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Farmacobotânica Aula 1: Introdução ao estudo da Farmacobotânica Apresentação O que é Farmacobotânica e qual a sua importância para a formação de profissionais farmacêuticos? Qual a relação entre a laranjeira do seu quintal e as pernas cheias de varizes da sua avó? As plantas são boazinhas, produzindo substâncias úteis para nós? Muitos medicamentos (fitoterápicos ou não) têm origem a partir de plantas, por isso é muito importante que você, farmacêutico, conheça as principais características desses organismos tão complexos e tão úteis, dos quais nos beneficiamos todo o tempo. Se hoje sentimos uma dor de cabeça, automaticamente pensamos em um analgésico famoso e centenário, a Aspirina®. Mas não imaginamos que esta primorosa descoberta teve origem em uma planta, o salgueiro, Salix alba, do qual foi extraído o ácido salicílico, depois transformado em ácido acetilsalicílico, princípio ativo do referido medicamento. Desse modo, o farmacêutico tem também a responsabilidade de lutar ativamente pela preservação da nossa biodiversidade. As plantas, como qualquer organismo vivo, realizam uma série de reações químicas para manutenção e preservação da vida. Algumas reações são essenciais à sobrevivência e são chamadas de metabolismo primário, como a fotossíntese e a respiração. Outras ocorrem em momentos específicos, para atender a uma demanda ocasional, e são chamadas metabolismo especial ou secundário, como quando há produção de substâncias que impedem o ataque de insetos. Os produtos dessas reações, os metabólitos especiais, possuem muitas vezes propriedades terapêuticas para nós. Objetivo Explicar a importância da disciplina para sua formação profissional; Identificar a participação de diferentes populações na construção dos saberes tradicionais; Reconhecer a legislação com as normas de produção e comercialização de fitoterápicos. Sobre a Farmacobotânica Fonte: unsplash. A Farmacobotânica tem como foco o estudo das características morfológicas e estruturais de plantas de interesse medicinal, buscando garantir a qualidade das matérias-primas de origem vegetal. Isto quer dizer que precisamos conhecer como se organiza o corpo da planta e suas principais características, para saber como manter a qualidade dos produtos dela originados. Assim, a planta de interesse vai ter sua organização estudada por fora (macro) e por dentro (microscopicamente). Vamos saber como elas estão agrupadas e como se classificam, para termos certeza da sua identidade. Comentário Se conversarmos com nossos avós saberemos que, no tempo deles ou dos pais deles, os medicamentos industrializados não eram tão acessíveis, de modo que o modo preferido de cuidar da saúde era recorrer ao quintal. Muitos males eram resolvidos com plantinhas encontradas ao nosso redor! Isso é o que chamamos de saber popular, que vai passando de geração para geração, de boca, sem qualquer documentação. Aprendemos, por exemplo, que chá de boldo é muito bom para uma crise de fígado. Mas você sabe que há mais de um tipo de boldo? Qual a proporção a ser usada no preparo do chá? Daí a importância de se conhecer as características da planta de interesse, de se saber de fato qual é a sua identidade, para sabermos que estamos usando aquela que realmente produz as substâncias necessárias para curar o mal que nos aflige e, especialmente, se estamos utilizando a planta da maneira correta. Laranjeira x varizes Clique no botão acima. Pois é, sua avó tem muitas varizes, mas o que isso tem a ver com a laranjeira do seu quintal? É que a laranja e outras frutas cítricas produzem várias substâncias de interesse medicinal. Entre elas, os flavonoides diosmina e hesperedina, componentes de medicamentos chamados flebotônicos, usados para combater as varizes e melhorar a circulação. Essas substâncias são armazenadas na casca e não são aproveitadas por nós diretamente. As frutas cítricas produzem, ainda, a vitamina C, que fortalece o sistema imunológico e o tecido conjuntivo, melhorando a qualidade dos vasos sanguíneos e a circulação. A fruta deve ser consumida fresca e o suco logo que for feito, pois a vitamina C é muito facilmente degradada. Plantas boazinhas? Não que elas sejam más, mas elas não gastam energia na produção de tantas substâncias para nós. É que essas substâncias chamadas de metabólitos especiais, são produzidas em determinadas circunstâncias em que a planta está passando por um momento de estresse (falta de água, pouca luz, poluição etc.). Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Fonte: unsplash. Da mesma forma deve ser considerado o estágio de desenvolvimento da planta. Uma mesma espécie pode produzir um determinado metabólito quando for uma jovem plantinha e não o produzir mais na fase adulta ou, ainda, o produzir numa taxa menor. A fase do ciclo de vida também afeta bastante o metabolismo: Uma planta, em sua fase inicial, germinando e formando brotos, terá um metabolismo bastante diferenciado quando estiver em sua fase madura, florescendo para atrair polinizadores. Por essa razão, a produção de metabólitos varia bastante ao longo do ano e mesmo ao longo do dia! Atividade 1. Fomos a campo em janeiro para coletar determinada planta, que sabidamente produz compostos de interesse medicinal. Havendo necessidade de uma nova coleta, fomos novamente em junho. Ambos os materiais apresentarão a mesma composição e as mesmas propriedades? Justifique sua resposta. Conceitos importantes No estudo com plantas medicinais é muito importante o conhecimento de conceitos e definições que permitam a identificação e padronização das matérias-primas de origem vegetal, já que em cada lugar se tem um conhecimento e uma forma de uso diferente. Para se evitar equívocos, recomenda-se que os conceitos e definições sejam oficiais, estabelecidos pela legislação vigente. Atualmente, a legislação que normatiza a produção e o uso de plantas medicinais é a RDC 26, de 13 de maio de 2014. A seguir, são apresentadas as principais definições relacionadas às plantas medicinais. Conceitos e Definições Clique no botão acima. Planta medicinal Planta medicinal é qualquer espécie vegetal utilizada com o objetivo terapêutico. Pode estar na natureza ou ser cultivada. Planta medicinal fresca ou in natura é aquela utilizada logo após a colheita ou coleta. Droga vegetal Se a planta ou suas partes forem usadas após secagem, chamamos de droga vegetal, que pode estar íntegra (inteira), rasurada (em pedaços) ou pulverizada (em pó). Planta tóxica É considerada planta tóxica qualquer espécie vegetal que possa causar efeitos nocivos ao organismo humano ou animal selvagem ou doméstico, podendo até matar. Vale lembrar que muitas vezes a intoxicação acontece porque usamos a planta errada (uma espécie parecida que não é quem pensamos ser) ou fazemos uso da planta certa, mas do jeito errado (uso interno quando deveria ser externo, quantidade exacerbada de folhas, etc.), ou, ainda, tomamos doses com maior frequência do que é necessário. Não nos esqueçamos da máxima formulada por Paracelso: “A dose faz o veneno”. A camolila, por exemplo, é uma planta medicinal e também uma droga vegetal, dependendo da dose utilizada. Chá medicinal Droga vegetal com fins medicinais a ser preparada por meio de infusão, decocção ou maceração em água pelo consumidor. Derivado vegetal Produto da extração da planta medicinal fresca ou da droga vegetal, que contenha as substâncias responsáveis pela ação terapêutica, podendo ocorrer na forma de extrato, óleo fixo e volátil, cera, exsudato e outros. Fitocomplexo: Conjunto de todas as substâncias, originadas do metabolismo primário ou secundário, responsáveis, em conjunto, pelos efeitos biológicos de uma planta medicinal ou de seus derivados. Fitoterápico Produto obtido de matéria-prima ativa vegetal, exceto substâncias isoladas, com finalidade profilática (preventiva), curativa ou paliativa, incluindo medicamento fitoterápico e produto tradicional fitoterápico; pode ser simples (o ativo vem de uma só espécie), ou composto(o ativo vem de mais de uma espécie). Marcador Substância ou classe de substâncias (ex.: alcaloides, flavonoides, ácidos graxos, etc.) utilizada como referência no controle da qualidade da matéria-prima vegetal e do fitoterápico, preferencialmente tendo correlação com o efeito terapêutico. O marcador pode ser do tipo ativo, quando relacionado com a atividade terapêutica do fitocomplexo, ou analítico, quando não demonstrada, até o momento, sua relação com a atividade terapêutica do fitocomplexo. Matéria-prima vegetal Compreende a planta medicinal, a droga vegetal ou o derivado vegetal. Uso tradicional Aquele derivado do conhecimento histórico de utilização no ser humano demonstrado em documentação técnico- científica, sem evidências conhecidas ou informadas de risco à saúde do usuário. Ou seja, a eficácia foi comprovada pelo uso ao longo dos anos por comunidades tradicionais e o efeito tóxico não foi observado. Já o uso popular é aquele baseado na utilização de plantas medicinais por comunidades não tradicionais, sem registros técnico- científicos ou de evidências sobre riscos. Em geral, seguem tendências de modismos do momento. (ALMEIDA, 2011) É importante ressaltar conceitos que foram estabelecidos em 2014, para ajudar a distinção dos produtos fitoterápicos. Tal distinção está relacionada com a forma de confirmação da efetividade e segurança, bem como com o tipo de legalização junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Medicamentos fitoterápicos são aqueles “obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais cuja segurança e eficácia sejam baseadas em evidências clínicas e que sejam caracterizados pela constância de sua qualidade. ” (BRASIL, 2014). Produtos tradicionais fitoterápicos são aqueles “obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais cuja segurança e efetividade sejam baseadas em dados de uso seguro e efetivo publicados na literatura técnico- científica e que sejam concebidos para serem utilizados sem a vigilância de um médico para fins de diagnóstico, de prescrição ou de monitorização. ” (BRASIL, 2014) ATENÇÃO! Medicamentos fitoterápicos ➞ Registro na ANVISA obrigatório. Produtos tradicionais fitoterápicos ➞ Registro ou notificação obrigatórios. Saiba mais Embora ligado à vida acadêmica, Paracelso estava convencido de que a Medicina não poderia ser ensinada em uma instituição. Criticava os colegas e a Medicina da época. Buscava aprender com a natureza e com as pessoas, como parteiras, curandeiros e ciganos. Paracelso foi um estudioso incansável e um revolucionário e crítico da sua época. Ele curou pacientes usando minerais, o que na época não se usava, e estudou venenos em profundidade, formulando a máxima hoje tão conhecida. Ele foi acusado de magia e bruxaria, quando na realidade era um homem que acreditava profundamente em Deus e tinha uma sede de conhecimento que ia muito além dos muros da academia. Ele foi sem dúvida um gênio do seu tempo, e é considerado o pai da Toxicologia, ciência que estuda os efeitos no organismo de substâncias tóxicas. Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso. Fonte: wikipedia. Acesso em: 22 jan. 2020. Paracelso nasceu em 1493, em uma área próxima ao que hoje é Zurique (Suíça). Quando jovem, trabalhou nas minas, o que lhe deu um importante conhecimento de minerais, que acabou sendo decisivo em seu trabalho. Aos 16 anos ele foi para a Universidade da Basileia e, mais tarde, obteve um doutorado na Universidade de Ferrara. Seja registro ou notificação, há requisitos mínimos estabelecidos pela ANVISA que devem ser seguidos. Os produtos tradicionais �toterápicos são de dois tipos: Os chás medicinais e os produtos associados a excipientes e formas farmacêuticas. Os chás medicinais são constituídos apenas de drogas vegetais e só podem ser noti�cados, enquanto os outros tipos de produtos tradicionais �toterápicos, como xaropes, cápsulas, pomadas etc. podem ser noti�cados ou registrados. - (BRASIL, 2014a). Atenção Produtos tradicionais fitoterápicos não podem ser relacionados a condições de doenças ou distúrbios considerados graves. Também não podem conter matérias-primas em concentrações de risco tóxico e nunca devem ser administrados por vias injetável e oftálmica! A detecção de qualquer substância ativa isolada ou purificada, ainda que de origem vegetal, natural ou sintética desqualifica os medicamentos fitoterápicos e os produtos tradicionais fitoterápicos. Ou seja, nessas condições, o medicamento não pode ser registrado ou notificado como tal. Atividade 2.Verifique se esta informação é verdadeira: “Plantas de uso tradicional podem ser usadas indiscriminadamente, mesmo em casos graves e complexos”. 3. O consumo de fitoterápicos, bem como de plantas medicinais in natura, tem sido bastante estimulado pela propaganda e pelos meios de comunicação. Com relação aos fitoterápicos e seu consumo, é correto afirmar que: a) Por se tratar de produto natural, o medicamento fitoterápico não possui riscos ou efeitos indesejados. b) A qualidade final do medicamento fitoterápico não está relacionada à forma de cultivo das plantas medicinais. c) Como qualquer outro produto, por interferirem em processos fisiológicos normais, eles são de potente toxicidade, podendo apresentar contraindicações. d) A natureza do solvente e dos processos de extração e secagem não interfere na composição do produto final. e) Medicamento fitoterápico é aquele elaborado principalmente a partir de plantas medicinais, podendo estar presentes substâncias ativas de origem química. Histórico do uso de plantas medicinais Segundo Alves (2013), observações sobre o uso terapêutico de plantas medicinais são registradas desde a antiguidade pelas civilizações da China, Índia, Egito e Grécia. Os autores afirmam, ainda, que as propriedades do ópio (Papaver somniferum) como sedativo e calmante, do óleo de rícino (Ricinus communis), da alcaravia (Carum carvi) e da hortelã pimenta (Mentha piperita) como digestivo já eram conhecidas no Egito há mais de 4.000 anos. Os egípcios sabiam como preparar diuréticos, vermífugos, purgantes e antissépticos de origem natural. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Fonte: unsplash. Segundo Bhattaram et al. (2002), a Índia também teve um importante papel na descrição de plantas medicinais, principalmente devido à medicina Ayurvédica (ayur= vida, veda= conhecimento), baseada nos Vedas, o livro sagrado dos hindus. No século I antes de Cristo, os indianos produziram um tratado médico intitulado Caraka, com mais de 500 plantas! A ayurveda (medicina tradicional indiana) é, talvez, mais antiga do que todas as tradições medicinais e do que a medicina tradicional chinesa. As civilizações da China e da Índia estavam �orescendo e já possuíam inúmeros escritos sobre plantas medicinais. A referência mais completa sobre prescrição de ervas chinesas é a enciclopédia chinesa Modern Day, de matéria médica publicada em 1977. Essa obra lista quase 6.000 medicamentos, dos quais 4.800 são de origem vegetal” - (BRASIL, 2012, p. 13). Na Europa, de acordo com Devienne, Raddi e Pozetti (2004), o conhecimento sobre o uso de plantas medicinais chegou no século XIII, permanecendo por 4 séculos, quando começou a ruptura com o caráter mágico e divino do poder de cura das plantas medicinais. Saiba mais A fitoterapia atual teve a contribuição mais recente da Teoria das Assinaturas, criada pelo Botânico Robert Turner. Segundo esta teoria, Deus imprimiu nas plantas, ervas, flores e frutas hieróglifos que são a própria assinatura de suas virtudes. Ou seja, Deus nos daria dicas de como usar as plantas pelas suas características. Turner queria dizer com isto que as características morfológicas das partes das plantas teriam relação com sua utilização nos sistemas do organismo humano. Lembra do Paracelso, o gênio revolucionário? Ele era partidário dessa teoria! Interessante é que muitos achismos dessa época têm sido pelo menos parcialmente comprovadospelos estudos químicos modernos. Na história do Brasil, segundo Brasil (2012), há registros de que os primeiros médicos portugueses que vieram para cá, diante da escassez na colônia de remédios empregados na Europa, muito cedo foram obrigados a perceber a importância dos remédios de origem vegetal utilizados pelos povos indígenas. Os viajantes sempre se abasteciam deles antes de excursionarem por regiões pouco conhecidas. As grandes navegações trouxeram a descoberta de novos continentes, legando ao mundo moderno um grande arsenal terapêutico de origem vegetal até hoje indispensável à Medicina. Atenção Dentro da biodiversidade brasileira, alguns exemplos importantes de plantas medicinais são: Ilex paraguariensis (mate), Myroxylon balsamum (bálsamo de Tolu), Paullinia cupana (guaraná), Psidium guajava (guava), Spilanthes acmella (jambu), Tabebuia sp. (lapacho), Uncaria tomentosa (unha-de-gato), Copaifera sp. (copaíba). No início, o uso de plantas com poder curativo era considerado magia. Tudo era muito empírico (baseado no achismo) e envolvido numa atmosfera de misticismo. Mais tarde, a utilização de plantas e outros recursos naturais por gregos e egípcios baseou-se em observação. Não se tinha noção de princípios ativos ou seu mecanismo de ação. Aplicavam-se as plantas e os efeitos eram minuciosamente observados e registrados. Figura 2: Representação da teoria das assinaturas. Se a noz tem esse formato, então é bom para o cérebro. Fonte: pixabay. Foi a partir do século XIX que o homem dominou a diversidade terapêutica dos vegetais. Os primeiros trabalhos de investigação e busca por recursos de origem vegetal são de 1803 e 1805, com a descrição do ópio a partir da papoula (Papaver somniferum). Em 1818, a partir da espécie Strychnos nux-vomica foi isolada a estricnina e identificada a quinina, usada no tratamento da malária. A partir daí vários estudos foram desenvolvidos, contribuindo com a descoberta de importantes substâncias de valor terapêutico, como: salicilina (Salix sp), atropina (Atropa belladona), digitoxina (Digitalis lanata), escopolamina (Datura stramonium) e efedrina (Ephedra sp). Os estudos com plantas medicinais têm como objetivos: A confirmação da autenticidade botânica (identificação); A identificação da composição química, obtenção, identificação e análise dos princípios ativos (estudos fitoquímicos); A determinação dos efeitos no organismo (estudos farmacológicos), bem como de propriedades tóxicas (estudos toxicológicos). Fonte: unsplash. Pela sua proximidade com a natureza, os indígenas retiravam da mata os vegetais para a construção de suas casas, uso no tratamento de doenças e fabricação de utensílios diversos. São alguns exemplos de plantas utilizadas por indígenas: Clique nos botões para ver as informações. Usada para bronquite, disenteria e indução de vômito. Auxilia no tratamento de infecção por amebas. Ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha) Utilizada para estimular a produção de suor. Diminui a pressão do olho, sendo usada em exames e para tratamento de glaucoma. Jaborandi (Pilocarpus jaborandi) Útil em casos de mal-estar, febre, reumatismo. Usado como analgésico. Produz o precursor do ácido acetilsalicílico. Salgueiro (Salix alba) Usada para distúrbios na circulação, como insuficiência cardíaca. Dela se extrai a digoxina e a digitoxina, importantes medicamentos para o coração fraco. Dedaleira (Digitalis purpurea) Usada pelos índios como antitérmica. Produz a quinina, utilizada no tratamento da malária. Cinchona (Cinchona officinalis) De acordo com Almeida (2011), da África também vieram contribuições culturais importantes no uso de plantas medicinais, especialmente no Norte, Nordeste e Sudeste. As plantas africanas foram incorporadas àquelas já utilizadas pelos europeus e índios, contribuindo para o enorme acervo da medicina popular atual. As comunidades quilombolas hoje mantêm a tradição de uso de ervas medicinais para o tratamento de doenças e muitas das plantas empregadas foram trazidas por seus antepassados. Alguns exemplos de plantas trazidas pelos africanos são: Sene (Cassia angustifólia) Utilizam-se as folhas e vagens. Tem ação laxativa e purgativa. Ajuda a regular o trânsito intestinal, e é indicado para cólicas biliares, gases, prisão de ventre, obesidade, doenças da pele e dos olhos, hemorroidas, febre e fissura anal. Labaça-crespa (Rumex crispus) Suas folhas são usadas maceradas, em pomadas e cataplasma. Esta espécie é utilizada na medicina popular para melhorar a função dos rins, fígado, glândulas linfáticas e intestino, também ajuda no processo de limpeza natural do corpo. Boldo africano (Plectranthus barbatus) Também conhecido como boldo do Brasil, boldo falso, boldo nacional. Suas folhas são utilizadas maceradas contra problemas digestivos como diarreia, obstipação e prisão de ventre, suores frios, mal-estar, problemas hepáticos, como hepatite, cólica e congestão, cistite, litíase biliar, insônia e ressaca alcoólica. Alguns exemplos de plantas medicinais utilizadas rotineiramente Clique no botão acima. Alecrim É ótimo como estimulante e antirreumático, também é ótimo para tosses, bronquites e problemas respiratórios. Calêndula Utilizada no tratamento de problemas de pele e queimaduras, atua como cicatrizante e anti-inflamatório. Erva-doce A erva-doce é indicada para dores musculares, reumáticas, bronquites, tosses, problemas digestivos e insônia. Alfazema Ela tem um efeito calmante sobre o sistema nervoso e alivia enxaquecas e insônia. Camomila As compressas para os olhos aliviam inflamações e ajudam no combate à insônia, dores de cabeça e tensão nervosa. Hortelã Possui propriedades benéficas ao aparelho respiratório, sendo descongestionante e calmante. Atividade 4. Pesquise sobre a Teoria das Assinaturas, e assinale os termos que não representam uma associação evocada por ela: a) Abacate— útero. b) Feijões— rins. c) Noz— sistema nervoso. d) Erva-doce— pâncreas. e) Kiwi— testículos. Abordagens para estudos de plantas medicinais A seleção de plantas para pesquisa pode se dar segundo as seguintes estratégias: Clique nos botões para ver as informações. A Etnofarmacologia, segundo Elisabetsky (2003), trata do conhecimento popular relacionado a sistemas tradicionais de Medicina. Define-se Etnofarmacologia como a exploração científica interdisciplinar dos agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo homem, o que significa, trocando em miúdos, estudar cientificamente os conhecimentos de uma determinada população acerca do uso que faz das plantas medicinais. É uma abordagem interessante, pois parte de um conhecimento prático, que então será submetido a um tratamento científico, sendo ou não comprovado. Etnofarmacologia É a seleção da planta num habitat particular ou pela observação do seu efeito em animais. Se uma planta é imune ao ataque de insetos, por exemplo, isso indica a produção de compostos bioativos que podem vir a apresentar efeito terapêutico. Estudos ecológicos Neste tipo de estudo, procura-se direcionar a busca de substâncias com propriedades medicinais em função de informações já conhecidas sobre outros exemplares do mesmo grupo taxonômico. Quimiossistemática Neste caso, o foco é em espécies existentes no Brasil e já reconhecidas por suas propriedades medicinais, sendo inclusive inscritas em farmacopeias estrangeiras, o que já lhes traz uma garantia e segurança do seu valor terapêutico. O principal objetivo nesse caso seria a avaliação para certificação da identidade do material botânico. Reestudo Neste tipo de estudo, são feitas coletas de espécies de diversos grupos taxonômicos de uma dada região aleatoriamente. São preparados extratos das espécies coletadas que são submetidos a testes para avaliar o potencial terapêutico. Neste caso, não há um direcionamento claro, é como pagar para ver. Este tipo de abordagem é pouco efetivo comparado aos demais. Seleção randômica aleatória Atividade 5. Em uma determinada localidade,foram coletadas 10 plantas, dentre as mais citadas pela população local pelas suas propriedades curativas. Foram feitos extratos das espécies coletadas, que foram depois submetidos a testes biológicos. Que tipo de abordagem foi seguida neste estudo? a) Aleatória b) Quimiossistemática c) Etnofarmacologia d) Ecológica e) Reestudo Marco regulatório de plantas medicinais Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online 1978 Conferência Internacional de Alma Ata— A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou a inclusão de práticas tradicionais na atenção básica à saúde. 1981 Publicação no Brasil pelo Ministério da Saúde da Portaria n° 212 priorizando o estudo das plantas medicinais para investigação clínica (BRASIL, 1981). 1982 Lançamento do Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais da Central de Medicamentos para obter o desenvolvimento de uma terapêutica alternativa e complementar, com embasamento científico. O programa foi revogado com a extinção da CEME, pela lei 9.618, de 02 de abril de 1998. Atividade 6. O uso de plantas por indicação de amigos e parentes é bastante comum, especialmente em populações mais pobres, que têm menos acesso a recursos de saúde. A ideia de que “se não fizer bem, mal não faz”, é bastante difundida, contribuindo para o uso incorreto deste recurso, podendo causar um transtorno ainda maior. Pesquise junto a pessoas mais velhas de sua família ou de seu bairro e faça uma lista de 10 plantas usadas por eles e as indicações de uso. Em seguida, compare essa lista com as listas da Instrução Normativa nº 2, de 13 de maio de 2014. Referências 7. Qual a importância da mudança do nome das plantas secas de drogas vegetais para chás medicinais no contexto da RDC 26/2014? Notas modelo transteórico do comportamento alimentar1 A aplicação do modelo transteórico no comportamento alimentar é relativamente recente, o que requer maior aprofundamento nas pesquisas. ALMEIDA, M. Z. Plantas medicinais. 3. ed. Salvador: EDUFBA, 2011. ALVES, L. F. Produção de fitoterápicos no Brasil: História, problemas e perspectivas. In: Revista Virtual de Química, v. 5, n. 3, p. 450-513, 2013. BHATTARAM, V. A. et al. Pharmacokinetics and bioavailability of herbal medicinal products. In: Phytomedicine, v. 9, n. 1, p. 1-33, 2002. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Fundação Oswaldo Cruz. Farmacopeia Brasileira. 5. ed. Brasília: ANVISA, Fiocruz, 2010a. 2. v. BRASIL. Lei nº 9.618, de 2 de abril de 1998. Dispõe sobre a extinção dos órgãos que menciona e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1998. BRASIL. Ministério de Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa nº 02, de 13 de maio de 2014. Publica a “Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado” e a “Lista de produtos tradicionais fitoterápicos de registro simplificado”. Brasília, DF: MS, ANVISA, 2014a. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada- RDC nº 17, de 16 de abril de 2010. Dispõe sobre as Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos. Brasília, DF: MS, ANVISA, 2010b. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 26, de 13 de maio de 2014. Dispõe sobre registro de medicamentos fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápicos. Brasília, DF: MS, ANVISA, 2014b. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada- RDC nº 47, de 8 de setembro de 2009. Estabelece regras para elaboração, harmonização, atualização, publicação e disponibilização de bulas de medicamentos para pacientes e para profissionais de saúde. Brasília, DF: MS, ANVISA, 2009a. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada- RDC nº 60, de 11 de novembro de 2011. Aprova o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, primeira edição e dá outras providências. Brasília-DF: MS, ANVISA, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada- RDC nº 71, de 22 de dezembro 2009. Estabelece as regras para rotulagem de medicamentos. Brasília: MS, ANVISA, 2009b. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1, de 2 de janeiro de 2015. Estabelece a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais- RENAME 2014 no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da atualização do elenco de medicamentos e insumos da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais- RENAME 2012. Brasília, DF: MS, 2015a. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 212, de 11 de setembro de 1981. Diretrizes e prioridades de investigação em saúde. Brasília, DF: MS, 1981. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 971, de 03 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: MS, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.982, de 26 de novembro de 2009. Aprova as normas de execução da Assistência Farmacêutica na Atenção Básica. Brasília, DF: MS, 2009c. BRASIL. Ministério da Saúde. Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS). Brasília, DF: MS, 2009d. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Práticas integrativas e complementares: plantas medicinais e fitoterapia na Atenção Básica. Brasília, DF: MS, SAS, DAB, 2012. (Cadernos de Atenção Básica, n. 31). BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Brasília, DF: MS, SCTIE, DAF, 2016. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais: RENAME 2014. 9. ed. rev. E atual. Brasília, DF: MS, SCTIE, DAF, 2015b. DEVIENNE, K. F.; RADDI, M. F. G.; POZETTI, G. L. Das plantas medicinais aos fitofármacos. In: Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Campinas, v. 6, n. 3, p. 11-14, 2004. ELISABETSKY, E. Etnofarmacologia. In: Ciência e Cultura, São Paulo, v. 55, n. 3, p. 35-36, 2003. GURIB-FAKIM, A. Medicinal plants: Traditions of yesterday and drugs of tomorrow. In: Molecular Aspects of Medicine, v. 27, p. 1-93, 2006. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Declaração de Alma-Ata sobre cuidados primários. Alma-Ata: OMS, 1978. SAAD, G. A. et al. Fitoterapia contemporânea: Tradição e ciência na prática clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. Próxima aula Critérios para determinação do controle de qualidade da droga vegetal; Análises organoléptica, macro e microscópica; Reações histoquímicas; Determinação da amostra; Análise de pureza. Explore mais Leia os textos: A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos: Construção, perspectivas e desafios; Os dez anos da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) e os principais entraves da cadeia d ti d t t t i di t fit t á i B il javascript:void(0); javascript:void(0); produtiva de extratos vegetais e medicamentos fitoterápicos no Brasil; Paracelso: mago e cientista; O que é a Medicina do Lobo, segundo os índios americanos. javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);
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