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55 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA Unidade II 5 CONTRIBUIÇÕES PARA A COMPREENSÃO DO LAZER 5.1 Os estudos do lazer no Brasil: principais pesquisadores e contribuições das escolas internacionais A área do lazer como estudo e pesquisa acompanha o contexto histórico social. Após a Primeira Guerra Mundial, foram introduzidas a jornada de trabalho de 40 horas semanais, com 8 horas de trabalho por dia, e férias remuneradas. A conquista do tempo livre por meio das reivindicações de direitos trabalhistas por parte dos movimentos sociais representou um impacto na sociedade capitalista. Um dos marcos principais dessa conquista foi a Assembleia-Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), realizada em 1924, que teve como tema principal o lazer. Na ocasião foram requisitados aos governantes de diferentes países dados mais detalhados sobre as atividades de lazer exercidas pelos trabalhadores de suas nações. Conforme Mommaas (1996), essa atividade foi realizada e os resultados publicados no mesmo ano, na International Labour Review, que foi considerado o primeiro estudo de lazer do Ocidente. De acordo com Mommaas (1996), antes desse estudo da OIT, já haviam ocorrido outras iniciativas, dentre as quais algumas de George Bevans, que, em 1913, fez estudos sobre o tempo livre dos trabalhadores de Nova York, além de outras iniciativas realizadas por diferentes países, como Alemanha, Bélgica, França, Holanda e União Soviética. Ainda no final do século XIX, houve outros trabalhos significativos, tais como Le Droit à la Paresse, de Paul Lafargue, que, em 1880, escreveu sobre os operários; e, posteriormente, nos Estados Unidos, em 1899, Leisure Theory Class, de Thorstein Vebler. Observação Lafargue frequentou o curso de medicina e posteriormente se casou com Laura, filha de Karl Marx. Abandonou a medicina após a morte dos filhos e se dedicou à vida política. Seu estudo contribuiu para uma visão do direito ao ócio como forma de equilíbrio existencial para a dignidade do trabalhador. Em 1906, foi criada a primeira organização profissional direcionada para o lazer: a American National Recreation Association, assim como surgiram, em outros países, a World Association for Adult 56 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II Education (1918), a Socialist Workers Sport Internacional (1920) e o International Office for Allotments and Workers Gardens (1926). Em 1930, em Liège, na Bélgica, ocorreu o primeiro Congresso Internacional do Tempo Livre dos Trabalhadores. O evento possibilitou a formação de um comitê internacional sobre o tempo livre vinculado à Organização Internacional do Trabalho. Somente no segundo congresso, ocorrido em 1935, em Bruxelas, houve a formalização do comitê, que, porém, não avançou devido a divergências políticas. Devido à recessão econômica de 1930, a noção de tempo livre tornou-se cada vez mais vinculada ao consumo. Ainda de acordo com o autor, as pesquisas sociais começaram a ser pensadas cientificamente: a palavra “lazer” começou a aparecer em livros, revistas e jornais. Entre 1956 e 1969, na União Soviética, surgiram também estudos na mesma área, dentre os quais se destacam os trabalhos O Tempo e o Trabalho (1964), de G. A. Prudenski, O Tempo Fora do Trabalho dos Trabalhadores (1956), de G. Petrosjan, e O Tempo Livre: Duração (1967), de B. Gruschin e L. Górdon. De acordo com Dumazedier (1974), na Iugoslávia, foi realizada uma pesquisa empírica sobre o lazer em um contexto socialista por V. Ahtik que foi uma referência para outras pesquisas, principalmente pelo pesquisador Miro Mihovilovich (1967-1972). A sociologia empírica do lazer, ou seja, a pesquisa na prática do lazer na cultura de massa, teve também repercussões na Polônia e na Tchecoslováquia. Posteriormente as pesquisas sociais sobre lazer e as suas respectivas gerações de pesquisadores acadêmicos começaram a desenvolver um interesse pelas pesquisas empíricas com o objetivo de não só compreender a sociedade, mas também apresentar as necessidades de implantações e avaliações de políticas públicas voltadas para a área. Os estudos de lazer realizados em alguns países começaram a buscar novas conotações para uma melhor compreensão das atividades de lazer, utilizando técnicas para avaliar como as pessoas usavam o seu tempo livre, considerando a quantidade de tempo para suas atividades cotidianas, o trabalho, as atividades domésticas, as necessidades fisiológicas e o lazer. Essa técnica era conhecida como orçamento-tempo, como já vimos. Essas pesquisas eram, aos poucos, incorporadas e aplicadas nas áreas de Sociologia, Economia e Psicologia, em países como a Alemanha, a Bélgica, a França, a Grã-Bretanha e a Holanda. Essa perspectiva de estudo se desenvolveu no contexto da organização industrial, e nela destacaram-se Frédéric Le Play, Ernst Engel e Franklin Giddings. Cada vez mais o lazer vai adquirindo novos olhares, sendo encarado como um direito individual e socialmente democrático em um sistema de produção que era até então aliado ao trabalho. A partir desse viés, muitos investigadores começaram a vincular o lazer à cultura de consumo no final da década de 1960 e início de 1970. Nessa direção de pensamento e análise, destacam-se Dumazedier, Riesman, entre outros autores. 57 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA Houve muitos fatores que contribuíram não só para o lazer, mas também para a sua diversificação: a redução da jornada de trabalho, a aposentadoria, o aumento da expectativa de vida, a crescente necessidade de educação profissional adulta, os avanços tecnológicos que impulsionaram o lazer doméstico com o crescimento da aquisição e do uso da televisão. A diversificação das atividades não só promoveu mudanças no tempo social e dos valores, como também chamou a atenção dos pesquisadores: a “sociedade do lazer” começou a ser questionada considerando as mais diferentes práticas do lazer. Os estudos se voltaram para os espaços e programas de lazer que eram disponibilizados e consumidos nas sociedades ocidentais, principalmente em clubes, colônias de férias e associações. Esses espaços e programas impulsionaram o surgimento de novas profissões, como o trabalho recreativo, e de disciplinas no currículo do Ensino Superior, assim como de associações como a World Leisure and Recreation Association (WLRA), a European Leisure and Recreation Association (ERLA), a The Australian and New Zealand Association e a Fundación Colombiana de Tiempo Libre & Recreación. Dentre as mais articuladas, destaca-se a WLRA, como organização internacional que tem como premissa promover condições ideais de lazer como forma de desenvolvimento humano e bem-estar social por meio de congressos para discussões e trocas de experiências – surgem também, com as associações, periódicos e coletâneas. Segundo Mommaas (1996), em 1965, durante a Sexta Conferência Internacional dos Sociólogos, em Evia, foi criada a Comissão de Pesquisa do Lazer, na Associação Sociológica Internacional (ISA). Esse grupo foi responsável pelo grande projeto de orçamento-tempo entre países, coordenado por Alexander Salai. Anos depois, em 1968, a Unesco cooperou com o Centre Européen du Loisir, de I´Education et de la Culture, com estudos e pesquisas que resultaram em uma revista internacional, a Loisir & Société, editada pela Universidade de Quebec. A publicação teve como objetivo reunir diferentes especialistas da área das ciências sociais do lazer. Também de acordo com Mommaas (1996), conforme iam se institucionalizando o lazer e a sua profissionalização, também surgiam apoios políticos a projetos e ao Journal of Leisure Research (1969). Dentre os muitos eventos que ocorreram em torno da temática lazer, destaca-se: Os Efeitos Sociais daCultura e do Turismo em Washington (1976). No que se refere a publicações, destaca-se o livro Sociologia do Lazer, de Stanley Parker (1978), que apresenta o lazer em diversas esferas da vida, considerando o ciclo vital, as relações do lazer entre religião, família e educação e a necessidade de planejamento de políticas públicas voltadas a essa esfera da vida do trabalhador. Na década de 1980, além das tradições acadêmicas, as investigações buscaram outros interesses. Para Mommaas (1996), houve, no campo da pesquisa do lazer, naquele contexto, uma fragmentação dos estudos, justificada tanto pela busca de novas teorias quanto pela defesa da tradição. A abordagem sobre o tema Lazer começou a analisá-lo também pela sua importância econômica e comercial e por seus impactos, tais como geração de emprego e ativação da cadeia produtiva local e regional. 58 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II Posteriormente, houve muitas críticas aos aspectos econômicos do lazer levantados por essas novas abordagens, devido à importância que estava sendo dada à indústria do lazer em relação à formação humanística da atividade. Da mesma forma que surgiram, em contrapartida, novos programas de educação superior, especialmente na Europa central e ocidental, apareceram, então, outras abordagens, como: • dimensão social e/ou coletiva do lazer; • lazer relacionado a gênero e à classe; • envolvimento ativo das pessoas na constituição de seu lazer. O lazer vai adquirindo, em estudos, um caráter multidisciplinar, com enfoque nos estudos culturais, bem como turismo, esporte e educação física. Dentre os estudos da área do turismo, destacam-se as contribuições de Jost Krippendorf, da Universidade de Berna, na Suíça. No livro Sociologia do Turismo: para uma Compreensão do Lazer e das Viagens (1989), o autor discute o modelo existencial da sociedade industrial, assim como a humanização do cotidiano e das viagens. Para o autor, a humanização se dará não apenas para o homem-férias, mas para o homem por completo e absoluto. Destacam-se também as contribuições de Michel Maffesoli, que apresentou a fenomenologia como método de estudo para o cotidiano da vida e do lazer. Dessa forma, verificamos que o lazer interfere em diversos aspectos da sociedade. Assim, o lazer, como campo de estudo interdisciplinar, possibilita o diálogo entre disciplinas, contribuindo com uma visão mais ampla e integradora do conhecimento, assim como com o diálogo entre ciência e outros tipos de conhecimentos produzidos na sociedade. Saiba mais Para mais informações, consulte os sites da Organização Mundial de Lazer e da Organização Internacional de Turismo Social: <http://www.oits-isto.org/oits/public/index.jsf>. <http://www.worldleisure.org/>. 5.2 A escola dumazediana e os principais estudiosos brasileiros Em nosso País, os estudos de lazer surgem na década de 1970, numa onda de desenvolvimento de estudos e projetos mais específicos. Ainda nesse período surgiram no Brasil também as primeiras ações de políticas públicas voltadas ao incentivo da atividade turística. 59 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA A literatura da época teve como referência principal da sociologia do lazer Jofre Dumazedier, que esteve em nosso País em diferentes cidades e em diferentes ocasiões. O sociólogo participou dos seminários organizados pelo Serviço Social do Comércio. Em 1961 e 1963, o pesquisador esteve presente na Universidade de Brasília e depois em Recife, cidade para a qual foi convidado pelo Movimento Popular da Cidade de Recife. Na década de 1960, a bibliografia era muito restrita, devido à própria organização das cidades que não chamava atenção dos sociólogos, economistas e educadores, nem do próprio governo. Não se tinha ainda, nas cidades, as características das sociedades industriais. Destaca-se, com relação a isso, o trabalho de José Acácio Ferreira, que, em 1959, desenvolveu uma pesquisa sobre os trabalhadores assalariados da cidade de Salvador, o que resultou no livro Lazer Operário. Requixa (1977) considera essa uma obra de grande interesse na época, devido a seu caráter histórico, documental e referencial, que marcava os primeiros movimentos sobre os estudos do lazer. A pesquisa desenvolvida por J. A. Ferreira entrevistou 597 trabalhadores que tinham como renda um salário mínimo. Dentre os resultados obtidos, o autor observou a prática de jogos e a participação no candomblé como atividades desenvolvidas por esse público. Além dessa pesquisa, destacam-se os trabalhos do sociólogo José Vicente de Freitas Marcondes, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. O pesquisador desenvolveu, na obra Trabalho e Lazer no Trópico, a apresentação e o questionamento de diferentes tipos de trabalhos existentes em nosso País, como os trabalhos indígena, doméstico, escravo e industrial, ressaltando a importância do lazer no desenvolvimento da sociedade. Outro trabalho importante que marcou os estudos do lazer foi Lazer & Cultura, organizado em 1968 por João Camilo de Oliveira Torres, caracterizando as relações entre a cultura de massa e o lazer. Em 1969, o Sesc São Paulo e a Secretaria de Bem-estar da Cidade de São Paulo promoveram o Seminário sobre o Lazer: Perspectivas para uma Cidade que Trabalha, que teve como objetivo discutir o tema Lazer junto com pesquisadores. O evento confirmava o lazer como produto do processo de desenvolvimento industrial como o que estava acontecendo na cidade mais industrializada do País. Então, começou a progredir a importância social e política do lazer no Brasil. Renato Requixa, na ocasião do evento, chamou a atenção para a importância do lazer no mundo contemporâneo, assim como da validade dos estudos do lazer para os países em desenvolvimento, conforme a linha de Dumazedier. A experiência do evento promovido pelo Sesc ressaltou também o lazer no sentido educativo: a necessidade da educação para e através do lazer, levando em conta seus diferentes públicos, como crianças, adolescentes, adultos e idosos. Passaram a ser discutidas, assim, as necessidades de lazer na cidade, considerando o planejamento de áreas verdes e espaços de recreação. Foram discutidos também a formação profissional de lazer, a sua importância nas políticas públicas e a promoção do lazer municipal. 60 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II O evento contou com embates de opiniões favoráveis e desfavoráveis. Havia posicionamentos contrários, segundo Requixa (1977), orquestrados por ideias preconceituosas que consideravam a discussão sobre lazer ofensiva à cultura do trabalho. Luiz Octávio de Camargo, que foi orientando de Jofre Dumazedier em seu doutorado na Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Sorbonne, em Paris, considerava que as sociedades urbanas apresentavam três estágios em relação ao lazer: • a negação da questão pelos mais diferentes argumentos; • a visão do lazer como algo importante do ponto de vista terapêutico em relação à vida urbana; • a percepção de que o lazer é importante em si mesmo. Os três estágios refletem o processo de crescimento da industrialização e da urbanização das sociedades capitalistas. O seminário promovido pelo Sesc em 1969 teve repercussões positivas no lazer, principalmente quanto ao conhecimento de suas características e à intensificação de outros estudos e eventos promovidos em diferentes áreas acadêmicas. O lazer passou a ser discutido não só na Sociologia ou na Educação, mas também no que diz respeito ao planejamento urbano. Em 1973, foi criado, em Porto Alegre, o Centro de Estudos de Lazer e Recreação (Celar), na PUC do Rio Grande do Sul, em parceria com a prefeitura do município. Em 1975, Dumazedier ministrou um curso no Celar, para graduandos e professores universitários,sobre Teoria do Lazer. O curso culminou no livro Questionamento Teórico do Lazer, escrito por Dumazedier na tentativa de oferecer subsídios para as questões e preocupações sobre o lazer em nosso País. A obra tinha como premissa a proposta de ações condizentes e respeitosas à humanidade e à sua relação com as atividades de lazer no contexto brasileiro. Outra iniciativa promovida pela Celar foi a promoção de cursos sobre educação e lazer que culminou na criação de um curso de pós-graduação lato sensu em lazer, em 1974. No mesmo ano, o Governo Federal criou a Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política Urbana (CNPU). As diretrizes propostas para uma possível política pública para o lazer buscavam disciplinar a urbanização devido às atividades ligadas ao turismo e ao lazer, assim como ações de preservação e conservação das cidades históricas e também apoio às infraestruturas das estâncias hidrominerais e das cidades litorâneas. O Sesc e o Sesi, com o apoio do Ministério do Trabalho, realizaram, no mês de agosto de 1975, no Hotel Glória, o Primeiro Encontro sobre Lazer no Rio de Janeiro, que contou com a presença de Jofre Dumazedier. Os principais temas abordados foram a formação sociocultural e o lazer nas sociedades em desenvolvimento. 61 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA Dois anos depois, em 1977, Requixa escreveu o livro Lazer no Brasil, obra na qual destacou o elemento lúdico das etnias formadoras da nacionalidade brasileira, assim como a industrialização, a urbanização e seus reflexos, e também as formas contemporâneas de uso do tempo livre. Dentre as principais atividades, foram considerados os meios de comunicação, o teatro, os hábitos de leitura, os esportes, os fins de semana, as férias e o turismo. Além disso, o autor apresentou os equipamentos urbanos públicos e privados para o uso do lazer. A Constituição Federal brasileira, em 1988, instituiu o lazer como um direito básico do cidadão brasileiro. Nessa década, houve um desenvolvimento significativo na área do lazer, assim como eventos de importância nacional e internacional. Em 1988, Sarah Bacal publicou, em São Paulo, o livro Lazer: Teoria e Pesquisa, no qual aborda as relações entre trabalho, tempo livre e turismo. A autora considera que o tempo total (TT) é dividido em tempo necessário (TN) para a execução das tarefas essenciais à sobrevivência e tempo liberado (TLB), para as atividades não obrigatórias, sendo, muitas vezes, confundido com tempo livre. Os estudos de lazer acompanham as mudanças da sociedade, assim como permitem a produção de pesquisas de diferentes campos de estudo e refletem o comportamento do lazer como prática sociológica. 6 NOVAS PERSPECTIVAS PARA A SOCIOLOGIA DO LAZER O lazer é uma área interdisciplinar, o que vem contribuindo para distintas possibilidades e abordagens e construindo novas ideias. Os múltiplos olhares podem favorecer a reflexão e a crítica, colaborando com o conhecimento e o debate sobre o lazer. As discussões sobre lazer estão presentes em vários cursos, por exemplo, Administração, Artes, Educação Física, Hotelaria, Turismo e Sociologia. Contudo, ainda ocupam um pequeno espaço no interior das propostas curriculares em muitos cursos, o que restringe as oportunidades de estudo e atuação. Em muitas escolas de Ensino Superior, prioriza-se a formação técnica e operacional do lazer, principalmente em níveis técnico e de graduação. Faz-se necessário criar pesquisadores na área do lazer com o objetivo de aprofundar os conhecimentos e dar conta das manifestações de lazer que circundam os contextos locais onde as práticas do lazer estão inseridas. Gomes (2004), ao analisar os estudos e pesquisas na área, apresenta que houve avanços no campo de estudos a partir da produção acadêmica em nível de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) principalmente nos cursos de Educação Física, Turismo, Educação, Comunicação e Sociologia, entre outros. De acordo com dados levantados por Marinho et al. (2011), foram identificados 211 grupos de pesquisa que estudam direta ou indiretamente o lazer no Brasil: • Educação Física: 9. 62 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II • Educação: 25. • Turismo: 22. • Antropologia: 12. • Psicologia: 7. • Sociologia: 7. • Planejamento Urbano Regional: 6. • Geografia: 4. • Fisioterapia: 3. • Terapia Ocupacional: 3. • História: 3. • Administração: 3. • Arquitetura: 3. • Medicina: 2. • Saúde Coletiva: 2. • Economia: 2. • Serviço Social: 2. • Engenharia de Produção: 2. • Desenho Industrial: 1. • Museologia: 1. • Comunicação: 1. • Engenharia Naval: 1. • Engenharia Oceânica: 1. • Ecologia: 1. • Parasitologia: 1. Verificamos, portanto, a necessidade de pensar a construção de conhecimento no que se refere ao lazer e ao ócio, a partir de uma perspectiva interdisciplinar. As diferentes possibilidades de estudo e intervenção estimulam a construção de novas abordagens e ideias. 63 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA As ideias devem ser concebidas e aplicadas em uma realidade concreta. Para Pimenta e Lima (2012), é necessário pensar o lazer como uma atividade teórica de conhecimento, diálogo e intervenção na realidade, ou seja, é no contexto do lazer e da sociedade que a práxis acontece. A realização de eventos de caráter técnico-científico possibilita encontros e trocas de diferentes profissionais. Além dos grupos de pesquisa, como já mencionamos, destacamos a realização de eventos técnico-científicos, que contribuem para a formação dos profissionais e pesquisadores na área do lazer. O Encontro Nacional de Recreação e Lazer (Enarel) e o seminário O Lazer em Debate são eventos que ocorrem anualmente e reúnem pessoas de diferentes áreas. Já o Congresso Brasileiro de Estudos do Lazer acontece bienalmente e é organizado pela Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Estudos do Lazer (Anpel). Outros eventos de diferentes áreas também contribuem para o lazer, tais como o Congresso do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (Conbrace), o Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação (Anptur) e o Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana. Assim como os grupos de pesquisa e os eventos, são importantes também as a publicações de artigos científicos em revistas de diferentes áreas. Uma das publicações mais relevantes nos estudos de lazer é a revista Licere, publicação do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer, da Universidade Federal de Minas Gerais, com periodicidade trimestral, que tem como objetivos contribuir com avanços qualitativos dos estudos e experiências desenvolvidos na universidade, assim como difundir, registrar e compartilhar o conhecimento construído na área de lazer. Outra publicação importante é a Revista Brasileira de Estudos do Lazer, publicação quadrimestral da Anpel, sem fins lucrativos, que objetiva divulgar a produção científica nacional e internacional sobre lazer e temas afins. Com relação aos temas mais abordados pela revista, podemos mencionar que há uma forte reflexão sobre o lazer voltada à implementação de políticas públicas e iniciativas do Terceiro Setor. Nelson Carvalho Marcellino (2010) apresenta que é necessária a ampliação das possibilidades de pesquisa, pois há diversos campos que ainda não foram explorados. Saiba mais A seguir indicamos os sites das revistas Licere, da Revista Brasileira de Estudos do Lazer e do Grupo Interdisciplinar de Estudos do Lazer da Universidade de São Paulo, respectivamente: <https://seer.lcc.ufmg.br/index.php/licere>. <https://seer.lcc.ufmg.br/index.php/rbel/index>. <http://www.each.usp.br/giel/pt-br/lazer.php>. 64 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra maç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II 6.1 Duplo aspecto educativo das experiências do lazer Para Marcellino (1987), ao se tratar o lazer como veículo de educação, é fundamental considerar as potencialidades para o desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos. O lazer não pode ser visto restritamente como um bem de consumo. Renato Requixa (1977) compreende que se pode educar pela prática do lazer e reconhece a importância de se educar para o lazer, o que consiste na estimulação da produção cultural caracterizada por diferentes práticas que buscam simultaneamente introduzir a prática criativa despretensiosa nas necessidades lúdicas do cotidiano, assim como aprimorar a apreciação crítica. O desenvolvimento do lazer é uma ação que pode ser coordenada por diferentes atores sociais, tais como: governo, escolas, organizações não governamentais e comunidade. A educação para o lazer implica diminuir as diferenças e proporcionar a igualdade de oportunidades no acesso a recursos. Para Marcellino (1987), a educação para o lazer deve oferecer às pessoas atividades que possam promover a vivência do lazer de forma criativa e adaptada às necessidades locais, considerando os sistemas culturais, econômicos e sociais. O lazer pode contribuir para o desenvolvimento de conhecimentos, aptidões, valores e atitudes que podem ser desenvolvidos tanto na escola quanto fora dela. Há, conforme o autor, um duplo processo educativo do lazer, que pode ser compreendido tanto como objeto quanto como veículo da educação. A experiência do lazer pode contribuir com o enriquecimento do espírito crítico através de aprendizado, estímulo e iniciação. O lazer compreendido como veículo de educação deve fornecer a compreensão da realidade, o desenvolvimento social e o reconhecimento das responsabilidades sociais. Já como objeto da educação, envolve a necessidade de disseminar o seu significado, apresentar sua importância e possibilitar a participação e a transmissão de informações. É preciso pensar e organizar um programa de ensino dedicado ao lazer, adotando procedimentos didático-metodológicos que possam concretizar um fazer educativo de forma lúdica, criativa, cultural e coletiva. Para isso, faz-se importante não só desenvolver currículos, mas também capacitar os profissionais não somente na teoria, mas também na prática do lazer, de forma interdisciplinar e constante. Trabalhar com o lazer tendo na educação um duplo sentido exige dos recursos humanos o conhecimento das mais diversas realidades brasileiras, assim como das mais diferentes linguagens culturais, e a busca do equilíbrio entre consumo e participação do tempo do lazer. É importante que os profissionais de lazer tenham a ampliação de suas próprias vivências, de forma não só a atualizar, mas também a manter condizente a prática profissional. Os profissionais devem educar as pessoas participantes das atividades de lazer para as sensibilidades, provocando, por meio das atividades propostas, experiências edificantes, e extrapolando a discussão em sala de aula, ampliando, assim, os espaços de referências. 65 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA Marcellino (2010) sugere o equilíbrio entre quatro eixos fundamentais para a formação do profissional de lazer: • teoria do lazer; • relato de experiências refletidas; • vivências de conteúdos culturais; • políticas e diretrizes gerais do campo do lazer. A educação para o lazer tem como princípio formar pessoas para que possam viver o seu tempo disponível de forma positiva, capaz de conhecer a si mesmas e as relações do lazer com a sociedade. A escola é um espaço importantíssimo na sociedade, um espaço de troca de saberes e conhecimento e de formação moral e ética dos indivíduos. Nesse sentido, a WLRA (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE RECREAÇÃO E LAZER, 2002), no que se refere à educação para o lazer, recomenda, numa carta internacional de uma educação para o lazer, de 1993, o auxílio aos estudantes de diferentes níveis, para que seja alcançada uma qualidade de vida por meio do desenvolvimento pessoal, social, físico, emocional e intelectual. Ao promover valores, a escola envolverá e influenciará a família, a comunidade e a sociedade onde o estudante está inserido. É importante considerar também, no âmbito da educação, que o lazer não deve ser exclusividade de uma única disciplina. Considerando o seu aspecto interdisciplinar, ele precisa envolver as diferentes disciplinas direta e indiretamente, e também proporcionar atividades extracurriculares. Dessa forma, o lazer pode ser incorporado dentro e fora da escola, por meio de atividades culturais e esportivas que possam envolver os alunos e a comunidade. Saiba mais Leia a Carta Internacional do Lazer na versão original: WORLD LEISURE ORGANIZATION. Charter for leisure. 2000. Disponível em: <http://www.worldleisure.org/userfiles/Charter_for_Leisure_art27.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2015. Requixa (1979) afirma que a educação é um importante veículo de desenvolvimento e tem no lazer um ótimo instrumento para incentivar e motivar o indivíduo a desenvolver-se e ampliar seus interesses e participação mais ativa de ordem individual, familiar, cultural e comunitária. A sociabilidade no lazer é estimulada pela possibilidade de contatos variáveis em um momento propício para a troca de experiências e ideias. O lazer também possibilita a afirmação de comportamentos. 66 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II A pedagogia da animação cultural engloba os sentidos da vida, de movimento e de alegria. É preciso reconhecer a relação lazer-escola-processo educativo: “[...] uma ‘pedagogia da animação’, assim encarada, estaria ligada à criação de ânimo, à provocação de estímulos, e à cobrança da esperança” (MARCELLINO, 1988b, p.142). Nesse sentido, pensar em uma educação para o lazer implica um processo amplo de educação, que considere as relações entre as possibilidades da escola e as potencialidades educativas do lazer, ou seja, a educação para o lazer é um canal possível para a busca de transformações. A pedagogia da animação atuaria, desse modo, no plano cultural, orientada por princípios de valorização da cultura local e regional em todas as áreas: artística, física, manual, social e intelectual, e também no plano social, buscando compreender os interesses das pessoas participantes e iniciando um trabalho a partir das diferentes realidades. A Carta Internacional de Educação para o Lazer (2002), da Associação Mundial de Recreação e Lazer, é um documento importante, pois apresenta as diretrizes para o desenvolvimento de educação para o lazer. Saiba mais Leia a carta na íntegra: ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE RECREAÇÃO E LAZER (WORLD LEISURE AND RECREATION ASSOCIATION – WLRA). Carta internacional de educação para o lazer. Saúde em Movimento, 2002. Disponível em: <http://www. saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_exibe1.asp?cod_ noticia=195>. Acesso em: 17 nov. 2015. O lazer, segundo a carta, refere-se a uma experiência humana que possibilita uma série de benefícios, como a liberdade de escolha, a criatividade, a satisfação, a diversão, o aumento de prazer e a felicidade. A atividade de lazer, além de um direito básico, é um recurso para a melhoria da qualidade de vida que pode também ser considerado um produto cultural, por gerar bens, serviços e empregos. Observação Fatores de ordem política, econômica, social, cultural e ambiental podem influenciar a prática do lazer, ampliando ou restringindo seu acesso. A carta enfatiza que a educação para o lazer tem um papel fundamental na diminuição de diferenças das condições de vida, possibilitando a igualdade de oportunidades e recursos. Mas, para que isso aconteça, é necessária a atuação de vários atores sociais, como a própria comunidade, os governos de todos os âmbitos, as organizações não governamentais,as instituições de ensino e os meios de comunicação. 67 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA Para que existam ações coordenadas, o documento propõe metas, princípios e estratégias para efetivar uma educação para o lazer nos ambientes formais e informais da educação. O texto aponta também diretrizes da educação para o lazer na comunidade, incentivando a participação social, assim como estruturas e serviços comunitários para tal. Considerando as diversas dimensões do lazer, principalmente a importância da educação para o lazer, é importante destacar também o papel do animador sociocultural. Para começar, é importante destacar que entendemos o sentido da palavra “animação” no contexto do lazer como “dar ânimo, coragem, força e estímulo”. Nesse sentido, o animador sociocultural desenvolve seu trabalho a partir de vivências que possibilitem a alegria e o prazer, tendo como objetivo estimular as pessoas em seus momentos de lazer. A intervenção, nesse caso, deve se dar com a ideia de uma construção coletiva. O animador sociocultural baseia o seu exercício profissional na vontade social e no compromisso político-pedagógico com a promoção de mudanças, contribuindo para o exercício da cidadania e para a melhoria da qualidade de vida, proporcionando, assim, uma ação educativa preocupada com a emancipação de sujeitos para uma realidade mais justa e humana. A animação sociocultural tem como objetivos: • proporcionar o autoconhecimento; • promover a compreensão das pessoas em relação a si mesmas e ao mundo; • incentivar a participação dos sujeitos nas questões sociais mais amplas e também naquelas que estão diretamente ligadas à sua comunidade; • possibilitar o preparo e o empreendimento de mudanças por meio do estímulo à reflexão e à crítica. Para que os objetivos sejam alcançados, a animação sociocultural deverá ser: • concebida; • discutida; • planejada; • organizada; • executada; • avaliada. Independentemente da atuação no campo público ou privado do lazer e também independentemente do tipo de público, a animação sociocultural deverá ser desenvolvida a partir dos seguintes aspectos: 68 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II • facilitação: interação e troca de informações entre pessoas e grupos; • conscientização: noção dos significados individuais e coletivos das atividades de lazer que se pretendem desenvolver; • catalisação: iniciativas para a elaboração das atividades; • promoção: a partir das ações realizadas, promoção da participação dos sujeitos. Ação Reflexão Ação Figura 29 – Ações do animador sociocultural O animador sociocultural deverá tornar-se um pesquisador de suas ações práticas, compreendendo a realidade dos grupos com os quais se relaciona e interage. A prática reflexiva permite ao animador sociocultural aprender ainda mais sobre lazer, a partir de uma análise crítica de suas próprias ações, no que diz respeito à condução de atividades, assim como, por meio de eventos e revistas científicas, socializar suas experiências com outros profissionais que atuam na área de animação. Não se deve só incentivar a participação das pessoas nas atividades propostas, mas também despertar no público envolvido a consciência da importância da atitude participativa. É necessário compreender que a animação sociocultural tem como meta fomentar comunidades, grupos e pessoas a partir de atitudes abertas e orientadas. No que concerne a conteúdo, o animador sociocultural trabalha com vários campos de interesse, tais como atividades físico-esportivas e artísticas. Os animadores socioculturais devem elaborar atividades capazes de atrair e possibilitar a mobilização de pessoas por meio de programações (fixas e regulares) e eventos. As atividades devem ser pensadas conforme o tipo de público e a quantidade de pessoas que se deseja envolver. Para isso, os profissionais devem ter a seguinte característica, de acordo com Luis Octávio de Camargo (1998): • polivalência cultural: conhecer diferentes práticas e linguagens como ginástica, dança, música, cinema entre outras; • conhecer as peculiaridades de participação dos mais diferentes públicos a partir de gênero, faixa etária, classes socioeconômica e sociocultural; • capacidade de organizar e coordenar equipes com profissionais das mais diversas formações; 69 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA • conhecimento sobre a formatação de projetos e sua viabilidade socioeconômica; • conhecimento do espaço físico onde serão desenvolvidas as atividades. Saiba mais Você pode obter mais informações sobre o tema, lendo: MARCELLINO, N. C. Lazer e recreação: repertório de atividades por fases da vida. Campinas: Papirus, 2013. ___. Lazer e recreação: repertório de atividades por ambientes. Campinas: Papirus, 2010. CAMARGO, L. O. Educação para o lazer. São Paulo: Moderna, 1998. 6.2 Desenvolvimento de projetos de animação sociocultural Para desenvolver atividades de lazer na prática, os animadores socioculturais, como vimos, devem, além de conceber as atividades a serem executadas e refletir sobre elas, articular o planejamento de ações e projetos. A ação de planejamento não se resume apenas em detalhar o que será feito, mas envolve também determinar previamente as ações, os materiais e os recursos que serão utilizados para realizar os projetos de animação sociocultural. A organização e o planejamento, quando bem-sucedidos, possibilitam a delimitação antecipada das situações que podem ocorrer, promovendo, assim, a resolução ou a minimização de problemas. O roteiro que apresentaremos pode ser utilizado por animadores que desejam elaborar novos projetos nas instituições nas quais trabalham ou buscar novos espaços e oportunidades de atuação. Ressaltamos que o roteiro proposto não é único; existem outros, mas queremos apontar os elementos fundamentais para a adequação de projetos. É importante lembrar que os projetos da área de lazer necessitam de avaliação, considerando os objetivos e metas propostos no início do projeto. As avaliações podem ser quantitativas e/ou qualitativas. A avaliação também é importante para verificar os aspectos que foram bem-sucedidos e os que precisam ser melhorados no que diz respeito às atividades propostas, aprimorando, assim, a experiência profissional e a qualidade dos projetos que poderão ser desenvolvidos futuramente. 70 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II Introdução (Por que fazer?) Objetivos e metas (O que fazer?) Metodologia e cronograma (Como fazer?) Público-alvo Recursos humanos Materiais e serviços Orçamento e fontes de financiamento • Análise do contexto atual. • Limites e possibilidades. • Justificativas. • Local e público-alvo. • Contato prévio com o grupo. • O que se pretende alcançar. • Solução de problemas. • Delimitar objetivos gerais e específicos. • Descrever como os objetivos propostos serão alcançados. • Descrever passo a passo todas as ações. • Organização cronológica dos passos pensados para a execução completa do projeto. •Materiais necessários. • Bens e serviços que permitem oferecer as atividades propostas. • Descrever os grupos que serão atendidos pelos projetos. • Faixa etária. • Interesses. • Expectativas. • Preferências. • Outros dados relevantes, tais como gênero, classe social, etnia etc. • Quais os profissionais que atuarão no projeto? • Quantos serão? • Quais funções exercerão? • Qual sua formação específica? • Delimitar as fontes de recursos de cada elemento de despesa. • De onde os recursos serão provenientes. Figura 30 – Etapas do planejamento de um projeto de lazer Saiba mais Aprofunde o estudo com a leitura: ZINGONI, P. Marco lógico: uma metodologia de elaboração,gestão e avaliação de projeto social de lazer. In: PINTO, L. M. S. Como fazer projetos de lazer: elaboração, execução e avaliação. Campinas: Papirus, 2008. p.13-32. 71 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA 6.3 Lazer e animação sociocultural: áreas de atuação O animador sociocultural poderá exercer sua atividade em diferentes âmbitos, conforme segue. 6.3.1 No setor público Podemos considerar as ações e os equipamentos voltados para a ocupação do tempo livre da população em geral, nos âmbitos municipais, estaduais e federal da esfera governamental, tais como: • centros culturais; • centros esportivos; • centros comunitários; • parques públicos; • clubes recreativos urbanos e campestres; • museus; • oficinas; • conservatórios públicos, entre outros. Incluem-se ainda no setor público as ações desenvolvidas por: • secretarias governamentais; • fundações públicas; • empresas e autarquias ligadas ao poder público municipal, estadual e federal nas áreas de: — cultura; — esportes; — turismo; — lazer; — meio ambiente. 6.3.2 Nas escolas Principalmente na iniciativa privada, as escolas estão desenvolvendo projetos de lazer a serem realizados no próprio recinto escolar. 72 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II Lembrete Como vimos, é preciso atuação e participação dos atores sociais para que as escolas públicas possam conceber, na formação formal e informal, atividades de lazer. Além do uso e aproveitamento dos espaços e equipamentos, os animadores socioculturais podem propor programações que possam mobilizar alunos e comunidades. 6.3.3 No setor privado No setor privado, os animadores socioculturais podem atuar em: • clubes; • parques temáticos; • livrarias; • academias de dança. Nos empreendimentos turísticos hoteleiros, podem atuar em: • acampamentos de férias; • hotéis; • colônias de férias; • cruzeiros marítimos. Outro espaço que vem desenvolvendo o interesse em práticas de lazer e animação sociocultural é o dos hospitais. A prática de atividades lúdicas e artísticas, como a música, contribui para a melhoria dos pacientes que estão em tratamento médico, assim como atenua a permanência na rotina hospitalar. Destacam-se, nesse sentido, diversas iniciativas bem-sucedidas, entre elas a dos Doutores da Alegria, grupo pioneiro que visita e anima as alas infantis dos hospitais e conta com grande número de colaboradores. 6.3.4 No Terceiro Setor Além do setor público e do privado, as atividades de lazer podem ser desenvolvidas pelo Terceiro Setor. Na década de 1990, o crescimento desse tipo de organização estava diretamente ligado às transformações estruturais nos modos de organização das ações de assistência social, pois tratava-se de uma nova concepção de como se fazer política, considerando e fortalecendo as 73 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA dimensões sociais ligadas à cultura e à vida comunitária, ou seja, um novo arranjo de organização social entre sociedade civil e Estado. Lembrete Como vimos anteriormente, os marcos regulatórios favoreceram o protagonismo político e social desempenhado pelas ONGs, tendo o lazer como um elemento estratégico para o desenvolvimento de uma agenda política. A criação de marcos regulatórios, como diretrizes, cartas, convenções, declarações e leis, teve como propósito sensibilizar governos, não apenas de forma imediata, mas também a médio e a longo prazo, sobre as questões e os benefícios do lazer. Nesse sentido, as ONGs desenvolvem projetos sociais ligados ao esporte e às artes (música, dança, produção audiovisual) que têm como objetivos estimular o desenvolvimento de indivíduos e comunidades por meio do lazer, para: • estimular a vida ativa; • estimular o desenvolvimento cognitivo e reduzir a ansiedade; • difundir valores morais positivos e desenvolver comportamento socialmente valorizado; • reduzir taxas de abandono escolar; • reduzir delinquência e criminalidade. Conforme dissemos, o lazer pode ser considerado um instrumento importante para a melhoria da qualidade de vida individual e coletiva. O animador sociocultural tem a possibilidade de desenvolver atividades que proporcionem benefícios aos mais diferentes públicos. A atuação do profissional é ampla em órgãos públicos, privados e em organizações não governamentais. Saiba mais Consulte os livros a seguir para aprofundar os conhecimentos no assunto: LOPES, T. B.; ISAYAMA H. F. Sobre o fazer técnico e o fazer político: a atuação do profissional de lazer no serviço público municipal. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 19, p. 87-99, 2011. MARCELLINO, N. C. et al. Espaços e equipamentos de lazer em região metropolitana: o caso da região metropolitana de Campinas. Curitiba: Opus, 2007. PINA, L. W.; RIBEIRO, O. C. F. Lazer e recreação na hotelaria. São Paulo: Senac, 2007. 74 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II 7 EXPERIÊNCIAS DO LAZER E DO ÓCIO NO BRASIL: ESTUDOS DE CASO 7.1 Lazer e esporte Como sabemos, foram muitas as transformações que aconteceram na sociedade brasileira. Em se tratando de lazer, foi no século XX que começaram a se desenhar novas relações com o tempo do trabalho e fora dele nos grandes centros urbanos, principalmente por iniciativa de distintos grupos sociais. Entre 1850 e 1914, e posteriormente, entre 1927 e 1937, houve um aumento significativo da taxa de industrialização. A mudança do sistema econômico introduziu novas formas e métodos de organização do trabalho. Houve uma delimitação do tempo do trabalho, que foi sendo reduzido. Muitas horas dedicadas ao trabalho apontavam para a necessidade de atividades recreativas como minimizadoras da “desintegração fisiológica do homem”. Aos poucos, as mudanças da paisagem já impunham desafios aos trabalhadores quanto ao tempo fora do trabalho. A crescente concentração populacional possibilitou diversões populares, nem sempre de acordo com os padrões da elite. A migração de trabalhadores que vinham do campo para a cidade apresentava uma mão de obra nem um pouco familiarizada com as técnicas dos trabalhos exercidos na indústria. Tendo como parâmetro a influência europeia, vários setores da elite brasileira construíram uma visão, a partir da ideia de que o trabalho era moralmente edificante, ligada à Igreja católica. Essa visão criou os círculos operários, tendo como objetivo educar os trabalhadores na ordem da fé cristã por meio de atividades ocupacionais como oficina de tricô e outros trabalhos manuais. Os médicos também foram importantes nesse processo. A partir de 1930, surge a medicina do trabalho, com técnicas de racionalização para otimizar a produção. Os profissionais da área médica diagnosticavam a fadiga como uma das causas para o pouco rendimento do trabalhador e o aumento da possibilidade de acidentes. As origens da fadiga, os acidentes, as alterações do ritmo do trabalho e o descanso fora do trabalho contribuíram para a relação desses fatores com a forma como esses trabalhadores se divertiam e descansavam. Fortaleciam, ademais, as orientações dos donos das empresas sobre as atividades recreativas favoráveis e desfavoráveis (excessos físicos) ao trabalho. Surgiam, assim, a assistência social aos trabalhadores em muitas fábricas, incluindo o oferecimento de atividades recreativas, esportivas e culturais. Um exemplo disso foram os clubes de futebol organizados no chão das fábricas entre 1910 e 1920 na cidade de São Paulo. O Juventus, time de futebol do bairro operário da Mooca, surgiu nesse contexto. Os operários frequentavam as sociedades recreativas dançantes, engrossavam com sua presença os clubes de futebol, gostavam de bailes e de 75 SO CI - R ev isã o:G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA casas de jogo e apostas. Muitos dos bairros operários tinham seus times de futebol ou associações esportivas, os clubes de várzeas, sendo muitos deles vinculados a fábricas e empresas. Alguns nomes de times de futebol ou sociedades esportivas: Fabrica Santana, Gasômetro F. C., Esportiva Casa Pratt, Maria Zelia F. C. etc. (DECCA, 1987, p. 42). Os clubes dos trabalhadores eram considerados mais do que um espaço para a prática do futebol: eram locais para o estabelecimento de relações sociais e de comunicação. Era nas sedes sociais dos clubes que os associados, acompanhados de seus familiares, participavam das atividades de lazer, como bailes, piqueniques, excursões, festas de final de ano, assim como se comunicavam e trocavam informações sobre o clube e o cotidiano de suas vidas. As vilas operárias constituíram outra forma de habitação popular da virada do século na cidade de São Paulo. Muitas grandes indústrias possuíam vilas em suas proximidades ocupadas pelos trabalhadores. As mais conhecidas situavam-se nos bairros do Brás e [da] Mooca, construídas pela Fábrica Santana, Álvares Penteado, Francisco Matarazzo e Crespi (ROSA, 2005, p. 3). Em contrapartida, as empresas, ao investirem no grêmio dos trabalhadores, exigiam a prestação de contas, como forma de controle, dos clubes que estavam subsidiando. Formavam-se, assim, as diretorias, cujos membros eram responsáveis pelo gerenciamento das atividades. Era comum também que o dono ou os altos funcionários das indústrias que mantinham os clubes ocupassem posições de destaque ou recebessem títulos de “presidente de honra” como reconhecimento pelos benefícios prestados. Saiba mais AGOSTINO, G. Vencer ou morrer: futebol, geopolítica e identidade nacional. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. DECCA, M. A. G. A vida fora das fábricas: cotidiano operário em São Paulo. 1920-1934. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. No Brasil, no intenso processo de industrialização, entre 1935 e 1938, discutiam-se a organização da educação industrial e novas estratégias de racionalização do trabalho envolvendo como benefícios ao trabalhador assistência técnica, moradia, educação, cuidados domésticos e serviços de recreação e lazer. Surge posteriormente, em 1942, o Serviço Nacional da Aprendizagem Social (Senai), que, além da formação para o trabalhador da indústria, oferece diversas atividades, entre elas manuais, esportivas e de formação moral e cívica. 76 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II Três anos depois, em 1945, realiza-se, na cidade de Teresópolis, a Primeira Conferência das Classes Produtoras, que reúne mais de 700 associações de todo o País e culmina na criação de um fundo social para ser investido em atividades que possam beneficiar os trabalhadores. Em 1946, organiza-se formalmente a criação dos Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Comércio (Sesc). Essas organizações têm como princípio atuar no tempo fora do trabalho. Dentre as atividades desenvolvidas pelo Sesi, destacamos: • atividades de lazer; • esporte; • jogos operários; • segurança no trabalho; • nutrição; • literatura; • economia doméstica. Tanto Sesi quanto Sesc, independentemente da ênfase da programação, são organizadores de lazeres que têm como objetivo o desenvolvimento físico, intelectual, cultural e moral de seus trabalhadores. Atualmente as entidades oferecem: • teatros; • clubes; • bibliotecas; • colônias de férias • equipamentos e atividades esportivas. Além dessas iniciativas, a ideia de atividades de lazer e recreação também seriam assumidas pelo poder público. Assim, em 1943, surgiu o Serviço de Recreação Operária, que funcionou até 1964. Saiba mais Visite os sites do Sesi e do Sesc: <http://www.portaldaindustria.com.br/sesi/>. <http://www.sesc.com.br/>. 77 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA Na mesma década, são criados os marcos legais das políticas voltadas ao esporte. Na década de 1990, há uma progressão sutil por meio da criação da Secretaria dos Desportos da Presidência da República, que posteriormente origina o Ministério dos Esportes, em 2003. Inicialmente, a estrutura estatal está voltada às políticas de esportes e lazer como instância de regulação. Posteriormente, surgem programas como o Programa Esporte e Lazer da Cidade (Pelc), que atua nacionalmente em situações e realidades de vulnerabilidade social. Com o objetivo de democratizar o acesso ao lazer, o programa tem tentado suprir as carências de ações públicas para as demandas mais importantes para crianças, jovens, adultos, idosos e portadores de deficiência. Dentre as atividades desenvolvidas, destacamos: • oficinas culturais; • oficinas artísticas; • oficinas esportivas; • implantação de brinquedotecas; • salas de leitura • projeções; • debates; • eventos dos mais variados tipos. Figura 31 – Logotipo do Programa Esporte e Lazer na Cidade Contudo, apesar das ações, ainda são restritos os investimentos do Ministério nesse programa. Segundo Almeida e March Júnior (2010), infelizmente 80% de todo o recurso destinado à pasta de 78 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II atividades esportivas são gastos com esportes de alto rendimento, apoio e financiamento de atletas e equipes esportivas, eventos internacionais e construções esportivas. Apesar das restrições para o programa, podemos avaliar positivamente a iniciativa. O programa Esporte e Lazer na Cidade, do Governo Federal, apesar das dificuldades, representa uma conquista, mesmo que tímida, para o esporte recreativo e de lazer. Ainda necessita, contudo, de iniciativas de práticas esportivas comunitárias, assim como é necessário reivindicar a ampliação dos recursos destinados, para que possam proporcionar impactos positivos. Saiba mais Obtenha mais detalhes sobre o Pelc acessando: BRASIL. Ministério do Esporte. Projeto Esporte e Lazer da Cidade. Brasília, [s.d.]. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/index.php/institucional/ esporte-educacao-lazer-e-inclusao-social/esporte-e-lazer-da-cidade/ programa-esporte-e-lazer-da-cidade-pelc>. Acesso em: 24 nov. 2015. 7.2 Lazer e cultura Além do esporte, as atividades culturais desenvolvidas em nosso País têm contribuído para o lazer e a qualidade de vida da população. Embora nem todos tenham ainda acesso aos bens culturais, há interesse por parte das pessoas em experimentar atividades culturais fora do lar. Para se ter uma ideia, em 2014, foi realizada a pesquisa Público de Cultura (SESC, 2013), para compreender e criar cenários sobre o comportamento de consumo e da produção cultural com relação à atividade de lazer. A pesquisa foi realizada pelo Sesc em parceria com a Fundação Perseu Abramo. Ela fez 2.400 entrevistas, na área urbana de 25 estados das cinco regiões brasileiras, em 139 pequenos, médios e grandes municípios. Os resultados da pesquisa são muito interessantes. A maioria dos entrevistados se declarou branca e parda. A maior parcela não está estudando e é composta por pessoas que completaram o Ensino Médio ou Superior, seguida pelas pessoas que possuem Ensino Fundamental incompleto. Quanto aos aspectos relacionados ao trabalho, a maior parte dos pesquisados está inserida na População Economicamente Ativa (PEA). Um fato que chamou particularmente a atenção foi a porcentagem de inativos (aposentados, donas de casa e desempregados): quatro em cada dez entrevistados estão em uma dessas situações. 79 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA Outro aspecto relevante são as pessoas que estão no mercado informal (assalariados sem carteira assinada). Entre os empregados formalmente,destacam-se assalariados com carteira assinada, servidores públicos e autônomos que recolhem ISS. Mais de sete em cada dez pessoas que participaram da pesquisa trabalham nos ramos de comércio (29%) e serviços (45%). Já o perfil socioeconômico revelado pela pesquisa indica que mais da metade dos entrevistados está inserida nos chamados estratos médios (EM), cuja renda mensal per capita corresponde a um valor entre R$ 290,00 e R$ 1.018,00. É significativa a proporção de pessoas em altos estratos médios (20%) e estratos altos (16%) concentradas nas Regiões Sul e Sudeste. De acordo com o levantamento, 73% das pessoas ascenderam e conquistaram maiores níveis de escolaridade que seus pais. A maior parte dos entrevistados é casada (54%) e é seguidora de alguma religião: 57% se declararam católicos, e 28%, evangélicos. Com relação aos hábitos de lazer, aproximadamente a metade afirmou que em seu tempo livre de final de semana se dedica a atividades dentro de casa e/ou pratica alguma atividade de lazer/entretenimento, como ir a restaurantes, a shoppings, sair com os amigos etc. Já durante a semana (de segunda a sexta), as atividades de lazer exercidas dentro de casa são as apontadas por 66% dos entrevistados. Considerando o total de horas gastas em atividades ao longo da semana, destacam-se: cuidados pessoais com a própria saúde, incluindo tempo para repor o sono, alimentação, trabalho remunerado, assistir à TV, deslocamento de um lugar para o outro. Já durante o final de semana, a presença da TV se destaca, seguida de afazeres domésticos, passeio e trabalho remunerado. Destaca-se também que 31% dos entrevistados exercem trabalho remunerado aos finais de semana. Ainda conforme a pesquisa, os entrevistados consideram as viagens e a companhia da família as atividades mais valorizadas. Já quando perguntada sobre quais atividades gostaria de fazer se pudesse escolher livremente, sem a preocupação com tempo, dinheiro e permissão, mais da metade das pessoas citou o desejo de viajar, de permanecer na companhia da família (41%), de cuidar de si (24%) e a intenção de descansar e não fazer nada (18%). Dentre os principais locais visitados quando se deseja fazer alguma atividade cultural aos finais de semana, destacam-se: shoppings, cinemas, parques, igrejas, teatros, restaurantes e outros espaços de alimentação, e praças. A maior parcela dos entrevistados se dedica, nos lugares citados, à atividade de entretenimento, às atividades culturais e à participação em atividades esportivas e religiosas. Destaca-se, na pesquisa, que na percepção de 51% das pessoas entrevistadas, nenhuma atividade cultural é feita aos fins de semana. Essa proporção chega a 85% durante a semana, de forma que a principal atividade cultural citada é frequentar a igreja e outros espaços religiosos. 80 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II Dentre os entrevistados, se pudessem escolher, 60% fariam alguma atividade cultural no fim de semana, e outros 50%, nos dias de semana. Entre os locais escolhidos para essas atividades, foram citados: cinemas, teatros, parques, praças e shopping centers. Ainda conforme a pesquisa, foi possível verificar que ainda é pequeno o leque de atividades culturais realizadas pelos entrevistados: 89% nunca foram a um concerto de ópera ou música clássica em sala de espetáculo, 75% nunca estiveram em espetáculos de balé ou dança no teatro, 71% nunca estiveram em uma exposição de arte (pintura, escultura e outros) em museus ou outros locais e 70% nunca frequentaram uma exposição de fotografia. Além desses dados, a maioria dos entrevistados (61%) afirmou nunca ter realizado atividades como ir a uma peça de teatro ou a um show de música (57%). Por outro lado, 91% já assistiram a um filme em casa ou em outro local diferente de salas de cinema, 80% já dançaram em bailes e baladas, 78% já estiveram no cinema, e 72% no circo, 77% já assistiram a um show de música em casa ou outro local diferente de casas de espetáculo, 69% já leram um livro por prazer e 58% já foram a uma biblioteca. As razões apresentadas para a não realização das atividades se equilibram entre a falta de gosto por determinadas atividades e sua não existência na cidade do entrevistado. Os principais meios pelos quais os pesquisados se informam sobre as atividades culturais a que costumam ir são as sugestões de amigos, parentes e colegas (41%), divulgação na mídia (36%) e internet (25%). Quando questionados sobre a primeira atividade cultural com a qual tiveram contato (ainda na infância ou mais tarde), os entrevistados indicaram o circo (29%), o cinema (16%) e o teatro (11%). Ainda de acordo com a pesquisa realizada pelo Sesc, é pequena a proporção de pessoas que desenvolvem algum tipo de produção: 15% cantam, 13% dançam individualmente ou em grupo, 10% tocam algum tipo de instrumento musical, 7% fazem fotografia, 5% praticam pintura, escultura ou desenho e somente 4% fazem algum tipo de escrita criativa ou compõem músicas. A pesquisa, no que toca aos gostos musicais, revela que a maioria das pessoas entrevistadas apontam gostar de observar os principais elementos culturais e artísticos presentes em uma cidade, como parques (89%), arquitetura (73%), luzes decorativas e artísticas (70%), monumentos e estátuas (68%), propaganda e publicidade (54%) e grafites e murais (41%). Já com relação aos gostos musicais, os gêneros citados foram: sertanejo, MPB, Forró, Gospel e Pagode. Entre as danças, as mais citadas foram forró, dança de salão, samba e street dance/rap. Com relação ao teatro, o gênero preferido é comédia, e os principais tipos de apresentação são o circo, as comédias stand up e os teatros de bonecos; 26% dos entrevistados afirmaram que não gostam de exposições artísticas, e outros 26% citaram que não sabem o que é uma exposição ou nunca foram a uma. Sobre os hábitos de leitura, 58% dos entrevistados não leram nenhum livro nos últimos seis meses, e os que leram possuem uma média de 1,2 livros lidos nesse período. Dos livros mais citados, destaca-se, depois de romance, a Bíblia. 81 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA Já com relação ao hábito de ver televisão, 62%, afirmam assistir aos canais abertos e 28% assistem tanto à TV por assinatura quanto à TV aberta. Os principais produtos culturais vistos na TV são novelas (54%), filmes (52%) e jornais de notícias (44%). Já entre os filmes prediletos, foram apontados os de aventura (39%), comédia (38%) e romance (29%), tendo como preferência o cinema americano (45%), em detrimento do cinema nacional (33%); 65% das pessoas veem filmes nacionais de vez em quando, enquanto 22% assistem sempre; 14% dos entrevistados afirmaram nunca terem assistido. Com relação aos meios de comunicação, a TV aberta é tida como principal meio de adquirir informação sobre o que acontece nos âmbitos da cidade, do país e do mundo. A TV aberta se destaca em todas as regiões do Brasil, embora tenha menos força na Região Sul. A internet foi apontada como um dos meios mais utilizados para a obtenção de informações por um terço dos entrevistados, principalmente as pessoas situadas nos estratos de renda acima de cinco salários mínimos. Posteriormente, destacam-se as conversas entre amigos, rádio, jornais impressos e TV por assinatura. Pouco mais da metade das pessoas pesquisadas afirmou que usa o computador e a internet em sua residência. O uso do computador é voltado tanto ao entretenimento quanto à pesquisa: conhecer pessoas e entrar em salas de bate-papo (35%), buscar notícias (28%), utilizar sites de busca (22%) e enviar e-mails ou mensagens (14%). Outro dado revelado pela pesquisa é que pouco mais de oito em cada dez pesquisados possuem telefone celular, mas ainda são poucas as pessoas que usam o aparelho para outras modalidades que não fazer e receber ligações telefônicas: usarSMS (34%), fotografar/filmar (17%), usar a internet (17%), ouvir música (16%), conectar-se às redes sociais (12%) e jogar jogos (18%). Saiba mais Os dados detalhados e a apresentação dos gráficos podem ser acessados através do link: SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO (SESC). Públicos de cultura: pesquisa de opinião pública. 2013. Disponível em: <http://www.sesc.com.br/wps/ wcm/connect/cac99ed0-4052-406b-a0ac-d92fcade0737/sintese_brasil. pdf?MOD=AJPERES&CONVERT_TO=URL&CACHEID=cac99ed0-4052- 406b-a0ac-d92fcade0737>. Acesso em: 24 nov. 2015. 82 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II 7.3 Festas tradicionais Figura 32 – Festa junina no Nordeste Outro aspecto interessante quando nos referimos ao lazer é compreendê-lo a partir da vertente popular da cultura. Como sabemos, a cultura é dinâmica e contínua e varia conforme o espaço e o tempo. A cultura é a expressão de crenças, valores, costumes, conhecimentos e criações artísticas. Ela é acumulada pelos membros de uma sociedade e transmitida socialmente de geração em geração, originalmente ou modificada. A cultura popular, ou espontânea, refere-se às manifestações de caráter coletivo, marcada de forma pela espontaneidade e pelo cotidiano, e relaciona-se com os modos de vida, saberes e fazeres, tais como: • alimentação; • crenças; • habitação; • divisão de tarefas; • práticas de cura, entre outras expressões. Dentre várias expressões da cultura popular, destacam-se as festas, consideradas como elementos fundamentais para compreender a mentalidade e o simbolismo do povo. Em nosso País, particularmente, as festas com a participação popular estão presentes em todas as regiões, resistindo e negociando com o contexto global, caracterizando uma das expressões mais criativas da cultura brasileira. Para Rita Amaral (1998), as festas nas diferentes cidades do País revelam múltiplos sentidos, tais como: 83 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA • organização popular; • expressão artística; • ação social; • expressão de identidade cultural; • afirmação de valores. As festas foram muito utilizadas pelos colonizadores portugueses como um instrumento didático e de catequização para a implantação da religião católica em nosso País, e meio de inserção social. A festa é uma importante mediação simbólica na cultura dos povos. Ela é caracterizada por reunir simultaneamente o sagrado e profano. As festividades foram se tornando cada vez mais populares, pois agrupavam outras expressões, como dança, fantasias, músicas, personagens. Elas apresentam duas dimensões: divertimento e compromisso. As festas rompem com a rotina diária, muitas vezes no decorrer do ano, no que diz respeito tanto à organização quanto à participação. A festa, em todas as suas diferentes modalidades e em seus múltiplos significados e contextos, tem em comum o fato de criar um espaço essencial para fortalecer e nutrir a rede das relações sociais, a parte humana vital da chamada “teia da vida”. A Festa – esses eternos rituais que acompanham o homem em momentos suspensos, extraídos da linearidade do tempo cotidiano – tem muitas modalidades, mas seja qual for sua forma de expressão, os momentos de lazer proporcionados por ela têm sempre um caráter participativo e a forma de convivialidade como cria, reforça e nutre os laços sociais. O tempo vivido na festa é um tempo extraído do cotidiano porque cria um envolvimento que permite um distanciamento das preocupações, especialmente aquelas decorrentes do trabalho e/ou [do] medo subjacente de perdê-lo (BUENO, 2008, p. 52). São muitas as expressões da cultura popular brasileira, porém utilizaremos como exemplo o fandango caiçara, presente em muitas festas nas comunidades caiçaras brasileiras. Brevemente, podemos dizer que o fandango caiçara é uma expressão que interage nas festividades da cultura popular nas regiões litorâneas dos Estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Paraná. É um elemento essencial na construção e afirmação da identidade cultural das comunidades caiçaras, fortalecendo a articulação, a resistência, a identidade e a manutenção de suas práticas culturais. O fandango é uma manifestação cultural e tem como características as cantigas e os versos improvisados pelos fandangueiros, que também recriam as letras de acordo com acontecimentos do cotidiano, ou provenientes de repertórios tradicionais. 84 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II Originalmente, o fandango está ligado à organização do trabalho coletivo (mutirão), no qual o dono da terra a ser trabalhada convoca a comunidade para auxiliá-lo. Vizinhos e “camaradas” se reúnem para ajudar a erguer uma casa, varar uma canoa, fazer lanço de tainha, ou ajudar nos preparativos para um casamento. Após a tarefa, realizam-se os bailes, que são acompanhados de mesas fartas (pratos à base de peixe, mariscos, farinha de mandioca e de milho, carne de caça, doces, cachaças curtidas em ervas ou com melado). As comunidades caiçaras comemoram, com fandango, aniversários, casamentos, batizados e festas religiosas. Nesses encontros, a comunidade atualiza as notícias e reforça as relações de parentesco, a convivência entre o grupo formado por tocadores e dançadores. A comunidade mantém a memória e a prática das diferentes músicas e danças, bem como a continuidade do conhecimento musical em torno do fandango e sua evolução. 7.4 Jogos, brinquedos e brincadeiras Figura 33 – Crianças brincando Além das festas, o lazer na cultura popular também é marcado pela presença de jogos, brinquedos e brincadeiras. De acordo com Gaspar e Barbosa (2007), esses elementos infantis possibilitam uma série de benefícios paras as crianças como atividades de lazer e recreação: • socialização; • colaboração; 85 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA • desenvolvimento da imaginação; • melhor compreensão do mundo a sua volta. Contudo, devido às constantes mudanças e principalmente àquelas oriundas da constante evolução tecnológica, as brincadeiras e os jogos infantis populares vêm sendo substituídos pela televisão, pelo computador e pelos jogos eletrônicos. A verticalização das cidades, assim como a redução do espaço e a violência, são fatores que ameaçam essas expressões. Há algum tempo, nas mais diferentes cidades brasileiras, era comum encontrar crianças brincando e jogando tranquilamente nas ruas com os mais variados tipos de brinquedos e brincadeiras. Apesar das dificuldades, fizeram e ainda fazem parte da realidade de muitas crianças: • amarelinha; • bola de gude; • esconde-esconde; • boca de forno; • passarás; • queimada; • quebra-panela. Em muitos espaços como equipamentos culturais e na escola, é possível verificar atividades que visam a resgatar e ressignificar essas e outras brincadeiras para as gerações mais novas, com o sentido de oferecer uma experiência lúdica, positiva e de contato com a cultura brasileira. Saiba mais Leia mais sobre o tema acessando: SÃO PAULO (Estado). Biblioteca Virtual do Governo do Estado de São Paulo. Cultura e folclore paulista: brincadeiras e brinquedos. 2015. Disponível em: <http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/temas/sao-paulo/ cultura-e-folclore-paulista-brincadeiras-e-brinquedos.php>. Acesso em: 24 nov. 2015. 86 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II 8 NATUREZA, SOCIEDADE E TURISMO Figura 34 – Turismo em áreas naturais A evolução da atividade turística remonta à própria trajetória histórica da sociedade. Gregos e romanos, por exemplo, já realizavam viagens para aproveitar atividades culturais e artísticas, além de eventos, como os primeiros Jogos Olímpicos, realizados noséculo VIII a.C. No período do Renascimento, entre os séculos XVI e XVII, houve registros de viagens turísticas pela Europa, efetuadas por jovens que buscavam ampliar seus conhecimentos acerca de distintas manifestações culturais. O turismo organizado, entretanto, surge na Revolução Industrial, que marcou a Europa não só pelo surgimento dos grandes centros urbanos, mas também pela degradação ambiental. As conquistas do tempo livre e dos direitos trabalhistas por parte dos operários contribuíram para a busca de atividades de lazer, dentre elas o turismo. Além desses fatores, ocorreu também o surgimento da classe média, que emergiu nesse período, propiciando o aumento do consumo e das viagens. Todos esses fatores, por sua vez, contribuíram para os danos ao meio ambiente. A evolução dos meios de transporte contribuiu significativamente para o crescimento da atividade turística no século XX. O apogeu do fenômeno foi alcançado entre as décadas de 1970 e 1980, o que propiciou o crescimento desordenado da atividade e fez aumentar de forma assustadora uma série de problemas ambientais, como: • poluição do ar; • poluição das águas; • ausência de saneamento básico. 87 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA A necessidade humana de proximidade com a natureza, assim como a busca de um modelo de desenvolvimento turístico de forma sustentável, fez com que a Organização Mundial do Turismo (OMT) propusesse diretrizes para o ecoturismo, [São diretrizes para o ecoturismo] todas as formas de turismo em que a motivação principal do turista é a observação e a apreciação da natureza, de forma a contribuir para a sua preservação e conservação e minimizar impactos negativos no meio ambiente natural e sociocultural onde se desenvolve (OMT, 1994). Esse segmento da atividade turística tem como conceitos básicos e determinantes: • desenvolvimento sustentável; • educação ambiental; • envolvimento das comunidades locais. Segundo a World Travel & Tourism Council (WTTC, 2012), o turismo é o setor que apresenta o maior crescimento. A estimativa, de acordo com o órgão, é de que, até 2023, exista um crescimento anual de 2,4% ao ano na área. Uma das razões para essa perspectiva de aumento está relacionada aos seguintes fatores: • reconhecimento ainda maior do lazer para uma melhor qualidade de vida; • maior interesse da população em expandir seus conhecimentos, procurando novas experiências significativas e contato com novas culturas e novos lugares. Ao procurar a atividade turística como principal atividade do lazer, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA, 2010) o perfil do viajante está relacionado às seguintes motivações: • paz e tranquilidade (descansar, relaxar, contemplar); • socialização (conhecer diferentes pessoas); • união de casal (romantismo e privacidade); • exploração e descobertas (conhecer novos lugares e estilos de vida); • fuga (da família, do trabalho, do estresse, da rotina); • proatividade (saúde, bem-estar, condicionamento físico); 88 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II • liberdade (de horários e responsabilidades); • união familiar (momentos com os filhos, resgate de memórias). Dentre os principais destinos no Brasil e no mundo, destacamos: • Amazônia; • Pantanal; • Bonito; • Fernando de Noronha; • Parque Nacional de Iguaçu; • Brotas; • Vale do Ribeira; • Estados Unidos; • Nova Zelândia; • Costa Rica; • Quênia. A Associação Mundial de Recreação e Lazer conta com uma comissão permanente sobre turismo e meio ambiente que tem como objetivos: • fornecer uma rede de comunicação sobre as relações entre lazer, turismo e meio ambiente para os membros participantes; • desenvolver iniciativas que pesquisem mais a fundo as inter-relações de lazer, recreação, turismo e meio ambiente; • servir como um mecanismo de defesa para políticas e programas na associação mundial. Com relação principalmente ao lazer na cultura popular e suas relações com o turismo, essas atividades podem contribuir não só para a qualidade de vida, mas também favorecer as experiências subjetivas e individuais ligadas ao ócio. 89 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA Os benefícios tanto do lazer quanto do ócio só poderão ser ameaçados se o lazer for visto apenas como mais um produto para consumo, levando os indivíduos à alienação. Observação A alienação está vinculada à fragmentação e também à perda de consciência do sujeito. Ao propor atividades de lazer e ócio alienantes e pautadas somente pela lógica do consumo, o sujeito deixa de ser o centro de si e passa a ser comandado; como consequência, perde a sua consciência crítica sobre o mundo e a sociedade na qual está inserido. Além disso, perde também a sua individualidade, não conseguindo, portanto, pensar por si. Resumo Esta unidade abordou que o lazer como área de estudos e pesquisa surge no final do século XIX, com alguns trabalhos importantes, como os de Paul Lafargue. Além desses trabalhos, começam a acontecer alguns eventos importantes, principalmente após a Primeira Guerra Mundial, como as conquistas trabalhistas obtidas nesse período. Aos poucos, os estudos do lazer começam a buscar novas conotações e objetos de estudo, não só analisando como as pessoas usam o seu tempo livre, mas também avaliando programas e espaços voltados para a prática do lazer. Essas mudanças favorecem os estudos empíricos da área, assim como a importância do lazer e suas implicações na família, na religião e na educação. Surgem estudos e pesquisas voltados para os impactos econômicos da área, como a geração de emprego e a ativação da cadeia produtiva tanto em nível local quanto regional. Aparecem, além disso, estudos abordando a dimensão social e/ou coletiva do lazer, considerando gênero, classe e envolvimento ativo dos sujeitos. No Brasil, os estudos de lazer começam efetivamente no final da década de 1960 e início da década de 1970. Tanto os estudos quanto as iniciativas de lazer como Sesc e Celar tiveram influência do pesquisador Jofre Dumazedier, que participou de muitos eventos e desenvolveu suas pesquisas com outros estudiosos brasileiros, que seguiram a sua trilha de conhecimento – caso de Luiz Octávio de Camargo, por exemplo. Destacam-se, além disso, as contribuições de José Acácio Ferreira, Renato Requixa, Sarah Bacal, entre outros. 90 SO CI - R ev isã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 3/ 01 /2 01 6 Unidade II O lazer como possibilidade de estudo é interdisciplinar, pois possibilita diferentes olhares e reflexões sobre as mais diferentes áreas, devido a sua amplitude e complexidade: Sociologia, Educação Física, Turismo, Psicologia etc. Nelson Carvalho Marcellino, ao longo do desenvolvimento de toda a sua obra, que se constitui como importante referência dos estudos do lazer no Brasil, alerta que é necessário um equilíbrio entre os quatro eixos que norteiam a formação para o lazer (teoria do lazer; relatos de experiências refletidas; vivências de conteúdos culturais; políticas e diretrizes), assim como é necessário haver novas abordagens para estudos e pesquisas. O lazer tem um duplo aspecto educativo: educar para o lazer e o lazer como veículo de educação. A educação para o lazer tem como princípios formar pessoas para viver o seu tempo disponível de forma positiva, conhecendo a si e a sociedade à qual pertencem. Já o lazer como veículo de educação pode ser implementado dentro e fora da escola, por meio de atividades culturais e esportivas que possam envolver alunos e comunidades. Dentre os documentos importantes sobre esses aspectos, destaca-se a Carta Internacional de Educação para o Lazer (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE RECREAÇÃO E LAZER, 2002).
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