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TCC - O poder da carta psicografada

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A admissibilidade da carta psicografada como prova lícita perante o processo penal brasileiro. 
O presente trabalho possui o objetivo de estudar minuciosamente a admissibilidade da carta psicografada como prova judicial lícita perante o processo penal brasileiro. Para tanto, foi necessário um estudo detalhado do verdadeiro significado da psicografia, seu surgimento, seu conceito perante na Doutrina Espírita e principalmente perante a ciência. 
O tema em questão, apesar de pouco abordado é de extrema importância, tendo em vista que já nos deparamos com casos concretos nos quais a prova psicografada além de admitida, assumiu papel fundamental, tida como principal na resolução de casos reais, e usada como fundamento primordial em sentenças condenatórias penais. 
Neste trabalho será observada a opinião de nomeados profissionais da área jurídica, além de conceituados cientistas que norteiam um breve conceito sobre como a psicografia é vista perante o mundo cientifico. 
Com grande ênfase, serão mencionados ao longo do presente trabalho, casos concretos, nos quais cartas psicografadas foram aceitas como provas lícitas no tramite no processo penal, com o fundamento de admissibilidade de qualquer prova, desde que lícita, para chegar à verdade plena. 
Notadamente, o presente trabalho trata de um tema polêmico, que traz diversos fundamentos e ideologias, porem aqui o objetivo esta no estudo científico e jurídico da carta psicografada e sua admissibilidade.
Atualmente, o mundo jurídico se deparou com este tema de tamanha polemica colocando juristas em um duelo de posições onde existem aqueles que a defendem, por a considerarem fato científico e aqueles que não a aceitam, por considerarem um fenômeno religioso, assim fundando-se na Teoria do Estado Laico. 
Desta forma, segue um estudo detalhado sobre sua admissibilidade, trazendo os benefícios e/ou malefícios causados no âmbito jurídico, com sua aceitação ou sua inadmissibilidade. 
II - Os fenômenos mediúnicos na História da Humanidade
 				Os fenômenos mediúnicos como um todo, fazem parte da história da humanidade, auxiliando-a a ser o que é hoje. Diversas passagens são relatadas, reafirmando a crença, o estudo e a aparição de fenômenos mediúnicos em torno do planeta. 
II.I – Aparições Mediúnicas através da História 
O antigo Egito acreditava na sobrevivência da alma, havendo uma passagem para além da vida, sendo este o motivo pelo qual os egípcios conservavam o corpo em perfeitas condições através da mumificação. 
Na Grécia, a mediunidade mais uma vez se faz presente, como comenta Lacerda Filho, em A Mediunidade na História Humana, no qual o grande filósofo, Sócrates, refere-se a ”daemon”, como descreve a seguir:
“Esta voz profética fez-se ouvir a mim em todo o curso de minha vida, ela é certamente mais autentica de que os presságios tirados dos vôos ou das entranhas dos pássaros, eu chamo-o de Deus ou Daemon. Tenho comunicado aos meus amigos as advertências que recebi, e até o presente, a sua voz jamais afirmou algo que tenha sido inexato.”
Conforme refere Lacerda Filho em texto abaixo, mais uma taxativa confirmação da relevância e crença da civilização grega com a mediunidade:
“Na Grécia, acreditava-se na aparição dos mortos, não só o vulgo, mas também os filósofos, especialmente os platônicos e, antes, os pitagórios ... 
Ainda segundo César Lombroso, o historiador grego Pausânias, que viveu no século II de nossa era, relata “... assegura que, no campo de Maratona, 400 anos depois da batalha se ouviam os gemidos e os suspiros dos homens e dos animais ali sucumbidos, e deles se viam distintamente as sombras.”
O conhecido e renomeado teólogo Ludwig Lavater (1527-1586), dedicou-se a estudos mediúnicos a partir de 1569, publicando assim uma obra sobre diversos casos que ocorrera. 
Como fato curioso, a obra clássica de Willian Shakespeare, Hamlet, tão conhecida mundialmente, foi inspirada nos relatos de Ludwig Lavater. 
Como demonstrado em pequenos trechos, as aparições mediúnicas fazem parte das mais antigas civilizações, acompanhando seu crescimento e desenvolvimento. Não há como negar que a existência na vida pós-tumulo e a existência de espíritos acompanha o desenvolvimento de todas as nações, sendo visto sua credulidade e até mesmo aceitação por todas as partes do planeta. 
II.II – A primeira Carta Psicografada. 
Os fenômenos mediúnicos sempre existiram e são parte integrante da história da própria humanidade.
Porem, apesar de todas manifestação demonstradas, a psicografia foi vista efetivamente pela primeira fez em 1850, ocorrendo a primeira escrita mediúnica. Ressaltamos a importância, e o marco na história com esta aparição, sendo este diversas vezes analisado por cientistas que sempre apresentaram grande curiosidade com as manifestações e uma incansável busca na investigação deste mistério. Importante ressaltar, que em 1850 não havia nem mesmo a idéia que anos depois, seria estudado e codificado uma nova Doutrina que acreditasse na vida pós morte, e na conversação entre os dois mundos, pois a Doutrina Espírita, apenas apresentou-se em 18 de abril de 1857. 
Vejamos mais detalhes, sobre a primeira aparição da mediunidade através da psicografia: 
“No ano de 1850, nos Estado Unidos, a febre dos fenômenos mediúnicos contagiava praticamente todos os lares. O senador pelo estado norte-americano de Rodle Island, James Flowler Simmons (1795 - 1864), tinha conseguido a primeira escrita mediúnica de que se tem noticia.
Conforme Arthur C. Doyle, o senador amarrou um lápis a um par de tesouras, de modo que o objeto ficou firmemente equilibrado. Após ser realizada uma concentração, o lápis escreveu lenta e deliberadamente as palavras “James D. Simmons, tratava-se do nome de seu filho desencarnado, com um detalhe, a letra era idêntica a do falecido.”
LACERDA, FILHO, Licurgo S. de. A Mediunidade na História Humana. Mediunidade na Antiguidade e Idade Média. Araguari: Minas Editora, 2005. Volume II p.141. 
Pois bem, e se houver o questionamento dos benefícios que a psicografia traria a humanidade, a resposta também foi concedida através de uma mensagem recebida pelo ex-governado do estado norte-americano Wisconsin Nathaniel Tallmadge (1795 - 1864), pelo espírito do também ex-governador John Caldivell Calhoun, com o seguinte teor:
“Meu amigo, perguntam-vos que bem podem fazer estas manifestações. Eu respondo a isso:
Elas tem por objetivo congraçar os homens convencendo os cépticos da imortalidade da alma.”
Vejamos que a mediunidade foi caráter de estudo por diversos profissionais renomeados ao longo da história, trazendo assim, mais uma vez a comprovação da ciência por trás dos fenômenos.
Cientistas, filósofos, químicos, teólogos, médicos, físicos entre outros, foram os principais fundadores e descobridores desta natureza, pois é evidente que nenhum estudo estava interligada a religião, pois as aparições ocorreram décadas antes da primeira aparição da Doutrina Espírita. 
O incansável estudo pelas aparições mediúnica, desafiavam a lógica e a ciência, fazendo com que grandes nomes como o intelectual Frances Conde Agenor de Gasparim, publica-se em 1854 a obra “Das mesas girantes, do Sobrenatural em Geral e dos Espíritos”, e assim, vemos a bela história que a mediunidade preparou para esta nova fase da humanidade.
III – Correntes Divergente 
 	 			O presente tema traz em sua essência, a polêmica, inexatidão, dúvidas e crenças. Porem aqui há um estudo cientifico, no qual será observado detalhadamente os fundamentos, das duas principais correntes presentes a cerca deste tema. 
Enquanto nos deparamos com incrédulos na psicografia que defendem a ilegalidade em sua utilização fundamentado a Laicidade Do Estado entendendo que a psicografia faz parte da Doutrina Espírita, encontramos a segunda corrente, que entende ser perfeitamente admissível sua presença perante o judiciário, pois a carta psicografada esta baseada na ciência e não na natureza religiosa. Alem do mais, fundamentam que sua utilização auxilia a chegar no ponto primordial e fundamental na vida jurídica,chegar por fim a verdade plena. 
A primeira corrente crê na inadmissibilidade da carta psicografada como prova perante o judiciário, pois se houvesse sua aceitação estaria violando o principio da laicidade (este encontrado em diversos dispositivos da Constituição Federal de 1988, no qual o legislador procura garantir a separação do Estado e Religião, dando ao individuo a liberdade de escolha sobre sua crença).
Esta corrente fundamenta sua ideia com o exposto taxativo do ar. 19 da Constituição Federal de 1988, no qual se encontra: 
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
Observa-se também como fundamento, a violação de princípios, como exposto a seguir: 
No que diz respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa, indaga Nucci (2012, p. 369 – 370):
 ‘Imaginemos que o defensor junta aos autos uma carta psicografada pelo médium X, com mensagem da vítima de homicídio Y, narrando a inocência do réu Z. Como se pode submeter tal documento à prova da autenticidade? O que fará o promotor de justiça para exercer, validamente, o contraditório? Seria viável o perito judicial examiná-lo? Com quais critérios? Invadiremos o âmago das convicções religiosas das partes do processo penal, o que é, no mínimo, contrário aos princípios gerais do direito.
Ou ainda, imagine uma carta psicografada usada pela acusação para incriminar o réu. Como ficaria garantido seu direito de ampla defesa? O defensor poderia usar outra carta desse gênero desmitificando a primeira? A utilização da perícia, do exame grafotécnico, poderá no máximo dizer se aquela grafia é ou não similar à da vítima, pois já se sabe que não foi ela quem escreveu a carta, entrando então, novamente, na questão religiosa e como já foi dito, não compete ao Estado julgar tal assunto. Nem aos juízes.
Todo homem tem direito a liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. (CARVALHO, 2009, p. 911)
De forma geral, esta corrente afirma a impossibilidade do uso de tal meio, tendo em vista ser incompatível com o ordenamento jurídico pátrio.
De outro lado, verifica-se uma forte corrente que acredita que a carta psicografada é lícita e que não há motivos para não ser utilizada perante o judiciário. Para os adeptos a este pensamento, o principal fundamento é o fato de que este meio não é ilícito, pois não fere de forma alguma o descrito na legislação. 
O fundamento visto pela corrente que defende a admissibilidade das cartas se concentra no fato de que a Doutrina Espírita vem a existir anos após as primeiras aparições das cartas psicografas. 
Conceituam também, que desde a antiguidade é possível observar praticas desta natureza, sendo infundada as alegações de sua conexão com a Doutrina Codificada por Kardec. 
Outro ponto indicado sobre a falta de fundamento é vista pelo simples fato de que não se encontrar a mediunidade da psicografia em todos os cultos da Doutrina Espírita, sendo assim, não se pode dizer que esta possui ligação com a religião, pois se assim fosse, o Espiritismo teria em seus pilares a presença de uma das formas mediúnicas, como é a psicografia. 
Sobre o acima exposto, verificam-se depoimentos e comentários acerca do assunto: 
“Não admitir a carta psicografada pode também, ferir a liberdade daqueles que crêem na religião espírita, pois é proibida a privação de direitos por motivos de crenças religiosas ou convicção filosófica.” (PETTELLI, 2010 s.d, s.p)
“Nosso ordenamento não prevê sua admissibilidade como meio de prova, mas, também, não a exclui. Vivemos num estado laico, a liberdade de crença religiosa é garantida constitucionalmente e todo meio de prova é admitido, exceto os ilícitos.” (PETTELLI, 2010 s.d, s.p)
Sendo assim, admitir a psicografia como meio de prova seria perfeitamente possível, pois não se trata de uma prova ilícita, tampouco ilegal, ela apenas não esta positivada em nosso ordenamento jurídico e a grande questão é como concebê-las. Estas poderão ser consideradas como prova inominada, pois o sistema de provas adotado pelo ordenamento é exemplificativo e não taxativo. 
 
“O princípio da verdade real, conhecido também como princípio da verdade material ou da verdade substancial (terminologia empregada no art. 566 do CPP), denota que em um processo penal deverão ser tomadas todas as providências possíveis para descobrir como os fatos realmente se passaram, devendo o juiz investigar, adotando todas as diligências que julgar cabíveis e necessárias, de forma que o jus puniendi seja exercido com efetividade em relação àquele que praticou ou concorreu para a infração penal” (AVENA, 2013, p. 18).
“Não podemos confundir a prova ilícita, que afronta uma norma de direito material, isto é, quando a ofensa é pertinente à obtenção da prova, com uma prova ilegítima, que ofende uma norma de direito processual, por exemplo, utilizar a prova testemunhal no mandado de segurança”
Por amor ao debate, acima foi exposto a lúcida conceituada exposta por Darci Ribeiro, no qual de forma clara vemos que o ordenamento jurídico brasileiro não veda a utilização de cartas psicografadas como meio de prova, como também não a cita em seu rol.
Tendo em vista que observa-se a aparição de cartas psicografada, antes mesmo da existência e codificação da Doutrina Espírita, como podemos dizer que as cartas fazem parte de uma religião. 
Há relatos de psicografia a muitos anos, antes mesmo da codificação da maioria das religiões hoje existentes. 
O fato de existir contato com os espíritos, não a faz ter fundamentos espíritas, tendo em vista que a Codificação feita por Allan Kardec não traz sua base ou mesmo fundamento na psicografia.
Além do mais a aceitação de espíritos, faz conexão com o Espiritualismo, sendo este um entendimento e uma doutrina com fundo filosófico e não religioso. 
Pois bem, vemos assim que o fato de não haver nenhuma proibição na utilização da psicografia, faz com que essa não seja ilícita, pois o fundamento utilizado pela corrente que defende a idéia de sua ilicitude, não se sustenta, tendo em vista que, como já comprovado, a psicografia por fim não trata de natureza religiosa, assim sendo, sua obtenção não ofende a nenhuma norma jurídica, portanto sua ilicitude é incontestável. 
IV - Doutrina Espírita e sua Codificação
HIPPOLYTE LÉON-DENIZARD RIVAIL – Lyon, 03 de outubro de 1804 – Paris, 31 de março de 1869, sob o pseudônimo Allan Kardec, professor, tradutor francês e cientista, também conhecido como Pai do Espiritismo, Kardec foi o responsável pela codificação da doutrina. Conforme seu próprio depoimento, publicado em “Obras Póstumas”, em 1854 foi a primeira vez que se deparou com o famoso fenômeno das “mesas girantes”. 
Como cientista que era, e totalmente incrédulo sobre o fenômeno supracitado, atribuiu ao acontecimento das “mesas girantes” o chamado magnetismo animal, do qual era estudioso. Porem em 1855, sua curiosidade fez com que o cientista voltasse sua atenção para entender tal mistério, ao fim começou a freqüentar reuniões para que assim pudesse verificar tais reproduções. 
Logo, tomou conhecimento sobre o fenômeno da escrita mediúnica – ou psicografia, e assim passou a se comunicar com os espíritos. 
Em 18 de abril de 1857, o Livro dos Espíritos foi publicado, considerado este o marco de fundação do Espiritismo. No mesmo ano fundou a primeira sociedade espírita regularmente constituída, com o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. 
Kardec dedicou-se à estruturação de uma proposta de compreensão da realidade baseada na necessidade de integração entre os conhecimentos científicos, filosóficos e moral, com o objetivo delançar sobre o real um olhar que não negligenciasse nem o imperativo da investigação empírica na construção do conhecimento, nem a dimensão espiritual e interior do homem. 
V - A utilização de Cartas Psicografadas perante o Tribunal. 
No Brasil, vemos casos, nos quais a psicografia foi utilizada como prova perante Tribunais. Textos psicografados por Chico Xavier foram aceitos como provas judiciais (entre outras provas também apresentadas pela defesa), assim a psicografia foi uma das provas que fundamentou a sentença dada, mostrando-se como elemento decisivo nas sanções aplicadas em três casos de julgamento de homicídio internacionalmente repercutidos, ocorridos nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná entre os anos de 1976 e 1982.
Um dos caso,registrou-se em maio de 2006, em Porto Alegre, tendo a ré, Iara Marques Barcelos, sido inocentada do assassinato do ex-amante, Ercy da Silva Cardoso, graças a uma carta que teria sido ditada pelo falecido. Mais recentemente, em 17 de maio de 2007, o julgamento do réu, Milton dos Santos, pelo assassinato de Paulo Roberto Pires, em abril de 1997, foi suspenso devido a uma carta recebida pelo médium Rogério Leite em uma sessão espírita realizada em 2004, na qual Paulinho inocenta o acusado. 
No entanto, o advogado Roberto Selva da Silva Maia indicou que os documentos psicografados podem ser aceitos no tribunal como documento particular, mas não como prova judicial. Segundo ele, isso se dá porque a lei estabelece que a morte extingue a personalidade humana, logo um morto não poderia gerar documento legal. Também segundo ele, a psicografia depende da aceitação de premissas religiosas, e o judiciário não é religioso visto que nosso Estado é laico e, não haveria forma de se usufruir do princípio do contraditório e da ampla defesa.
A seguir, segue breve relado de um dos casos de maior destaque nacional: 
“Na manhã de 08 de maio de 1.976, em Goiás, uma brincadeira entre dois jovens amigos, ocasionou uma tragédia com a morte de um dos envolvidos. Tal fatalidade repercutiu em todo país, ganhando também destaque internacional.
Uma brincadeira com revolver José Divino Nunes de 18 anos, atingiu seu amigo Mauricio Garcez Henrique, de 15 anos, com um tiro no tórax. 	O garoto foi conduzido pelos familiares de seu colega para o hospital mais próximo, porem poucos minutos antes de receber socorro médico, Mauricio faleceu. Fora aperto o inquérito e desde a primeira declaração dada à autoridade policial, José Divino negou ter intenção de matar seu amigo. Afirmava constantemente a terrível fatalidade que ocorrera. Eram vizinhos, colegas de escola, possuíam uma amizade íntima a mais de quatro anos. 
 “As paginas 19, 20,91 e 92 (reconstrução dos eventos) e 100 do processo, assim registrou o interrogatório de José Divino, única testemunha ocular:
“(...) no dia que se deu o fato, ambos estavam no quartinho de despensa que fica anexo à cozinha, e após 25 minutos deu vontade de fumar na vitima, sendo que ele pediu ao declarante que lhe disse um cigarro e que por motivo do mesmo não tê-lo, a vítima foi até onde estava a pasta do pai do declarante para tirar cigarro. Pois os mesmos estavam acostumados a pegar cigarros naquele objeto, mas não encontrando-os, a vítima pegou o revólver que o pai do declarante sempre guardava na pasta, quando não a usava em seu serviço de Oficial de Justiça. Em seguida, na presença do declarante, a vítima manejou o revólver de maneira que o seu tambor caiu para a esquerda, havendo a queda dos cartuchos dentro da pasta. Pensando que a arma se encontrava vazia, a vítima puxou o gatilho em direção do declarante por duas vezes. Neste momento, o declarante disse à vítima que seu pai não gostava que mexesse nas coisas dele e que lhe entregasse a arma, sendo que o declarante tomou a mesma da mão dele. Em seguida, a vítima saiu para a cozinha para buscar cigarros, que fica à esquerda do local onde estavam. No quartinho existe um espelho grande do guarda-roupa, que fica ao lado da porta que dá para a cozinha — e o declarante olhava para ele, brincando com aquela arma, e quando sintonizava uma estação no aparelho de rádio, colocado sobre o guarda-roupa, puxou o gatilho no exato momento em que a vítima, vinda da cozinha, entrava pela porta. A arma detonou, indo o projetil atingir a vítima, que gritou, sendo socorrida pela mãe do declarante, juntamente com ele, e a seguir levada, de táxi, ao Hospital mais próximo.
Alguns dias após o acidente, a família de Maurício recebeu a visita de duas médiuns, Augustinha Soares e Leila Inácio, que traziam mensagens mediúnicas de seu filho falecido, o que deixou o pai de Maurício impressionado e o fez buscar conforto no espiritismo. Após algumas visitas ao médium Chico Xavier, „espíritos amigos‟ enviavam notícias de seus filhos, até que em 27 de maio de 1978, Maurício “enviou‟ sua primeira carta psicografada aos pais, aonde apresentava a inocência de José Divino, explicando que brincavam com a arma e o disparo ocorreu sem a intenção de nenhum dos dois.”
Em um dos trechos dizia:
“(...) Peço-lhes não recordar a minha volta para cá, criando pensamentos tristes. José Divino e nem ninguém teve culpa em meu caso. Brincávamos a respeito da possibilidade de se ferir alguém, pela imagem no espelho; sem que o momento fosse para qualquer movimento meu, o tiro me alcançou, sem que a culpa fosse do amigo, ou minha mesmo (...)".
Comovidos, os pais tornaram pública a carta, que foi anexada aos autos do Processo Judiciário, tornando-se o principal documento para o advogado de defesa. 
Em um dos trechos da sentença, dizia o meritíssimo juiz Orimar de Bastos: 
"(...) Temos que dar credibilidade à mensagem (...), embora na esfera jurídica ainda não mereceu nada igual, em que a própria vítima, após sua morte, vem relatar e fornecer dados ao julgador para sentenciar." Levando em conta o relato da carta de Maurício Garcez psicografada pelo médium Chico Xavier, que em nada divergia das declarações do acusado no seu interrogatório, no dia 16 de julho de 1979, o juiz Orimar de Bastos declarou absolvido o estudante José Divino Nunes.
 O juiz Orimar Bastos, justificou a sentença que proferiu baseada numa carta psicografada pelo médium Chico Xavier, dizendo que apesar de, na esfera jurídica, nenhuma vítima ter relatado sua morte, daria credibilidade à mensagem espiritualista, in dubio pro reo, ou seja, “na dúvida, interpreta-se a favor do réu”. (AMARAL, 2006, p. 2)
VI – Um pouco do médium Francisco Candido Xavier
Chico Xavier, incone e orgulho da nação brasileira. Admirável médium, psicografou mais de 10 mil cartas e 412 livros, alguns traduzidos em 15 idiomas, com sucesso de vendas superando a marca de 25 milhões de exemplares.
Chico (como carinhosamente conhecido), revertia seus direitos autorais integralmente para obras assistenciais, levando a morrer tão pobre quanto nasceu. 
 				Representante do amor e da caridade, Francisco Candido Xavier dizia ter a missão de levar o conforto e a paz a tantos corações desconsolados, e assim o fez, trabalhando durante toda a vida através de sua mediunidade por meio da psicografia. 
 				Chico sempre realizou suas sessões à portas abertas e gratuitamente, pois dê de graça o que dê graça concebestes, sendo este um dos pilares que a Doutrina Espírita emprega. 
 				Assim foi que o médium foi eleito em fevereiro de 2000, o “Mineiro do Século”, eleição de mobilizou Minas e deixou para trás grandes nomes como Santos Dummont, Pelé, Juscelino Kubitschek. 
Francisco Candido Xavier trouxe a elevação e o aprendizado em diversos campos, inclusive no âmbito judicial, no qual em sua obra institulada Lealdade, descreveu o relato de um dos casos em que a carta psicografada foi aceita perante o júri, como prova para fundamentação da decisão no âmbito penal.
 Mauricio Gardez Henrique, ocorrido em 1976, na cidade de Goiânia – GO, vitima de uma brincadeira com arma de fogo com o amigo, veio por meio do médium através da psicografia, explicar o ocorrido e mais do que isso, na carta a vitima fazia a suplica de queperdoasse o amigo, pois realmente tinha sido um acidente.
A família da vitima ao tomar conhecimento da carta imediatamente juntou-a aos autos, como prova para que assim pudesse encerrar definitivamente o caso. 
VII – Proposta de Alteração de Texto de Lei.
VIII – Conclusão
 O judiciário tem como função típica a de julgar de forma geral, cabendo a todos os operadores do direito a busca pela verdade, pela justiça. É de extrema necessidade observar que cada processo instituído, resume uma vida, uma esperança, uma busca pela justiça e principalmente na área penal, o qual o presente tema aborda, a necessidade de zelo aumento.
Vejo que a carta psicografa deve ser admitida como prova lícita, ressalvando que além de todos os cuidados para verificação de sua veracidade é necessário todo o conjunto probatório da mesma forma que provas documentais são examinadas através de pericia, as cartas psicografas devem passar por todas as formas de comprovação de sua veracidade. Ao meu ver documentos particulares e as cartas psicografadas devem possuir o mesmo valor, tendo em vista que sua veracidade deverá ser verificada através dos mesmos mecanismo.
 	 Entendo não haver fundamentos suficientes que sustentem a ideia de proibição deste meio de prova e que a busca pela verdade plena deve ser o principal fundamentos de todas as correntes, pois a partir do momento que exista a possibilidade de estar mais próximo da justiça, entendo que deve ser aceita e fundamenta como prova.
Com a balança presente no judiciário, a qual representa o verdadeiro equilíbrio e a venda, que cobre os olhos da justiça, com o objetivo de não observar quem são as partes, para assim haver um julgamento realmente justo, vejo que se equilibramos os fundamentos e os objetivos do judiciário, a aceitabilidade da carta psicografada deve ser aceita pelo simples fato de existir assim, mais uma espécie de prova para alcançar a verdade plena e absoluta. 
A corrente que defende a laicidade do Estado, não deve prosperar, pois se apesar de todo o conteúdo apresentado mantiverem tal posição, repensem sobre a oportunidade de estarem mais próxima a verdadeira justiça.
Pois bem, como demonstrado a codificação da Doutrina Espírita ocorreu sete anos após a aparição da primeira carta psicografada. Desta forma, é evidente que não há fundamentos plausíveis para alegar que a psicografia é fundamente da citada Doutrina.
Outro ponto relevante faz-se ao observar que não se é capaz de encontrar a mediunidade através da psicografia em todas as sessões Karcedista, o qual mais uma vez observa-se que não há como se alegar que a manifestação através da escrita mediúnica é fundamento da doutrina em questão, destruindo assim a corrente que defende a idéia de Estado Laico e sua interligação com uma religião, tendo em vista ter sido demostrado de forma clara e evidente a iniciação cientifica e filosófica da psicografia. 
Alem da falta de conhecimento por parte da corrente supracitada, importante salientar que o entendimento de existência de espíritos não se estabelece em uma religião, pois este denomina-se espiritualistas, não havendo ligação com uma religião em especial, pois há diversas religiões e filosofias espiritualistas ao redor do mundo que crê na sobrevivência do Espírito após a morte do corpo físico e que não seguem a doutrina codificada por Allan Kardec.
Trata-se de um estudo puramente científico, como já demonstrado incansavelmente, por grandes nomes da ciência e correlatos, partindo pela busca de entendimento do mistério e auxilio no cotidiano terrestre, originada de uma ciência de observação.
A impotancia disso para a humanidade é que se a realidade existencial no mund se fecha apenas nas três dimensões, a realidade extrafísica, pelo contrario, se abre paras as múltiplas dimensçoes das percepções extra-sensoriais, indispensáveis ao conhecimento integral da realidade em que estamos inseridos. Não Há o sobrenatural, pois suas diretrizes são de ordem natural, porem ainda desconhecidas. 
“A prova cientifica da existência da alma e da sua comunicação conosco é o legado mais brilhante que o presente século vai deixar ao vindouro”
CROOKES, Willian. Fatos Espíritas. Trad Oscas D´Argonnel. 7 ed. Rio de Janeiro. Federação Espírita Brasileira, 1971 – pp. 9-10
 bibliografia: 
POLÍZIO, Vladimir. A pscicografia no Tribunal, Butterly Editora, 2009
BRASIL. Projeto de Lei n. 1.705/2007. Altera o caput do art. 232 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – 
Código de Processo Penal. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=361526 Acesso em 20/06/2010, às 20:22:16. (Anexo 1).
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS). Ementa: JÚRI. DECISÃO ABSOLUTÓRIA. CARTA PSICOGRAFADA NÃO CONSTITUI MEIO ILÍCITO DE PROVA. DECISÃO QUE NÃO SE MOSTRA MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS. Apelo improvido. 
Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva – Vade Mecum.
FRUTUOSO, Suzane. Cartas do Além. 2048ed. Revista Istoé, São Paulo: Três, 2009, fevereiro, onze: p. 56-61.GARCIA, Ismar Estulano. Psicografia como Prova Jurídica. Goiânia: AB, 2010.
Barbosa. O Livros dos Médius, 59ª Edição– 1ª edição – 1976 – Editado pelo entro Brasileiro de Homeopatatia; Espititismo e Obras Sociais.
KARDEC, Allan. O evangelho Segundo o Espiritismo publicado em 1864.

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