniciar insulina se glicemia > 140-185 mg/dL nas primeiras 24 horas, pois indicam pior desfecho clínico, sendo necessária intervenção terapêutica para hiperglicemia. Outras medidas: • Paciente deve permanecer deitado com a cabeceira do leito elevada a 30º • Manter nutrição adequada: a dieta deve ser iniciada nas primeiras 48 horas. • Monitorizar: Natremia (diariamente, normal 135-145 mEq/l) e Hidratação (se necessário, usa-se ringer lactato) •Deve-se evitar a hiper-hidratação e o uso de soro glicosado (pelo risco de hiponatremia dilucional e hiperglicemia). Medidas específicas: • Antiagregante plaquetário: o ácido acetilsalicílico (AAS) é a droga de escolha no AVE, podendo ser usado em pacientes sem indicação de rtPA e como forma de prevenção de recidiva, na posologia 100 a 325mg/dia VO. • Heparina: Deve ser usada na dose profilática para tromboembolismo venoso, e não a heparinização plena. Usa-se HNF 5000 UI 8-12h ou HBPM (enoxaparina 40mg SC/ dia). O anticoagulante oral de escolha é a warfarina sódica. • Trombolítico: Devemos considerar a possibilidade de terapia trombolítica endovenosa (TEV) com ativador de plasminogênio tecidual recombinante (rtPA) se os pacientes preencherem os critérios de inclusão e não tiverem contra-indicações absolutas. O mais utilizado é o Alteplase, na posologia 0,9mg/ kg EV, 10% em bolo e o restante em 1 hora. Ela diminui as seqüelas, mas não reduz a mortalidade, quando iniciada até 4,5 horas do início dos sintomas. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Complicações do acidente vascular encefálico Deterioração neurológica Deterioração neurológica ocorre em até 40% dos pacientes nas primeiras 24h após um AVE isquêmico agudo e está associada a história pregressa de diabetes melito, concentrações sanguíneas elevadas de glicose, gravidade do AVE e sinais precoces de edema nos exames de imagem. Embora muitas formas de deterioração sejam consequentes a extensão progressiva do cerne do infarto para a área de penumbra circundante, há diversas causas de agravamento neurológico e, com frequência, é necessária investigação adicional. Exame físico geral e exame neurológico devem ser feitos em todos os pacientes com o propósito de determinar a natureza e a extensão da alteração clínica. Os sinais vitais são importantes, especialmente porque a febre pode provocar piora do quadro neurológico e as alterações da pressão arterial (seja elevação ou queda) podem exercer efeitos deletérios. Se o agravamento neurológico coincidir diretamente com a hipotensão relativa, tentativas de elevar a perfusão cerebral podem ser feitas com o intuito de confirmar a existência de um déficit dependente da pressão arterial.A infusão intravenosa de soluções, a colocação do paciente na posição de Trendelenburg ou a infusão de um agente vasopressor como fenilefrina (começando com 20 mcg/min e aumentando até a pressão arterial ser elevada em 20%) podem ser tentadas após repetição do exame neurológico. Se houver melhora clínica correlacionada com níveis mais elevados de pressão arterial média, uma meta pressórica pode ser mantida por meio de agentes vasopressores administrados sob cuidadosa observação em uma unidade de tratamento intensivo. Exames de imagem vascular e perfusão com TC ou RM podem ser muito úteis nesse momento para investigar estenose vascular significativa e incompatibilidade perfusão/infarto a jusante. Se a avaliação preliminar (exame físico, sinais vitais e técnicas de imagem) não revelar uma causa para o agravamento neurológico com depressão do nível de consciência, uma opção é realizar um EEG para investigar atividade epiléptica não convulsiva. Crises epilépticas precoces após AVE isquêmico agudo ocorrem em aproximadamente 5% os casos e são mais comuns nos infartos corticais, embora também possam ocorrer após AVE subcorticais. Embora não seja preconizada profilaxia primária da atividade epiléptica, o tratamento com agentes antiepilépticos é justificado após ocorrer uma crise epiléptica. Manejo da pressão arterial Existe uma correlação em formato de U entre os níveis de pressão arterial por ocasião da internação e o desfecho, com as duas extremidades implicando desfecho insatisfatório. A meta ótima de pressão arterial no AVE isquêmico agudo ainda não foi definida, todavia, estudos descobriram consistentemente que uma queda aguda da pressão arterial, especificamente a Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 queda de mais de 20 mmHg da pressão sistólica, está associada a desfecho funcional ruim e aumento da taxa de mortalidade. Hipotensão deve ser evitada na fase aguda do AVE e quaisquer tentativas de reduzir os níveis pressóricos devem ser instituídas lentamente. A prática atual para os pacientes que não receberam terapia trombolítica é permitir que os níveis pressóricos atinjam até 220/110 mmHg durante 24 a 48h e depois a terapia anti-hipertensiva é iniciada e titulada lentamente até serem atingidos níveis normais. Esse limite superior deve ser ajustado quando os pacientes apresentam insuficiência cardíaca, valvopatia cardíaca ou doença da artéria coronária para evitar lesões ou complicações cardíacas. Da mesma maneira, quando os pacientes apresentam conversão hemorrágica ou edema cerebral, as metas de pressão arterial devem ser individualizadas em níveis mais baixos. Meta tensional inferior a 180/105 mmHg deve ser mantida durante 24h nos pacientes medicados com tPA IV com o propósito de limitar hemorragia intracerebral secundária. Complicações infecciosas PNEUMONIA POR ASPIRAÇÃO Disfagia ocorre em quase 40% dos pacientes que tiveram um AVE e está associada a um aumento significativo da incidência de pneumonia. De todas as complicações clínicas pós-AVE, a pneumonia é responsável pela maior proporção de risco de morte. Todos os pacientes que sofreram um AVE devem ser investigados precocemente à procura de disfagia por meio de um teste objetivo, como o simples teste à beira do leito de deglutição de água. O reconhecimento precoce da disfagia pode resultar na instituição de técnicas de prevenção e terapias, tais como manter os pacientes na posição sentada após alimentação e prescrever higiene oral, que reduz as taxas de morbidade e mortalidade associadas a pneumonia relacionada a aspiração. Quando for necessário, um tubo nasogástrico ou nasoduodenal deve ser colocado para suporte nutricional e administração de medicação. Se houver a expectativa de disfagia prolongada, a gastrostomia endoscópica percutânea possibilita suporte nutricional por períodos prolongados. INFECÇÃO URINÁRIA Infecção urinária ocorre em 10 a 15% dos indivíduos hospitalizados por causa de AVE e está associada a piores desfechos neurológicos e funcionais. Os fatores de risco de infecção urinária incluem idade mais avançada, sexo feminino, incapacidade pós-AVE, retenção urinária e, mais importante, cateterismo urinário. A não realização de cateterismo urinário e a retirada precoce de cateteres urinários reduzem o risco de infecção urinária cateterassociada. Tromboembolia venosa Os pacientes que sofreram um AVE correm risco elevado de desenvolver trombose venosa profunda (TVP) em decorrência da hemiparesia e da imobilidade. Estudos realizados na ausência de profilaxia farmacológica de trombose venosa profunda sugerem que TVP ocorre em até 40 a 50% dos pacientes hemiplégicos nas primeiras 2 semanas após o AVE. O risco associado de embolia pulmonar é de 15% nos pacientes não tratados por AVE, podendo provocar morte precoce após AVE isquêmico agudo. Embora a heparina não fracionada seja comprovadamente efetiva para profilaxia de trombose venosa profunda, o ensaio PREVAIL mostrou que enoxaparina (na dose de 40 mg 1 vez/dia) era mais efetiva na prevenção de TVP do que a heparina não fracionada administrada 2 vezes/dia. Deambulação precoce também é uma medida efetiva de prevenção de trombose venosa profunda e exerce efeitos benéficos adicionais em termos de recuperação funcional. As diretrizes atuais Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 recomendam profilaxia farmacológica de trombose venosa profunda para todos os pacientes que sofreram um AVE, a menos que exista um risco substancial de sangramento que supere os benefícios potenciais e, nesse caso, opções não farmacológicas devem ser empregadas. A profilaxia farmacológica de trombose venosa profunda só deve ser instituída 24h após a administração de tPA. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Acidente Isquêmico Transitório (AIT) Definição: O ataque isquêmico transitório (AIT) designa sintomas neurológicos de origem isquêmica com duração inferior a 24h. Na verdade, a duração da maioria deles varia de apenas alguns minutos a uma hora. Muitas vezes denominado miniacidente vascular encefálico, o AIT pode ter implicações perigosas. Cerca de uma em cada três pessoas que têm fatores de risco para acidente vascular e apresentam um AIT autêntico acaba por sofrer um acidente vascular encefálico (AVE) ao longo da vida, metade deles no decorrer de 1 ano após o AIT inicial. Fisiopatologia Existe mais de um mecanismo de AIT. Nos casos de estenose acentuada da artéria carótida ou do sistema vertebrobasilar, a causa da isquemia transitória pode ser o baixo fluxo distal; esses AIT costumam ser curtos e estereotipados, cursando com episódios repetidos da mesma síndrome. Os AIT desse tipo hemodinâmico podem ocorrer somente em postura ortostática ou durante hipotensão transitória ou arritmia cardíaca. Quando são causados por embolia – de placa aterosclerótica ou dissecção originária do coração, aorta ou grande vaso proximal – os AIT podem ser mais duradouros, pois o êmbolo provoca a oclusão transitória de um ramo arterial distal antes que haja dissolução espontânea. Com menor frequência, a oclusão permanente de pequenos vasos, com evidência de um pequeno infarto detectado por imagem de ressonância magnética (RM) pesada em difusão (DWI), pode acarretar um déficit transitório que leva até 24 h para desaparecer (“infarto cerebral com sintomas transitórios”). Uma nova definição “tecidual” de AIT restringe o diagnóstico a episódios curtos de disfunção neurológica focal – em geral, com duração inferior a 1 h – sem evidências de infarto agudo em imagens de tomografia computadorizada (TC) ou RM. Os AIT de pequenos vasos podem ser consequência de lipohialinose e arteriolosclerose de pequenos vasos penetrantes, como os ramos lenticuloestriados da artéria cerebral média, ou perfurantes das artérias vertebral e basilar. A dissecção arterial intracraniana ou extracraniana pode causar comprometimento hemodinâmicoou embolia. A displasia fibromuscular e a síndrome de Ehlers-Danlos tipo IV predispõem à dissecção. O AIT relacionado ao vasospasmo pode responder ao tratamento com bloqueadores dos canais de cálcio. Os AIT também foram associados a hiperviscosidade – policitemia, anemia falciforme e trombocitemia, além de trombose venosa cerebral, endocardite bacteriana e arterite temporal – e podem desaparecer com a correção desses distúrbios subjacentes. Os AIT em usuários de cocaína podem ser consequência de vasospasmo cerebral induzido por drogas. Manifestações Clínicas Os sintomas variam com o território arterial acometido. A cegueira monocular transitória (CMT ou amaurose fugaz) causada por isquemia no território da artéria central da retina é caracterizada por turvação ou escurecimento da visão, cujo auge é alcançado em alguns segundos (às vezes, como se descesse uma cortina) e geralmente desaparece em minutos. A causa mais importante de CMT é a estenose interna proximal da artéria com consequente comprometimento hemodinâmico ou embolia. Podem-se observar placas de Hollenhorst, decorrentes de pseudoêmbolos de colesterol, nos ramos das artérias da retina. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Os AIT no território carotídeo que acometem o encéfalo causam combinações variadas de fraqueza e perda da sensibilidade nos membros, afasia ou heminegligência. Os AIT da circulação posterior causam sintomas relacionados ao cérebro (perda do campo visual ou cegueira cortical), tronco encefálico (sintomas associados a nervos cranianos e trato longo, às vezes cruzados ou bilaterais) e cerebelo. Alguns AIT causam “síndromes lacunares” transitórias, como hemiparesia pura ou perda hemissensorial pura. Os AIT podem causar discinesias paroxísticas, inclusive tremor, ataxia, distonia dos membros e abalos mioclônicos. Com frequência, o tremor irregular grosseiro de um braço ou uma perna com duração de segundos a um minuto, denominado AIT com tremor do membro, e às vezes precipitado pela adoção da postura ortostática, está associado a estenose ou oclusão crítica da artéria carótida. Embora rara, a estenose de alto grau ou oclusão completa das duas artérias carótidas internas e da artéria basilar proximal pode causar “crises de queda súbita” (drop attacks). Na síndrome do roubo da subclávia, a estenose da artéria subclávia ou do tronco braquiocefálico proximal à origem da artéria vertebral causa sintomas associados ao tronco encefálico, cerebelo ou até mesmo ao cérebro, que com frequência se manifestam durante o esforço e às vezes são acompanhados por sintomas de claudicação do braço. A síndrome decorre do desvio do fluxo anterógrado pela artéria vertebral pérvia retrogradamente na artéria vertebral contralateral distal à oclusão, deixando a artéria basilar sem fluxo sanguíneo. É mais provável que os AIT recorrentes do mesmo tipo sejam causados por falta de perfusão, resultante de estreitamento crítico ou oclusão da artéria acometida, que por embolia. Diagnóstico O diagnóstico de AIT pode ser difícil quando os sintomas são ambíguos (p. ex., marcha cambaleante ou crises de queda súbita; tontura, atordoamento ou síncope; vertigem; diplopia fugaz; amnésia transitória; distúrbio visual atípico em um ou ambos os olhos, como clarões, distorções ou visão em túnel; sensação de peso ou “cansaço” em um ou mais membros; ou parestesia em uma área de perda sensitiva fixa ou com breve acometimento de apenas um membro). O diagnóstico diferencial de AIT abrange enxaqueca, arritmia cardíaca, crises epilépticas, hipoglicemia, neuropatia compressiva, conversão e neurose. A ocorrência de múltiplos déficits focais atuais estereotipados com recuperação completa entre os eventos deve levantar, em particular, a suspeita de crises epilépticas focais recorrentes. Embora os AIT sejam definidos em termos de reversibilidade clínica e se presuma que signifiquem isquemia de duração incompleta ou curta demais para causar infarto, muitas vezes os exames de imagem mostram infartos em localização pertinente. É mais provável detectar anormalidades por DWI quando os sintomas duram mais de uma hora; quando a duração é superior a 3h, observam-se infartos em 70% dos casos. Isso é respaldado por evidências de que os déficits neurológicos reemergiram após a administração intravenosa de midazolam a pacientes com AIT cujos déficits iniciais haviam se resolvido e que não apresentavam evidências de infarto por DWI, sugerindo que o AIT pode causar lesão estrutural. Os pacientes com um pequeno infarto documentado ou história convincente de AIT devem ser submetidos a avaliação convencional de AVE isquêmico para identificar uma causa potencialmente tratável de AVE recorrente. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Tratamento A prevenção de AVE subsequente é a principal preocupação em pacientes com diagnóstico de AIT. O tratamento é idêntico à prevenção secundária em pacientes com diagnóstico de AVE isquêmico agudo, Prognóstico Os AIT autênticos estão associados a alto risco de AVE subsequente. Em 1.707 pacientes que chegaram ao pronto-socorro com AIT, 10% tiveram um AVE nos 90 dias subsequentes; em metade destes, o AVE ocorreu nas primeiras 48 h após o AIT. A taxa de AVE nos pacientes com AIT na retina foi metade dessa (5% no decorrer de 90 dias). O melhor instrumento validado para avaliar o risco de AVE após AIT é a escala “ABCD2”, na qual se atribuem pontos a fatores de risco específicos e características de apresentação do AIT, com pontuação que varia de 0 a 7. A pontuação maior indica maior risco de AVE em 90 dias. Para cada pontuação, o risco de AVE subsequente é reiteradamente maior se houver um infarto agudo identificado por TC ou RM associado à síndrome. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Hemorragia Intracerebral/ Subaracnoidea O AVE hemorrágico ocorre pela ruptura de estruturas vasculares cerebrais, fazendo compressão das estruturas encefálicas e causando isquemia secundária e edema. Pode ser devido a uma Hemorragia Intraparenquimatosa (HIP), quando o sangramento acontece dentro do parênquima cerebral, principalmente devido à fragilidade da parede vascular e rompimento dos aneurismas de Charcot-Bourchard (causados pela adaptação do vaso à HAS); ou devido a uma Hemorragia Subaracnóidea (HSA), quando o sangramento ocorre entre as meninges aracnóide e pia-máter, principalmente pelo rompimento de aneurismas saculares. SE LIGA! O tipo mais comum de AVE hemorrágico é o hipertensivo! Causado pelo rompimento dos aneurismas de Charcot-Bouchard, durante um pico hipertensivo, principalmente nas artérias perfurantes (as mesmas acometidas pelo AVE isquêmico lacunar).O acúmulo de sangue no parênquima cerebral ou no espaço subaracnóide (por compressão) eleva agudamente a pressão intracraniana, em razão do edema vasogênico causado em volta do hematoma pelo rompimento vascular. Quanto maior a extensão do sangramento e o volume do hematoma, maior será a hipertensão intracraniana e pior será o prognóstico. Além disso, outros fatores podem piorar esse prognóstico, como a presença de sangue nos ventrículos (hemoventrículo) ou hemorragia subaracnóidea. Esses parâmetros são analisados na Escala de Fisher modificada, criada inicialmente para análise seletiva de hemorragias subaracnóideas mas hoje utilizada para mensurar prognóstico de qualquer AVE hemorrágico. O hematoma aumenta de tamanho nas 12-36 horas seguintes ao AVE, pela inflamação local, contribuindo para a piora clínica e para o pior desfecho. Ao comprimir as estruturas encefálicas que contém os neurônios do sistema reticular ascendente, (responsáveis pela vigília), como o Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 tálamo e mesencéfalo, o sangramento provoca rebaixamento do nível de consciência e até coma. Fisiopatologia Hemorragia intracerebral A rupturaarterial abrupta acarreta o rápido acúmulo de sangue no parênquima encefálico e aumento da pressão tecidual local, seguidos por início abrupto de forças de cisalhamento e destruição física. Além do relativo efeito expansivo, o próprio hematoma induz três alterações fisiopatológicas iniciais no tecido encefálico adjacente: (1) morte neuronal e de células gliais por apoptose e inflamação; (2) edema vasogênico; (3) ruptura da barreira hematencefálica (BHE). A expansão do hematoma é uma importante causa de deterioração neurológica precoce, e o volume da HIC é um potente preditor de desfecho após HIC primária. Um hematoma expansivo pode ser causado por sangramento persistente e/ou recidiva do sangramento por ruptura de somente uma arteríola. Alguns estudos relataram indícios de crescimento da HIC por sangramento para uma zona de penumbra isquêmica ao redor do hematoma, mas os estudos não confirmaram a existência de isquemia na área hipoperfundida na periferia do hematoma. Como a isquemia não explica as alterações e o grau de disfunção neurológica ocorridos após a hemorragia, recentemente mecanismos neurotóxicos e inflamatórios foram implicados na patogenia da lesão tecidual peri-hemorrágica. O edema em torno da HIC pode ser produzido por mediadores inflamatórios locais e sistêmicos que promovem, direta ou indiretamente, lesão tecidual pela ativação de leucócitos, geração de prostaglandinas e leucotrienos, além da ativação do complemento. Em parte, o sangue intracerebral é diretamente responsável pela ocorrência de edema local após HIC. Hemorragia subaracnóidea Os aneurismas saculares ocorrem com maior frequência no círculo arterial do cérebro (círculo de Willis) ou em seus principais ramos, sobretudo nas bifurcações. Eles se originam na região de deficiência da lâmina elástica arterial e da túnica média e tendem a aumentar com a idade. A parede do aneurisma típico é formada apenas por túnica íntima e túnica adventícia e pode tornar- se fina como papel. Muitos aneurismas, em especial aqueles que se rompem, são irregulares e multilobulados, e os aneurismas maiores podem ser parcial ou totalmente preenchidos por um coágulo organizado, que às vezes é calcificado. Em geral, a ruptura ocorre na cúpula do aneurisma. Em 85 a 90% dos casos, os aneurismas intracranianos estão localizados na circulação anterior; os três locais mais comuns são o complexo da artéria comunicante anterior (cerca de 40%), a junção das artérias comunicante posterior e carótida interna (cerca de 30%) e a região intermediária da artéria cerebral média, no primeiro importante ponto de ramificação no sulco lateral (fissura de Sylvius) (cerca de 20%). Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Manifestações Clínicas No AVE hemorrágico, os sintomas aparecerão de acordo com o local em que a hemorragia esteja concentrada. Os locais mais acometidos na Hemorragia Intraparenquimatosa (HIP) são: Putâmen, Tálamo, Cerebelo e Ponte. • Hemorragia no putâmen: Costuma atingir a cápsula interna, cursando com quadro súbito de hemiplegia fasciobraquiaquicrural contralateral. Desvio do olhar conjugado contrário à hemiplegia também pode ocorrer. Aqui, a hemorragia pode se estender e causar hemoventrículo. • Hemorragia talâmica: Também atinge a cápsula interna, gerando os mesmos sintomas da hemorragia no putâmen, associada a hemianestesia para todas as sensibilidades. Pela extensão da hemorragia ao hipotálamo e teto do mesencéfalo, são comuns: desvio dos olhos em direção ao nariz, ou para o lado da hemiplegia; pupilas mióticas; anisocoria com pupila menor ao lado da hemorragia (síndrome de Horner) e afasia talâmica. É comum a hemorragia se estender ao terceiro ventrículo. • Hemorragia de cerebelo: gera quadro idêntico ao AVE isquêmico cerebelar (náuseas, vertigem central, vômitos e ataxia cerebelar aguda). Têm grande efeito expansivo, podendo comprimir o IV ventrículo e levar à hidrocefalia obstrutiva, piora da HIC e coma. A complicação mais temível é a herniação através do forame magno e consequente compressão de estruturas como amígdalas cerebelares e bulbo, levando à apnéia súbita e morte. • Hemorragia de ponte: Tem um quadro muito característico: quadriplegia súbita, coma e pupilas mióticas e fototorregentes, além de perda dos reflexos oculocefálicos. Decerebração, hiperpneia e hiperidrose são achados comuns, e a letalidade é alta: quase 90% dos casos. A hemorragia lobar (ou seja, dos lobos frontal, parietal, temporal e occipital) é um tipo de HIP que acomete principalmente os idosos, em razão de sua causa: a angiopatia amilóide que ocorre nesta idade, a rotura de microvasos subcorticais cujas paredes contém depósitos amilóides. Os pacientes com doença de Alzheimer são, portanto, ainda mais propensos a esta condição! Já na Hemorragia Subaracnóidea (HSA), o quadro clínico é caracterizado por uma súbita cefaléia holocraniana de forte intensidade (a “pior da vida”), do tipo “tunderclap” ou em “trovoadas”, podendo evoluir com síncope, vômitos, rigidez de nuca e sinais de meningismo e associada ou não a déficit neurológico focal – o principal é a paralisia do nervo oculomotor, gerando anisocoria, diplopia e estrabismo divergente. Crises convulsivas são uma complicação frequente nestes casos. A escala de Hunt-Hess é a principal utilizada para determinação clínica do prognóstico, e também como definidora de condutas. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Diagnóstico → A tomografia computadorizada (TC) não contrastada do encéfalo é o método de escolha para avaliar a presença de HIC. A TC avalia o tamanho e a localização do hematoma, a extensão para o sistema ventricular, o grau de edema adjacente e a desorganização anatômica. → A angiotomografia pode revelar HIC secundário a aneurisma ou malformação arteriovenosa, ou extravasamento ativo de meio de contraste para o coágulo (spot sign), indicativo de aumento do risco de expansão precoce do hematoma quando identificado logo após o surgimento de sintomas. → As técnicas de RM como gradiente-eco (GRE, T2*) também são muito sensíveis para o diagnóstico de HIC. → A angiografia cerebral diagnóstica convencional deve ser reservada para pacientes com suspeita de causas secundárias de HIC, como aneurismas, malformações arteriovenosas, trombose de veia cortical ou dos seios da dura-máter ou ainda vasculite. → Os achados à TC ou RM que justificam a angiografia são hemorragia subaracnóidea (HSA), hemorragia intraventricular (HIV), calcificação subjacente ou hemorragia lobar em pacientes jovens não hipertensos. → A angiografia por cateter diagnóstica deve ser seriamente considerada em todos os pacientes com HIV primária e em pacientes mais jovens não hipertensos com HIC lobar. Tratamento clínico e cirúrgico AVE hemorrágico Aqui, devemos aproveitar a “golden hour”, ou seja, a primeira hora depois do AVE, para promover cuidados intensivos e avaliar a necessidade de cirurgia. Para parar o sangramento, temos que: fazer controle rígido da PA e reverter possíveis coagulopatias. A avaliação de um neurocirurgião também é necessária, embora as indicações de reversão cirúrgica ainda sejam restritas e pouco estabelecidas. Hemorragia intraparenquimatosa O tratamento da HIP é basicamente de suporte: pacientes com RNC devem ser intubados, suportados por ventilação mecânica, bem como monitorização hemodinâmica com cateter de PA invasiva e, na maioria das vezes, um cateter ventricular para a monitorização da PIC (pressão intracraniana). → Controle da PA: Busca manter PAS < 140mmHg e PAM<130mmHG; uso: labetalol e nitroprussiato de sódio. → Controle glicêmico deve ser realizado tal como o AVE isquêmico. Se a causa da hemorragia intracraniana for um distúrbio da hemostasia, este deve ser tratado o mais rápido possível, com transfusão de hemocomponentes (plasma, plaquetas etc.). Se o paciente estiver em uso de anticoagulante ou antiplaquetário,esses devem ser descontinuados e os efeitos revertidos com antídotos. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Reversão de coagulopatias: É direcionada de acordo com a causa base, e realizada reversão quando RNI >1,4. Aqui, é essencial saber as medicações de uso do paciente e quando foi a última dose, visto que muda a conduta de acordo com o uso de antiagregantes ou anticoagulantes! Neurocirurgia de drenagem Pode ser necessária se: • Hematoma cerebelar > 3 cm ou entre 1-3 cm com repercussão neurológica; • Hematoma lobar ou putaminal volumoso, com extensão para a periferia e repercussões clínicas Obs.: A instalação de uma derivação ventricular externa (DVE) está indicada na presença de hidrocefalia com repercussão clínica. Hemorragia subaracnóidea Assim dado o diagnóstico, o paciente deve ser internado na UTI e avaliado por um neurocirurgião. Se estiver dentro das primeiras 72 horas após o início dos sintomas e tiver pontuação < III na escala de Hunt-Hess, o exame padrão ouro a ser realizado é a arteriografia cerebral, para localizar o aneurisma. Após constatação do aneurisma, a cirurgia de clipagem aneurismática é a primeira escolha (já que é a medida mais eficaz para prevenir ressangramento, a complicação com maior letalidade da HSA). Uma outra abordagem possível para o aneurisma é a terapia endovascular com embolização. Se houver RNC, uma monitorização invasiva da PIC deve ser realizada (o procedimento de escolha é o cateter intraventricular, já que tem caráter diagnóstico e terapêutico, permitindo a drenagem do LCR). Se o aneurisma não for clipado, a PA sistólica deve ser mantida entre 140-150mmHg, com o uso de nitroprussiato de sódio. A manutenção de altos níveis pressóricos traz elevado risco de ressangramento, enquanto uma PA muito baixa aumenta o risco de vasoespasmo. O uso de anticonvulsivantes, como a fenitoína 100mg IV a cada 8 horas, hoje está indicado apenas se o paciente apresentou crise convulsiva em algum momento. O uso de nimodipino 60mg via enteral a cada 4h é indicado pois há a prevenção de sequela neurológica do vasoespasmo, e seu uso deve ser mantido até o 14° dia após o evento. O vasoespasmo é uma das principais complicações da HSA e é reconhecido pelo surgimento de novo déficit focal a partir do 3° dia. O tratamento dessa condição baseia-se nos “3 Hs”: hemodiluição hipervolêmica (com 3l de soro fisiológico isotônico) e hipertensão (se o aneurisma já foi clipado, pode se deixar a PAS chegar a níveis até 200mmHg). Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 Prognóstico Após um AVE, o resultado do quadro é influenciado por vários fatores, mas dentre eles existem dois principais: a natureza e a gravidade do déficit neurológico resultante. Idade do paciente, etiologia do AVE e comorbidades também são fatores importantes. O prognóstico de AVEs hemorrágicos é pior do que AVEs isquêmicos, e depende de alguns fatores principais, dentre eles: tamanho do hematoma intraparenquimatoso (> 30cm3), presença de hemoventrículo, nível de consciência (glasgow < 8), idade (>80 anos), localização (infratentorial tem pior prognóstico) e uso prévio de anticoagulantes. Pacientes com sinais de herniação trasntentorial dificilmente sobrevivem. De forma geral, 80% desses pacientes sobrevivem pelo menos um mês após o episódio, mas apenas 35% têm um prognóstico superior a 10 anos. Grande fator de piora é a recidiva do AVE, que acontece em 25% desses pacientes nos 5 anos subsequentes, e costuma deixar sequelas mais debilitantes que o primeiro episódio. A recuperação neurológica completa ocorre em apenas 10% dos pacientes, e a maioria dos déficits que permanecem após 12 meses é permanente. Porém, um fator de esperança é a neuroplasticidade cerebral: os primeiros 3 meses após o AVE são os mais importantes para o cérebro reaprender antigas atividades e funções, mostrando a importância do tratamento correto e atividades fisioterápicas para a recuperação e reabilitação pós-AVE. Tutoria 2- 3ºmódulo/Jeovanna Miranda- M3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Tratado de Neurologia- Merritt Med Curso - Neuro
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