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Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO PROBLEMA 1 – INTERMEDIÁRIA: INFECÇÕES HOSPITALARES: As infecções hospitalares (IH) podem ser definidas como infecções associadas à internação, não havendo sinais sintomáticos ou prodrômicos no momento da admissão. Em geral, são detectadas a partir de 48h da entrada no hospital, podendo também ser identificada após a alta. Se o paciente já se apresenta ao hospital com sintomas consistentes ou em período de incubação, a infecção é comunitária (desde que não se relacione a internações ou procedimentos anteriores). Fluxograma para diferenciação de infecções hospitalares e comunitárias Esses distúrbios não só elevam o tempo de hospitalização do paciente como também aumentam o risco de complicações ou mortalidade e encarecem o tratamento inicial. As IH por vezes se instalam devido a características do sistema imune do paciente, que dificultam o convívio harmônico com as bactérias colonizadoras de pele e mucosas. Assim, é difícil associar diretamente esse quadro à contaminação direta pela equipe hospitalar. A interferência de aspectos populacionais para o desenvolvimento da IH faz com que comparações entre instituições não tenham sentido epidemiológico. Dentre as principais manifestações de infecções hospitalares, destacam-se: Infecção do trato urinário: pode ser sintomática ou assintomática, acometendo tanto a porção final do sistema excretor como as estruturas superiores e os tecidos adjacentes. Pode estar associada à passagem de sonda vesical nos últimos 7 dias; Infecção de sítio cirúrgico: é a infecção que ocorre em até 30 dias após o procedimento (limite que aumenta para um ano quando há a colocação de implantes). Pode ser incisional superficial/profunda (primárias ou secundárias), ou de órgãos/cavidades. A drenagem de secreção purulenta e a deiscência de pontos podem ser indicativos de infecções superficiais, demandando a reabertura da incisão; Pneumonia hospitalar: pode ser clinicamente definida (piora de trocas gasosas associadas a sinais radiológicos ou laboratoriais) ou pneumonia com achados laboratoriais específicos, como detecção de vírus, fungos ou bactérias. Pacientes em ventilação mecânica estão mais susceptíveis ao quadro; Pacientes imunocomprometidos ou em longa permanência devem ser avaliados com mais atenção, pois podem sofrer episódios múltiplos de pneumonia, recorrentes ou por prolongamento do quadro inicial. Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Critérios radiológicos e laboratoriais da pneumonia hospitalar clinicamente definida Critérios da pneumonia com achados específicos em exames laboratotiais Infecções da corrente sanguínea: é detectada pela cultura sanguínea positiva para microrganismos não relacionados a infecções em outros locais. O diagnóstico para infecções hospitalares é evidenciado pela cultura de microrganismos em fluidos ou órgãos, processo este que deve ser direcionado para as queixas sintomáticas conforme a história clínica do indivíduo. Febre, prostração, dor, calafrios, leucocitose e elevação de VHS e PCR são sinais inespecíficos, mas podem sugerir a presença de infecções, confirmadas laboratorialmente. INFECÇÕES HOSPITALARES EM NEONATOLOGIA: As infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) em neonatologia dividem-se em: Infecção Transplacentária: são adquiridas ainda no período intrauterino, como CMV, HIV, sífilis e hepatite B; IRAS precoce de possível origem materna: teve seus indícios clínicos, laboratoriais ou microbiológicos detectados até as primeiras 48h de vida na presença de fatores de risco maternos, como: o Cerclagem; o Bolsa rota por mais de 18h; o Trabalho de parto em IG < 35 semanas; o Realização de procedimentos fetais invasivos há menos de 72h; o ITU materna sem tratamento ou em tratamento por menos de 72h; o Febre materna nas últimas 48h; o Corioamnionite; o Colonização materna por Streptococcus B. Nos casos de ausência desses fatores, a IRAS neonatal será classificada como infecção hospitalar precoce. Se o RN desenvolver sinais de infecção até o 2º dia de vida após ser transferido de hospital, a notificação deverá ser feita ao serviço de origem. IRAS tardia de origem hospitalar: correspondem aos quadros detectados após as 48h iniciais de vida. Será considerada pertencente à essa classificação a infecção diagnosticada durante internamento em Unidade de Assistência Neonatal. Após a alta hospitalar, a classificação irá depender do local acometido e do tempo de incubação. Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Sítios de infecção e período de incubação das principais infecções tardias Os diagnósticos topográficos em IRAS neonatal são os mesmos descritos no tópico anterior, no entanto destaca-se a sepse clínica, termo exclusivo para pacientes com idade > 1 ano, sendo identificado frente à presença de febre ou hipotermia, hipoatividade, apneia ou bradicardia além da ausência de infecção secundária e não detecção de microrganismos/antígenos na hemocultura. Também é necessário avaliar o possível desenvolvimento de: Meningite: seu diagnóstico deve ser confirmado principalmente pelo isolamento de microrganismos no LCR, principalmente quando estes forem comumente encontrados na pele, e pela presença de alteração de resíduos metabólicos no líquor. Valores de referência para leucócitos, proteínas e glicose no LCR neonatal Sintomas inespecíficos associados a esses resultados fundamentam o diagnóstico. Infecção de olhos, ouvidos, nariz, garganta ou boca: tem diagnóstico confirmado por meio de cultura microbiológica positiva em secreções purulentas ou fluidos locais, podendo ser complementado pela presença de sinais gerais de infecção, como febre e dor; Infecções cutâneas e do tecido celular subcutâneo: devem apresentar sinais flogísticos regionais associados ou não à drenagem purulenta, acrescidos da confirmação da presença de microrganismos por hemocultura ou drenagem. PROTOCOLOS DE CONTROLE E NOTIFICAÇÃO EM INFECÇÕES HOSPITALARES: Desde 1976 o Brasil conta com decretos que impõem a necessidade de medidas institucionais de evitação de efeitos negativos à saúde de agentes, pacientes e circunstantes. Foi em 1983, no entanto que a Portaria 196 do Ministério da Saúde implementou a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) como obrigatória em todos os hospitais do país. A inexistência dessas organizações é classificada como negligência. Esse documento foi revogado em função da Portaria 2.616/998, que estabeleceu normas para a regulamentação dos Programas de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH) e das CCIH que os gerenciam, além dos critérios diagnósticos das IH, descritos anteriormente, das orientações para vigilância epidemiológica em IH, esclarecidas posteriormente, e de protocolos para a lavagem das mãos. O PCIH corresponde às ações implementadas por uma instituição de forma a diminuir ao máximo a incidência e gravidade das infecções. Ele deve abranger: Vigilância epidemiológica: responsável por estabelecer diagnósticos Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO situacionais para a IH, identificando possíveis surtos; Normas para o uso racional de antimicrobianos, germicidas e materiais médico-hospitalares: o uso inadequado de antibióticos pode causar aumento da pressão seletiva, permitindo a sobrevivência e replicação de organismos multirresistentes; Processos para prevenção da transmissão de microrganismos: correspondem às medidas de precaução e isolamento, de forma a evitar a transmissão cruzada entre pacientes de um hospital, protegendo também os profissionais envolvidos; Exemplosde medidas padrão para prevenir contaminação cruzada. Os EPIS variam para prevenção de contato, gotículas e aerossóis Treinamento de profissionais da saúde quanto à prevenção da IH. A CCIH, por sua vez, é um órgão de apoio para a coordenação do serviço hospitalar, que estabelece todas as medidas acima, relacionadas ao SCIH. Deve ser formada por profissionais da saúde (médicos clínicos e cirúrgicos enfermeiros, farmacêuticos, biomédicos e setor administrativo), com o coordenador sendo recomendado pelo quadro diretor. As atribuições dessa organização são: Elaborar o regimento interno da CCIH; Supervisionar a aplicação das normas institucionais para prevenção de IH; Favorecer a educação continuada dos profissionais; Estabelecer diretrizes de precaução e isolamento de pacientes infectocontagiosos; Criar programas de prevenção e manejo de acidentes com perfurocortantes; Comunicar à gestão do SUS os quadros de notificação compulsória (senão há setor epidemiológico); Amparar programas de vigilância em saúde; Notificar os casos de surtos de IH associados ao uso de insumos industrializados. A execução desses projetos é de responsabilidade do serviço de controle de infecção hospitalar (SCIH), que deve apresentar ao menos um enfermeiro em sua composição. Há ao menos 2 técnicos a cada 200 leitos, com carga horária extra para 10 leitos de maior complexidade.
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