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RESPONSABILIDADE SOCIAL Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Professora: Betina Ines Backes CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Hiandra B. Götzinger Montibeller Prof.ª Izilene Conceição Amaro Ewald Prof.ª Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Prof.ª Fani Lúcia Martendal Eberhardt Revisão Gramatical: Prof.ª Marcilda Regina Cunha da Rosa Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI 364.15 B1263r Backes, Betina Ines. Responsabilidade Social / Betina Ines Backes. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Indaial : Grupo UNIASSELVI, 2009. x 93 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7830-216-0 1. Responsabilidade Social I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. II Núcleo de Ensino a Distância III. Titulo Copyright © UNIASSELVI 2009 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Betina Ines Backes Possui graduação em Administração, pela Universidade de Santa Cruz do Sul (1994); especialização em Gestão da Qualidade Total (1997), pela Universidade de Santa Cruz do Sul; mestrado em Engenharia de Produção, pela Universidade Federal de Santa Maria (1999); e doutorado em Engenharia de Produção, pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008). Atualmente, é coordenadora e professora no Curso de Administração de uma Faculdade de Florianópolis. Atua, também, em cursos de pós-graduação, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, e em projetos sociais, grupos e movimentos voltados à Responsabilidade Social, na cidade de Florianópolis. Possui experiência na área de gestão, tanto em instituições de Ensino Superior como na iniciativa privada. Além disso, é sócia da empresa Midas Marketing, com atuação, dentre outras frentes, em consultoria em Marketing e Estudo de Mercado, Marketing Interno, Marketing Social, Marketing de Relacionamento e Responsabilidade Social. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTuLo 1 reSPonSAbiLidAde SoCiAL: HiSTóriCo, evoLução e ConCeiToS ...............................................9 CAPÍTuLo 2 TemáTiCAS reLACionAdAS A reSPonSAbiLidAde SoCiAL ....................31 CAPÍTuLo 3 indiCAdoreS de reSPonSAbiLidAde SoCiAL .....................................51 CAPÍTuLo 4 reSPonSAbiLidAde SoCiAL: Cenário ATuAL, deSAfioS e TendênCiAS ........................................81 APreSenTAção Caro(a) pós-graduando(a): No atual cenário de mudanças e transformações sociais, a responsabilidade social empresarial cada vez mais tem sido tema de destaque entre as empresas. Podemos dizer que representa um novo paradigma, se considerarmos que há uma cobrança cada vez maior em relação às empresas, exigindo delas ações e respostas adequadas quanto aos públicos com as quais se relacionam e também quanto às problemáticas e demandas sociais e ambientais. Por outro lado, há, também, o indicativo dos resultados econômicos que as organizações podem obter ao investirem em programas de responsabilidade social. Uma conduta socialmente responsável pode trazer ganhos de reputação e imagem, pois ajuda a empresa a reforçar sua ligação com a comunidade local e com seus colaboradores, ou seja, a responsabilidade social pode aumentar a competitividade das empresas. Também pode trazer ganhos de capital e oportunidades de negócio, além de ter um efeito positivo no valor de mercado da empresa (BACKES, 2008). Diante deste cenário, estudar responsabilidade social torna-se de extrema relevância, o que nos motiva a estruturar esta disciplina denominada Responsabilidade Social que busca aprimorar o seu conhecimento acerca deste tema, possibilitando a sua utilização e aplicação nas organizações. Para que possamos atingir este propósito, estruturamos este estudo em quatro capítulos. No primeiro capítulo, estudaremos um pouco sobre o surgimento e a evolução da responsabilidade social (RS) no meio empresarial, tanto em âmbito mundial como no Brasil. Após, ainda no capítulo 1, o foco do estudo será a discussão de diversos conceitos e entendimentos de RS, sendo que destacaremos a importância de avaliar a realidade de cada empresa para poder aplicá-los. A RS traz implícita, em sua gestão, algumas questões primordiais, tais como a ética e a importância do diálogo com os públicos com os quais a empresa se relaciona. Por isso, no segundo capítulo, o foco estará nessas questões, ou seja, em temas que se relacionam diretamente com a RS, seja em razão da necessidade de aprimorar o seu entendimento, como é o caso do desenvolvimento sustentável e sustentabilidade ou, mesmo, para esclarecer equívocos e entendimentos distorcidos, tais como práticas de marketing social, comumente confundidas com RS. Como em qualquer prática de gestão, a definição de objetivos e de metas se faz necessária, devendo ser apoiada por indicadores que possibilitem monitorar e avaliar continuamente os resultados. Assim, o terceiro capítulo trata da importância e da necessidade de as empresas definirem meios de gerenciar a responsabilidade social, ou seja, é preciso monitorar constantemente a RS, a partir da utilização de indicadores que tanto podem ser aqueles definidos pela própria organização, como aqueles disponíveis no mercado (Balanço Social, Indicadores Ethos, SA 8000, etc.). Além disso, apresentaremos alguns princípios e diretrizes mundiais, voltados às questões sociais e ambientais e que, dada sua relevância e importância para a melhoria das condições da população como um todo, têm sido incluídos na pauta da RS das empresas. Depois de entender RS e sua abrangência, a importância de outras temáticas na gestão da RS e a necessidade de monitoramento e de avaliação do desempenho dos programas sociais das empresas, o foco estará nos desafios e nas tendências da RS. Assim, finalizaremos o estudo com o quarto capítulo que remete a uma reflexão sobre o momento atual dessa nova prática de gestão. Além disso, teremos, nesse mesmo capítulo, uma breve reflexão sobre os desafios que a RS traz às organizações e quais as principais tendências em relação a esse tema, isto é, como a RS será tratada pelas empresas nos próximos anos. Ao final do estudo, esperamos que você possa compreender ainda mais a importância deste tema e sua complexidade e, ao mesmo tempo, a necessidade de uma empresa avaliar e definir seus objetivos no que se refere à adoção da RS para, então, partir para uma ação concreta. Ademais, esperamos que a estrutura e a abordagem apresentadas nesta disciplina permitam a você ampliar o seu conhecimento sobre o tema e, principalmente, utilizá-lo em sua organização. Por fim, desejamos a você um ótimo estudo e que, ao finalizar o seu curso de pós-graduação, consiga aplicar, desenvolver e aprimorar ainda mais os seus conhecimentos e, principalmente, aplicá-los no seu dia-a-dia e, assim, alcançar novos objetivos e vencer desafios em sua trajetória profissional. Bom estudo e um forte e afetuoso abraço! A autora. CAPÍTULO 1 reSPonSAbiLidAde SoCiAL: HiSTóriCo, evoLução e ConCeiToS A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Traçar um panorama do surgimento e evolução da responsabilidade social. 3 Destacar os principais conceitos de responsabilidade social e a evolução dos mesmos. 3 Avaliar a aplicabilidadedos conceitos de responsabilidade social. 10 Responsabilidade Social 11 RESPONSABILIDADE SOCIAL: HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CONCEITOS Capítulo 1 ConTeXTuALiZAção Responsabilidade social (RS) é um termo que você já deve ter escutado muitas vezes. Também já deve ter ouvido frases como “Aquela empresa tem responsabilidade social” ou, ainda, “A empresa X é socialmente responsável”. No entanto, para poder compreender melhor este contexto, é importante saber o que é responsabilidade social, do que se trata e como surgiu no meio empresarial. Podemos dizer que “Responsabilidade social diz respeito à maneira como as empresas realizam seus negócios; critérios que utilizam para a tomada de decisões; valores que defi nem suas prioridades; e relacionamentos com todos os públicos com os quais interagem” (INSTITUTO ETHOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL, 2007). Porém, antes de explicar um pouco sobre este primeiro capítulo, queremos esclarecer que, ao longo de todo o caderno, muitas vezes você vai encontrar a sigla RS, que é a abreviatura do termo responsabilidade social. Esta sigla é bastante utilizada não só por autores de livros e por pesquisadores, mas também por empresas e organizações em geral. Agora, vamos falar um pouco sobre este primeiro capítulo. Para começar, estudaremos o surgimento da RS no mundo e no Brasil, bem como a sua evolução até os dias de hoje, ou seja, se, atualmente, se fala tanto em responsabilidade social, como e por que isso começou? Ao fi nal deste capítulo, você entenderá isto melhor. Além disto, ao estudar um pouco o histórico da responsabilidade social, isto é, como, a partir do seu surgimento, evoluiu ao longo do tempo, também é possível saber o atual signifi cado da responsabilidade social. Há vários conceitos diferentes, porém semelhantes em vários aspectos. Mas isto você mesmo perceberá no fi nal da leitura deste capítulo. Isto permitirá que você faça uma avaliação de questões relacionadas à RS, presentes tanto em empresas como na sociedade em geral, e o que realmente é responsabilidade social. Para fi nalizar, lembre-se de destacar, ao longo do texto, as questões que mais chamaram sua atenção e também aquelas sobre as quais surgiram dúvidas. Você poderá debatê-las no grupo e com o tutor. Bom estudo! Ao longo de todo o caderno, muitas vezes você vai encontrar a sigla RS, que é a abreviatura do termo responsabilidade social. 12 Responsabilidade Social HiSTóriCo dA reSPonSAbiLidAde SoCiAL no Cenário mundiAL Falar em responsabilidade social tem sido bastante comum nos dias de hoje. Porém, você tem noção de quando a RS começou a ser discutida e praticada nas empresas? Então, saiba que, embora não seja possível datar com precisão o início do movimento da responsabilidade social no mundo, podemos dizer que a RS começou a se popularizar entre as empresas nas décadas de 1950 e 1960, apesar de que fatos anteriores tenham contribuído para essa discussão. De acordo com Duarte e Dias (1986), foi nos anos de 1960 que este tema começou a ganhar espaço nos Estados Unidos. Artigos começaram a ser publicados em jornais e em revistas especializados. Já nos anos de 1970, o interesse pela RS continuou, porém com ênfase na ética empresarial e na qualidade de vida no trabalho, ou seja, as empresas, naquele momento, começaram a buscar o “aperfeiçoamento e criação de novas técnicas e modelos de avaliação do desempenho da empresa no campo social”. (DUARTE; DIAS, 1986, p. 44). Vinda dos Estados Unidos, no fi nal dos anos de 1960, a discussão se ampliou para a Europa, e, rapidamente, as ideias se propagaram. Foi nos anos de 1970 que surgiram os primeiros estudos e, “no ano fi scal de 1971-72, é feita a primeira tentativa de elaboração de um Balanço Social, avaliando o desempenho da Companhia STEAG na área social” (DUARTE; DIAS, 1986, p. 45). Entretanto, foi na França que, em 1977, após um debate público sobre avaliação do desempenho das empresas na área social, ocorreu a regulamentação de uma lei obrigando as empresas com mais de trezentos empregados a fazerem balanços sociais sobre mão de obra e condições de trabalho. É atribuída bastante importância a esse fato, pois, nessa ocasião, foi publicado o primeiro Balanço Social. Balanço Social é um demonstrativo que, publicado anualmente pela empresa, reúne um conjunto de informações sobre os projetos, os benefícios e as ações sociais dirigidas aos empregados, aos investidores, a analistas de mercado, a acionistas e à comunidade. Nos demais países e continentes, também foi na década de 1970 que surgiram as primeiras discussões sobre responsabilidade social das empresas e as práticas de Balanço Social. (DUARTE; DIAS, 1986). 13 RESPONSABILIDADE SOCIAL: HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CONCEITOS Capítulo 1 Passado esse período inicial, a discussão sobre responsabilidade social se propagou com mais força. No período entre os anos de 1970 e 1980, diversas questões econômicas relacionadas às empresas geraram novas discussões. De acordo com Stoner e Freeman (1985), o aumento nos custos de energia e nos gastos para cumprir a legislação da época (destinada a diminuir a poluição, proteger os consumidores e assegurar oportunidades iguais) afetou as organizações, o que resultou numa nova avaliação sobre a responsabilidade social das empresas. No entanto, numa visão contrária à responsabilidade social, nesse momento, começou a ser difundida a ideia de que, se as empresas quisessem sobreviver, precisariam ser liberadas de responsabilidades sociais impróprias, retornando ao foco básico, que seria a geração de lucros, isto é, as demais responsabilidades não caberiam às empresas. Eram questões que deveriam ser tratadas e cuidadas pelo governo. O defensor dessa ideia foi o economista Milton Friedman, o qual indicava a maximização dos lucros como a única responsabilidade social de uma empresa. Em outras palavras, Friedman (1977) considerava que uma empresa deveria dar lucro, sendo esta a sua responsabilidade com a sociedade. A visão de Milton Friedman pode ser conferida na obra: FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. São Paulo: Arte Nova, 1977, na qual o autor defende que as empresas têm apenas uma responsabilidade: a de usar seus recursos e energia em atividades destinadas a aumentar os lucros, devendo apenas obedecer às regras do jogo. Nesse mesmo período, aqueles que defendiam a responsabilidade social das empresas numa perspectiva mais ampla questionaram e criticaram a visão de Milton Friedman, com foco apenas no lucro. Keith Davis (1960), personagem principal desse movimento contrário às ideias de Milton Friedman, questionava como e por que as empresas deveriam tentar responder às expectativas da sociedade. (CARVALHO, 2002). Para Keith Davis (1960), se a empresa é a maior potência no mundo contemporâneo, a mesma necessita assumir uma postura de RS. Além disso, uma empresa gera para a sociedade alguns custos decorrentes de suas atividades e, por isso, tem responsabilidade direta e condições de tratar problemas que atingem a sociedade. (ASHLEY, 2002; STONER; FREEMAN, 1985). Cabe salientar que esse cenário de contrariedade entre os que defendiam a RS e os que a criticavam foi importante para a discussão da responsabilidade social das empresas nos anos seguintes. A partir dos anos de 1980, tanto nos Estados Unidos como na Europa, diversas empresas mostraram uma efetiva 14 Responsabilidade Social preocupação com o meio ambiente e começaram a dar mais atenção à responsabilidade social. Porém, passados mais de 30 anos desse período, ainda é possível observar contrariedades em relação à responsabilidade social. Atualmente, percebemos uma tendência mundial de aceitação, de defesa e deadoção da responsabilidade social das empresas, ou seja, cada vez mais as empresas aderem à responsabilidade social e a praticam, embora ainda haja aqueles que não concordem com essa atuação social. O argumento segue a visão de Milton Friedman, ou seja, não cabe às empresas a responsabilidade por problemáticas sociais as quais são da responsabilidade do Governo. Atividade de Estudos: 1) Com base no que você leu até agora sobre o surgimento da responsabilidade social no cenário mundial, responda: Você considera que a RS seja importante? Por quê? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Para você, as empresas devem apenas se preocupar com a obtenção de lucro e a administração pública deve cuidar das demais questões? Ou as empresas devem se engajar nas problemáticas e demandas sociais? Por quê? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Atualmente, percebemos uma tendência mundial de aceitação, de defesa e de adoção da responsabilidade social das empresas, ou seja, cada vez mais as empresas aderem à responsabilidade social e a praticam. 15 RESPONSABILIDADE SOCIAL: HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CONCEITOS Capítulo 1 SurGimenTo e evoLução dA reSPonSAbiLidAde SoCiAL no brASiL Até aqui, estudamos um pouco sobre como e quando surgiu o movimento da responsabilidade social no cenário mundial e como se intensifi cou. E no Brasil? Você sabe quando começou a se falar em responsabilidade social? Veremos isto a partir de agora. No Brasil, a difusão da responsabilidade social e a discussão sobre a mesma são recentes, pois iniciaram na década de 1970. De acordo com Torres (2002), as primeiras discussões sobre o assunto ocorreram nos anos de 1970, sendo que o impulsionador desse movimento foi a “Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas”, publicada em 1965, pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE Brasil). Já naquela época, esta Carta usou o termo responsabilidade social das empresas. [...], a ‘Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas’, publicada em 1965, é um marco histórico incontestável do início da utilização explícita do termo ‘responsabilidade social’ diretamente associado às empresas e da própria relevância do tema relacionado à ação social empresarial no país – mesmo que ainda limitado ao mundo das idéias e se efetivando apenas em discursos e textos, o tema já fazia parte da realidade de uma pequena parcela do empresariado paulista. (TORRES, 2002, p. 139). Se você quiser saber mais sobre a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa, acesse o seguinte endereço: http://www. adcemg.org.br/ No fi nal dos anos de 1980, um pequeno número de empresas começou a se engajar na discussão sobre questões sociais e ambientais. Também foi nesse período que ocorreram algumas ações sociais concretas realizadas pelas empresas. Todavia, foi nos anos de 1990 que diversas instituições com foco na RS surgiram e se desenvolveram no Brasil, trazendo mais à tona a responsabilidade social. Isso infl uenciou muito as empresas que começaram a despertar para a sua responsabilidade social. Cabe destacar que foi entre o fi nal dos anos de 1980 e de 1990 que ocorreram a fundação e a consolidação de importantes institutos e organizações da sociedade civil ligados ao meio empresarial no Brasil. Podemos destacar como principais: o Grupo de Institutos, Cabe destacar que foi entre o final dos anos de 1980 e de 1990 que ocorreram a fundação e a consolidação de importantes institutos e organizações da sociedade civil ligados ao meio empresarial no Brasil. 16 Responsabilidade Social Fundações e Empresas (GIFE), criado em 1989 e formalizado como organização em 1995; a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, criada em fevereiro de 1990; e o Instituto Ethos de Responsabilidade Social, criado em junho de 1998. Sobre as três organizações mencionadas, você pode obter mais informações acessando os seguintes endereços: http://www.gife.org.br (Instituto GIFE), http://www.fundabrinq.org.br/ (Fundação Abrinq) e http://www.ethos.org.br (Instituto Ethos). Algumas empresas, ainda na década de 1990, passaram a divulgar periodicamente suas ações sociais realizadas internamente, com foco nos funcionários, bem como suas ações junto à comunidade e em relação ao meio ambiente. Os meios utilizados para essa divulgação foram relatórios e balanços sociais. Além disso, nesse período, organizações não-governamentais, mais conhecidas como ONGs, começaram a utilizar mais intensamente o termo RS e passaram a incentivar as empresas para a prática da responsabilidade social. (TORRES, 2002). Para conhecer um pouco mais os movimentos e as organizações do Brasil voltados à responsabilidade social, observe o quadro a seguir. Na coluna da esquerda, está o nome do movimento ou da organização e, na coluna da direita, se encontram o seu objetivo e foco de atuação. Quadro 1 - Organizações e movimentos brasileiros voltados à responsabilidade social MOVIMENTO/ORGANIZAÇÃO OBJETIVO / FOCO Prêmio ECO – Empresa e Comunidade (lançado em 1982, pelas Câmaras Americanas de Comércio de São Paulo - AMCHAM). Destaca-se pelo pioneirismo no incentivo e reconhecimento de ações de empresas voltadas para comunidades do entorno. Fundação Abrinq (criada em 1990) É formada por empresas fabricantes de brinque- dos. Destacou-se pela mobilização gerada no combate ao trabalho infantil no país, envolvendo as empresas nessa mobilização. 17 RESPONSABILIDADE SOCIAL: HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CONCEITOS Capítulo 1 Fonte: Adaptado de Schommer e Rocha (2007, p. 6-7 apud BACKES, 2008, p. 34). Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), (lançado em 1991) GIFE – Grupo e Institutos, Fundações e Empresas (criado em 1995) Abriu crescente espaço para questões sociais e ambientais e relações das empresas com seus stakeholders como indicadores de qualidade na gestão empresarial. Desempenha papel-chave na mobilização empresarial em prol de questões públicas, reunindo, atualmente, cerca de 100 organi- zações de origem empresarial que praticam investimento social privado. IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (fundado em 1995) IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (fundado em 1998) Tem papel relevante na disseminação do que são consideradas boas práticas de governança pelas empresas. Busca democratizar as informações a respeito da realidade brasileira no campo econômico, social e político. Uma de suas linhas de ação defende posturas éticas e socialmente respon- sáveis na atuação das empresas, em especial por meio de práticas de gestão mais transpa- rentes, passando pela publicação de balanços sociais. Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Empresarial (constituído em 1998)Instituto Akatu pelo Consumo Consciente (fundado em 2001) Tem desempenhado papel fundamental, tanto no Brasil como no mundo, na promoção da responsabilidade social empresarial, desta- cando a necessidade de traduzir princípios éticos em indicadores e ferramentas de ges- tão aplicáveis no cotidiano das práticas das empresas e a necessidade de sua adesão ao ideal do desenvolvimento sustentável. Desenvolve ações que visam conscientizar e mobilizar a sociedade para que consuma de maneira a contribuir para a sustentabilidade do planeta, engajando as próprias empresas nesse movimento. 18 Responsabilidade Social De acordo com Schommer e Rocha (2007, p. 6), as organizações apresentadas no quadro 1 vêm “desempenhando papéis importantes para a refl exão a respeito das responsabilidades das empresas na dinâmica social, seja por seu pioneirismo nas ações em torno de certos temas, seja pela mobilização que conseguem gerar”. Também, além do governo e de organismos multilaterais, essas organizações têm desenvolvido diversas ações e projetos, assim contribuindo para a disseminação da RS e “envolvendo vários setores da sociedade, atuando de maneira articulada com movimentos similares em outros países”. (SCHOMMER; ROCHA, 2007, p. 7). Você já ouviu ou leu a palavra stakeholder? Este termo foi criado por Edward Freeman (1984), sendo bastante utilizado quando falamos em RS. Embora o termo não tenha uma tradução exata para a língua portuguesa, refere-se às diversas partes relacionadas à empresa, ou seja, diz respeito a qualquer pessoa que seja afetada ou possa ser afetada pelo desempenho de uma organização. Como exemplos de stakeholders, podemos citar, dentre outros, acionistas, funcionários, clientes, fornecedores, governo, ONG’s e sociedade em geral. Até aqui, é possível perceber que, no fi nal dos anos de 1990, o movimento da responsabilidade social teve forte impulso no Brasil. O surgimento de diversas organizações não-governamentais (como as descritas no quadro 1) e o desenvolvimento do Terceiro Setor intensifi caram esse movimento. Para Tenório (2006), como consequência, a partir desse período, surgiram termos e expressões, como fi lantropia, cidadania empresarial, ética nos negócios e responsabilidade social, os quais foram incorporados ao vocabulário das empresas. Filantropia: tem na doação a sua ação social dominante, ou seja, a sua principal modalidade. Os alvos das ações fi lantrópicas são as entidades sociais benefi centes. A forma de atuação é individual. As doações são esporádicas e feitas individualmente por empresas e/ou indivíduos. (MELO NETO; BRENNAND, 2004). Cidadania empresarial: é um conceito novo que surgiu em decorrência do movimento da consciência social que vem sendo internalizado pelas empresas. Uma empresa cidadã tem no seu compromisso com a promoção da cidadania e no desenvolvimento da comunidade os seus diferenciais competitivos, distinguindo-se dos seus concorrentes. É uma empresa que investe recursos fi nanceiros, tecnológicos e mão de obra em projetos comunitários de interesse público. (MELO NETO; FROES, 1999). No fi nal dos anos de 1990, o movimento da responsabilidade social teve forte impulso no Brasil. O surgimento de diversas organizações não-governamentais e o desenvolvimento do Terceiro Setor intensifi caram esse movimento. 19 RESPONSABILIDADE SOCIAL: HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CONCEITOS Capítulo 1 No início dos anos 2000, a RS já era bastante conhecida no Brasil, sendo que, a cada ano esse movimento cresce ainda mais. Podemos dizer que, desde o surgimento da RS até o presente momento, há alguns fatores que a vêm impulsionando no país. Dentre esses fatores, podemos destacar as carências sociais, o crescente grau de organização de nossa sociedade, e especialmente do Terceiro Setor, a ação social dos concorrentes, a divulgação nos meios de comunicação das ações sociais das empresas, o crescimento das expectativas das comunidades e funcionários e o engajamento social do meio empresarial. (MELO NETO; FROES, 1999). Para complementar o seu conhecimento sobre o surgimento e a evolução da RS no cenário mundial e no Brasil, o próximo quadro apresenta um panorama geral dos eventos mais importantes ocorridos desde o seu surgimento (anos de 1920 e de 1930) até o momento atual. Na coluna da esquerda, está o período e, na coluna da direita, se encontram os eventos ocorridos em cada período. Sugerimos, ainda, que você observe os fatos mais recentes, especialmente aqueles ocorridos a partir dos anos de 1990 e nos anos 2000, pois os mesmos vêm infl uenciando e, ao mesmo tempo, ajudando as empresas na discussão e/ou na adoção da responsabilidade social atualmente. Quadro 2 - Evolução da responsabilidade social PERÍODO EVENTOS Anos de 1920 a 1930 Anos de 1940 a 1960 Anos de 1970 a 1980 Anos de 1990 1920 – Criação da Liga das Nações 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos 1960 - Clube de Roma 1972 - Os Limites do Crescimento e Conferência de Estocolmo 1977 – Lei do Balanço Social na França 1983 – Prêmio ECO - Amcham 1984 – Primeiro Balanço Social do Brasil 1986 – FIDES e Chernobyl 1989 – Natural Step 1991 – PNQ 1992 – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento/Agenda 21 e Além dos Limites 1993 – ISO 14000 e FSC 1996 - BS 8800 1997 - GRI, Modelo Balanço Social Ibase, Protocolo de Kyoto 1998 - SA 8000 e Instituto Ethos 1999 - Bases para o Global Compact, OHSAS 18001, OCDE, AA 1000, Projeto Sigma 20 Responsabilidade Social Fonte: Adaptado de Linguitte (2007 apud BACKES, 2008, p.36). Atividade de Estudos: 1) Com base no que você leu sobre o surgimento e a evolução da responsabilidade social no Brasil, cite três acontecimentos que contribuíram para a expansão da responsabilidade social no Brasil. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Selecione cinco eventos que contribuíram para a evolução da responsabilidade social a partir dos anos de 1990. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Anos 2000 2000 - Indicadores Ethos, Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade, Lançamento Global Compact, Cúpula do Milênio, ISO 9000:2000, Indicadores Calvert-Henderson 2001 - Modelo Balanço Social Ethos 2002 - Carta da Terra/ONU 2004 - Princípio Corrupção do GC 2005 – ISO 26000 2006 – GRI – G3 21 RESPONSABILIDADE SOCIAL: HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CONCEITOS Capítulo 1 ConCeiToS de reSPonSAbiLidAde SoCiAL Até o momento, compreendemos como surgiu a responsabilidade social das empresas. A partir de agora, estudaremos conceitos e entendimentos de autores, de pesquisadores e de organizações sobre responsabilidade social. Isto permitirá uma refl exão sobre o que você entendia por RS antesde iniciar este estudo e como passará a entendê-la após esta leitura. Podemos afi rmar que ainda não há uma defi nição exata e totalmente aceita para responsabilidade social. Para Ashley (2002), o conceito de RS ainda não está consolidado; está em fase de construção. Para Melo Neto e Brennand (2004), defi nir responsabilidade social é uma tarefa difícil. Essa difi culdade se dá, em parte, pela relação que a RS tem com outras questões importantes, tais como ética, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, dentre outras. Além disso, os autores entendem que, para defi nir RS, primeiramente é necessário responder a questões como: “[...] Responsabilidade Social para quem? Da empresa, da comunidade, dos cidadãos, dos clientes, dos parceiros do negócio ou do governo?” (MELO NETO; BRENNAND, 2004, p. 2). Desenvolvimento sustentável é satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades. Sustentabilidade é um conceito relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Há alguns extremos quando falamos sobre responsabilidade social das empresas. Para alguns estudiosos e pesquisadores, essa responsabilidade social deve se limitar ao lucro e bom desempenho, o que, por si só, agrega valor ao bem-estar social (lembre-se da visão de Milton Friedman que vimos anteriormente). Para outros, as empresas são uma espécie de substitutas do papel do Estado (Governo) nas questões sociais. Para entender melhor essas divergências, Melo Neto e Froes (2001) apresentam uma comparação do entendimento de responsabilidade social a partir da abrangência percebida. Estas informações estão no quadro a seguir, sendo que a coluna da esquerda contém as diferentes visões (abrangência) da RS e a coluna da direita apresenta o entendimento de RS de acordo com cada visão. 22 Responsabilidade Social Quadro 3 - As diferentes visões e o respectivo entendimento de responsabilidade social VISÃO ENTENDIMENTO DE R$ Atitude e comportamento empresarial ético e responsável Dever e compromisso da empresa em assumir uma atitude transparente, responsável e ética em suas relações com os diversos públicos- alvo. Conjunto de valores Vista como um conjunto de valores, incorpora não apenas conceitos éticos, mas também uma série de outros conceitos que lhe dão sustentabilidade. Postura estratégica empresarial Estratégia de relacionamento Centrada na valorização de seu negócio e vista como ação social estratégica que gera retorno positivo para os negócios. Usa a responsabilidade social como es- tratégia de marketing de relacionamento, em especial com clientes, fornecedores e distribuidores. Estratégia de marketing institucional Estratégia de valorização das ações da empresa Estratégia de recursos humanos Estratégia de valorização dos produtos/serviços Estratégia social de inserção na comunidade Orientada para a melhoria da imagem institu- cional, traduzindo melhoria na reputação. Os ganhos institucionais da condição de empresa cidadã justificam os investimentos em ações sociais. A reputação da empresa e o valor de suas ações no mercado andam juntos. Ações com o foco nos empregados e seus dependentes. O objetivo é garantir a satisfação de empregados, reter talentos e aumentar a produtividade. Não atestar apenas a qualidade dos produtos e/ou serviços da empresa, mas também con- ferir-lhes o status de “socialmente corretos”. Busca aprimorar suas relações com a comuni- dade e a sociedade e defi nir novas formas de continuar inserida nela. 23 RESPONSABILIDADE SOCIAL: HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CONCEITOS Capítulo 1 Fonte: Adaptado de Melo Neto e Froes (2001, p. 39-42 apud BACKES, 2008, p.40). Ao observar o quadro 3, perceba que os autores demonstram que cada organização utiliza as visões adequadas a sua realidade, ou seja, é necessário escolher o principal foco de atuação e, então, defi nir a visão do conceito de responsabilidade social. “A empresa deve, portanto, defi nir primeiramente o seu foco de ação social. Em seguida, a sua estratégia social e, fi nalmente, o seu papel social.” (MELO NETO; FROES, 2001, p. 43). Para ampliar o seu conhecimento sobre RS e o que ela abrange, é importante conhecer alguns conceitos dados por autores e organizações para RS. Embora ainda não seja utilizado um conceito único, é possível perceber semelhanças entre eles. Para facilitar o seu estudo, os apresentamos em forma de quadro. Veja: Estratégia social de desenvolvimento da comunidade Assume o papel de agente do desenvolvimento local juntamente com outras entidades comuni- tárias e com o próprio governo. Promotora da cidadania individual e coletiva Mediante suas ações, ajuda a tornar seus empregados verdadeiros cristãos, contribuindo para a promoção da cidadania na sociedade e na comunidade. Exercício da consciência ecológica Exercício da capacitação profi ssional Vista como responsabilidade ambiental. Investe em programas de educação e de preservação do meio ambiente, tornando-se difusora de valores e de práticas ambientalistas. Relacionado ao exercício da capacitação profissional de membros da comunidade e empregados da própria empresa. Estratégia de integração social Parte do pressuposto de que o maior desafio histórico da sociedade atual é criar condições para que seja atingida a efetiva inclusão social. 24 Responsabilidade Social Quadro 4 - Defi nições de responsabilidade social FONTE CONCEITO Ashley (2002, p. 6-7) Compromisso que uma organização deve ter com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específi co, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel específi co na sociedade e a sua prestação de contas a ela. Instituto Ethos (2007) Responsabilidade social diz respeito à maneira como as empresas realizam seus negócios; critérios que utilizam para a tomada de decisões; valores que defi nem suas prioridades; e relacionamentos com todos os públicos com os quais interagem. Mcintosh et al. (2001, p. 313) Melo Neto e Brennand (2004, p. 7) Todas as empresas têm responsabilidades econômicas, sociais, éticas e ambientais, algumas das quais precisam estar em conformidade com a lei e outras que precisam do julgamento próprio de quem for responsável para garantir que a empresa não opere intencionalmente para prejudicar a sociedade. No coração do movimento da RSE estão as questões de trans- parência e de responsabilidade para que todos os interessados e a própria empresa façam auditorias e relatórios sobre questões éticas, fi nanceiras, sociais e ambientais. Responsabilidade social é uma atividade favorável ao desenvolvimento sustentável, à qualidade de vida do trabalho e na sociedade, ao respeito às minorias e aos mais necessitados, à igualdade de oportunidades, à justiça comum e ao fomento da cidadania e respeito aos princípios e valores éticos e morais. Reetz e Tottola (2006, p. 18) Zacharias (2004, p. 26) Zarpelon (2006, p. 15) A responsabilidade social é, na essência, um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. É um conjunto de princípios que direciona as ações e relações das empresas com seus funcionários, fornecedores, consumidores e comuni- dade em que estão inseridas. É uma forma de conduzir os negócios que torna a empresa parceira e corresponsável pelo desenvolvimento social. Responsabilidade social é a responsabilidade assumida diante da sociedade, quanto à geraçãode empregos, a pagamento de salários dignos, à arrecadação correta da carga tributária, ao aumento da qualidade de vida, à assimilação e transferência de tecnologia ou a qualquer outro fator que possa agregar benefício para a gestão e para a sociedade. Fonte: Adaptado de Backes (2008, p. 41-42). 25 RESPONSABILIDADE SOCIAL: HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CONCEITOS Capítulo 1 RSE - Responsabilidade Social Empresarial Todas as defi nições de responsabilidade social citadas no quadro 4 enfatizam, de certa forma, o papel e compromisso que uma empresa deve ter com a sociedade, com o meio ambiente e com os públicos interessados (stakeholders), buscando o bem comum. Além disso, a maioria dos conceitos ressalta que RS diz respeito à forma de conduzir os negócios, com destaque para a ética e transparência nas ações e estratégias das empresas. Para entender melhor todos os conceitos apresentados e conseguir avaliar a sua aplicabilidade, julgamos oportuno destacar a visão do Instituto Business for Social Responsability (BSR), principal entidade mundial na área de responsabilidade social. Na visão da BSR, reconhecida internacionalmente, mesmo que ainda não haja um conceito único para RS e aceito de forma unânime, a responsabilidade social se refere a decisões de negócios tomadas com base em valores éticos que abrangem dimensões legais, pessoas, comunidades e meio ambiente. (MACHADO FILHO, 2006). Após apresentarmos diversos conceitos de RS, perguntamos: Você já fez uma refl exão sobre o que entendia até aqui por responsabilidade social e o que ela realmente é? Vale ressaltar que, embora possa causar dúvidas por não ter um norteador (entendimento/conceito) único para RS, isto permite à empresa, quando pensar em aderir à RS, refl etir sobre sua realidade de negócio e adaptar o conceito que mais se aproxima desse cenário. Mas, mesmo assim, talvez você esteja se perguntado: Isto é possível? Cada organização pode buscar e/ou praticar a RS de acordo com a sua visão para esse tema? De certa forma, sim, porém alguns aspectos importantes precisam ser avaliados. Mas isto nós voltaremos a estudar no último capítulo deste caderno, quando tratarmos do cenário atual da RS e de suas tendências. Para fi nalizar a discussão sobre os diversos entendimentos sobre RS, destacamos as opiniões de alguns autores sobre essa variedade de conceitos. Passador, Canopf e Passador (2005) argumentam que não há um conceito único, porque a RS abrange diversas possibilidades para o desenvolvimento da sociedade, das organizações e das pessoas e, por isso, deve ser vista dentro de um contexto mais amplo. Para Kreitlon (2004), as defi nições de RSE podem variar conforme o contexto histórico e social em que são formuladas e também em função de interesses e da posição ocupada no espaço social de quem elabora essa defi nição. 26 Responsabilidade Social Podemos afi rmar que, de acordo com a natureza de uma organização, o conceito de RS encontra-se num processo permanente de construção, alternando- se de acordo com as “fl utuações da interação entre a empresa e a sociedade em geral”. (RODRIGUES, 2004, p. 18). Para Souza (2003, p. 15), a RS não se esgota num conceito nem na execução de ações simples ou, até mesmo, complexas. Trata-se da postura estratégica que a empresa assume “diante de vários aspectos (valores éticos e relacionamento com funcionários, fornecedores, clientes/ consumidores, comunidade vizinha, governo e sociedade em geral além das práticas adotadas em relação ao meio- ambiente)”. Finalizando, Almeida (2002) coloca que, mesmo sem ter um conceito único, devemos considerar o tempo e o local em que a empresa atua, permitindo aplicações diferentes de responsabilidade social. No entanto, respeito aos direitos humanos e aos direitos trabalhistas, proteção ambiental, valorização do bem-estar das comunidades e valorização do progresso social são valores básicos embutidos na noção de responsabilidade social e que são indiscutíveis. Atividade de Estudos: 1) Dos conceitos de RS apresentados neste capítulo, qual você considera mais adequado? Por quê? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Cite cinco aspectos comuns presentes nos diversos conceitos de RS apresentados no quadro 4. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Respeito aos direitos humanos e aos direitos trabalhistas, proteção ambiental, valorização do bem-estar das comunidades e valorização do progresso social são valores básicos embutidos na noção de responsabilidade social e que são indiscutíveis. 27 RESPONSABILIDADE SOCIAL: HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CONCEITOS Capítulo 1 3) A partir do que você estudou até aqui sobre o que é RS, compare a prática de algumas empresas que conhece com o conceito de responsabilidade social. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ALGumAS ConSiderAçÕeS Chegamos ao fi nal deste primeiro capítulo. O que apresentamos até aqui em relação ao surgimento e à evolução da RS nos cenários mundial e brasileiro foi para poder compreender melhor a abrangência e a importância deste tema no cenário atual. Ressaltamos fatos e nomes marcantes que contribuíram para o aprimoramento da visão sobre RS das empresas. Quando focamos o surgimento da RS no Brasil, percebemos o quanto ela é recente e, ao mesmo tempo, quanta coisa já foi feita em prol desse movimento. Para aprimorar o seu conhecimento e fazer refl exões e avaliações sobre a RS praticada atualmente nas empresas, apresentamos diversos conceitos e entendimentos. Embora não haja um conceito único para RS, esperamos que, ao fi nal deste capítulo, você tenha compreendido o que é RS e, principalmente, como adaptar esses entendimentos à realidade de cada empresa, resultando em práticas positivas. Porém, há outros aspectos importantes que serão estudados nos próximos capítulos. No capítulo seguinte, conforme já comentamos anteriormente, trataremos de alguns temas (assuntos) que são diretamente relacionados à RS, o que permitirá a você aprofundar ainda mais o seu conhecimento sobre este tema. Mas, antes disso, se ainda há dúvidas sobre o que foi tratado até aqui, sugerimos discuti-las com o grupo e com o tutor. 28 Responsabilidade Social referênCiAS ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. ASHLEY, Patrícia Almeida (Coord.). Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Atlas, 2002. BACKES, Betina Ines. Gestão da responsabilidade social em indústrias benefi ciadoras de tabaco. 2008. 263f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. CARVALHO, Rosa Carolina de. Responsabilidade social empresarial: Shell e Bp. In: CONGRESSO ANUAL EM CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO, 25., 4/5 set. 2002, Salvador. Disponível em: <http://reposcom.portcom.intercom.org. br/bitstream/1904/18765/1/2002_NP5CARVALHO.pdf>. Acesso em: 12 set. 2007. DAVIS, Keith. Can business afford to ignore social responsibilities? California Management Review, v. 2, p.70-76, 1960. DUARTE, Gleuso Damasceno; DIAS, José Maria Martins. Responsabilidade social: a empresa hoje. São Paulo: LTC – Livros Técnicos e Científi cos: Fundação Assistencial Brahma, 1986. FREEMAN, R. Edward. Strategic Management: a stakeholder approach. Boston: Pitman/Ballinger, 1984. FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. Rio de Janeiro: Artenova, 1977. INSTITUTO ETHOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL. Disponível em: <www. ethos.org.br>. Acesso em: 12 set. 2007. KREITLON, Maria Priscilla. A ética nas relações entre empresas e sociedade: fundamentos teóricos da responsabilidade social empresarial. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS- GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – ENANPAD, 28., 25/29 set. 2004, Curitiba. LINGUITTE, Marcelo. Balanço social e elaboração de relatórios de sustentabilidade. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL. Florianópolis, ago. 2007. 29 RESPONSABILIDADE SOCIAL: HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E CONCEITOS Capítulo 1 MACHADO FILHO, Claúdio Pinheiro. Responsabilidade social e governança: o debate e as implicações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. MCINTOSH, Malcolm et al. Cidadania corporativa: estratégias bem-sucedidas para empresas responsáveis. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. MELO NETO, Francisco Paulo de; BRENNAND, Jorgiana Melo. Empresas socialmente sustentáveis: o novo desafi o da gestão moderna. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004. MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Gestão da responsabilidade social corporativa: o caso brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. ______. Responsabilidade social e cidadania empresarial. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. PASSADOR, Cláudia Souza; CANOPF, Liliane; PASSADOR, João Luiz. Apontamentos sobre a Responsabilidade Social no ENANPAD: a construção de um conceito? In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – ENANPAD, 29., 17/21 set. 2005, Rio de Janeiro. REETZ, Lucimar; TOTTOLA, Etienne de Castro. Responsabilidade social: impossível fi car de fora. São Paulo: Livro Pronto, 2006. RODRIGUES, Maria Cecília Prates. Ação social das empresas privadas: uma metodologia para avaliação de resultados. 2004. 267 f. Tese (Doutorado em Administração) - Fundação Getúlio Vargas / EBAPE, São Paulo, 2004. SCHOMMER, Paula Chies; ROCHA, Fabio Cesar da Costa. As três ondas da gestão socialmente responsável no Brasil: dilemas, oportunidades e limites. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – ENANPAD, 29., 22/26 set. 2007, Rio de Janeiro. SOUZA, Dânia de Paula. Comunicação organizacional e responsabilidade social corporativa: a construção dos conceitos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO: INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. 26., 2/6 set. 2003, Belo Horizonte, MG. STONER, James; FREEMAN; R. Edward. Administração. Rio de Janeiro: Prentice-Hall, 1985. TENÓRIO, Fernando Guilherme (Org.). Responsabilidade social empresarial: teoria e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. TORRES, Ciro. Responsabilidade social das empresas. Disponível em: <http:// www.balancosocial.org.br/media/ART_2002_RSE_Vertical.pdf>. Acesso em: 03 jul. 2007. ZACHARIAS, Oceano. SA 8000 – Responsabilidade Social – NBR 16000: estratégia para empresas socialmente responsáveis. São Paulo: EPSE, 2004. ZARPELON, Márcio Ivanor. Gestão e responsabilidade social: NBR 16.001/SA 8.000: implantação e prática. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006. CAPÍTULO 2 TemáTiCAS reLACionAdAS à reSPonSAbiLidAde SoCiAL A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Identificar temáticas relacionadas à responsabilidade social. 3 Compreender a relação entre a responsabilidade social e a gestão ambiental nas organizações. 3 Demonstrar a interação entre as temáticas relacionadas e a gestão da responsabilidade social nas organizações. 32 Responsabilidade Social 33 TEMÁTICAS RELACIONADAS A RESPONSABILIDADE SOCIAL Capítulo 2 ConTeXTuALiZAção A partir do que foi abordado no capítulo anterior – o surgimento da responsabilidade social e os fatores que infl uenciaram sua expansão até os dias de hoje –, como você avalia o seu conhecimento sobre RS? Havia clareza do que realmente é responsabilidade social? Esperamos que você tenha ampliado o seu conhecimento sobre este tema tão difundido nos dias de hoje. Quando falamos em responsabilidade social, precisamos nos lembrar de que há algumas temáticas que estão diretamente relacionadas a ela. Apresentaremos, neste capítulo, essas temáticas, as quais precisam ser estudadas para que possamos compreender a amplitude da responsabilidade social e, ao mesmo tempo, para não confundir com práticas sociais comumente vistas como RS. Para você, há relação entre ética e RS? Este é o primeiro tema a ser mencionado, e seu foco está nos comportamentos e ações empresariais, em seus valores e princípios. A RS suscita comportamentos éticos das empresas, embora nem sempre uma empresa socialmente responsável seja ética. Ao assistir à TV ou, mesmo, ao visitar estabelecimentos comerciais, talvez você já tenha se deparado com ações e campanhas de marketing social. É uma prática bastante comum, mas que gera alguns equívocos no entendimento de RS. O marketing social é comumente confundido com RS, embora tenha um enfoque diferente, voltado a ações sociais e ambientais realizadas pelas empresas com foco no mercado. E os públicos com os quais as empresas se relacionam? No capítulo anterior, você já viu o termo stakeholders, que são as partes que se relacionam com as empresas. Neste capítulo, estudaremos um pouco sobre esses públicos e sua importância crescente na gestão da RS. Por último, teremos o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade, temas que vêm ganhando destaque com a expansão da RS e sobre os quais você, certamente, já ouviu falar muitas vezes, mas que talvez não saiba exatamente o que signifi cam. Embora haja relação direta entre eles, você perceberá diferenças signifi cativas. Sustentabilidade é um termo mais recente e tem um sentido de sustentação, continuidade. Já desenvolvimento sustentável se restringe aos recursos naturais e sua utilização adequada, com vistas à preservação para as futuras gerações. 34 Responsabilidade Social ÉTiCA O termo ética possui várias defi nições. Para Daft (1999, p. 83), a “ética é o código de princípios e valores morais que governam o comportamento de uma pessoa ou grupo quanto ao que é certo ou errado.” Porém, o autor ressalta que esse termo, no contexto das empresas, diz respeito aos valores internos nela existentes e que infl uenciam suas decisões. Tratando-se da responsabilidade social, falar em ética é primordial. Para Stoner e Freeman (1985), não é possível falar em responsabilidade social sem tratar de ética. Para os autores, ética é o modo pelo qual nossas decisões afetam outras pessoas ou, ainda, “é estudo dos direitos e dos deveres das pessoas, das regras morais que as pessoas aplicam ao tomar decisões, e da naturezadas relações entre as pessoas”. (STONER; FREEMAN, 1985, p. 77). Na visão de Ashley (2002), para que sejam estabelecidos critérios e parâmetros adequados para as atividades das empresas socialmente responsáveis, é necessário voltar a atenção para princípios éticos e valores morais. Para a autora, responsabilidades éticas são atividades, práticas, políticas e comportamentos esperados ou proibidos por membros da sociedade, embora não codifi cados em leis. “Em resumo, está se tornando hegemônica uma visão de que os negócios devem ser feitos de forma ética, obedecendo a rigorosos valores morais, de acordo com os comportamentos cada vez mais universalmente aceitos como apropriados.” (ASHLEY, 2002, p. 53). Para Ashley (2002), as empresas precisam: a) Preocupar-se com atitudes éticas e moralmente corretas que afetam os stakeholders. b) Promover valores e comportamentos morais, respeitando os padrões de direitos humanos e de cidadania e participação na sociedade. c) Respeitar o meio ambiente e contribuir para a sua sustentabilidade. d) Envolver-se na comunidade onde estão inseridas e contribuir para o desenvolvimento econômico e humano dos indivíduos. Responsabilidades éticas são atividades, práticas, políticas e comportamentos esperados ou proibidos por membros da sociedade, embora não codifi cados em leis. 35 TEMÁTICAS RELACIONADAS A RESPONSABILIDADE SOCIAL Capítulo 2 Se agirem da forma mencionada por Ashley (2002), as organizações responderão ao novo e abrangente papel que possuem dentro da sociedade, que não é apenas ser ético e fazer o bem, mas também contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável, justa e harmoniosa e uma vida mais justa, digna e de qualidade para as pessoas. (MELO NETO; BRENNAND, 2004). É preciso, entretanto, saber diferenciar responsabilidade social e negócios éticos. Podemos dizer que uma empresa socialmente responsável pode não necessariamente ser ética. No entanto, de acordo com Ashley (2002), é possível perceber que o papel social das empresas está sendo repensado. Vivemos um momento de transformações sociais e de profundas mudanças. As atenções da sociedade estão voltadas, cada vez mais, para a ética e para a responsabilidade social corporativa, ou seja, é necessário um estreitamento cada vez maior entre responsabilidade social e práticas éticas. MARKETING SoCiAL Responsabilidade social e marketing social muitas vezes são confundidos, o que exige que os diferenciemos. A palavra marketing está relacionada a mercado e diz respeito à identifi cação e satisfação das necessidades humanas e sociais. O objetivo do marketing é conhecer e entender os clientes e oferecer produtos e serviços que possam satisfazer suas necessidades e desejos. Ao comprar um produto, por exemplo, você está satisfazendo algum desejo ou necessidade. Cabe à empresa entender esse processo e ofertar produtos para atender ao mercado, sendo esta a função do marketing. (KOTLER; KELLER, 2006). No entanto, nos últimos anos, devido às exigências da sociedade e às tendências do mercado, surgiu a necessidade de o marketing se preocupar, também, com a responsabilidade social e ambiental. Isto trouxe à tona o marketing social. Para Pringle e Thompson (2000), atualmente, há um questionamento maior sobre o papel das organizações na sociedade. Portanto, as empresas devem determinar as necessidades, os desejos e os interesses do mercado e atender de forma mais efi caz e efi ciente do que os concorrentes e, ainda, “de um modo que conserve ou aumente o bem-estar do consumidor e da sociedade como um todo”. (KOTLER; KELLER, 2006, p. 20). É o chamado marketing social. Vivemos um momento de transformações sociais e de profundas mudanças. As atenções da sociedade estão voltadas, cada vez mais, para a ética e para a responsabilidade social corporativa, ou seja, é necessário um estreitamento cada vez maior entre responsabilidade social e práticas éticas. As empresas devem determinar as necessidades, os desejos e os interesses do mercado e atender de forma mais efi caz e efi ciente do que os concorrentes e, ainda, “de um modo que conserve ou aumente o bem-estar do consumidor e da sociedade como um todo”. (KOTLER; KELLER, 2006, p. 20). 36 Responsabilidade Social Para o marketing social ser efetivo, é essencial incluir condições éticas e sociais nas práticas das empresas, ou seja, é preciso aliar lucro, satisfação dos clientes e interesse público. “Elas devem equilibrar, em um difícil malabarismo, os critérios frequentemente confl itantes de lucros empresariais, satisfação do cliente e interesse público.” (KOTLER; KELLER, 2006, p. 20). Para entender melhor o marketing social, observe a fi gura 1 que demonstra a relação entre sociedade, consumidores e empresa. Figura 1 - Orientação do marketing social Fonte: Kotler e Armstrong (2003, p. 15). Conforme mostra a fi gura 1, a organização, ao praticar marketing social ou societal (são utilizadas as duas terminologias), volta sua atenção, ao mesmo tempo, para o retorno à empresa (lucro), para os consumidores (ao atender e satisfazer seus desejos e necessidades) e, ao mesmo tempo, para a sociedade (buscando proporcionar bem-estar social). Entretanto, dependendo das iniciativas sociais realizadas pelas empresas, há uma variação de termos para classifi cá-las no contexto do marketing social. Há, por exemplo, ações de fi lantropia e ações relacionadas a causas que, de um modo geral, são todas entendidas como marketing social. De forma bem objetiva, podemos afi rmar que o marketing social requer uma mudança de comportamento, de atitude, e que, se não ocorrer essa mudança, não é marketing social. Para entender as ações sociais promovidas pelas empresas e diferenciá-las, observe o quadro a seguir que classifi ca essas ações em seis tipos. Sociedade (bem-estar da humanidade) Consumidores (satisfação dos desejos) Empresa (lucros) Orientação de Marketing societal 37 TEMÁTICAS RELACIONADAS A RESPONSABILIDADE SOCIAL Capítulo 2 Quadro 5 - Iniciativas sociais corporativas Fonte: Adaptado de Kotler e Lee (apud KOTLER; KELLER, 2006, p. 21). Para entender ainda melhor as diferentes práticas sociais das empresas, apresentamos a visão de Melo Neto e Froes (1999). Para esses autores, o marketing social possui cinco classifi cações diferentes e cada uma apresenta características específi cas. São elas: marketing de fi lantropia, marketing das campanhas sociais, marketing de patrocínio de projetos sociais, marketing de relacionamento com base em ações sociais e marketing de promoção social do produto ou marca (ou marketing de causa). Essas abordagens estão detalhadas no quadro 6. Quadro 6 - Tipos de marketing social TIPO Marketing social corporativo Marketing de causas Apoia campanhas de mudança de comportamento. Promove questões sociais por meio de esforços, como patrocí- nios, acordos de licenciamento e propaganda. Filantropia corporativa Envolvimento empresarial na comunidade Práticas de negócios socialmente responsáveis Oferece dinheiro, bens ou tempo para ajudar organizações sem fi ns lucrativos, grupos ou indivíduos. Fornece produtos ou serviços voluntários à comunidade. Adapta e conduz práticas de negócios que protejam o ambiente, os seres humanos e os animais. Marketing relacionado a causas Doa uma porcentagem das receitas a uma causa específi ca, com base na receita obtida durante o período anunciado de apoio. DESCRIÇÃO CARACTERÍSTICAS Marketing de Filantropia • Promove a imagem do empresário como grande benfeitor, dotado de gran- de sensibilidade para problemas sociais. • Divulga e reforça a imagem da empresadoadora como entidade benfeitora e dotada de espírito fi lantrópico. • Busca o apoio do governo, preferência do consumidor, respeito dos clien- tes, admiração de funcionários e apoio da comunidade. • As ações não estão direcionadas para o marketing da empresa. • As ações atenuam o estereótipo social de empresa que obtém lucro fi nal. TIPOS DE MARKETING SOCIAL 38 Responsabilidade Social Fonte: Adaptado de Melo Neto e Froes (1999, p. 156-163 apud BACKES, 2008, p. 67). Portanto, de acordo com os autores, há o marketing social (ético, fi rme e responsável) e o marketing de causa (deformador, oportunista, de curta visão). “O verdadeiro marketing social atua fundamentalmente na comunicação com os funcionários e seus familiares, com ações que visam a aumentar comprovadamente o seu bem-estar social e o da comunidade.” (MELO NETO; FROES, 1999, p. 74). Essas Marketing de Patrocínio dos Projetos Sociais ou Marketing de Causa Marketing de Re- lacionamento com base em Ações Sociais • Busca retorno de imagem e vendas. • Promoção da marca, do produto e das vendas. • Valoriza ações dos projetos como instrumento de fi delização de clientes, captação de novos clientes, aproximação com o mercado, melhoria do relacionamento com fornecedores, distribuidores e representantes e abertura de novos canais de vendas e distribuição. • Busca a maximização do retorno publicitário e potencialização da marca. • Avalia os resultados de cada programa e projeto. • Ênfase no relacionamento com clientes e parceiros. • Uso da força de vendas e representantes como “prestadores de serviços sociais”. • Ênfase na questão de serviços, como aconselhamento, orientações médicas e educacionais. • Fidelização de clientes. • Promoção do produto e marca. Marketing de Promoção Social do Produto ou Marca • Agrega valor à marca ou produto por meio da incorporação do social. • Reforça conceito e posicionamento da marca e produto. • Confere status de socialmente responsável para uma marca e/ou produto. • Confere atributos sociais ao produto. Marketing das Campanhas Sociais • Forte apelo emocional. • Contribui para um movimento sério; rapidamente obtém adesão de empresas, governo e sociedade civil. • Geralmente conta com o apoio da mídia. • Assegura grande retorno publicitário para as empresas participantes das campanhas. • Valoriza o produto; embalagem adquire mais valor; embalagem adquire mais visibilidade, ocasionando aumento no volume de vendas. • Mobilização dos funcionários, servindo como poderoso instrumento de endomarketing. • Constrói imagem simpática da empresa junto ao consumidor. “O verdadeiro marketing social atua fundamentalmente na comunicação com os funcionários e seus familiares, com ações que visam a aumentar comprovadamente o seu bem-estar social e o da comunidade.” (MELO NETO; FROES, 1999, p. 74). 39 TEMÁTICAS RELACIONADAS A RESPONSABILIDADE SOCIAL Capítulo 2 ações de médio e longo prazo garantem sustentabilidade, cidadania, solidariedade e coesão social. Assim, a comunicação dos resultados atingidos por essas ações sociais e os ganhos da empresa resultantes da maior visibilidade dessas ações são o chamado marketing social ético. Porter e Kramer (2005) alertam que o marketing social está mais voltado para a publicidade do que para o impacto social. O seu objetivo é passar uma imagem mais simpática da empresa, ao invés de melhorar a sua capacidade competitiva. Ainda nessa visão crítica em relação ao marketing social, Gomes (2002) afi rma que, muitas vezes, os gastos publicitários são maiores que o montante de recursos aplicado nas ações sociais, ainda que sejam improdutivas. As empresas procuram demonstrar que estão preocupadas com os problemas sociais e, por meio do marketing social, procuram demonstrar que estão fazendo sua parte para melhorar esse quadro. No entanto, a empresa está demonstrando assistencialismo, que é muito distante da essência da responsabilidade social empresarial. “Para tanto, sobram marketing e regulamentações e faltam resultados concretos para se visualizar o caminhar da sociedade para uma situação mais equilibrada.” (GOMES, 2002, p. 31). Assistencialismo pode ser defi nido como uma doutrina, sistema ou prática que organiza e presta assistência às comunidades socialmente excluídas. Está associado à noção de “caridade” ou “fi lantropia”, pois não prevê o envolvimento da comunidade e não ambiciona transformações estruturais signifi cativas. É importante, portanto, entender o que é marketing social e utilizá-lo corretamente. Porém, de forma alguma pode ser confundido com responsabilidade social, que tem um sentido amplo, envolve os diversos stakeholders e requer compromisso e uma postura ética e comprometida com a melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo. Já o marketing social se restringe à relação com o mercado por meio de ações sociais. 40 Responsabilidade Social Atividade de Estudos: 1) O que é ética no contexto da responsabilidade social? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Diferencie responsabilidade social e marketing social. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) Identifi que práticas de marketing social pesquisando nos sites de empresas ou em marcas que você conhece. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) A sacola retornável é um exemplo de prática de marketing social que vem sendo adotada por diversas lojas, supermercados, videolocadoras, farmácias, etc. Faça um levantamento em sua cidade e descubra se há empresas adotando essa prática. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 41 TEMÁTICAS RELACIONADAS A RESPONSABILIDADE SOCIAL Capítulo 2 STAKEHOLDERS O termo stakeholder se popularizou com a “Teoria dos Stakeholders”, proposta por Edward Freeman (1984). Para o autor, da mesma forma que as empresas são infl uenciadas pelas pessoas ou grupos de pessoas, impactam diretamente na vida delas. Os autores Duarte e Dias (1986), pioneiros no Brasil nos estudos voltados à responsabilidade social, já destacavam, nessa época (anos de 1980), a importância dos stakeholders. Em sua obra, os autores questionaram o modelo tradicional das organizações, com foco apenas nos acionistas e com a função única de gerar lucros. “Desde muito se sabe que a empresa não se resume no capital, e que este, sozinho, é improdutivo. Sem os recursos da terra (que, por direito natural, é de toda a Humanidade,não só dos capitalistas) e sem a inteligência e o trabalho dos homens, o capital não produz riquezas, não satisfaz às necessidades humanas, não gera progresso, não melhora a qualidade de vida.” (DUARTE; DIAS, 1986, p. 52). Para Duarte e Dias (1986), além dos acionistas, vários outros atores compõem a realidade da empresa e mantêm com ela alguma forma de intercâmbio. São chamados de parceiros das empresas (acionistas, empregados, fornecedores, clientes, concorrentes, governo, grupos e movimentos e comunidade), pois não só demandam das empresas, mas também contribuem com ela. Na visão de Daft (1999, p. 88), os stakeholders são as partes interessadas, podendo ser defi nidos como “qualquer grupo dentro ou fora da organização que tem interesse no desempenho da organização”. Para o autor, cada parte interessada tem um critério diferente de reação, uma vez que tem um interesse diferente na organização. Por isso, as empresas socialmente responsáveis devem levar em conta os efeitos de suas ações sobre todas as partes interessadas. Embora cada empresa tenha suas peculiaridades, podemos dizer que os principais stakeholders são: investidores e acionistas, empregados, clientes, fornecedores, governo, comunidade (inclui ambiente natural) e grupos de interesse. Uma empresa pode identifi car seus stakeholders, porém os mais comuns a qualquer organização são os funcionários, os Uma empresa pode identifi car seus stakeholders, porém os mais comuns a qualquer organização são os funcionários, os acionistas, os clientes, os fornecedores, os sindicatos, as associações de classe, os concorrentes, os agentes fi nanceiros, as organizações não-governamentais, a mídia, o governo, a comunidade de entorno, a sociedade e o meio ambiente. (STROBEL, 2005). 42 Responsabilidade Social acionistas, os clientes, os fornecedores, os sindicatos, as associações de classe, os concorrentes, os agentes fi nanceiros, as organizações não-governamentais, a mídia, o governo, a comunidade de entorno, a sociedade e o meio ambiente. (STROBEL, 2005). Numa visão mais atual de um stakeholder, este pode ser traduzido como detentor de interesse ou parte interessada. Isso inclui os stakeholders internos (empregados), da cadeia de valor (fornecedores e clientes) e externos (comunidade, investidores, organizações não-governamentais, órgãos públicos, reguladores, imprensa e, até, futuras gerações). Cabe destacar que as preocupações dos stakeholders (meio ambiente, trabalho e direitos humanos, relações com a comunidade, proteção dos consumidores e responsabilidade social) são cada vez mais importantes para as empresas. Além disso, para Savitz (2007), os stakeholders são o elemento mais importante da “Era da Responsabilidade”, ou seja: Os stakeholders incorporam as novas expectativas de que as empresas ajam com mais responsabilidade. Além disso, o uso quase universal do termo mostra que as empresas estão mais responsáveis, não só perante os acionistas, mas também em relação a outros que têm interesse em suas atividades. (SAVITZ, 2007, p. 65). Ao avaliar a presença e a importância dos stakeholders na gestão da responsabilidade social, Melo Neto e Froes (1999) afi rmam que apoiar o desenvolvimento da comunidade e preservar o meio ambiente não coloca uma empresa como socialmente responsável. É preciso investir no bem-estar dos funcionários e de seus dependentes e propiciar um ambiente de trabalho saudável, além de promover comunicações transparentes, dar retorno aos acionistas, assegurar sinergia com parceiros e garantir a satisfação de clientes e de consumidores. Em outras palavras, para ser plena no seu foco de responsabilidade social, a empresa necessita ter um alto grau de responsabilidade social, tanto interna quanto externamente. Assegurar o bem-estar dos funcionários seria seu foco de responsabilidade social interno e contribuir para o desenvolvimento da comunidade, o foco externo. Para Mitteldorf (2000), ouvir os stakeholders é uma questão de estratégia de negócios. Depois de identifi cados, é necessário ouvi-los em seus atributos de satisfação, ou seja, nas condições de retorno que imaginam para o empreendimento. Porém, como sugere Rodrigues (2004), embora prevaleça a visão dos diversos stakeholders que devem ser atendidos pela empresa, ainda não há clareza na defi nição de quem são e como deve ser o seu relacionamento com a empresa. 43 TEMÁTICAS RELACIONADAS A RESPONSABILIDADE SOCIAL Capítulo 2 Vale ressaltar que o engajamento dos stakeholders na empresa pode ser uma ferramenta valiosa. Trata-se de um processo de envolver ativamente os diversos grupos sociais nas atividades da empresa, no sentido de obter mais compreensão e interação, isto é, não basta informar o público sobre as atividades e operações da empresa. É necessário que a empresa “envolva ativamente seus stakeholders por meio do diálogo e de outros mecanismos de informação e consulta”. (ALMEIDA, 2007, p. 158). Portanto, o engajamento com os stakeholders, a partir de um estreito relacionamento e diálogo constante, é uma questão estratégica de negócio para as organizações. deSenvoLvimenTo SuSTenTáveL Para entender melhor os termos desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, é preciso resgatar alguns acontecimentos importantes que deram origem, primeiramente, ao desenvolvimento sustentável e, num sentido mais amplo e atual, ao termo sustentabilidade. A origem do termo “desenvolvimento sustentável” está na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Urbano, ocorrida em 1972 e conhecida como Conferência de Estocolmo. Nessa reunião, foi elaborada a “Declaração de Estocolmo”, um documento contendo 26 princípios e 8 proclamações voltados à questão ambiental. Foi nesse advento que veio à tona, pela primeira vez, a questão da sustentabilidade, porém com foco estritamente ambiental. A segunda reunião da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento ocorreu em 1987, quando foi elaborado o “Relatório de Brundtland”, também chamado de “Nosso Futuro Comum”. Como resultado dessa reunião, foi elaborado o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Dias (2006) comenta que esse relatório defi ne premissas sobre o “Desenvolvimento Sustentável” a partir de dois conceitos-chave. O primeiro aborda o conceito de “necessidades”, com ênfase para aquelas essenciais à sobrevivência dos pobres e que devem ser prioridade na agenda de todos os países. Já o segundo aponta que o estágio ao qual se chegou em relação à tecnologia e à organização social coloca limitações ao meio ambiente, impedindo atender às necessidades presentes e futuras. Em síntese, estas são as questões básicas que impulsionaram a preocupação com o desenvolvimento sustentável e que embasaram o desenvolvimento de um conceito para este termo. “Declaração de Estocolmo”, um documento contendo 26 princípios e 8 proclamações voltados à questão ambiental. Foi nesse advento que veio à tona, pela primeira vez, a questão da sustentabilidade, porém com foco estritamente ambiental. 44 Responsabilidade Social Além disso, esse relatório já previa que ocorreriam diversas interpretações para o termo “Desenvolvimento Sustentável”, como podemos perceber atualmente. No entanto, em todas as interpretações, há características comuns que derivaram de um consenso a respeito do conceito básico de desenvolvimento sustentável. Ainda segundo Dias (2006), o documento “Relatório Nosso Futuro Comum” deixou evidente que o principal objetivo do desenvolvimento sustentável é satisfazer as necessidades e as aspirações humanas e, em sua essência: é um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança
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