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1 MECANISMOS DE INVASÃO E METÁSTASES Fabiana Henriques Machado de Melo, Mara de Souza Junqueira e Roger Chammas A palavra câncer é utilizada para designar um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado e a capacidade de se disseminar por diferentes tecidos e órgãos. É uma patologia de origem multifatorial, ou seja, são diversos os fatores que concorrem, e até mesmo se sobrepõem, para o seu surgimento e progressão. São doenças genéticas, resultantes de mutações acumuladas no genoma. Estas mutações estão associadas ao descontrole de programas essenciais como proliferação, morte e diferenciação celular. Acredita-se que o genoma das células transformadas seja instável e desta instabilidade resulte a aquisição acumulativa de mutações que podem converter uma célula normal em uma célula cancerosa. Hanahan e Weinberg agruparam as capacidades adquiridas por uma célula cancerosa em 6 classes de alterações que interferem com a fisiologia normal de células e tecidos : (1) auto-suficiência quanto a fatores de crescimento; (2) insensibilidade a fatores inibitórios de proliferação; (3) evasão da apoptose ou morte celular programada; (4) potencial replicativo infinito; (5) angiogênese sustentada; e, (6) invasão tecidual e metástase. No processo de carcinogênese, é frequentemente ao longo da fase de progressão tumoral, que algumas células adquirem um fenótipo mais agressivo, invadindo tecidos adjacentes e formando metástases à distância. Na tentativa de se definir melhor o fenótipo metastático, comparam -se as células metastáticas e as células não-metastáticas. As células metastáticas frequentemente apresentam moléculas diferentemente expressas qualitativa e/ou quantitativamente. Estas moléculas têm sido identificadas como possíveis marcadores de progressão 2 tumoral, e são utilizadas para exploração da fisiopatologia da disseminação metastática dos tumores. Algumas moléculas têm sua expressão diminuída ou mesmo abolida nas células metastáticas. A identificação destes genes supressores de metástases e a caracterização de seu mecanismo de ação também têm recebido a atenção de diferentes grupos de pesquisa. A metástase é um processo complexo, constituído de várias etapas, e que resulta das interações entre as células tumorais e o microambiente tecidual onde estas células se encontram. Durante a disseminação de um tumor, as células tumorais devem ser capazes de se soltar do tumor primário (perda da interação célula-célula) e escapar do tecido de origem; invadir a matriz extracelular, migrar ativamente pelo estroma intersticial; induzir a formação de novos vasos sanguíneos e/ou linfáticos (angiogênese), essenciais para a expansão da massa tumoral; por estes mesmos vasos, as células tumorais podem alcançar a corrente sanguínea ou linfática, após atravessar a membrana basal e o endotélio dos vasos (intravasão), sobreviver na circulação, interagir com o endotélio vascular, extravasar e, ainda, proliferar no parênquima do órgão-alvo. O processo de angiogênese é crítico para a expansão das células do tumor primário e dos focos metastáticos. Ao longo deste processo, as células tumorais interagem com diversos elementos do hospedeiro, que ora atuam facilitando o processo de metastatização, ora atuam impedindo-o. A identificação de moléculas e genes que estão associados ao processo metastático e a elucidação de seu papel neste processo são importantes para a exploração de novos métodos para o diagnóstico precoce, avaliação prognóstica e padronização de novas estratégias terapêuticas. 3 Em tese, estas informações serão úteis para o controle clínico da ocorrência de metástases, que é a causa da morte de 2 a cada 3 pacientes com câncer. A maior parte das informações sobre os mecanismos fisiopatológicos da disseminação tumoral vem de estudos em carcinomas, que correspondem a cerca de 80% dos tumores em adultos. De maneira geral, a disseminação de outros tipos de tumores envolvem as mesmas grandes famílias de moléculas, como discutido a seguir; embora os membros destas famílias possam variar entre tumores de diferentes origens. Desorganização tecidual e microinvasão: o papel de E-caderina na organização de tecidos epiteliais As moléculas efetoras e reguladoras do processo de invasão tumoral são moléculas que têm papel importante em eventos fisiológicos, como a morfogênese, embriogênese e angiogênese. Porém, em contraste à invasão de células tumorais, a invasão de células normais é finamente regulada e cessa quando o estímulo é retirado. Para as células tumorais invadirem os tecidos adjacentes e formarem metástases à distância, elas devem ter a habilidade de formar interações transientes ora com as proteínas da matriz extracelular, ora com as outras células, como células do estroma, células endoteliais e plaquetas. Entre as moléculas de adesão célula-célula alteradas estão as caderinas e as CAMs (cell adhesion 4 molecules ), proteínas pertencentes à superfamília das imunoglobulinas; entre as moléculas que regulam as interações entre células e a matriz extracelular estão as integrinas. As caderinas são moléculas de adesão dependentes de Ca2+ que medeiam a interação homotípica célula-célula, inicialmente identificadas nas junções aderentes (adherens junctions ). As caderinas são uma superfamília de pelo menos 30 diferentes moléculas, cuja expressão é controlada têmporo-espacialmente. A molécula de E-caderina, que é expressa por células epiteliais, é a que se encontra mais freqüentemente alterada em tumores. Diferentes estudos revelaram que a E-caderina é freqüentemente inativada durante o desenvolvimento de carcinomas humanos, incluindo carcinomas de mama, cólon, próstata, estômago, fígado, esôfago, pele, rim e pulmão e está associada à invasão e a formação de metástases em linfonodos e à distância. A inibição da função de E-caderina pode ocorrer por diversos mecanismos, entre eles mutação ou deleç ão do gene CDH1, rearranjo cromossômico ou hipermetilação. De fato, deleções ou hipermetilação da região 16q22, onde o gene da E-caderina se localiza, são freqüentes em carcinomas do trato gastro-intestinal humano. Alternativamente, descreve-se a perda da expressão de fatores de transcrição que freqüentemente coincidem com a supressão da atividade do promotor de E-caderina em carcinomas invasivos. Em modelos experimentais, a inibição da expressão de E-caderina em células de carcinoma, facilita a invasão tumoral, enquanto o reestabelecimento da expressão de E-caderina resulta em diminuição de proliferação e inibição de invasão e metástases. E-caderina é em parte responsável pelo fenômeno de inibição por contato, uma característica de células epiteliais normais, associadas ao bloqueio 5 de proliferação quando células entram em contato umas com as outras. Esta característica é fundamental para a manutenção da arquitetura dos epitélios. Em modelos animais, a perda funcional de E-caderina está associada à aceleração da progressão tumoral, adenocarcinomas e lesões metastáticas aparecem mais precocemente em animais que não expressam E-caderinas funcionais. Estas propriedades de E-caderinas permitiram classificá-la como uma molécula supressora de metástases. A perda funcional de E-caderina também está associada ao desenvolvimento de melanomas, neoplasias malignas de melanócitos. Melanócitos encontram -se frequentemente na camada basal da epiderme, onde interagem com queratinócitos, formando a chamada unidade de pigmentaç ão da pele. A perda de expressão de E-caderina parece ser um passo crítico na progressão de melanomas, permitindo que as células tumorais sejam liberadas da epiderme e invadam a derme. Ao deixar de expressar E-caderina, as células de melanoma passam a expressar altos níveis de N-caderina, potencializando as interações com fibroblastose células endoteliais que também expressam N- caderina. Esta mudança no padrão de expressão de caderinas ocorre durante a progressão tumoral e já foi documentada in vitro e in vivo. Este fenômeno tem sido observado em outros tipos de cânceres humanos, como carcinoma de próstata, carcinoma de tireóide e linfomas de células T. Resultados experimentais mostraram que essa alteração no padrão de expressão das caderinas pode ter papel importante nas interações entre células tumorais e células do hospedeiro, na migração, invasão tecidual e regulação da expressão gênica. A expressão de N- caderina em células de carcinoma de mama está correlacionada com aumento da 6 motilidade e invasão, sugerindo que a N-caderina potencialize a interação entre as células tumorais e as células do estroma. Inicialmente, pensava-se que a E-caderina poderia ter um papel na supressão da progressão tumoral por inibir a invasão e metástase, conferindo às células uma maior capacidade de interação com as células adjacentes. Porém, mais recentemente foi mostrado que, além de seu papel como supressor de metástases, a perda de E-caderina também pode contribuir para a ocorrência de eventos da carcinogênese, como a perda do controle sobre o crescimento e proliferação celular. A porção citoplasmática da E-caderina interage com as moléculas de e -catenina, este último produto de um conhecido protooncogene. Além da -catenina fazer parte do complexo de adesão de E-caderina, ela tem papel essencial como mediador da via de transdução de sinal de Wnt/Wingless (glicoproteína que exerce papel na embriogênese), que ativa os fatores de transcrição LEF/Tcf, que por sua vez controlam a transcrição de genes que codificam, por exemplo, ciclina D1, Myc e metaloproteinases. De maneira simplificada, o pool de −catenina citoplasmática pode ser considerado um dos elementos reguladores da proliferação e invasão de células epiteliais. Quando há −catenina livre no citoplasma, esta molécula transloca para o núcleo, onde ativa os fatores de transcrição da família de LEF/Tcf, induzindo a transcrição de genes que controlam o ciclo celular (Myc e ciclina D1), ou ainda, a transcrição de enzimas proteolíticas como as metaloproteinases (vide abaixo). Nos tecidos, quando há interação entre células e formação das junções aderentes, mediadas por E-caderinas, as moléculas de −catenina são recrutadas para a 7 região submembranar. Direciona-se assim o pool citoplasmático de −catenina para uma função associada à organização do citoesqueleto. As células então parariam de proliferar. Há formas alternativas de controlar-se o pool citoplasmático de −catenina, como por exemplo, estimulando-se sua degradação. Esta função depende de moléculas como o produto do gene APC, frequentemente alterado em pacientes com polipose adenomatosa colônica familial. A falta deste mecanismo de degradação ou a perda funcional de E-caderina levam ao acúmulo do pool citoplasmático de −catenina e sua ulterior translocação para o núcleo. A - catenina também exerce papel no controle da proliferação e apoptose e também está aumentada em alguns tipos de câncer. Dados recentes mostraram que a E- caderina suprime o crescimento de células de carcinoma de cólon por inibir a via de sinalização -catenina/Wnt. A transição epitélio-mesenquimal Ao mesmo tempo que a células tumorais se soltam do tumor primário por diminuição da interação célula-célula, elas devem ter a capacidade de migrar e invadir o estroma adjacente. Células de carcinomas passam por um processo denominado de transição epitélio-mesenquimal: a célula tumoral, de origem epitelial passa a expressar um conjunto de genes tipicamente expressos em células do tecido conjuntivo. Segundo Thierry, do ponto de vista celular, a transição se dá entre um morfotipo epitelióide, menos migratório, para um morfotipo fibroblastóide, mais migratório. Por muito tempo, este fenômeno foi chamado de desdiferenciação, e definido por parâmetros morfológicos, e não 8 moleculares. De maneira geral, tem-se evitado o uso do termo desdiferenciação. Sabemos atualmente que este comportamento das células neoplásicas é bastante influenciado pela interação com a matriz extracelular, que tem capacidade instrucional, modulando a expressão de diferentes genes. A transição epitélio- mesenquimal é controlada por fatores peptídicos (fatores de motilidade ou dispersão) que interagem com receptores específicos, muitos deles com atividade tirosino-quinase, que além de atuar nesta transição de fenótipos, também podem atuar como fatores de crescimento. São exemplos destas moléculas: HGF (hepatocyte growth factor ), membros da família de EGF (epidermal growth factors), e seus receptores, respectivamente c-met e membros da família dos receptores de EGF (EGFR e p185neu /Her2 ou erbB-2, como discutido em outros capítulos deste livro). Estas moléculas parecem controlar diretamente os efetores da resposta de migração celular, sendo assim responsáveis pela sinalização da dispersão ou desagregação de células de um tecido. Integrinas: sensores do microambiente A capacidade de migração pela matriz extracelular é mediada por moléculas da superfamília das integrinas, glicoproteínas heterodiméricas integrais de membrana que integram os meios intra- e extracelulares; e, depende da ação de metaloproteases. As integrinas são compostas de uma cadeia (1-10, v, IIb , L, M, X, por exemplo) e uma cadeia (1-6, por exemplo). Há uma grande variedade destes receptores de superfície celular: pelo menos 25 moléculas diferentes que atuam na adesão das células a outras células (por exemplo, 9 membros da sub-família das 2 integrinas) e de células à matriz extracelular (por exemplo, membros da sub-família das 1 e 3 integrinas). A função das integrinas é controlada em parte pela ação dos fatores de motilidade ou dispersão mencionados acima. À medida que as células tumorais se locomovem por matrizes extracelulares diferentes daquela encontrada em seu extrato tecidual de origem, os sinais externos de proliferação e sobrevivência vão sendo também progressivamente alterados. De fato, quando células epiteliais e endoteliais normais são desalojadas de seus extratos de origem, estas cél ulas iniciam o processo de morte celular programada. Este processo de morte é conhecido como anoikis (do grego, sem casa). Há evidências de que as integrinas sejam também moléculas sinalizadoras do desalojamento. Ao mesmo tempo, integrinas regulam as vias de sobrevivência celular. O modelo proposto para integração destas vias de sinalização é o de que a ocupação das integrinas na superfície celular sinalizaria adequação do meio externo e portanto sobrevivência celular. Em diferentes microambientes, identificados pela célula através da relativa desocupação de suas integrinas, a ausência ou diminuição relativa dos sinais de sobrevivência culminaria então na morte celular por apoptose. Este modelo, ainda alvo de testes de validação, tem implicações interessantes. A observação mais relevante, é que ao longo do processo de transformação as células cancerosas evadem estes mecanismos e são capazes de sobreviver em diferentes microambientes. 10 Várias alterações na padrão de expressão e/ou função de integrinas ao longo da progressão tumoral foram identificadas. Mais frequentemente as integrinas são responsáveis por um processo de migração disfuncional. Assim, por exemplo, fibroblastos são células migratórias, mas, de maneira geral migram pouco ou quase nada sobre membranas basais (matriz extracelular especializada que separa por exemplo os epitélios do tecido conjuntivo subjacente). No processo de transformação maligna de fibroblastos, há aumento da capacidade de migração do fibroblasto transformado sobre laminina, glicoproteína específica das membranas basais. Estamigração disfuncional depende do acúmulo de uma integrina específica, 61 integrina, que é responsável pela resposta migratória das células transformadas. As células tumorais apresentam pelo menos dois mecanismos de migração pela matriz extracelular: (1) um movimento celular individual, semelhante ao movimento de leucócitos pelos tecidos inflamados, chamado de migração amebóide; (2) um movimento celular coletivo, caracterizado pela migração de agregados celulares. O movimento celular coletivo requer que as células, agrupadas através de interações célula-célula, formem uma unidade assimétrica. Na frente de migração, estão as células com características mais migratórias, onde é gerada a força motriz; as células localizadas posteriormente são virtualmente puxadas pelas células localizadas anteriormente. O mecanismo de comunicação e transmissão de força utilizado pelas células em movimento não é conhecido. Resultados recentes mostraram que o movimento coletivo de células de melanoma é bloqueado com anticorpos anti-1 integrinas; curiosamente, o 11 movimento amebóide não é sensível à inibição por anti-1 integrinas. Pode-se concluir que ao alterar as interações célula-célula e/ou célula-matriz, células tumorais sofrem transição de um programa de migração para outro. Esses resultados ilustram o conceito de plasticidade da migração de células tumorais. O movimento coletivo de células de melanoma representa uma estratégia de migração eficiente, que permite a translocação ativa e passiva de células heterogêneas (nem todas as células precisariam ser igualmente migratórias), potencializando a disseminação de células que apresentem diferentes características dentro da massa tumoral. Existiria assim um efeito de comunidade, onde o fenótipo metastático poderia ser a resultante de fenótipos compartilhados por uma população de células tumorais heterogêneas entre si. Essa é uma característica das células tumorais que deverá ser levada em consideração na geração de futuras estratégias terapêuticas. A distribuição polarizada das integrinas observada em células epiteliais normais é perdida em células de carcinoma. As integrinas 61 e 64, que são ligantes de laminina-1, concentradas normalmente na membrana basolateral, passam a ter uma distribuição mais uniforme. A integrina 51, que se liga a fibronectina, também tem alteração na sua distribuição em fibroblastos transformados. Estes, antes agrupados nas placas de adesão focal, são encontrados em toda a superfície celular de maneira difusa após a transformação. Resultados indicam que há uma correlação inversa entre a deposição de fibronectina na matriz e a migração celular, sugerindo que a diminuição de fibronectina na matriz e o aumento da capacidade invasiva de fibroblastos 12 transformados pode ser causado pela redução da expressão ou da função da 51 integrina. Por outro lado, o aumento da expressão da integrina v3 parece contribuir para a aquisição do fenótipo maligno de células de melanoma. A transição do melanoma de crescimento radial para o de crescimento vertical, é acompanhado do aumento da expressão dessa integrina. As vias de sinalização de integrinas são controladas por diferentes moléculas, que têm sido identificadas como supressoras de metástases. Incluem - se aí CD82, membro da família das tetraspaninas e RHOGDI2, um regulador da função de RHO e RAC, que controlam a organização do citoesqueleto em processos de movimento celular. Algumas tetraspaninas colocalizam com integrinas na membrana plasmática das células em microdomínios especializados. Nestes microdomínios encontram-se diferentes lipídios e glicolipídios, como os gangliosídeos, por exemplo. Diferentes marcadores associados a progressão tumoral pertencem à família dos gangliosídeos. Mais recentemente, evidências experimentais indicam que os gangliosídeos podem modular a migração celular dependente de integrinas, provavelmente interferindo com a interação integrina- tetraspanina. Além da família das integrinas v estar relacionada com a aquisição da capacidade migratória, ela também tem papel importante na angiogênese (ver abaixo). A v3 integrina é expressa em vasos neoformados durante processos fisiológicos e patogênicos, como a progressão tumoral. A análise da expressão da v3 integrina em tumores de pacientes com carcinoma de cólon mostrou uma relação inversa entre o intervalo de sobrevida livre de doença dos pacientes e os 13 níveis intratumorais desta integrina. Esta variável parece dependente da densidade microvascular analisada para cada caso. As integrinas da família v também estão envolvidas na regulação da atividade das enzimas proteolíticas que degradam a membrana basal, a primeira barreira que as células tumorais devem ultrapassar. Na verdade, a interrupção da organização ou integridade da membrana basal é um marcador histológico chave na transição de um tumor para carcinoma invasivo. As enzimas que degradam a matriz extracelular pertencem à família das metaloproteinases, que será discutida a seguir. A degradação da matriz extracelular Para que haja a migração de células tumorais pelas diferentes matrizes extracelulares do organismo (através das membranas basais, pelo estroma intersticial e pelas matrizes ósseas), é necessário que haja degradação da matriz extracelular. A degradação da matriz ocorre em condições fisiológicas e patológicas, sendo finamente regulada em diversos níveis, como será discutido a seguir. Entre as moléculas efetoras desta degradação encontra-se uma família de enzimas, as metaloproteinases de matriz extracelular (MMP), proteinases dependentes de zinco para sua atividade. A família das MMP conta com mais de 25 diferentes membros, subdividida em 4 grupos, de acordo com a sua estrutura primária e a especificidade ao substrato: colagenases, gelatinases, estromelisinas e metaloproteínases-tipo membrana (Tabela 1). A degradação da matriz extracelular também depende de enzimas que degradam polissacarídeos 14 complexos, como os glicosaminoglicanos (por exemplo, hialuronidases, heparanases e condroitinases). Atividade aumentada de MMPs está associada às fases de crescimento do tumor, invasão e metástases, sendo freqüentemente superexpressas em diferentes cânceres. A maioria das MMPs é secretada em forma latente (zimogênio). As pró-MMPs são ativadas por proteólise no espaço extracelular. A ativação de pró-MMPs depende da ação de uma serino-protease, a plasmina; que, por sua vez também existe numa forma latente, o plasminogênio. A conversão de plasminogênio em plasmina depende de um outro sistema de serino-proteases: os ativadores do plasminogênio (tipos tecidual e uroquinase, tPA e uPA, respectivamente). A ativação dos ativadores do plasminogênio depende de sua interação com receptores específicos de membrana e depende, pelo menos em parte, de v integrinas. Ainda, a expressão de MMPs também é controlada transcricionalmente. Citocinas e fatores peptídicos como interleucina (IL)-4 e IL-10, fatores de crescimento (EGF, fator de crescimento transfomante (TGF -), fator de crescimento fibroblasto básico (bFGF), e TGF--1 induzem a expressão de diferentes membros da família das MMPs. Ao lado das cascatas de ativação, o processo de degradação da matriz extracelular também é regulado por diferentes inibidores encontrados no plasma e nos tecidos. Entre os inibidores plasmáticos, por exemplo, encontram -se inibidores de proteases não específicos como a 2-macroglobulina e 1-antiprotease; entre os inibidores teciduais destaca-se a família das TIMPs (tissue inhibitors of metalloproteinases ). As TIMPs, uma família de 4 proteínas (TIMP -1, TIMP-2, 15 TIMP -3 e TIMP -4), exercem um duplo controle sobre as MMPs inibindo tanto sua forma ativa como no seu processo de ativação. Além da função de inibidoresda atividade das MMPs, as TIMPs também induzem mudança na morfologia da célula, estimulam o crescimento de vários tipos celulares e modulam negativamente o processo de angiogênese. MMPs na disseminação de tumores As MMPs medeiam a degradação da matriz extracelular e da membrana basal durante fases precoces do processo de tumorigênese, contribuindo para a formação do microambiente que promove o crescimento do tumor. As MMPs também participam em estágios mais tardios do desenvolvimento do câncer, promovendo o crescimento sustentado tanto de tumores primários como metastáticos pela ativação de fatores de crescimento, inativação de proteínas de ligação a fatores de crescimento ou pela liberação de moléculas mitogênicas residentes na matriz extracelular. MMPs atuam assim modulando a biodisponibilidade de fatores de crescimento, favorecendo a expansão das células tumorais; quer diretamente, induzindo a proliferação de células tumorais; quer indiretamente, regulando o comportamento das células endoteliais (vide abaixo) e fibroblastos que suportam o crescimento do tumor. Um dos primeiros passos na invasão de carcinomas é a disrupção da membrana basal e subsequente migração por esta matriz extracelular proteolisada. A membrana basal é constituída de moléculas como laminina, colágeno tipo IV e proteoglicanos contendo heparam-sulfato. Mais recentemente, mostrou-se que a molécula de laminina -5, presente em membranas basais de 16 epitélios, por exemplo, está associada ao controle do fenótipo migratório. Laminina- 5 íntegra sinaliza o estado estacionário. A clivagem de laminina-5 por MMP-2 ou MMP-14 revelam um sítio críptico da molécula de laminina que desencadeia a motilidade celular. Esta forma clivada é encontrada em tumores experimentais; em cânceres humanos, MMP-14 co-localiza com laminina-5, o que sugere que este seja um mecanismo operante associado a cânceres microinvasivos. A transição epitélio-mesenquimal é um processo finamente regulado. Discutimos acima o papel das junções aderentes e E-caderina na manutenção da arquitetura dos epitélios, e na regulação de vias de sinalização associadas a via Wnt/wingless. E-caderina é clivada pela MMP -3 ou 7 e a liberação do fragmento de E-caderina promove a invasão das células do tumor de maneira parácrina in vitro , possivelmente atuando como inibidor competitivo de outras moléculas de E- caderina intactas. A clivagem de E-caderina também desencadeia a transição epitélio-mesenquimal, associada ao comportamento invasivo de tumores. Outras moléculas, como CD44, também regulam este processo. A ativação de MMPs também figura entre os mecanismos que as células tumorais utilizam para escapar da "vigilância" do sistema imune. A proliferação de linfócitos T, que é regulada pela sinalização de citocinas pelo receptor da interleucina 2 (IL-2R), pode ser inibida pela clivagem deste receptor por MMP-9. MMPs também ativam TGF-, um fator supressor de linfócitos T na resposta contra os tumores. A clivagem do inibidor de proteinase 1, gerado por MMP -11, diminui a sensibilidade das células do tumor a células natural killer. 17 A expressão de MMPs, embora baixa ou não detectável na maioria dos tecidos normais, encontra-se aumentada na maioria dos tumores. Animais modificados geneticamente e que não expressam algumas das MMPs apresentam tumores menores que os animais normais, ou ainda apresentam tumores mais tardiamente. Estas moléculas, que têm sido consideradas moléculas associadas a tumor, no entanto não são produzidas somente pelas células tumorais propriamente ditas. Estudos usando a técnica de hibridação in situ , permitiram mostrar que o mRNA de diversas MMPs é produzido também por fibroblastos do estroma e células inflamatórias presentes no microambiente onde se encontram as células tumorais. Assim, postula-se que as células tumorais paracrinamente modulem a expressão de MMPs por células normais. As células inflamatórias, como mastócitos, macrófagos e neutrófilos, além de produzir MMPs também produzem citocinas que podem atuar como moduladores positivos deste processo. Cria-se assim uma rede tecidual de ativação transcricional , síntese, secreção e ativação de MMPs, como aquela ativada no processo de remodelação tecidual normal; embora sem os mecanismos de controle normal operantes. O fenômeno discutido acima ilustra claramente o conceito de que o comportamento dos tumores não depende somente da célula tumoral, mas também de suas interações com elementos do hospedeiro, que ocorrem no contexto do microambiente tumoral. Da mesma forma que as células tumorais invadem os tecidos do hospedeiro, células do hospedeiro, como células endoteliais e pericitos, são recrutadas pelo tumor, invadem-no e formam estruturas vasculares (vasos sanguíneos e linfáticos), que compõem um elemento importante do microambiente 18 tumoral. A vascularização do tumor se dá por angiogênese. Ao mesmo tempo que se criam rotas vasculares de influxo de nutrientes, necessários para a expansão da massa tumoral; os vasos neoformados podem dar vazão ao efluxo de células tumorais para a circulação hematogênica ou linfática, resultando assim na disseminação sistêmica do tumor. Angiogênese A angiogênese é um processo fisiológico definido como a formação de novos vasos a partir de vasos pré-existentes que ocorre durante a formação de novos tecidos, onde são requeridos oxigênio e nutrientes para o crescimento das células. As células de um tumor conseguem obter nutrientes e oxigênio por difusão passiva a uma distância de ~0.2 a 0.5 mm. Portanto, tumores sólidos só podem apresentar tamanho superior a 0.5 a 1 mm3 (~106 células) quando são vascularizados, o que nos permite concluir que o crescimento tumoral depende da angiogênese. No entanto, a angiogênese em tumores é bastante diferente daquela vista em tecidos normais, apresentando vasos vazantes, com diâmetro irregular e paredes finas, com fluxo sanguíneo aberrante e áreas de necrose. Além de diferenças morfológicas, muitas moléculas de superfície são diferencialmente expressas entre as células endoteliais da vasculatura tumoral e do tecido normal, como descrito a seguir. As células tumorais começam a promover a angiogênese já nas fases iniciais da tumorigênese. O processo de angiogênese é resultado do balanço entre fatores estimulatórios, como o VEGF (fator de crescimento de célula endotelial 19 vascular), PDGF (fator de crescimento derivado de plaquetas), TGF - e -, FGF-2 (fator de crescimento de fibroblastos tipo 2 ou básico) e citocinas pró-inflamatórias como TNF- (fator de necrose tumoral ); e entre fatores inibitórios como interferons, angiostatina, endostatina, trombospondina e inibidores de metaloproteinases. Ao longo da transformação maligna, há aumento da expressão das proteínas pró-angiogênicas e diminuição das proteínas supressoras da angiogênese, algumas delas controladas por TP53, como trombospondina, por exemplo. O primeiro passo da neovascularização é a ativação de células endoteliais quiescentes pelos fatores liberados pelas células tumorais ou pelas células do estroma adjacente. Esta ativação ocorre em resposta a estímulos estressantes como a hipóxia, privação de nutrientes ou compressão. Em condições de normoxia, o O2 difunde livremente pelas células, levando a modificações pós - traducionais de diferentes proteínas, entre elas o fator transcricional HIF-1. a forma oxigenada de HIF-1 é ubiquitinada e degradada pelo proteasoma, num mecanismo que depende da proteína VHL, mutada em alguns tumores, como na síndrome de von Hippel Lindau. Em condições de hipóxia, os níveis de HIF-1 aumentam, a molécula então transloca para o núcleo, onde associada a HIF-1 atua como fator de transcrição regulando por exemplo a expressão gênica de VEGF, que atua sobre as células endoteliais.Nestas condições, as células endoteliais são estimuladas a produzir metaloproteinases, a degradar a matriz extracelular e a proliferar. A degradação e remodelação da matriz permitem que as células endoteliais em proliferação 20 migrem através do tecido e formem estruturas tubulares. Enquanto ocorre a remodelação da matriz pelas metaloproteinases, as células endoteliais em resposta a ativação de fatores de crescimento alteram a expressão de seus receptores de superfície. Por exemplo, têm -se o aumento da expressão do receptores de fatores de crescimento, como o receptor para VEGF. Também ocorre diminuição da expressão de caderinas. Por outro lado, têm-se aumento da expressão de integrinas, entre elas 21, 31, 51 e v3. Essas alterações determinam o comportamento das células endoteliais, que perdem a interação célula-célula e aumentam a habilidade de interagir e de migrar pela matriz extracelular. Entre as integrinas com a expressão alterada, o aumento da expressão da v3.é o mais notável. Ao contrário das outras integrinas, v3 não é encontrada em células endotelias quiescentes. Devido a esse padrão de expressão seletiva em células endoteliais de vasos tumorais, esta integrina tem sido alvo de abordagens terapêuticas experimentais e em estudos clínicos de fase 1 e 2, até o momento. No processo de angiogênese, MMPs tem função pró-angiogênica pela liberação de fatores como FGF básico e TGF - residentes na matriz; mas também anti-angiogênica, associada à clivagem de componentes da matriz extracelular e geração de peptídeos com ação anti-angiogênica. Assim por exemplo, a degradação de colágeno tipo I é necessária para a invasão das células endoteliais e a ulterior formação de vasos (estruturas tubulares). MMP-2, 9 e 14 regulam diretamente a angiogênese. Há evidências de que a inibição da 21 expressão de MMP -2 em células tumorais está associada a angiogênese deficiente. Por outro lado, uma série de fatores anti-angiogênicos foi recentemente caracterizada, como por exemplo a angiostatina, a endostatina e tumstatina. Estas moléculas são derivadas de plasminogênio, colágeno XVIII e colágeno tipo IV, respectivamente. É importante ressaltar que as moléculas parentais não tem nenhum efeito anti-angiogênico, que só é observado após o processamento por proteólise limitada (clivagem) do plasminogênio e dos colágenos. A clivagem de plasminogênio pelas MMP-2, 3, 7, 9 e 12 (metaloelastase de macrófago) dá origem a angiostatina; MMP -3, 9, 12, 13 e 20 estão envolvidas na geração de endostatina, um fragmento C-terminal da clivagem do colágeno tipo XVIII. Tanto angiostatina como endostatina reduzem a proliferação de células endoteliais e endostatina pode inibir a invasão das células endoteliais por agir como um inibidor das MMP-14 e 2. Embora os dados em animais de experimentação quanto ao uso de angiostatina e endostatina sejam bastante promissores, o uso clínico destas moléculas tem encontrado uma série de barreiras; não sendo ainda eficiente. De qualquer maneira, o princípio de sua utilização tem motivado a geração de compostos modificados que atuem de maneira similar a estes angiostáticos. MMP-12 pode também inibir a angiogênese do tumor por clivagem e inativaç ão do receptor de uPA (uPAR), que é necessário para a invasão das células endoteliais pela matriz provisória de fibrina. Tanto inibidores sintéticos de MMPs como por exemplo marimastate, batimastate e inibidores endógenos, como as TIMPs são capazes de inibir a formação de tubos capilares in vitro e in vivo. Vários inibidores de angiogênese têm sido desenvolvidos, tendo como alvo as células endoteliais presentes no microambiente tumoral, ao invés das células 22 tumorais (Tabela 2). Esta nova abordagem terapêutica é promissora porque ao contrário das células tumorais, as células endoteliais são geneticamente estáveis e conseqüentemente não acumulam mutações que permitiriam o desenvolvimento de resistência a drogas. Além disso, a expressão de moléculas específicas à vasculatura do tumor sugere que estes vasos poderiam ser seletivamente destruídos sem afetar a integridade dos vasos normais. Os vasos não são formados somente pelas células endoteliais. Células estromais de suporte, os pericitos, interagem com as células endoteliais. As células endoteliais modulam a função do pericito, secretando PDGF, que atua de maneira parácrina nos pericitos que expressam o receptor para este fator de crescimento. O receptor de PDGF é uma tirosino-quinase e sua atividade regula, entre outros processos, a pressão intersticial intratumoral, frequentemente elevada. Inibidores da atividade de receptores de PDGF, como o STI571 (Glivec), têm sido avaliados como redutores da pressão intersticial intratumoral. Os resultados são bastante promissores: a administração conjunta de quimioterápicos e STI571 está associado a uma maior captação de quimioterápicos pela célula tumoral em modelos experimentais. Este conceito, uma vez confirmado mais amplamente, como demonstrado para drogas como taxol e 5-fluorouracil (em estudo clínico), permitiria administrar doses progressivamente menores, porém igualmente eficazes de quimioterápicos, otimizando seu índice terapêutico. A expressão alterada de moléculas de superfície e de matriz pelas células endoteliais do tumor também podem ser exploradas para a geração de novas técnicas de diagnóstico e prognóstico. Análises de expressão gênica através da técnica de SAGE (serial analysis of gene expression) revelaram que células 23 endoteliais da vasculatura de tumores de cólon humano apresentam níveis de colagenases, bem como de outras proteínas da matriz e metaloproteinases, de 10 a 30 vezes maior quando comparado aos níveis das células do tecido adjacente normal. Bibliotecas de fagos têm sido desenvolvidas para identificar peptídeos que se ligam especificamente a proteínas presentes nas células endoteliais dos vasos tumorais. Um dos peptídeos identificados reconhece as integrinas 51 e v3. Outro peptídio que foi identificado se liga a um novo marcador do endotélio, o aminopeptidase-N. Anticorpos anti-aminopeptidade-N, bem como seus inibidores enzimáticos, inibem a angiogênese, indicando que esta peptidase pode também estar envolvida na migração de células endoteliais. Em modelos experimentais, tumores de crescimento lento, que são mais difíceis de serem tratados com quimioterapia, são responsivos a terapia anti- angiogênica. Deve-se levar em consideração, que os inibidores de angiogênese são mais efetivos quando administrados num esquema que mantenha a concentraç ão da droga na circulação constante, ao invés de uma terapia que seja periodicamente descontinuada. A terapia anti-angiogênica, baseada em anticorpos como por exemplo anti-v3 integrinas, angiostáticos endógenos (angiostatina e similares) ou exógenos; ou ainda, inibidores de MMPs que atuam também na inibição da angiogênese guarda um grande potencial, que precisa ser sistematicamente avaliado. Problemas antecipados a esta terapia recaem sobre um fenômeno ainda pouco estudado, denominado mimetismo vasculogênico. Observado em melanomas, este processo se caracteriza pela formação de estruturas vasculares revestidas por células tumorais, e não somente células 24 endoteliais. Acredita-se que neste caso as células tumorais mimetizem as células endoteliais, formando estruturas que se anastomosam com vasos já formados, garantindo assim o aporte de nutrientes e oxigênio ao interior do tumor. Não se sabe ainda quão geral é este fenômeno. Linfangiogênese Apesar do amplo conhecimento sobre o papel da angiogênese na progressão tumoral, relativamente pouco se sabe a respeito da linfangiogênese, isto é, geração de novos vasos linfáticos. Até há pouco tempo, sugeria-se que não existiam vas os linfáticos dentro de massas tumorais. Estaseria uma das causas para a alta pressão intersticial observada em tumores sólidos, discutida acima. Com a geração de marcadores mais específicos para os vasos linfáticos, contudo, muitos grupos identificaram a presença de vasos linfáticos colabados no microambiente tumoral. O colapso destes vasos dentro do tumor parece ser devido ao estresse mecânico gerado pelas células tumorais em proliferação; o que, por sua vez, contribui para o aumento da pressão dentro do interstício tumoral. Mais recentemente, identificaram-se dois fatores linfangiogênicos. O primeiro fator de crescimento linfangiogênico descoberto foi o fator de crescimento vascular endotelial do tipo C (VEGF C). O VEGF C é sintetizado como uma pré- pró-proteína e muitas formas são geradas através de um processo proteolítico. O VEGFC tem afinidade por dois receptores de superfície do tipo tirosina quinase, VEGFR2 e VEGFR3, que são predominantemente expressos nas células endoteliais dos vasos sangüíneos e linfáticos, respectivamente. Como o VEGF, o 25 VEGF C estimula a migração e proliferação de células endoteliais e induz aumento na permeabilidade vascular, porém doses maiores de VEGF C são necessárias para se observarem estes efeitos. Diferentemente do VEGF , a expressão de VEGF C não é estimulada pela hipóxia, e sim por citocinas pró-inflamatórias. Evidências experimentais indicam que o VEGF C regula o crescimento de vasos linfáticos em vários modelos animais. Em animais geneticamente modificados, a super-expressão de VEGF C acelera o aparecimento de metástases. O aumento da expressão de VEGF C em queratinócitos da pele leva a hiperplasia dos vasos linfáticos da derme. As respostas angiogênica e linfoangiogência de VEGF C dependem do grau de processamento proteolítico do seu precursor e do padrão de expressão dos seus receptores nas células endoteliais dos vasos sangüíneos e linfáticos no tecido alvo. O segundo fator de crescimento identificado foi o VEGF D (também conhecido como fator de crescimento induzido por c-FOS ou FIGF). O VEGF D é processado da mesma maneira que o VEGF C e tem afinidade pelos mesmos receptores nas células endoteliais. Como o VEGF C o VEGF D é linfoangiogênico quando tem sua expressão aumentada em queratinócitos da pele. Estudos recentes demonstraram que a expressão de VEGF C é detectável em metade dos cânceres humanos analisados e que há uma correlação entre a expressão de VEGF C e a formação de metastáses em linfonodos regionais em cânceres coloretal, de tireóide, próstata, estômago, pulmão e carcinoma esofágico. A expressão aumentada de VEGF D foi observada em melanomas quando comparados com melanócitos. Apesar dos avanços nessa área, ainda não 26 foi determinado se a inibição da linfoangiogênese seria uma estratégia terapêutica eficaz na inibição da disseminação de células tumorais e formação de metástases. Um conceito importante de se discutir é o da disseminação de células tumorais para linfonodos. Dado o grande número de anastomoses linfático- venosas, as células que saem dos tumores podem chegar aos linfonodos de drenagem quer por vasos linfáticos, quer por vasos sanguíneos. A via de saída da célula tumoral parece ser menos crítica do que a real capacidade da célula tumoral colonizar o linfonodo. De qualquer forma, estudos experimentais mostraram que a linfangiogênese acelera o aparecimento de metástases. Não se sabe, no entanto, se os vasos linfáticos pré-existentes já seriam suficientes para dar vazão à disseminação das células metastáticas; ou se haveria a formação de novo de vasos linfáticos (linfangiogenêse) ou eventual hipertrofia/hiperplasia da rede linfática existente. Estes pontos deverão ser esclarecidos experimentalmente nos próximos anos. Fase Intravascular da disseminação tumoral O achado de células tumorais na circulação sanguínea e/ou linfática não é infrequente; embora em alguns estudos tenha-se mostrado uma correlação entre o número de células tumorais circulantes e o prognóstico de pacientes, o significado clínico deste achado ainda não foi firmemente estabelecido. Por ora, o achado de células tumorais na circulação serviria somente para identificação de doença residual. O processo de metástase é tido como ineficiente: estima-se que somente uma a cada 10.000 células tumorais presentes na circulação, em sistemas experimentais, tem a capacidade de gerar um nódulo metastático. 27 O processo de entrada das células tumorais na circulação, contudo, não é um processo passivo. De fato, as células metastáticas têm maior capacidade de migrar de maneira polarizada para o interior dos vasos sanguíneos do que as células não metastáticas, que se fragmentam mais facilmente ao longo do processo de entrada na circulação, talvez por menor deformabilidade. Uma vez na circulação, a eficiência do processo depende da capacidade das células tumorais formarem êmbolos mistos com elementos figurados do sangue, principalmente plaquetas. A interação das células tumorais com plaquetas é mediada por um outro sistema de moléculas de adesão: as selectinas. Selectinas são glicoproteínas transmembranares que apresentam a capacidade de se ligar especificamente a carboidratos (o que as define como lectinas animais), presentes em diferentes moléculas como glicoproteínas, glicolipídios e glicosaminoglicanos/proteoglicanos. Existem três selectinas em mamíferos: a L- selectina, encontrada em leucócitos; a P-selectina, encontrada em plaquetas e células endoteliais e a E-selectina, encontrada em células endoteliais. A interação de selectinas com seus ligantes depende em parte de uma estrutura de carboidratos carregado negativamente. Mais frequentemente a ligação se dá entre a selectina e agregados de um antígeno carboidrato conhecido como sialosil- Lewisx/a .Este antígeno é encontrado em diferentes moléculas e tem sido considerado um marcador associado a tumores. De fato, sialosil-Lewis a é o antígeno reconhecido por CA19-9, que encontra aplicação no seguimento clínico de portadores de alguns tumores, como por exemplo, tumores de ovário. A expressão de antígenos sialosil -Lewisx/a em carcinomas de mama, cólon, próstata, vias biliares, estômago e pulmão é um fator de mau prognóstico. Estes antígenos 28 geralmente se apresentam em glicoproteínas, classificadas como membros da família das mucinas. Estas mucinas aumentam a tendência de agregação plaquetária, e quando isto ocorre em torno da célula tumoral, aumenta-se a probabilidade da formação de um êmbolo misto, constituído de células tumorais e plaquetas, que serviriam como um envoltório para a célula tumoral circulante. Admite-se, embora faltem ainda evidências conclusivas, que o envoltório de plaquetas serviria como um escudo para o êmbolo tumoral, dificultando assim o acesso e portanto reconhecimento e destruição da célula tumoral por células de defesa (quer do sistema imune inato como do adaptativo). A formação do êm bolo misto depende da interação entre P-selectina e seus ligantes. Esta noção foi recentemente confirmada em sistemas experimentais, onde se avaliou a progressão de carcinomas de cólon em animais deficientes em P-selectina. A disfunção plaquetária esteve associada a uma menor propensão na formação de metástases. Estes dados sugerem que intervenções farmacológicas que diminuam a tendência de formação de trombos/êmbolos poderiam ser úteis no controle da doença metastática. Em sistemas experimentais, a fração de baixo peso molecular da heparina, que tem ação anti-trombótica, inibiu de maneira significativa o desenvolvimento de metástases. Estudos clínicos estão sendo propostos para se avaliar o impacto do uso desta estratégia em momentos críticos do tratamento de pacientes com câncer, como por exemplo no período pós-operatório, onde apesar de técnica cirúrgica adequada existe um aumento significativo de células tumoraiscirculantes. Pelo que discutimos acima, é necessário um estudo sistemático para se avaliar o real benefício clínico de estratégias como esta. 29 De qualquer forma, na circulação o êmbolo metastático tende a ser retido em leitos vasculares dos diferentes órgãos. Esta retenção é física; e, também pode haver retenção em leitos vasculares específicos pelo reconhecimento de moléculas de adesão território-específicas. Este reconhecimento é um dos elementos que define o fenômeno de organotropismo das metástases, embora sua contribuição seja pequena neste processo. O extravasamento da célula tumoral Estudos usando microscopia intravital, identificaram duas formas de saída da célula tumoral para o interior dos órgãos sede de metástases. No primeiro, após a parada da célula no leito vascular, num processo semelhante ao fenômeno de rolamento de leucócitos pelo endotélio inflamado, as células tumorais isoladamente se despreendem do trombo, interagem com a célula endotelial e transmigram para o interior do órgão-alvo. No segundo, as células tumorais formam grandes trombos que induzem a destruição da parede do vaso, e subsequente infiltração da célula tumoral. Os mecanismos de transmigração e migração pelo estroma intersticial são semelhantes àqueles discutidos acima. O processo de transmigração de células tumorais, que define o eficiente extravasamento, depende de uma combinação de fatores, à semelhança do que ocorre com leucócitos. Mais recentemente, mostrou- se que células tumorais também expressam receptores de quimiocinas, e que o conjunto de receptores expressos está associado à capacidade da célula metastatizar para órgãos específicos, que produzam as quimiocinas cognatas. Parte do organotropismo depende então da expressão de receptores de 30 quimiocinas. Curiosamente, entre os genes controlados por HIF (como discutido acima), encontram -se genes que codificam receptores de quimiocinas, como o CXCR4. A expressão deste receptor está associado à formação de metástases ósseas em pacientes com adenocarcinomas de mama; e, em sistemas experimentais, variantes metástaticas expressam níveis elevados deste receptor quando comparadas a variantes não metastáticas. Quando da formação do trombo, as células endoteliais sofrem um processo de morte celular por desalojamento (anoikis). O mecanismo deste processo de invasão não está completamente esclarecido. A análise do fenômeno indica que a célula endotelial perde sua capacidade de adesão à membrana basal subendotelial, o que é seguido do processo de apoptose. As células tumorais migrariam então para o interior do órgão-alvo, podendo gerar assim o implante metastático. Não está claro ainda qual o efetor da perda de adesão das células endoteliais, que é primariamente mediada por integrinas. Candidatos para esta função são membros da crescente família das disintegrinas, moléculas que possuem domínios semelhantes aos das moléculas de matriz extracelular que são reconhecidas pelas integrinas. A formação do nódulo metastático Podemos propor os seguintes cenários para o destino da célula metastática: (1) a célula metastática não produz seus próprios fatores de crescimento, nem responde a fatores produzidos no órgão-alvo ; (1a) se a célula for completamente resistente ao anoikis , será formado um depósito metastático onde as células estarão quiescentes; (1b) se a célula ainda for sensível a anoikis, 31 o desalojamento estará associado à morte da célula metastática; (2) células resistentes a anoikis e que produzam ou respondam a fatores de crescimento presentes no órgão-alvo, haverá crescimento da metástase até o volume crítico de 0.5 a 1 mm3, quando será fundamental o recrutamento de vasos para a expansão da metástase. A célula metastática pode ficar quiescente no seu novo ambiente até o momento em que passa a produzir seus próprios fatores de crescimento ou passe a responder a fatores externos. É possível ainda que no novo ambiente, as células passem a reconhecer sinais anti-proliferativos. A quiescência da massa tumoral também pode ser conseqüência da inadequada angiogênese, induzindo um estado de dormência nas células do depósito metastático. Esta observação foi feita quando se descreveu o angiostático angiostatina, e sugeriu uma base molecular para o fenômeno que era conhecido como imunidade concomitante em tumores. Este fenômeno se baseia na observação clínica e experimental que os depósitos metastáticos apresentavam uma taxa de crescimento muito acelerada após a retirada da massa tumoral primária. Em 1994, Folkman e colaboradores mostraram que este fenômeno era devido a um angiostático circulante presente no soro de animais com grandes massas tumorais; o angiostático seria destruído no tumor primário, mas não na circulação agindo sistemicamente bloqueando a angiogênese associada à inflamação ou a tumores. Quando há um desequilíbrio entre as substâncias angiogênicas e angiostáticas no sentido angiogênico, há remodelação do microambiente tumoral, com formação de vasos que suportam a expansão da massa tumoral metastática, que eventualmente poderia dar origem a novas metástases (Fig. 1). 32 Estes cenários nos remetem às características adquiridas pela célula cancerosa, como proposto por Hanahan e Weinberg. A primeira noção que precisa ser reforçada é a de que estas capacidades não são absolutas, dependendo do ambiente tecidual em que as células se encontram. Isto é, os sinais de sobrevivência e proliferação/anti-proliferação provavelmente são qualitativa e quantitativamente diferentes nos diferentes tecidos ou microambientes. A segunda noção é a de que não existe uma ordem na aquisição das capacidades da célula cancerosa. A terceira noção é a de que nem todas as células da massa tumoral compartilham necessariamente todas as características necessárias para o desenvolvimento do câncer, como se imaginava a princípio. De fato, a célula que adquire a capacidade de invasão não é necessariamente a célula que sobrevive na circulação ou a que recruta plaquetas e interage com o endotélio. O processo de metastatização parece antes ser a conseqüência da complementação de fenótipos de uma comunidade de células heterogêneas. Finalmente, cânceres são microambientes compostos de células cujo genoma foi alterado e de células do hospedeiro, cujo genoma aparentemente não foi alterado. Estas noções devem ser a base para propostas de estratégias terapêuticas combinadas, que tenham como alvo não somente a célula tumoral propriamente dita, mas também elementos do hospedeiro, como por exemplo, células endoteliais, pericitos e plaquetas, que atuam promovendo a progressão tumoral. 33 Leituras recomendadas Chammas, R. e R.R. Brentani (2002). Cell-matrix interactions. Encyclopedia of Cancer (2a ed., org. J. Bertino) 1: 405-413. Elsevier Science (USA). Chang,C. e Z. Werb (2001). The many faces of metalloproteases: cell growth, invasion, angiogenesis and metastasis. Trends Cell Biol. 11: S37-S43. Coussens, L.M., B. Fingleton, L.M. Matrisian (2002). Matrix metalloproteinase inhibitors and cancer: trials and tribulations. Science 295:2387- 2392. Hanahan, D. e R.A. Weinberg (2000). The hallmarks of cancer. Cell 100: 57- 70. Harris, A. (2002), Hypoxia- a key regulatory factor in tumour growth. Nature Rev. Cancer 2: 38-47. Hegerfeldt, Y., M. Tusch, E.-B. Brocker, P. Friedl (2002). 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Cancer Res. 60: 2504-2511. 35 Grupo MMP Substrato(s) Colagenases Colagenase intersticial Colagenase 1 Colagenase neutrofila Colagenase 2 Colagenase 3 MMP 8 Colageno tipo I,II,III,VII e X MMP 1 Colageno tipo I,II,III,VII e X MMP 13 Colag enase 4 Gelatinases MMP 18 Colageno tipo I,II,III,IV,VII,X,XIV; tenascina; agrecan e fibronectina Colageno tipo I; gelatinas Gelatinase A Gelatinase B MMP 2 MMP 9 Gelatina tipo I,IV,V e X; laminina-5 e TGF --latente Gelatina tipo I,IV,V e X; laminina-5 e TGF --latente Estromelisinas Estromelisina 1 MMP 3 Estromelisina 2 MMP 10 Estromelisina 3 Matrilisina Metaloelastase MMPs-tipo Membrana MMP 11 MMP 7 MMP 12 Colageno tipo III,IV,IX e X; gelatina; pro-MMP1; laminina; proteoglicano; fibronectina; elastina; E-caderina; perlecan e pro-MMP13 Colageno tipo III,IV,IX e X; gelatina; pro-MMP1; laminina e proteoglicano -1-antiprotease Gelatina; fibronectina; pro-MMP1; laminina; colageno IV Elastina e pro-MMP13 MT1MMP MMP 14 MT2MMP MT3MMP MT4MMP MT5MMP MT6MMP RASI-1 Enamelisina Femalisina Endometase Epilisina CMMP MMP 15 MMP 16 MMP 17 MMP 24 MMP 25 MMP 19 MMP 20 MMP 23 MMP 26 MMP 28 MMP 22 Pro-MMP2; gelatina; colagenos; fibronectina e proteoglicanos Pro-MMP2; fi bronectina; tenascina e laminina Pro-MMP2; gelatina; colageno III e fibronectina N.D N.D N.D N.D Amelogenina N.D N.D N.D N.D N.D.: não determinado Tabela 1. Família das Metaloproteinase de Matriz Extracelular (MMP). Agruparam-se os membros da família das metaloproteinases de matriz em quatro gurpos distintos. Colagenases, gelatinases e estromelisinas são secretados em forma latente ou inativa. As MMPs de membrana apresentam um domínio transmembranar. Os substratos já identificados das diversas MMP estão listados na coluna da direita. 36 INIBIDORES DA ANGIOGÊNESE Agente angiostático Alvo e Mecanismo de ação na célula endotelial Fase de Estudo Clínico (em 2002) Angiostatina ATP-sintase, angiomotina e anexina II. Inibe a proliferação e migração Fase 1 Bevacizumab (Avastina) Anticorpo monoclonal contra VEGF Fases 2 e 3 Arresten Integrina 11. Inibe a proliferação e migração. Não Canstatina Integrina v3. Inibe a proliferação e migração. Aprovado para início em 2003 Combretastana Microtúbulos. Induz a reorganização do citoesqueleto de actina Fase 1 completa Endostatina Integrina 11. Inibe a proliferação e migração e induz a apoptose. Fases 1 e 2. NM-3 Inibidor de VEGF. Inibe a proliferação Fase 1 Tumstatina Integrina v3. Inibe a proliferação Não 2-metoxiestradiol Inibe a proliferação Fases 1 e 2 Vitaxina Anticorpo monoclonal contra Integrina v3. Fases 1 e 2 Tabela 2. Exemplos de angiostáticos, seu mecanismo possível de ação e fase de estudos clínicos em que se encontram. Várias estratégias baseadas na inibição do processo de angiogênese encontram -se em fase de estudos em diferentes centros de pesquisa e tratamento (adaptado de Kerbel e Folkman (2002) Nature Rev.Cancer 2: 727-739). 37
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