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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – CAMPUS KOBRASOL Professor: Alexandre Waltrick Rates Disciplina: Introdução ao Direito Acadêmico: Nilvo Airton Rodrigues Junior 1.º Período – Turno: Noturno. Resenha crítica do filme: Sessão Especial de Justiça O filme relata um evento jurídico que se passou durante a ocupação nazista na França, da Segunda Guerra Mundial. O ano é 1941, período que ficou conhecido pelos franceses como a “França de Vichy” (1940-1944), um governo manipulado pela influência nazista, governado pelo Marechal Philippe Pétain (indicado pelo então presidente Albert Lebrun) que assinou o acordo de rendição com a Alemanha. No filme, um grupo de jovens associados à Resistência Francesa (composto por comunistas e gaulistas) é atacado por soldados alemães durante uma passeata anti-nazista. Nessa ocasião, um manifestante morre durante a confusão e os outros manifestantes que foram capturados pelos nazistas são fuzilados sumariamente. Revoltados com tal violência do regime nazista, alguns jovens da resistência executam o plano de assassinar um oficial alemão no metrô parisiense e fogem, como forma de vingança. O governo francês em conjunto com o alto escalão da Alemanha procura meios para evitar que atos como esses se repitam e fiquem impunes, chegando a cogitar em fazer uma execução por guilhotina em praça pública. Porém, o problema todo está em não ter ideia em quem são os assassinos do oficial alemão. O governo nazista em atitude autoritária exige que os franceses executem seis pessoas suspeitas com envolvimento dos partidos da esquerda ou judeus, para que sirvam de exemplo para os que tentem algo semelhante. Se a exigência não fosse cumprida os soldados alemães executariam cem franceses incluindo magistrados, por tal desobediência. Para que a exigência seja cumprida começa uma verdadeira deterioração do sistema judiciário francês, pois, não encontrando base legal para se criar um tribunal de caráter praticamente inquisitorial, os políticos e magistrados decidem criar uma “lei de exceção”, que fere uma série de princípios do Estado Democrático e de Direito. O primeiro princípio que fere de imediato pela essência dessa lei é o princípio do juiz natural, que deixa de existir para dar lugar a um Tribunal com caráter de “exceção”. Também é ignorado o princípio da anterioridade da lei, seja pelo fato de o Tribunal Especial ser criado após a ação criminosa em questão, ou pelo fato de criarem um tipo penal e uma sanção legal, no caso a de pena de morte, não previstas antes da prática do delito, ferindo a garantia da irretroatividade da lei penal menos benéfica. Outro princípio que também é destruído é o da Separação dos Poderes, elaborado por Montesquieu, pois, para acelerar o procedimento formal de elaboração das leis, quem escreve e assina o documento dando início à Lei de Exceção são juízes de Direito, simulando uma competência do Poder Legislativo, que não lhes pertence. Ainda, a Lei fere o princípio do duplo grau de jurisdição por não permitir recurso às decisões do Tribunal Especial. Depois de estruturada essa farsa jurídica, começa a escolha dos prisioneiros para compor o banco de réus. O critério de seleção é que eles sejam comunistas, gaulistas, judeus, ou que tenham condenações por crimes políticos, no caso, praticado qualquer ato que fosse antinazista. Logo na sequência, pois o prazo dado pelos nazistas estava se esgotando, o julgamento começa e o Tribunal tinha a ordem de condenar seis prisioneiros a morte. Os prisioneiros não estavam entendendo o recurso, já que tinham sido condenados a no máximo cinco anos de reclusão, e sem terem solicitado recurso foi retomado seus processos no Tribunal Especial. Durante o julgamento, mais princípios e garantias democráticas são violados, entre eles é o da publicidade dos atos judiciais, que é estipulado com o escopo de garantir a transparência da justiça, a imparcialidade e a responsabilidade do juiz. A possibilidade de qualquer indivíduo verificar os autos de um processo e de estar presente em audiência revela- se como um instrumento de fiscalização dos trabalhos dos operadores do Direito, o que é algo que não ocorre no Tribunal Especial. Outro princípio violado é o da proporcionalidade entre o crime e a pena, que é totalmente ignorado, aplicando-se uma pena de morte para, até mesmo, um “mero crime” de panfletagem. O que se nota é que as justificativas para penas tão absurdas não se sustentavam. Infelizmente as injustiças não param por aí, vemos no julgamento do réu Adolphe Piwolski a aplicação de duas penas para o mesmo fato. Já no julgamento de André Brèchet vemos o juiz obrigando-o a confessar que trabalhava para um partido comunista, ou seja, ignorando por completo o princípio da não produção de provas contra si mesmo. Também não existe o princípio da ampla defesa no Tribunal Especial, uma vez que os juízes já tomaram suas decisões, sem racionalizar ouvindo a sustentação oral da defesa. O filme começa e termina em espetáculos de ópera, tudo isso para indicar que os réus são meros espetadores no Tribunal Especial não passando de encenação, ou seja, uma farsa jurídica. A questão da encenação é reforçada pelo personagem Sampaix, que diz ao seu advogado “É inútil discutir. Todas essas penas de morte já foram decididas. Não gaste suas forças ou seu talento. Deixe que eles lutem com suas próprias consciências.”. No fim o Tribunal condena três réus à morte e o restante sofre pena de deportação. Um filme de extrema relevância para os alunos e atuantes do Direito, onde nos mostra como um sistema jurídico, embasado em séculos de história, como o da França, pode ruir facilmente, caso os detentores do poder decidam burlar os princípios do Estado Democrático e de Direito. REFERÊNCIA SESSÃO Especial de Justiça. Direção: Costa – Gavras. Interpretes: Michael Lonsdale, Ivo Garrani, Pierre Dux e mais. 1975. http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-10314/ http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-9865/ http://www.adorocinema.com/filmes/filme-34266/creditos/
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