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- conteúdo não serve de critério, pois é uma questão de preferência de época - o texto literário é ficção; o não- literário apresenta a realidade o texto literário representa a realidade de maneira indireta, recriando o real num plano imaginário é difícil separar o real do fictício em certas situações EFEITO CINDERELA Passa da meia-noite, nos salões do Buffet França, o mais luxuoso de São Paulo. Enfiado num smoking impecável, o locutor modula a voz ao anunciar: “E agora, com vocês, aquela que nos está proporcionando todas as emoções desta noite”. Tonitruantes acordes da música Carruagens de Fogo sacodem o ambiente. Do fundo do corredor, um vulto de princesa avança sobre nuvens de gelo-seco. Trêmula, lacrimosa, Fernanda ultrapassa a bruma artificial e caminha em direção ao pai, o empresário Eduardo Nersessian, sócio de uma construtora paulista. Os dois se encontram ao final de um túnel de raios laser. EFEITO CINDERELA Eduardo tira do bolso um brilhante incrustado em platina e desliza o anel no dedo da filha – é a terceira jóia que lhe dá naquela noite especial. Em seguida, valsam diante dos convivas enfatiotados a rigor. A cena aconteceu no último sábado em São Paulo e marca o renascimento de um ritual que parecia enterrado na esteira da revolução dos costumes. Consideradas cafonas pelos teenagers da década de 80, as festas de 15 anos, que no passado eram chamadas de bailes de debutantes, ressuscitam com toda a força no panteão de sonhos de adolescentes. Veja, :88, 9 nov. 1994. A VALSA Tu, ontem, Na dança Que cansa Voavas Co’as faces Em rosas Formosas De vivo, Lascivo Carmim; Na valsa Tão falsa, Corrias, Fugias, Ardente, Contente, Tranqüila, Serena, Sem pena De mim! Casimiro de Abreu. Poesia. 4 ed. Rio de Janeiro, Agir, 1974. p. 49-50 PRIMEIRO TEXTO - plano de expressão não importa - o texto pode ser rearranjado, reorganizado, reescrito SEGUNDO TEXTO - o plano de expressão cria efeitos de sentido no plano de conteúdo - o texto não pode ser reescrito (intangibilidade) FUNÇÃO UTILITÁRIA FUNÇÃO ESTÉTICA C. M. Coolidge A traição das imagens – Magritte (1929) “Minha amada morreu e deve repousar no céu, enquanto eu devo viver triste na terra” Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida, descontente, Repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste. Camões - intangibilidade “Com que então eu amava Capitu, e Capitu a mim? Realmente, andava cosido às saias dela, mas não me ocorria nada entre nós que fosse deveras secreto.” Dom Casmurro, Machado de Assis - linguagem conotativa Há milhões de anos, o homem saiu do oceano. E, se continuar queimando florestas e derretendo as calotas polares, logo vai ter que voltar para ele. As queimadas nas florestas ameaçam mais espécies de animais do que você imagina Áporo Um inseto cava cava sem alarme perfurando a terra sem achar escape. Que fazer, exausto, em país bloqueado, enlace de noite raiz e minério? Eis que o labirinto (oh razão, mistério) presto se desata: em verde, sozinha antieuclidiana uma orquídea forma-se. Drummond * Áporo: inseto, algo sem passagem, situação sem saída, problema difícil, orquídea. * Presto: rápido. *Antieuclidiana: destruidora da geometria convencional, fenômeno que quebra a lógica. - plurissignificativo O "adeus" de Teresa A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus E amamos juntos E depois na sala "Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala E ela, corando, murmurou-me: "adeus.“ Uma noite entreabriu-se um reposteiro E da alcova saía um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus Era eu Era a pálida Teresa! "Adeus" lhe disse conservando-a presa E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!" Passaram tempos sec'los de delírio Prazeres divinais gozos do Empíreo ... Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!" Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou-me: "adeus!" Quando voltei era o palácio em festa! E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra Preenchiam de amor o azul dos céus. Entrei! Ela me olhou branca surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa! E ela arquejando murmurou-me: "adeus!“ Castro Alves Teresa A primeira vez que vi Teresa Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nada Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas. Manuel Bandeira - Intertextualidade TEXTO LITERÁRIO - tem função estética - relevância do plano de expressão - intangibilidade da organização linguística - criação de conotações - uso estético da linguagem (novas relações entre as palavras, associações inesperadas e insólitas, etc.) - plurissignificativo - o modo de dizer é tão (ou mais) importante do que o que se diz TEXTO NÃO LITERÁRIO - tem função utilitária - relevância do plano de conteúdo - denotativo - busca ter um único significado VEROSSIMILHANÇA .o pacto com o leitor. A construção de uma realidade se pauta no pacto de verossimilhança estabelecido com o leitor/espectador/observador. Trata-se da aceitação, por parte do interlocutor da obra de arte, da liberdade ficcional, ou seja, da aceitação de que os acontecimentos narrados /representados não são reais, mas poderiam ser dentro da construção do autor. O texto pretende, na maioria das vezes, ser verossímil, ou seja, parecer verdadeiro. Em um texto não literário, quando se resume, apreende-se o essencial; no literário, quando se resume, perde-se o essencial. POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no [morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu [afogado. Manuel Bandeira
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